UNIVERSIDADE VALE DO ITAJAÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO, EXTENDÃO E CULTURAPROPPEC CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS - PMGPP AVALIAÇÃO DA GESTÃO DOS RECURSOS ORÇAMENTÁRIOS E FINANCEIROS DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ANTES E APÓS A REESTRUTURAÇÃO DOS HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS FEDERAIS TEREZA CORSO BISCAIA ITAJAÍ (SC), 2013 UNIVERSIDADE VALE DO ITAJAÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO, EXTENDÃO E CULTURAPROPPEC CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS - PMGPP AVALIAÇÃO DA GESTÃO DOS RECURSOS ORÇAMENTÁRIOS E FINANCEIROS DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ANTES E APÓS A REESTRUTURAÇÃO DOS HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS FEDERAIS TEREZA CORSO BISCAIA Dissertação apresentada à Banca Examinadora no Mestrado Profissional em Gestão de Políticas Públicas da Universidade Vale do ItajaíUNIVALI, sob a orientação Prof. Dr. Flávio Ramos, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Gestão de Políticas Públicas. ITAJAÍ (SC), 2013 Dedicatória À Deus fiel companheiro de todas as horas, Aquele que torna possível todas as coisas. Agradecimento Agradeço primeiramente a DEUS por ter-me proporcionado a oportunidade de iniciar este mestrado. Por conceder-me sabedoria e resiliência no enfrentamento e superação das minhas limitações. Aos meus pais, Aristide e Maria Tereza, pelo exemplo de vida e fé, pela educação pautada em princípios e valores que julgaram ser essenciais na formação do ser humano, e pelo estímulo e apoio durante esta jornada. Aos meus amados filhos Gabriel e Larissa, cujo amor me fortalece e impulsiona a buscar dias melhores, com escusas pelos períodos de ausência e pela pouca atenção dispensada durante este período. Ao meu esposo Miguel pela partilha dos desafios e conquistas no decorrer de nossa caminhada. Ao orientador Prof. Dr. Flávio Ramos, pela clareza e segurança nas orientações durante a revisão do projeto e o desenvolvimento do estudo. Ao Prof. Eduardo Guerini pelas contribuições na banca de qualificação do projeto. A todos os professores do mestrado que compartilharam seus conhecimentos e pelas valiosas contribuições. Aos diretores do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná pela oportunidade de realização deste estudo. À Vera Bandeira do Nascimento pelo incentivo em participar do processo seletivo do programa de mestrado objeto desta dissertação. Às minhas colegas de trabalho Leila Cristina Farias de Souza e Vera Areias pelo incentivo e compreensão durante minhas ausências para assistir as aulas do mestrado. Aos meus colegas de mestrado, pelo compartilhamento das experiências vividas durante o curso. E a todos que, de alguma forma, contribuíram e colaboraram para esta realização, o meu mais sincero agradecimento. “ Se você pensa ou sonha que pode, comece. Ousadia tem poder, genialidade e mágica. Ouse fazer e o poder lhe será dado”. Goethe RESUMO Diante da crise dos Hospitais Universitários Federais, foi instituído o Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais – REHUF destinado à reestruturação e à revitalização dos hospitais das universidades federais, integrados no sistema único de saúde e dispõe sobre o financiamento compartilhado dos HU´s entre as áreas da saúde e da educação entre outros. O aumento da produtividade, melhoria na qualidade dos atendimentos dos HUs, além da racionalização dos gastos e despesas, são reivindicações frequentes do governo e da sociedade. Ciente da dificuldade na gestão econômica e financeira dessas instituições e que as mesmas pendem para uma situação de desequilíbrio econômico, é que este estudo pretende analisar qual foi o impacto na gestão orçamentária e financeira de um Hospital Universitário no sul do país dos recursos disponibilizados pela Reestruturação dos Hospitais Universitário Federais. A pesquisa valeu-se da abordagem qualitativa e como estratégia utilizou-se o estudo de caso que teve a análise documental a principal fonte de evidências, tomando- se por base os valores constantes nos demonstrativos das contas públicas disponibilizadas pelo Sistema Integrado de Administração Financeira - SIAFI, relatórios gerenciais e de gestão do período compreendido neste estudo. A partir do levantamento das receitas e despesas executadas efetuou-se a consolidação dos dados e várias análises por meio de gráficos comparativos. Constatou-se que os recursos para custeio disponibilizados pelo REHUF foram exíguos tendo pouca representatividade sobre a totalidade do orçamento e que tiveram maior representatividade no exercício de 2011 no percentual de 32% e os recursos de capital em 2012 com um percentual de 81%. Concluiu-se através da análise da execução do orçamento que o subfinanciamento e os gastos com pessoal constituem-se o principal problema para a manutenção de sua sustentabilidade operacional, sendo necessário para sua consolidação aporte de recursos orçamentários, a busca de fontes alternativas de financiamento, equilíbrio financeiro, aperfeiçoamento da gestão e planejamento, equalização da oferta de serviços versus financiamento, a fim de permitir o pleno cumprimento da missão atribuída a essas instituições hospitalares, bem como, a efetividade das políticas públicas de saúde para os hospitais universitários. Palavras chave: Hospitais Universitários, Sistema Único de Saúde, REHUF, Execução Financeira e Orçamentária. ABSTRACT The Restructuring of Federal University Hospitals Program – REHUF – was set up in light of the crisis affecting the Federal University Hospitals, with the aim of restructuring and revitalizing the federal university hospitals, integrated into the national health care system that provides for shared funding of University Hospitals between the areas of health and education, among other areas. Increased productivity, improved quality of care provided by the University Hospitals, and the rationalization of expenditures and expenses, are frequent claims of government and society. Aware of the difficulties in the economic and financial management of these institutions, and that they depend to a situation of economic imbalance, this study examines the impact of the resources provided by the REHUF on the budgetary and financial management of a university hospital in the south of Brazil. The research uses a quantitative approach, and a case study with document analysis as the main source of evidence, based on the amounts given in the consolidated public accounts provided by the Integrated Financial Management System - SIAFI, and management reports for the period included in this study. Based on the survey of income and expenditure, the data were consolidated and various analyses carried out using comparative graphs. It was found that the resources available to fund the REHUF were scarce, with little representation in the overall budget, and that they had greater representation in 2011, with a percentage of 32% and capital resources in 2012 with a percentage of 81%. It was concluded, through analysis of the execution of the budget, that underfunding and personnel expenses constitute the main problem for the maintenance of its operational sustainability, and it is necessary to consolidate their supply of budgetary resources, searching for alternative sources of funding, financial stability, improved management and planning, and equalization of service provision versus funding, and to enable full compliance with the social mission assigned to these hospitals, as well as the effectiveness of public health policies. Keywords: University Hospitals, Health System, REHUF, Financial and Budget Execution LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Componentesdo Financiamento dos HU´s.................................................. 41 Quadro 2 - Legislação referente à atual política para os Hospitais Universitários e de Ensino ..................................................................................................................................... 50 Quadro 3 - Princípios Norteadores da LRF ..................................................................... 54 Quadro 4 - Comparativo do Orçamento Tradicional com o Orçamento -Programa... 66 Quadro 5 - Princípios Orçamentários ............................................................................... 68 Quadro 6 - Classificação Funcional-programática ......................................................... 74 Quadro 7 - Categorias Econômicas e Grupos ................................................................ 75 Quadro 8 - Quadro sinótico da classificação econômica da receita ........................... 83 Quadro 9 - Variáveis da pesquisa ..................................................................................... 88 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Créditos orçamentários de custeio no período de 2008 – 2012 ................. 94 Tabela 2 - Percentual doscréditos orçamentários de custeio ........................................ 95 Tabela 3 - Créditos orçamentários de capital no período de 2008 a 2012 .................. 99 Tabela 4 - Percentual dos créditos orçamentários de capital ........................................ 99 Tabela 5 - Créditos orçamentários de custeio e capital no período de 2008-2012 .. 103 Tabela 6 - Evolução dos créditos orçamentários de custeio e capital........................ 103 Tabela 7 - Comparativo das despesas realizadas no período de 2008 a 2012 .........111 Tabela 8 - Percentual dos gastos por grupo de despesa ..............................................111 Tabela 9 - Evolução das despesas no período de 2008 a 2012 ................................. 115 Tabela 10 - Despesas de contratos no período de 2008 - 2012 ................................. 120 Tabela 11 - Evolução das despesas de contratos ......................................................... 120 Tabela 12 - Sustentabilidade operacional no período de 2008 a 2012 ...................... 123 Tabela 13 - Percentual deRepresentatividade das despesas sobre as receitas ...... 124 Tabela 14 - Evolução das receitas e despesas no período de 2008 a 2012............. 128 Tabela 15 - Representatividade dos recursos do REHUF ........................................... 129 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Planejamento na administração pública ......................................................... 57 Figura 2 - Instrumentos de planejamento ......................................................................... 62 Figura 3 - Ciclo Orçamentário ............................................................................................. 70 Figura 4- Recursos orçamentários de custeio - 2008 ..................................................... 96 Figura 5 -Recursos orçamentários de custeio - 2009 ..................................................... 97 Figura 6 -Recursos orçamentários de custeio– 2010 ..................................................... 97 Figura 7 -Recursos orçamentários de custeio - 2011 ..................................................... 97 Figura 8 - Recursos orçamentários de custeio – 2012 ................................................... 98 Figura 9 - Recursos orçamentários de custeio consolidados no período de 2008 2012 ........................................................................................................................................ 98 Figura 10 - Recursos orçamentários de capital - 2008 ................................................. 100 Figura 11 - Recursos orçamentários de capital - 2009 ................................................. 101 Figura 12 - Recursos orçamentários de capital- 2010 .................................................. 101 Figura 13 - Recursos orçamentários de capital - 2011 ................................................ 101 Figura 14 - Recursos orçamentários de capital - 2012 ................................................. 101 Figura 15 - Recursos orçamentários de capital consolidados no período de 2008 2012 ...................................................................................................................................... 102 Figura 16 - Evolução dos créditos orçamentários do SUS no período de 2008 - 2012 ............................................................................................................................................... 104 Figura 17 - Evolução dos créditos orçamentários do tesouro no período de 2008 2012 ...................................................................................................................................... 105 Figura 18 - Evolução dos créditos orçamentários do REHUF no período de 2010 2012 ...................................................................................................................................... 105 Figura 19 - Evolução dos créditos orçamentários de recurso próprio no .................. 106 Figura 20 - Evolução dos créditos orçamentários referente aos repasses da UFPR ............................................................................................................................................... 107 Figura 21 - Evolução dos créditos orçamentários de convênio no período de 2008 – 2012 ...................................................................................................................................... 107 Figura 22 - Evolução dos créditos orçamentários de emendas no período de 2008 – 2012 ...................................................................................................................................... 108 Figura 23- Despesas Realizadas - 2008 ......................................................................... 112 Figura 24- Despesas Realizadas - 2009 ......................................................................... 113 Figura 25- Despesas Realizadas- 2010 .......................................................................... 113 Figura 26 - Despesas Realizadas - 2011 ........................................................................ 114 Figura 27- Despesas Realizadas– 2012 ......................................................................... 114 Figura 28- Evolução das despesasrealizadas dematerial de consumo no ............... 116 Figura 29- Evolução das despesas realizadas de serviços de terceiros no ............. 116 Figura 30 - Evolução das despesas realizadas com Pessoal Funpar no período de 2008 – 2012 ......................................................................................................................... 117 Figura 31 - Evolução das despesas realizadas de contratos no período de 2008 – 2012 ...................................................................................................................................... 118 Figura 32- Evolução das despesas realizadas de equipamentos e material permanente .......................................................................................................................... 119 Figura 33 - Evolução de contratos terceirizados............................................................ 121 Figura 34- Evolução de contratos de locação de máquinas equipamentos .............. 122 Figura 35 - Evolução de contratos de material de consumo ....................................... 122 Figura 36 - Evolução de outros contratos ....................................................................... 122 Figura 37- Representatividade das despesas em 2008 ............................................... 125 Figura 38 - Representatividade das despesas em 2009 .............................................. 126 Figura 39 - Representatividade das despesas em 2010 .............................................. 126 Figura 40- Representatividade das despesas em 2011 ............................................... 126 Figura 41 - Representatividade das despesas em 2012 .............................................. 127 Figura 42- Evolução das receitas e despesas no período de 2008 a 2012 .............. 128 Figura 43- Créditos orçamentários do REHUF no período de 2008 – 2012 ............. 130 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ABRAHUE Associação Brasileira de Hospitais Universitários e de Ensino ADCT Ato das Disposições Constitucionais Transitórias BACEN Banco Central CPMF Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira EC Emenda Constitucional FAT Fundo de Amparo ao Trabalhador FIDEPS Fator de Incentivo ao Desenvolvimento do Ensino e Pesquisa em Saúde HU´s Hospitais Universitários ICMS Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias IFES Instituição Federal de Ensino Superior INTEGRASUS Incentivo de Integração ao SUS IPTU Imposto Predial Territorial Urbano LC Lei Constitucional LDO Lei das Diretrizes Orçamentárias LOA Lei Orçamentária Anual MEC Ministério da Educação OSS Orçamento da Seguridade Social PIRM Programa Interministerial de Reforço e Manutenção dos Hus PPA Plano Plurianual REHUF Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais SIAFI Sistema Integrado de Administração Financeira SIMEC Sistema Integrado de Monitoramento, Execução e Controle SIOPS Sistema de Informação sobre Orçamentos Públicos em Saúde SUS Sistema Único de Saúde SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 14 2. CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA ........................................................................ 16 3. OBJETIVO......................................................................................................................... 19 3.1 OBJETIVO GERAL ..................................................................................................... 19 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..................................................................................... 19 4. JUSTIFICATIVA DA PESQUISA .................................................................................. 20 5. REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................. 22 5.1 O SISTEMA DE SAÚDE NO BRASIL E AS POLÍTICAS NACIONAIS ................ 22 5.1.1 O Papel do Estado sobre a saúde no contexto das políticas neoliberais ..................................................................................................................... 24 5.1.2 Sistema Único de Saúde – SUS ..................................................................... 25 5.1.3 Financiamento do Sistema Único de Saúde e seus entraves ............... 29 5.2. HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS NO BRASIL ........................................................ 36 5.3 FINANCIAMENTO E GESTÃO DOS HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS .............. 39 5.4 PROGRAMA NACIONAL DE REESTRUTURAÇÃO DOS HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS FEDERAIS – REHUF ..................................................................... 44 5.5 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA OS HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS E DE ENSINO .............................................................................................................................. 46 5.6 CONTABILIDADE PÚBLICA ..................................................................................... 51 5.7 PLANEJAMENTO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ............................................ 55 5.7.1 Plano Plurianual – PPA .................................................................................... 57 5.7.2 Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO ....................................................... 59 5.7.3 Lei Orçamentária Anual - LOA ....................................................................... 60 5.7.4 Orçamento Público ........................................................................................... 63 5.8. PRINCÍPIOS ORÇAMENTÁRIOS........................................................................... 67 5.9 O CICLO ORÇAMENTÁRIO BRASILEIRO ............................................................ 69 5.10 DESPESA PÚBLICA ................................................................................................ 71 5.10.1 Classificação das Despesas ........................................................................ 72 5.10.2 Estágios da Despesa ...................................................................................... 76 5.11 RECEITA PÚBLICA.................................................................................................. 78 5.11.1 Classificação das Receitas ........................................................................... 79 6. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................................... 86 6.1 ESTRATÉGIAS DE PLANEJAMENTO DA PESQUISA ........................................ 86 6.2 VARIÁVEIS OPERACIONAIS DO ESTUDO .......................................................... 87 6.3 TÉCNICA E INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS....................................... 88 6.4 PLANO E PERÍODO DE ANÁLISE DOS DADOS.................................................. 89 7. O CONTEXTO DO ESTUDO.......................................................................................... 90 8. ANÁLISE DOS RESULTADOS..................................................................................... 92 8.1 COMPOSIÇÃO E EVOLUÇÃO DA RECEITA ........................................................ 93 8.2. COMPOSIÇÃO E EVOLUÇÃO DAS DESPESAS .............................................. 109 8.3 SUSTENTABILIDADEOPERACIONAL ................................................................. 123 8.4 REPRESENTATIVIDADE DOS RECURSOS DO REHUF ................................. 129 9. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 131 REFERÊNCIAS................................................................................................................... 133 14 1. INTRODUÇÃO A Constituição Federal de 1988 inaugurou um novo momento políticoinstitucional no Brasil e reconheceu a saúde como um direito social de cidadania e dever do Estado (BRASIL, 2008). Desta forma, a saúde passou a ser um direito público constitucionalmente tutelado. Ao poder público incumbe formular e implementar políticas econômicas e sociais e que visem garantir aos cidadãos o acesso igualitário e universal à assistência médico hospitalar. Neste sentido, caberia um esforço social visando a mobilização dos recursos necessários para a proteção, promoção, recuperação e reabilitação da saúde. Embora não seja pertinente questionar a legitimidade desse direito é importante registrar as dificuldades encontradas para a sua concretização, lembrando que a manutenção das políticas públicas de saúde tem sido ameaçada sempre que prevalece a lógica da economia de mercado. Em que pese o mandamento Constitucional, o direito à saúde esbarra na exiguidade dos recursos e na escolha de prioridades do gestor público. Associandose à escassez de recursos na área da saúde, Caleman, Moreira e Sanchez (1998) afirmam que o Sistema Único de Saúde (SUS) enfrenta dificuldades para o alcance de seu funcionamento desejado devido às necessidades de maior financiamento e problemas com sua eficiência administrativa. No Brasil, a busca pelo controle e eficiência das ações do poder público é reforçada com a aprovação da Lei Complementar 101 ou Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), em maio de 2000, embasada no capítulo II, título VI da Constituição Federal. Esta Lei tornou-se a prerrogativa de conduta para os gestores públicos. Tem como objetivo introduzir métodos que possibilitem ampliar o controle e a transparência dos atos dos gestores, equilíbrio das contas públicas, monitoramento dos índices orçamentários, a adequação das despesas às receitas auferidas, com vistas à sustentabilidade operacional. É premente a necessidade de controle, uma vez que o mesmo evita que as instituições governamentais desperdicem os recursos que lhes são disponibilizados e se endividem além do que seu lastro financeiro permite; além de verificar a aplicabilidade dos recursos através do exame dos resultados alcançados, os 15 processos e recursos empregados confrontando com as metas e os objetivos previamente delineados à luz de critérios como eficiência, eficácia, efetividade e economicidade (PIETRO, 2003; REIS, 2003; MEIRELLES, 2004). Os direitos sociais garantidos pelo Estado são potencializados pelo planejamento e gerenciamento públicos e o orçamento constitui-se como uma imprescindível ferramenta de gestão dos recursos públicos na busca pelo bem-estar social. É considerado um instrumento de planejamento e execução das Finanças públicas e são elaborados diante da necessidade de encontrar soluções para os problemas sociais (ALBUQUERQUE, MEDEIROS e FEIJÓ, 2006; ROSA, 2011). Com a utilização do orçamento como instrumento de gestão é possível vivenciar a accountability, sendo este mais um mecanismo de reforço à prática da cidadania, na responsabilização pelas ações do governo e no controle dos processos de interesse coletivo, bem como a obrigação do gestor público de se sujeitar à lei, e de forma transparente, prestar contas responsavelmente pelos seus atos de gestão (SACRAMENTO, 2004). Diante do exposto, percebe-se o orçamento como um dos elementos estruturantes da gestão pública, sendo uma ferramenta gerencial que impacta e possibilita avaliar o desempenho das organizações, proporcionando uma análise acerca da condução das ações orçamentárias, além da qualidade da atuação do gestor público. 16 2. CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA Os Hospitais Universitários (HU´s) vinculados às Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) do Ministério da Educação (MEC) são reconhecidos, no Brasil, por desempenharem papel fundamental na prestação de serviços aos usuários do sistema público de saúde, mais especificamente na atenção de médias e altas complexidades, nos níveis de atenção hospitalar e ambulatorial (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1999). Duas políticas distintas orientam os HU’s: de saúde e educação, sustentados pelos princípios e diretrizes norteadoras do SUS. Perfazem em todo território nacional 46 hospitais e são mantidos essencialmente através de recursos públicos oriundos do Ministério da Educação além dos originados do Ministério da Saúde, através do Sistema Único de Saúde (SUS), seguindo suas próprias lógicas de interesse: o Ministério da Educação utiliza-os como cenário para realização da pesquisa científica e do ensino e o Ministério da Saúde objetiva o atendimento assistencial à saúde da população (DANTAS, 2011). Segundo a Associação Brasileira de Hospitais Universitários e de Ensino (ABRAHUE), no decorrer do tempo, diversas dificuldades vêm sendo enfrentadas por essas instituições, dentre elas problemas nos modelos de gestão, escassez de recursos humanos, financiamento da produção dos serviços e investimentos em equipamentos e estrutura física, o que tem contribuído para a redução da qualidade e resolubilidade da prestação dos serviços hospitalares (ABRAHUE, 2003). O pleno cumprimento da missão social atribuída a essas instituições hospitalares, frente à crescente demanda de pacientes tem sido desejável, pois a incerteza quanto ao financiamento em função das descontínuas políticas públicas que nem sempre primam pela saúde, além da rigidez burocrática nas práticas operacionais, dificultam a gestão (VASCONCELOS, 2010). Diante da crise (crônica) dos Hospitais Universitários Federais, o Decreto Nº 7.082, de 27 de janeiro de 2010, regulamentado pela Portaria Interministerial 883 de 05/07/2010, instituiu o Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais – REHUF destinado à reestruturação e à revitalização dos hospitais das universidades federais, integrados no sistema único de saúde e dispõe sobre o financiamento compartilhado dos HU´s entre as áreas da saúde e da 17 educação, oferecendo condições materiais e institucionais para que possam desempenhar plenamente suas funções em relação às dimensões de ensino, pesquisa e extensão e de assistência à saúde (BRASIL, 2010). As diretrizes do REHUF estabelecem um novo mecanismo de financiamento que será progressivamente compartilhado entre MEC e MS até 2012. Tem como objetivo a melhoria dos processos de gestão, adequação da estrutura física, recuperação e modernização do quadro tecnológico, reestruturação do quadro de recursos humanos e aprimoramento das atividades através de avaliação permanente e incorporação de novas tecnologias. Garantir a sustentabilidade dessas instituições permite a continuidade dos serviços assistenciais prestados à população, bem como, a formação de recursos humanos potencialmente qualificados. Machado e Kuchenbecker (2007) ressaltam a necessidade de fortalecer a sustentabilidade organizacional, ou seja adequar as receitas às despesas, sendo necessária a busca de fontes alternativas de financiamento, indicadores de avaliação e gestão, compromisso com resultados (accountability), transparência entre outros. Os Hospitais Universitários são reconhecidos atualmente por desempenharem papel imprescindível na prestação de serviços aos usuários do Sistema Único de Saúde, com ênfase na atenção de médias e altas complexidades, nos níveis de atenção hospitalar e ambulatorial (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1999). Os HU´s, por suas características específicas e papel desempenhado na rede hierarquizada de atenção à saúde que é gerida pelo SUS, acabam recebendo pacientes mais graves, para realização de tratamentos que demandam maior atenção de profissionais especializados e tecnologias mais avançadas, elevando, consequentemente, a quantidade de recursos consumidos (ABRAHUE, 2003). Todavia não há garantia de financiamento dos custos envolvidos nos processos de produção dos seus serviços, sejam eles assistenciais, de ensino, pesquisa ou ainda os relacionados à extensão universitária (DANTAS, 2011). Isto ocorre porque a cobrança pelos serviços prestados não é feita com base no valor do custo dos procedimentos realizados. O SUS remunera esses serviços segundo os valores fixados em tabelas que são editadas pela Secretaria de Atenção à Saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009). Segundo a ABRAHUE (2003, p. 1) “a tabela de remuneração por procedimento do SUS, que vem sendo objeto de 18 reavaliação sistemática pelo Ministério da Saúde, sabidamente não permite a cobertura integral dos custos”. Os HU´s são obrigados a escolher entre reduzir ou encerrar atividades operacionais ao longo do tempo, uma vez que apresentam dificuldades de manter um equilíbrio entre receitas e despesas indispensáveis para o desempenho de qualquer instituição (DANTAS, 2011). Ciente da dificuldade na gestão econômica – financeira dessas instituições e que as mesmas pendem para uma situação de desequilíbrio econômico, é que este estudo pretende analisar a execução orçamentária e financeira do HCUFPR. Nessa perspectiva, considerando as políticas públicas de saúde, a problematização referente à temática é analisar: Qual foi o impacto na gestão orçamentária e financeira do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná dos recursos disponibilizados pela Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais? 19 3. OBJETIVO Com o propósito de auxiliar na obtenção de respostas à problemática apresentada optou-se neste estudo pelo desmembramento dos objetivos desta pesquisa em geral e específicos. 3.1 OBJETIVO GERAL Esta pesquisa tem como objetivo geral demonstrar qual foi o impacto na gestão orçamentária e financeira do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná dos recursos disponibilizados pela Reestruturação dos Hospitais Universitário Federais no período de 2008 a 2012. 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS · Verificar a composição e evolução dos recursos disponibilizados ao HCUFPR no período de 2008 a 2012; · Identificar os valores das despesas empenhadas no HCUFPR no período de 2008 a 2012; · Comparar os indicadores de receitas e despesas do HCUFPR no período de 2008 a 2012; · Comparar qual foi a representatividade dos recursos disponibilizados pelo REHUF com o orçamento total do HCUFPR no período de 2008 a 2012. 20 4. JUSTIFICATIVA DA PESQUISA Pesquisa promovida pelo instituto Datafolha, no ano de 2011, confirmou a saúde como a principal preocupação dos brasileiros, apontada por 31% dos entrevistados como o principal problema do país em inquérito não estimulado (DATAFOLHA, 2012). Por meio do Índice de Desempenho do Sistema Único de Saúde (IDSUS), indicador síntese que faz uma aferição contextualizada do desempenho do SUS quanto ao acesso e à efetividade da Atenção Básica, da Atenção Ambulatorial e Hospitalar e das Urgências e Emergências, tendo como foco o usuário do SUS residente em cada município brasileiro, é possível avaliar o desempenho dos serviços públicos de assistência à saúde (PORTAL DA SAÚDE, 2012). No ano de 2011, Ministério da Saúde avaliou a saúde pública brasileira com uma nota 5,4, com base em uma escala de 0 a 10, revelando que somente 1,9% da população do país vivem nos 347 municípios cujos serviços obtiveram notas acima de 7,0, sendo a avaliação considerada aceitável pelo órgão (NALON, 2012). A crescente preocupação da população brasileira com a deficiência dos serviços públicos de assistência à saúde, bem como, o seu desempenho insatisfatório, podem ser explicados segundo Caleman, Moreira e Sanchez (1998) quando afirmam que o Sistema Único de Saúde (SUS) enfrenta dificuldades para o alcance de seu funcionamento desejado devido às necessidades de maior financiamento e problemas com sua eficiência administrativa. Hospitais Universitários exercem um papel fundamental na rede brasileira de assistência à saúde da população usuária do Sistema Único de Saúde, por serem reconhecidos como centros de referência na realização de procedimentos de média e alta complexidade e na formação de profissionais da área da assistência à saúde (ABRAHUE, 2003, EBSERH, 2013). Os HU enfrentam o desafio de prover atenção à saúde de uma crescente população idosa e arcar com os custos dela derivados equalizando a relação entre oferta de serviços e acesso versus financiamento adequado. Compete ainda aos gestores prestar contas ao governo e à sociedade sobre a utilização dos recursos públicos (DANIELS, 1982). Bonancim e Araujo (2010) afirmam ainda, que os 21 avanços tecnológicos e a escassez de recursos financeiros disponibilizados pelo Estado resultam numa crescente demanda da gestão profissional. Entender a forma como estes hospitais são financiados implica em garantir igualdade de oportunidades para permitir a continuidade dos serviços prestados tanto na assistência à saúde da população, quanto na formação de recursos humanos potencialmente qualificados, especialmente na área da saúde (DANTAS, 2011). Tendo em vista o aporte de recursos recebidos através do Programa de Reestruturação dos Hospitais Universitários, a presente pesquisa tem a intenção de investigar qual foi o impacto do programa para a instituição, através da análise da execução do orçamento. Analisar a gestão orçamentária de um Hospital Universitário Federal é necessário para garantir a materialização dos objetivos propostos nos princípios básicos da governança pública (relações éticas; conformidade; transparência; e prestação responsável de contas), assim como, desenvolver mecanismos para o alcance de uma gestão sustentável. Destacando-se a relevância e complexidade do tema abordado, esta pesquisa justifica-se tendo em vista a importância do orçamento como mecanismo de execução das finanças públicas além de lastro financiador dos programas governamentais. 22 5. REFERENCIAL TEÓRICO A estrutura teórica que consolida este trabalho pode ser delineada em quatro pilares: um voltado às políticas Nacionais de Saúde com enfoque voltado aos Hospitais Universitários e seu financiamento, bem como, suas políticas interministeriais; o outro com uma abordagem sobre a dinâmica orçamentária brasileira cuja função principal é subsidiar informações para o acompanhamento e controle da execução orçamentária e financeira. 5.1 O SISTEMA DE SAÚDE NO BRASIL E AS POLÍTICAS NACIONAIS As políticas públicas norteiam as ações da administração pública e podem ser definidas como respostas do Estado frente às demandas que emergem da sociedade. Consolidam-se através do conjunto de diretrizes, normas e procedimentos para as relações entre poder público e sociedade, entre Estado e atores sociais. O processo de elaboração e implantação das políticas públicas, principalmente, em seus resultados, representa a execução do poder político, envolvendo a distribuição e redistribuição de poder, os processos de decisão e seus conflitos, bem como a divisão dos custos e benefícios sociais (TEIXEIRA, 2002). Adicionalmente, dois elementos fundamentais norteiam uma política pública: a intencionalidade pública e a resposta a um problema público; em outras palavras, o argumento para estabelecer uma política pública é o tratamento ou a resolução de um problema entendido como coletivamente relevante. Nesta perspectiva, as políticas públicas são provenientes das demandas originadas no interior do sistema político e procuram atender reivindicações de vários setores da sociedade ou de alguns grupos específicos, quando o atendimento das necessidades requer a ação do Estado. Desta forma, para que haja políticas públicas, é necessário a existência de um problema reconhecido, que sejam tomadas decisões com respeito às ações a serem seguidas, que as decisões sejam executadas além de avaliá-las para o 23 reconhecimento dos resultados que estão sendo obtidos (SECCHI, 2010; MONTEIRO, 2006). Política Pública, na visão de Souza (2003, p.25), seria “o campo do conhecimento que busca, ao mesmo tempo, ‘colocar o governo em ação’ e/ou analisar essa ação, e quando necessário, propor mudanças no rumo dessas ações”. Uma política pública exprime a articulação entre os atores do Estado e da sociedade civil, envolvidos nas negociações, que derivam na formulação de diretrizes para dar resolução a uma determinada demanda (SECCHI, 2010). A construção das políticas públicas é um campo de disputa na relação entre a sociedade civil e o Estado, onde a elaboração das políticas públicas, suas ações e a participação social são os elementos que estão em jogo (GUIMARÃES, 2007). A política pública é vista como um ciclo deliberativo constituído de vários estágios sendo um processo dinâmico e de aprendizado. O ciclo da política pública constitui-se conforme os seguintes estágios: definição da agenda, identificação de alternativas, avaliação das opções, seleção das opções, implementação e avaliação (SOUZA, 2003). Na concepção de Rua (2009), o acompanhamento, o monitoramento, a avaliação e o controle das políticas são procedimentos significativos para que as mesmas ganhem efetividade, resultando não somente na interferência da realidade, mas na transformação de problemas em situações solucionadas. No aspecto da ação social, as políticas públicas de saúde são a resposta que o Estado apresenta frente uma necessidade manifestada pela sociedade, propondo ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, tanto a nível coletivo quanto individual. As políticas de saúde no Brasil passaram por diversas transformações ao longo da história, contudo neste estudo será abordado o período a partir da década de 80, com o advento do Sistema Único de Saúde. 24 5.1.1 O Papel do Estado sobre a saúde no contexto das políticas neoliberais A Constituição Federal de 1988 inaugurou um novo momento políticoinstitucional no Brasil e reconheceu a saúde como um direito social de cidadania de acordo com o artigo 196 da lei nº8080/90: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (Brasil, 1998). Em contrapartida, de acordo com a política neoliberal, foram introduzidos mecanismos que comprometem a continuidade do processo de construção de uma seguridade social ampla e baseada nos direitos de cidadania através da substituição do aparato estatal de assistência à pobreza por organizações não governamentais – ONGs, privatização de bens e serviços públicos, entre outros processos (Soares, 2001). Ao se utilizar o mecanismo de terceirização dos serviços públicos para empresas privadas ou ONGs, uma vez que o governo julgava necessário o caráter competitivo na área social, estes passaram a serem considerados mercadorias. Desta forma o caráter de direito social é perdido, pois os serviços ficaram disponíveis àqueles que tiverem recursos financeiros ou outros equivalentes para adquiri-los. Transfigura-se a noção de direitos sociais para a noção de um mercado de políticas sociais (SILVA, 2003). Essa parceria institucional conferiria às denominadas organizações sociais uma suposta modalidade que transitório entre o privado e o estatal, constituindo a esfera do público não-estatal (BRESSER PEREIRA, 1998). O paradigma das Organizações Sociais, sejam elas privadas ou ONGs, surgiu como proposição de reforma do Estado no governo de Fernando Henrique Cardoso, cuja necessidade institucional e política foi apresentada como efeito da globalização. Esse modelo compromete o caráter universalista das políticas sociais dos campos da saúde e da educação. Os direitos sociais, na verdade, foram individualizados e intensifica-se a mercantilização dos serviços, transferindo para o mercado a realização dessas necessidades. Ao compactuar de tal paradigma, o cidadão deixa de compartilhar direitos iguais e universais, enquanto isso, a disponibilidade financeira determina o direito de ter acesso aos serviços públicos (SILVA, 2003; FALEIROS, 2004). 25 Desta forma, ao tempo em que, no Brasil, criavam-se mecanismos políticodemocráticos de regulação da dinâmica capitalista, no âmbito político e econômico mundial tais dispositivos perdiam vigência e tendiam a serem substituídos, com a legitimação oferecida pela ideologia neoliberal pela desregulação, flexibilização e privatização, considerados elementos inerente à globalização operada sob o comando do capital (CARINHATO, 2008). 5.1.2 Sistema Único de Saúde – SUS O Brasil é um país de proporções continentais e o Sistema Único de Saúde consolida-se como um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo, buscando a garantia da assistência integral e gratuita para a população brasileira na sua totalidade. Considerado uma das maiores conquistas sociais contempladas na Constituição Federal de 1988, seus princípios conduzem para a democratização nas ações dos serviços de saúde, que deixam de ser restritos e passam a ser universais, bem como, deixam de ser centralizados e passam a ser orientados pela descentralização (BRASIL, 1988). Segundo Paulus Junior e Cordoni Junior (2006, p. 17): A Constituição de 1988 deu nova forma à saúde no Brasil, estabelecendo -a como direito universal. [...] dever constitucional de todas as esferas de governo sendo que antes era apenas da União e relativa ao trabalhador segurado. O conceito de saúde foi ampliado e vinculado às políticas sociais e econômicas. A assistência é concebida de forma integral (preventiva e curativa). Definiu-se a gestão participativa como importante inovação, assim como comando e fundos financeiros únicos para cada esfera de governo (PAULUS JUNIOR E CORDONI JUNIOR, 2006, p. 17). A Saúde esta assegurada na Constituição da Republica Federativa Brasileira, no capítulo da seguridade social seção II nos artigos 196 e 198. Art.196 - A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 2008, p.131). 26 Art.198 - As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II- atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III - participação da comunidade (BRASIL,2008, p.144). Embora o SUS tenha sido definido pela Constituição de 1988, ele somente foi regulamentado através da Lei Orgânica de Saúde nº 8.080/90 estabelecendo como princípio básico a universalidade do atendimento, com o objetivo de proporcionar à população acesso aos serviços de integralidade, gratuidade, equidade e resolutividade e pela lei 8.142/90, que regula as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde (BRASIL, 1990). Barata, Bittar, Mendes (2010) afirmam que a grande ampliação na cobertura do sistema público de saúde e ao adotar a universalidade, integralidade e a equidade da atenção à saúde como princípios do Sistema Único de Saúde e determinar a saúde como um direito social, representou um ganho incontestável nos últimos 22 anos e colocou o Brasil desde 1998 em consonância com as tendências existentes nos países mais avançados. As Leis Orgânicas de Saúde nº8080/90 e 8142/90 foram instituídas para dar cumprimento à determinação constitucional de disciplinar legalmente a proteção e a defesa da saúde. Conforme o artigo 4º da Lei Orgânica da Saúde nº 8080 O SUS é constituído pelo conjunto de todas as ações e serviços de saúde prestados por órgãos ou instituições públicas federais, estaduais e municipais, da administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público. Cabe à iniciativa privada participar desse sistema de forma complementar (BRASIL, 1990). O SUS é fruto de uma reforma setorial contemporânea e em construção, tem seus princípios doutrinários inspirados na democratização da sociedade e, apesar de suas diretrizes representarem um ideário a ser alcançado, há estudos que 27 demonstram avanços já alcançados (GIL, 2006). Almeida (1996) apresenta que, em relação à descentralização das políticas na área social, o SUS é considerado um sucesso enquanto reforma setorial. SUS constituiu, seguramente, a mais bem sucedida reforma da área social empreendida sob o novo regime democrático. Ainda que a implantação do novo sistema esteja longe de se completar, e muitos sejam seus impasses, no estágio atual já significa uma transformação profunda do sistema público de sa úde ALMEIDA,1996, p.20). Todavia, GIL (2006, p.11) afirma que: [...] desde sua implantação, o SUS vem enfrentando além das consequências advindas da não implementação do que foi aprovado na Constituição Federal de 1988, em especial no que se refere à garantia dos mecanismos de financiamento do sistema, os problemas decorrentes da crise financeira provocada pelo crescimento dos custos setoriais e dos mecanismos mundiais de ajuste fiscal que vêm afetando duramente as políticas sociais, principalmente nos países periféricos. La Forgia e Couttolenc (2009) acrescentam ainda que o sistema de saúde enfrenta limitações na qualidade da atenção, na incorporação de novas tecnologias, na gestão de seus recursos financeiros e na distribuição equitativa dos serviços. Caleman, Moreira e Sanchez (1998) acrescentam que o Sistema Único de Saúde (SUS) enfrenta dificuldades para o alcance do funcionamento ideal em função da necessidade de maior financiamento e problemas com sua eficiência administrativa. Com relação à organização dos serviços de saúde, os hospitais são o centro do sistema de saúde no Brasil. Neles concentram-se grande parte dos recursos financeiros, materiais, humanos e tecnológicos disponíveis e indispensáveis para a prestação de serviços mais resolutivos de saúde. A maior parte da capacidade de financiamento do sistema é canalizada para os hospitais que atendem grande parte dos problemas de saúde que a rede básica não consegue solucionar (CARVALHO, 2008; LA FORGIA; COUTTOLENC, 2009; KAISER FAMILY FUNDATION, 2006). O Ministério da Saúde editou em 2004 o documento Reforma do Sistema da Atenção Hospitalar Brasileira, onde expressa os problemas fundamentais da rede na atualidade: inadequação dos mecanismos de pagamento e de auditoria, insuficiência relativa e má distribuição territorial dos leitos, controle e avaliação do uso dos 28 recursos; deficiência na implementação da política de regionalização e hierarquização dos serviços; gestão inoperante da rede e das próprias unidades hospitalares públicas e privadas; controle satisfatório sobre a produção de serviços hospitalares em quantidade e qualidade que oportunize a análise de adequação às necessidades e satisfação dos usuários (BRASIL, 2004a). No decorrer do tempo diversas políticas relacionadas à assistência hospitalar foram criadas e alteradas, tais como a política de hospitais de pequeno porte, política para os hospitais universitários e de ensino, política para os hospitais filantrópicos e a política de assistência psiquiátrica. Essas políticas ressaltam a questão do financiamento e dos mecanismos de pagamento. A forma de pagamento dos serviços é um nó crítico nos sistemas de saúde do mundo, em particular pela influência que desempenham sobre o comportamento técnico-profissional, a informação e o modelo de atenção e gestão da saúde, interferindo sobremaneira na qualidade, nos custos e na eficiência dos serviços (MENDES, 1996). Historicamente o SUS utiliza do ponto de vista das diretrizes e princípios do sistema uma forma de remuneração bastante discutível. Trata-se do pagamento pelos serviços realizados, com variação de critérios (público e privado) e utilização de tabelas de procedimentos ( laboratoriais, hospitalares, ambulatoriais). Essa forma de remuneração foi utilizada até 1997 (BRASIL, 1997). Através das Agendas Básicas de Saúde de 1997 e 1998 evidencia-se a preocupação do Conselho Nacional de Saúde (CNS) na mudança do modelo de atenção e gestão da saúde e os critérios de remuneração das unidades prestadoras de serviços ao SUS. A reformulação da forma de repasse de recursos aos gestores loco-regionais e aos prestadores de serviços é destacado por Mendes (1996) e Campos (2007) como uma estratégia significativa para assegurar a consolidação do SUS e o prosseguimento da reforma sanitária brasileira. Segundo Trevisan (2007, p. 247) “[...] o subsistema de pagamento por produção permanece à espera de atitudes gerenciais renovadoras”. La Forgia e Couttolenc (2009) confirmam quando reforçam que os sistemas de informação e pagamento do SUS (Sistema de Informação Hospitalar – SIH e Sistema de Informação Ambulatorial – SIA) apresentam inconsistências, duplicidade, distorções, informações falhas, bem como auditorias com foco legalista. Afirmam 29 ainda que tais deficiências precisam ser superadas com o intuito de estimular a racionalização dos recursos, pois o modelo vigente incentiva o aumento da oferta e produção de procedimentos lucrativos. 5.1.3 Financiamento do Sistema Único de Saúde e seus entraves Desde a sua criação um dos principais problemas enfrentados pelo Sistema Único de Saúde refere-se à natureza instável do seu processo de financiamento. A questão da saúde, no Brasil, particularmente no que diz respeito ao financiamento de suas ações e serviços, tem sido objeto de atenção e preocupação permanente dos gestores e de todos os envolvidos diretamente com a construção do sistema de saúde. Seja pela relevância social da questão em si mesma, seja pela participação, cada vez maior, não somente no setor econômico como um todo, mas em particular nas contas públicas e nos orçamentos das famílias. Garantir os preceitos constitucionais de acesso universal à saúde e atendimento integral diante de um cenário de restrições orçamentárias e financeiras e alocar recursos de forma equânime num país de tantas disparidades sociais e regionais têm sido o grande desafio para os gestores. Segundo informações do CONASS (2007), no Brasil a saúde tem se mantido nos últimos anos como: • 1° problema mais importante enfrentado no cotidiano pela população (2 4,2%), seguido pelo desemprego (22,8%), situação financeira (15,9%), violência (14%); • 2° item de gasto federal (depois de previdência), excluídos os encargos da dívida; • 3° item do gasto agregado das três esferas de governo (depois de previdência e educação); • equivalente a 7,5% do PIB, incluindo gasto público e privado; a participação privada corresponde a mais de 4% do PIB. (CONASS, 2007, P.12) Pesquisa promovida pelo instituto Datafolha no ano de 2011, confirmou a saúde como a principal preocupação dos brasileiros, apontada por 31% dos entrevistados como o principal problema do país em inquérito não estimulado (DATAFOLHA, 2012). Seguramente, mediante boas práticas de gestão, muitos dos problemas que afligem os usuários do SUS poderiam ser equacionados. Contudo, é no 30 subfinanciamento que se encontra a fragilidade do sistema público de saúde. Isto não só porque o Brasil não gasta o mínimo necessário, mas pela inexorável propensão de crescimento das necessidades de recursos devido crescimento e envelhecimento da população Daniels (1982), além da velocidade com que novas tecnologias são incorporadas ao arsenal terapêutico e de diagnose. De acordo com o Manifesto do Cebes, Abrasco, Abres, Rede Unida e Ampasa, por ocasião do 8º Simpósio sobre Política Nacional de Saúde, o subfinanciamento do SUS tem dupla implicação. Primeira por impossibilitar os gestores municipais e estaduais de organizarem a oferta de serviços com qualidade (...), o que os compele a sub-remunerar os profissionais e os estabelecimentos prestadores de serviços, a não investir em melhores edificações e equipagem de unidades de saúde e a atrasar com frequência o pagamento de prestadores e fornecedores, pondo em risco a viabilidade da gestão”. A outra, por significar “intensa repressão de demanda, insuportável congestionamento nos pronto-socorros e consultórios de especialidades, impossibilidade da atenção básica (...) “a ser a porta de entrada preferencial com alta resolutividade, e a permanência do predomínio de intervenções tardias: doenças preveníveis não prevenidas, doenças agravadas não aten didas precocemente e mortes evitáveis não evitadas”. (CEBES; ABRASCO; ABRES; REDE UNIDA; AMPASA, 2006). Desde a instituição do SUS a insuficiência e a indefinição de recursos ganharam primazia nos debates sobre o financiamento, pois condiciona muitas vezes à eficiência esperada do sistema. Para Mendes (2005) o financiamento da saúde, ao longo de todos os anos posteriores à Constituição, tem sido conduzido por dois determinantes: a preocupação dada à Previdência no interior do orçamento da seguridade social e a política fiscal contracionista implementada pelo governo federal no campo social, decorrente de sua meta de reduzir despesas. No que concerne à relação entre SUS e orçamento da Seguridade Social, verifica-se uma tensão constante pela disputa de recursos ao longo de todos esses anos. De acordo com o art. 194 da Constituição Federal de 1988, a Saúde integra, juntamente com a Previdência e a Assistência Social, a Seguridade Social. No art. 195 estabelece a estrutura do financiamento da saúde: Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: 31 a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; b) a receita ou o faturamento; c) o lucro; II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201; III - sobre a receita de concursos de prognósticos. IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar (BRASIL, 1988). A Constituição de 1988 trouxe um novo conceito de seguridade social. A universalização foi adotada como critério de acesso e o financiamento do SUS passou a compor o Orçamento da Seguridade Social (OSS). Porém, o conceito de seguridade social foi sendo deturpado pelos governos que se seguiram após a promulgação da CF através da utilização indevida dos recursos do OSS em fins alheios aos da seguridade social e da especialização das fontes para a previdência social em detrimento das outras áreas da seguridade social. Somando-se a isso contribuíram, ainda, o aumento das taxas de desemprego; a diminuição da arrecadação de contribuições de empregados e empregadores; e o aumento crescente das despesas com benefícios. Governos convictos de ideais neoliberais e crises econômicas retiraram paulatinamente recursos da saúde no período pósconstituição (UGÁ; MARQUES, 2005). A criação do OSS parecia ter como desdobramento natural, atribuir à seguridade social o recolhimento de todas as contribuições sociais e não apenas a proveniente da taxação sobre folha de salário como já ocorria na previdência. Essa pretensão, que aumentaria, em escala sem precedentes, a autonomia da Seguridade Social não prosperou (CONASS, 2005, p.22). Para compensar essa escassez de recursos, que culminou na instabilidade do financiamento das políticas de saúde públicas, foram adotadas medidas emergenciais, tais como empréstimos junto ao Fundo do Amparo ao Trabalhador FAT, obtidos no início dos anos 90, e a criação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) em 1997. Tais medidas são exemplos da instabilidade e da insuficiência de recursos que caracterizam o financiamento do setor, inviabilizando os preceitos da norma constitucional (CONASS, 2005). Os recursos da CPMF serviram para recompor o desfinanciamento do setor saúde dentro da Seguridade Social, de forma que “o SUS conseguiu enfrentar, com 32 sucesso, a hegemonia do pensamento neoliberal, no que diz respeito à reestruturação de sistemas de saúde de cunho privatizante”(UGÁ; MARQUES, 2005, p. 200). Entretanto, em janeiro de 2008, essa contribuição foi extinta e o MS retornou à condição de disputa por verbas como o fazia anteriormente a 1997. Cabe salientar ainda, que apesar da introdução de nova contribuição específica, no caso a CPMF, para solucionar o problema do financiamento setorial, Ugá; Santos (2006) advertem que este problema encontra suas raízes fora do setor de saúde e externamente ao OSS, uma vez que as recorrentes necessidades de financiamento enfrentadas pelas áreas que integram a Seguridade Social se deram, basicamente porque: (i) os recursos que ingressam no OSS não o fazem com a devida regularidade; (ii) não entram no OSS a totalidade dos recursos que lhe pertencem; e finalmente, (iii) são pagos com recursos do OSS gastos que não correspondem às atividades específicas da seguridade social. A legislação que se seguiu à CF demarcou momentos significativos para o financiamento da saúde. Dentre elas destaca-se a NOB 96 que reduziu as modalidades de gestão e concedeu mais autonomia aos estados e municípios. Criou-se o incentivo para a Estratégia Saúde da Família e o PAB percapita e que contribuíram para a expansão da atenção básica no Brasil (UGÁ et al, 2003). Ao lado das medidas emergenciais para socorrer a saúde, surgiram também propostas de soluções mais duradouras como é o caso da Emenda Constitucional n.º 29, de setembro de 2000, que alterou a Constituição Federal de 1988, com o objetivo de assegurar os recursos necessários para o atendimento da saúde pública. Tal emenda representou uma importante conquista da sociedade para a construção do SUS. O novo texto estabeleceu a efetiva coparticipação da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios no financiamento das ações e serviços públicos de saúde, além de regulamentar à progressividade do IPTU, de reforçar o papel do controle e fiscalização dos Conselhos de Saúde e de prever sanções para o caso de descumprimento dos limites mínimos de aplicação em saúde. A Emenda definiu percentuais mínimos das receitas das três esferas de governo a serem aplicados em ações e serviços públicos de saúde (BRASIL, 2000). Isso resulta no aumento e maior estabilidade dos recursos destinados à área da saúde em todo o País, além de uma progressiva descentralização do financiamento do SUS. A EC nº 29 no art. 77 do ADCT determina que: 33 Até o exercício financeiro de 2004, os recursos mínimos aplicadosnas ações e serviços públicos de saúde serão equivalentes: I - no caso da União: a) no ano 2000, o montante empenhado em ações e serviços públicos de saúde no exercício financeiro de 1999 acrescido de, no mínimo, cinco por cento; b) do ano 2001 ao ano 2004, o valor apurado no ano anterior, corrigido pela variação nominal do Produto Interno Bruto - PIB; II - no caso dos Estados e do Distrito Federal, doze por cento do produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 155 e dos recursos de que tratam os arts. 157 e 159, inciso I, alínea a, e inciso II, deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos Municípios; e III - no caso dos Municípios e do Distrito Federal, quinze por cento do produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam os arts. 158 e 159, inciso I, alínea b e § 3º.” (BRASIL, 2000). Ao analisarem a aplicação dessa emenda pelos estados, através do Sistema de Informação sobre Orçamentos Públicos em Saúde (SIOPS) e Marques (2006) observaram que a mesma não se efetivou no ano de 2001 e que dos 27 estados da União, apenas 10 cumpriram a emenda. Ressalvando-se que foram incluídas, nessa determinação despesas consideradas como alheias à saúde como empresas de saneamento, habitação urbana, recursos hídricos, despesas com inativos, merenda escolar, alimentação de presos e hospitais de clientela fechada. No entanto para os municípios, o cumprimento da EC 29 foi quase total. Observa-se que o processo de descentralização tributária verificado a partir da emenda Constitucional não só ampliou a competência tributária de estados e municípios como elevou o nível das transferências de tributos federais às esferas subnacionais principalmente os municípios, em detrimento da União. Em meados da década de 1970, mais de 68% da receita tributária disponível ficava com a União. Cabiam aos estados e municípios, respectivamente, 23,3% e 8,6%. Em 1993, ao fim da implementação gradual da reforma, esses percentuais ficaram em 57,8 % (União), 26,4% (estados) e 15,8% (municípios). Em outras palavras, enquanto a participação relativa da União caiu 10%, estados e municípios tiveram um incremento da ordem de 13,3% e 83,7 %, respectivamente, na receita disponível (ARAÚJO, 2006). Apesar da importância da EC29, a sua implementação tem gerado diferentes interpretações do que são despesas com ações e serviços públicos de saúde, além de não esclarecer qual era a origem dos recursos, em relação à seguridade social, foi omissa, o que possibilitou a disputa por seus recursos entre as áreas componentes do orçamento da seguridade social (BRASIL, 2000). 34 Contudo a EC 29 previu a edição de lei complementar para rever os percentuais de vinculação dos recursos destinados às ações e serviços de saúde por parte dos entes federados, determinar os critérios de rateio, a fiscalização e o controle desses recursos (§3º do art. 198 da CF). Porém, na ausência da referida lei complementar, a CF determinou que fossem mantidas as regras transitórias vigentes até 2004 (§4º do art. 77 do ADCT7). Somente em janeiro de 2012 foi sancionada a Lei Complementar nº 141 que regulamentou sobredita emenda constitucional nº29. A nova lei buscou fixar regras, diretrizes e condições para identificar as despesas que devam ser consideradas como “ações e serviços públicos de saúde” para fins de apuração do mínimo constitucional (TOLEDO JR, 2012). Quase todo o conteúdo da Lei Complementar já vinha sendo aplicado e obedecido pelas esferas gestoras do SUS, uma vez que foram implementados através de decretos, portarias do Ministério da Saúde e resoluções do próprio Conselho Nacional de Saúde. Contudo, agora é uma lei que normatiza quanto deve ser aplicado em saúde pelas três esferas de governo, assim como define as ações e serviços para fins de cômputo no piso constitucional da saúde, levando em conta o próprio Art. 200, da CF que já trata desta questão, e a Lei Complementar apenas especificou. A ausência de uma norma legal vinha fazendo com que, de forma questionável, muitos gestores fossem demandados pelo judiciário pela aplicação dos recursos do SUS, inclusive com condenações (SILVA; SILVA, 2013). A referida LC reiterou os percentuais mínimos da emenda 29, ou seja, sobre a receita proveniente de impostos, Estados e Municípios continuam utilizando, respectivamente, 12% e15% em ações e serviços de saúde. De igual modo, a União prossegue empregando o valor do ano anterior acrescido de, no mínimo, o percentual correspondente à variação nominal do Produto Interno Bruto (PIB) ocorrida no ano anterior ao da lei orçamentária anual (TOLEDO JR, 2012). É importante ressaltar que a LC não estabelece tetos para determinar o quanto a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios devem aplicar em saúde, estabelece somente pisos mínimos. Tanto que as constituições estaduais e as respectivas Leis Orgânicas Municipais podem estabelecer pisos diferentes, desde que seja garantido o mínimo estabelecido no Capítulo III, da LC 141. Sendo assim, 35 para a União ficou estabelecido valor mínimo; para os demais entes, percentuais mínimos(SILVA; SILVA, 2013). Os autores acima advertem que juristas e sanitaristas defendem a inconstitucionalidade da Lei Complementar, posto que, ao estabelecer valor mínimo para a União, contrariou o disposto nos §§ 2º e 3º do art 198 da CF, com redação dada pela EC 29, visto que ambos dispositivos tratam de percentuais a serem aplicados anualmente em ações e serviços de saúde pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos municípios. Assim, como a LC 141 estabeleceu nova forma de cálculo para a União, há os que defendem a inconstitucionalidade do art. 5º, que deverá, entretanto, ser arguida, não cabendo declaração de ofício por quem quer que seja. A regulamentação da Emenda Constitucional 29 será de fundamental importância para orientar os respectivos Tribunais de Contas no processo de fiscalização do seu cumprimento , entretanto, não há como deixar de ressaltar o retrocesso com a não aprovação de percentual mínimo para delimitar os gastos da União com ações e serviços públicos de saúde, sem entrar no mérito de quanto seria o ideal, se dez ou mais pontos percentuais (SILVA; SILVA, 2013). 36 5.2. HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS NO BRASIL Vinculados às Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) do Ministério da Educação (MEC) os HUs foram criados para complementar a formação de profissionais de saúde de nível universitário. As funções de ensino e pesquisa sempre foram imprescindíveis a essas instituições. São reconhecidos atualmente por desempenharem papel imprescindível na prestação de serviços aos usuários do Sistema Único de Saúde, com ênfase na atenção de médias e altas complexidades, nos níveis de atenção hospitalar e ambulatorial. Um hospital universitário é entendido primeiramente como um centro de atenção médica de alta complexidade, uma vez que: (i) desempenha um importante papel no atendimento médico de alta complexidade; (ii) apresenta grande envolvimento em atividades de ensino e pesquisa relacionada ao tipo de atendimento médico dispensado; (iii) dispõe de alta concentração de recursos físicos, humanos e financeiros em saúde; (iv) politicamente desempenha uma papel importante na comunidade em que está inserido, dada sua escala, dimensionamento, orçamento e custos (MEDICI, 2001). A designação de Hospitais Universitários (HUs) não se restringe apenas a instituições de ensino público federal, uma vez que conjugam à sua atividade o trinômio indissociável do ensino, da pesquisa e da extensão, e a interface dessas, com a ação de assistência, tornando-os mais dispendiosos. A grandeza de sua missão e a complexidade de sua atividade, aliada à exiguidade de recursos para sua manutenção, imprime nessas instituições a necessidade de uma gestão estratégica que garanta sua sustentabilidade (MEDICE, 2001). De acordo com Chioro (2004) os hospitais universitários e de ensino, municipais, estaduais e federais, disponibilizam o equivalente a 10,3% dos leitos ofertados, chegando a mais de 39 mil leitos para o Sistema Único de Saúde (SUS). Responsáveis por mais de 12% das internações hospitalares e por cerca de 4,8 mil leitos de UTI da rede pública de saúde, sendo 25,6% do total. Respondem ainda por 37,56% dos procedimentos de alta complexidade realizados no país, o que acarreta custos elevados de operação. 37 As particularidades dos HUs fazem com que seus custos sejam altamente elevados quando comparados a hospitais não universitários de alta tecnologia, tendo em vista as atividades docente-assistenciais e serviços básicos de saúde, quando sua estrutura é constituída para oferecer atividades de alta tecnologia. O atual sistema de reembolso, teoricamente, não admite ineficiência exigindo dos HUs um alto grau de eficácia e eficiência na gestão dos escassos recursos. (JARLIER; CHARVET-PROTAT, 2000). A Lei Orgânica da Saúde nº 8.080 no artigo 45 prevê a “parceria” entre o SUS e os hospitais universitários. Art. 45. Os serviços de saúde dos hospitais universitários e de ensino integram -se ao Sistema Único de Saúde (SUS), mediante convênio, preservada a sua autonomia administrativa, em relação ao patrimônio, aos recursos humanos e financeiros, ensino, pesquisa e extensão nos limites conferidos pelas instituições a que estejam vinculados (BRASIL, 1990a). Caldas (2008, p. 32) relata que “[...] o ensino a pesquisa e a atenção à saúde são extremamente interdependentes. Um sistema de saúde não pode existir sem o suprimento de profissionais treinados ou do conhecimento gerado por meio da pesquisa”. Da mesma forma que o ensino e a pesquisa necessitam das instalações do SUS como cenário para as práticas de ensino e como fonte de material clínico. Os HUs representam componentes estratégicos para a organização e estruturação do SUS, afetando diretamente a qualidade dos profissionais formados e indiretamente o sistema de saúde como um todo (MCKEE; HEALY, 2002). No entanto somente a partir da década de 1990 é que todos os serviços prestados passaram a ser remunerados pelo SUS(MCKEE; HEALY, 2002). No Brasil, os HUs foram assim denominados através da Portaria SNES/MS nº 15/91, que estabeleceu exclusivamente para eles, o Fator de Incentivo ao Desenvolvimento do Ensino e Pesquisa Universitária em Saúde (FIDEPS), objetivando integrar os hospitais universitários ao SUS, com o intuito de fortalecer e estimular as atividades acadêmicas e de pesquisa para o SUS. Contudo, em virtude da dificuldade financeira dos HUs o FIDEPS foi incorporado ao custeio dos hospitais não alcançando o objetivo para o qual foi constituído. (BRASIL, 2004b). Até 2004 os Hus federais foram custeados de forma compartilhada pelo MEC, responsável apenas pelo financiamento da folha de pagamento do pessoal 38 disponibilizado pelas IFES para desempenho de suas atividades nos HU´s, e pelo Ministério da Saúde, cujos recursos, são repassados mediante a prestação de serviços acrescidos do FIDEPS, porém esta forma de financiamento é insuficiente para a manutenção das necessidades dos hospitais (DALLORA E FORSTER, 2008). O SUS, portanto, torna-se para a grande maioria, fonte exclusiva de financiamento dos serviços prestados. Fernando Haddad (BRASIL, 2007) complementa que o modelo de gestão e financiamento dos HUs estão escassos, devendo contar com a maior participação do SUS. O hospital universitário passa a ter na implementação do SUS conforme Martins (2011), um papel fundamental determinado por três eixos: constitucional, para assegurar os princípios do SUS; organizacional através da utilização racional dos recursos; pedagógico e interativo através do estafe de profissionais; com o objetivo de resguardar os princípios da prática racional e a interdisciplinaridade, sem ferir os princípios éticos e garantir as ações de ensino, pesquisa e extensão, tendo como direção, as políticas públicas de Estado. A reorientação dos HU´s para além do ensino, da pesquisa e da extensão, além de ser um referencial em tecnologia de ponta, assume, também, mais uma relevante atribuição que é contribuir com a construção do Sistema Único de Saúde. Os HU’s no exercício de sua missão social colaboram para a qualificação da oferta de serviços do SUS além do aperfeiçoamento do próprio funcionamento do sistema (MACHADO; KUCHENBECKER, 2007). Em relação aos HUs Medici (2001) afirma o seguinte: “Como último aspecto institucional relevante, vale a pena destacar que os hospitais universitários são fonte de prestígio e poder da classe médica e estão sujeitos ao forte controle dos grêmios de profissionais de saúde, os quais podem manipular sua gestão, em muitos casos como aparelhos sindicais; seja pelo lado da classe dos “professores universitários”, seja pela própria classe médica. Isto os transforma em instituições de difícil manejo e controle local, fazendo com que sejam vulneráveis ao velho dilema de apropriação privada do espaço público por grupos de interesse, sem o controle social que muitas vezes poderia ser exercido através da regulação pública ou do mercado”.(MÉDICI, 2001, p.155). 39 5.3 FINANCIAMENTO E GESTÃO DOS HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS Os hospitais universitários foram inseridos no SUS através da Lei Orgânica da Saúde – Lei 8080 de setembro de 1990, que dotou as instituições de recursos orçamentários conforme a produtividade, vinculada aos registros de atendimentos transformando contas hospitalares por meio de reembolso dessas despesas, tornando essas instituições dependentes de seu faturamento. (BRASIL, 1990). Contudo, o financiamento de todos os custos envolvidos nos processos de produção dos serviços prestados pelos HUs não são garantidos, sejam eles assistenciais, de ensino ou de pesquisa em virtude das tabelas de reembolso encontrar-se defasadas. Apesar de cumprir seu papel regulamentar, a atuação desses hospitais vem sendo executada com um grau de precariedade muito grande. No decorrer do tempo, diversas dificuldades vêm sendo enfrentadas por esses hospitais, dentre elas, problemas nos modelos de gestão, falta de recursos humanos, financiamento da produção dos serviços e investimentos em equipamentos e estrutura física (ABRAHUE, 2003). O elevado custo dos serviços de saúde provocou significativas modificações na forma como esses serviços são prestados e na viabilidade de algumas organizações (ANTHONY e GOVINDARAJAN, 2002). Isto ocorre porque o SUS remunera os serviços prestados segundo os valores fixados em tabelas e não pelo custo dos procedimentos (BITTAR, 2002). Conforme ABRAHUE (2003, p.1) “[... a tabela de remuneração por procedimento do SUS, que vem sendo objeto de reavaliação sistemática pelo Ministério da Saúde, sabidamente não permite a cobertura integral dos custos]”. Os valores constantes nas tabelas de financiamento do SUS encontram-se defasados, sendo, portanto incapazes de cobrir os custos dos procedimentos realizados. Somando-se a isto, o SUS limita as quantidades de procedimentos prestados pelos hospitais estabelecendo tetos financeiros, desta forma o hospital não tem garantia do recebimento de todos os procedimentos realizados em sua produção de serviços ambulatorial e hospitalar, sustentabilidade da Instituição (BITTAR, 2002). o que compromete a 40 Os hospitais de ensino encontram-se debilitados por serem mais dispendiosos, uma vez que incorporam atividades de ensino, pesquisa e extensão além de ser um referencial em tecnologia de ponta, o que eleva consideravelmente os custos, quando a exigência do governo e da sociedade pela racionalização das despesas e dos gastos é cada vez maior (MEDICI, 2001, SILVA et al, 2003). Assim, os HUs enfrentam grande crise financeira em função das dificuldades de financiamento de suas atividades, sendo as receitas insuficientes para manter sua sustentabilidade pendendo a uma situação de desequilíbrio econômico. Tal situação os obriga a escolher entre encerrar ou reduzir as atividades operacionais ao longo do tempo (DANTAS, 2011). É nesse cenário de restrição financeira e queda no desempenho dos HUs que foi criado o Programa de Reestruturação dos Hospitais de Ensino do Ministério da Educação no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS, através das portarias interministeriais (MEC e MS) nº 1006/2004 e 1702/2004, diante da necessidade de reorientar a política para hospitais de ensino. Esta portaria estabelece o termo de referência para contratualização dos hospitais de ensino com o gestor municipal do SUS e objetiva instrumentalizar a implementação do processo de reestruturação da política nacional da atenção hospitalar, novo modelo de financiamento e o acompanhamento, avaliação da atuação do ensino, pesquisa, assistência e gestão. A portaria interministerial no item V – Recursos Financeiros, do termo de referência, estabelece o novo modelo de financiamento e alocação de recursos por meio de orçamentação mista do custeio do hospital (BRASIL, 2004c). A partir desta portaria o representante do hospital de ensino e o gestor do SUS estabelecem pelo Plano Operativo Anual (POA) as metas quantitativas e qualitativas do processo de atenção à saúde, gestão, ensino e pesquisa. Tais metas devem ser acompanhadas pelo Conselho Gestor da Instituição e pela Comissão de Acompanhamento de Contrato do governo federal. Sendo assim, A contratualização constitui-se na ferramenta de compromisso entre hospitais e secretarias em relação às diretrizes colocadas no Programa de Reestruturação dos Hospitais de Ensino nos campos da assistência, da gestão, do ensino, da pesquisa e da avaliação tecnológica em saúde (LIMA, 2009, p.35). 41 A remuneração pelos serviços deixa de ser feita exclusivamente por procedimentos com base em tabelas e valores fixados e passa para um modelo de orçamentação mista, condicionada ao desempenho do hospital, sendo os recursos alocados de acordo com componentes fixos e variáveis conforme quadro abaixo: Componentes * Valor Fixo Mensal Descrição · · · · · · · Conforme cumprimento das metas estabelecidas (Deverá ser estabelecido o percentual de, no mínimo 10%*, do valor de custeio fixo como fator de incentivo ao cumprimento de metas de qualificação das ações e atividades de atenção à saúde, ensino e pesquisa). · Produção de serviços de alta complexidade e os estratégicos (FAEC). Valor variável Produção de Serviços Produção de serviços de Média Complexidade; FIDEPS – Fator de Incentivo ao Desenvolvimento do Ensino e Pesquisa; INTEGRASUS – Incentivo de Integração ao SUS; Outros incentivos (existentes ou que venham a ser criados pelo Ministério da Saúde); Incentivo à Contratualização (Ministério da Saúde); Recursos financeiros repassados ao estabelecimento de saúde pelas demais esferas de governo. Quadro 1 – Componentes do Financiamento dos HU´s Nota: * Percentual revisto anualmente ou por ocasião da renovação da contratualização. Fonte: Elaborado pelo autor com base na Portaria 1702/GM (BRASIL, 2004) Conforme demonstrado, o financiamento passa a ser orçado de forma mista, apresentando para os componentes fixos valores pré-fixados e para os pós-fixados componentes variáveis. O financiamento pelo SUS da produção dos serviços ambulatoriais e hospitalares integra o cálculo do financiamento tanto para componente fixo da orçamentação, quanto no variável. A primeira estratégia para integrar os HUs ao SUS foi a criação, exclusivamente para eles, do FIDEPS – Fator de Incentivo ao Desenvolvimento do Ensino e da Pesquisa Universitária em Saúde instituído através da portaria SNES/MS nº 15/91, com o intuito de fortalecer e estimular as atividades acadêmicas 42 e de pesquisa para o SUS. Contudo, em virtude da dificuldade financeira dos HUs o FIDEPS muitas vezes foi incorporado ao custeio dos hospitais não alcançando o objetivo para o qual foi constituído (BRASIL, 2004b). A gestão das ações e programas desenvolvidos por esses hospitais vem sendo executada com um grau de precariedade muito grande. Os HUs vêm enfrentando muitos desafios ao longo do tempo, tais como: falta de recursos humanos, problemas nos modelos de gestão, financiamento da produção dos serviços e investimentos em equipamentos e estrutura física (ABRAHUE, 2003). O MS é responsável pelo financiamento da prestação de serviço de média e alta complexidades e procedimentos estratégicos baseados na tabela SUS. Atualmente o MEC é responsável pelo financiamento da folha de pagamento dos servidores disponibilizado pelas IFES para desempenho de suas atividades nos HU´s. Contudo o total disponibilizado não é suficiente para a manutenção das atividades dessas instituições, sendo necessária a contratação de pessoal através de outros vínculos de trabalho (fundações de apoio, cooperativas, terceirizadas) sendo utilizado para pagamento de pessoal recurso provenientes da assistência. Segundo Drago (2011) os HUs apresentam quadro de funcionários insuficientes, fechamento de leitos e serviços, sucateamento, contratação de pessoal via fundação de apoio (terceirizados, cooperativas) além da subutilização da capacidade instalada para alta complexidade. O MEC aponta que os HUs federais acumulam um déficit total de 30 milhões/ano (diferença entre o produzido e o pago) proveniente dos valores defasados da tabela SUS, conduzindo a uma dívida acumulada de 425 milhões de reais (CISLAGHI, 2010). Com o intuito de dar continuidade às ações que regulamentam a reestruturação dos hospitais universitários o Ministério da Saúde por meio do Decreto Nº 7.082, de 27 de janeiro de 2010, instituiu o Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais – REHUF destinado à reestruturação e à revitalização dos hospitais das universidades federais, integrados no Sistema Único de Saúde – SUS para garantir a cobertura das despesas correntes e, progressivamente, investimentos para infraestrutura (BRASIL, 2010). Através do financiamento deste programa, a expectativa é que para os próximos anos os hospitais sejam dotados de condições estruturais e institucionais 43 para que possam exercer plenamente suas funções em relação às dimensões de ensino, pesquisa e extensão e de assistência à saúde (DANTAS, 2011). 44 5.4 PROGRAMA NACIONAL DE REESTRUTURAÇÃO DOS HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS FEDERAIS – REHUF Visando a continuidade de ações que regulamentam a reestruturação dos HUs, foi elaborado o Decreto Nº 7.082, de 27 de janeiro de 2010, regulamentado pela Portaria Interministerial 883 de 05/07/2010 que instituiu o Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais – REHUF destinado à reestruturação e à revitalização dos hospitais das universidades federais, integrados no sistema único de saúde e dispõe sobre o financiamento compartilhado dos HU´s entre as áreas da saúde e da educação (BRASIL, 2010c). O programa tem por objetivo reestruturar e revitalizar os hospitais universitários federais integrados ao Sistema Único de Saúde oferecendo condições materiais e institucionais para que possam desempenhar plenamente suas funções em relação às dimensões de ensino, pesquisa e extensão e de assistência à saúde. O Decreto estabelece o papel e as funções pertinentes aos Ministérios envolvidos (MEC, MS, MPOG) e aponta as diretrizes sobre as quais o REHUF está assentado, a saber: · Instituição de mecanismos adequados ao financiamento, progressivamente e igualmente compartilhados entre os Ministérios da Educação e da Saúde até 2012; · Reestruturação do quadro de recursos humanos; · Melhorias no processo de gestão; · Recuperação do parque tecnológico; · Adequação da estrutura física; · Incorporação de novas tecnologias no tocante à ensino, pesquisa e assistência; e · Aprimoramento das atividades e avaliação permanente das mesmas. Observa-se no Decreto o destaque com relação ao financiamento, que estabelece a divisão igualitária entre o MS e MEC nas despesas dos HUs, onde a Saúde e Educação necessitam de uma programação orçamentária a fim de cumprir 45 os termos do Decreto. Percebe-se nesta partilha a intencionalidade do MS em ampliar suas receitas e do MEC de reduzir sua participação no orçamento dos HUs. Infere-se nas entrelinhas a intenção de esquiva de responsabilidades financeiras e/ou despesas dos HUs (DRAGO, 2011). 46 5.5 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA OS HOSPITAIS UNIVERSITÁRIOS E DE ENSINO Os HUs subordinados às Universidades e financiados 100% pelo MEC foram criados com o intuito de desenvolver o ensino, a pesquisa e a extensão através da assistência à população não contribuinte. Contudo, a partir da década de 1990 todos os serviços prestados por essas instituições passaram a ser remunerados pelo SUS sendo que o financiamento foi dividido entre o MS e o MEC. Foram assim denominados pela Portaria SMES/MS nº 15/91, que estabeleceu somente para essas instituições o fator de incentivo ao desenvolvimento do ensino e da pesquisa universitária em saúde (FIDEPS), objetivando a integração dos HUs ao SUS com o intuito de fortalecer e estimular as atividades acadêmicas e de pesquisa para o SUS (BRASIL, 2004b). A Portaria 1.480/99 estabeleceu um montante de recursos mensais destinados ao pagamento do FIDEPS. Os repasses dos recursos estavam condicionados ao cumprimento de um contrato de metas. Essas medidas tinham como objetivo: Ampliar a cooperação dos HUS com o sistema de saúde e institucionalizar a formação e a pesquisa aí realizadas. No entanto, o Fideps não serviu para estimular ou fortalecer as atividades de ensino e pesquisa nos hospitais. (BRASIL,2004, p. 98). Os HUs são instituições importantes na organização e estruturação do SUS, tanto no aspecto da formação e qualificação profissional, como na pesquisa e desenvolvimento de tecnologias, além da prestação de serviços de referência em saúde. Na década de 90 houve a crescente participação dessas instituições na assistência à saúde, em especial no que tange às internações hospitalares. Contudo, a partir dos primeiros anos de 2000 houve a redução de sua participação nos serviços prestados pelo SUS, em virtude da crise financeira, que permeia até hoje. O debate sobre a natureza das crises, que afetavam os HUs segundo Caldas (2008), foi retomado em 2003 reconhecendo que a crise dessas instituições não apontava apenas pela dificuldade de financiamento, mas o caráter estrutural organizativo e/ou de gestão eram também relevantes. Para avaliar a situação desses hospitais e reorientar a política para o setor, foi criada a portaria 47 interministerial MS-MEC-MCT-MPOG nº 562 em 12/05/03 para elaborar medidas de enfrentamento dos problemas (BRASIL, 2003). A comissão foi reinstituída em janeiro de 2010 (BRASIL, 2010a). Foram apresentadas propostas de mudança visando reorientar e reformular a política para os hospitais de ensino no MEC, resultando no Programa de Reestruturação do HUE. Em 2004 foram publicadas portarias interministeriais (MS/MEC) nº 1000, 1005, 1006 e 1702 que objetivavam modificação na forma de certificação e financiamento dos hospitais de ensino (BRASIL, 2004b). O primeiro instrumento considerado o marco legislativo da atual política para o conjunto de HE foi a Portaria Interministerial MEC-MS nº 1000/04 que estabeleceu os requisitos para um hospital ser considerado de ensino. O artigo 1º da referida portaria determina que podem certificar-se como hospital de ensino as instituições que servirem de campo para a prática de atividades curriculares na área da saúde, sejam Hospitais Gerais ou Especializados, de propriedade de Instituição de Ensino Superior público ou privada, ou ainda hospitais formalmente conveniados com Instituições de Ensino Superior (BRASIL,2004b). A partir de então, para que um hospital faça jus à denominação de HE é imprescindível ser previamente certificado pelo MEC-MS. Os documentos necessários para o cumprimento da portaria supracitada foi estabelecido pela Portaria Interministerial MEC-MS nº 1005/04. As Portarias nº 1000 e 1005/04 foram revogadas pela Portaria Interministerial MEC-MS nº 2400/04 incluindo mecanismos de gerenciamento das atividades de ensino e pesquisa e estabelece quais e a forma de funcionamento das comissões hospitalares. Acrescentou ainda a necessidade da unidade hospitalar estar inscrita no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) (BRASIL, 2007). Dando continuidade à legislação norteadora da política para os Hospitais Universitários e de Ensino, foram publicados os Programas de Reestruturação dos Hospitais de Ensino; sendo que a Portarias nº 1006/04 abrange os hospitais de ensino do Ministério da Educação no Sistema Único de Saúde e a Portaria nº 1702/04 os hospitais de ensino públicos e privados no âmbito do SUS. Os HUs vinculados às IFES são acompanhados pelos Ministérios da Educação e da Saúde, já os demais recebem o acompanhamento somente do Ministério da Saúde. As portarias acima mencionadas estabelecem um termo de 48 referência, que determina as diretrizes gerais, para a contratualização entre Hospitais de Ensino e os gestores do SUS. O termo de referência estabelece a formalização da contratualização que é o processo pelo qual o representante legal do hospital de ensino e o gestor local do SUS estabelecem metas físicas (quantidade de procedimentos) e de qualidade (melhoria dos serviços) no processo de atenção à saúde, de ensino e pesquisa e de gestão hospitalar, que deverão ser atestadas e acompanhadas pelo conselho gestor da instituição ou pela comissão permanente de acompanhamento de contratos com foco na gestão qualificada do recurso a ser transferido (BRASIL, 2004b, 2004c, 2004d). Complementando a legislação da atual política para os HUE foram publicadas as portarias GM/MS nº 1082/05 que extingue o Fideps e as portarias GM/MS nº 35 e 1631/06 que prorrogam o prazo de extinção do Fideps. No quadro a seguir serão apresentadas as atuais políticas para os Hospitais Universitários e de Ensino. 49 ATO NORMATIVO Nº Portaria Interministerial MS-MOG-MEC-MCT Nº 562 Portaria Interministerial MEC-MS Nº 1.000 Portaria Interministerial MEC-MS Nº 1.005 DATA ESPECIFICAÇÃO 12/05/2003 Institui a Comissão Interministerial com o objetivo de avaliar e diagnosticar a atual situação dos Hospitais Universitários e de Ensino no Brasil visando reorientar e/ou formular a política nacional para o setor. 15/04/2004 27/05/2004 Define os requisitos para a certificação dos Hospitais de Ensino. Define os documentos para a verificação do cumprimento dos requisitos obrigatórios relacionados aos Incisos I a XVII do artigo 6º da Portaria Interministerial MEC-MS nº 1.000. Portaria GM/MS Nº 1.006 27/05/2004 Cria o Programa de Reestruturação dos Hospitais de Ensino do Ministério da Educação no Sistema Único de Saúde. Portaria GM/MS Nº 1702 17/08/2004 Cria o Programa de Reestruturação dos Hospitais de Ensino no âmbito do Sistema Único de Saúde. Portaria GM/MS Nº 1.082 4/07/2005 Extingue o Fator de Incentivo ao Desenvolvimento do Ensino e a Pesquisa Universitária em Saúde – FIDEPS. Portaria GM/MS Nº 35 06/01/2006 Portaria GM/MS Nº 1.631 20/07/06 Prorroga o prazo de extinção do Fator de Incentivo ao Desenvolvimento do Ensino e a Pesquisa Universitária em Saúde – FIDEPS Prorroga o prazo de extinção do Fator de Incentivo ao Desenvolvimento do Ensino e a Pesquisa Universitária em Saúde – FIDEPS 50 Portaria Interministerial MEC-MS Nº 2.400 Decreto 7.082 2/10/2005 27/01/2010 Estabelece os requisitos para a certificação de unidades hospitalares como Hospitais de Ensino. Revoga as Portarias Interministeriais MEC-MS nº 1.000/04 e nº 1.005/04. Institui o Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais – REHUF e dispõe sobre o financiamento compartilhado dos hospitais universitários federais entre as áreas da educação e da saúde e disciplina o regime de pactuação global com esses hospitais. Quadro 2 - Legislação referente à atual política para os Hospitais Universitários e de Ensino Fonte: Bittar e Magalhães (2007), Brasil (2004b). 51 5.6 CONTABILIDADE PÚBLICA O processo de planejamento, execução e prestação de contas do orçamento público, que compreende a estimativa das receitas e fixação e classificação das despesas, que no âmbito da administração pública, conta com o auxílio da contabilidade que firma-se como importante instrumento de evidenciação dos atos previstos no orçamento, dada a importância das informações por ela geradas. A Contabilidade Pública mantém relações com a Ciência das Finanças de maneira significativa e tem por objetivo estudar a atividade financeira do Estado, a qual representa a busca dos meios para o custeio dos serviços públicos e investimentos, através da despesa, receita, orçamento e crédito públicos. Indispensável ferramenta para que haja legítimo controle da execução orçamentária e financeira, no sentido de prestar as informações que representem autenticamente a realidade econômico-financeira e patrimonial do conjunto dos órgãos e entidades públicas (ANGÉLICO, 1995; OLIVEIRA, 2007). Tem como objetivo produzir com oportunidade e fidedignidade aos seus usuários interno e externo, informação estruturada de natureza econômica, financeira e complementarmente, física, de produtividade e social, para que os mesmos possam tomar decisões e realizar julgamentos seguros (ANDRADE, 2006; IUDÍCIBUS E MARION, 2002). No Brasil, a Lei 4.320 de 17 de março de 1964 estatui normas gerais para a elaboração e o controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados e dos Municípios e do Distrito Federal. A referida lei trata a contabilidade pública como um instrumento capaz de permitir o acompanhamento da execução orçamentária, a situação patrimonial, o levantamento de seus balanços (financeiro, orçamentário, patrimonial), bem como a análise e interpretação dos resultados econômicos e financeiros. Constata-se assim a preocupação com relação à evidenciação dos resultados obtidos pela Administração Pública por meio dos demonstrativos contábeis (BRASIL, 1964). A Contabilidade Pública é um segmento da Contabilidade aplicada à área pública, devendo obedecer às normas gerais estabelecidas pela Lei 4.320/64. Lopes de Sá (2005) afirma que: 52 Contabilidade Pública é a contabilidade aplicada às entidades públicas. As normas a serem seguidas para a escrituração das entidades acham-se estabelecidas por leis especiais e formam objeto de cuidado dos técnicos no assunto. (...) A finalidade da Contabilidade Pública é a de estabelecer regras para que os atos administrativos da gestão financeira e patrimonial das entidades públicas se realizem em perfe ita ordem e sejam registradas sistematicamente, de modo a mostrar, em épocas prefixadas, os respectivos resultados (LOPES DE SÁ 2005, p. 97). O art. 83 da Lei supracitada prescreve que a função da contabilidade pública é prover a evidenciação das informações relativas ao controle do patrimônio público. Art. 83. ”A contabilidade evidenciará perante a Fazenda Pública, a situação de todos quantos, de qualquer modo, arrecadem receitas, efetuem despesas, administrem ou guardem bens a ela pertencentes ou confiados” (BRASIL, 1964). Na área governamental, a contabilidade evidencia as circunstâncias de todos aqueles que arrecadam receitas, efetuam despesas, administram ou guardam bens públicos. Oportuniza o acompanhamento da execução orçamentária, financeira e patrimonial das entidades públicas, por meio dos registros efetuados nos sistemas Orçamentário, Financeiro, Patrimonial e de Compensação (KOHAMA; 2003). A Contabilidade Pública utiliza-se do Sistema Integrado de Administração Financeira – SIAFI, como ferramenta de controle contábil, mas que representa, também, pela heterogeneidade de subsistemas, módulos e transações, um sistema integrado de informações gerenciais e de controle orçamentário e financeiro. Castro e Lima (2003) afirmam que este tem por objetivo promover a modernização e a integração dos Sistemas de Programação Financeira, de Execução Orçamentária e de Contabilidade em seus Órgãos e Entidades Públicas. O SIAFI é um sistema informatizado que processa e controla a execução orçamentária, financeira, patrimonial e contábil de todos os órgãos do governo federal. Tem como objetivo fornecer aos órgãos mecanismos ágeis para o controle diário das atividades, de forma segura e tempestiva, integrando e compatibilizando as informações dos diversos órgãos, com o intuito de obter a transparência dos gastos públicos (PIRES, 2002). De acordo com Albuquerque (2006) O Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal – SIAFI é o sistema de teleinformática que processa a execução orçamentária, financeira e contábil, dos órgãos e entidades da administração federal. Foi implantado em 1987 e 53 constitui, desde então, o mais importante instrumento de acompanhamento e controle da execução orçamentária, financeira e contábil do Governo Federal. (ALBUQUERQUE, 2006, p.325). A informação fornecida pela contabilidade pública adquire maior expressividade quando analisada sob a ótica da transparência. Por meio de um de seus princípios, o da evidenciação, a contabilidade assume a responsabilidade de prestar informações à sociedade dispostas de forma clara e objetiva, passíveis de serem compreendidas e utilizadas pela mesma. A transparência da gestão pública está intimamente ligada à definição de accountability, termo que no Brasil tem sido associado com a obrigação da prestação de contas responsável pelo gestor dos recursos públicos. Tornar a gestão pública transparente e as informações mais acessíveis passa essencialmente por um novo modelo de accountability (ARAÚJO, 2004). É digno de referência o posicionamento de Lima (2003) quando afirma que a accountability esta inserida em um contexto mais amplo, cujo maior objetivo é garantir a soberania popular, e se estrutura, basicamente, através das eleições que representa o controle vertical da população sobre os governantes. Atualmente no Brasil, os debates em torno da transparência da gestão pública se reportam à Lei Complementar n.º 101/2000, conhecida como Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) embasada no capítulo II, título VI da Constituição Federal. Esta lei apresenta como exigência de transparência da gestão fiscal a ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público, dos instrumentos de planejamento orçamentário, das prestações de contas e respectivos pareceres e outros relatórios concernentes à gestão fiscal (BRASIL, 2000). O primeiro artigo da referida Lei traz os postulados designados para a responsabilidade na gestão fiscal, sendo: (i) garantia de equilíbrio nas contas públicas; (ii) prevenção de riscos e correção de desvios que afetem o equilíbrio das contas públicas; (iii) ação planejada e transparente. Possui ainda princípios norteadores e fundamentos, conforme abaixo apresentado (NASCIMENTO e DEBUS, 2002). 54 Princípios Fundamentos Não gastar mais do que arrecadar Permitir o planejamento fiscal consistente Não se endividar mais do que a capacidade de pagar Escolher corretamente os gastos prioritários Combater o desperdício Tornar a gestão fiscal transparente Criar instrumentos eficazes e democráticos de controle social Responsabilizar e punir o mau gestor Quadro 3 - Princípios Norteadores da LRF Fonte: Kalife (2004) Os principais aspectos da administração pública fortalecidos pela LRF são: (i) Plano Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Lei Orçamentária Anual (LOA); (ii) responsabilidade, representado pelo dever do gestor público em prestar contas de seus atos; (iii) controle, representado pela atualização contínua dos Tribunais de Contas; (iv) transparência, representada pelos instrumentos de transparência da gestão de planos, orçamentos, prestação de contas, relatório de gestão fiscal, dentre outros (MELLO, 2006). A LRF tornou-se a prerrogativa de conduta para os gestores públicos. Considerando que a inobservância dos seus preceitos pode acarretar em punições aos gestores públicos, o planejamento e a transparência tornaram-se eixos da administração pública, conduzindo os gestores públicos ao estudo e à implantação de ferramentas de Controle Gerencial agregando ao controle orçamentário já existente. A LRF constituindo-se o principal instrumento regulador das contas públicas, no Brasil, espera-se que a sua correta aplicação fortaleça o processo de accountability no país (SACRAMENTO, 2004). 55 5.7 PLANEJAMENTO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA O planejamento na visão de Pereira (2003) é um processo dinâmico de racionalização coordenada das opções, permitindo prever e avaliar cursos de ação alternativos e futuros, com vista na tomada de decisões mais adequadas e racionais. Pode ser conceituado com um processo desenvolvido para o alcance de uma situação desejada de um modo mais efetivo e eficiente, com a melhor concentração de recursos e esforços (OLIVEIRA, 1987). A utilização do planejamento como instrumento para direcionar a ação para um determinado resultado em face de uma série de situações dependentes ou não, em uma conjuntura de escassez de qualquer tipo de recursos, é abordada de forma clara por Rezende e Castor (2006, p.6). A ideia do planejamento como forma de melhorar a qualidade das decisões está solidamente ancorada no conceito da racionalidade na alocação dos recursos, já que estes são limitados e as necessidades e aspirações dos indivíduos virtualmente ilimitadas, é preciso estabelecer preferências e prioridades para distribuir os meios de satisfazê-las de maneira efetiva e organizar sua aplicação de modo a extrair o maior benefício deles (REZENDE E CASTOR, 2006, p.6). O planejamento para Silva (1993) é considerado uma função básica do processo administrativo, onde a organização estabelece seus objetivos e metas temporárias, delibera e aloca os recursos aos planos e programas operacionais e de investimento. Segundo o mesmo autor, ao enumerar as características que devem ser obedecidas pelo planejamento, ressalta que o mesmo: · · · · · é anterior à realização do empreendimento; requer a definição clara dos objetivos para a ação; exige quantificação e valoração ( orçamento ); requer base técnica (método); exige um trabalho integrado (SILVA, 1993). Conferindo um enfoque governamental, Pereira (2006) aduz o planejamento como sendo uma forma de alocar de maneira racional e eficiente os escassos recursos do Estado. Segundo ele [...] para a produção de qualquer tipo de bem ou serviço, quanto menos recursos forem alocados, maior será a capacidade de investimento do Estado, prece ito válido 56 também para qualquer empresa. Quando se estuda a questão do processo de produção de bens e serviços públicos pleiteados pela sociedade, necessita o Estado, antecipadamente, decidir os tipos, a quantidade e a qualidade de bens ou serviços que irá produzir. Assim, os responsáveis pelo processo de planejamento, que a utilização desses recursos escassos deverá efetuada de maneira mais racional e eficiente possível. O planejamento é utilizado para que isso ocorra adequadamente (PEREIRA, 2006, p.227/228). O planejamento é uma forma de a sociedade, através de seus representantes e instituições confrontar suas potencialidades e limitações, coordenando seus recursos e esforços para elaborar utilizando as estruturas do Estado e por indução à iniciativa privada, as ações indispensáveis para atingir os objetivos nacionais e das metas governamentais (PISCITELLI, TIMBÓ E ROSA, 1999). O orçamento brasileiro é parte integrante de um sistema orçamentário, estabelecido na art. 165 da Constituição Federal de 1988 como forma de planejamento governamental, e consubstancia-se nos seguintes instrumentos básicos: Plano Plurianual – PPA, Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO e Lei Orçamentária Anual – LOA (BRASIL, 1988). Esses instrumentos inovadores criados pela Constituição foi uma forma de garantir a valorização do planejamento. Dois elementos são comuns na tríade: a iniciativa é do poder Executivo e possuem natureza de lei. Matias e Campello (2000) argumenta que em relação ao horizonte temporal o planejamento possui três níveis de abrangência: · Estratégico: compreende o planejamento de longo prazo, onde são avaliados as grandes tendências, a missão, as diretrizes e os objetivos a serem seguidos pela organização para um horizonte de 10 anos ou mais; · Tático: constitui o planejamento de médio prazo, onde apresentam as tendências secundárias, os objetivos e políticas das unidades administrativas e as ações corretivas para um horizonte de 5 anos; · Operacional: consiste num planejamento de curto prazo, em que são definidas as ações a serem implementadas e que culminarão com a execução dos objetivos. Na busca do delineamento de uma proposta de orçamento como estratégia de planejamento e controle na administração pública, Kohama (1998) salienta que é 57 necessário, atendendo ao mandamento constitucional, conhecer três instrumentos: Plano Plurianual – PPA, Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO e Lei Orçamentária Anual – LOA. PLANO DE AÇÃO INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO PP A LDO LOA POLÍTICAS PÚBLICAS E PROGRAMAS DE GOVERNO Figura 1 - Planejamento na administração pública Fonte: Adaptado de Silva (2001) 5.7.1 Plano Plurianual – PPA Conforme consta na Constituição Federal no art. 165, o PPA é o instrumento de planejamento estratégico orientado para um período de temporal de quatro anos, que o governo federal estabelece, de forma regionalizada, tendo por conteúdo as diretrizes, objetivos e metas da Administração Pública Federal para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada. (BRASIL, 1988) Giacomoni (2005) acrescenta que a Constituição Federal ao tornar obrigatória a elaboração do PPA abrangendo as despesas de capital e demais 58 programas de duração continuada, veio fortalecer a concepção que associa planejamento e orçamento como elos de um mesmo sistema. Ela esclarece a importância do planejamento ao registrar, de forma expressa, a sua obrigatoriedade: Art. 74. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado. (grifo acrescido pelo autor) (GIACOMONI, 2005). O PPA foi concebido para viabilizar o planejamento das ações governamentais para um período temporal de quatro anos, sendo que o primeiro corresponde ao segundo ano do mandato do chefe do poder Executivo e o último ano compreende o primeiro exercício financeiro do mandato seguinte. Será encaminhado até 31 agosto do primeiro ano do mandato do executivo para a análise do Legislativo. O PPA é a referência a partir da qual devem ser elaborados a Lei de Diretrizes Orçamentárias - LOA e a Lei Orçamentária Anual - LOA. As ações e programas de governo devem estar em consonância com as metas e prioridades estabelecidas pelo PPA, sob pena de crime de responsabilidade (BEZERRA, 1999). Na esfera pública o PPA é a formalização do plano estratégico, por meio do qual se procura associar o presente e o futuro da organização ordenando as ações do governo de maneira que leve ao alcance dos objetivos e metas estabelecidos para um período de quatro anos com relação aos governos estaduais e municipais e cinco anos para a esfera federal, o que caracteriza como um planejamento de médio prazo (KOHAMA, 2003). De acordo com o art. 2 do Decreto nº 2.829/98 todas as previsões constantes no PPA estão distribuídas por funções, subfunções e programas. Cada um dos programas deve conter informações sobre o objetivo, órgão responsável, valor global, prazo de conclusão, fonte de financiamento, indicador que quantifique a situação que o programa tenha por fim modificar, metas correspondentes aos bens e serviços necessários para atingir o objetivo, ações não integrantes do Orçamento Geral da União necessárias à consecução do objetivo, regionalização das metas por Estado (BRASIL, 1998). 59 O advento da Lei Complementar 101, conhecida com Lei de Responsabilidade Fiscal, trouxe um novo enfoque à gestão de recursos públicos, demandando maior aperfeiçoamento técnico na elaboração e execução do orçamento público com ênfase no planejamento. Assentir o maior detalhamento das ações e prover uma ampla e variada gama de informações sobre as ações previstas, proporcionam maior transparência informacional e aumentam as possibilidades para controle das ações governamentais. 5.7.2 Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO A Lei de Diretrizes Orçamentárias constitui-se num dos instrumentos do sistema de planejamento operacional na Administração Pública, que a partir dos programas e das determinações do PPA, define para o exercício financeiro subsequente, as metas e prioridades da Administração Pública. Tem a finalidade de nortear a elaboração dos orçamentos anuais de forma a adequá-los às diretrizes, metas e objetivos da administração pública determinadas no PPA (KOHAMA, 2003). A LDO é a norma que norteia a elaboração da Lei Orçamentária – LOA na medida em que dispõe, para cada exercício, metas e prioridades da Administração Pública incluindo despesas de capital para o exercício financeiro subsequente, orienta a elaboração de LOA, dispõe sobre alterações na legislação tributária e estabelece a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento. Entendem-se como metas os resultados que se pretendem obter com a realização de cada programa de governo, sendo assim devem ser mensuráveis física e financeiramente. Desta forma, cada ação governamental corresponderá a um produto que quantificado, originará uma meta a ser incluída na Lei de Diretrizes Orçamentárias. Com relação à fixação de metas orçamentárias Araújo (2007) argumenta que as mesmas podem ter outra função, sendo uma das tentativas mais frequentes no sentido de deter a expansão demasiada dos déficits governamentais. O estabelecimento de metas orçamentárias pode se dar apenas com a comunicação 60 de um plano de execução para a política fiscal ou a introdução de alguma restrição formal, como uma lei, impondo assim limite palpável para a execução do orçamento público. A Lei de Responsabilidade Fiscal atribuiu à LDO a responsabilidade de tratar de outras matérias, tais como: o equilíbrio entre receitas e despesas, critérios e formas de limitação de empenho, visando o cumprimento de metas físicas e o resultado primário e nominal, gastos com pessoal, limites de dívidas sobre o uso de reserva de contingência, avaliação dos passivos contingentes e outros riscos que possam afetar o equilíbrio das contas públicas, e a inclusão de anexos de metas fiscais e riscos fiscais (ANDRADE, 2007). Pode-se considerar que a LDO além de estabelecer normas para a integração do planejamento com o orçamento, tem como objetivo fundamental o de permitir uma discussão maior a respeito das principais prioridades orçamentárias, cuja atribuição é apontada como estratégica para o desenvolvimento nacional. 5.7.3 Lei Orçamentária Anual - LOA A Lei Orçamentária Anual também denominada “Lei de Orçamento” ou “Lei dos Meios”, ou mais comumente de “Orçamento” é um instrumento previsto na Constituição Federal que tem por objetivo viabilizar a concretização das situações previstas no PPA, e obviamente, transformá-las em realidade, obedecendo a Lei de Diretrizes Orçamentárias. Estabelece discriminadamente, em termos monetários a previsão das receitas e despesas públicas para o ano seguinte ao de sua elaboração, demonstrando a política econômico-financeira e o programa de trabalho do governo, obedecido os princípios da unidade, universalidade e anualidade (PIRES, 2002). A lei orçamentária anual é o instrumento utilizado para a decorrente materialização do conjunto de ações e objetivos que foram planejados visando o melhor atendimento e bem estar da coletividade (KOHAMA, 2003). A LOA compreenderá conforme determina o art. 165 da Constituição Federal: (i) o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundo, órgãos e 61 entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo poder público; (ii) o orçamento de investimento das empresas em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto; (iii) o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo poder público (BRASIL, 1998). Se durante o exercício financeiro houver necessidade de realização de despesas acima do limite previsto na LOA, Silva (2004) esclarece que é submetido ao Congresso Nacional projeto de Lei de crédito adicional pelo Poder Executivo. Contudo, crises econômicas podem conduzir o Poder Executivo a editar Decretos com limites financeiros de gastos abaixo dos limites aprovados pelo Congresso Nacional. São os chamados Decretos de Contingenciamento em que são autorizadas despesas no limite das receitas arrecadadas. No que diz respeito ao conteúdo da proposta orçamentária a ser elaborada pelo Poder Executivo, torna-se necessário frisar dois procedimentos distintos, ou seja, a previsão da receita e a fixação da despesa, lembrando que a principal disputa em torno dos gastos públicos ocorre na elaboração da LOA. 62 Art. 165 – Leis de iniciativa do Poder Executivo: I – Plano Plurianual II – Leis de Diretrizes Orçamentárias III – Lei Orçamentária Lei do Plano Plurianual Estabelecendo diretrizes, objetivos e metas da Administração pública federal para os investimentos e outras despesas dele decorrentes., bem como, sua regionalização. Lei das Diretrizes Orçamentárias I- Definindo as metas e prioridades da administração pública Federal, detalhadas as despesas de capital para o exercício Financeiro subsequente; II- Alteração na legislação tributária; III- Política de aplicações das agências oficiais de fomento. Orçamento Anual I- Orçamento fiscal referente aos poderes da União; II- Orçamento de investimento de empresas em que a União detenha a maioria do capital social com direito a voto; III- Orçamento da seguridade social. Figura 2 - Instrumentos de planejamento Fonte: Adapatado de Giacomoni (2000) 63 5.7.4 Orçamento Público A atividade financeira do Estado se consolida por meio de ações que buscam a obtenção de receitas públicas para atender as despesas, com vistas à consecução de objetivos políticos e econômicos, consubstanciados no orçamento anual. O orçamento, historicamente, sempre representou importante instrumento na gestão de recursos públicos, é por meio dele que o governo executa sua política, viabilizando toda e qualquer ação governamental. O processo de execução orçamentária e financeira nas instituições públicas inicia-se através do orçamento e tem por objetivo atingir as metas estabelecidas em seus programas e ações governamentais (ROSA, 2011). Considerado por Abrucio e Loureiro (2004) como o principal documento de políticas públicas. Afirmam ainda que é através dele que o Estado estabelece prioridades, delibera como serão gastos os recursos arrecadados da sociedade e a forma de distribuí-los entre os mais variados grupos sociais. Representa um instrumento disciplinador das contas públicas desempenhando o papel de conciliador entre despesas e receitas. O orçamento, tanto no processo de elaboração da lei, como na sua execução, é um dos elementos estruturantes da gestão pública. Pelo orçamento podemos identificar as prioridades de um governo, sua capacidade de resposta às demandas sociais, como também sua capacidade de implementar as políticas públicas. O orçamento expressa as diretrizes do plano anual do governo em cada política pública (SANTOS, 2001). Através dele é possível acompanhar a situação econômica do Estado evidenciando seus gastos, com o objetivo de controlar os recursos que a sociedade deve contribuir para a manutenção dos serviços públicos. Felgueiras (2007, p.29) o define como a materialização da ação planejada do Estado na manutenção de suas atividades e na execução de seus projetos. O orçamento deixou de ser apenas um mecanismo de controle do poder político para tornar-se uma ferramenta de planejamento, garantindo o gerenciamento anual das origens e aplicações de recursos e avaliando a eficácia do Estado (ALBUQUERQUE, MEDEIROS e FEIJÓ, 2006). 64 À medida que evoluíram as técnicas de planejamento e de intervenção do Estado na economia, novas funções foram incorporadas ao orçamento. Com isso, distintas espécies de orçamento foram experimentadas. Em virtude da evolução de suas funções Giacomoni (2000) divide a história de sua evolução conceitual em duas etapas: o orçamento tradicional e o orçamento moderno. O orçamento tradicional é um instrumento disciplinador das contas públicas e adota classificações somente para instrumentalizar o controle das despesas, desempenha o papel de conciliador entre receitas e despesas, independente dos aspectos econômicos e sociais. Constitui-se num documento de previsão e autorização de receitas e de fixação de despesas, classificadas conforme a categoria de gasto e distribuídas entre os vários órgãos da administração pública, para o período de um ano. Na sua elaboração dotava-se um órgão com orçamento suficiente para o pagamento de pessoal e para a compra de insumos e material permanente para o exercício financeiro. Os órgãos eram dotados de acordo com o que gastavam no exercício anterior e não em função do que se pretendia realizar (GIACOMONI, 2000). Por sua vez, o orçamento moderno constitui-se de um ideal gerencial. Para Pires (2002) este instrumento busca a aplicação dos recursos públicos com o intuito de produzir ao menor custo possível, e desenvolver sua função de regulador da economia, tendo em vista o papel do Estado em satisfazer as necessidades econômicas e sociais da população. Consoante Machado Jr. e Reis (2002/2003, p.11), “O orçamento, entretanto, evoluiu para aliar-se ao planejamento, surgindo o orçamento-programa como especialização devendo na prática, operar como elo entre os sistemas de planejamento e finanças. C om isto torna-se possível a operacionalização dos planos, porque os monetariza, isto é, coloca -os em função dos recursos financeiros disponíveis, permitindo que o planejador tenha os pés no chão, em face das disponibilidades dos recursos financeiros ” (MACHADO JR. e REIS, 2002/2003, p.11). Atualmente destacam-se dois tipos de orçamento: orçamento a base zero ou por estratégia e o orçamento-programa. O primeiro é um instrumento de controle estratégico e gerencial onde todos os projetos e atividades devem ser detalhados e justificados pelos gestores segundo a ordem de importância, cuja característica é a 65 avaliação dos resultados alcançados. Tem como particularidade a análise, revisão e avaliação de todos os gastos e a inexistência de direitos adquiridos sobre verbas em exercícios anteriores (PIRES, 2002). Já o modelo de orçamento-programa é uma ferramenta difundida pela ONU, a partir da década de 50, e sua concepção básica foi retirada da experiência federal americana. A adoção legal do orçamento-programa no Brasil ocorreu por meio da Lei nº 4.320 em 17 de março de 1964. Caracteriza-se por ser um instrumento que faz o elo entre o planejamento e as funções de execução, acompanhamento, avaliação e controle (PIRES, 2002) além da elaboração orçamentária ser realizada em função daquilo que se pretende realizar no futuro (CARVALHO,2008). Conforme enfatiza PIRES (2002) O orçamento-programa é um plano de trabalho no qual são detalhados os programas e despesas que se pretende realizar durante o exercício, evidenciando a política econômica do governo. Nele são demon strados os propósitos, objetivos e metas para as quais a administração solicita os recursos necessários, identificando os custos dos programas propostos para alcançar tais objetivos e os dados quantitativos que medem as realizações e o trabalho realizado dentro de cada programa (PIRES, 2002, p.73). O primeiro aspecto a ser considerado na adoção do orçamento-programa é a definição clara dos objetivos governamentais, a partir dos quais são estabelecidas metas mais específicas para determinado setor ou região, originando programas e projetos. Outro aspecto a ser considerado é a compatibilidade entre os objetivos, uma vez que os riscos de conflito não acontecem somente em objetivos gerais. A incompatibilidade pode ocorrer entre os objetivos individuais dos programas, no contexto do próprio orçamento. Os problemas emergem em função da multiplicidade de instituições formuladoras de programas e nas dificuldades de gerenciamento dos escalões superiores (GIACOMONI, 2000). Uma vez estabelecido os objetivos governamentais definem-se os Programas e as Atividades. Programa pode ser assim definido como: [...] um instrumento de organização da atuação governamental. Articula um conjunto de ações que concorrem para um objetivo comum, preestabelecido, mesurado por indicadores estabelecidos no PPA – Plano Plurianual, para solucionar um problema ou atender a uma necessidade ou demanda da sociedade. (ALBUQUERQUE Et at, 2006, p.224). 66 Na concepção do orçamento-programa, o outro elemento essencial de sua estrutura é a Atividade definida como: [...]instrumento de programação para alcançar o objetivo de um programa, envolvendo um conjunto de operações que se realizam de modo contínuo e permanente, das quais resulta um produto necessário à manutenção da ação do governo. (ALBUQUERQUE, MEDEIROS e FEIJÓ, 2006, p.154). Outro componente fundamental do orçamento-programa é a mensuração das operações de governo. É Coloca em destaque os elementos administrativos. Ex.: pessoal, material de consumo, instalações. Assim, não se preocupa com os objetivos e metas da administração. Orçamento - Programa Coloca em destaque as metas, os objetivos que a Administração pretende alcançar. Ex.: quilômetros deestradas a construir, número de crianças a alfabetizar. Coloca em destaque o controle das Coloca em destaque somente o controle realizações em termos físicos e político-legal das despesas. financeiros, permitindo, também, o controle político-legal. Realiza a ligação entre o sistema de planejamento e o sistema de finanças, Não realiza a ligação entre o sistema de porque enfatiza os programas que a planejamento e sistema de finanças. administração pretende realizar em determinado exercício financeiro. Não há consciência de missão a cumprir. Enfatiza a consciência de missão a cumprir. Quadro 4 - Comparativo do Orçamento Tradicional com o Orçamento-Programa Fonte: Adaptação de REIS (1979). 67 5.8. PRINCÍPIOS ORÇAMENTÁRIOS Conforme as doutrinas do Direito Constitucional e do Direito Financeiro, os princípios orçamentários constituem linhas norteadoras de ação a serem observadas na elaboração da proposta orçamentária (ROSA, 2011). Originalmente o orçamento surgiu atuar como instrumento de controle parlamentar das atividades financeiras do governo, e para a real eficácia desse controle, faz-se necessário a vinculação do orçamento a regras ou princípios orçamentários que orientem a sua elaboração e execução (ALBUQUERQUE; MEDEIROS; FEIJÓ, 2002). É indispensável que o orçamento obedeça a determinados princípios, a fim de que o orçamento seja a expressão fiel do programa de governo; para que seja um instrumento de administração do governo e ainda reflita as aspirações da sociedade (KOHAMA, 2003). Alguns princípios orçamentários são objeto de tratamento específico na legislação, como é o caso do artigo 2 da Lei Complementar 4.320/64, que dispõe: A lei de Orçamento conterá a discriminação da receita e despesa, de forma a evidenciar a política econômico-financeira e o programa de trabalho do Governo, obedecido os princípios de universalidade, unidade e anualidade (BRASIL, 1964). Com o objetivo de assegurar o cumprimento dos fins a que se propõe o orçamento, Silva (2004) salienta que os princípios básicos podem ser resumidos em dois aspectos: gerais e específicos, conforme segue: 68 Princípios Orçamentários Princípios Orçamentários Gerais (de receita e de despesa) Princípios Orçamentários específicos ( só das receitas) Quadro 5 - Princípios Orçamentários Fonte: Silva (2004, p.45) Anualidade Unidade Substanciais Universalidade Equilíbrio Exclusividade Especificação Publicidade Formais Clareza Uniformidade Precedência Não afetação da receita Legalidade da tributação Silva (2004) destaca os princípios utilizados no processo orçamentário: Princípio da Anualidade: também denominado princípio da periodicidade, as previsões de receita e despesa devem referir-se, sempre, a um período limitado de tempo. A aplicação desse princípio estabelece que o orçamento deve ter vigência limitada a um período anual. O período de vigência do orçamento é denominado exercício financeiro. Princípio da Unidade: o orçamento deve ser uno. Este princípio estabelece que todas a receitas e despesas devem estar contidas numa só lei orçamentária. Princípio da Universalidade: estabelece que todas as receitas e despesas devem constar na LOA conforme artigo 165 da Constituição Federal. Princípio da Exclusividade: o orçamento deve conter apenas matéria orçamentária e não assuntos estranhos à previsão de receitas e fixação de despesas. Princípio da Especificação: este princípio é de vital importância para a gestão pública embora possua um aspecto formal do orçamento. Tem como objetivo direcionar o orçamento para que as metas delineadas sejam cumpridas. Refere -se à classificação e designação dos itens que devem constar no orçamento, discriminando as receitas e despesas. Princípio do Equilíbrio: entende-se por este princípio que em cada exercício financeiro o montante da despesa não deve ultrapassar a receita prevista para o período. Princípio da Publicidade: este princípio esta contido no artigo 37 da CF e aplica -se aos atos da administração em geral, a publicidade dos atos relativos à condução da coisa pública. Princípio da Clareza: deve-se priorizar o interesse dos usuários das informações das finanças públicas. O orçamento deve ser claro e compreensível para qualquer indivíduo. Princípio da Uniformidade: através deste princípio verifica-se que o orçamento deve conservar uma estrutura uniforme por meio dos distintos exercícios. Os dados orçamentários devem ter homogeneidade nos vários exercícios a fim de permitir uma comparação ao longo do tempo. Princípio da Precedência: este princípio resulta do fato de que a autorização prévia das despesas constituí, além de uma faculdade, um ato obrigatório para o Poder Legislativo, que não pode deixar de aprovar a LOA, pois caso isto ocorresse, haveria a paralização do serviço público ou, então, pagamentos ilegais de despesa. Princípio da Não-afetação da Receita: postula o recolhimento de todos os recursos a uma caixa única do Tesouro. Entretanto este princípio aplica -se para as receitas provenientes de imposto, não sendo o caso dos demais tributos e de outros tipos de receitas. Princípio da Legalidade da Tributação: é o princípio que diz respeito às limitações que o Estado possui quanto ao seu poder de tributar (SILVA, 2004). 69 5.9 O CICLO ORÇAMENTÁRIO BRASILEIRO O ciclo orçamentário é também conhecido como processo orçamentário. O papel do orçamento no setor público Brasileiro foi regulamentado por diversas leis, passadas e atuais, sendo que o processo orçamentário esteve em constante evolução até atingir os princípios constitucionais atuais. A Constituição Federal de 1988 foi a mais inovadora e a que contemplou os diversos avanços conquistados pela sociedade, especialmente a democratização do planejamento e do orçamento (CARVALHO, 2008). Compreende o processo ininterrupto pelo qual os gastos para projetos e programas são apresentados, aprovados e, finalmente, executados, contendo quatro etapas distintas, inerentes ao processo de alocação dos créditos orçamentários: formulação e apresentação pelo Executivo, autorização do Legislativo, execução, controle e auditoria (FILLELINI, 1994). Silva (2011) por sua vez, afirma que: O ciclo orçamentário corresponde ao período em que se processam as atividades peculiares do processo orçamentário, definindo-se como uma série de etapas que se repetem em períodos prefixados, segundo os quais os orçamentos são preparados, votados, executados, os resultados avaliados e as contas finalmente aprovadas. Não se confunde com o exercício financeiro, pois este corresponde a uma das fases do ciclo, ou seja, à execução do orçamento, tendo em vista que a fase de preparação da proposta orçamentária e sua elaboração legislativa precedem o exercício financeiro, e a fase de avaliação e prestação de contas ultrapassa -o. (SILVA, 2011, p.225). O ciclo orçamentário vai além do interstício definido para a consecução do exercício financeiro. Neste sentido, o exercício financeiro corresponde ao ano civil, que representa o intervalo de tempo que vai de primeiro de janeiro a trinta e um de dezembro, conforme determina o art. 34 da lei nº 3.320/64. É neste período que ocorre a execução orçamentária e financeira das instituições públicas. O período que compreende o ciclo orçamentário é maior tendo em vista o tempo que absorve para a sua consecução, uma vez que abrange todas as fases do processo orçamentário: · Elaboração da proposta pelo executivo; · Discussão, votação e aprovação pelo legislativo; 70 · Execução e monitoramento das receitas e despesas; · Controle e avaliação da gestão e dos resultados auferidos pelas instituições governamentais. Elaboração da Discussão, votação Proposta e aprovação da Orçamentária LeiOrçamentária Controle e avaliação Execução da execução Orçamentária orçamentária Figura 3 - Ciclo Orçamentário Fonte: Giacomoni (2009, p. 207) 71 5.10 DESPESA PÚBLICA Constituem despesas públicas todos os dispêndios efetuados pelo Estado para desempenhar as funções básicas, a ele atribuídas, no atendimento dos interesses da desenvolvimento comunidade, tanto socioeconômico, beneficiem diretamente a na quanto população implantação na da infraestrutura manutenção de e, também, aqueles serviços do que para saldar os compromissos da dívida pública ou ainda a restituição ou pagamento de importâncias recebidas a título de cauções, depósitos, consignações, etc (KOHAMA, 2003; PERES, 1997, MEIRELLES, 1981). Pelos conceitos apresentados, percebe-se a existência de uma estreita ligação entre as despesas e receitas, e esta deve ser preservada, e acima de tudo perseguida pelos gestores a fim de manter o equilíbrio de sua gestão. As despesas públicas classificam-se em despesas orçamentária e extra orçamentária. Essa são despesas que independem de autorização legislativa, que se constitui em saídas do passivo financeiro proveniente de receitas extra orçamentárias, correspondendo à restituição ou entrega de valores recebidos, como cauções, depósitos, consignações e outros (KOHAMA, 2003). Nesta mesma perspectiva, Lemes (1991) afirma que: são despesas extra orçamentárias os pagamentos que não dependem de autorização legislativa, por não estarem vinculados ao orçamento propriamente dito, são saídas do passivo, compensatórias de entradas no ativo provenientes de receitas também extra orçamentária do tipo devolução de cauções, fianças, restituições, salários não reclamados e outros (LEMES, 1991, P.81). Despesas orçamentárias são aquelas que derivam da lei orçamentária ou dos créditos adicionais e não podem efetivar-se sem crédito orçamentário correspondente (ANGÉLICO, 1995; SILVA, 2011). São empregadas na concretização das ações governamentais previstas para determinado exercício financeiro, ou seja, é por intermédio dessas despesas que a administração pública realiza os serviços públicos, mantém unidades 72 administrativas, honra os compromissos contratuais, conserva o patrimônio público e faz novos investimentos. 5.10.1 Classificação das Despesas A classificação orçamentária da despesa possui classificações próprias e permitem visualizar a despesa sob diferentes enfoques ou abordagens, conforme o ângulo que se pretende analisar. A classificação da despesa observa quatro critérios: classificação institucional, classificação funcional, classificação programática, classificação por natureza da despesa. A classificação institucional representa a mais antiga das classificações da despesa orçamentária. A principal finalidade é evidenciar as unidades administrativas responsáveis pela execução da despesa, isto é, os órgãos que gastam os recursos em conformidade com a programação orçamentária visando fixar responsabilidades e os consequentes controles e avaliações (GIACOMONI, 2000). Esta classificação parte da divisão dos três poderes públicos: Legislativo, Executivo e Judiciário. Cada um dos poderes é dividido em três tipos de instituições: os órgãos, subdivididos em unidades orçamentárias que, por sua vez, são subdivididas em unidades administrativas. Ressalte-se que as unidades administrativas não constam da codificação dessa classificação ( ALBUQUERQUE, MEDEIROS E FEIJÓ,2006, p. 217). Assim segundo os mesmos autores, podemos dizer que: Órgão: É o nível institucional que, a título de subordinação ou supervisão, agrega determinadas unidades orçamentárias e unidades administrativas. Ex: Ministério da Educação, Ministério da Saúde, Presidência da República. Unidades Orçamentárias: São os agrupamentos de serviços subordinados ao mesmo órgão a que são consignadas dotações orçamentárias próprias. Ex: Agência Nacional de Comunicação, Universidades Federais. Unidades Administrativas: É o nível institucional que, por não possuir autonomia orçamentária, necessita de uma unidade orçamentária para a obtenção de recursos (ALBUQUERQUE, MEDEIROS e FEIJÓ, 2006, p. 217). 73 A classificação funcional tem por finalidade delimitar a despesa, sendo composta por um rol de funções e subfunções pré-fixadas, agregando os gastos públicos por área de ação governamental nas três esferas. É uma classificação normativa dada pela Portaria nº 42/99 do Ministério do Estado do Orçamento e Gestão, e tem como escopo principal a consolidação nacional dos gastos do setor público. As funções representam o maior nível de agregação das despesas públicas que competem ao setor público. As subfunções devem ser entendidas como uma partição da função, visando agregar determinado subconjunto de despesa do setor público (ANDRADE, 2007). Toda a ação do governo esta estruturada em programas orientados para a concretização dos objetivos estratégicos estabelecido no PPA, para o período de quatro anos (SILVA, 2011), o autor esclarece ainda que: Programa é o instrumento de organização da atuação governamental que articula um conjunto de ações que concorrem para a concretização de um objetivo comum preestabelecido, mensurado por indicadores instituídos no plano, visando à solução de um problema ou ao atendimento de determinada necessidade ou demanda da sociedade( SILVA ,2011, p.255-256). Entre as estruturas do PPA com o Orçamento há convergência, assim, o programa é o módulo comum integrador entre o plano e o orçamento. O plano termina no programa e o orçamento começa exatamente nesse mesmo programa, o que determina uma integração desses instrumentos desde a origem (ALBUQUERQUE, MEDEIROS E FEIJÓ, 2006; SILVA, 2011). Os programas criados, no PPA, desenvolvidas para atingir seus objetivos. possuem ações que devem ser Essas ações são executadas no orçamento público por meio das atividades, projetos ou operações especiais. Sua execução leva ao cumprimento dos objetivos das ações, que contribuem para atingir os objetivos dos programas, que tem por finalidade suprir determinada necessidade ou demanda da sociedade e por consequência melhorar a realidade diagnosticada (SILVA, 2011). De acordo com o art.2 da Portaria 42/99 observa-se os seguintes conceitos: Projeto é um instrumento de programação para alcançar o objetivo de um programa, envolvendo um conjunto de 74 operações limitadas no tempo, da quais resulta um produto que concorre para a expansão ou o aperfeiçoamento da ação do governo. Atividade é um instrumento de programação para alcançar o objetivo de um programa, envolvendo um conjunto de operações que se realizam de modo contínuo e permanente, das quais resulta um produto ou serviço necessário à manutenção da ação de Governo. Operações especiais correspondem a despesas que não contribuem para a manutenção, expansão ou aperfeiçoamento das ações de governo, das quais não resulta um produto, e não gera contraprestação direta sob a forma de bens ou serviços. (SILVA, 2011, p. 256). São cinco as categorias da classificação funcional-programática: função, programa, subprograma, projeto e atividade. Cada função é desdobrada em programas, que se subdividem em subprogramas e estes em projetos e atividades. Os programas ao evidenciar os objetivos a serem atingidos com a execução do orçamento, representa a categoria mais importante. As funções são constituídas pela divisão das áreas de atuação do governo. Os subprogramas por sua vez são partes dos programas, eles representam objetivos parciais buscados pelo governo. Já os projetos e as atividades são os instrumentos que viabilizam operacionalmente a consecução dos objetivos dos programas (GIACOMONI, 2000). A Secretaria Municipal de Educação ficará assim representada na classificação funcional-programática, conforme quadro abaixo: Desdobramento Interpretação Código Função Educação 12 Subfunção Ensino fundamental 361 Programa Reformas e melhoria de imóveis 57 Atividade Manutenção e revitalização das 2081 unidades da rede de ensino Quadro 6 - Classificação Funcional-programática Fonte: Silva (2011) A classificação da despesa orçamentária segundo a natureza está assim organizada: categorias econômicas, grupo de despesa, modalidade de aplicação e elementos de despesa. 75 A classificação econômica da despesa orçamentária é constituída por duas categorias segundo a Lei 4320/64: Despesas Correntes e de Capital. Conforme Kohama (2003) despesas correntes são gastos de natureza operacional, realizada pela administração pública, para a manutenção e o funcionamento de seus órgãos, e as despesas de capital consiste nos gastos realizados pela administração pública, com o propósito de criar novos bens de capital ou mesmo de adquirir bens de capital já em uso que constituirão incorporações ao patrimônio público. Os grupos de despesas servem para evidenciar as despesas mais importantes: pessoal e encargos sociais, juros e encargos da dívida, outras despesas correntes, investimentos, inversões financeiras e amortização da dívida. Integram um conjunto onde partes são típicas subcategorias econômicas (investimentos e inversão financeira) e outra parte são elementos responsáveis por parcelas importantes da despesa. Categorias Econômicas Grupos 1. Pessoal e encargos sociais 3. Despesas correntes 2. Juros e encargos da dívida 3. Outras despesas correntes 4. Investimentos 4. Despesas de capital 5. Inversões financeiras 6. Amortização da dívida Quadro 7 - Categorias Econômicas e Grupos Fonte: Giacomoni (2000, p.109) A modalidade de Aplicação destina-se a indicar se os recursos são aplicados diretamente por órgãos ou entidades no âmbito da mesma esfera de Governo ou por outro ente da Federação e suas entidades correspondentes, e tem como objetivo permitir a eliminação de dupla descentralizado (GIACOMONI, 2000). contagem dos recursos transferidos ou 76 Os elementos de despesas têm como finalidade identificar os objetos de gasto, ou seja, os bens ou serviços adquiridos, independentemente das suas finalidades, tais como: vencimentos e vantagens fixas, material de consumo, serviços de terceiros, instalações, equipamentos, juros, diárias, auxílios e outros de que a administração pública se serve para a consecução de seus fins. Sua finalidade precípua é de oportunizar o controle dos gastos, tanto pela unidade orçamentária ou órgão de contabilidade, como pelos órgãos de controle interno e externo (SILVA, 2011). 5.10.2 Estágios da Despesa A execução da despesa se realiza mediante o cumprimento de três estágios: empenho, liquidação e pagamento. Conforme o art. 58 da Lei 4320/64 “o empenho de despesa é o ato emanado de autoridade competente que cria para o Estado obrigação de pagamento pendente ou de implemento de condição”. Além disso, o caput do art. 59 da lei mencionada, assinala que deve ser observado que o valor empenhado não poderá exceder o limite de crédito concedido na dotação orçamentária própria. Isto quer dizer que poderão ser feitos tantos empenhos quantos forem necessários, desde que o somatório deles não ultrapasse o montante da dotação. Ele representa o principal instrumento da administração pública para acompanhar e controlar a execução de seus orçamentos. Corresponde ao ato procedente de autoridade competente, que determina a dedução do valor da despesa a ser realizada da dotação consignada no Orçamento, para atender essa despesa. Consiste numa reserva que se faz, ou garantia que se dá ao fornecedor ou prestador de serviços, baseada na autorização e dedução da dotação respectiva, de que o serviço contratado ou o bem fornecido será pago (MACHADO JR. e REIS, 2002/2003, ROSA, 2011). Conforme o art. 60 da Lei 4320/64 é vedada a realização de despesa sem prévio empenho, ou seja, o empenho deve anteceder a data da aquisição do bem ou da prestação do serviço. Tal disposição faz com que só possam ser realizadas 77 despesas que tenham amparo e enquadramento orçamentário em consonância com o art. 167 da Constituição Federal, que veta o início de programas ou projetos não incluídos na lei orçamentária anual e a realização de despesas ou a assunção de obrigações diretas que excedam os créditos orçamentários ou adicionais (ROSA, 2011). Os empenhos são classificados em três tipos ou modalidades conforme Rosa (2011): · Empenho Ordinário: quando o valor da despesa é fixo e previamente determinado e cujo pagamento se dá de uma só vez; · Empenho Estimativo: utilizado quando não se pode determinar previamente o montante exato da despesa, tais como: serviços de fornecimento de água, energia elétrica, telefone e outros; · Empenho Global: aplica-se para despesas contratuais ou outras de valor determinado, sujeitas a parcelamento, assim como contratos de prestação de serviços e realização de obras. A liquidação da despesa, de acordo com o disposto no art.63 da Lei 4320/64 “... consiste na verificação do direito adquirido pelo credor, tendo por base títulos e documentos comprobatórios do respectivo crédito”. BRASIL (1964). É o reconhecimento do implemento de condição, ou seja, a verificação do cumprimento da obrigação pelo credor, a fim de comprovar o direito por ele adquirido ao respectivo crédito, nesse estágio, são efetuadas as verificações e avaliações quanto ao cumprimento, por parte do contratante, nas condições previamente estipuladas (na licitação, no contrato, no empenho, etc (ROSA, 2011; GIACOMONI, 2000). O pagamento corresponde ao último estágio da despesa orçamentária. Segundo o art.62 combinado com o art.64 da Lei 4320/64, o pagamento da despesa somente será efetuado após sua regular liquidação, quando a autoridade ordenadora competente, mediante despacho, determina que a despesa seja paga BRASIL (1964). 78 5.11 RECEITA PÚBLICA O Estado para fazer face às suas necessidades, dispõe de recursos ou rendas que lhe são entregues através da contribuição da coletividade. Afirmam que o conjunto de recursos que o Estado aufere de todas as suas fontes produtivas constitui a receita pública e com ela o Estado vai enfrentar todo o ônus de manutenção da sua organização, com a segurança de sua soberania, com o custeio de seus serviços, com as iniciativas de fomento e desenvolvimento econômico e social e com seu próprio patrimônio (SILVA, 2004; ANDRADE, 1981). Percebe-se então que a receita pública configura-se como a base da gestão financeira do Estado e que deve ser estruturada no sentido de captar o máximo de recursos financeiros, para o alcance de seus objetivos, visando a satisfação das necessidades públicas. Kohama (2003) conceitua receita pública como: “[...] todo e qualquer recolhimento feito aos cofres públicos, quer seja efetivado através de numerário ou outros bens representativos de valores – que o Governo tem o direito de arrecadar em virtude de leis, contratos ou quaisquer outros títulos de que derivem direitos a favor do Estado, quer seja oriundo de alguma finalidade específica, cuja arrecadação lhe pertença ou caso figure como depositário dos valores que lhe pertencerem.” (KOHAMA, 2004, p.82). As receitas públicas no seu sentido mais amplo referem-se a todas as quantias recebidas pelos cofres públicos, desdobrando-se em dois grupos: receitas orçamentárias e receitas extra orçamentárias. Essa se refere aos recursos de terceiros que transitam pelos cofres públicos, não pertence aos entes públicos. Já as receitas orçamentárias são aquelas que integram o orçamento público, que de fato pertencem à entidade pública e se classificam economicamente em Receitas Correntes e de Capital (ANGÉLICO, 1995). 79 5.11.1 Classificação das Receitas A classificação orçamentária de receita, assim como a despesa, possui classificações próprias. Dentre elas destacam-se: · classificação por categorias econômicas ( natureza da receita); · classificação por fonte de recursos; A receita orçamentária deverá obedecer à discriminação constante no artigo 11 da Lei 4.320/64 onde estabelece que o sistema classificatório da receita seja feito de acordo com a categoria econômica. Na classificação econômica a receita se divide em: Receitas Correntes e Receitas de Capital. No que diz respeito às receitas correntes, o parágrafo 1º, art. 11 da referida lei estabelece que: São Receitas Correntes as receitas tributárias, de contribuições, patrimonial, agropecuária, industrial, de serviços e outras e, ainda, as provenientes de recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, quando destinadas a atender despesas classificáveis em Despesas Correntes. No que concerne às receitas de capital, o parágrafo 2º do referido artigo dispõe: São Receitas de Capital as receitas provenientes da realização de recursos financeiros de constituição de dívidas; da conversão em espécie de seus bens e direitos; pelos recursos recebidos de outras pessoas de direito público e privados destinados a atender despesas classificáveis em despesas de capital e, ainda, o superávit do Orçamento Corrente. A finalidade desse critério é identificar a origem dos recursos segundo o fato gerador, evidenciando quais recursos serão destinados a atender às despesas correntes, bem como os recursos destinados a atender às despesas de capital e, ainda, o superávit do orçamento corrente (ROSA, 2011). A classificação segundo fontes de recursos serve para indicar como são financiadas as despesas orçamentárias. Entende-se por fonte de recurso a origem 80 ou procedência dos recursos que devem ser aplicados em uma determinada finalidade. No sentido de individualizar os recursos é indispensável à classificação com vistas a evidenciar sua aplicação conforme a determinação legal (ROSA, 2011). Esse mecanismo, denominado fonte de recursos ou destinação de recursos segundo a autora mencionada acima, constitui o elo do processo orçamentáriofinanceiro, desde a previsão da receita até a execução da despesa (empenho, liquidação e pagamento). Os principais grupos de fontes de Receitas Correntes são os seguintes: 1100.00.00 Receita tributária: Decorrem da capacidade do ente público instituir e arrecadar tributos de sua competência, ou seja, provenientes de impostos, taxas e contribuições de melhoria. 1200.00.00 Receita de contribuições: São as provenientes de contribuições sociais e contribuições econômicas. 1300.00.00 Receita patrimonial: São as receitas resultantes da exploração do patrimônio de propriedade do ente público decorrente de bens mobiliários ou imobiliários, advindo de participação societária ou superávits apurados nas operações de bens patrimoniais. 1400.00.00 Receita agropecuária: Decorrem das atividades ou exploração econômica de atividades agropecuárias envolvendo a produção vegetal e animal e seus derivados, bem como atividades de beneficiamento ou transformação desses produtos. 1500.00.00 Receita industrial: São as resultantes de atividades industriais, tais como: indústria extrativa mineral, de transformação e de serviços industriais de utilidade pública. 1600.00.00 Receita de serviços: São as provenientes da prestação de serviços pela entidade públicas tais como: taxas de serviços de transporte, comerciais, financeiros, de comunicações, de saúde e outros serviços. 1700.00.00 Transferências correntes: Resultante de recursos recebidos de outros entes públicos ou privados destinadas a atender as despesas correntes. 81 1900.00.00 Outras receitas correntes Envolvem a arrecadação de receitas não classificadas nas fontes anteriores, como: multas, indenização, juros de mora, dívida ativa e receitas diversas. As Receitas de Capital se classificam nas seguintes fontes: 2100.00.00 Operações de crédito: São as resultantes da realização de recursos financeiros oriundos de constituição de dívidas. 2200.00.00 Alienação de bens: São as receitas provenientes da venda de bens móveis e imóveis pertencentes ao ente público, após, o atendimento da legislação pertinente. 2300.00.00 Amortização de empréstimos: São os ingressos provenientes do recebimento de valores anteriormente concedidos. 2400.00.00 Transferências de capital: São os recursos recebidos de outros entes públicos ou privados, destinados a atender a despesas classificáveis em despesas de capital. 2500.00.00 Outras receitas de capital: Constituem uma classificação genérica destinada a receber receitas de capital não especificada em Lei. A Receita Orçamentária é classificada em categorias econômicas: Receita Corrente e de Capital. Obedecem a uma discriminação sequencial de níveis na seguinte ordem: cada categoria econômica desdobra-se em fontes de receitas e estas em subfontes ou espécie que, por sua vez, são analisadas em rubricas, alíneas e subalíneas e podem chegar a item e subitens (KOHAMA, 2003). As categorias econômicas Receitas Correntes e de Capital são representadas no primeiro nível pelos dígitos 1 e 2. O segundo nível objetiva identificar a origem ou fonte das receitas. A espécie representada pelo terceiro nível de classificação e vincula-se a origem, permitem qualificar com maior detalhe o fato gerador dos ingressos das receitas. Já a rubrica constitui o detalhamento das espécies de receita, constante do quarto nível, procura detalhar 82 de forma mais específica as espécies de receitas. A alínea, localizada no quinto nível objetiva a qualificação da rubrica, apresenta o nome da receita propriamente dito. O sexto e último nível denominado subalínea é onde serão contabilizados os valores, pela entrada dos recursos (ROSA, 2011). A classificação por fontes é um mecanismo programático oriundo da necessidade prática de agrupar valores de distintas naturezas a exemplo das previsões disponíveis para livre programação, sem destinação pré-especificada (AMADO, 1994). A classificação segundo as fontes de recursos é representada por quatro grandes grupos: · Recursos do Tesouro · Recursos de Outras Fontes – onde são consignados os recursos de incentivos fiscais, as operações de crédito realizadas pelas demais instituições, os recursos diretamente arrecadados pelas instituições da administração pública indireta ou fundacional; · Recursos do Tesouro – Exercícios anteriores; · Recursos de Outras Fontes – Exercícios anteriores. Independente do ente governamental (União, Estado, Distrito Federal e Municípios) o Tesouro é responsável pela arrecadação e guarda da maior parte das receitas tributárias, de taxas e contribuições, de multas, de operações de crédito realizadas diretamente pelo tesouro; recursos diretamente arrecadados pela administração pública direta. Ele provê os recursos para a manutenção dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, para o funcionamento dos serviços públicos e execução e programas e projetos (GIACOMONI, 2000). Os recursos provenientes de Outras Fontes são as receitas das entidades da administração pública indireta, que são as autarquias, empresas públicas, fundações públicas e os fundos que integram o orçamento, mesmo dependentes de transferências de recurso do Tesouro, possuem receitas próprias, as quais devem aparecer identificadas na lei orçamentária (GIACOMONI, 2000). 83 Especificação Categoria Econômica Código Orçamentário Identificação 1.0.0.0.00.00 Receita Corrente Origem 1.1.0.0.00.00 Receita Tributária Espécie 1.1.1.0.00.00 Impostos Rubrica 1.1.1.2.00.00 Imposto sobre o Patrimônio e a Renda Alínea 1.1.1.0.02.00 Imposto sobre a Propriedade Predial e territorial urbana Subalínea 1.1.1.0.02.01 Imposto Predial Urbano Categoria Econômica 2.0.0.0.00.00 Receita de Capital Origem 2.4.0.0.00.00 Transferência de Capital Espécie 2.4.7.0.00.00 Transferência de Convênios Rubrica 2.4.7.1.00.00 Transferência de Convênios da União e de suas entidades Alínea 2.4.7.1.02.00 Transferência de Convênios da União e de suas entidades destinadas a Programa de Educação Subalínea 2.4.7.1.02.01 Programa Dinheiro Direto na Escola - PDDE Quadro 8 - Quadro sinótico da classificação econômica da receita Fonte: Silva, (2011, p.232) 5.11.2 Estágios da Receita A multiplicidade das receitas orçamentárias – tributos, contribuições, rendas patrimoniais e de serviços, operações de crédito – de variada natureza jurídica, impedem que elas cumpram estágios de execução formalmente padronizados, como ocorre com a despesa. Contudo, considerando que a maior parte da receita orçamentária é proveniente de cobrança de tributos e contribuições, cujo disciplinamento é feito através de legislação específica, frequentemente, admite-se, neste âmbito, a existência de três estágios: lançamento, arrecadação e recolhimento (GIACOMONI, 2000). É por meio do lançamento que a autoridade constitui o crédito tributário, entendido como o procedimento administrativo que verifica a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determina a matéria tributável, calcula o montante do tributo devido, identifica o sujeito passivo e propõe, se for o caso, a aplicação de penalidade cabível (ROSA, 2011). 84 De acordo com o art. 53 da lei 4320/64, o lançamento é definido da seguinte forma: [...] é o ato da repartição competente, que verifica a procedência do crédito fiscal e a pessoa que lhe é devedora e inscreve o débito desta (BRASIL, 1964) São três as modalidades de lançamento: por homologação, declaração e de ofício. Por homologação é realizado pelo sujeito passivo que antecipa o pagamento sem prévio exame de autoridade administrativa, por exemplo: ICMS. O lançamento por declaração ocorre quando o sujeito passivo presta à autoridade administrativa informações indispensáveis à efetivação do lançamento, por exemplo: Declaração de imposto de renda. O lançamento de ofício é efetuado pela administração sem participação do contribuinte, por exemplo: IPTU (GIACOMONI, 2000). A arrecadação corresponde o segundo estágio a ser percorrido pela receita lançada. É o momento em que os contribuintes ou devedores pagam os recursos devidos ao Tesouro aos agentes arrecadadores ou bancos autorizados. A arrecadação poderá ser feita de forma direta e indireta. A direta é quando realizada por repartição administrativa do Estado – coletorias, recebedorias, tesourarias ou por agência bancária credenciada. A arrecadação indireta ocorre quando entidades depositárias – empregadores e bancos retêm valores dos contribuintes, providenciando posteriormente o recolhimento. (GIACOMONI, 2000). O terceiro e último estágio da execução da receita caracteriza-se pela entrega do produto da arrecadação efetuado pelos agentes arrecadadores diretamente ao Tesouro Nacional, responsável pela administração e programação financeira (ROSA, 2011). Além disso, deve ser observado, conforme determina a lei 4320/64, o princípio da unidade de tesouraria, para vedar o fragmento dos recursos em caixas especiais, isto é, toda a receita arrecadada deve ser recolhida, integralmente, para uma conta bancária geral em nome do Tesouro Público. Consagrando a “caixa única”, a norma geral brasileira visa racionalizar a gestão financeira, viabilizando, particularmente, a execução da programação dos desembolsos e a obtenção de ganhos operacionais (BRASIL, 1964). Os órgãos fazendários têm por praxe aprovarem um calendário fiscal, que estabelece os prazos de recolhimentos dos diversos tributos e contribuições a serem 85 observados pelos contribuintes. O calendário permite organizar o fluxo das receitas públicas, assim como a programação dos desembolsos, além de sua evidente utilidade para o contribuinte (GIACOMONI, 2000). 86 6. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Pesquisa científica é “[...] o conjunto de procedimentos sistemáticos, baseados no raciocínio lógico, que tem por objetivo encontrar soluções para os problemas propostos mediante métodos científicos” (ANDRADE, 2007, p.111). Para ilustrar o método de pesquisa a ser utilizado, serão detalhados os seguintes itens: (i) estratégias de planejamento de pesquisa; (ii) variáveis Operacionais do estudo; (iii) técnicas e instrumento de coleta de dados; (iv) população e amostragem. 6.1 ESTRATÉGIAS DE PLANEJAMENTO DA PESQUISA A metodologia estuda os procedimentos de investigação do conhecimento científico objetivando descobrir o pensamento verdadeiro a partir de determinado problema; analisar e desenvolver observações, criticá-los e interpretá-los a partir das relações de causa e efeito é como uma reunião de técnicas ou procedimentos que são usados na busca de conhecer sobre algum assunto (OLIVEIRA, 2002, ANDRADE, 2009). Outro aspecto da metodologia é o método, sendo considerado o caminho para se chegar a um fim, permite alcançar conhecimentos válidos e verdadeiros, ou seja, procedimentos sistemáticos que buscam um objetivo e que evidenciam a verdade sobre determinado tipo de conhecimento (LAKATOS et al, 1991). Com relação à abordagem do problema de pesquisa será quantitativa, considerando a mais conveniente para atingir os objetivos propostos no presente estudo. O método quantitativo se utiliza da quantificação tanto nas modalidades de coleta de informações quanto no tratamento delas por meio de técnicas estatísticas (RICHARDSON, 2008). Quanto ao objetivo do estudo a presente investigação enquadra-se como uma pesquisa descritivo-explicativa. O objetivo primordial da pesquisa descritiva é a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou estabelecimento de relações entre variáveis (GIL, 1999). Já a pesquisa refere-se à 87 pesquisa que procura responder sobre causas de acontecimentos, fatos e fenômenos, procurando estabelecer relações entre as variáveis (SAMPIERI, COLLADO e LUCIO, 2006). Com referência às estratégias de pesquisa, a presente investigação tem os seguintes enquadramentos: · Pesquisa documental: consiste na pesquisa baseada em materiais que ainda não receberam nenhum tratamento analítico, tais como jornais, gravações, filmes, dentre outros (MARTINS, THEÓFHILO, 2007; GIL,1999); · Estudo de caso: trata-se de uma investigação empírica que investiga um determinado fenômeno dentro de seu contexto real onde as fronteiras entre o fenômeno e o contexto não são claramente evidentes (YIN, 2001). Convém salientar ainda, que nesta estratégia de pesquisa o pesquisador não tem controle sobre as variáveis e os eventos, buscando apreender a totalidade de uma situação descrevendo, compreendendo e interpretando a complexidade de um caso real (MARTINS; THEÓFHILO, 2009); · Pesquisa-diagnóstico: é considerada uma modalidade que tem por objetivo a exploração de um determinado ambiente para diagnosticar possíveis problemas, organizacional ao suscitando apresentar o soluções processo de exeqüíveis mudança (MARTINS, THEÓFHILO, 2007). 6.2 VARIÁVEIS OPERACIONAIS DO ESTUDO As variáveis podem ser definidas como características mensuráveis de um fenômeno, que podem apresentar diferentes valores ou ser agrupadas em categoria (RICHARDSON, 1999). O autor esclarece ainda que as variáveis apresentam duas características fundamentais: (i) são aspectos observáveis de um fenômeno; (ii) devem apresentar variações ou diferenças em relação ao mesmo ou a outros fenômenos. 88 As variáveis utilizadas no presente estudo serão receitas e despesas conforme demonstrado abaixo: Variáveis Recursos do SUS - receitas geradas pelo faturamento; Recursos do REHUF- receitas repassadas para a Reestruturação dos HUs; Recursos do Tesouro- receitas repassadas pelo Governo Federal; Receita Recurso Próprio - receitas geradas pelo Hospital; Convênios – receitas advindas de convênios firmados com o hospital; Repasses UFPR – Receitas provenientes da UFPR Emendas – repasses do Governo Federal por ocasião de emendas parlamentares. Custeio Despesas Investimento Quadro 9 - Variáveis da pesquisa Elaborado pela autora 6.3 TÉCNICA E INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS Para atingir os objetivos propostos e responder o questionamento da pesquisa faz-se necessário a leitura de bibliografias especializadas acerca do tema abordado, assim como a utilização de documentos extraídos do Sistema de Administração Financeira – SIAFI a exemplo de balancetes, balanços e relatórios gerenciais. 89 6.4 PLANO E PERÍODO DE ANÁLISE DOS DADOS A abordagem quanto às técnicas de coleta de dados busca-se a essência de um texto nos detalhes das informações, dados e evidências disponíveis; (MARTINS E THEÓPHILO, 2007). A análise dos dados obtidos com o estudo de caso será conduzida a partir dos dados e fatos contidos nos documentos extraídos do Sistema de Administração Financeira – SIAFI, nos sistemas informatizados de faturamento no SIAFI gerencial e nos relatórios gerenciais do HCUFPR, no período de 2008 a 2012. Para tornar viável a comparação das informações, optou-se pela atualização dos valores para julho de 2013 com base no Índice Geral de Preços do Mercado, tornando-se os dados homogêneos e comparáveis para todos os anos. 90 7. O CONTEXTO DO ESTUDO O presente estudo foi realizado no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, localizado na cidade de Curitiba, no estado do Paraná. O HC/UFPR foi Inaugurado no dia 5 de agosto de 1961, é considerado o terceiro hospital universitário do país e o único hospital público federal no Estado do Paraná; possui 63 mil m² de área construída onde circulam aproximadamente 11 mil pessoas por dia. (HC/UFPR, 2013b). O HC/UFPR é um órgão suplementar da Universidade Federal do Paraná e devidamente certificado como hospital de ensino, conforme determina as portarias estabelecidas pelo MEC. Consolida-se como parte importante da assistência à saúde pública, caracterizado na rede de saúde do estado como hospital de grande porte (Grau III). A instituição realiza atendendimento de pacientes de quase todos os Estados do Brasil e até do exterior. Como um hospital cujo atendimento é feito 100% SUS, dentro da ótica de regulação de leitos e de especialidades, o HC/UFPR é referência na atenção ambulatorial e hospitalar de média e alta complexidade. É o maior prestador de serviços ao SUS no Paraná e dispõe de 510 leitos, 261 consultórios e 59 especialidades da área de saúde, atende uma média/mês de quase 61 mil pacientes, com 1464 internações e 837 cirurgias (HC/UFPR, 2013b). Aliado a essa intensa atividade assistencial, destaca-se pela abundante produção científica, que o qualifica, no cenário nacional e internacional, como uma instituição de excelência. Destaca-se pelo pioneirismo nas seguintes áreas (REVISTA DO HOSPITAL, 2011): · 1º do Brasil a criar o Diagnóstico de Doenças Neuromusculares (1972); · 1º Hospital da América Latina a realizar Transplante de Medula Óssea (1979). Trinta anos depois, é referência mundial com a realização de quase 2000 transplantes; · 1º do Paraná a realizar transplante de fígado intervivos em adultos (1991); · 2º do Brasil a realizar duplo intervivos de fígado e rim e um dos cincos casos citado na literatura mundial (1991); 91 · 1º centro de referência credenciado pelo Ministério da Saúde para tratamento do Hipotireoidismo Congênito e Fenilcetonúria de crianças, detectados pelo “Teste do Pezinho” (1996); · 1º Centro da América Latina a possuir um Ambulatório de atendimento exclusivo à Síndrome e Down. Referência Nacional desde 1977; · 1º do Brasil a possuir um Banco de Ossos e Tecidos MúsculoEsqueléticos cadastrados pelo Ministério da Saúde (1998). O HC/UFPR é espaço de graduação para os cursos integrados à saúde. As atividades de ensino, extensão e pesquisa consolidam-se rotineiramente por meio de estágios supervisionados, atividades de extensão junto à comunidade assistida e pesquisa articulada com a assistência hospitalar. Neste contexto, além das atividades de graduação, o HC/UFPR oferece 306 vagas para programas de residência médica em 36 especialidades e 76 vagas para residência multiprofissional na área da saúde. Abriga inclusive programas de mestrado e doutorado (HC/UFPR, 2013a). 92 8. ANÁLISE DOS RESULTADOS Este capítulo apresenta simultaneamente a consolidação dos dados coletados e sua análise, visando encontrar respostas para o alcance dos objetivos gerais e específicos. Apresenta uma Análise Horizontal e Vertical da composição e evolução da receita e da despesa para detectar os percentuais alocados durante o período de 2008 a 2012. Análise horizontal é a maneira de evidenciar as variações ocorridas nos demonstrativos comparando-se com períodos definidos previamente com o objetivo de verificar a evolução (ANDRADE, 2006). A Análise Vertical é a análise estrutural do orçamento ou de execução em relação à variação de porcentagem de cada conta, ou grupo de contas, no montante total discriminado no orçamento ou na execução do mesmo (ANDRADE, 2006). Por meio da análise vertical será possível verificar a participação de cada fonte de recurso e cada item de despesa em seus valores corrigidos com relação ao total da receita e despesa durante o período de proposto no estudo. A análise vertical e análise horizontal prestam-se fundamentalmente ao estudo de tendências, representam uma das técnicas mais simples de aplicação e, ao mesmo tempo, mais importante sob o aspecto da qualidade das informações geradas para a avaliação do desempenho empresarial (MATARAZZO, 2003, ASSAF NETO, 2007). 93 8.1 COMPOSIÇÃO E EVOLUÇÃO DA RECEITA Atualmente os Hospitais Universitários são financiados obrigatoriamente pelo setor público, tendo a responsabilidade financeira dividida entre o MEC e o MS. O orçamento consolidado do HC está dividido em dotação direta e transferências governamentais. A dotação direta compreende os créditos pertencentes à instituição, provenientes das fontes do Tesouro e de recursos próprios e as transferências governamentais referem-se aos créditos oriundos de outras unidades governamentais e executados pelo hospital. As receitas do Tesouro provêm da LOA e financiam as despesas obrigatórias que correspondem aos dispêndios de pessoal e de encargos sociais, além das despesas de custeio e capital para a manutenção e funcionamento dos HUs. Salienta-se que este recurso tem contribuído sobremaneira para a manutenção das atividades da instituição, amenizando assim as limitações impostas pela escassez dos recursos (SUS) oriundos da prestação de serviços. Os recursos provenientes das emendas parlamentares são igualmente originários das fontes do tesouro e geralmente são liberados recursos de capital. Os recursos do REHUF também derivam das fontes do Tesouro, porém serão identificados separadamente a fim de evidenciar qual foi a representatividade no contexto das receitas totais. Com relação aos repasses da Universidade Federal do Paraná são recursos que a UFPR eventualmente coloca a disposição do hospital para fazer frente às despesas de custeio; também são recursos originários do Tesouro, porém será dissociado da fonte tesouro a fim de identificar qual foi o comprometimento da UFPR na manutenção das atividades de ensino, pesquisa e assistência do hospital. Para efeito deste estudo não serão considerados os recursos para o financiamento de pessoal e encargos sociais e benefícios assistenciais por tratar-se de recursos que não alteram a sustentabilidade da instituição, uma vez que as receitas que suprem as despesas obrigatórias são garantidas na integralidade pelo Estado. Receita própria também denominada recursos próprios é a composição de receitas hospitalares provenientes da cobrança de exames realizados para outras 94 instituições hospitalares além dos ingressos repassados pelo Fundo Municipal de Saúde referente aos procedimentos de hemoterapia e receitas administrativas compostas pela arrecadação do restaurante, estacionamento, doações, projetos de pesquisa, etc. Cabe salientar aqui, que os créditos orçamentários provenientes de recursos próprios liberados para o exercício são autorizados na LOA conforme a arrecadação do ano anterior e somente são liberados para empenho na medida em que a instituição arrecada no exercício. Caso haja mais arrecadação do que o crédito orçamentário liberado, é necessário solicitar junto a Secretaria de Orçamento e Federal crédito suplementar. Dentre as fontes financiadoras da instituição e a mais representativa de todas são as transferências governamentais, que correspondem às dotações de outras instituições federais executados pelo hospital para a efetivação de sua atividade fim. São formalizados através de convênios e projetos e no caso da receita SUS mediante a contratualização junto ao MS. Os recursos provenientes do MS são resultantes da produtividade, vinculada aos registros de atendimentos, transformando contas hospitalares por meio de reembolso dessas despesas. Diante do contexto, a tabela abaixo demonstra a composição dos créditos orçamentários disponibilizados para custeio ao HC, por fontes consolidadas de recursos no período de 2008 a 2012, corrigidos até julho de 2013, com base no IGPM. Tabela 1 - Créditos orçamentários de custeio no período de 2008 – 2012 CRÉDITOS ORÇAMENTÁRIOS SUS ANO 2008 2009 2010 2011 2012 84.097.936,98 93.851.449,04 99.527.674,33 89.506.175,56 78.331.985,11 Tesouro 9.631.548,85 14.917.319,83 10.478.069,73 260.637,18 570.458,77 REHUF 0,00 0,00 8.011.352,18 44.495.161,45 16.645.902,43 Recurso Próprio 3.636.860,82 4.123.962,91 4.479.287,60 2.665.983,52 1.537.978,35 Repasse UFPR 1.049.790,81 364.514,25 883.646,54 667.383,20 1.645.286,58 Convênio 1.837.460,15 1.548.096,01 0,00 231.438,26 987.664,76 100.253.597,61 114.805.342,04 123.380.030,38 137.826.779,17 99.719.276,00 TOTAL Fonte: Siafi 95 A tabela a seguir apresenta a análise vertical dos créditos orçamentários de custeio no período de 2008 a 2012. Tabela 2 - Percentual dos créditos orçamentários de custeio CRÉDITOS ORÇAMENTÁRIOS ANO 2008 2009 2010 2011 2012 SUS 83% 82% 80% 65% 78% Tesouro 10% 13% 9% 0,3% 1% REHUF 0% 0% 7% 32% 16% Recurso Próprio 4% 4% 3% 2% 2% Repasse UFPR 1% 0,3% 1% 0,5% 2% Convênio 2% 0,7% 0% 0,2% 1% Fonte: Elaborado pela autora A tabela 2 evidencia a representatividade dos recursos de custeio em relação ao total dos créditos disponibilizados. Através da análise vertical verifica-se que o Hospital possui como fonte de receita principal os recursos provenientes do SUS, ou seja, de seu faturamento, que significa em 2008 o equivalente a 83% do montante de R$100.253.597,61. A representatividade desses recursos aumentou em 2009 para 82%, porém decresceu nos exercícios posteriores para 80% em 2010, 65% em 2011 e no ultimo ano do estudo representou 78%no montante de R$ 78.331.985,11. Observa-se que entre o período de 2008 a 2012 houve uma queda acentuada dos recursos provenientes do SUS no total de R$5.765.951,87 apresentando uma variação negativa de -7%. Entre os exercícios de 2008 e 2010 a segunda maior contribuição para a manutenção do hospital nos percentuais de 10%, 13% e 9% respectivamente provém dos recursos do Tesouro onde a disponibilização Programa Interministerial de Reforço à Manutenção dos HUs - PIRM, para financiamento complementar das atividades assistenciais e acadêmicas, além de crédito suplementar disponibilizado pela SOF. A partir de 2011 a disponibilização destes recursos caem drasticamente sendo que os valores não foram expressivos para análise. Observa-se que a partir de 2010 houve a disponibilização dos recursos do REHUF e representou a terceira maior receita do período e correspondem a 7% do 96 total da receita, seguido pelos recursos próprios que representaram 4% da receita total. O total de crédito orçamentário disponibilizado em 2011 foi de R$137.826.779,17 sendo que os recursos do REHUF representaram a segunda maior receita do período, correspondendo a 32% do total da receita no montante de R$ 44.495.161,45, no entanto em 2012 os créditos caem para R$ 16.645.902,43, porém, ainda representam a segunda maior receita do exercício. Com relação a receita de recursos próprios houve sucessivos decréscimos e elevações durante o período estudado, contudo, representam a terceira maior receita, com exceção do exercício de 2010 que passou para quarta posição em virtude dos recursos disponibilizados pelo REHUF. Os recursos disponibilizados por meio de convênios representam um percentual muito pequeno sobre o montante das receitas, sendo 2% em 2008 e 0,7% em 2009, em 2010 não houve disponibilização de recursos. A partir de 2011 houve créditos orçamentários no percentual de 0,2% do total da receita e em 2012 apresentou um acréscimo de 1% sobre R$ 99.719.276,00, ou seja, R$ 987.664,76. Os repasses provenientes da UFPR foram de 1% em 2008 e em 2012 no montante de R$ 1.645.286,58 que representou 2% do total das receitas, nos demais períodos apresentou valores inexpressivos para análise com percentuais abaixo de 1%. 83% 10% SUS Tesouro 4% Rec. Próprio 1% Repasse UFPr Figura 4- Recursos orçamentários de custeio - 2008 Fonte: SIAFI 2% Convênio 97 82% 13% 4% 0,0% SUS Tesouro REHUF Rec. Próprio 0,3% Repasse UFPr 0,7% Convênio Figura 5 -Recursos orçamentários de custeio - 2009 Fonte: SIAFI 80% 9% SUS Tesouro 7% REHUF 4% Rec. Próprio 1% Repasse UFPr Figura 6 -Recursos orçamentários de custeio– 2010 Fonte: SIAFI 65% 32% 0,3% SUS Tesouro 2% REHUF Rec. Próprio Figura 7 -Recursos orçamentários de custeio - 2011 Fonte: SIAFI 0,5% Repasse UFPr 0,2% Convênio 0% Convênio 98 78% 16% SUS Tesouro REHUF Rec. Próprio 1% 2% 2% 1% Repasse UFPr Convênio Figura 8 - Recursos orçamentários de custeio – 2012 Fonte: Siafi O gráfico abaixo apresenta o consolidado de todas as receitas por ano durante o período estudado e observa-se que os recursos provenientes do SUS representam a principal fonte de financiamento das atividades hospitalares com uma variação anual de 83% a 78%,sendo que a representatividade das demais receitas variaram de 0% a 13% com exceção dos recursos do REHUF disponibilizados em 2011 e 2012 com variações percentuais em torno de 32% a 16% respectivamente. 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 2008 SUS 2009 Tesouro REHUF 2010 Rec. Próprio 2011 2012 Repasse UFPr Figura 9 - Recursos orçamentários de custeio consolidados no período de 2008 - 2012 Fonte: SIAFI Convênio 99 Através da análise dos recursos recebidos permite-se concluir que a instituição é praticamente mantida com os recursos provenientes do faturamento sendo mantida também com escassos recursos da fonte tesouro. Observou-se durante o período que os recursos procedentes do tesouro foram substituídos pelo REHUF. As demais fontes de financiamento no contexto total foram pouco representativas. A tabela abaixo demonstra a composição dos créditos orçamentários disponibilizados para capital ao HC, por fontes consolidadas de recursos no período de 2008 a 2012. Tabela 3 - Créditos orçamentários de capital no período de 2008 a 2012 REHUF 0,00 0,00 0,00 3.484.613,42 15.186.205,82 Tesouro 796.665,39 5.652.338,70 1.998.634,73 10.330.753,20 101.508,61 Recurso Próprio 683.248,61 631.556,35 1.147.598,50 1.722.851,75 3.338.051,60 Emendas 1.401.419,75 1.417.844,01 1.672.511,62 102.709,28 TOTAL Fonte: Siafi 2.881.333,75 7.701.739,06 17.210.729,99 18.728.475,31 0,00 3.146.233,23 A tabela a seguir apresenta a análise vertical dos créditos orçamentários de capital no período de 2008 a 2012. Tabela 4 - Percentual dos créditos orçamentários de capital CRÉDITOS ORÇAMENTÁRIOS ANO 2008 2009 2010 2011 2012 REHUF 0% 0% 0% 20% 81% Tesouro 28% 74% 64% 60% 0,5% Recurso Próprio 24% 8% 36% 10% 18% Emendas 49% 18% 0% 10% 0,5% Fonte: elaborado pela autora A tabela 4 evidencia a representatividade dos recursos de capital em relação ao total dos créditos orçamentários disponibilizados. 100 Verificou-se através da análise vertical que dos créditos recebidos em 2008 no montante de R$ 2.881.333,75as emendas parlamentares representaram um percentual de 48%, correspondendo à principal fonte de financiamento de capital da instituição no período, perfazendo um total de R$ 1.401.419,75. Em 2009 houve uma variação negativa na participação desses recursos em relação ao total da receita de – 31%, em virtude da redução nos créditos disponibilizados passando para 19% do total da receita. Os créditos provenientes dos recursos do tesouro e recursos próprios praticamente se equivalem em 2008 representando 28% e 24% respectivamente. Contudo, os recursos do tesouro apresentaram uma expressiva majoração nos três anos seguintes, representando assim a principal fonte de receita de capital. A representatividade dos recursos disponibilizados pelo REHUF em 2011 foi de 20% do total da receita no exercício, em 2012 a disponibilização dos créditos orçamentários apresentaram uma majoração significativa no percentual de 81% no montante de R$ 15.186.205,82, ou seja, ocorreu um aumento na representatividade desses recursos no percentual de 61%. Sendo assim, o REHUF passou a ser a principal fonte de financiamento de capital nos anos de 2011 e 2012. As receitas provenientes de recursos próprios foram significativas no período estudado apresentando oscilações de representatividade em torno de 8% a 36%. 48% 28% TESOURO RECURSO PRÓPRIO 24% EMENDA Figura 10 - Recursos orçamentários de capital - 2008 Fonte: SIAFI 101 74% 19% 8% TESOURO RECURSO PRÓPRIO EMENDA Figura 11 - Recursos orçamentários de capital - 2009 Fonte: SIAFI 64% TESOURO 36% RECURSO PRÓPRIO Figura 12 - Recursos orçamentários de capital - 2010 Fonte: SIAFI 60% 20% REHUF TESOURO 10% RECURSO PRÓPRIO 10% EMENDA Figura 13 - Recursos orçamentários de capital - 2011 Fonte: SIAFI 81% 0,5% REHUF TESOURO 18% RECURSO PRÓPRIO 0,5% EMENDA Figura 14 - Recursos orçamentários de capital - 2012 Fonte: SIAFI 102 O gráfico abaixo evidencia o consolidado de todas as receitas de capital por ano. Observa-se que os ingressos sofreram oscilações apresentando discrepantes acréscimos e decréscimos. Os ingressos através das fontes do tesouro foram expressivos nos anos de 2010 e 2011com variação percentual de 64% a 50% e 2012 praticamente não houve ingressos de créditos orçamentários. A partir de 2011 houve disponibilização dos recursos do REHUF e representaram somente 20% do total das receitas, porém em 2012 houve uma majoração dos recursos no percentual de 81%. A liberação de emendas parlamentares apresentaram decréscimos a partir de 2009 até 2012 variando percentualmente em torno de 49% em 2008 a 1% em 2012. Os recursos próprios provenientes das arrecadações apresentaram oscilações significativas com variações percentuais de 8% a 36% nos períodos de 2008 a 2012. 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 2008 2009 REHUF TESOURO 2010 RECURSO PRÓPRIO 2011 2012 EMENDA Figura 15 - Recursos orçamentários de capital consolidados no período de 2008 - 2012 Fonte: SIAFI Observamos que durante os dois primeiros anos do período em análise as emendas parlamentares foram de significativa importância para a instituição uma vez que proporcionou a renovação e a aquisição de materiais médico hospitalares. Os recursos provenientes do tesouro são fonte expressiva de financiamento de capital, contudo esses recursos foram sendo gradativamente sendo substituídos pelos recursos do REHUF. 103 A tabela abaixo demonstra a composição dos créditos orçamentários disponibilizados para custeio e capital ao HC, por fontes consolidadas de recursos no período de 2008 a 2012. Tabela 5 - Créditos orçamentários de custeio e capital no período de 2008-2012 CRÉDITOS ANO ORÇAMENTÁRIOS 2008 2009 2010 2011 2012 SUS 84.097.936,98 93.851.449,04 99.527.674,33 89.506.175,56 78.331.985,11 Tesouro 10.428.214,24 16.760.394,95 12.476.704,46 8.859.908,58 681.767,72 8.011.352,18 47.979.774,87 31.832.108,25 REHUF 0,00 0,00 Recurso Próprio 4.433.349,34 4.755.519,26 5.626.886,10 4.388.835,27 4.876.029,95 Repasse UFPR 1.049.790,81 364.514,25 883.646,54 667.383,20 1.645.286,58 Convênio 1.837.460,15 1.548.096,01 0,00 231.438,26 987.664,76 Emendas 1.401.419,75 1.417.844,01 0,00 3.430.159,30 102.709,28 TOTAL Fonte: Siafi 103.248.171,27 118.697.817,52 155.063.675,04 118.457.551,65 126.526.263,61 A tabela a seguir apresenta a evolução das receitas de custeio e capital no período de 2008 a 2012. Tabela 6 - Evolução dos créditos orçamentários de custeio e capital CRÉDITOS ORÇAMENTÁRIOS ANO 2008 2009 2010 2011 2012 SUS 100% 12% 18% 6% -7% Tesouro 100% 61% 20% -15% -93% REHUF 100% 0% 0% 449% 297% Recurso Próprio 100% 7% 27% -1% 10% Repasse UFPR 100% -65% -16% -36% 57% Convênio 100% -16% -100% -87% -46% 1% -100% 145% -93% Emendas 100% Fonte: elaborado pela autora Baseado na tabela 6 foi feito uma análise separadamente de cada crédito orçamentário disponibilizado com o respectivo gráfico da evolução dos recursos, para um melhor entendimento e visualização, tendo como base o exercício de 2008. 104 A evolução dos ingressos referente aos recursos do SUS conforme análise da figura16, demonstra que esses sofreram oscilações apresentando variações percentuais reais em torno de 18% a -7% em relação ao exercício de 2008. Os exercícios de 2009 e 2010 apresentaram uma majoração de 12% e 18% respectivamente em relação ao ano de 2008. Nos períodos seguintes se evidencia sucessivos decréscimos na liberação dos recursos, particularmente no exercício de 2012 com percentual de -7%, representando uma queda R$ 5.765.951,87. -7% 2012 2011 6% 2010 2009 18% 12% Figura 16 - Evolução dos créditos orçamentários do SUS no período de 2008 - 2012 Fonte: SIAFI 105 A análise dos recursos provenientes da fonte do tesouro, conforme demonstrado na figura 17, aponta que o quadriênio apresentou variações percentuais reais em torno de -93% a 61% relação ao exercício de 2008. No período de 2009 os ingressos apresentaram um aumento real de 61%. De 2010a 2012 houve sucessivas quedas dos créditos orçamentários disponibilizados sendo o período de 2012 o mais crítico, apresentando um percentual de -93%. Observa-se que recursos do tesouro foram gradativamente sendo substituídos pela entrada dos recursos do REHUF. -93% 2012 -15% 2011 2010 20% 2009 61% Figura 17 - Evolução dos créditos orçamentários do tesouro no período de 2008 - 2012 Fonte: SIAFI A análise da figura 18 revela que a disponibilização dos créditos orçamentários do REHUF ocorreu a partir de 2010 e os ingressos sofreram discrepantes oscilações nos períodos de 2011 e 2012 em relação ao exercício de 2010. O ano de 2011 foi o período em que mais houve ingressos de recursos do REHUF apresentando uma evolução em relação ao exercício anterior de 449%, sendo representado por 93% de custeio e 7% de capital; em 2012 os ingressos diminuem drasticamente, passando a 297% em relação ao exercício de 2010, sendo 48% de capital e 52% de custeio. 2012 2011 297% 449% Figura 18 - Evolução dos créditos orçamentários do REHUF no período de 2010 - 2012 Fonte: SIAFI 106 Quanto à variação dos recursos próprios demonstrado na figura 19, observam-se sucessivas e discrepantes oscilações durante o período estudado, com variações percentuais reais em torno de 27% a -1% em virtude da disponibilização dos recursos na LOA.O período de 2011apresentouíndice de crescimento negativo com percentual de -1% em virtude dos atrasos (3 meses) nos repasses referente aos procedimentos de hemoterapia, contudo em 2012 houve uma majoração em torno de 10% em função dos depósitos retroativos efetuados pela Secretaria Municipal de Saúde, e a consequente disponibilização orçamentária. 2012 10% -1% 2011 27% 2010 2009 7% Figura 19 - Evolução dos créditos orçamentários de recurso próprio no período de 2008 – 2012 Fonte: SIAFI A análise da figura 20 demonstra que os ingressos referentes aos repasses da UFPR para o HC apresentaram oscilações significativas com variações percentuais em torno de -65% a 57% em relação ao exercício de 2008. Observa-se que a UFPR praticamente não disponibiliza recursos ao HC, embora seja um órgão suplementar da universidade. De 2009 a 2011 os recursos repassados ao HC apresentaram oscilações negativas, já no exercício de 2012 houve um aporte de recursos em virtude do repasse de R$ 1.000.000,00 destinado para o pagamento de salários dos funcionários da FUNPAR uma vez que o HC não dispunha de recursos suficiente que representou 57% . 107 2012 57% 2011 -36% -16% 2010 2009 -65% Figura 20 - Evolução dos créditos orçamentários referente aos repasses da UFPR período de 2008 - 2012 Fonte: SIAFI Os ingressos referentes aos recursos de convênio em 2008 conforme demonstra a figura 21foram provenientes do convênio firmado com a Secretaria Municipal de Saúde- SESA. O exercício de 2009érepresentado somente com valor residual do mencionado convênio, havendo, portanto, um decréscimo de -16% em relação a 2008. Em 2010 não houve disponibilização de recursos e 2011 apresenta uma variação percentual de negativa em relação a 2008 de -87% em virtude da liberação parcial do convênio firmado com SESA e em 2012 apesar da liberação do saldo remanescente ainda apresentou um percentual negativo de -46% em relação ao exercício de 2008. -46% 2012 -87% 2011 2010 -100% -16% 2009 Figura 21 - Evolução dos créditos orçamentários de convênio no período de 2008 – 2012 Fonte : SIAFI 108 A figura 22 apresenta os créditos orçamentários liberados por emendas parlamentares onde se evidencia significativas oscilações com variações percentuais em torno de 145% a -100%. No exercício de 2010 não houve liberação de recursos, já em 2011 ocorreu a liberação R$ 1.300.00,00 caindo vertiginosamente em 2012 para R$100.000,00. -93% 2012 2011 -100% 145% 2010 2009 1% Figura 22 - Evolução dos créditos orçamentários de emendas no período de 2008 – 2012 Fonte: SIAFI 109 8.2. COMPOSIÇÃO E EVOLUÇÃO DAS DESPESAS Conforme dito anteriormente, constituem despesas públicas todos os dispêndios efetuados pelo Estado para desempenhar as funções básicas, a ele atribuídas, ou seja, a utilização das disponibilidades para as aquisições de bens e serviços para a sua manutenção. No Brasil, cabe ao Poder Executivo a fixação e alocação das despesas no Orçamento Público Federal, bem como a definição das metas e prioridades para o alcance dos resultados. Ao Poder Legislativo cabe a apreciação e autorização destas despesas. Neste contexto compete aos dois poderes as decisões distributivas dos dispêndios que viabilizam as políticas governamentais, salientandose que a priorização de uma determinada ação necessariamente implica no agravo de outras, visto que os recursos são escassos. Neste contexto, são definidos os créditos para subsidiar os gastos sociais e, dentre esses, os destinados à saúde, nesse caso o Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná. A execução da despesa se realiza mediante o cumprimento de três estágios: empenho, liquidação e pagamento. Contudo este estudo considerou como orçamento executado somente os créditos empenhados no final de cada exercício, uma vez que expressivos créditos recebidos chegam ao término de cada ano, impossibilitando a liquidação e pagamento das expensas em função da exiguidade do tempo. O grupo de despesa pessoal, encargos sociais e benefícios assistenciais não serão evidenciados neste estudo por tratar-se de recursos que não alteram a sustentabilidade da instituição, uma vez que as receitas que suprem as despesas obrigatórias são garantidas na integralidade pelo Estado. Para um melhor entendimento será feita para cada ano uma análise dos grupos de despesas que possuem maior representatividade no orçamento da instituição, sendo assim discriminadas: Despesas Correntes e Despesas de Capital. O grupo outras despesas correntes – material de consumo referem-se às aquisições de insumos para o funcionamento e manutenção do hospital, a rubrica serviços de terceiros referem-se aos serviços realizados por pessoa física ou jurídica. É composta por dispêndios que são fundamentais para o funcionamento da 110 instituição, como: água, energia, telefone, manutenção de bens móveis e imóveis, dentre outros. As despesas com a FUNPAR também são alocadas nesta rubrica, porém será evidenciado separadamente tendo em vista sua representatividade no montante da despesa; referem-se aos pagamentos efetuados pela prestação de serviços dos funcionários da FUNPAR à disposição no hospital de Clínicas. Contratações por tempo determinado, neste estudo denominado somente contratos são despesas representadas pelos termos assinados entre o hospital e o prestador de serviços quando tratar-se de obras e instalações, com o fornecedor quando se referir a fornecimento de bens, com terceiros locadores quando tratar-se de contrato de locação de bens móveis e imóveis, contratos de serviços pela necessidade de manutenção predial e de equipamentos, além de contratos com empresas terceirizadas para suprir a deficiência de mão de obra na instituição. Diárias e passagens referem-se às despesas com cobertura de alimentação, pousada, locomoção e passagens dos servidores públicos. O grupo despesas de capital – equipamentos e obras e instalações identifica as alocações de créditos cujo gasto eleva o ativo permanente da instituição. 111 A tabela 07 demonstra a composição das despesas no período de 2008 a 2012, corrigidas com base no IGPM até julho de 2013. Tabela 7 - Comparativo das despesas realizadas no período de 2008 a 2012 ANO DESPESAS 2008 2009 2010 2011 2012 DESPESAS CORRENTES 98.425.737,31 109.885.940,32 120.973.781,06 122.999.341,33 104.655.287,46 Material de Consumo 39.300.466,54 37.411.021,93 42.458.037,70 38.630.351,74 20.341.965,86 Serviços de Terceiros 2.054.862,57 1.341.274,42 1.574.135,79 2.738.127,46 2.198.480,25 Pessoal Funpar 34.252.243,09 43.992.452,14 43.792.378,76 44.509.014,79 43.721.102,22 Contratos 22.800.511,70 27.059.261,51 33.040.680,09 37.058.084,76 41.344.841,13 17.653,41 81.930,32 108.548,72 63.762,58 48.277,40 2.589.120,09 7.887.757,44 2.973.233,90 9.433.907,33 14.321.533,01 Diárias e Passagens DESPESAS DE CAPITAL Obras / Reformas 0,00 Equip. e Mat.Permanente TOTAL 254.378,72 0,00 5.209,23 0,00 2.589.120,09 7.633.378,72 2.973.233,90 9.428.698,10 14.321.533,01 101.014.857,40 117.773.697,76 123.947.014,96 132.433.248,66 118.976.820,47 Fonte: Siafi A tabela a seguir apresenta a análise vertical das despesas realizadas no período de 2008 a 2012. Tabela 8 - Percentual dos gastos por grupo de despesa ANO DESPESAS 2008 2009 2010 2011 2012 DESPESAS CORRENTES 97% 93% 98% 93% 88% Material de Consumo 39% 32% 34% 29% 17% Serviços de Terceiros 2% 1% 1% 2% 2% Pessoal Funpar 34% 37% 35% 34% 37% Contratos 23% 23% 27% 28% 35% 0,02% 0,1% 0,1% 0,05% 0,04% 3% 7% 2% 7% 12% 0,0% 0,2% 0,0% 0,004% 0,0% 3% 6% 2% 7% 12% Diárias e Passagens DESPESAS DE CAPITAL Obras / Reformas Equip.e Mataterial Permanente Fonte: elaborado pela autora 112 No exercício de 2008 a dotação executada foi de R$ 101.014.857,40. O grupo de despesa mais significativo foi o de material de consumo representando 39% no montante de R$ 39.300.466,54, sendo que deste valor R$ 6.984.894,00 foram para a aquisição do Glivec, medicamento destinado aos pacientes do transplante de medula óssea. As despesas provenientes do pagamento dos funcionários da FUNPAR representaram um percentual de 34% perfazendo um total de R$ 34.252.243,09. As despesas com contratos somaram-se R$ 22.800.511,70 representando 23%, serviços de terceiros 2% no total de R$ 2.054.862,57, as despesas com diárias foi de apenas R$ 17.653,41. No grupo de despesa equipamentos e material permanente foi gasto R$2.589.120,09 representando 3% da despesa total. 39% 34% 23% 2% Material de Consumo Ser viços d e Terceiros 3% 0,02% Pessoal Funpar Contratos Diárias e Passagen s Equ ip. e Mat. Per man ente Figura 23- Despesas Realizadas - 2008 Fonte: SIAFI As despesas no exercício de 2009 somaram R$117.773.697,76. A despesa mais relevante no período esta representada pelos gastos com pessoal FUNPAR no percentual de 37% no montante de R$ 43.992.452,14. As despesas com aquisição de material de consumo foram R$ 37.411.021,93, ou seja, 32%, deste total R$ 7.035.102,00 foram para aquisição do Glivec. Os gastos com contratos representaram o percentual de 23% perfazendo um total de R$ 27.059.261,51. Os gastos com aquisição de equipamentos e material permanente foi de R$ 7.633.378,72 cujo percentual foi de 6%, serviços de terceiros apresentou o 113 percentual de 1%, obras e reformas tiveram um percentual de 0,2% no montante de R$ 254.378,72 já as despesas com diárias e passagens foram insignificantes no período. 37% 32% 23% 6% 1% Material de Consumo Ser viços d e Terceiros Pessoal Funpar Contratos 0,1% 0,2% Diárias e Passagen s Obr as / Reformas Equ ip. e Mat. Per man ente Figura 24 - Despesas Realizadas - 2009 Fonte: SIAFI No exercício de 2010 a execução da despesa totalizou R$ 123.947.014,96. Os gastos com material de consumo foram os mais expressivos com o percentual de 34%no total de R$ 42.458.037,70, as despesas com pessoal da FUNPAR representando 35% do total das despesas no montante de R$ 43.792.378,76. Os contratos somaram R$ 33.040.680,09 no percentual de 27% e os gastos com aquisição de equipamentos e material permanente foi de R$2.973.233,90 no percentual de 2%, serviços de terceiros apresentou o percentual de 1% no total de R$1.574.135,79, já as diárias e passagens somente 0,1% ou seja, R$ 108.548,72. 35% 34% 27% 1% Material de Consumo Ser viços d e Terceiros 0,1% Pessoal Funpar Figura 25- Despesas Realizadas - 2010 Fonte: SIAFI Contratos Diárias e Passagen s 2% Equ ip. e Mat. Per man ente 114 A despesa total em 2011 foi de R$132.433.248,66.Os gastos com a FUNPAR foram de R$ 44.509.014,79 no percentual de 34%, material de consumo representou o percentual de 29% no total de R$ 38.630.351,74. 28% da despesa total foi o gasto com contratos no total de R$37.058.084,76, as despesas com serviços de terceiros foi de apenas 2% no montante de R$ 2.738.127,46. Os gastos com aquisição de equipamentos e material permanente foi de R$ 9.428.698,10 o que equivale ao percentual de 7%, as despesas com diárias e passagens foi de R$ 63.762,58 e com obras /reformas foram insignificantes no período. 34% 29% 28% 7% 2% Material de Consumo Ser viços d e Terceiros Pessoal Funpar Contratos 0,05% 0,004% Diárias e Passagen s Obr as / Reformas Equ ip. e Mat. Per man ente Figura 26 - Despesas Realizadas - 2011 Fonte: SIAFI As despesas em 2012 totalizaram R$ 118.976.820,47, sendo que 35% referese às despesas com contratos no total de R$ 41.344.841,13, 37% representa os gastos com pessoal da FUNPAR no total de R$ 43.721.102,22, os gastos com aquisição de material de consumo representou o percentual de 17% totalizando de R$ 20.341.965,86, os gastos com equipamentos e material permanente foi de R$ 14.321.533,01, o percentual de 2% é representado pelo serviços de terceiros no total de R$ 2.198.480,25 o valor das diárias foi de R$ 48.277,40 no percentual de 0,04% das despesas totais. 37% 35% 17% 12% 2% Material de Consumo Ser viços d e Pessoal Funpar Terceiros Figura 27- Despesas Realizadas– 2012 Fonte: SIAFI 0,04% Contratos Diárias e Passagen s Equ ip. e Mat. Per man ente 115 Considerando que os gastos da instituição somente perderão se efetuados conforme o orçamento disponibilizado, evidencia-se que no quadriênio a instituição canalizou os recursos de custeio para pagamento das despesas fixas com FUNPAR e com terceirizados, adequando portanto os gastos com material de consumo e serviços à disponibilidade orçamentária restante. A tabela a seguir demonstra a evolução das despesas utilizando-se a análise horizontal. Cada grupo de despesa foi abordado separadamente com o intuito de analisar qual a representatividade de cada variável na sustentabilidade da instituição, além disso, foi elaborado gráficos para melhor visualização da evolução das despesas. Tabela 9 - Evolução das despesas no período de 2008 a 2012 ANO DESPESAS 2008 2009 2010 2011 DESPESAS CORRENTES 100% 12% 23% 25% 6% Material de Consumo 100% -5% 8% -2% -48% Serviços de Terceiros 100% -35% -23% 33% 7% Pessoal Funpar 100% 28% 28% 30% 28% Contratos 100% 19% 45% 63% 81% Diárias e Passagens 100% 364% 515% 261% 173% DESPESAS DE CAPITAL 100% 205% 15% 264% 453% Equip.e Mat. Permanente 100% 195% 15% 264% 453% 2012 Fonte: elaborado pela autora A análise da figura 28 revela que no quadriênio as despesas com material de consumo apresentaram significativas oscilações com variações percentuais reais em torno de -48% a 8%. No exercício de 2009 houve uma queda nos gastos no percentual de -5% em relação ao exercício de 2008, em 2010 as aquisições apresentaram uma elevação de 8% justificada pelos ingressos de recursos do REHUF. Os períodos posteriores apresentaram índices de crescimento negativo, variando de -2% em 2011 e -48% em 2012. O elevado percentual negativo em 2012 foi proveniente da redução da liberação dos créditos orçamentários para custeio que apresentou uma variação negativa entre os períodos de 2011 e 2012 no percentual de -28%. 116 2012 -48% -2% 2011 2010 -5% 8% 2009 Figura 28- Evolução das despesas realizadas de material de consumo no período de 2008 - 2012 Fonte : SIAFI Os gastos com serviços de terceiros apresentado na figura 29 aponta que no quadriênio este grupo de despesa apresentou sucessivas e discrepantes oscilações com variações percentuais em torno de -35% a 33%. O período de 2009 em relação a 2008 apresentou uma queda de -35% seguido de -23% em 2010. No exercício de 2011 evidencia-se um crescimento de 33%, porém no período seguinte houve um decréscimo nos gastos no percentual de 7%. Percebe-se ao longo do período estudado que este item de despesa não apresenta relevância de gastos quando comparados com a despesa total conforme demonstrado na tabela 9. 2012 2011 -23% -35% 7% 33% 2010 2009 Figura 29- Evolução das despesas realizadas de serviços de terceiros no período de 2008 - 2012 Fonte : SIAFI 117 A análise da figura 30 aponta que as despesas com a FUNPAR representam um dos maiores gastos da instituição. Apresentou um comportamento homogêneo no período analisado, com exceção do exercício de 2011, o que denota a ausência de novas contratações. No exercício de 2011 que ocorreu uma pequena elevação de 2% no percentual em virtude da autorização de . transposição de cargos de alguns funcionários 2012 28% 2011 2010 2009 30% 28% 28% Figura 30 - Evolução das despesas realizadas com Pessoal Funpar no período de 2008 – 2012 Fonte : SIAFI 118 Os contratos assim como as despesas com pessoal da FUNPAR representam um gasto expressivo sobre o montante das despesas. Na figura 31 podemos verificar que as despesas apresentaram um comportamento gradual e crescente no período estudado e oscilaram em torno de 19% a 81%. O crescimento apresentado decorre principalmente pela adesão de novos contratos de terceirizados e de locação de equipamentos. As despesas de contratos tiveram um incremento de 81% em relação ao exercício de 2008, que representou uma elevação nos gastos de R$ R$ 18.544.329,43. 2012 81% 2011 63% 2010 2009 45% 19% Figura 31 - Evolução das despesas realizadas de contratos no período de 2008 – 2012 Fonte : SIAFI 119 Na figura 32 foi observado que as despesas com equipamentos e material permanente mostra uma similaridade no comportamento das despesas de contrato, ou seja, apresentou um crescimento acentuado no quadriênio, com exceção do exercício de 2010 pela indisponibilidade de orçamento em recursos de capital. Os gastos em 2009 apresentaram uma variação positiva de 195%, ou seja, houve um incremento patrimonial de R$ 5.044.258,63. No exercício seguinte as despesas caem vertiginosamente para o percentual de 15%, contudo, em 2011 e 2012 em virtude da disponibilização dos recursos do REHUF houve um incremento de 264% e 453%, representando um acréscimo patrimonial de R$ 6.839.578,01 e R$ 11.732.412,92 respectivamente. 453% 2012 2011 2010 2009 264% 15% 195% Figura 32- Evolução das despesas realizadas de equipamentos e material permanente no período de 2008 – 2012 Fonte: SIAFI 120 A tabela a seguir demonstra a composição das despesas de contratos por tipo de contrato. Tabela 10 - Despesas de contratos no período de 2008 - 2012 TIPO DE ANO CONTRATO 2008 2009 2010 2011 2012 13.025.024,59 15.503.415,38 17.624.637,90 19.156.105,88 23.052.225,95 Locação Equipamentos 3.489.340,64 5.034.895,56 5.599.589,70 6.202.067,71 6.677.303,80 Material Consumo 3.118.996,84 2.361.670,09 4.231.221,72 5.009.154,74 3.060.307,16 Outros Contratos 3.167.149,64 4.169.280,48 5.585.230,51 6.691.085,99 8.555.004,23 22.800.511,71 27.069.261,51 33.040.679,83 37.058.414,32 41.344.841,14 Terceirizados TOTAL Fonte: SIAFI A tabela abaixo apresenta a evolução das despesas de contratos tendo como base para os percentuais o ano de 2008. Tabela 11- Evolução das despesas de contratos TIPO DE CONTRATO ANO 2008 2009 2010 2011 2012 Terceirizados 100% 19% 35% 47% 77% Locação de Equipamentos 100% 44% 60% 78% 91% Material Consumo 100% -24% 36% 61% -2% Outros Contratos Fonte: elaborado pela autora 100% 32% 76% 111% 170% A tabela11 evidencia que as despesas com terceirizados apresentou uma variação gradual e crescente durante o período analisado. O acréscimo decorre das contratações de pessoal por empresas terceirizadas em virtude da extinção pelo MEC de alguns cargos tais como: copeiro, cozinheiro, auxiliar de Limpeza, operador de máquina de lavanderia, recepcionista, motorista, vigilante, porteiro entre outros, além da impossibilidade de novas contratações através da FUNPAR. Durante o quadriênio representou o maior gasto da categoria sendo que em 2012 apresentou 121 um incremento de 77% que representa em quatro anos um acréscimo de R$ 10.027.201,36. Até exercício de 2011 a segunda maior despesa de contratos era representada pela locação de equipamentos e destinava-se ao aluguel de máquinas e equipamentos, bem como, o fornecimento dos materiais, para realização de exames de laboratório. Esses contratos são imprescindíveis diante da impossibilidade de aquisição desses equipamentos. No exercício de 2012 essas despesas apresentaram uma elevação, representando 16% dos gastos totais de contratos e um aumento de 91% em relação ao exercício de 2008. Os gastos com material de consumo apresentaram oscilações expressivas no período analisado variando em torno de -24% a 61%. Os períodos de 2010 e 2011 foram os que apresentaram majorações nos percentuais de 36% e 61% respectivamente, em virtude das liberações orçamentárias de custeio pelo REHUF. Outros contratos englobam todos os demais contratos não previstos nas categorias acima mencionadas. No período analisado observam-se sucessivos aumentos, porém os mais representativos foram 2011 e 2012 que apresentaram um incremento de 111% e 170%, ou seja, R$ 3.523.936,35 e R$ 5.387.854,59 respectivamente. Os acréscimos apresentados podem ser explicados pela disponibilização dos recursos do REHUF para capital, bem como os recursos do tesouro liberado em 2010. 77% 47% 35% 19% 2009 2010 2011 2012 Figura 33 - Evolução de contratos terceirizados Fonte: SIAFI 122 91% 78% 60% 44% 2009 2010 2011 2012 Figura 34- Evolução de contratos de locação de máquinas equipamentos Fonte: SIAFI 61% 36% 2009 2010 2011 2012 -2% -24% Figura 35 - Evolução de contratos de material de consumo Fonte: SIAFI 170% 111% 76% 32% 2009 2010 2011 2012 Figura 36 - Evolução de outros contratos Fonte: SIAFI 123 8.3 SUSTENTABILIDADEOPERACIONAL A sustentabilidade operacional é determinada por uma taxa que representa a relação entre o valor total das receitas sobre as despesas de custeio. Representa a capacidade financeira para a cobertura das despesas. A interpretação deste indicador demonstra uma situação de equilíbrio quando o resultado for igual a 100. Apresentando uma taxa acima de 100, significa que as receitas são superiores às despesas. Quando o resultado for abaixo de 100, significa que as receitas são insuficientes para cobrir as despesas no mesmo período. Portanto, o hospital terá um melhor desempenho quanto maior for a taxa. A tabela abaixo demonstra a composição das despesas de custeio por grupos de despesas e o total das receitas financeiras recebidasno período de 2008 a 2012. Foi desmembrado da categoria contratos os terceirizados em virtude da representatividade dessa despesa sobre o montante da receita. Tabela 12- Sustentabilidade operacional no período de 2008 a 2012 GRUPOS DE DESPESA ANO 2008 2009 2010 2011 2012 Pessoal Funpar 34.252.243,09 43.992.452,14 43.792.378,76 44.509.014,79 43.721.102,22 Terceirizados 13.025.024,59 15.503.415,38 17.624.637,90 19.156.105,88 23.052.225,95 Material de Consumo 39.300.466,54 37.411.021,93 42.458.037,70 38.630.351,74 20.341.965,86 Outros Serviços 2.072.515,98 1.423.204,74 1.682.684,51 2.801.890,04 2.245.757,65 Contratos 9.775.487,12 11.565.846,13 15.416.041,93 17.902.308,44 18.292.615,19 TOTAL DESPESAS 98.425.737,32 109.895.940,32 120.973.780,80 122.999.670,89 107.654.666,87 TOTAL RECEITAS 108.709.111,78 109.574.424,69 124.224.350,16 119.887.274,29 100.157.505,92 Sustentabilidade Fonte: elaborado pela autora 110% 100% 103% 97% 93% 124 A tabela 13 demonstra uma relação percentual de todos os grupos de despesas em relação ao total das receitas de custeio no período de 2008 a 2012. Tabela 13-Percentual de Representatividade das despesas sobre as receitas GRUPOS DE DESPESA ANO 2008 2009 2010 2011 2012 Funpar 32% 40% 35% 37% 44% Terceirizados 12% 14% 14% 16% 23% Material de Consumo 36% 34% 34% 32% 20% 2% 1% 1% 2% 2% 9% 11% 12% 15% 18% Outros Serviços Contratos Fonte: elaborado pela autora Analisando a representatividade de cada grupo de despesa podemos constatar que em todos os anos do período de estudo as despesas com pessoal seja ela através da FUNPAR ou terceirizações apresentaram variações graduais e crescentes, e representaram a maior categoria de gasto, comprometendo sobremaneira os recursos que deveriam ser destinados para a manutenção da instituição. Entre os exercícios de 2008 e 2012 as despesas com a FUNPAR apresentaram predominância sobre os demais grupos de despesa e uma variação positiva de 28% representada monetariamente por R$ 9.468.859,13. Em 2012 essa despesa fixa representou 37% dos gastos totais conforme demonstrado na tabela 8 e compromete 44% das receitas, ou seja, R$ 43.721.102,22. As despesas com terceirizações constitui um gasto significativo igualmente, correspondeu a 19% do total das despesas e 56% das despesas de contratos em 2012. A variação apresentada entre os exercícios de 2008 e 2012 foi de R$ 10.027.201,36 no percentual de 10%. Em 2012 foram destinados R$ 23.052.225,95 para pagamento dos terceirizado que representa 23% do total da receita. As despesas com FUNPAR e terceirizações representaram juntas o montante de R$ 66.773.328,17 por ano, para uma receita de R$ 99.719.276,00, ou seja, 67%. As despesas com material de consumo apresentaram discrepantes oscilações durante o período analisado. Verifica-se que a partir da disponibilização dos recursos de custeio pelo REHUF e atribuível a este, houve um crescimento de 8% em relação a 2008, consequentemente, elevando os estoques no montante de 125 R$3.157.571,16. A aquisição de material que abrange materiais médicos, de consumo e medicamentos, por representar uma despesa variável, esta sujeita a toda e qualquer contenção de gastos devido ao desequilíbrio financeiro enfrentado pelo hospital. Nota-se uma variação negativa de -48% de 2008 para 2012 que em termos monetários representa R$ 18.156.265,32. O desabastecimento do estoque reflete diretamente na produção, reduzindo o faturamento e consequentemente a receita, uma vez que o hospital somente recebe do SUS pelos procedimentos realizados. A representatividade do grupo de despesa outros serviços apresentou uma similaridade no comportamento durante o quadriênio variando em média 2%. No exercício de 2012 comprometeu R$ 2.245.757,65 do total da receita. Analisando a participação dos contratos sobre total das receitas, observou-se um crescimento gradual, sendo o mais representativo no exercício de 2012 no montante de 18.292.615,19 que representa o percentual de 18%. A variação média no quadriênio foi em torno de R$ 32.260.675,84 que representa um percentual de 20%. No presente estudo foi constatado durante o período analisado que a sustentabilidade apresentou percentuais significativos de oscilações. Verifica-se que os três primeiros anos apresentaram uma situação equilibrada, ou seja, as receitas foram suficientes para cobrir as despesas, porém os exercícios de 2011 e 2012 apresentaram queda no percentual de 3% e 7% respectivamente. Os gráficos a seguir demonstram os percentuais anuais de participação de cada grupo de despesa sobre o total da receita. 36% 32% 12% 9% 2% Fun par Terceirizados Material de Consumo Ser viços d e Terceiros Figura 37- Representatividade das despesas em 2008 Fonte: elaborado pela autora contratos 126 40% 34% 14% 11% 1% Fun par Terceirizados Material de Consumo Ser viços d e Terceiros contratos Figura 38 - Representatividade das despesas em 2009 Fonte: elaborado pela autora 35% 34% 14% 12% 1% Fun par Terceirizados Material de Consumo Ser viços d e Terceiros Figura 39 - Representatividade das despesas em 2010 Fonte: elaborado pela autora 37% 32% 16% 15% 2% Fun par Terceirizados Material de Consumo Ser viços d e Terceiros Figura 40- Representatividade das despesas em 2011 Fonte: elaborado pela autora contratos contratos 127 44% 23% 20% 18% 2% Fun par Terceirizados Material de Consumo Ser viços d e Terceiros contratos Figura 41 - Representatividade das despesas em 2012 Fonte: elaborado pela autora Analisando a sustentabilidade percebe-se uma sincronia entres as receitas e despesas durante os três primeiros anos do período em evidência onde apresentaram índices pouco acima de 100, garantindo a cobertura financeira para as despesas correntes. Porém, nos exercícios seguintes, houve uma drástica redução nos índices culminando numa situação deficitária, ou seja, as receitas foram insuficientes para suprir as despesas implicando em atrasos e inadimplência dos fornecedores. A existência do déficit financeiro é decorrente dos atrasos nos pagamentos pelo SUS dos serviços prestados, além dos reajustes insuficientes dos valores contratuais e da tabela de procedimentos, uma vez que têm sido utilizadas bases históricas muitas vezes incompatíveis com a realidade atual (BRASIL, 2007b). O SUS remunera os serviços prestados segundo os valores fixados em tabelas e não pelo custo dos procedimentos (BITTAR, 2002). Os valores constantes nas tabelas de financiamento do SUS encontram-se defasados, sendo, portanto incapazes de cobrir os custos dos procedimentos realizados (BITTAR, 2002). Somando-se a isto, o SUS limita as quantidades de procedimentos prestados pelos hospitais estabelecendo tetos financeiros, desta forma o hospital não tem garantia do recebimento de todos os procedimentos realizados em sua produção de serviços ambulatorial e hospitalar, o que compromete a sustentabilidade da Instituição. 128 Os reajustes insuficientes dos contratos aliado a defasagem no pagamento referente os serviços prestados gera o desequilíbrio econômico e financeiro comprometendo o pleno cumprimento da missão social atribuída a essas instituições hospitalares. Porém, faz-se necessário analisar a variação de receitas e despesas durante o período em evidência. Tabela 14 -Evolução das receitas e despesas no período de 2008 a 2012 ANO DISCRIMINAÇÃO 2009 2010 2011 2012 Receitas 0,3% 14% 10% -8% Despesas 12% 23% 25% 9% Fonte: elaborado pela autora O gráfico abaixo apresenta os percentuais de variação das receitas e despesas, demonstrando uma sincronia entre as mesmas. Observa-se que a evolução das despesas foi superior a receitas, nota-se que as receitas variaram 0,3% de 2008 para 2009 enquanto as despesas subiram 12%. Em 2011 as despesas apresentaram uma majoração no percentual de 23% enquanto que as receitas sofreram um decréscimo de 10% em relação a 2008. A situação torna-se mais crítica em 2012 onde as receitas apresentam uma variação negativa em relação a 2008 de -8%. O planejamento de receitas e despesas foi assíncrono, provocando a descapitalização do hospital durante o período estudado. 23% 12% 25% 14% 10% 9% 0,3% 2009 2010 2011 2012 -8% receita despesa Figura 42- Evolução das receitas e despesas no período de 2008 a 2012 Fonte: elaborado pela autora 129 8.4 REPRESENTATIVIDADE DOS RECURSOS DO REHUF A tabela a seguir visa demonstrar através da análise vertical a participação relativa dos créditos orçamentários recebidos pelo REHUF com relação ao total das demais receitas. Tabela 15 - Representatividade dos recursos do REHUF RECEITAS OUTRAS RECEITAS ANO 2010 AV 2011 AV 118.514.911,43 94% 107.083.900,17 69% 86.625.443,40 73% 2% 15.186.205,82 13% 29% 16.645.902,43 14% CAPITAL 0,00 0% CUSTEIO 8.011.352,18 6% TOTAL Fonte: Siafi 126.526.263,61 3.484.613,42 44.495.161,45 155.063.675,04 2012 AV 118.457.551,65 Analisando as disponibilizações orçamentárias do REHUF verificou-se que no exercício de 2010 houve ingresso somente de recursos para custeio cuja representatividade foi de 6% do total dos créditos orçamentários liberados. Em 2011, no entanto, houve repasses para capital e custeio, este representando 29% da receita total, consequentemente uma variação positiva de 23% em relação ao ano anterior e os ingressos de capital apresentaram uma representatividade de 2% sobre as receitas totais e 100% em relação ao ano de 2010. Do total dos ingressos de 2012 no valor de R$ 31.832.108,25, 12,8% foi recursos de capital apresentando uma variação positiva em relação ao ano anterior de 11%, com relação aos repasses de custeio houve um decréscimo de R$ 27.849.259,02, determinando, portanto uma variação negativa de 15% em relação ao ano anterior. Observa-se claramente que os ingressos de custeio liberados pelo REHUF contribuíram, sobremaneira, para a aquisição de materiais de consumo conforme demonstrado na tabela 9, cujo ápice ocorreu no exercício de 2010. Contudo a redução destes recursos em 2012 provocou uma variação percentual negativa de 52% em relação a 2010, ou seja, R$ 22.116.071,84 comprometendo de forma 130 significativa o abastecimento do estoque. Cabe lembrar que o desabastecimento compromete desenvolvimento das atividades hospitalares reduzindo os atendimentos médicos implicando na queda do faturamento e consequentemente redução das receitas. 94% 73% 69% 29% 0% 2010 13% 14% 6% 2% 2011 OUTRAS RECEITAS CAPITAL 2012 CUSTEIO Figura 43 - Créditos orçamentários do REHUF no período de 2008 – 2012 Fonte : SIAFI 131 9. CONSIDERAÇÕES FINAIS O orçamento é um dos elementos estruturantes da gestão pública e representa um importante instrumento na gestão dos recursos públicos. É por meio dele que o governo executa sua política, viabilizando toda e qualquer ação governamental. Considerado uma ferramenta gerencial que possibilita avaliar o desempenho das organizações, proporcionando uma análise acerca da condução das ações orçamentárias, além da qualidade da atuação do gestor público. Este estudo teve por objetivo analisar qual foi o impacto na gestão orçamentária e financeira do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná dos recursos disponibilizados pela Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais no período compreendido entre 2008 a 2012. Para o alcance desse o objetivo foram apurados os créditos orçamentários e as despesas executadas, tomando-se por base os valores constantes nos demonstrativos das contas públicas disponibilizados pelo SIAFI. Ao analisar os dados apresentados, observou-se que a maior representatividade dos ingressos de custeio provenientes do REHUF foi o exercício de 2011 no percentual de 32% e os recursos de capital em 2012 com um percentual de 81%, quando comparados à totalidade dos créditos orçamentários disponibilizado. Verificou-se através da análise da execução do orçamento que a falta de recursos financeiros, gastos com pessoal e contratos constituem-se o principal problema para a manutenção de sua sustentabilidade. Identificou-se que no último período de estudo as despesas com pessoal FUNPAR representaram 37% dos gastos totais, comprometendo 44% da receita e as despesas com terceirizações representaram 19% dos gastos e comprometem 23% das receitas, restando somente 33% para manutenção de suas atividades. Percebe-se que o hospital esta recebendo menos recursos para atender o aumento da demanda dos usuários, pois utiliza os recursos provenientes do SUS para pagamento de pessoal quando deveria ser utilizado para a melhoria dos serviços prestados atendendo assim sua missão. 132 Constatou-se também, que o hospital sendo um órgão suplementar da UFPR praticamente não recebe suporte financeiro e orçamentário para manutenção de suas atividades. A crise financeira é provocada pelo crescimento dos custos setoriais aliada à defasagem da tabela de remuneração do SUS, além do descompasso de aproximadamente 3 a 4 meses no pagamento referente os serviços prestados, gerando com frequência atrasos no pagamento de prestadores de serviços e fornecedores, pondo em risco a viabilidade da gestão e o predomínio do desequilíbrio econômico e financeiro. O hospital enfrenta o grande desafio de consolidar a sua sustentabilidade organizacional, sendo imprescindível, para tanto, a implantação de mecanismos para saneamento financeiro, aporte de recursos orçamentários, equalização da oferta de serviços versus financiamento e aperfeiçoamento da gestão e planejamento, a fim de permitir o pleno cumprimento da sua missão, bem como, a universalização e a efetividade das políticas públicas de saúde. A presente pesquisa possibilitou compreender o orçamento como um importante instrumento de gerenciamento e controle das atividades organizacionais, porém, há que se estabelecer outros instrumentos gerenciais, não limitando o orçamento ao controle de despesas e receitas. Por fim, sugere-se como estudos complementares a esta pesquisa, de forma a expandir os resultados deste trabalho, o estudo de indicadores e metas que proporcionem a avaliação do desempenho das instituições, bem como associar os resultados alcançados ao planejamento estratégico da organização com o orçamento disponibilizado. Tão importante quanto o estudo de indicadores é a pesquisa acerca da viabilidade de futuros contratos. Em um cenário de restrição orçamentária, onde 35% das despesas correspondem a contratos, essa iniciativa é de fundamental importância no sentido de desenvolver uma estrutura balanceada entre os meios disponíveis e o planejamento além de melhorar a qualidade do gasto. 133 REFERÊNCIAS ABRAHUE – Associação Brasileira de Hospitais Universitários e de Ensino. Hospitais universitários e de ensino no Brasil: desafios e soluções. Brasília, 2003. Disponível em: <http://www.abrahue.org.br/pdf/hues_no_brasil.pdf> Acesso em 02 ago. 2012. ABRUCIO, Fernando Luiz; LOUREIRO, Maria Rita Garcia. Finanças públicas democracia e Accontability. In: Ciro Biderman, Paulo Roberto Arvate. (Org.). Economia do setor público no Brasil. Rio de Janeiro, p.75-102. ANGÉLICO, João. Contabilidade pública. 8. ed. São Paulo: Atlas, 1995. ANDRADE, Nilton de Aquino. Contabilidade pública na gestão Municipal: novos métodos após a Lei Complementar 101 e as classificações contábeis advindas da SOF e STN. 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