Avaliação da estabilidade da polpa congelada de goiaba Maria Elisabeth Barros de Oliveira1*; Renata Tieko Nassu1; Lorena Justo Rodrigues2; Glauciane Bastos de Almeida3 RESUMO A polpa congelada de frutas se constitui num produto de grande aceitação no mercado. Entretanto, alterações de natureza química, físico-químicas ou sensoriais, durante o armazenamento, podem afetar as suas características iniciais, comprometendo a qualidade inicial do produto. O objetivo deste trabalho foi verificar a influência do branqueamento sobre as características químicas, físico-químicas e sensoriais da polpa de goiaba armazenada no período de 180 dias (-18ºC). A polpa foi processada numa micro indústria utilizando os procedimentos normalmente adotados na linha de processamento do produto. Metade do volume processado foi submetido ao branqueamento (vapor livre: 100°C/8 minutos) para garantir a inativação enzimática. Os estudos de avaliação (180 dias) foram realizados a cada 60 dias, para ambos os tratamentos. Os valores médios obtidos no período de estudo para polpa branqueada e não branqueada foram, respectivamente, para pH (4,03/4,02), acidez em ácido cítrico (0,43/0,43%), sólidos solúveis (7,12/7,76ºBrix), atividade de água (0,976/0,977), açúcares totais (4,61/5,07%), açúcares redutores (3,97/4,63%), vitamina C (47,98/56,33 mg/100g), taninos (0,14/0,13%). Para a análise sensorial foi aplicado o teste de aceitação global, utilizando-se escala hedônica estruturada de 9 pontos, variando de desgostei muitíssimo (nota 1) a gostei muitíssimo (nota 9). Os dados obtidos foram submetidos a análise de variância pelo teste de Tukey (p<0,05). As notas atribuídas na análise sensorial foram para polpa branqueada (6,1 a 7,9) e não branqueada (6,4 a 8,0). Em todos os tempos, foram encontradas diferenças significativas entre os tratamentos, evidenciando que o branqueamento influenciou na aceitação sensorial do produto. Palavras-chave: Vida de prateleira, goiaba, branqueamento, avaliação sensorial. 1 ABSTRACT EVALUATION OF GUAVA FROZEN PULP STABILITY. Frozen fruits pulps have a great acceptance by the customers. However, changes in the chemical, physicochemical and sensorial parameters during the storage may affect their initial characteristics, compromising the product quality. This work aimed to verify the 1 Pesquisadora da Embrapa Agroindústria Tropical. Rua Dra. Sara Mesquita, 2270. Pici. Fortaleza,CE. CEP: 60511-110. *E-mail: [email protected] 2 Bolsista CNPq/PIBIC 3 Bolsista da Embrapa Agroindústria Tropical influence of the blanching over the chemical, physico-chemical and sensorial characteristics of guava pulp stored at -18ºC during one year. An amount of 18 Kg of pulp was processed in a small industry in Fortaleza, using the established proceedings normally adopted in the processing pulps lines. One half of the processed quantity was submitted to the blanching ( free vapour: 100º/8 min ) to guarantee the enzymatic inactivation. Evaluation studies ( 180 days )are being made at each 60 days, for both treatments. Medium values ( partials ) obtained in the period of 180 days to the blanched and not blanched pulps were, respectively, for pH ( 4,03/4,02 ), acidity in citric acid ( 0,43/0,43%), soluble solids ( 7,12/7,76º Brix ), water activity ( 0,976/0977 ), total sugars ( 4,61/5,07% ), reducing sugars ( 3,97/4,63% ), vitamin C ( 47,98/56,33 mg/100g ), tannins (0,14/0,13% ). For the sensorial analysis was applied the general acceptance test , using hedonic scale structured with 9 scores, varying from disliking very much ( score 1 ) until liking very much ( score 9 ). Obtained data were submitted to the variance analysis throw the Tukey test ( p<0,05 ). By now, scores attributed in the sensorial analysis were for blanched pulp ( 6,1 to 7,9 ) and not blanched ( 6,4 to 8,0 ). In every evaluation were found significant differences between the treatments, evidencing the influence of the blanching in the sensorial acceptance of the product. INTRODUÇÃO As indústrias de polpa têm buscado alternativas para se adaptarem, dentro de suas realidades e limitações, às novas legislações e, sem perder de vista, o perfil do novo consumidor ávido por qualidade. Assim sendo, um prazo de validade adequado para os seus produtos que garanta e mantenha a qualidade inicial das matérias primas, até o prazo final, se constitui num avanço significativo para o setor. No Nordeste brasileiro, a indústria de polpa congelada de frutas tropicais tem crescido em ritmo acelerado. Por se tratar de produto congelado, cai-se na crença de que um prazo de validade de um ano, para qualquer tipo de polpa, seja adequado e se garanta todas as características iniciais de qualidade da fruta “in natura”. Entretanto, alterações de natureza química, físico-químicas ou sensoriais, durante o armazenamento, podem afetar as suas características iniciais, comprometendo a qualidade do produto. O objetivo deste trabalho foi verificar a influência do branqueamento e do tempo de estocagem sobre as características químicas, físico-químicas e sensoriais da polpa congelada de goiaba armazenada durante 180 dias . MATERIAL E MÉTODOS A polpa de goiaba foi processada em uma micro indústria de Fortaleza, seguindo a linha de processamento normalmente adotada pela empresa para a obtenção do produto. A inativação enzimática foi obtida por aquecimento (vapor fluente/8 min). Após o processamento, as polpas foram acondicionadas em embalagens individuais de 100g, congeladas por imersão em solução etanólica a seguir, foram transportadas em caixas isotérmicas para o Laboratório de Físico-química da Embrapa Agroindústria Tropical, onde ficaram armazenadas em congelador vertical à –18ºC. A cada 60 dias as mostras eram analisadas. Para a análise sensorial foi aplicado o teste de aceitação global, utilizando-se escala hedônica estruturada de 9 pontos, variando de desgostei muitíssimo (nota 1) a gostei muitíssimo (nota 9) MEILGAARD (1987). Os dados obtidos foram submetidos a análise de variância e teste de Tukey (p<0,05). Foram realizadas análises para a determinação da composição química (Instituto Adolfo Lutz, 1985) e das propriedades físico-químicas (Association of Official Analytical Chemists, 1984). Foram medidos os efeitos do tempo de estocagem e do branqueamento sobre o pH, acidez, sólidos solúveis, atividade de água, açúcares redutores, não redutores e totais, taninos e vitamina C. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos após 180 dias de avaliação da polpa de goiaba encontram-se abaixo. Considerando o parâmetro mais importante na polpa de goiaba, do ponto de vista nutricional, que é o teor de vitamina C (Tabela 1), este sofreu uma redução de cerca de 20% com o tratamento de branqueamento no primeiro tempo mas, depois, essa diferença manteve-se estável em torno de 13 %. O valor médio para a polpa branqueada manteve-se em torno de 47,98 mg/100g e, para a não branqueada cerca de 56,33 mg/100g. A análise estatística mostrou que o tempo não foi significativo. Embora o branqueamento tenha mostrado diferença significativa ao nível de 5%, a interação entre os dois fatores (tempo e branqueamento) não foi significativa. Com relação aos açúcares totais (Tabela 1) e aos sólidos solúveis (Tabela 1), observa-se um comportamento análogo ao longo do tempo. Para essas duas características, o tempo e o branqueamento apresentaram diferenças significativas (p<0,05) e a interação desses dois fatores foi significativa ao mesmo nível de significância. Para as demais medidas, apesar da análise estatística detectar diferenças, do ponto de vista prático não tem significado bioquímico. Na avaliação sensorial as notas demonstraram pouca variação, para os dois tratamentos, com notas variando de 6,1 a 7,9 para polpa branqueada e 6,4 a 8,0 para polpa não branqueada. Em todos os tempos, foram encontradas diferenças significativas entre os dois tratamentos evidenciando que o branqueamento influenciou na aceitação sensorial do produto. TABELA 1: estabilidade da polpa congelada de goiaba ao longo de 180 dias de estocagem ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS Atividade Acidez Vitamina C Tanino Açúcares de água (% Ác. (mg/100g) (% Ác. R (%) NR T (%) (Aw) Cítrico) Tanico/100g (%) ) 0,984 0,39 46,73 0,13 3,26 0,74 4,00 Tempo (Dias) Sólidos solúveis (°Brix) pH T(0) B 0 NB 6,76 3,61 7,9 3,62 0,987 0,41 58,80 0,11 3,83 0,73 4,56 T(1) B 60 NB 7,68 4,19 0,951 0,44 49,74 0,14 4,20 0,75 4,95 8,11 4,17 0,952 0,44 55,75 0,13 4,38 0,86 5,24 T(2) B 120 NB 6,99 4,14 0,982 0,42 47,86 0,13 3,90 0,67 4,57 7,83 4,14 0,984 0,44 56,39 0,13 4,85 0,63 5,48 T(3) B 180 NB 7,0 4,17 0,987 0,47 47,59 0,17 4,53 0,4 4,93 7,2 4,15 0,984 0,45 54,38 0,13 5,44 nd 5,01 B – polpa branqueada; NB – Polpa não branqueada TABELA 2: aceitação sensorial da polpa congelada de goiaba ao longo de 180 dias de estocagem Tempo (dias) 0 60 120 180 240 Polpa Branqueada 6,1 6,8 7,9 6,1 6,5 Polpa não branqueada 8,0 7,7 6,4 7,6 7,6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS. Official methods os analysis. Arlington, 1984. 11419. [2] INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Métodos químicos e físicos para análises de alimentos. 3. ed. São Paulo: Instituto Adolfo Lutz, 1985. v. 1, 533p. [3] LABUZA, T.P.; SCHIMDL, M.K. Use of sensory data in the shelf life testing of foods: principles and graphical methods for evaluation. Cereals Foods World, St. Paul, v.33, n.2, p.193-206, Feb., 1988. [4] MEILGAARD, M.; CIVILLE, G.V.; CARR, B.T. Sensory evaluation techniques. Boca Raton: CRC, 1987. V.2. 159p.