UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO DOUTORADO MULTIDISCIPLINAR E MULTIINSTITUCIONAL EM DIFUSÃO DO CONHECIMENTO EDCC49 – Tópico Especial: Análise de textos na produção de resultados qualitativos – 2010;2 Aspectos metodológicos e a questão de pesquisa na ADf Pêcheux M. Análise automática do discurso. Parte I. In: Gadet F. e Hak T. Por uma AAD. pp. 61 – 105 Kátia Mendes – DTEC/UEFS José Carlos Oliveira – DFIS/UEFS PARTE I – Análise de Conteúdo e Teoria do Discurso SUMÁRIO I. Lingüística e análise de texto: suas relações de vizinhança A) Os métodos não-lingüísticos B) Os métodos para-lingüísticos II. Orientações conceituais para uma teoria do discurso A) Conseqüências teóricas induzidas por certos conceitos saussurianos B) As condições de produção do discurso C) Por uma análise do processo de produção do discurso 2 Lingüística e análise de texto: suas relações de vizinhança A compreensão clássica do texto (circular) • De que fala este texto? • Quais são as idéias principais contidas neste texto? • Este texto está em conformidade com as normas da língua na qual ele se apresenta? • (Quais são as normas próprias a este texto?) Estudos semânticos e sintáticos OBJETIVO Qual o sentido do texto? (O que o autor quis dizer?) 3 Lingüística e análise de texto: suas relações de vizinhança O paradigma vigente à época de Saussure “Se o homem entende seu semelhante é porque eles são um e outro, em algum grau, ‘gramáticos’, enquanto que o especialista da linguagem só pode fazer ciência porque, já de início, ele é, como qualquer homem, apto a se exprimir.” Característica Uma homogeneidade cúmplice entre a prática e a teoria da linguagem Saussure rompe com essa homogeneidade. (Como?) 4 Lingüística e análise de texto: suas relações de vizinhança O deslocamento promovido por Saussure “(...) a partir do momento em que a língua deve ser pensada como um sistema, deixa de ser compreendida como tendo uma função de exprimir sentido; ela tornase um objeto do qual uma ciência pode descrever o funcionamento.” (p.62) (Negrito nosso) Metáfora do jogo de xadrez “(...) não se deve procurar o que cada parte significa, mas quais são as regras que tornam possível qualquer parte, quer se realize ou não.” O que decorre daí? 5 Lingüística e análise de texto: suas relações de vizinhança As conseqüências desse deslocamento “(...). o ‘texto’ deixa de ser objeto da ciência porque ele não funciona.” (p.62). A língua lhe toma o lugar. Língua: “conjunto de sistemas que autorizam combinações e substituições reguladas...” Fala: “resíduo não científico da análise” Separação língua x fala: social x individual essencial x acessório ou acidental. Marca um abandono do “texto” 6 Lingüística e análise de texto: suas relações de vizinhança Apesar da lingüística “abandonar” o texto, ele irrompe em suas análises sob várias formas: O que quer dizer este texto? Que significação contém este texto? Em que o sentido deste texto difere daquele de tal outro texto? Quem responde? Análise de conteúdo Como responde? (Abordagens) Métodos não-lingüísticos Métodos para-lingüísticos 7 I. A – Os métodos não lingüísticos Característica: pré-saussuriano, porque se baseia em uma lingüística defasada 1. Método de dedução freqüencial Contagem de ocorrências de um signo lingüístico em uma seqüência de dimensão fixada. Comparação com outras contagens Estatística Aspecto lingüístico: biunivocidade da relação significante/significado (negado por Saussure com a polissemia) Demografia dos textos: recolhe-se informação, mas perde-se os efeitos de sentidos no texto 8 I. A – Os métodos não lingüísticos 1. Método de dedução freqüencial Infra-lingüístico Visa a pura existência do material lingüístico mas não o seu funcionamento Não responde à questão do sentido no texto Nem à diferença de sentido entre um texto e outro Remédio? A análise de conteúdo clássica 9 I. A – Os métodos não-lingüísticos 2. A análise por categorias temáticas (AC) Supra-lingüístico: busca o sentido de um segmento do texto Prioriza a relação funcional: expressão da significação/meios desta expressão Como procede? Indicadores Classes de equivalência Problema: “a análise não pode ser uma seqüência de operações objetivas com resultado unívoco” 10 I. A – Os métodos não-lingüísticos 2. A análise por categorias temáticas (AC) Pressupõe um consenso explícito ou implícito entre os codificadores sobre as modalidades de leitura “um texto só é analisável no interior do sistema comum de valores que um sentido tem para os codificadores e constitui seu modo de leitura” (p.65) 11 I. B – Os métodos para-lingüísticos Estes opõem-se aos não-lingüísticos porque não evitam o nível específico do signo e não derivam de metodologias psicológicas ou sociológicas Problema epistemológico: “(...) de que modo disciplinas como a etnologia, a crítica literária ou o estudo dos sistemas de signos próprios às civilizações ditas ‘de massa’ podem fazer apelo à lingüística para responder a uma questão que se coloca precisamente dobre o terreno que a lingüística abandonou ao se constituir?” 12 I. B – Os métodos para-lingüísticos Estes métodos estão pautados na lingüística saussuriana e dão uma resposta outra à questão do sentido contido num texto, a saber: a passagem da função ao funcionamento, agora no nível do texto. Mas como? Juntando aos sistemas sintáticos os sistemas míticos. Porém permanece o problema da apropriação dos instrumentos lingüísticos de análise (o deslocamento ainda não se deu) 13 I. B – Os métodos para-lingüísticos As dificuldades metodológicas relativas à constituição do corpus encontram aqui sua origem; se, com efeito, o objeto da análise não está conceptualmente definido como elemento de um processo do qual é preciso construir a estrutura, este objeto permanece como objeto de desejo... (p.68) CONSEQÜÊNCIAS A constituição do objeto depende daquilo que, no espírito do analista, o leva a colocá-lo. O analista finge encontrá-lo como um dado natural, o que o livra de sua responsabilidade. 14 I. B – Os métodos para-lingüísticos CONSEQÜÊNCIAS A colocá-lo. O. 15 II.A – Conseqüências teóricas induzidas por certos conceitos saussurianos 1. As implicações da oposição saussuriana entre língua e fala A língua ... é a parte social da linguagem, exterior ao indivíduo, que por si só não pode nem criá-la nem modificá-la. “... A língua é uma instituição social; mas se distingue, por vários traços, das outras instituições políticas, jurídicas etc. Para compreender sua natureza especial, um nova ordem de fatos precisa intervir. A língua é um sistema de signos que exprimem idéias, e por isto comparável à escrita, ao alfabeto dos surdos-mudos, aos ritos simbólicos, às formas de polidez, aos sinais militares, etc. Ela é somente o mais importante desses sistemas. Pode-se pois conceber uma ciência que estuda a vida dos signos no seio da vida social; ela formaria um parte da psicologia geral: nós nomearemos semiologia” 16 II.A – Conseqüências teóricas induzidas por certos conceitos saussurianos 1. As implicações da oposição saussuriana entre língua e fala “... A língua é uma instituição social; mas se distingue, por vários traços, das outras instituições políticas, jurídicas etc. Para compreender sua natureza especial, um nova ordem de fatos precisa intervir. A língua é um sistema de signos que exprimem idéias, e por isto comparável à escrita, ao alfabeto dos surdosmudos, aos ritos simbólicos, às formas de polidez, aos sinais militares, etc. Ela é somente o mais importante desses sistemas. Pode-se pois conceber uma ciência que estuda a vida dos signos no seio da vida social; ela formaria um parte da psicologia geral: nós nomearemos semiologia” 17 II.A – Conseqüências teóricas induzidas por certos conceitos saussurianos 1. As implicações da oposição saussuriana entre língua e fala A língua é pensada por Saussure como um objeto científico homogêneo (pertencente à semiologia), cuja especificidade se estabelece entre duas exclusões: I. a exclusão da fala no inacessível da ciência lingüística II. a exclusão das instituições “não-semiológicas” para fora da zona de pertinência da ciência lingüística 18 II.A – Conseqüências teóricas induzidas por certos conceitos saussurianos 1. As implicações da oposição saussuriana entre língua e fala (...) é um fato que esta oposição autoriza a reaparição triunfal do sujeito falante como subjetividade em ato, unidade ativa de intenções que se realizam pelos meios colocados à sua disposição. tudo se passa como se a lingüística científica (tendo por objeto a língua) liberasse um resíduo, que é o conceito filosófico de sujeito livre, pensado como o avesso indispensável , o correlato necessário do sistema. 19 II.A – Conseqüências teóricas induzidas por certos conceitos saussurianos 1. As implicações da oposição saussuriana entre língua e fala Seja, pois, a frase “a terra gira’: um lingüista précopernicano, que, por milagre conheça aas gramáticas gerativas e os trabalhos atuais dos semanticistas, teria certamente colocado uma incompatibilidade entre as as partes constitutivas da frase e declarado o enunciado anômalo. (p.73) Isso significa que nem sempre se pode dizer da frase que ela é normal ou anômala apenas por sua referência a uma norma universal inscrita na língua, mas sim que esta frase deve ser referida ao mecanismo discursivo específico que a tornou possível e necessária em um contexto científico dado. 20 II.A – Conseqüências teóricas induzidas por certos conceitos saussurianos 2. As implicações do conceito saussuriano de instituição INSTITUIÇÃO As instituições são o conjunto de atos e de idéias (instituídas) que os indivíduos encontram diante deles e que lhes são mais ou menos impostas. Função aparente x funcionamento Lugar x relações de força Antecipação x relações de sentido 23 II.A – Conseqüências teóricas induzidas por certos conceitos saussurianos 2. As implicações do conceito saussuriano de instituição CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO Os fenômenos lingüísticos de dimensão superior à frase podem efetivamente ser concebidos como um funcionamento mas com a condição de acrescentar imediatamente que este funcionamento não é integralmente lingüístico, no sentido atual desse termo e que não podemos defini-lo senão em referência ao mecanismo de colocação dos protagonistas e do objeto de discurso, mecanismo que chamamos “condições de produção” do discurso. 24 II.B – As condições de produção do discurso 1. Os elementos estruturais pertencentes às condições de produção descrição extrínseca análise intrínseca Do comportamento língüístico Da cadeia falada 25 II.B – As condições de produção do discurso 1. Os elementos estruturais pertencentes às condições de produção - um esquema “reacional”, derivado das teorias psicofisiológicas e psicológicas do comportamento: “estímulo-resposta” ou estímulo-organismo-resposta”; - um esquema “informacional” derivado das teorias sociológicas e psicossociológicas da comunicação: “emissor-mensagem-receptor”. (p.79) 26 II.B – As condições de produção do discurso 1. Os elementos estruturais pertencentes às condições de produção O esquema estímulo-organismo-resposta (S-O-R) Discurso 1 ou Estímulo nãodiscursivo (S) Sujeito (O) Discurso 2 ou comportamento não-discursivo (R) 27 II.B – As condições de produção do discurso 1. Os elementos estruturais pertencentes às condições de produção O esquema estímulo-organismo-resposta (S-O-R) PROBLEMA 1. Anula o lugar do produtor de S e do destinatário de R 1.1 É legítima quando a estimulação é física e a resposta é orgânica: Ex.: Variação de intensidade luminosa O experimentador apenas opera uma montagem 28 II.B – As condições de produção do discurso 1. Os elementos estruturais pertencentes às condições de produção O esquema informacional 2. Comportamento verbal: experimentador é uma parte da montagem, qualquer que seja a modalidade de sua presença, física ou não nas condições de produção do discurso-resposta, isto é, o estímulo só é estímulo em referência à situação de “comunicação verbal” na qual se sela o pacto provisório entre o experimentador e seu objeto. (p.80) O experimentador é parte da montagem 29 II.B – As condições de produção do discurso 1. Os elementos estruturais pertencentes às condições de produção O esquema S-O-R implica excessivos “esquecimentos” teóricos no domínio de nos ocupamos para ser conservado sob esta forma. X O esquema “informacional” apresenta, ao contrário, a vantagem de pôr em cena os protagonistas do discurso bem como seu “referente”. 30 II.B – As condições de produção do discurso 1. Os elementos estruturais pertencentes às condições de produção Uma definição de referente (Jakobson, 1963) Para ser operante, a mensagem requer antes um contexto ao qual ela remete (é isto que chamamos taembém, em uma terminologia um pouco ambígua, o “referente”), contexto apreensível pelo destinatário e que é verbal ou suscetível de ser verbalizado; em seguida a mensagem requer um código, comum, ou ao menos em parte, ao destinador e ao destinatário (ou, em outros termos, ao codificador e ao decodificador da mensagem). 31 II.B – As condições de produção do discurso 1. Os elementos estruturais pertencentes às condições de produção L D A B R A: o “destinador” B: o “destinatário” R: o “referente” L: o código lingüístico comum a A e a B : o “contato” estabelecido entre A e B D: a seqüência verbal emitida por A em direção a B 32 II.B – As condições de produção do discurso 1. Os elementos estruturais pertencentes às condições de produção Mas que significam esses termos? - A e B não designam indivíduos, mas lugares determinados (o empírico) na estrutura de uma formação social (FS) - Lugar do “patrão” (diretor, chefe da empresa ...), do funcionário de repartição, do contramestre, do operário, marcados por propriedades diferenciais determináveis. Nos processos discursivos esses lugares não aparecem como tais mas, antes, como representações, isto é, estão presentes, mas transformados. 33 II.B – As condições de produção do discurso 1. Os elementos estruturais pertencentes às condições de produção Mas que significam esses termos? (...) o que funciona nos processos discursivos é uma série de formações imaginárias que designam o lugar que A e B se atribuem cada um a si e ao outro, a imagem que eles se fazem de seu próprio lugar e do lugar do outro. (p.82) 34 II.B – As condições de produção do discurso 1. Os elementos estruturais pertencentes às condições de produção Mas que significam esses termos? (...) existem nos mecanismos de qualquer formação social regras de projeção [não biunívocas], que estabelecem as relações entre as situações (objetivamente definíveis) e as posições (representações essas situações). (p.82) situação várias posições posição diferenças de situação 35 II.B – As condições de produção do discurso 1. Os elementos estruturais pertencentes às condições de produção Expressões que designam as FIs Significação da expressão Questão implícita cuja “resposta” subentende a FI correspondente IA(A) Imagem do lugar de A para o “Quem sou eu para lhe falar assim?” sujeito colocado em A IA(B) Imagem do lugar de B para o sujeito colocado em A “Quem é ele para que eu lhe fale assim?” IA(R) “Ponto de vista” de A sobre R “De que lhe falo assim?” IB(B) Imagem do lugar de B para o sujeito colocado em B “Quem sou eu para que ele me fale assim?” IB(A) Imagem do lugar de A para o sujeito colocado em B “Quem é ele para que me fale assim?” IB(R) “Ponto de vista” de B sobre R “De que ele me fala assim?” 36 II.B – As condições de produção do discurso 1. Os elementos estruturais pertencentes às condições de produção As relações imaginárias entre os sujeitos e destes com a situação, o contexto constituem as condições de produção do discurso. E isso se expressa teórico-metodologicamente na forma do mecanismo de antecipação, isto é, - uma antecipação, por parte do emissor, das representações do receptor 37 II.B – As condições de produção do discurso 1. Os elementos estruturais pertencentes às condições de produção Como A representa para si as representações de B Como B representa para si as representações de A IA(IB(A)) IA(IB(B)) IA(IB(R)) IB(IA(B)) IB(IA(A)) IB(IA(R)) Hipótese: as antecipações de A com respeito a B, por exemplo, devem ser pensadas como derivadas de IA(A), IA(B), IA(R) 38 II.B – As condições de produção do discurso 1. Os elementos estruturais pertencentes às condições de produção Hipótese: as antecipações de A com respeito a B, por exemplo, devem ser pensadas como derivadas de IA(A), IA(B), IA(R) Como A representa para si as representações de B IA(IB(A))=f(IA(B)). (IA(A)) IA(IB(B))=g(IA(A)). (IA(B)) IA(IB(R))=h(IA(R)). (IA(B)) 39 II.B – As condições de produção do discurso 1. Os elementos estruturais pertencentes às condições de produção Estado n das condições de produção do discurso Dx que A dirige a B a propósito de R (p.85) I An ( A) I n ( B) A I n ( R) A xn ( A, B) n n I A ( I B ( A)) n n I A ( I B ( B )) I An ( I Bn ( R )) 40 II.B – As condições de produção do discurso 1. Os elementos estruturais pertencentes às condições de produção As componentes do vetor são representações imaginárias Resultam de processos discursivos anteriores (onde se inscrevem os sujeitos para produzir sentidos) São atravessados pelo já-ouvido e pelo já-dito. Opõe-se à posição da fenomenologia em relação à condição pré-discursiva Nem todas as componentes do vetor têm igual eficácia – há dominantes, eventualmente. (p.86) 41 II.B – As condições de produção do discurso 1. Os elementos estruturais pertencentes às condições de produção Deslocamentos de dominância: relações de força e relações de sentido em “Liberdade” (p.86) – Professor de filosofia e seus alunos • A imagem que os alunos fazem daquilo que o professor lhes designa: IB(IA(R)) – Diretor de presídio e seus detentos • A imagem que os detentos fazem do representante da norma: IB(A) – Psiquiatra e seu paciente • A imagem que o paciente faz de si: IB(B) 42 II.B – As condições de produção do discurso 2. Esboço de uma representação formal dos processos discursivos n x Condições de Produção de um Discurso no estado n n x Processo de Produção desse Discurso Não é possível determinar a origem das condições de produção do discurso Mas é possível perguntar-se das transformações das condições de produção a partir de um dado estado. 43 II.B – As condições de produção do discurso 2. Esboço de uma representação formal dos processos discursivos Para possibilitar uma descrição formal dos processos discursivos é necessário tratar: - a questão da correspondência entre n x e n x - a questão da transformação (p.87) n x n1 x 44 II.B – As condições de produção do discurso 2. Esboço de uma representação formal dos processos discursivos Pêcheux prescreve duas regras para tratar a correspondência e a transformação REGRA 1 (emissão codificação) O processo de produção de um discurso Dx (no estado n) resulta da composição das condições de produção de Dx (no estado n) com um sistema lingüístico L dado. (p.88) n x ◦ L n x 45 II.B – As condições de produção do discurso 2. Esboço de uma representação formal dos processos discursivos Pêcheux prescreve duas regras para tratar a correspondência e a transformação REGRA 2 (recepção decodificação) Todo processo de produção Δiy, em composição com um estado determinado n das condições de produção de um discurso Dx induz uma transformação desse estado. (p.89) n x * y i n1 x 46 II.B – As condições de produção do discurso 2. Esboço de uma representação formal dos processos discursivos Comentários sobre a REGRA 2 A presença de um processo particular no campo discursivo transforma o estado das condições de produção Porque o discurso que A dirige a B modifica o estado de B na medida em que B pode comparar as “antecipações” que faz de A no discurso de A Mas também porque todo orador é um ouvinte virtual do próprio discurso, o que implica que aquilo que é dito por A transforma igualmente as condições de produção próprias a A. 47 II.B – As condições de produção do discurso 2. Esboço de uma representação formal dos processos discursivos Comentários sobre a REGRA 2 A partir dos dois últimos comentários, tem-se que a decodificação pode ser interna e/ou externa por causa do mecanismo de “antecipação” , do jogo do imaginário. Em algumas situações – escrita de uma carta ou na radiodifusão – não há decodificação externa, porque não há uma resposta. (p.90) 48 (DE): Decodificação Externa; (DI): Decodificação Interna; (E):Codificação; (Ambos respondem: há modificação do discurso) 49 (E):Codificação; (DI): Decodificação Interna; (Não há resposta: não há modificação do discurso) 50 II.B – As condições de produção do discurso 2. Esboço de uma representação formal dos processos discursivos Propõe-se a solucionar o seguinte problema (p.91-92): “Dado um estado definido de condições de produção de um discurso-monólogo Dx (seja Γx) e um conjunto finito de realizações discursivas empíricas de Dx (seja Dx1 Dx2 Dx3.... Dxn) representativas desse estado, determinar a estrutura do processo de produção (Δx) que corresponde a Γx,, isto é, o conjunto dos domínios semânticos colocados em jogo em Dx , bem conmo as relações de dependência existentes entre esses domínios.” 51 II.C – Por uma análise do processo de produção do discurso (...) a série das superfícies discursivas Dx1 Dx2 Dx3.... Dxn constitui um vestígio do processo de produção Δx do discurso Dx , isto é, da “estrutura profunda” comum a Dx1 Dx2 Dx3.... Dxn . Nosso empreendimento consiste, pois, em remontar desses “efeitos de superfície” à estrutura invisível que os determina: é só depois que uma teoria geral dos processos de produção discursivos torna-se realizável, enquanto teoria da variação regulada das “estruturas profundas”. 52 II.C – Por uma análise do processo de produção do discurso 1. Efeito metafórico Sejam dois termos x e y pertencentes a uma mesma categoria gramatical em uma língua dada L. Existe pelo menos um discurso no interior do qual x e y possam ser substituídos um pelo outro sem mudar a interpretação desse discurso. (p.94) CASOS: 1. Não há possibilidade 2. Há eventualmente a possibilidade 3. Sempre é possível 53 II.C – Por uma análise do processo de produção do discurso 2. Há eventualmente a possibilidade Sinonímia local ou contextual x=brilhante/y=notável Ex.: Esse matemático é (x/y) Ex.: A luz brilhante do farol o cegou 3. Sempre é possível Sinonímia não-contextual Substituição: x=refrear/y=reprimir 54 II.C – Por uma análise do processo de produção do discurso Sinonímia não-contextual “a sinonímia não-contextual apareceria assim como um limite para o qual tende uma sinonímia contextual verificada em condições de produção cada vez mais numerosas” sinonímia contextual: regra sinonímia não-contextual: exceção 55 II.C – Por uma análise do processo de produção do discurso Efeito metafórico e ancoragem semântica. Seja um estado Γx e um corpus Cx de discursos estritamente representativos desse estado, Cx= Dx1 Dx2 Dx3.... Dxn . Considere agora uma série (inverossímil) de efeitos metafóricos cujo efeito é manter uma ancoragem semântica, uma vez que Dxn e Dx1 são semanticamente equivalentes. (p.96-97) 56 II.C – Por uma análise do processo de produção do discurso 57 II.C – Por uma análise do processo de produção do discurso Efeito metafórico e ancoragem semântica. A série (inverossímil) de efeitos metafóricos representados por: a/j, g/k, d/m, b/x, h/w, etc. permite-nos escrever que: “o confronto recíproco das formas variadas da superfície permite, ao multiplicar a presença do discurso por ele mesmo, manifestar a estrutura invariante do processo de produção para um estado dado, estrutura esta cujas variações são os sintomas”. 58 II.C – Por uma análise do processo de produção do discurso 2. Da superfície discursiva à estrutura do processo de produção. Análise do exemplo teórico a) Não pode haver dois discursos que pertencem à mesma estrutura de produção e não possuem nenhum termo em comum. b) A noção de contexto c) Efeito de dominância e o recorte de zonas de pertinência Porque há leis semântico-retóricas que regem os deslizamentos de sentido em um processo de produção. 59 II.C – Por uma análise do processo de produção do discurso 2. Da superfície discursiva à estrutura do processo de produção. A passagem de uma seqüência discursiva a outra não se dá necessariamente por uma substituição, mas por uma série de efeitos metafóricos. Benveniste “A frase contém signos, mas não é ela mesma um signo” “A frase pertence ao discurso; é por isto que a podemos definir: a frase a unidade do discurso” 60 II.C – Por uma análise do processo de produção do discurso 2. Da superfície discursiva à estrutura do processo de produção. “Uma substituição tem sempre por contexto o enunciado, considerado como combinação-substituição de lexemas, ao passo que não podemos dizer que um enunciado tenha um contexto, no mesmo sentido da palavra, pois os enunciados podem estar ligados por uma relação de dependência funcional (...).” (p.100) 61 II.C – Por uma análise do processo de produção do discurso 2. Da superfície discursiva à estrutura do processo de produção. “Nosso problema se apresenta como sendo o de saber pôr em relação as propriedades internas dos enunciados (como combinação de signos) e suas propriedade externas (como elementos funcionais no discurso), a fim de determinar os casos em que a interpretação semântica – no sentido que a lógica dá a esta expressão – é idêntica para dois enunciados dados” (p.101) 62 E1=E1’= O xerife avançava prudentemente em direção ao saloon. E2=E2’=a tempestade ribombava E3= um tiro atravessou a noite E4= um clarão atravessou a noite E5= um raio atravessou a noite E6=E6’= a bala o roçou E7=E7’= a granja estava em chamas Considere os operadores: - φ1= “de repente” (relação temporal entre um enunciado estado e um enunciado-acontecimento) - φ2= “:” (relação explicativa) E3, E4, E5: condição de proximidade paradigmática 63 II.C – Por uma análise do processo de produção do discurso Em Cx: (E3 e E4 - interpretação semântica idêntica) O xerife avançava prudentemente em direção ao saloon “de repente” um tiro atravessou a noite “:” a bala o roçou O xerife avançava prudentemente em direção ao saloon “de repente” um clarão atravessou a noite “:” a bala o roçou Em Cy: ((E4 e E5 - interpretação semântica idêntica) A tempestade ribombava “de repente” um clarão atravessou a noite “:” a granja estava em chamas A tempestade ribombava “de repente” um raio atravessou a noite “:” a granja estava em chamas Mas E3 não é idêntico a E5! 64 II.C – Por uma análise do processo de produção do discurso “Um discurso não apresenta, na sua materialidade textual, uma unidade orgânica em um só nível que se poderia colocar em evidência a partir do próprio discurso, mas que toda forma discursiva particular remete necessariamente à série de formas possíveis, e que essas remissões da superfície de cada discurso às superfícies possíveis que lhe são (em parte) justapostas na operação de análise, constituem justamente os sintomas pertinentes do processo de produção dominante que rege o discurso submetido à análise” 65