Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.6, n.1, p.35-38, 2004 ISSN 1517-8595 DETERMINAÇÃO DE CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DA GOIABA: GOIABEIRAS ADUBADAS NO SEMI-ÁRIDO DA PARAÍBA Josivanda Palmeira Gomes de Gouveia1, Francisco de Assis Cardoso Almeida1, Bartolomeu Garcia de Souza Medeiros2, Carmelita de F. A. Ribeiro2, Simone Mirtes Araújo Duarte3 RESUMO Objetivou-se com este estudo a determinação das características químicas e físicas da goiaba adubada no semi-árido da Paraíba. O experimento foi realizado no laboratório de Armazenamento e Processamento de Produtos Agrícolas, pertencentes à Universidade Federal de Campina Grande, PB. As goiabas foram colhidas na estação Experimental de Veludo, Itaporanga, PB. As análises físicas determinadas foram: peso do fruto, diâmetro longitudinal e transversal e resistência da polpa; as características químicas determinadas foram: pH, acidez titulável, ºBrix e proteína. Os dados foram submetidos a análise estatística onde foi calculado a média aritmética, o desvio padrão e o coeficiente de variação. A goiaba permaneceu com algumas de suas características químicas inalteradas, como foi o caso do pH, da acidez titulável e da proteína. Caso contrário ocorreu com ºBrix que teve uma redução em relação aos resultados encontrados por outros autores, entretanto, apenas a característica física que sofreu influencia da adubação foi à resistência da polpa. Portanto, a adubação com a dose de 120g cova -1 planta-1 no sertão da Paraíba causou efeito apenas em duas características da goiaba, o ºBrix e a resistência da polpa. Palavras-chave: goiaba, resistência da polpa, adubação DETERMINATION OF THE GUAVA PHYSICAL AND CHEMICAL CHARACTERISTICS: FERTILIZED GUAVA TREE IN THE SEMI-ARID REGION OF PARAIBA ABSTRACT This study has as objective to determine the physical and chemical characteristics of the fertilized guava of the semi-arid region of the Paraíba. The experiment was done in the laboratory of Storage and Processing of Agricultural Products, belonged to the Federal University of Campina Grande, PB. The guavas were gathered in the Experimental Station of Veludo, Itaporanga, PB. The determined physics analyses were: fruit weigh, longitudinal and transverse diameter of the pulp and its the resistance; the determined chemical characteristics were: pH, acidity titulável, ºBrix and the protein. The data were submitted to statistic analysis. The arithmetic average, the standard deviation and the coefficient of variation were calculated. The guava presented no alterations in some of its chemical characteristics, as the pH, the acidity titulável and the protein. Otherwise, ºBrix had a reduction in relation to the results found by other authors, however, the only physical characteristic that suffered influences of the manuring was the resistance of the pulp. Therefore, the manuring with 120g dose (hole-1.planta-1) in the semi-arid of Paraíba just caused effect in two characteristics of the guava, ºBrix and the resistance of the pulp. Keywords: guava, pulp resistance, manuring ________________ Protocolo 302 de 21/06/2004 1 Departamento de Engenharia Agrícola/CCT/UFCG, E-mail: [email protected]; [email protected] 2 Mestre em Engenharia Agrícola/DEAg/CCT/UFCG, E-mail: [email protected] 3 Doutoranda em Recusos Naturais/CCT/UFCG, E-mail: [email protected] 35 36 Determinação de características físicas e químicas da goiaba (Psidium guajava L.) ........ Gouveia et al. INTRODUÇÃO A goiabeira (Psidium guajava L.) é um arbusto de pequeno porte que pertence à família Mytaceae, que, em pomares adultos, pode atingir de três a seis metros de altura. As folhas são opostas e caem após a maturação; as flores são brancas e hermafroditas. Os frutos são bagos que têm tamanho, forma e coloração da polpa variável em função da cultivar. O fruto da goiabeira é considerado, nutricionalmente, valioso devido ao seu alto teor de vitamina C e, também, devido a sua importância econômica e ao fato de que o fruto pode ser utilizado na indústria de várias formas, tais como polpa, suco, compota e sorvete (Martin, 1967). O Brasil assume a posição de primeiro produtor da fruta no mundo com uma área cultivada de 11.504 hectares e, uma produção de 256.616 toneladas, segundo dados publicados em Agrianual 2001, baseados nos levantamentos do IBGE (Cati,2003), concentrando-se esta produção nos Estados de São Paulo, Pernambuco, Goiás, Rio de Janeiro e Mina Gerais. O conhecimento das propriedades químicas e físicas da goiaba é um fator altamente relevante, uma vez que eles são utilizados como referência para a aceitabilidade das mesmas no mercado nacional e internacional. Dentre as características químicas, pode-se destacar: o pH, a acidez titulável, o ºBrix e os teores de proteína e, dentre as características físicas, pode-se destacar: peso do fruto, o diâmetro longitudinal e transversal, e a resistência da polpa. De acordo com Chaves e Spiosser (1996), a determinação do pH é de grande relevância devido a vários fatores, tais como: desenvolvimento de microorganismos, influência na palatabilidade, emprego de esterilização, escolha de embalagem que será utilizada para o alimento. Segundo Chitarra e Chitarra (1990), a acidez titulável é um importante parâmetro na apreciação do estado de conservação de um produto alimentício. Essa quantidade tende a aumentar com o decorrer do crescimento da fruta até o seu completo desenvolvimento fisiológico, quando começa a decrescer à medida que ela vai amadurecer. Os sólidos solúveis totais são a representação da percentagem em gramas dos sólidos que se encontram dissolvidos no suco da polpa. Nas frutas, esses sólidos são constituídos por açúcares e ácidos orgânicos. De acordo com Lima et al. (2001), caracterizando frutos de goiabeira e selecionando cultivares na região do Submédio São Francisco, encontraram que a massa dos frutos variou de 90,8 g. fruto-1 a 244,5 g.fruto-1. Os frutos destinados ao processamento industrial devem ter tamanhos médios em torno de 100 g, e aqueles destinados ao consumo in natura devem ser preferencialmente de médios a grandes, nesta ordem De acordo com o mesmo autor, os valores de diâmetro longitudinal variaram de 5,84 a 7,60 cm e a variação do diâmetro transversal dos frutos foi de 5,30 a 7,79 cm. Desta forma, o presente trabalho tem como objetivo a determinação de algumas propriedades físicas e químicas da goiaba no sertão da Paraíba. MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Armazenamento e Processamento de Produtos Agrícolas (LAPPA) do Departamento de Engenharia Agrícola (DEAg), o qual faz parte do Centro de Ciências e Tecnologia (CCT), da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Campina Grande, PB. As goiabas da variedade Paluma utilizadas na pesquisa foram obtidas de um campo experimental da EMEPA, na Estação Experimental de Veludo, localizada na cidade de Itaporanga, no Estado da Paraíba, cujas coordenadas são 7º18’0” S e 38º9’0” W, onde foi adubada com 120g cova-1 planta-1. As amostras foram colhidas, acondicionadas em sacos de polietileno e posteriormente em caixas com orifícios laterais para que houvesse uma melhor ventilação, durante o transporte. No laboratório, os frutos foram selecionados, descartando-se os danificados pelo atrito no transporte, os manchados, deformados com picadas de insetos ou com sintomas de doenças. Os frutos sadios foram separados, lavados e colocados em bandejas plásticas etiquetadas com o nome de cada repetição para que assim pudesse ser determinada a característica física e, posteriormente, trituradas em um processador para a obtenção da polpa que, depois de preparadas, foram guardadas em um freezer a –18ºC para que se pudessem iniciar as determinações químicas. O peso das goiabas, em gramas, foi determinado com auxílio de uma balança semi-analítica de marca Gehaka, BG 8000. O tamanho foi conhecido, determinando-se o diâmetro longitudinal e transversal da fruta, utilizando-se um paquímetro metálico de marca Mitutoyo, sendo os resultados expressos em cm. A resistência da Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.6, n.1, p.35-38, 2004 Determinação de características físicas e químicas da goiaba (Psidium guajava L.) ........ Gouveia et al. polpa, expressos em N cm-2, foi obtida, usandose o aparelho chamado Penetrômetro FT011, com quatro repetições cujas perfurações foram feitas na região equatorial de cada fruto, utilizando-se uma ponta de 0,4 cm de diâmetro. O pH foi determinado por meio de potenciômetro de marca Digimed, DMPH-2, calibrado com soluções tampão (pH 4,0 e 7,0). O ºBrix foi determinado por leitura direta em um refratômetro de marca Guimis. A acidez titulável foi determinada por titulação com NaOH, descrito pela AOAC (1992) e os resultados expressos em percentagem. O teor de proteína no fruto foi determinado, avaliando-se o nitrogênio total das amostras pelo método Kjeldahl, descrito pelo Instituto Adolfo Lutz (1985). RESULTADOS E DISCUSSÕES Os dados presentes na Tabela 1 correspondem aos valores de pH, acidez titulável, ºBrix e teor de proteína da goiaba em triplicata, assim como, a média aritmética, o desvio padrão e o coeficiente de variação. Os valores de pH variaram de 3,9 a 3,917. Tais resultados encontrados estão na faixa dos 37 encontrados por Lima et al. (2001) caracterizando goiabas na região do Submédio São Francisco, onde obtiveram pH na faixa de 3,72 a 4,22. A acidez titulável variou de 0,736 a 0,86%. Esses resultados estão dentro dos encontrados por Argenta et al. (1995), caracterizando frutos de goiabeira, que acharam uma acidez titulável de goiabas maduras, variando de 0,40 a 1,04%. Entretanto, ITAL (1978), caracterizando goiabas vermelhas em três diferentes estádios de maturação achou valores de 0,39; 0,38 e 0,30%. Os valores do ºBrix não foram superiores a 5,8%, estando abaixo do encontrado por Maia et al. (1998) determinando o ºBrix de quatro variedades de goiaba, os quais encontraram valores destes, variando de 11,00 a 12,10%. O teor de proteína variou de 0,74 a 0,82%, sendo estes valores superiores aos encontrados por Maia et al. (1998) que foram de 0,62 a 0,66% para quatro variedades de goiabeira. Tal incremento é explicado porque o nitrogênio, na forma de amônio, absorvido nessa forma ou resultante da redução do nitrato, é assimilado pelas plantas e incorporado na forma de aminoácidos e proteínas (Malavolta et al., 1997). Tabela 1 - Síntese da média aritmética, desvio padrão e do coeficiente de variação das características físicas da goiaba: pH, acidez titulável, ºBrix e proteína Goiaba - 120g cova-1 planta-1 Determinação R1 R2 R3 Média Desvio padrão Coeficiente de variação (%) pH 3,900 3,917 3,903 3,910 0,045 1,150 Acidez titulável( %) 0,860 0,736 0,813 0,803 0,048 5,981 ºBrix (%) 5,280 5,80 5,420 5,500 0,261 4,741 Proteína (%) 0,740 0,790 0,820 0,780 0,039 5,040 Na Tabela 2, estão contidos os valores do Peso do fruto, do diâmetro longitudinal e transversal e da resistência da polpa o desvio padrâo e o coeficiente de variação. O peso do fruto variou de 148,2 a 172,3 g, estando dentro da faixa dos valores de peso de goiaba encontrado por Lima et al. (2001) os quais foram de 90,8 a 244,5 g fruto-1.Marinho et al. (1999), trabalhando com Carica papaya (mamão) observaram que a adubação nitrogenada não provocou incremento no peso dos frutos dessa frutífera, inferindo-se que a época de amostragem e, ou, o estádio de maturação e crescimento da parte aérea e o meio de cultivo são fatores que influenciam na determinação da faixa crítica desse nutriente; observação, igualmente, feita por Caetano et al. (2002) para os frutos da figueira. O diâmetro longitudinal e transversal não foram superiores a 7,25 e 6,48 cm respectivamente o que estão também dentro da faixa dos encontrados pelo mesmo autor. A resistência da polpa não ultrapassou os 77,92 N cm-2, diferindo dos encontrados por Gongatti Netto et al. (1996) o Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.6, n.1, p.35-38, 2004 38 Determinação de características físicas e químicas da goiaba (Psidium guajava L.) ........ Gouveia et al. qual foi de 100 N cm-2. Vale salientar que ela varia com a época de colheita. Tabela 2 - Síntese da média aritimética, desvio padrão e do coeficiente de variação das características físicas da goiaba: peso do fruto, diâmetro longitudinal, transversal e resistência da polpa Goiaba - 120g cova-1 planta-1 Determinação R1 R2 R3 Média Desvio padrão Coeficiente de variação (%) Peso do fruto (g) 172,30 164,77 148,20 161,77 12,29 7,60 Diâmetro longitudinal (cm) Diâmetro transversal (cm) Resistência (N cm-2) 7,25 7,05 7,10 7,10 0,122 1,72 6,40 6,34 6,28 6,28 0,17 2,76 73,10 74,0 77,92 75,02 2,04 2,73 CONCLUSÕES - As características químicas que não sofreram alteração foram: pH, acidez titulável e proteína, fato contrário ocorreu com o ºBrix ; - As características físicas peso do fruto diâmetro longitudinal e transversal não sofreram nenhum efeito, entretanto a resistência do fruto apresentou diferenças, quando comparadas com os outros dados. 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