Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Ciências Biológicas Departamento de Biologia Geral Lipídios em ecossistemas aquáticos Thiago Cavanelas Gelape O que são os lipídeos? • Grupo quimicamente diverso, cujo traço comum é a insolubilidade em água • Funções: estocagem de energia, membranas biológicas, co-fatores de enzimas, carreadores de elétrons, pigmentos absorvedores de luz, agentes emulsificadores, hormônios, mensageiros intracelulares. Lipídeos de Reserva • São as gorduras e os óleos de reserva derivados de ácidos graxos Ácidos Graxos • São ácidos carboxílicos com cadeias de hidrocarboneto, com baixo nível de oxidação liberam muita energia • Contêm de 4 a 36 carbonos • Podem ser, quanto a saturação: – Cadeia saturada: sem ligações duplas – Cadeia insaturada: uma ou mais ligações duplas • Quanto à forma: – Lineares – Com ramos laterais: anéis de três carbonos, grupos hidroxila (OH), grupos metil (CH3) • Nomeclatura – específica tamanho da cadeia e número de ligações duplas, separados por dois pontos (:) – a posição das ligações duplas é especificada por número sobrescritos após a letra grega (delta) Ex:. Ácido Palmítico - 16:0 Ácido Oléico – 18:1 (9) Ácido Linoléico – 18:2 (9,12) Ácido Aracdônico – 20:4 (5,8,11,14) • Ácidos graxos mais comuns: números pares de átomos de carbonos em cadeias lineares de 13 a 24 carbonos • Em ácidos graxos monoinsaturados: ligação dupla geralmente no C9 • Em ácidos graxos polinsaturados: ligações duplas geralmente em C9, C12 e C15 • Tamanho da cadeia e grau de insaturação determinará as propriedades físicas dos ácidos graxos e compostos que os contêmconsistência da substância à temperatura ambiente (óleo ou cera) • Em vertebrados: ácidos graxos livres ( não esterificados, tendo um grupo carboxila livre) circulam no sangue ligados não covalentemente a uma proteína carreadora (albumina) • Contudo, encontram-se no sangue em sua maioria na forma de derivados de ácidos carboxílicos (s/ o grupo carboxila carregado, portanto menos solúveis que os ac. graxos livres) A família “Omega” de ácidos graxos • Omega (3, 6, 9...) – ácidos graxos polinsaturados • Porque o nome – posição da primeira ligação dupla a partir da extremidade oposta à extremidade carboxílica • Ex: Omega 3 – Ácido linolenico (18:3), ácido eicosapentanoico (20:5) Omega 6 – Ácido aracdônico (20:4), ácido linoleico (18:2) Triacilgliceróis • São os lipídeos mais simples construídos a partir de ácidos graxos • Também conhecidos como triglicérides, gorduras ou gorduras neutras • São formados por 3 ácidos graxos, cada um em ligação éster com um glicerol • Podem ser: – Simples: um único tipo de ácido graxo – Mistos: mais de um tipo de ácidos graxos • São apolares, hidrofóbicos, insolúveis em água (cargas anuladas pela ligação) Funções dos Triacilgliceróis Reserva de energia • Células eucarióticas: triacilgliceróis formam gotas de óleo microscópicas no citoplasma Depósitos de combustível metabólico • Em vertebrados: células especializadas denominadas adipócitos armmazenam grandes quantidades • Em plantas: armazenados na forma de óleos, provendo energia e precursores biossintéticos durante a germinação • Vantagens de sua utilização como reserva de energia: – Sua oxidação libera o dobro de energia por grama do que os carboidratos: até 10X, pois seus carbonos estão mais reduzidos – São hidrofóbicos, portanto não hidratados (para cada grama de polissacarídeos há de 2 a 5 g de água) Isolamento Térmico • Focas, pinguins e outros animais polares marinhos de sangue quente são revestidos sob a pele com triacilgliceróis • Razões: – Apresentam menor condutância térmica que a água – Tecidos lipídicos são metabolicamente pouco ativos, e requerem pouco aporte de sangue previne a perda de calor para o ambiente pela superfície corporal (vantagem sobre pelagem) • Além disso, a baixa densidade dos triacilgliceróis é a base para uma de suas funções mais espetaculares........ Baleias Cachalote • Cabeça: 1/3 do peso do corpo • Espermacete: órgão responsável por 90% do peso da cabeça. É uma massa de lipídeos, contendo até 3,600 kg de óleo espermacete, uma mistura de triacilgliceróis e ceras contendo ácidos graxos insaturados em abundância • Esta mistura é líquida a 37ºC (temperatura normal da baleia), mas começa a cristalizar a 31ºC, e se torna sólida abaixo disto • Hábitos alimentares: caçam cefalópodos a mais de 1000 m abaixo da superfície ( mas já foram achadas a 3000m) • Ajustam sua densidade permanecem no fundo sem esforço • Para isto: mecanismos fisiológicos promovem resfriamento do óleo, que congela ou cristaliza, se tornando mais denso, ajustando assim a densidade • Adaptação anatômica e bioquímica: triacilgliceróis e ceras sintetizadas contêm ácidos graxos com comprimentos de cadeia e graus de insaturação certos para dar aos óleo o ponto de congelamento certo propício aos hábitos de mergulho do animal • Óleo spermaceti: ótimo para lâmpadas 500.000 baleias restantes no mundo Ceras • Ceras biológicas: ésteres de ácidos graxos saturados e insaturados de cadeia longa com álcoois de cadeia longa • Servem a uma diversidade de funções na natureza, relacionadas a suas propriedades impermeabilizantes e consistência firme: – Glândulas vertebrados: lubrificação, impermeabilização da pele – Aves aquáticas: glândulas secretam ceras para manter as penas impermeabilizadas – Plantas: ceras evitam evapotranspiração excessiva e protegem contra parasitas • Indigeríveis por vertebrados e animais terrestres, mas extremamente importantes, junto com as gorduras e óleos, para as cadeias alimentares de animais marinhos. Ceras nos ambientes marinhos • Ocorrem em uma ampla variedade de organismos marinhos: moluscos, cefalopodes, camarões, anêmonas do mar, corais e vários peixes. • Seus produtores primários: pequenos crustáceos planctônicos, especialmente copépodos • Principal forma de armazenamento de energia destes pequenos animais (até 70% de seu peso seco). • Seus produtores utilizam-se dos ácidos graxos dos triacilgliceróis do fitoplâncton para produzir as ceras • Imensa importância das ceras para o ecossistema marinho plâncton crustáceo é a principal ligação entre o fitoplâncton e os consumidores • Tem-se estimado que, por causa desta ligação, metade da produção fotossintética da terra é, por um tempo, convertida em cera • Peixes que se alimentam de copépodos (arenque, anchovas, sardinhas) apresentam lipases que digerem ceras. • Em outros peixes, a quantidade de lipases de cera é menor deixa aberta a questão de quão bem podem digerir estes compostos • Por serem encontradas em grande variedade de animais, surge a questãoceras são metabolizadas e utilizadas como energia ou apenas armazenadas, pela dificuldades de digestão • Aves marinhas também predam animais que contêm grande quantidade de ceras • Algumas espécies alimentam seus filhotes com grandes quantidade de microcrustáceos 2/3 da energia digerível no alimento consiste de cera • As ceras não são excretadas nas fezes nem armazenadassão metabolizadas diretamente ou convertidas a tricilgliceróis • Estudo comprovam esta teoria • Questão em aberto: se estas aves utilizam simbiose com bactérias digestoras de ceras. • Conclusão: aves marinhas podem utilizar eficientemente a grande quantidade de ceras altamente energéticas existente nos oceanos, assim com é plausível que outros animais também as utilizam em suas cadeias alimentares. “Adult prey choice affects chicks growth and reproductive sucess in pigeon guillemots” Authors: GOLTE, G.H.; KULETZ, K.J.; ROBY, D.D.; IRONS, D.B. AUK 116 (1): 82-91 Jan 2000 • Local de estudo: Prince Sound William, Alaska • Tempo: entre 1979 e 1997 • Objetivo: estudar a dieta e taxa de crescimento dos filhotes e sucesso reprodutivo de adultos para a determinação de fatores limitantes para populações em reprodução • Evidência de especialização por presas entre pares reprodutivos e diferenças no sucesso reprodutivo entre especialistas e generalistas • Performance reprodutiva variou entre pares como uma função da proporção de peixes com alto teor lipídico fornecido aos filhotes – Peixes com alto teor lípidico: maior sucesso reprodutivo total • A proporção de peixes com alto teor lipídico na dieta foi positivamente relacionada ao crescimento dos filhotes • Análises de regressão sugerem que a porcentagem de ocorrêcia de peixes de alto teor lipídico na dieta afetou o crescimento de jovens a nível populacional • Conclusão: A espécie se beneficia ao se especializar quando seleciona presas para seus filhotes, e peixes com alto teor de lipídeos aumentam a crescimento dos filhotes e o sucesso reprodutivo Conclusão Lipídeos são importantíssimos para ecossistemas aquáticos, estando presentes em grande parte dos níveis tróficos, participando das mais diversas funções e processos