A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO DIDÁTICO PARA O ENSINO SUPERIOR: UMA REVISÃO DA LITERATURA Autores Rômulo César Dias de Andrade, Izabelly Soares de Morais, Caio Vale 1. [email protected] Resumo Este trabalho tem como objetivo expor alguns pontos que buscam demonstrar a relevância do planejamento didático no ensino superior através de opiniões de autores especialistas na área de educação. O motivo pelo qual se deu início a esta pesquisa foi a de que no contexto educacional e especificamente, para este trabalho, o do ensino superior, esta prática pedagógica acaba sendo ignorada, e sendo executada apenas por questões burocráticas, fatos estes observados através de relatos dos próprios docentes e discentes de duas Instituições de Ensino Superior, especificamente de cursos da área de Tecnologia da Informação (TI). É apresentada também uma proposta para que o preenchimento de artefatos que compõem o planejamento didático (plano de ensino, por exemplo) se torne menos rejeitado pelos docentes, através de um espaço disponibilizado via web, para que este material possa ser inserido e acessado pelos interessados posteriormente. Palavras – Chaves: Ensino Superior, Planejamento didático, Plano de Ensino Abstract This work aims to expose some points that seek to demonstrate the relevance of educational planning in higher education through expert opinions authors in education.The reason it has initiated this research was that in the educational context and specifically for this work, higher education,this pedagogical practice ends up being ignored and being performed only for bureaucratic reasons, these facts observed through reports of their own teachers and students of two institutions of higher education, especially courses in Information Technology(IT) area. It also presented a proposal for the completion of artifacts that make up the educational planning (syllabus, for example) becomes less rejected by teachers, available through a web space, so that this material can be entered and accessed by stakeholders later. Key - words: Higher Education, Educational Planning, Education Plan INTRODUÇÃO Marx acreditava que o homem é um ser ativo no processo de ação-reflexão-ação, capaz, portanto, de mudar a realidade em que vive. Em uma de suas teses, argumentou que o homem se destaca da natureza pela capacidade de transformá-la e é obrigado, para existir, a produzir sua própria existência. É nessa produção que se constitui como homem. Diferentemente dos animais, que se adaptam à natureza, o homem adapta a natureza a si, mas, sobretudo, transforma a natureza; e essa relação – adaptação, ocorre de acordo com suas necessidades (CASTRO NETO,2009). A evolução social fez com que passássemos por diversas revoluções, como mudanças culturais, econômicas, sociais, dentre outras. O sistema educacional foi de certa forma pressionado por esta necessidade de mudanças e adaptações. Na história do universo, o conhecimento sempre foi uma característica aplicada de forma seletiva na sociedade. Que com o passar do tempo foi percebendo a necessidade de novas formas e novos métodos de disseminar informações que, até então, sempre foram todo momento em seu cotidiano tendo que planejar suas ações de forma que possam executar todas as suas obrigações expostas seguindo através de padrões sociais que dependendo da situação e por serem vivenciadas no contexto mundial atual, se tornam de certa forma, obsoletas. Diversas características acompanham a evolução humana desde seus primórdios. Dentre elas o ato de planejar. As pessoas estão a todo momento em seu cotidiano tendo que planejar suas ações de forma que possam executar todas as suas obrigações em tempo hábil. Apesar de o planejamento ser algo importante, muitos ainda resistem em colocar em prática este ato, principalmente no universo educacional. Entender a maneira como o planejamento é imposto em diversos setores da sociedade desde seu surgimento faz parte do ponto inicial para que possamos entender a sua importância no contexto deste trabalho. E nos ajuda a compreender melhor a necessidade do planejamento, seja ele qual for, dentro do âmbito educacional do ensino superior, tema tão pouco citado em publicações e eventos. Algumas unidades de ensino superior perderam o espaço relativo à preocupação com aspectos pedagógicos, voltados apenas para o gerenciamento, lotação das disciplinas ausência de articulação entre as disciplinas e conteúdo específico pedagógico. Os professores às vezes se encontram inseridos num contexto desarticulado e fragmentado (ISAIA, 2001). Este trabalho contribuirá para explicitar a importância do planejamento pedagógico dentro do âmbito educacional, e tem como intuito também direcionar estudos relacionados ao ensino superior, onde envolve não só a necessidade do docente, mas também do discente em ter conhecimento tanto da existência quanto da disponibilização do plano de ensino de seus disciplinas e curso. 2 REFERÊNCIAL TEÓRICO Uma das definições mais antigas sobre o termo planejamento surgiu ainda no período préhistórico. Onde os viventes daquela época eram de certa forma, por questão de sobrevivência, obrigados a otimizar o tempo e a utilizar as ferramentas que tinham a sua disposição para conseguir o preparo e a conservação dos alimentos. Fatos estes, que são defendidos pelo autor Hindle (2002, p.142). O docente é um dos atores principais nesse processo, tanto de evoluções metodológicas, quanto de evoluções sociais. A relação que o profissional estabelece com os elementos contidos em sala de aula, como alunos, conteúdo e material didático é extremamente relevante quando direcionamos a atenção para a qualidade do processo de ensino e aprendizagem. Moretto(2010), deixa claro que a relação entre o professor e o aluno depende da formação do primeiro e do contexto de vida do segundo. Formação esta, que o autor liga a capacidade de planejamento de ações pedagógicas, que muitas vezes não devem levar em consideração o perfil cognitivo do discente, e sim características de temperamento e personalidade. Conforme Maximiano (2006), o contexto onde o termo planejamento é utilizado envolve a administração de relações futuras. Segundo o autor, o processo de planejamento pode ser definido de várias formas: É definir objetivos a serem alcançados; Definir meios alcançar resultados esperados; É passar de uma situação conhecida para uma situação desejada num determinado espaço de tempo; É tomar decisões no presente que vão afetar no futuro para, assim, reduzir o nível de incerteza. O planejar, segundo Moretto(2010), é visto como a análise inicial da situação a ser abordada para que possamos compreendê-la e, a partir desta compreensão, podemos organizar um contexto que possibilite sua solução. Alguns pontos citados pelo autor complementam a opinião de Maximiniano (2006), citado anteriormente, quando ele diz que todo planejamento precisa levar em conta alguns fatores básicos, tais como: onde se pretende chegar, os agentes envolvidos, as estratégias mais favoráveis para se alcançar o que se deseja, os recursos necessários para a sua execução e os mecanismos de avaliação e controle do processo da solução e do produto resultante. Gandim(2001) postula que no mundo ocidental há dois momentos para o desenvolvimento do planejamento: o primeiro ocorreu após a Segunda Guerra Mundial, com a experiência bem-sucedida da União Soviética. O segundo, na década de 1980 e nos anos 1990, em decorrência da crise econômica e da necessidade de sobrevivência das nações. “Para se alinhar às orientações do mercado internacional capitalista era necessário incorporar as concepções de planejamento, de acordo com a tendência mundial” (MESQUITA,2008). Ainda, segundo Gandin (1997), o planejar vai além do simples ato de fabricar planos, vai além do colocar ideias no papel, preparar atividade para serem executadas dentro ou fora da sala de aula. O planejamento não se reduz à elaboração, estende-se também à execução e à avaliação. “O trabalho docente é uma práxis em que a unidade teoria e prática se caracteriza pela ação-reflexão-ação” (AZZI, 2000, p. 38). “O trabalho docente constróise e transforma-se no cotidiano da vida social” (AZZI, 2000, p. 39). A docência, enquanto trabalho, é vista a partir de sua profissionalização. Esse trabalho vai se construindo e se transformando no cotidiano da vida social, buscando a transformação de uma realidade. Nesse contexto, o professor “[...] se objetiva, se constrói e participa da construção do processo educacional no bojo da sociedade na qual esse está inserido” (AZZI, 2000, p. 40). Logo após a Segunda Guerra Mundial, o planejamento se universalizou ainda mais e passou a ser utilizado para que situações complexas fossem contornadas. Vários setores passaram a adotar medidas de planejamento com base do que foi utilizado e desenvolvido durante a guerra. No âmbito educacional não foi diferente. Isso teve origem a partir do momento onde houve a necessidade de “[...] adequar a escola ao desenvolvimento do capitalismo”(FÉLIX,1986, P.31). Ainda de acordo com Vasconcellos(1999), o ato de planejar era feito sem preocupação de formalização, tendo como horizonte a tarefa a ser desenvolvida em sala de aula. Kuenzer (2003, p. 13), afirma que “o planejamento de educação também é estabelecido a partir das regras e relações da produção capitalista, herdando, portanto, as formas, os fins, as capacidades e os domínios do capitalismo monopolista do Estado.” O país na segunda metade do século XX, ainda tinha como base muitos conceitos internacionais ligados ao desenvolvimento social, que era baseado no capitalismo que tomava de conta daquela época. Houve também certa diversificação nas atividades produtivas e com isso certo crescimento econômico do Brasil. Esse progresso trouxe para o setor industrial e de produção um déficit de mão de obra qualificada. Foi neste momento em que o governo percebeu a necessidade de ampliar o acesso da população ao ambiente escolar. “Nesse sentido, o currículo e o sistema de avaliação da aprendizagem são reestruturados para assegurar uma educação escolar em consonância com as exigências do mundo do trabalho”(MESQUITA,2008). O cenário econômico e educacional do país passaram por diversas mudanças, principalmente depois dos governos de Juscelino Kubitscheck e Jânio Quadros. Onde perceberam que na Europa estavam aplicando certas tecnologias educacionais que estavam otimizando o trabalho escolar. O que resultava na diminuição dos custos e do tempo. METODOLOGIA De acordo com Sobrinho (2005), o presente e o futuro da humanidade estão indelevelmente marcados pela tecnologia da informação. Pressupõe-se que através de determinadas conjecturas explicitadas neste artigo, é possível afirmar que a atual importância do planejamento didático no ensino superior e de sua disponibilização foge de sua essência, e que através deste trabalho será possível expor determinados conceitos que se completam e convergem à uma linha de pensamento única, sendo este o propósito deste artigo. A percepção da necessidade de uma forma mais prática de preenchimento de artefatos pedagógicos se deu através de relatos tanto de docentes quanto de discentes que em algum momentos acadêmicos necessitaram acessar dados referentes as disciplinas ministradas e cursadas em determinados períodos no curso superior. Este início teve como caminho teórico metodológico a investigação da prática pedagógica do docente de ensino superior. As informações foram colhidas de maneira informal, apenas com o objetivo de viabilizar a proposta inicial. Até o presente momento, a pesquisa utilizou uma abordagem quantitativa através de alguns questionários que foram elaborados onde suas perguntas tem o intuito de saber através de respostas objetivas(Sim ou Não) a importância que o docente e o discente veem em ter acesso ao plano de ensino. Questionário este, que pretende (por ainda não ter sido aplicado, apenas elaborado), obter inicialmente respostas em quatro momentos diferentes: o primeiro será através de respostas de professores que possuem o plano de ensino através do web site da instituição; o segundo será com professores que não possuem o plano de esnino através do web site da instituição; a terceira situação será a do aluno que não possui acesso ao plano de ensino através do web site da insituição e para finalizar esta primeira etapa, a quarta situação que será com alunos que possuem acesso ao plano de ensino através do web site da instituição. Estes dados que serão colhidos inicialmente ajudarão na elaboração de um suposto plano de ensino que será disponibilizado futuramente na web site da instituição e que será composto por elementos já existentes nos planos de ensino da intituição podendo ou não haver inserção de novos elementos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com a inserção de técnicas europeias no ambiente escolar deu-se início a uma nova concepção pedagógica (denominada tecnicista, termo este que teve origem a partir do período em que houve muita necessidade da existência de cursos técnicos), onde o aluno passou a ser visto apenas como receptor de informações. Neste caso, a autora Mizucami (1986), diz que o planejador é o responsável por determinar os programas, o currículo e os objetivos a serem alcançados de forma que o desempenho do aluno seja maximizado com economia de tempo, esforços e custos. O professor passou a fazer parte de um sistema onde ele deveria apenas seguir regras impostas pelo governo e pelo contexto social da época. Vasconcelos(1999) afirma que, com a introdução desta nova concepção, o professor foi perdendo o hábito de planejar. Apesar de o autor ter relatado esta percepção a alguns anos atrás, o acontecimento em si, de o professor ter perdido ou muitas vezes nunca ter tido o hábito do planejamento escolar, seja ele de ensino ou de aula é um fato atual. O que é mais comum de ser visto é de os professores muitas vezes se acomodarem em seguir apenas os conteúdos impostos por livros didáticos. As concepções de planejamento passaram a ter que seguir tendências mundiais. Moretto(2008) diz que o professor em seu planejamento deve responder as seguintes perguntas: por que, em que condições e com que recursos. Na resposta ao por quê?, devemos focar na situação complexa a ser compreendida e os objetivos a serem alcançados. Nas condições, procuramos prever estratégias que pretendemos seguir para alcançar nossos objetivos. Nos recursos, planejamos o que precisamos de elementos de apoio para realizar com sucesso o que foi planejado. O planejamento é um roteiro de saída, sem certeza dos pontos de chegada. Por esta razão todo planejamento busca estabelecer a relação entre a previsibilidade e a surpresa (ibid). Através dos dados obtidos após a aplicação dos questionários nesta primeira etapa, a segunda etapa será composta pela elaboração e implementação deste plano de ensino nos web sites das instituições de ensino superior. Logo após pretende-se aplicar outros questionários, os quais irão ter como público alvo principal os professores que antes não tinham o plano de ensino disponibilizado no web site da instituição e passaram a ter, logo após a segunda etapa ter sido concluida, e os alunos que também não tinham acesso a este plano de ensino no web site da instituição e que tiveram posteriormente acesso a este artefato pedagógico através do web site da instituição de ensino. De acordo com Perrenoud(2000), lucidez profissional consiste em saber quando se pode progredir através dos meios que a situação oferece ou a partir de meios externos. O intuito desta proposta é tornar os procedimentos metodológicos mais práticos quando incluidos no cotidiano do professor e do aluno. Pretende-se também, realizar novas publicações com os futuros resultados obtidos. REFERÊNCIAS BELLONI, M. L. Ensaio sobre Educação a Distância no Brasil. In Educação & Sociedade. V.23. n 78. Campinas, 2002. ISSN 01017330. CASTRO NETO, M.; GUTIERREZ, J. C.; ULBRITCHT. Educação a Distância sem Distância. Florianópolis: Pandion, 2009. FÉLIX, M. F. Administração escolar: um problema educativo ou empresarial? São Paulo: Autores Associados, 1986. GANDIM. D. A posição do planejamento participativo entre as ferramentas de intervenção na realidade. Currículo sem fronteiras, Porto Alegre, v.1, n.1, p.81 – 95, jan/jun 2001. GOMES, A.V. Educação a Distância via Web – Desenvolvimento de um modelo conceitual. 2000. 132p. 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