UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE PSICOLOGIA E DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
CAMINHANDO ENTRE PASSOS TRADICIONAIS E MODERNOS: UM OLHAR SOBRE A
SATISFAÇÃO CONJUGAL
Catarina Lucas Gonçalves da Silva
MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA
(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde/Núcleo de Psicologia Clínica Sistémica)
2008
UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE PSICOLOGIA E DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
CAMINHANDO ENTRE PASSOS TRADICIONAIS E MODERNOS: UM OLHAR SOBRE A
SATISFAÇÃO CONJUGAL
Catarina Lucas Gonçalves da Silva
Dissertação, orientada pela Professora Doutora Isabel Narciso Davide
MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA
(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde/Núcleo de Psicologia Clínica Sistémica)
2008
Resumo
O presente estudo enquadra-se no âmbito da Psicologia da Família, mais
especificamente, no âmbito da conjugalidade. Pretende-se estudar, numa amostra de 146
indivíduos portugueses: 1) as variáveis satisfação conjugal e a proximidade em função da
situação relacional (casamento / união de facto) e em função da religiosidade (não crente e
crente) e 2) a satisfação em diferentes áreas da vida conjugal em função da situação relacional
e em função da religiosidade. Os instrumentos utilizados foram a EASAVIC (Narciso e Costa,
1996) e a IOS (Aron, Aron e Smollan, 1992). A análise quantitativa de resultados foi
realizada com recurso ao software Statistical Package for Social Sciences (SPSS) 15.0 for
Windows, tendo-se concluído que: 1) não existem diferenças significativas face à proximidade
relativamente à situação relacional e religiosidade; 2) verificaram-se diferenças significativas
na satisfação conjugal relativamente à situação relacional, sendo esta maior na união de facto
e, relativamente à religiosidade, não se verificaram diferenças significativas.
Palavras-chave: Satisfação Conjugal, Proximidade, Casamento, União de facto e
Religiosidade.
Abstract
The current quantitative research is enclosed in the field of Family Psychology, mainly
in marital life. Our goals were to study in a sample of 146 portuguese individuals: 1) the
variables global marital satisfaction and closeness in the light of the relational situation
(marriage / cohabitation) and of the religiosity (non believer and believer) and 2) global
satisfaction in different areas of marital life in light of the relational situation and of the
religiosity. The following instruments were used: EASAVIC (“Evaluation of Satisfaction in
Areas of Marital Life Scale”; Narciso and Costa, 1996), IOS (Inclusion of Other in the Self
Scale; Aron, Aron and Smollan, 1992). The quantitative data analysis was performed using
the Statistical Package for Social Sciences (SPSS) 15.0 for Windows software, and it was
found that: 1) there were no significant differences concerning closeness in respect to relation
situation and in respect to religiosity; 2) significant differences concerning marital satisfaction
in respect to relational situation were found: higher levels were associated with cohabitation
and, in respect to religiosity, there were no significant differences.
Keywords: Marital Satisfaction, Closeness, Marriage, Cohabitation and Religiosity.
Agradecimentos
Ao meu querido pai e à minha querida mãe que sempre acreditam no meu valor e estão
sempre lá, quando mais ninguém está…
À minha Tia Mena, pelas conversas deliciosas, pela atenção, amor e carinho…
Às minhas amigas em geral e todas em particular:
Carolina Josefa…pela “união de facto” estudantil ao longo destes 6 anos de partilha
do mesmo tecto;
Carolina Amado…minha esperança, meu espelho de alma;
Carolina Fontes…companheira, carinhosa, a minha fonte de mimos;
Carolina Silva…a minha fonte de espontaneidade e de sonhos;
Carolina Correia…minha estabilidade, minha ouvinte;
Carolina Guilherme…muitas alegrias, gargalhadas e voz doce;
Joana Filipa…longe, mas sempre perto;
Eva Coelho…a esperança, a felicidade e palavras meigas;
Filipa Dias…aventuras, sonhos e concretizações;
Gonçalo Andrade…meu ouvinte diário, a minha ajuda
constante, a minha caixinha de segredos e sorrisos;
Filipa Gomes…sinceridade e apoio;
Isabelinha…pela nostalgia de tempos de inocência.
Aos meus colegas sistémicos e em particular à Ana Marcão, que ajudamo-nos
mutuamente neste longa fase de construção deste trabalho…
À Professora Isabel Narciso, pela mestria, apoio constante e honestidade…
À Professora Teresa Ribeiro, pelas palavras aconchegantes…
À Doutora Rita Francisco, pela preocupação e atenciosidade…
A todos os participantes que quiseram colaborar nesta investigação…
Muito Obrigada!
Índice
Introdução………………….…………………...….……….………………………………….7
1. Enquadramento teórico……….....…….…………………………………….…………...….8
1.1. O amor e a União Conjugal…….……………………………...…...……..…………….8
1.2. Satisfação e Qualidade Conjugal…………...…………...…………….…….………….9
1.2.1. Conceptualização de Satisfação e de Qualidade Conjugal……...………….…..10
1.2.1.1. A Satisfação Conjugal segundo Gottman e alguns autores....................11
1.3. Satisfação Conjugal: Casamento versus União de Facto………….…..………...….....12
1.4. Proximidade / Intimidade – ponto nodal da conjugalidade …..……...…….……….....15
1.5. Satisfação Conjugal e Religiosidade …………….….....…………….……...………...17
2. Processo Metodológico…………………………..……………….………………………..21
2.1.Desenho da Investigação………….…......…………………………...……………..….21
2.1.1. A Questão Inicial………..….………….…………………………..……………21
2.1.2. O Mapa Conceptual………...…….…….…………………….…………………21
2.1.3. Objectivos Gerais e Específicos….……...…….………………..……………….22
2.1.4. Questões de Investigação………….……...……….…………….………………23
2.1.5. Estratégia Metodológica………………………………..……………………….24
2.1.5.1. Processo de Selecção da Amostra……........……….…..……………….24
2.1.5.1.1. Caracterização da amostra em estudo……….….…………....24
2.1.5.2. Escolha e descrição dos Instumentos utilizados..…..……….…….……26
2.1.5.2.1. Questionário Geral…………...……..….…………………….27
2.1.5.2.2. Escala de Avaliação da Satisfação em Áreas da
Vida Conjugal (EASAVIC)……………..….………………..27
2.1.5.2.3 Escala de Inclusão do Outro no Self…………...………….…..28
2.1.5.3. Procedimento na recolha de dados…….…….….………………..…...…29
3. Apresentação dos Resultados………………..………………...……………………..…….30
3.1. Resultados globais……………………..……............………………………….…….30
3.2. Normalidade e Homogeneidade………………..…..………………………………...30
3.3. Diferenças entre grupos nas variáveis Satisfação Conjugal e Proximidade……..…...31
3.4. Análise descritiva dos resultados ao nível das áreas da vida conjugal……………....32
4. Discussão……..…………………………………………………………………………....34
Conclusões……………………......………………………………………...……..………….38
5. Referências Bibliográficas….…………………………………………………...…………40
Anexos
Anexo I – Protocolo de apresentação
Anexo II – Instrumentos utilizados
Apêndices
Apêndice I – Caracterização sócio-demográfica da amostra
Índice de Figuras
Figura 1 – Mapa conceptual do estudo……………………………………………….………22
Índice de Quadros
Quadro 1 – Distribuição da Amostra por Situação Relacional……………………………….25
Quadro 2 – Distribuição da Amostra por Religiosidade……………………….……………..26
Quadro 3 – Estatística descritiva da tendência central, Dispersão e Coeficientes de
Consistência Interna……………………………………………………………………..……30
Quadro 4 – Teste da Normalidade de Kolmogorov-Smirnov…………………………….…..30
Quadro 5 - Teste Wilcoxon-Mann-Whitney……………………..…………………………...31
Introdução
O presente estudo insere-se na área da Psicologia da Família, em geral, e da
Conjugalidade, em específico, nomeadamente dentro do projecto de investigação de Mestrado
Integrado (2007/2008) desenvolvido pelo Núcleo de Psicologia Clínica Sistémica da
Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa.
Este estudo debruça-se, especificamente, sobre a satisfação conjugal e a proximidade
dos indivíduos adultos casados ou em união de facto, tentando compreender, também, em que
medida a religiosidade afecta estes aspectos (satisfação e proximidade).
O amor e a União Conjugal estão em mudança: as taxas de nupcialidade têm vindo a
decrescer significativamente nos últimos anos, e as taxas de Divórcio a aumentar e, em
consequência deste facto, a prática das uniões informais tornam-se cada vez mais comuns. Por
este motivo, consideramos necessário que se desenvolvam investigações em torno desta
temática, de modo a perceber até que ponto as novas formas de família podem ser mais
satisfatórias ou não, o que de algum modo poderá permitir que se possa no futuro conhecer e
ajudar de forma mais eficaz os casais, quer a nível terapêutico, quer a nível preventivo.
Vários estudos têm demonstrado a associação entre satisfação conjugal e religiosidade,
realçando a importância dos psicólogos e psicoterapeutas estarem cada vez mais atentos às
teorias e investigações acerca da Religião e da Família, visto que pouca investigação tem sido
feita nesse sentido (Mahoney et al. 2001).
É importante realçar que este estudo insere-se numa abordagem sistémica, que
perspectiva o desenvolvimento das complexas redes humanas em sistemas, como um todo e
como partes individuais do todo – holons (Morin, 1994, citado por Narciso, 2001).
O trabalho está organizado em várias secções: 1) revisão de literatura e reflexão das
temáticas mais pertinentes para este estudo; 2) descrição do processo metodológico; 3)
apresentação dos resultados; 4) discussão dos resultados e 5) reflexões finais sobre as
principais conclusões deste estudo, limitações e possíveis implicações para a prevenção e para
a investigação.
1. Enquadramento Teórico
1.1 O amor e a União Conjugal
“ (…) Não se ama alguém que não ouve a mesma canção (…)” (Rui Veloso)
Existem muitas teorias acerca da escolha do parceiro(a). Algumas destas teorias
centram-se em aspectos da relação social, como a procura de uma pessoa semelhante que não
cause muito stress (teoria do equilíbrio, Heider; in Espina, 1996); as vantagens e
desvantagens que implica uma relação (teoria do intercâmbio de Thibaut & kelley, 1959; in
Espina, 1996); a igualdade desse intercâmbio (teoria da igualdade de Walster et al. 1978; in
Espina, 1996) e a complementaridade das necessidades mútuas (teoria das necessidades
complementares de Winch, 1958,1967; in Espina, 1996). Outras destacam o processo de
eleição do parceiro(a) (Espina, 1996).
“O casal é a união de duas famílias que se inter-influenciam e criam uma rede
complexa de subsistemas” (Haley, 1986; in Relvas & Alarcão 2002, p.197). Gullota (1993) e
Satir (1980) (in Relvas & Alarcão 2002, p.197) referem-se ao casal afirmando que “em
qualquer casal existem três partes, eu, tu e nós, que se possibilitam e facilitam mutuamente”.
Segundo Satir (1980; in Narciso, 1994) é o modo como estas três partes funcionam que
possibilita a função do Amor. Deste modo, a identidade do casal implica que a relação seja
sentida como privilegiada, diferenciando-se das relações extra-familiares de cada um dos
elementos, permitindo, paralelamente, que no sistema intra-familiar se diferenciem um do
outro. Logo, “a união conjugal é um processo que envolve duas pessoas, procurando o
equilíbrio entre proximidade e distância; entre desejo de pertença e de autonomia, equilíbrio
esse que exige uma permanente adaptação e mudança face ao outro” (Whitaker, 1989, in
Relvas & Alarcão 2002, p.197).
Para que serve então o casal? “O casal serve para fazer durar o amor” (Pasini, 1996; in
Relvas & Alarcão 2002, p.198). A união amorosa assenta num contrato de relação1, não
escrito, composto de expectativas e promessas individuais, conscientes e inconscientes;
assenta num “jogo” interactivo, unindo os parceiros nas áreas concordantes (Relvas &
Alarcão 2002).
1
O contrato de relação é baseado no acordo e compromisso de ambos os elementos do casal sobre o modo de
funcionamento do novo sistema, devendo, por isso, ser dinâmico e flexível, a fim de poder sofrer as necessárias
revisões e alterações, em função dos acontecimentos que ocorrem ao longo do ciclo de vida da relação (Granger
1980, in Narciso, 1994).
Afinal, o que é o Amor? Muitos poetas procuraram dar a sua resposta, contudo os
cientistas insistem em “objectivar” as qualidades do amor, assim como as suas características,
componentes e vicissitudes, surgindo, assim, as teorias do amor2.
Vários autores (Sternberg, & Barnes, 1988; in Relvas & Alarcão 2002) referem como
componentes essenciais do amor, a paixão, a intimidade e o compromisso. A paixão é
componente que se refere aos elementos de carácter motivacional, conducentes ao romance e
atracção física e sexual. Inclui atributos cognitivos3, emocionais4 e comportamentais5 (idem,
1988). A intimidade inclui revelação mútua de informações próprias, escuta recíproca de
confidências, preocupação e cuidados com o outro, conforto com a proximidade e com o
contacto físico, amizade, compreensão mútua, apoio emocional, bem-estar com o outro, etc
(idem, 1988). O compromisso é uma componente de carácter cognitivo que parece estar
fortemente associado quer à permanência e continuidade da relação amorosa quer à
estabilidade e à satisfação na relação. De acordo com Sternberg e Barnes (1988, in Relvas &
Alarcão 2002), o compromisso envolve a decisão de que se ama o outro e o desejo de o
continuar a amar.
.
1.2. Satisfação e Qualidade Conjugal
"Para fazer uma obra de arte não basta ter talento, não basta ter força, é preciso
também viver um grande amor.” (Wolfgang Amadeus Mozart)
A natureza das relações amorosas é um tema que atravessa fronteiras temporais e
geográficas. Num período de transformações sociais constantes poder-se-ia pensar que
haveria um decréscimo do interesse das pessoas pelos casamentos e pelas relações em geral,
visto que as taxas de divórcio atingem valores próximos dos 50%. Mas tal não se verifica,
como aliás o comprovam as elevadas taxas de recasamento (Costa, 1994; in Crespo 2007). A
escolha por uma “vida a dois” (casados ou em união de facto) tem a ver com a vivência da
2
Como exemplo das mais conhecidas teorias do amor referem-se: os estilos de amor de J.Lee (1988); os tipos de
amor de Hatfield (1988); a teoria do amor triangular e os tipos de amor de Sternberg (1989). Na sociologia,
Badinter (1986), Alberoni (1987; 1992), Giddens (1995) são nomes a destacar. Debruçar-me-ei apenas sobre a
teoria de Stenberg & Barnes (1988) por ser das teorias mais exploradas na literatura. Para aprofundamento sobre
o tema, consultar Narciso (1994).
3
Inclui: pensamento intrusivo, idealização do outro ou da relação, desejo de conhecer o outro e de ser conhecido,
etc. (Narciso, 2004)
4
Inclui: atracção pelo outro (sobretudo atracção sexual), desejo de união completa e permanente, desejo de
reciprocidade, ansiedade, insegurança, actividade fisiológica intensa, etc. (Narciso, 2004)
5
Inclui: estudar o outro, servir o outro, manter proximidade física, acções para determinar os sentimentos do
outro, etc. (Narciso, 2004).
intimidade, pois esta é responsável pelo aumento dos níveis de auto estima e de auto
confiança, as quais são consideradas ferramentas essenciais para a resiliência6.
O amor e a conjugalidade aparecem em vários estudos como sendo, de facto, a fonte
de felicidade suprema. No entanto, o bem-estar que o casamento proporciona está dependente
do nível de satisfação, entendendo-se esta como uma avaliação subjectiva sobre a
conjugalidade (Thompson, 1988; in Narciso 1994).
1.2.1 Conceptualização de Satisfação e de Qualidade Conjugal
Qualidade e satisfação relacional são dois termos utilizados na literatura, por vezes,
indistintamente. Narciso (2001) considera que, do ponto de vista do investigador, a satisfação
só pode ser avaliada através da avaliação pessoal e subjectiva que o casal faz da sua relação,
enquanto que a qualidade se refere ao desempenho da e na relação, podendo ser avaliada a
partir de critérios definidos a priori pelo investigador, naturalmente, resultantes de estudos
empíricos realizados sobre relações conjugais.
A satisfação tem sido estudada por vários investigadores, interessados por este
constructo e suas relações com outros constructos das relações, como a funcionalidade, o
amor, a intimidade, etc. (Narciso & Costa, 1996). No entanto o modelo teórico a que será
dada maior relevância visto que servirá como base deste estudo é o Modelo de Satisfação
Conjugal proposto por Narciso (2001). Este modelo apresenta uma concepção sistémica
complexa da conjugalidade, em que é feita uma nova conceptualização de diversos conceitos
fundamentais, de modo a que haja uma melhor compreensão dos processos subjacentes à
satisfação conjugal.
Segundo Narciso (2001), a qualidade e a satisfação conjugal é influenciada por
Factores Centrípetos, Factores Centrífugos e Factor Tempo ou Percurso de Vida que atravessa
os dois anteriores. Os Factores Centrípetos referem-se aos que geram e são gerados pela
relação, e incluem processos operativos ou comportamentais, como, a comunicação, o
conflito, resolução de conflitos e controlo relacional. Incluem também processos cognitivos,
que, segundo Narciso (2001) e Baucom et al. (1989; 1996, in Narciso 2001), consideram que
estes envolvem cinco classes de cognições fundamentais para a qualidade e satisfação
conjugal – pressupostos e padrões, percepções, atribuições e expectativas. Por último incluem
6
Resiliência significa o desenvolvimento da capacidade para se lidar construtivamente com as adversidades da
vida quotidiana.
os processos afectivos, como, o amor, a intimidade e o compromisso7. Os Factores
Centrífugos, mais periféricos relativamente ao casal mas fortemente influentes, dizem
respeito, por um lado, à relação com contextos distais, tal como a família de origem, o
trabalho e a rede social, e, por outro lado, a características individuais como, por exemplo,
características da personalidade, padrões de vinculação, competências sócio-afectivas, e
aspectos demográficos (sexo, idade, estatuto sócio-económico, etc.). O Factor Tempo ou
Percurso de Vida remete para o tempo de duração da relação e para as etapas normativas e
situações não normativas que o casal atravessa ao longo do ciclo de vida. A temporalidade é
um conceito multidimensional que engloba vários aspectos que podem influenciar muito a
satisfação conjugal (Narciso, 2001).
A avaliação de todos estes factores permite, segundo Narciso (2001), o acesso à
satisfação conjugal global. No entanto, é fundamental não adoptar uma visão dicotómica da
problemática da satisfação mas antes uma perspectiva dialéctica entre satisfação e
insatisfação, uma vez que ambas coexistem. Portanto, não é possível analisar a satisfação sem
considerar a insatisfação (Gottman & Silver 2001; in Narciso, 2001).
1.2.1.1 A Satisfação Conjugal segundo Gottman e vários autores
De acordo com Gottman & Silver (2001), os casais felizes conseguem, ao longo do
tempo, estabelecer uma dinâmica que impede que os seus pensamentos e sentimentos
negativos anulem os pensamentos ou sentimentos positivos, ou seja, são casais
emocionalmente felizes. Quanto mais um casal for emocionalmente inteligente, mais capaz é
de se compreender, honrar e respeitar mutuamente e ao seu casamento. A inteligência
emocional é uma capacidade que, pode ser ensinada a um casal (Gottman & Silver 2001; in
Gameiro 2007). Gottman (2001; in Narciso 2001) também acrescenta que nos casais felizes
existe uma profunda amizade e é através desta amizade, uma constante nos detalhes mínimos
e não apenas limitada a grandes momentos, gestos ou afirmações, que a relação se mantém
apaixonada.
Quando se fala em investigação sobre o casamento e os seus processos, a procura de
uma teoria necessita de ser guiada por duas questões: a questão do que é que disfuncional
num casamento e a questão do que é funcional, isto é, o que é que os casais cujos casamentos
funcionam de modo satisfatório, estão a fazer de diferente? (Gottman, 1998).
7
Descritos no ponto 1.1. do enquadramento teórico.
Não existem dois casamentos iguais mas, Gottman (2001; in Gameiro 2007) considera
que, sem o saberem, estes casais são semelhantes em sete princípios: o 1º princípio refere-se à
ampliação dos Mapas de Amor; o 2º princípio, à alimentação da ternura e da admiração; o 3º
princípio refere-se ao casal virar-se um para o outro em vez de se virarem de costas; o 4º
princípio refere-se ao deixar influenciar-se pelo seu parceiro; o 5º princípio refere-se à
resolução dos problemas com solução; o 6º princípio refere-se ao ultrapassar o impasse e o 7º
princípio refere-se à construção de um significado partilhado. Os casamentos infelizes, por
seu turno, falham em pelo menos um dos princípios e, frequentemente, em muitos deles.
Segundo o autor, se se seguirem estes sete princípios, o casamento terá sucesso (Gottman &
Silver, 2001).
Do ponto de vista da insatisfação conjugal, Gottman & Levenson (1985) referem que
esta é preditiva da instabilidade na relação matrimonial e de stress na família. Esta
insatisfação traz consequências negativas na saúde física e psicológica de ambos os parceiros,
assim como, na saúde mental e na estabilidade emocional das crianças. Criar uma técnica que
permita prever se os casamentos são bem sucedidos ou mal sucedidos, é de grande
importância para a compreensão da satisfação conjugal ao longo do tempo, assim como, para
a identificação de casamentos que tenham um elevado risco de virem a ter um futuro instável
e stressante, junto do seu parceiro(a).
1.3. Satisfação Conjugal: Casamento versus União de Facto
"O casamento é um livro cujo primeiro capítulo é escrito em verso e os demais, em
prosa." (Beverly Nichols)
“O casamento é definido como uma parceria sexual, económica e emocional entre um
homem e uma mulher e que é socialmente e legalmente aprovado” (Ambert, 2003, p.2).
O que é que o casamento propícia ao bem-estar dos casais? Vários estudos revelam
que, na população casada, o nível de mortalidade é menos elevado, e o nível de bem-estar é
mais elevado do que na população não casada: menos casos de problemas de saúde mental,
mais indicadores positivos de bem-estar psicológico e menos indicadores negativos tais como
a depressão e ansiedade. Isto vai de encontro ao estudo de Gottman & Notarius (2002), que
revela que existem vários determinantes do bem-estar da família em consequência do tipo de
interacções existentes no casamento. Verificou-se que existe uma forte ligação entre estar
casado e ter uma boa saúde e maior longevidade. Isto está também associado a um melhor
funcionamento do sistema imunitário, cardiovascular, etc. “O casamento parece, então,
assumir funções protectoras, uma vez que a ligação afectiva a alguém significativo e a
consequente relação de intimidade são uma fonte de apoio emocional, o que fertiliza a autoestima e a autoconfiança, “ferramentas” essenciais para lidar com o stress” (Narciso, Costa &
Prata, 2002, p.68). Contudo, se considerarmos as elevadas taxas de insucesso conjugal,
facilmente percebemos que a associação entre casamento e bem-estar se restringe aos casais
felizes8. As pessoas que não estão felizes com o casamento parecem ser ainda mais
vulneráveis do que as divorciadas a problemas de saúde física ou mental.
Apesar de todas estas considerações acerca do casamento, alguns investigadores
consideram que o matrimónio enquanto instituição se encontra em crise. Esta afirmação é
baseada numa elevada percentagem de divórcios, na preferência por “viver juntos” sem a
formalidade do casamento e na elevada incidência de monoparentalidade (Ribeiro, 2002). Nas
últimas décadas, registou-se uma evolução acentuada das modalidades de formação do casal e
de constituição da família. Enquanto que no passado o casamento marcava a passagem do
tempo de juventude na família de origem para a entrada na vida adulta, actualmente, os jovens
atravessam esta fase de forma mais progressiva e contínua. “A vida a dois começa, muitas
vezes, desde os primeiros encontros que fixam, desde logo, um quadro de mudanças. É,
muitas vezes, a regularidade das relações sexuais que leva à coabitação9” (Relvas & Alarcão,
2002, p.204).
Afinal, o que é que significa uma união de facto/coabitação? “A União de facto ou
coabitação, é definida como um casal que vive numa relação emocional e sexual sem estarem
casados” (Williams et al 2006, p.149).
Williams et al. (2006) apontam quatro razões para o crescimento da união de facto: 1)
Tolerância Social – noutros tempos eram apenas moralmente aceites as relações sexuais
dentro do casamento. Hoje em dia, os valores morais mudaram, e muitas pessoas olham para
as relações sexuais entre um casal, quer estejam casados ou não, como sendo um
comportamento permissivo; 2) Igualdade feminina – muitas mulheres, hoje em dia, trabalham
e são economicamente independentes e não precisam de depender de um casamento ou de um
marido como suporte financeiro; 3) Impermanência do casamento – devido às altas taxas de
divórcio, faz com que o casamento seja uma alternativa.
Tanto os parceiros que estão casados e os que vivem em união de facto, parecem
demonstrar uma visão idêntica da concepção de casal. O modo de vida é semelhante, estando
8
Esta temática está referenciada no ponto 1.2.1.1.
Ao longo do enquadramento teórico aparecerá a palavra coabitação ou união de facto, mas que se referem à
mesma situação relacional.
9
um dos cônjuges no plano activo profissional, respeitando sempre a individualidade do
parceiro. As maiores diferenças são sentidas, ao nível das uniões de facto, pela recusa do
“peso” da institucionalização e das tarefas domésticas (rituais próprios do casamento), pondo
em causa a valorização íntima quer dos laços conjugais quer da definição de casal enquanto
tal (Relvas & Alarcão, 2002).
Muitos coabitantes acreditam que a união de facto vai fornecer uma habilidade para
escolher um melhor parceiro para o casamento. Contudo, tem sido constantemente
demonstrado que comparando casais que não coabitam, com casais que coabitam antes do
casamento, existe uma taxa muito elevada de separação do casal e divórcio, naqueles que
escolheram coabitar antes do casamento (Cohan & Kleinbaum, 2002). Quais as explicações
para a união de facto ser um maior risco para a dissolução do casamento / divórcio? Uma das
explicações é que os casais que escolhem coabitar em vez de se casar, percepcionam-se a si
próprios ou a relação com níveis pobres de felicidade a longo prazo e compromisso e aqueles
que eventualmente se casam, podem continuar a ter problemas e baixa qualidade nas relações,
comparativamente aos casais que não sentiram necessidade de testar a sua relação (Thomson
& Colella, 1992). Ou seja, o facto da coabitação envolver maior autonomia do que
interdependência, pode fazer com que as pessoas se tornem menos convencionais e diminuam
o seu compromisso para manterem uma relação amorosa de longa duração (Cohan &
Kleinbaum, 2002). Uma outra explicação é que as pessoas que coabitam têm maior
probabilidade de possuir características que também são factores de risco para o divórcio
assim como, divórcio dos pais, nível baixo de educação, ser jovem, gravidez, etc. Os jovens
adultos com menor nível de religiosidade e com uma maior aceitação a nível do divórcio, têm
maior probabilidade de entrar numa relação de união de facto (Cohan & Kleinbaum, 2002).
No estudo de Newcomb (1986), verificou-se, que os coabitantes tem muito menos
probabilidade de virem a ter filhos e tem maior probabilidade de fazerem abortos do que os
não coabitantes. Estes resultados sugerem, que além de estes serem mais liberais, são menos
religiosos do que os não coabitantes. Nos estudos de Call and Heaton (1997; in Ambert 2003),
verificou-se que os casais que coabitam são menos religiosos do que aqueles que casam sem
coabitação prévia. Existe uma correlação entre religião e satisfação conjugal assim como
estabilidade. Se ambos os parceiros são menos religiosos, menos comprometidos um com o
outro e com a instituição do casamento e depois acabam por se casar, não é surpreendente que
estejam expostos a um risco elevado de divórcio. Experienciam um risco triplo: baixa
religiosidade, baixo compromisso e coabitação prévia (Ambert, 2003).
Os resultados de estudos que envolvem a resolução de problemas no casal sugerem
que a coabitação antes do casamento está associada a uma comunicação mais destrutiva
durante o casamento, que leva a que seja menos provável encontrar uma solução satisfatória
que pode, de facto, contribuir para a deterioração do casamento ao longo do tempo. Assim
como, os resultados que envolvem suporte social, sugerem que os casais que coabitam antes
do casamento, são menos eficazes em solicitar suporte, assim como fornece-lo aos seus
companheiros (Gottman, 1994; in Cohan & Kleinbaum, 2002).
Contudo, Brown (2003), num estudo realizado, encontrou diferentes resultados acerca
da qualidade da relação entre os indivíduos casados e os que vivem em união de facto. O
objectivo principal do estudo era verificar se a formalização da coabitação alterava a
qualidade da relação. Verificou que o casamento está positivamente associado com a
qualidade da relação. Os coabitantes que posteriormente se casam mostram mais felicidade e
menos instabilidade nas suas relações, menos desacordos e estratégias de resolução de
problemas caracterizadas por discussões mais calmas, comparando com os parceiros que
ainda coabitam. Contudo, os coabitantes que têm intenção de se casar, vivenciam níveis de
satisfação conjugal semelhantes aos coabitantes que já se casaram, podendo concluir-se que a
união formal não implica necessariamente um aumento na qualidade da relação (Brown,
2003).
1.4. Proximidade / Intimidade – ponto nodal da conjugalidade
A intimidade tem vindo a receber, nos últimos anos, um interesse crescente na área das
relações humanas (Crespo, Narciso, Ribeiro & Costa, 2006).
Narciso (2001), a partir de uma extensa revisão de literatura, define intimidade como
um conjunto de processos afectivos, cognitivos e comportamentais dinâmicos e entrelaçados
(partilha, auto-revelação, apoio, confiança, mutualidade, interdependência e sexualidade),
pelos quais o casal se conhece, apoia, se “reconstrói” no outro e se torna
“inter(in)dependente” (relação entre autonomia e pertença, entre o “eu”, o “tu” e o “nos”). É
um processo mutissistémico, conceptualizado como uma história de processos em interrelação. “Assim, e recorrendo ao conceito de holon (Minuchin, 1981; in Narciso, 2002),
poderemos conceber a intimidade como uma parte (on) relativamente ao todo (holos) que é a
conjugalidade (sendo esta uma parte do todo que é a família), e um todo constituído por partes
em inter-relação que são os vários processos inerentes à intimidade” (Narciso, 2002, p.52).
Um dos processos mais importantes da intimidade e da saúde emocional e física é o
apoio emocional (envolve a compreensão, a valorização, o respeito, o cuidar, o dar atenção, o
proteger, o amar e o preocuparmo-nos com o outro). Implica que nos descentremos de nós
mesmos e que escutemos activa e empaticamente o parceiro. Uma das principais queixas em
situações de insatisfação e de rompimento conjugal é precisamente a falta de apoio
emocional.
Contudo, é frequente a proximidade surgir como sinónimo de intimidade, o que poderá
contribuir para a imprecisão conceptual relativa a estes dois conceitos. “A proximidade é a
experiência de contacto com o outro, experiência caracterizada pelas qualidades de “estar
junto com” e “ser parte” dessa outra pessoa. Em contraste, a intimidade é o processo de se
conhecer a si próprio na presença do outro” (Snarch, 1991; in Crespo, 2007, p.139). A
proximidade será, tal como a intimidade, um constructo de carácter relacional mas não tão
rico como esta. Podemos dizer que a proximidade se refere, sobretudo, ao que cada elemento
do casal considera ser o “nós”, enquanto que a intimidade abrange os três níveis relacionais –
o “eu”, o “tu” e o “nós” (Crespo, 2007).
Neste trabalho, decidimos seguir as directrizes de Aron e Aron (1986) segundo o
modelo de Inclusão do Outro no Self. É um modelo que tem vindo a ser trabalhado com
vários colaboradores (Aron, Aron, MacLauglin-Volpe, Mashek, Lewandowisk & Wright,
2004) e postula que, nas relações de proximidade, os outros tornam-se em certa medida parte
do self, uma vez que 1) uma das motivações principais do ser humano é expandir o seu self e
2) uma das formas, através da qual essa expansão ocorre, é pela inclusão de partes dos que
nos são próximos no nosso eu. Consequentemente, cada pessoa inclui os recursos,
perspectivas e identidades do self do outro, no decorrer de uma relação próxima. Esta
motivação geral para expandir o self, frequentemente leva ao desejo de entrar e manter uma
relação próxima particular porque, as relações próximas são especialmente satisfatórias e
necessárias e é um meio humano para a auto-expansão (Aron et al, 2004).
Os recursos do outro incluem, bens materiais, conhecimento e bens sociais; um
indivíduo, ao identificar estes recursos no cônjuge, apreende-os também para si,
considerando-os como seus (Aron, Mashek & Aron, 2003).
As perspectivas referem-se a formas de experienciar o mundo a partir do ponto de
vista do outro – atribuições e enviesamentos cognitivos (Aron, Mashek & Aron, 2003).
As identidades referem-se às características que distinguem, a pessoa de outras
pessoas e objectos, características que situam a pessoa num espaço físico e social. Ao incluir
as identidades do outro, segundo este modelo, as características da personalidade e as
memórias podem difundir-se com as do cônjuge (Aron, Mashek & Aron, 2003).
De um ponto de vista motivacional, o benefício principal de inclusão do outro no self é
o aspecto dos recursos; a perspectiva e a identidade seguem um efeito colateral que, muitas
vezes é inconsciente; é uma reestruturação do sistema cognitivo. O processo ocorre desta
forma: a) as pessoas estão motivadas a incluir o outro no self de modo a incluir os recursos do
outro; b) quando a relação está a ser estabelecida, cada parceiro faz com que os seus próprios
recursos estejam disponíveis para o outro; c) isto leva a uma reorganização cognitiva que faz
com que o recursos do outro pareçam incluídos no self ; d) isto leva a tomar alguma medida
relativamente às perspectivas e identidades do outro e e) ocorre um processo recíproco
contínuo, fortalecendo a experiência consciente e inconsciente de inclusão dos recursos do
outro no self, que faz com que voltemos de novo ao passo b (Aron et al. 2004).
Contudo, também é importante realçar a experiência de sentir-se “demasiado
próximo” do parceiro (a), ou seja, quando existe uma discrepância entre a proximidade real
que um parceiro sente pelo outro e a proximidade que deseja relativamente ao outro. As
pessoas que estão tão próximas do seu parceiro como desejam estar, apresentam uma elevada
satisfação conjugal. No entanto, a pessoa que deseja menos proximidade relativamente ao seu
parceiro, apresenta uma menor qualidade da relação do que uma pessoa que deseja mais
proximidade. Este padrão é encontrado num conjunto variado de medidas da qualidade da
relação que incluem, satisfação, compromisso e amor. Quando o outro é incluído em demasia
no self, então o seu controlo pessoal e identidade estão ameaçados (Aron et al, 2004).
Percebemos, então, que a proximidade é uma parte da construção da qualidade da
relação conjugal (Moore et al. 2001).
1.5. Satisfação Conjugal e Religiosidade
“A religião é uma das dimensões mais importantes, senão a mais importante, da
pessoa humana. Ela influencia o sentido da vida e da morte, o modo como se encara o mundo
e os homens, as alegrias e o sofrimento, o modo como se vive a vida familiar10, a tolerância
ou o racismo, a política e a profissão” (Oliveira, 2000, p.5). Afecta toda a dimensão de um
casamento, desde a maneira como se interpreta e vive a sexualidade, a comunicação, a
resolução de conflitos, o poder de decisão, o compromisso e a parentalidade (Hunler &
10
Por exemplo, a atitude face ao divórcio, ao aborto, ao número de filhos, etc. (Oliveira, 2000).
Gençoz, 2005). A religião pode ser decisiva no uso ou não uso de drogas, condiciona a
educação familiar, está presente nos ritos de nascimento, de iniciação da adolescência, da vida
adulta e na velhice. Pode dizer-se que, para quem é religioso, não há aspecto nenhum da vida
pessoal/comunitária que não esteja influenciado pela religião (Oliveira, 2000).
Stack & Eshleman (1998) constatam que poucos estudos incluem a religião e a saúde
nos seus modelos, no entanto estes factores, quando incluídos, muitas vezes mostram grandes
efeitos na felicidade conjugal.
Muitos investigadores sublinham a importância da associação entre a religiosidade e
satisfação conjugal. As semelhanças das crenças religiosas entre os parceiros, ler a bíblia ou
outros materiais religiosos, rezar, frequentar as missas nas igrejas ou outros serviços
religiosos, verificou-se que estão relacionados com uma baixa taxa de divórcio (Hunler &
Gençoz, 2005).
No estudo de Mahoney (2001), a hipótese de que um maior nível de religiosidade está
ligado a uma menor taxa de divórcio, tem recebido uma atenção considerável. Os indivíduos
que afirmam seguir fielmente uma religião têm menos probabilidade de viverem um processo
de divórcio do que aqueles que afirmam que não são crentes em “nenhuma religião” quando
perguntados acerca das suas afiliações religiosas. Foi concluído na sequência do estudo de
Mahoney (2001) de que um maior nível de religiosidade está relacionado com uma maior
satisfação conjugal, com maior compromisso e mais competências de comunicação.
Como é que a religiosidade pode contribuir para uma maior satisfação conjugal,
através das práticas religiosas? (Fiese & Tomcho, 2001).
Num estudo de Dudley & Kosinski (1990; in Butler et al. 2002), o objectivo principal
era estudar como é que a satisfação conjugal era influenciada por diversas variáveis religiosas,
como: a ideologia, os rituais e as experiências religiosas e verificou-se que as variáveis mais
salientes associadas com satisfação conjugal, consistem naquelas que estão relacionadas com
a partilha de actividades de culto, como frequentar a igreja, cultos familiares e orações. Os
rituais e as actividades religiosas11 podem influenciar o funcionamento do casamento. Estes
rituais fornecem aos casais métodos concretos para se aperceberem dos seus erros, para
pedirem o perdão um do outro e para prevenir a construção de hostilidades e ressentimento no
casal. Também envolvem a oportunidade para os casais desenvolverem a partilha de valores e
de fornecer suporte mútuo. Isto ajudará a construir intimidade e reforçar as crenças
11
Estas actividades religiosas incluem: rezar em conjunto; conversar acerca de como viver com a vontade de
Deus; discutir questões espirituais ou o papel de Deus no casamento e participar em serviços religiosos mais
formais e tradicionais (Mahoney, 2001)
individuais de cada um, sempre com o objectivo de fortalecer o compromisso do casamento
(Mahoney, 2001).
Ambos os parceiros que vão com regularidade à missa têm um menor risco de divórcio
relativamente ao grupo das pessoas casadas que não o fazem. Dado que o divórcio é um
evento menos normativo para as pessoas mais religiosas, a dissolução do casamento pode ser
uma grande crise para estas famílias (Mahoney & Tarakeshwar, 2005). O envolvimento
religioso é um importante preditor da satisfação conjugal, compromisso, felicidade,
ajustamento e de um casamento a longo prazo. É, então, sugerido que os casais que praticam a
sua fé podem internalizar normas comportamentais ensinadas nas comunidades religiosas, que
são consistentes com o compromisso do casamento. As práticas religiosas públicas ou
privadas também podem oferecer um significado de coping positivo para lidar com
dificuldades e perdas, em tempos de crise (Weaver et al, 2002). Existe, então, aparentemente
uma possível ligação entre esperança, prática religiosa e conflitos no casal (Butler et al.
2002).
No entanto, no estudo de Hunler & Gençoz (2005), a religião e as resoluções de
problemas no casamento, não estão relacionadas, isto é, a religiosidade não aumenta as
habilidades de resolução de problemas no casamento. É importante realçar que a religiosidade
no estudo de Hunler & Gençoz (2005), prevê a satisfação conjugal mas apenas quando as
crenças são comuns ao casal.
Na investigação de Butler et al (2002), as orações para os casais religiosos, facilitam a
reconciliação e a resolução de problemas. Verificou-se, então, que as orações envolvem uma
experiência de relacionamento com Deus; diminuem as emoções hostis e reduzem a
reactividade emocional; aumentam a orientação para a relação e para os comportamentos dos
parceiros; facilitam a empatia; aumentam o foco de auto-mudança e encorajam a
responsabilidade do casal para a reconciliação e a resolução de problemas. Então, conclui-se
que, para os casais religiosos, a oração parece ser uma auto-intervenção comum durante os
conflitos, usado com algum nível de sucesso.
Uma abordagem para reduzir os problemas do casamento e do divórcio é fornecer
cuidados preventivos enquanto o casal está nas fases iniciais da construção da relação. A
preparação para o casamento é uma experiência importante, em que são exploradas áreas
como a comunicação, o compromisso, a resolução de conflitos, filhos, fé e valores (Weaver et
al 2002). Num estudo de Hahlew et al. (1998; in Weaver et al., 2002) foi feita uma
comparação entre casais católicos que participaram num programa de 15 horas de preparação
para o casamento com um grupo de católicos que não recebeu nenhuma intervenção. O
principal objectivo do programa era ensinar competências de comunicação, de gestão de
conflitos e de aumentar as dimensões positivas do relacionamento. Três anos depois dos
casais terem passado por este programa de preparação para o casamento, os participantes
apresentavam um melhor ajustamento matrimonial, uma menor probabilidade de ocorrer um
divórcio e um progresso ao nível da comunicação, comparativamente aos casais que não
participaram neste programa. A taxa de divórcio dos casais que não tiveram preparação para o
casamento foi mais do que o dobro da taxa do que aqueles que participaram no programa
(Weaver et al, 2002).
Mahoney et al (1999) propuseram que a religião pode ter efeitos proximais e distais na
satisfação conjugal. As variáveis proximais referem-se à vivência do casal nas experiências
religiosas, rituais religiosos e a celebração dos feriados religiosos. Estão ligadas à satisfação
conjugal porque proporcionam oportunidades aos casais, para em conjunto, participarem nas
várias actividades religiosas. As variáveis distais dizem respeito às crenças e práticas
religiosas individuais.
A religiosidade opera de certo modo, de uma forma construtiva. Já vimos que a
satisfação conjugal, pode estar positivamente relacionada com a religiosidade. Logo, é
importante considerar as formas específicas em que a religião pode fortalecer o
funcionamento do casamento. Nesta perspectiva, as instituições religiosas não transmitem
apenas mensagens punitivas criadas para evitar a dissolução do casamento mas também
transmitem mensagens de suporte, feitas para enriquecer as relações matrimoniais (Mahoney,
2001).
Noutra perspectiva, Sullivan (2001) refere que a religiosidade está relacionada com a
satisfação conjugal através das atitudes e maneiras de estar na vida do casal. Os casais que são
mais religiosos têm uma maior probabilidade de terem atitudes mais conservadoras face ao
divórcio e maiores níveis de compromisso na relação. Contudo, no seu estudo efectuado com
casais recém casados, verificou que o facto de um casal ser mais religioso não leva
consequentemente a uma maior satisfação na relação conjugal. Também verificaram que os
jovens maridos que têm mulheres mais religiosas estão menos satisfeitos com a relação do
que os maridos cujas mulheres não são tão religiosas (Sullivan, 2001).
2. Processo metodológico
Este estudo constitui um estudo exploratório baseado numa amostra normativa de
indivíduos adultos (casados ou em união de facto) e baseia-se numa abordagem quantitativa,
ou seja, em técnicas de recolha, apresentação e análise de dados que permitiram a sua
quantificação e o seu tratamento através de métodos estatísticos.
As abordagens quantitativas são caracterizadas por um raciocínio hipotético-dedutivo
que, procurando respeitar a objectividade, pretende estabelecer factos, demonstrar relações
entre variáveis, verificar teorias e dados, generalizar e prever fenómenos, a partir da recolha
planeada e estruturada dos dados e do respectivo tratamento quantitativo, sendo que a
respectiva análise decorre, geralmente, no final da recolha dos mesmos (Cuba & Lincoln,
1994, cit. por Ribeiro, 2002).
2.1. Desenho da Investigação
2.1.1. A Questão Inicial
O fio condutor da minha investigação pode traduzir-se na seguinte questão: “Que
semelhanças e diferenças existem ao nível da satisfação conjugal e da proximidade /
intimidade, em casais em união de facto e casamento, tendo também em conta a sua
religiosidade?”. A partir desta questão, decorreu a fase exploratória do estudo: pesquisa e
revisão bibliográfica, escolha dos instrumentos, recolha da amostra, análise dos resultados,
discussão e as conclusões do estudo.
2.1.2. O Mapa Conceptual
O mapa Conceptual deve explicar – gráfica ou narrativamente – quais os principais
construtos ou variáveis a investigar e as relações entre eles, dando, deste modo, informação
sobre que dados devem ser recolhidos, e como é que as análises devem ser realizadas. Além
de que, esta mapa deve ter sempre subjacente uma lógica sistémica, complexa e dinâmica dos
diversos construtos.
À medida que os dados vão sendo recolhidos, o mapa conceptual pode ser
reformulado, adquirindo maior precisão, considerando relações mais significativas,
reconstruindo relações, podendo, assim, influenciar a própria recolha de dados (Miles &
Huberman, 1985, cit in, Narciso, 2001).
Partindo da questão inicial que formulámos actualmente para duas variáveis centrais –
a Satisfação Conjugal e a Proximidade / Intimidade –, pretendemos perceber como é que
estas duas variáveis se relacionam com as variáveis situação relacional e religião.
Satisfação
Conjugal
Proximidade
/ Intimidade
Situação relacional
(União de facto /
casamento)
Religiosidade
(não crente e crente)
Figura 1: Mapa conceptual do estudo
Neste estudo, adoptamos o conceito de Satisfação conjugal12 de Thompson (1988, cit.
por Narciso 2001), de acordo com a qual, a satisfação conjugal implica uma avaliação pessoal
e subjectiva do casamento.
O conceito de Proximidade13 utilizado neste estudo é o de Aron et al. (2003). O
modelo de Aron et al. (2003) postula que numa relação próxima, cada um inclui no self, até
certo ponto, os recursos, perspectivas e identidades do outro.
2.1.3. Os Objectivos Gerais e específicos
Este estudo insere-se na temática da conjugalidade, tendo como objectivo geral:
12
A Satisfação Conjugal é definida por nove áreas da vida conjugal, sendo que quatro dessas áreas estão ligadas
à afectividade da relação (amor): Sentimentos e Expressão de sentimentos; Sexualidade, Intimidade e
Continuidade da relação e as outras cinco áreas ao funcionamento da relação: Funções, Tempos Livres;
Autonomia / Privacidade; Comunicação e Conflitos e Relações extra-familiares.
13
Para uma melhor compreensão do conceito de Proximidade, vide ponto 1.4. do enquadramento teórico.
•
Analisar a satisfação e a proximidade conjugal de participantes casados e em união de
facto, em função da religiosidade (não crente e crente).
A partir deste objectivo geral, distinguimos os seguintes objectivos específicos:
1) Analisar a satisfação conjugal e a proximidade em função da situação relacional
(casados / união de facto).
2) Analisar a satisfação conjugal e a proximidade em função da religiosidade (não
crente e crente)14.
3) Investigar a satisfação em diferentes áreas da vida conjugal em função da situação
relacional (casados / união de facto) dos participantes.
4) Investigar a satisfação em diferentes áreas da vida conjugal em função da
religiosidade (não crente e crente) dos participantes.
2.1.4. Questões de Investigação
Perante o objectivo geral definido para a investigação e os estudos empíricos
existentes, esboçámos um estudo exploratório que integra as seguintes questões de
investigação:
1) Existem diferenças significativas relativamente à situação relacional do casal
(casamento / união de facto), ao nível da satisfação conjugal?
2) Os participantes crentes na sua religião diferem dos que não são crentes, ao nível da
satisfação conjugal?
3) Se existirem diferenças ao nível da satisfação, dependendo da situação relacional do
casal em que áreas da vida conjugal essas diferenças serão mais significativas?
14
A Religiosidade é uma variável sócio-demográfica que foi avaliada pelos participantes tendo em conta se estes
são crentes praticantes, crentes não praticantes ou não crentes. Neste estudo apenas considerou-se estudar a
religiosidade do ponto de vista das pessoas serem crentes e não crentes, independentemente da sua prática
religiosa, daí que tenhamos considerado o crente praticante e crente não praticante, dentro da mesma dimensão
das pessoas crentes, tendo havido uma reclassificação destas variáveis na análise estatística.
4) Se existirem diferenças ao nível da satisfação, dependendo da religiosidade dos
participantes, em que áreas da vida conjugal essas diferenças serão mais significativas?
5) Existem diferenças significativas relativamente à situação relacional do casal
(casamento / união de facto), ao nível da proximidade ao cônjuge?
6) Os participantes crentes na sua religião diferem dos que não são crentes,
relativamente ao nível da proximidade ao cônjuge?
2.1.5. Estratégia Metodológica
2.1.5.1. Processo de Selecção da Amostra
A amostra global insere-se nos estudos empíricos sobre a área da conjugalidade e
parentalidade, no âmbito das dissertações de Mestrado Integrado no Núcleo de Psicologia
Clínica Sistémica, da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de
Lisboa. Esta recolha global permitiu, ainda, efectuar um estudo psicométrico das escalas
utilizadas, realizado pelas Professoras Isabel Narciso Davide, Maria Teresa Ribeiro e Ana
Sousa Ferreira. Como fomos, também, implicados na recolha da grande amostra, pudemos
seleccionar os indivíduos adequados, para a amostra normativa do presente estudo.
As técnicas de amostragem a que recorremos são habitualmente referidas na literatura
como pertencendo ao grupo das técnicas de amostragem não probabilísticas (Fink, 1995;
Pedhazur & Schmelkin, 1991; in Ribeiro 2002) ou métodos de amostragem dirigida ou não
casual15 (Hill & Hill, 2000; in Ribeiro 2002). Este tipo de técnicas baseia-se em julgamentos
relativamente a características da população alvo e às necessidades da investigação.
Consistem no recurso a indivíduos (neste caso, casais com filhos e sem filhos, casados ou em
união de facto) que, preenchendo as condições de inclusão na amostra, voluntariamente se
dispõem a participar na investigação.
2.1.5.1.1 Caracterização da amostra em estudo
Atendendo aos objectivos e/ou hipóteses que orientam os diversos estudos empíricos,
a nossa população alvo consistiu em indivíduos com filhos e sem filhos, casados (50%) ou em
união de facto (50%). No que se refere à zona geográfica de residência, todos os indivíduos
15
Também conhecida por amostragem de conveniência.
pertenciam ao meio urbano (Portugal Continental, Açores e Madeira). Tivemos em
consideração variáveis sócio-demográficas como o sexo, nível de escolaridade, origem étnica
/ racial, idade, profissão, zona de residência habitual, estado civil, com quem habita, situação
relacional, número de filhos, acompanhamento psicológico ou psiquiátrico e a religiosidade.
A amostra é constituída por 146 indivíduos16: 42,5% do sexo masculino e 57,5% do
sexo feminino. A maioria possui (50,7%) habilitações ao nível do ensino superior ou entre 10
a 12 anos de escolaridade (28,1%). Quase todos os indivíduos são de origem caucasiana
(97,2%) e possuem idades compreendidas entre 30-39 anos (39,7%) e entre os 20-39 (31,5%).
51,4 % dos indivíduos possuem um nível sócio-económico médio/alto e alto e 44,5%
apresentam um nível sócio-económico médio. A grande maioria reside na grande Lisboa
(66,4%).
Referente à situação relacional, 50% dos indivíduos são casados e os outros 50%
vivem em união de facto, como podemos observar no quadro 1. A maioria dos casados tem
um tempo de casamento situado entre os 0-4 anos (24,4%), assim como entre os 5-9 anos
(24,4%). Este é o primeiro casamento para 90,4% dos indivíduos. A maioria dos participantes
que vivem em união de facto coabitam há 2-4 anos (63%), sendo que para 97,9% destes
participantes esta é a primeira união de facto. 97,3% dos participantes vivem em famílias do
tipo nuclear.
Situação Relacional
Frequência
Percentagem Válida (%)
Casamento
73
50%
União de facto
73
50%
Total
146
100%
Quadro 1: Distribuição da Amostra por Situação Relacional
Quanto ao número de filhos, 54,8% dos indivíduos têm filhos, dos quais 73,8% são
biológicos e 11,9% são mistos. A maioria tem filhos de diversas idades (42,9%). Os
indivíduos sem filhos representam 45,2% da amostra, seguindo-se, um filho, para 28,1% dos
indivíduos. 83,6% nunca teve acompanhamento psicológico ou psiquiátrico.
Quanto à religiosidade, 47,9% dos indivíduos não são crentes, 41,8% são crentes não
praticantes e 10,3% são crentes praticantes, como podemos observar no quadro 2.
16
Este estudo constitui um recorte da amostra de uma investigação mais vasta sobre conjugalidade e
parentalidade, na FPCE-UL, mais especificamente, no núcleo de Psicologia Clínica Sistémica.
Religiosidade
Frequência
Percentagem Válida (%)
Não crente
70
47,9%
Crente não praticante
61
41,8%
Crente praticante
15
10,3%
Quadro 2: Distribuição da Amostra por Religiosidade
Para uma consulta detalhada das características da amostra em estudo, consultar
apêndice 1.
2.1.5.2. Escolha e Descrição dos Instrumentos utilizados
Tendo em conta a finalidade e os objectivos da nossa investigação, pareceu-nos mais
indicado optar por escalas de avaliação (rating scales) (Kerlinger, 1986; Pedhazur &
Schmelkin, 1991, cit. por Ribeiro, 2002). A escolha de alguns instrumentos já construídos em
vez do desenvolvimento de escalas de avaliação próprias deveu-se a várias razões desde, a
segurança e confiança com instrumentos que já temos algum contacto e com a qual já é
tradição de investigação e o facto de permitir poupar tempo.
Todos os indivíduos que participaram neste estudo preencheram diversos
questionários. Esses questionários eram: Questionário Geral sobre os dados sóciodemográficos17; a Escala de Vinculação à Mãe/ Pai / Outro Significativo (A&QRI-S)18; o
Family Environment Scale (FES)19; a Escala de Avaliação da Satisfação em Áreas da Vida
Conjugal (EASAVIC)20; a Escala de Inclusão do Outro no Self (I.O.S.)21 e o FACES II22. Para
os indivíduos com filhos, ainda havia o Questionário de Dimensões e Estilos Parentais
(QDEP)23 (versão “mãe” e versão “pai”) e o Inventário de Aliança Parental (IAP)24.
Apenas debruçar-me-ei na descrição dos instrumentos que foram utilizados neste presente
estudo empírico, sendo eles: Questionário Geral; EASAVIC e IOS.
17
Narciso & Ribeiro, 2008.
Moreira,1998.
19
Moos & Moos; 1986. Adaptação Portuguesa de Matos & Fontaine, 1992. Versão Retrospectiva de Pascoal &
Narciso.
20
Narciso & Costa, 1996
21
Aron, Aron, & Smollan, 1992
22
Olson, Portner & Bell, 1982. Adaptação Portuguesa por Fernandes, 1995.
23
Robinson, Mandleco, Olsen & Hart, 2001. Adaptação Portuguesa por Carapito, Pedro e Ribeiro, 2007.
24
Abidin, 1995. Adaptação Portuguesa por Pedro e Ribeiro, 2007.
18
2.1.5.2.1. Questionário Geral
Este questionário encontrava-se no início do protocolo com a finalidade de recolher os
dados sócio-demográficos dos indivíduos, como: sexo; escolaridade; origem étnica/ racial;
idade; profissão ou ano escolar se for estudante; zona de residência habitual; estado civil;
habita com; situação relacional; filhos (biológicos /adoptivos / enteados); acompanhamento
psicológico ou psiquiátrico e religiosidade.
2.1.5.2.2. Escala de Avaliação da Satisfação em Áreas da Vida Conjugal
(EASAVIC)
Esta escala foi criada pelas autoras Isabel Narciso Davide e Maria Emília Costa, em
1996 e, parte do pressuposto de que a satisfação conjugal resulta de uma avaliação subjectiva
e pessoal do casamento, não devendo, por isso, ser avaliada a partir de critérios externos aos
indivíduos. Deste modo, concebeu-se um instrumento de auto-avaliação da satisfação que
permitisse ser um indicador da satisfação experienciada em várias áreas da vida conjugal
global, pela análise da satisfação referida na totalidade das áreas.
A escala é constituída por 44 itens organizados em cinco áreas da vida conjugal
relativas à dimensão funcionamento conjugal – funções familiares, tempos livres, autonomia,
relações extra-familiares, e comunicação e conflitos; e a cinco áreas relativas à dimensão
amor – sentimentos e expressão de sentimentos, sexualidade, intimidade emocional,
continuidade, características físicas e psicológicas. Do total dos itens, 16 têm como foco o
casal, 14 focalizam-se no inquirido e 14 no cônjuge (Narciso e Costa, 1996, Narciso, 2001).
Trata-se de uma escala de Likert em seis pontos, o que permite que cada indivíduo avalie a
sua satisfação entre Nada Satisfeito (1), Pouco Satisfeito (2), Razoavelmente Satisfeito (3),
Satisfeito (4), Muito Satisfeito (5), e Completamente Satisfeito (6).
No estudo psicométrico realizado por Narciso e Costa (1996), a escala revela fortes
índices de validade e precisão, sendo os alphas de Cronbach para ambos os factores, amor e
funcionalidade, bastante elevados (> 0,90).
Uma das vantagens da utilização desta escala é o facto de ter subjacente uma
concepção dinâmica que compatibiliza satisfação e insatisfação, permitindo descriminar áreas
de força ou de fragilidade que constituirão um elemento válido de diagnóstico ao nível da
prática clínica. Contudo, o emaranhamento conceptual é ainda nítido, na medida em que se
confundem áreas com processos. A importância da valorização pessoal da satisfação em cada
área para a satisfação conjugal global, não é tomada em consideração, o que se traduz
nalguma relatividade do resultado global da escala. A EASAVIC não contempla a área
relativa aos Filhos25, o que constitui um limite da escala quando aplicada também a casais
com filhos, dada a influência destes na vida conjugal. Finalmente, e como em qualquer
instrumento quantitativo, a informação é limitada, na medida em que não permite o acesso à
compreensão dos processos e significações inerentes à satisfação (Narciso, 2001).
2.1.5.2.3. Escala de Inclusão do Outro no Self (IOS de Aron, Aron & Smollan)
A proximidade entre os membros do casal foi avaliada através da Escala de Inclusão
do Outro no Self, tradução do nome original Inclusion of Other in the Self Scale (Aron, Aron,
Smollan, 1992). A IOS é uma medida gráfica composta por um só item que consiste numa
série de diagramas de Venn que representam diferentes graus de sobreposição entre dois
círculos que, por sua vez, representam o outro e o self. Na administração desta escala, é
pedido aos participantes que escolham a figura que melhor descreve a sua relação com o/a
companheiro/a. Cada figura corresponde ao grau de proximidade que o participante
percepciona
na
sua
relação
com
o
outro,
que
pode
ir
de
1
a
7.
O modelo de expansão do self proposto por Aron e Aron, em 1986, sugere que nas
relações próximas, o indivíduo pode perceber o self como incluindo recursos, perspectivas e
identidades do outro (Aron, Mashed & Aron, 2004, cit. por Crespo, 2007). Estes autores
efectuaram estudos correlacionais com outras medidas de proximidade que demonstraram a
validade concorrente e convergente da escala IOS. Através de uma análise confirmatória, os
autores consideraram que a proximidade poderia incluir dois factores “sentir-se próximo” e
“agir próximo”. A IOS foi a única escala que se mostrou associada aos dois factores de um
modo consistente, podendo-se concluir que inclui aspectos relativos aos sentimentos e aos
comportamentos de proximidade. Posteriormente, Agnew, Loving, Le e Goodfriend (2004,
cit. por Crespo, 2007), acrescentaram a dimensão “pensar próximo” como parte integrante dos
aspectos da proximidade avaliados pela IOS (Crespo, 2007).
25
Apesar da questão dos filhos não ser abordado neste estudo, acho que é importante mencionar esta limitação
da ESAVIC.
2.1.5.3 Procedimento na recolha de dados
Os questionários aplicados na nossa amostra inserem-se numa investigação ampla, que
abrangem vários temas do interesse de cada investigador, sendo que todos contribuíram para
os diversos temas, aplicando os vários instrumentos avaliativos em forma de questionário, aos
seus participantes. O N total da amostra é o somatório do grupo de participantes de cada
investigador. Posteriormente, cada investigador analisará os instrumentos que interessem ao
seu estudo (o tema escolhido).
A recolha da amostra normativa foi realizada entre Dezembro de 2007 a Janeiro de
2008. O conjunto dos questionários era acompanhado de uma folha introdutória26 (que
explicava os objectivos do estudo, assegurava o anonimato dos participantes, referia as
instruções de preenchimento dos questionários que se seguiam e os respectivos
agradecimentos). No início, contactámos os participantes que aceitaram colaborar, com o
intuito de esclarecer os objectivos da investigação e para marcar uma data de forma a
poderem preencher os questionários. A aplicação era feita individualmente, na nossa
presença, no domicílio dos participantes à hora combinada por estes. Durante a aplicação, era
pedido que cada indivíduo respondesse individualmente aos questionários (no caso dos
casais). Terminado o preenchimento dos questionários, estes eram colocados num envelope
que era fechado e ao qual era atribuído um código.
26
Vide anexo I
3. Resultados
3.1. Resultados globais
No quadro 3, apresentamos os resultados estatísticos descritivos relativos às
variáveis27 Satisfação conjugal e Proximidade.
Satisfação Conjugal
Proximidade
Easavic
IOS
87,7%
87,7%
Máximos
5,82
7
Mínimos
2,59
2
Média
4,73
Mediana
4,77
Desvio-padrão
0,67
Dispersão Inter-quartis
0,81
2
Alphas de Cronbach28
0,97
0,95
% n totais válidos
6
Quadro 3: Estatística descritiva da tendência central, Dispersão e Coeficientes de Consistência Interna
As escalas apresentam fortes coeficientes de consistência interna, segundo os estudos
psicométricos realizados. Os resultados indicam que, em geral, os participantes avaliam de
modo satisfatório a sua relação conjugal e consideram-se muito próximos do seu parceiro (a).
3.2. Normalidade e Homogeneidade
(Sig. α = .05)
EASAVIC
IOS
.016
.000
Quadro 4: Teste da Normalidade de Kolmogorov-Smirnov
27
Estas variáveis correspondem à média dos itens de cada escala.
Alphas de Cronbach actualizados pelos estudos psicométricos no âmbito do Mestrado Integrado em Psicologia
Sistémica no ano 2008, na FPCE – UL
28
No que se refere à análise da distribuição da amostra global, verifica-se que não se
pode assumir a normalidade, tal como é indicado pelos testes de Kolmogorov-Smirnov, nos
quais tanto para satisfação conjugal (p=.016) como para a proximidade (p<.000), rejeitou-se a
hipótese de normalidade da distribuição. Esta situação também se verificou ao nível das
amostras referentes à situação relacional (casamento e união de facto) e religiosidade (crentes
e não crentes), para estas mesmas variáveis (p<.000). Esta situação também foi observada a
nível gráfico (Q-Q plot) em que ocorria algum desajustamento dos valores observados à recta
normal.
No que se refere à assumpção de que existe homogeneidade das variâncias com base
no Teste de Levene, verificamos que esta não existe entre as amostras relativas à situação
relacional (F=12.18; p<.001) e as amostras relativas à religiosidade (F=5.338; p<.05), quando
consideradas as diferenças ao nível da satisfação conjugal.
Como existe violação dos pressupostos da normalidade e da homogeneidade de
variâncias, recorremos aos testes não-paramétricos (Maroco, 2007).
3.3. Diferenças entre grupos nas variáveis Satisfação Conjugal e Proximidade
Pretendemos analisar comparativamente as variáveis em estudo, entre união de facto e
casamento (situação relacional) e crentes e não crentes (religiosidade). Para esta finalidade,
utilizámos o teste Wilcoxon-Mann-Whitney, que é um teste não-paramétrico adequado para
comparar a distribuição das variáveis estudadas em duas amostras independentes (Maroco,
2007).
Grupos comparados
Média da Soma das
Valor -p
Ordens
Satisfação conjugal
Proximidade
Casamento
63,99
União de facto
80,12
Crentes
74,64
Não crentes
69,17
Casamento
68,32
União de facto
64,16
Crentes
69,19
Não crentes
62,45
.02029
.431
.519
.294
Quadro 5: Teste Wilcoxon-Mann-Whitney
Podemos admitir, analisando a Satisfação Conjugal, que existem diferenças
significativas entre casamento e união de facto (p = .020 <.05). A média da soma das ordens
da união de facto (80,12) é superior à média da soma das ordens da amostra casamento
(63,99). Contudo, não foram encontradas diferenças significativas relativamente aos crentes e
não crentes, no que diz respeito à satisfação conjugal. Porém, na Satisfação Conjugal, a média
da soma das ordens dos crentes é ligeiramente superior à média da soma das ordens dos não
crentes.
Analisando a Proximidade, podemos admitir que, em geral, não foram encontradas
diferenças significativas entre a situação relacional e a religiosidade. No entanto, a média da
soma das ordens no casamento é ligeiramente superior à média da soma das ordens da união
facto, assim como a média da soma das ordens dos crentes é ligeiramente superior à média da
soma dos não crentes.
3.4. Análise descritiva dos resultados ao nível das áreas da vida conjugal
Relativamente às diferentes áreas da vida conjugal (EASAVIC), foram analisadas as
frequências dos 44 itens com a respectiva classificação (1 a 6 na escala de Lickert) e através
da moda, tivemos de ver os itens que foram respondidos mais vezes 5 e 6 (que correspondem
à classificação “muito satisfeito” e “completamente satisfeito”, respectivamente) e mais vezes
1 e 2 (que correspondem à classificação “nada satisfeito” e “pouco satisfeito”,
respectivamente). Estes itens, por sua vez, correspondem a uma certa área da vida conjugal. É
preciso ter em conta que tanto na análise da situação relacional como na religiosidade,
verificou-se que a maioria dos itens são classificados, com “5” e “6”, não havendo nenhuma
classificação de “1” e muito poucas de “2”. Por esta razão, optou-se por analisar os itens que
foram respondidos mais vezes com “6”, com “3” (“razoavelmente satisfeito”) e “4”
(“satisfeito”), sendo que os restantes são maioritariamente classificados com “5”.
No que se refere à situação relacional, não existem muitas diferenças na análise dos
itens. Na sub-amostra casamento, verificou-se que as áreas da vida conjugal em que estes
estão completamente satisfeitos, referem-se à sexualidade, continuidade da relação e
sentimentos e expressão de sentimentos. A única área que apresenta uma classificação de
“razoavelmente satisfeito” é a dos tempos livres. Na sub-amostra união de facto, verificou-se
que as áreas da vida conjugal em que estes apresentam maioritariamente itens de
“completamente satisfeitos”, referem-se à intimidade emocional, sentimentos e expressão de
sentimentos e sexualidade. À área que corresponde à classificação de “2”, refere-se aos
tempos livres.
No que se refere à religiosidade, também não existem muitas diferenças na análise dos
itens. Na sub amostra crentes, verificou-se que a área da vida conjugal em que estes
apresentam maioritariamente mais itens de “completamente satisfeitos”, refere-se à
sexualidade. A área que é maioritariamente classificada com “3” é a dos tempos livres,
seguida das funções familiares, classificada com “4”. Na sub amostra não-crentes, os tempos
livres são classificados com “2” e as áreas relativas aos sentimentos e expressão de
sentimentos, sexualidade e intimidade emocional, são classificadas maioritariamente com
itens “6”.
4. Discussão
Nesta secção, pretende-se enquadrar a análise dos resultados com as questões de
investigação, pelos quais o estudo se regeu. Relembramos em primeiro lugar, os objectivos do
estudo: analisar a satisfação conjugal e a proximidade em função da situação relacional e da
religiosidade e investigar a satisfação em diferentes áreas da vida conjugal em função da
situação relacional e da religiosidade.
Debateremos, então, estes objectivos, tentando articular com outros trabalhos
empíricos. Posteriormente, apresentarei as principais conclusões e algumas limitações deste
estudo exploratório.
1. Reflexões das comparações
Começamos por analisar a sub-amostra união de facto e casamento, relativamente aos
resultados da satisfação conjugal. Em geral, ambas as sub-amostras classificam as suas
relações como satisfatórias, sendo que foram encontradas diferenças significativas, tendo a
união de facto apresentado, uma maior satisfação conjugal.
Muitos autores defendem que existe uma maior satisfação conjugal nos indivíduos
casados, do que nos indivíduos que vivem em união de facto. Este aspecto faz-nos recordar
vários estudos mencionados na revisão de literatura (Cohan & Kleinbaum, 2002; Thomson &
Colella, 1992; Newcomb, 1986 e Ambert, 2003).
Contudo, contrariamente ao que costuma ser mais encontrado ou esperado na
literatura, a satisfação conjugal foi superior na união de facto relativamente ao casamento.
Várias razões podem ter originado estes resultados, visto que, por exemplo para Brown
(2003), também referido na revisão de literatura, os coabitantes que têm intenção de se casar,
vivenciam níveis de satisfação conjugal semelhantes aos coabitantes que já se casaram,
podendo concluir-se que a união formal não implica necessariamente um aumento na
qualidade da relação (Brown, 2003). Estas uniões informais ou modelos de vida alternativos
proporcionam, tanto ao homem como à mulher, um grande envolvimento e cooperação
interpessoal, o respeito pelas diferenças de cada um, o viver em concordância com valores e
estilos de vida que os gratificam e satisfazem (Relvas & Alarcão, 2002), sendo que, à medida
que o número de coabitações vai aumentando e sendo cada vez mais aceites, as diferenças
entre aqueles que coabitam e aqueles que casam estão cada vez menos salientes (Ambert,
2003). Num estudo comparativo sobre qualidade conjugal, casamento e união de facto, em
que foi utilizada a escala de ENRICH30, verificou-se que quer na amostra de união de facto
quer na de casamento, os valores mais elevados são comuns nas duas amostras.
Podemos analisar os resultados, partindo de uma análise dialéctica da satisfação, ou
seja, considerando que a vivência conjugal é feita de descontinuidades, de alterações entre
momentos de afectividade positiva e negativa, onde satisfações e insatisfações coexistem
(Narciso, 2001). A satisfação conjugal sofre mudanças ao longo do ciclo de vida familiar. Há
inclusivamente quem defenda que a satisfação conjugal pode ser analisada com uma curva de
“U” em que esta decai nos primeiros 10 ou 15 anos de união conjugal e depois tende a
aumentar novamente. O facto de o tempo de união de facto ser menor do que a sub-amostra
dos casados, pode explicar o facto de estarem mais satisfeitos nesta fase mais inicial da união
conjugal. O período de menor satisfação conjugal corresponde (sendo que não é
necessariamente causado por), ao nascimento e crescimento dos filhos. Quando os filhos saem
de casa, a satisfação tende a subir novamente (Williams et al. 2006). Também é de salientar
que o facto da amostra de casados ter uma maior percentagem de filhos do que os da união de
facto, pode ter contribuído, em parte, para este resultado.
Ainda dentro da satisfação conjugal, relativamente à religiosidade, não foram
encontradas diferenças significativas, nas sub-amostras crentes e não crentes. Ambas as subamostras caracterizam as suas relações como satisfatórias.
É defendido em muitos estudos, por vários autores, que também foram referidos na
revisão de literatura, que a religiosidade é um preditor importante da satisfação conjugal,
compromisso, felicidade e ajustamento de uma relação conjugal a longo prazo e que, um
maior nível de religiosidade está ligado a uma taxa menor de divórcio (Hunler & Gençoz,
2005; Mahoney, 2001; Butler et al. 2002; Weaver et al, 2002 e Mahoney & Tarakeshwar,
2005). Contudo, Sullivan (2001), no seu estudo efectuado com casais recém casados,
verificou que o facto de um casal ser mais religioso não leva consequentemente a uma maior
satisfação na relação conjugal. Booth et al. (1995; in Sullivan, 2001) também descobriram
que não há relação entre a religiosidade e a satisfação conjugal. Schumm et al. (1989; in
Sullivan, 2001) constataram que não existe relação entre a prática de frequentar as missas e a
qualidade da relação conjugal, assim como Thornes and Collard (1979; in Sullivan, 2001) não
verificaram diferenças no nível de religiosidade entre os casais que estão casados e aqueles
que se divorciaram.
Estes resultados positivos relativamente à satisfação conjugal, quer ao nível da
situação relacional quer ao nível da religiosidade, também podem ser explicados pela
influência da desiderabilidade social, ou ainda, pelas “distorções idealistas” da qualidade da
relação (Narciso, 2001).
É curioso verificar que na sub-amostra união de facto existe uma menor percentagem
de indivíduos crentes praticantes e uma maior percentagem de indivíduos crentes não
praticantes comparativamente à sub-amostra casamento, em que esta percentagem
corresponde ao inverso31. Nos estudos de Call and Heaton (1997; in Ambert 2003), verificouse que os casais que coabitam são menos religiosos do que aqueles que casam sem coabitação
prévia.
Relativamente à proximidade, não existem diferenças significativas relativamente à
situação relacional e relativamente à religiosidade, estando os indivíduos, em geral, muito
próximos do seu parceiro(a).
Tendo em conta uma perspectiva sistémica relativamente ao modelo de Inclusão do
Outro no Self de Aron e Aron (1986), podemos dizer que, numa relação conjugal, cada
parceiro(a) tende a desenvolver uma identidade focada na relação e uma representação
pluralista de si próprio na relação, ou seja, que o indivíduo deixa de se ver só a si próprio e
também passa a ver-se como parte de um colectivo constituído por si e pelo outro. Os sujeitos,
ao projectarem a sua relação como muito próxima, sentem interdependência e confiança
relativamente ao seu cônjuge ou, então, sentem a relação como “fusional”, que significa que o
self de um ou de ambos se “perderam” na relação (Crespo, 2007). Isto remete-nos para a
limitação da IOS: como este instrumento apresenta formas gráficas e não verbais, na qual os
participantes têm de escolher qual o grau de intersecção do seu self com o do parceiro, este
instrumento não permite avaliar as características dessa intersecção, havendo dificuldade em
distinguir níveis de proximidade desejáveis ou “fusionais” (Crespo, 2007).
Relativamente às áreas da vida conjugal da EASAVIC, não foram encontradas
muitas diferenças intra sub-amostras: situação relacional e religiosidade. Tratando-se de uma
amostra em que a maioria dos indivíduos se encontra satisfeita, como já pudemos constatar,
seria de esperar que em todos os participantes, o resultado global da escala variasse entre
razoavelmente satisfeito e completamente satisfeito e, de facto, os resultados não fugiram
muito deste pressuposto. Do conjunto das relações com as várias áreas da vida conjugal, as
que se classificaram como mais altas foram as áreas relativas à intimidade. Segundo Narciso e
Costa (1996), a satisfação conjugal relativa às áreas da funcionalidade não tem uma influência
significativa na satisfação conjugal global, o que não acontece nas áreas correspondentes ao
amor, em especial as que se referem à intimidade emocional, expressão de sentimentos e
sexualidade. De acordo com o que foi descrito, o que se verificou ao analisar estas diferentes
áreas da vida conjugal, nas duas sub-amostras, foi que a intimidade emocional, os sentimentos
e expressão de sentimentos e a sexualidade, foram as áreas de maior satisfação e a de menor
satisfação, foi a dos tempos livres.
Apesar da EASAVIC possibilitar a diferenciação de dimensões, áreas e focos de maior
e menor satisfação, é importante referir que não permite uma discriminação de diferentes
níveis de satisfação conjugal, particularmente numa amostra de indivíduos satisfeitos32. Como
já referimos no início da discussão, estes resultados da escala também podem ser
influenciados pelo efeito de desiderabilidade social, ou por Distorções Idealistas (Narciso,
2001).
Conclusões
No presente estudo, ilustramos, em consequência das questões de investigação, que:
1) Não existem diferenças significativas relativas à religiosidade dependendo da
satisfação conjugal, mas, na situação relacional, verificou-se uma maior satisfação na
sub-amostra união de facto.
2) Não existem diferenças significativas relativas à religiosidade e à situação relacional,
dependendo da proximidade.
3) Nas áreas da vida conjugal da Easavic, em ambas as sub-amostras, as áreas
classificadas como mais satisfatórias foram: a intimidade emocional, os sentimentos e
expressão de sentimentos e a sexualidade e a de menor satisfação foi a dos tempos
livres.
Relativamente às limitações do estudo, é de realçar que, devido ao carácter
exploratório deste estudo, não podemos fazer generalizações para a população em geral.
Este trabalho baseou-se nas percepções dos participantes, em que estas funcionam
como uma “fotografia” de um momento da relação, não sendo possível, neste estudo, verificar
as interacções e dinamismos complexos das percepções e processos relacionais inerentes a
uma relação conjugal. Segundo Narciso (2001), estas percepções correspondem aos
acontecimentos relacionais e aos comportamentos aos quais os indivíduos atribuem
significado, que é afectada por diversos factores, tais como, o cansaço, os estados emocionais
e estruturas cognitivas disponíveis.
Devido ao facto de ter sido efectuado um recorte da amostra para este estudo (tendo
em conta as variáveis que se pretendia estudar), a amostra final foi relativamente pequena,
havendo necessidade, posteriormente, de fazer estudos empíricos com amostras maiores e
mais diversificadas. A amostra também não apresenta uma diversidade desejada relativamente
às características sócio-demográficas dos participantes, no que diz respeito a variáveis sócioeconómicas como as habilitações literárias e estatuto sócio-económico.
Relativamente às limitações dos instrumentos utilizados, quer da IOS quer da
EASAVIC, já foram referenciados no corpo da discussão e na descrição dos instrumentos no
processo metodológico.
Relativamente à investigação no campo da religiosidade, é importante ter em conta
que o uso de casais heterogéneos (por exemplo: diferentes tempos de casamento, casais com e
sem filhos, primeiros casamentos e segundos casamentos) torna difícil determinar como é que
a religiosidade pode diferentemente afectar vários estádios do casamento ou diferentes tipos
de casamento (Sullivan, 2001) e, no futuro, seria importante ter em conta esta consideração. É
necessário mais investigação nesta área, para compreender de forma mais eficaz, o papel da
religiosidade na prevenção e na resolução de problemas quer ao nível da relação conjugal
como na família (Weaver et al. 2002). No que toca à situação relacional, a natureza da
satisfação conjugal tem vindo a alterar-se devido às mudanças dos papéis de género e do
vasto leque de opções relativas ao estado relacional, como o casamento, famílias
monoparentais, união de facto e divórcio. Logo, é necessário efectuar estudos qualitativos
mais profundos de casais que estejam casados ou que coabitem, de vários grupos étnicos e
com diferentes classes sociais (Ambert, 2003).
Em suma, pretende-se que o estudo contribua para futuras investigações nas áreas da
conjugalidade e das famílias em Portugal, de forma a actuar de modo preventivo e ao nível da
compreensão, acerca das novas formas de família que têm sido adoptadas ao longo destes
anos.
Referências Bibliográficas
Ambert, A. (2003). Cohabitation and Marriage: are they equivalent? Referência
incompleta.
Aron, A., Mashek, D., Aron, E. N. (2003). Closeness as Including Other in the Self in
A. Aron, &D. Mashek (Eds.). Handbook of Closeness and Intimacy (p. 27- 42). Lawrence
Erlbaum Associates.
Aron, A., McLaughlin-Volpe, T., Mashek, D., Lewandowski, G., Wright, S. C., Aron,
E. N. (2004). Including Others in the self. European Review of Social Psychology, 15, 101132.
Brown, S. (2003). Moving from cohabitation to marriage: effects on relationship
quality. Social Science Research, 33 (1), 1-19.
Butler, M., Stout, J. & Gardner, B. (2002). Prayer as a Conflict Resolution Ritual:
Clinical Implications of Religious Couples Report of Relationship Softening, Healing
Perspective, and Change Responsibility. The American Journal of Family Therapy, 30, 19-37.
Cohan, C. & Kleinbaum, S. (2002). Toward a Greater Understanding of the
Cohabitation Effect: Premarital Cohabitation and Marital Communication. Journal of
Marriage and Family, 64, 180-192.
Crespo, C.A. (2007). Rituais Familiares e o Casal: Paisagens Inter-Sistémicas. Tese
de doutoramento. Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de
Lisboa.
Crespo, C., Narciso, I., Ribeiro, M., & Costa, I. (2006). Desenvolvimento da escala de
dimensões da intimidade: primeiro estudo empírico. Revista Psychologica, 41, 45-63.
Espina, A. Millán, M. (1996). La constitución de la pareja. In M. Millán (Ed.),
“Psicologia de la Família”: un enfoque evolutivo y sistémico (vol.1). (p. 39-63) Valência:
Promolibro.
Fiese, B. & Tomcho, T. (2001). Finding Meaning in Religious Practices: The Relation
Between Religious Holiday Rituals and Marital Satisfaction. Journal of Family Psychology,
15 (4), 597-609.
Gameiro, J. (2007). Entre Marido e Mulher…Terapia de Casal. Lisboa: Trilhos
Editora.
Gottman, J.M. (1998). Psychology and the Study of Marital Processes. Annual Review
of Psychology, 49, 169-197.
Gottman, J. & Levenson, R. (1985). Physiological and Affective Predictors of Change
in Relationships Satisfaction. Journal of Personality and Social Psychology, 49 (1), 85-94.
Gottman, J.M. & Notarius, C. (2002). Marital Research in the 20th Century and a
Research Agenda for the 21st Century. Family Process, 41 (2), 159-197.
Gottman, J.M. & Silver, N. (2001). Os Sete Princípios do Casamento. Cascais Portugal: Editora Pergaminho.
Hunler, O. & Gençoz, T. (2005). The effect of religiousness on marital satisfaction:
testing the mediator role of marital problem solving between religiousness and marital
satisfaction relationship. Contemporary Family Therapy, 27 (1), 123-136.
Mahoney, A., Pargament, K.I., Jewell, T., Swank, A., Scott, E., Ernery, E. & Marke,
R. (1999). Marriage and the Spiritual Realm: The Role of Proximal and Distal Religious
Constructs in Marital Functioning. Journal of Family Psychology, 13 (3), 321-338.
Mahoney, A., Pargament, K.I., Tarakeshwar, N. & Swank, A.B. (2001). Religion in
the Home in the 1980s and 1990s: A Meta-Analytic Review and Conceptual Analysis of
Links Between Religion, Marriage, and Parenting. Journal of Family Psychology, 15 (4), 559596.
Mahoney, A. & Tarakeshwar, N. (2005). Religion’s Role in Marriage and Parenting in
Daily Life and during Family Crises. In F. Paloutzian & Park, C. (Eds.), Handbook of the
Psychology of Religion and Spirituality (p. 177-195). New York: The Guilford Press.
Maroco, J. (2007). Análise Estatística com utilização do SPSS. Lisboa: Edições Sílabo.
Moore, K., McCabe, M. & Brink, R. (2001). Are married couples happier in their
relationships than cohabiting couples? Intimacy and relationship factors. Sexual and
Relationship Therapy, 16 (1), 35-46.
Narciso, I. (1994). Metamorfoses do Amor e da Satisfação Conjugal. Trabalho de
síntese no âmbito das Provas de Aptidão Pedagógica e Capacidade Científica (não
publicado). FPCEUL.
Narciso, I.(2001). Conjugalidades satisfeitas mas não perfeitas: à procura do padrão
que liga. Tese de doutoramento. Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da
Universidade de Lisboa.
Narciso, I. (2002). Janela com vista para a intimidade. Revista Psychologica, 31, 4962.
Narciso, I. & Costa, M.(1996). Amores Satisfeitos, mas não Perfeitos. Cadernos de
Consulta Psicológica, 12, 115-130.
Narciso, I. Costa, M. & Prata, F. (2002). Intimidade e Compromisso Pessoal ou
“Aquilo que pode fazer com que um casamento funcione”. Revista Portuguesa de Psicologia,
36, 67-88.
Newcomb, M. (1986). Sexual Behavior of Cohabitors: A comparison of Three
Independent Samples. The Journal of Sex Research, 22 (4), 492-513.
Oliveira, J. B. (2000). Psicologia da Religião. Coimbra: Almedina
Relvas, A.P. & Alarcão, M. (Coords.) (2002). Novas Formas de Família. Coimbra:
Quarteto Editora.
Ribeiro, M. T. (2002). Da diversidade do masculino e do feminino à singularidade do
casal. Tese de doutoramento. Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da
Universidade de Lisboa.
Stack, S. & Eshleman, R. (1998). Marital Status and Happiness: A 17- Nation Study.
Journal of Marriage and The Family, 60, 527-536.
Sullivan, K. (2001). Understanding the Relationship Between Religiosity and
Marriage: An Investigation of the Immediate and Longitudinal Effects of Religiosity on
Newlywed Couples. Journal of Family Psychology, 15 (4), 610-626.
Thomson, E., & Colella, U. (1992). Cohabitation and Marital Stability: Quality or
Commitment? Journal of Marriage and the Family, 54, 259-267.
Weaver, A., Samford, J., Morgan, V., Larson, D., Koenig, H. & Flannelly, K. (2002).
A Systematic Review of Research on Religion in Six Primary Marriage and Family Journals:
1995-1999. The American Journal of Family Therapy, 30, 293-309.
Williams, B., Swayer, S. & Wahlstrom, C. (2006). Marriages, Families, and Intimate
Relationships - a Pratical Introduction. Boston: Pearson Education, Inc.
ANEXOS
ANEXO I
Investigação sobre Família, Conjugalidade e Parentalidade
Os questionários que se seguem inserem-se numa investigação de mestrado sobre
relações familiares, a decorrer na Faculdade de Psicologia e de Ciências da
Educação da Universidade de Lisboa, sob a orientação das Professoras Doutoras
Isabel Narciso Davide e Maria Teresa Ribeiro.
No âmbito desta investigação, é necessário recolher dados através de
questionários. A análise destes dados vai permitir uma maior compreensão sobre
as relações familiares. Isso irá também permitir que se possa, no futuro,
conhecer e ajudar de uma forma mais eficaz os casais e os pais, quer a nível
preventivo, quer a nível terapêutico. Por tudo isto, a sua colaboração é
extremamente importante.
Os questionários são anónimos e todos os dados aqui recolhidos são totalmente
confidenciais. Os resultados não serão analisados individualmente, mas em
termos gerais, conjuntamente com as respostas dos outros participantes.
Os questionários que irá encontrar apresentam, no início, instruções de
preenchimento. É muito importante que responda a todas as questões para que os
dados possam ser correctamente analisados. Nestes questionários não há
respostas certas ou erradas; o mais importante é mesmo a sua opinião. O
preenchimento do conjunto dos questionários leva entre 20 a 30 minutos.
Recorde-se que estes questionários devem ser preenchidos individualmente.
Desde já, agradecemos a sua disponibilidade em participar neste estudo. Sem o
seu contributo seria impossível realizar esta investigação.
Por favor, vire a página e comece a responder. Leia com atenção as questões e
responda a todas elas.
Muito obrigada!
Professora Doutora Maria Teresa Ribeiro
Professora Doutora Isabel Narciso Davide
ANEXO II
EASAVIC
(Isabel Narciso & Maria Emília Costa, 1996)
Instruções:
Pense na sua relação conjugal. Utilize a seguinte escala de modo a expressar o que sente relativamente a
cada expressão:
1- Nada satisfeito (a); 2- Pouco Satisfeito(a); 3- Razoavelmente Satisfeito (a); 4- Satisfeito(a);
5- Muito satisfeito (a); 6- Completamente Satisfeito (a)
Para cada um dos itens, deverá escolher a afirmação da escala que melhor descreve o que sente, rodeando o
número correspondente com um círculo.
Por exemplo, se em relação ao item 6, “Quantidade de tempos livres”, você se sente completamente
satisfeito (a), deverá rodear com um círculo o número 6 da escala.
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
14.
15.
16.
17.
18.
19.
20.
21.
22.
23.
24.
25.
26.
27.
28.
29.
30.
31.
32.
33.
34.
35.
36.
37.
38.
39.
40.
41.
42.
43.
44.
O modo como gerimos a nossa situação financeira .................................................. 1 2 3 4 5 6
A distribuição de tarefas domésticas......................................................................... 1 2 3 4 5 6
O modo como tomámos decisões.............................................................................. 1 2 3 4 5 6
A distribuição de responsabilidades................................................................... ...... 1 2 3 4 5 6
O modo como passamos os tempos livres......................................................... ....... 1 2 3 4 5 6
A quantidade de tempos livres.......................................................................... ........ 1 2 3 4 5 6
O modo como nos relacionamos com os amigos...................................................... 1 2 3 4 5 6
O modo como nos relacionamos com a família do meu cônjuge.............................. 1 2 3 4 5 6
O modo como nos relacionamos com a minha família............................................. 1 2 3 4 5 6
A minha privacidade e autonomia............................................................................. 1 2 3 4 5 6
A privacidade e autonomia do meu cônjuge............................................................. 1 2 3 4 5 6
A nossa relação com a minha profissão ................................................................... 1 2 3 4 5 6
A nossa relação com a profissão do meu cônjuge.................................................... 1 2 3 4 5 6
A frequência com que conversamos......................................................................... 1 2 3 4 5 6
O modo como conversamos ..................................................................................... 1 2 3 4 5 6
Os assuntos sobre os quais conversamos.................................................................. 1 2 3 4 5 6
A frequência dos conflitos que temos....................................................................... 1 2 3 4 5 6
O modo como resolvemos os conflitos..................................................................... 1 2 3 4 5 6
O que sinto pelo meu cônjuge................................................................................... 1 2 3 4 5 6
O que o meu cônjuge sente por mim......................................................................... 1 2 3 4 5 6
O modo como expresso o que sinto pelo meu cônjuge............................................. 1 2 3 4 5 6
O modo como o meu cônjuge expressa o que sente por mim................................... 1 2 3 4 5 6
O desejo sexual que sinto pelo meu cônjuge....................................................... ..... 1 2 3 4 5 6
O desejo sexual que o meu cônjuge sente por mim............................................ ...... 1 2 3 4 5 6
A frequência com que temos relações sexuais.......................................................... 1 2 3 4 5 6
O prazer que sinto quando temos relações sexuais................................................... 1 2 3 4 5 6
O prazer que o meu cônjuge sente quando temos relações sexuais.......................... 1 2 3 4 5 6
A qualidade das nossas relações sexuais................................................................... 1 2 3 4 5 6
O apoio emocional que dou ao meu cônjuge............................................................. 1 2 3 4 5 6
O apoio emocional que o meu cônjuge me dá........................................................... 1 2 3 4 5 6
A confiança que tenho no meu cônjuge..................................................................... 1 2 3 4 5 6
A confiança que o meu cônjuge tem em mim........................................................... 1 2 3 4 5 6
A admiração que sinto pelo meu cônjuge.................................................................. 1 2 3 4 5 6
A admiração que o meu cônjuge sente por mim....................................................... 1 2 3 4 5 6
A partilha de interesses e actividades........................................................................ 1 2 3 4 5 6
A atenção que dedico aos interesses do meu cônjuge............................................... 1 2 3 4 5 6
A atenção que o meu cônjuge dedica aos meus interesses........................................ 1 2 3 4 5 6
Os nossos projectos para o futuro.............................................................................. 1 2 3 4 5 6
As minhas expectativas quanto ao futuro da nossa relação....................................... 1 2 3 4 5 6
As expectativas do meu cônjuge quanto ao futuro da nossa relação. ....................... 1 2 3 4 5 6
O aspecto físico do meu cônjuge............................................................................... 1 2 3 4 5 6
A opinião que o meu cônjuge tem sobre o meu aspecto físico................................. 1 2 3 4 5 6
As características e hábitos do meu cônjuge............................................................. 1 2 3 4 5 6
A opinião que o meu cônjuge tem sobre as minhas características e hábitos........... 1 2 3 4 5 6
Escala de Inclusão do Outro no Self
Aron, Aron, & Smollan, 1992
Apêndices
Apêndice I
Caracterização sócio-demográfica da amostra
N amostra
146
Sexo
Feminino: 57,5 %
Escolaridade
Origem Étnica / Racial
Idade
Profissão ou ano escolar
Zona de Residência Habitual
Estado Civil
Tempo de casamento
Tempo de Divórcio
Habita com
Situação Relacional
Nº casamentos anteriores
Masculino: 42,5%
0-4 anos de escolaridade : 0,7%
7-9 anos de escolaridade: 11%
10-12 anos de escolaridade: 28,1%
Frequência Universitária: 9,6%
Ensino Superior: 50,7%
Caucasiana: 97,2%
Africana: 1,4%
Caucasiana – africana: 1,4%
20-29 anos: 31,5%
30-39 anos: 39,7%
40-49 anos: 19,9%
50-59 anos: 8,2%
Nível sócio-económico baixo: 4,1%
NSE médio: 44,5%
NSE medi-alto e alto: 51,4%
Norte: 5,5%
Centro: 11,6 %
Grande Lisboa: 66,4%
Alentejo: 5,5%
Algarve: 6,2%
Arquipélago da Madeira: 0,7%
Arquipélago dos Açores: 2,7%
Outra: 1,4%
Casado: 52,7%
Divorciado: 4,1%
Solteiro: 43,2%
0-4 anos: 24,4%
5-9 anos: 24,4%
10-14 anos: 16,7%
15-19 anos: 16,7%
Igual ou mais de 20 anos: 17,9%
3 anos: 0,7%
8 anos: 0,7%
10 anos: 1,4%
111: 92,5%
999: 4,8%
Família nuclear: 97,3%
Família nuclear + alargada: 2,7%
Casamento: 50%
União de facto: 50%
0 – 90,4%
1 – 7,5%
2 – 1,4%
Tempo união de facto
Nº de uniões de facto anteriores
Filhos
Gravidez
Tipo de Filhos
Idades dos filhos
Nº Total de Filhos
Acompanhamento
psiquiátrico
Religiosidade
Religião
psicológico
5- 0,7%
2-4 anos: 63,0%
5-9 anos: 27,4%
10-14 anos: 5,5%
11anos: 2,7%
Igual ou mais de 20 anos: 1,4%
0- 97,9%
1- 2,1%
Sem filhos: 45,2%
Com filhos: 54,8%
Não: 95,2%
Sim: 4,8%
Biológicos: 73,8%
Adoptivos: 9,5%
Enteados: 4,8%
Mistos: 11,9%
Só Pré Escolar: 26,2%
Só escolares: 13,1%
Só adolescentes (10-17): 11,9%
Só jovens adultos / adultos: 6,0%
Mistos: 42,9%
0: 42,5%
1: 28,1%
2: 21,2%
3: 6,2%
4: 2,1%
ou Nunca teve: 83,6%
Teve no passado: 13,7%
Tem actualmente: 2,7%
Não crente: 47,9%
Crente não praticante: 41,8%
Crente praticante: 10,3%
Católico: 84,7%
Cristã / Católico: 6,9%
Outro: 8,3%
Download

Catarina Lucas Gonçalves da Silva