VERIFICAÇÃO DOS RESULTADOS OBTIDOS COM A IMPLANTAÇÃO DO “TOTAL PRODUCTIVE MA INTENANCE” EM INDUSTRIAS DO ESTADO DE SÃO PAULO Anderson Rodrigo Rossi (IC) [email protected] Carlos Roberto Camello Lima (Orientador) [email protected] UNIMEP (Universidade Metodista de Piracicaba) PIBIC-CNPq RESUMO O ambiente competitivo atual exige das empresas uma busca constante de melhoria em todos os aspectos. As empresas industriais, em particular, necessitam garantir que a manufatura tenha um desempenho acima dos concorrentes, aperfeiçoando seus métodos de lidar com o homem, com a máquina e com os demais recursos. Na busca de um desempenho de classe mundial, uma das metodologias que vem sendo bastante procurada é Total Productive Maintenance ou Manutenção Produtiva Total (MPT). Muitas empresas iniciaram a implantação do MPT, mas não lograram sucesso, geralmente por motivos internos relacionados à não participação da alta gerência, falta de conhecimento dos processos envolvidos, falta de treinamento adequado do pessoal, entre outros fatores. Aos poucos, as empresas foram aprendendo e aperfeiçoando a forma de implementação da metodologia, obtendo, então relevantes resultados. Este projeto tem por objetivo identificar a situação da implantação do MPT em indústrias do Estado de São Paulo. Através de pesquisa individual, serão identificados diversos fatores como grau e velocidade de implementação, processos utilizados, seqüência de implementação dos pilares, resultados obtidos e dificuldades encontradas. Como objetivos complementares, pode-se destacar: • Estudo aprofundado dos conceitos de MPT, Manutenção Produtiva Total, e sua importância no contexto do melhoramento da produção. • Comparação dos dados e características de implementação real com aqueles teoricamente definidos. • Interação com técnicos, engenheiros e com a realidade industrial. A seleção das empresas foi definida através de um trabalho anterior (ROSSI, 2003) e contatos com entidades que trabalham com o assunto. Como técnica de coleta de dados foi utilizado um questionário estruturado não disfarçado, pois se adequou aos objetivos em questão. ABSTRACT The current competitive atmosphere demands a constant search of improvement from the companies in all the aspects. The industrial companies, in particular, need to guarantee that the manufacture has an acting above the competitors, improving its methods of working with the man, with the machine and with the other resources. In the search of an acting of world class, one of the methodologies that comes being quite sought it is TPM, Total Productive Maintenance. A lot of companies began to input TPM, but they didn't achieve success, generally for internal reasons related to the non participation of the high management, lack of knowledge of the involved processes, lack of the personnel's adapted training, among other factors. Slowly, the companies went learning and improving the form of born the methodology, obtaining, then important results. This project has for objective to identify the situation of the TPM in industries of the State of São Paulo. Through individual research, they will be identified several factors as degree and speed to input, used processes, sequence of the pillars, obtained results and found difficulties. As complemental objectives, it can stand out: I " study deepened of the concepts of TPM, Total Productive Maintenance, and its importance in the context of the improvement of the production. " Comparison of the data and characteristics of real with those theoretically defined. " Interaction with technicians, engineers and with the industrial reality. The selection of the companies was defined through a previous work (ROSSI, 2003) and contacts with entities that work with the subject. As technique of collection of data was used a questionnaire not structured disguised, therefore it was adapted to the objectives in subject. Introdução O TPM (Total Productive Maintenance ou Manutenção Produtiva Total) é de fundamental importância para a gestão estratégica das empresas, pois mantém uma manutenção efetiva, garantindo a eliminação de perdas produtivas (Wireman, 1998). A metodologia MPT envolve todos os funcionários de uma empresa. A meta do MPT é aumentar a produtividade, enquanto a moral elevada dos empregados mantém a satisfação no trabalho (Robinson, 1995). Na implantação do MPT, deve-se ter a devida atenção quanto aos preparativos e à criação das condições necessárias para sua implantação, pois preparação inadequada, metodologia incorreta ou falta de participação da alta gerência têm sido apontadas como causas de insucesso na sua implementação (Mirshawka & Olmedo, 1994). Tendo em vista alguns resultados negativos ou de insucesso com a metodologia MPT, conhecer a forma de implementação, os métodos utilizados e a adequação dos conceitos teóricos para cada empresa torna-se o foco principal deste trabalho, podendo-se, assim, avaliar resultados obtidos com a implantação de uma metodologia tão abrangente. Objetivos O objetivo deste trabalho foi o de diagnosticar a situação da implementação da metodologia MPT em empresas industriais selecionadas em cidades do estado de São Paulo. Através de pesquisa individual, buscou-se diversos fatores, como grau e velocidade de implementação, processos utilizados, seqüência de implementação dos pilares, resultados obtidos e dificuldades encontradas. Metodologia Utilizada A seleção das empresas foi definida através de um trabalho anterior (Rossi, 2003) e contatos com entidades que trabalham com o tema; porém, os endereços e os responsáveis pelo MPT em cada empresa foram obtidos através de busca via Internet, totalizando uma amostra de 25 empresas. Como técnica de coleta de dados, foi utilizado um questionário estruturado não disfarçado (o entrevistado conhece o objetivo da pesquisa, havendo maior credibilidade), pois possui um potencial de questionar um número elevado de empresas com muitas questões ao mesmo tempo e economia de recursos financeiros (Marconi & Lakatos, 1996). Quanto à escolha do tipo de questões, foram utilizadas 10 perguntas abertas, 6 questões fechadas e 27 questões de múltipla escolha. Para melhorar o índice de retorno, foi enviada uma carta da Universidade junto com o questionário (explicando os objetivos da pesquisa e sua importância) e, após algum tempo, enviou-se uma carta “cobrança”, solicitando o retorno dos que eventualmente não haviam retornado. Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados A pesquisa teve um retorno de 36%, sendo 24% preenchidos e 12% em branco. Todas as empresas possuem previsão orçamentária para manutenção. Os métodos/ferramentas que foram considerados como “alicerce” para a implantação do programa MPT são apresentados na Figura 1. Verifica-se que os métodos mais utilizados pelas empresas são ISO9000/QS9000 e 5S, com índice de 33% cada. Dentre os motivos que influenciaram na escolha da metodologia MPT como parte integrante da gestão da empresa, os motivos “redução de custos”, “melhoria de processos” e “melhoria da qualificação da mão-de-obra” foram os mais destacados (15% cada), seguidos por “melhoria das condições de limpeza” e “melhoria da qualidade” (12% cada); “diminuição de retrabalho” e “redução de tempos improdutivos” obtiveram 9% cada; “melhoria do clima organizacional” e “diminuição de refugos” obtiveram 6% cada; o motivo “aumento da segurança de operação” foi apenas selecionado por uma empresa, a qual assinalou todos os motivos propostos. O nível de escolaridade dos profissionais pode auxiliar no desempenho dos serviços devido à possibilidade de melhor compreensão dos problemas e agilidade numa tomada de decisão por estes profissionais (Furtado, 1997). Com relação à escolaridade de seu pessoal de manutenção, a média das empresas é de 1% com pós-graduação, 11% com nível superior, 63% com 20 grau técnico, 15% com segundo grau convencional e 11% possui apenas o 10 grau. A mesma questão pesquisadas pela Associação Brasileira de Manutenção (ABRAMAN, 2003) revela que 14,85% possuem 2º grau técnico e 7,2% possuem nível superior. Isso mostra que as empresas questionadas possuem um nível de escolaridade maior que o resultado obtido a nível nacional. Método/Ferramenta Aplicado como "Alicerce" para a Implantação do TPM 7% 7% 33% ISO 9000/QS 9000 PDCA 5S SEIS SIGMA 33% 20% KAIZEN Figura 1 – Métodos/ferramentas utilizados como “alicerce”, em média Em média, as melhorias obtidas com redução de perdas verificadas pelas empresas após a implantação do MPT foram: “perdas por quebra de equipamentos” (76,67% das empresas assinalaram este tipo de melhoria), “perdas por produtos defeituosos” (70%), “perda por operação em vazio” (63,33%), “perdas por entrada em regime” e “perda por diminuição de velocidade” (60%) e “perda por mudança de linha” (46,67%). A implantação do MPT está baseada em 8 pilares fundamentais. Algumas empresas (10, 24) já implantaram todos os pilares; no entanto, outras (5, 11 e 12, 22,) ainda não concluíram a implantação de todos os pilares. Na Tabela 1, pode-se verificar a seqüência de implantação dos pilares. Pode-se notar que a maioria das empresas iniciou a implantação do MPT pelo pilar “Manutenção Autônoma” e/ou pelo pilar “Educação e Treinamento”. Com relação ao tempo de implantação do MPT verificou-se que, em média, as empresas levaram entre 4 e 5 anos. Segurança, Melhorias Manutenção Manutenção Educação e Controle Qualidade na TPM saúde e meio específicas autônoma planejada treinamento inicial manutenção OFFICE ambiente 5 4 3 1 2 10 4 7 6 1 2 5 8 3 11 2 1 1 1 1 12 1 1 1 1 2 2 22 4 1 2 3 24 5 1 2 3 7 8 6 4 Obs: A repetição da numeração significa que os mesmos foram implantados simultaneamente Empresa Tabela 1 - Seqüência de implantação dos pilares As dificuldades encontradas na implantação do MPT apontadas pelas empresas foram: “falta de foco naquilo que é crítico” (22%); “treinamento insuficiente da mão-de-obra” (17%); “falta de conhecimento da gerência sobre o que é de fato o MPT”, “falta de cuidados básicos de manutenção” e “falta de um sistema de reconhecimento dos funcionários” (13% cada); “visão dos funcionários de que o MPT seria iniciado como parte de um processo de downsizing” (com redução de quadro efetivo) e “relacionamento ruim entre gerência e chão-de-fábrica” (9% cada), e “estrutura enxuta” (4%). Conclusões A pesquisa teve um índice de retorno dos questionários de 36%. O retorno de questionários enviados por correio alcança uma média geral de menos de 14% (6). Em um levantamento dos índices de manutenção no Brasil, realizado pela ABRAMAN (Associação Brasileira de Manutenção), tendo como base o ano de 2003 (7), foram devolvidos 10,9% do total enviado, mostrando que o índice de retorno aqui obtido para este tipo de pesquisa pode ser considerado satisfatório. Todas as empresas pesquisadas possuem previsão orçamentária para manutenção e, também, todas admitiram que um alto nível de escolaridade facilita a implantação do MPT. A média do nível de escolaridade do pessoal de manutenção das empresas é de 11% com nível superior, 63% com 2º grau técnico, 15% com 2º grau convencional, 11% possui apenas o 1º grau e 1% possui pós-graduação, nível este maior que o resultado obtido a nível nacional. Os métodos/ferramentas mais utilizados pelas empresas para a implantação do MPT, constatados nesta pesquisa, foram ISO9000/QS9000 e 5S (33% cada). Todas as empresas utilizaram métodos/ferramentas como alicerce para a implantação do MPT; com isso, pode-se avaliar ser quase que imprescindível que o programa MPT seja implantado após a empresa já possuir um melhor nível de organização, maior motivação e esclarecimento de seus colaboradores. Dentre os motivos que influenciaram as empresas a optarem pelo MPT, destacam-se a redução de custos (15%), melhoria de processos (15%) e melhoria da qualificação da mão-de-obra (15%). Por ser um programa de alta complexidade, as empresas encontraram dificuldades com a implantação do MPT. As dificuldades encontradas com maior incidência pelas empresas foram falta de foco naquilo que é crítico (22%) e treinamento insuficiente de mão-de-obra (17%). Com relação aos pilares do MPT, algumas empresas ainda não implantaram todos. Os pilares que foram implantados em todas as empresas, e até mesmo sendo escolhidos como os primeiros pilares pelas empresas que implantaram todos os pilares, foram “Manutenção Autônoma”, “Educação e Treinamento” e “Manutenção Planejada”. A maioria das empresas (66%) optou por iniciar a implantação do MPT em uma área “piloto”, o que permite uma correção de rota menos traumática, se necessária. O tempo médio de implantação do MPT constatado nessa pesquisa foi entre 4 e 5 anos. As empresas pesquisadas afirmaram obter melhorias com relação às perdas após a implantação do MPT. As melhorias mais representativas foram, respectivamente, “Perda por Quebra” (76,67%), “Perda por Produtos Defeituosos” (70%) e “Perda por Operação em Vazio” (63,33%). De maneira geral, os resultados aqui obtidos permitem concluir que a implantação do MPT, apesar de sua complexidade e da necessidade de cuidados iniciais (área/ equipamento “piloto”, métodos/ferramentas utilizadas como alicerce, etc.), traz benefícios com relação ao aumento da produtividade, redução de perdas e melhoria da cultura organizacional das empresas. Referências Bibliográficas ABRAMAN - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MANUTENÇÃO, A situação da manutenção no Brasil – Documento nacional 2003. Florianópolis-SC, Setembro de 2003. FURTADO, E. J. A gerência de manutenção nas indústrias do Ceará. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MANUTENÇÃO, 12., 1997, São Paulo. Anais: São Paulo, 1997. CD-ROM MARCONI, M.D.A.; LAKATOS, E.M. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisas, elaboração, análise e interpretação de dados. 3a. Ed. São Paulo: Atlas, 1996. MIRSHAWKA, V.; OLMEDO, N. L. TPM à Moda Brasileira. São Paulo. Makron Books,1994. ROBINSON, Charles J., GINDER, Andrew P. Implementando TPM . .Portland Oregon: Imprensa de Produtividade, 1995. ROSSI, A. R.; LIMA, C. R. C. Estudo Diagnóstico da Situação da Manutenção Industrial em Empresas da Região de Piracicaba. Relatório Final de Iniciação Científica, Programa PIBIC/CNPq. Faculdade de Engenharia, Arquitetura e Urbanismo -UNIMEP, 2003. WIREMAN, TERRY. Developing Performance Indicators for Managing Maintenance. New York, Industrial Press Inc, 1998.