GRÁFICOS EM COORDENADAS POLARES: UMA ANÁLISE SOBRE O DESEMPENHO DE ALUNOS Gilmer Jacinto Peres Instituto Superior de Educação Anísio Teixeira RESUMO: O uso do computador, como ferramenta auxiliar na aprendizagem, pode contribuir para um melhor desempenho dos alunos. Neste trabalho, descrevemos a análise de uma atividade que foi aplicada a alunos de Licenciatura em Matemática, essa atividade foi realizada com o uso de um software no laboratório de informática da instituição na disciplina de Cálculo Diferencial e Integral III. A atividade envolveu a construção de gráficos em Coordenadas Polares a partir do software MathGv. Os resultados evidenciam duas posturas dos alunos: um grupo que utilizou os recursos do computador para fazer suas observações e verificar suas conjecturas e outro grupo que apenas construiu os gráficos sem, no entanto, registrar as observações feitas. PALAVRAS-CHAVE: Coordenadas Polares; Ensino de Matemática; Laboratório de Informática. 1. Introdução O presente pôster aborta a análise de uma atividade que foi aplicada em alunos de graduação no laboratório de informática. A atividade tratou da construção de gráficos em Coordenadas Polares, e foi realizada por alunos do quinto período da Licenciatura em Matemática na disciplina de Cálculo Diferencial e Integral III em uma instituição situada na grande Belo Horizonte. Frota (2004) descreve, em seu trabalho, uma investigação sobre o uso de estratégias gráficas na aprendizagem de Cálculo por alunos de engenharia. Embora a pesquisadora tenha focado sua pesquisa na representação gráfica de funções integrandas, ela aponta que estratégias gráficas podem evitar o uso indevido de certos teoremas do Cálculo, e destaca que, dentre os alunos pesquisados, mesmo aqueles que possuíam calculadoras gráficas na atividade demonstraram resistência em usá-las, e por isso questiona quais as origens dessa resistência pelos alunos. Outro trabalho, realizado por Peres (2007), descreve um relato de experiência que utilizou a construção de gráficos em Coordenadas Polares. O autor destaca que os alunos, no desenvolvimento da atividade proposta, limitaram-se apenas em resolver as questões, não utilizando as potencialidades existentes no software para esboçar outras funções diferentes das propostas. Nesse contexto, analisar a produção de alunos a partir que uma atividade que estimule a construção de gráficos e a reflexão após a mudança de variáveis na função, pode ajudar a entender os motivos pelos quais os alunos não utilizam as estratégias gráficas e nem as potencialidades das ferramentas que dispõe. Este trabalho consta de quatro partes: na primeira destacamos os conceitos principais sobre coordenadas polares e os referenciais sobre o uso do computador; na segunda parte destacamos os procedimentos metodológicos dessa pesquisa; na terceira destacamos a análise feita a partir dos registros dos alunos e na última parte destacamos as considerações referentes a analise dos dados. 2. Coordenadas polares e o uso do computador No sistema de coordenadas retangulares, um ponto é localizado a partir de um par ordenado ( x, y ) . Já o sistema de coordenas polares: “consiste em um ponto O fixo, chamado de pólo (ou origem) e de um raio que parte do pólo, chamado eixo polar. Num tal sistema de coordenadas, podemos associar a cada ponto P do plano um par de coordenadas polares ( r , θ ) , onde r é a distância de P ao pólo e θ é o ângulo entre o eixo polar e o raio OP .” (ANTON; BIVNES & DAVIS, 2007, p.717). Nesse sistema, podemos utilizar eixos auxiliares que formam outros ângulos com o eixo polar. Outro conceito utilizado na atividade foi o de simetria. Uma curva, quando feita a partir do sistema de Coordenadas Polares, pode ser simétrica em relação ao eixo polar quando, na expressão matemática de sua função, o θ for substituído por − θ e a equação obtida for equivalente à primeira. Também pode ser simétrica ao eixo que forma um ângulo de π 2 com o eixo polar quando, na expressão matemática de sua função, θ for substituído por π − θ e a equação resultante for equivalente. Outra forma de simetria está em substituir, na expressão matemática de sua função, θ por π + θ ; neste caso, se a equação obtida for equivalente, a curva será simétrica em relação ao pólo. Em seu trabalho, Borba e Penteado (2007) discutem a inserção da informática no ensino de Matemática. Eles destacam a importância e a necessidade da inserção do computador nas escolas, e destacam que “a escolha de propostas pedagógicas que enfatizem a experimentação, visualização, simulação, comunicação eletrônica e problemas abertos. Consideramos que essas propostas estariam em ressonância e em sinergia com a informática.” (BORBA & PENTEADO, 2007, p.88). 3. Metodologia O trabalho foi desenvolvido com uma turma do quinto período do curso de Licenciatura em Matemática em um Instituto Superior de Educação situado na grande Belo Horizonte. A atividade, que utilizou os computadores do laboratório de informática da instituição, teve como foco estimular os alunos a entender o comportamento de gráficos em Coordenadas Polares a partir de modificações feitas na expressão matemática de funções que foram propostas inicialmente. A escolha dos valores era feita pelos próprios alunos, o que entendemos permitir uma maior participação na atividade. A atividade teve a duração de cem minutos. Os alunos foram divididos em duplas, e cada dupla recebeu a atividade impressa em uma folha que continha também algumas instruções para o uso do software. O software Mathgv1 é um software que foi desenvolvido por Greg Van Mullem para o traçado de gráficos em duas e três dimensões e também em Coordenadas Polares nesse programa, a variável θ deve ser substituída por x. Na primeira questão, foi solicitado aos alunos que criassem gráficos em Coordenadas Polares a partir de funções que gerariam circunferências2. Os alunos deveriam criar funções diferentes e comentar sobre as possíveis mudanças ocorridas no gráfico da função em relação aos valores escolhidos. O objetivo dessa questão era fazer com que os alunos percebessem que as três funções gerariam circunferências e que as mudanças feitas alterariam apenas os raios das mesmas. 1 2 Disponível em: http://www.mathgv.com/ . As funções sugeridas foram: r = a ; r = 2a cos( x) e r = 2asen( x) . A segunda questão, como ampliação da primeira, teve por objetivo trabalhar a idéia de simetria existente nos gráficos. Em coordenadas polares, uma função pode ser simétrica em relação ao pólo, ao eixo polar e ao eixo que forma um ângulo de π 2 com o eixo polar. A terceira questão abordou a construção de gráficos que formam rosáceas3, e os objetivos foram os mesmos apresentados na questão de número um. Na quarta questão, abordamos os mesmos objetivos presentes na segunda questão, porém tendo como foco a análise dos gráficos esboçados na terceira questão. As nove duplas foram identificadas pelas letras do nosso alfabeto: A, B, C,.... H, I. Neste trabalho, destacaremos apenas os resultados da dupla B, uma vez que eles foram os únicos a desenvolverem toda a atividade. As outras duplas optaram em esboçar primeiro todos os gráficos, o que impediu o registro de suas observações. 4. Análise das respostas A dupla B, destacada neste trabalho, fez considerações bastante interessantes em relação à primeira questão. Eles perceberam que o valor atribuído para a constante a determinava o raio da circunferência, e destacaram que, no caso das funções que utilizam o seno e o cosseno, o valor atribuído para a determinava o diâmetro da mesma. Nessa observação, os alunos esqueceram que a expressão dada para a construção dos gráficos era r = 2a cos( x) e r = 2asen( x) , o que fazia o valor de a dobrar sempre. Para o caso das circunferências geradas pela função r = a , eles observaram que os centros estariam sempre na origem. Na segunda questão, os alunos também fizeram observações bastante interessantes para cada um dos casos. No item a, que pedia a troca de f(x) por f(-x), eles destacaram que não há alterações no gráfico para as funções r = 2a cos( x) . Já para as funções r = 2asen( x) , eles perceberam que: 3 As funções sugeridas foram: r = asen(n θ ) e r = a cos(nθ ) . “o gráfico foi simétrico, ou seja, rebateu em y, mas em sentido oposto ao da função primária.” (Alunos da dupla B). Nesse caso, podemos perceber uma confusão dos alunos que utilizaram o termo eixo y, enquanto que o correto seria o uso de eixo que forma um ângulo de π 2 com o eixo polar. Apesar desse erro, eles foram capazes de perceber a existência de simetria, um dos objetivos da questão. Já para o segundo item que pedia a troca de f(x) por f( π -x), eles destacaram que: “O gráfico de 4cos(pi-x) é simétrico ao gráfico da função primária, rebate no eixo x mas em sentido oposto. O gráfico de 4sen(pi-x) manteve igual ao da função primária.” (Dupla B). Na terceira questão eles destacaram que: “Quando atribuímos valores pares, percebemos que na função seno as pétalas fixam nos eixos, e na função cosseno, as pétalas fixam nas bissetrizes dos quadrantes. No caso de valores ímpares, sempre vai existir uma única pétala que se fixará no eixo respectivo da função, ou seja, quando a função for seno, a pétala fixará no eixo y, quando for cosseno fixará no eixo x. O número de pétalas para valores pares será sempre o dobro, para valores ímpares, esse valor determinará o número de pétalas.” (Dupla B) Na última questão, eles também foram capazes de perceber quando os gráficos seriam simétricos. Essas respostas evidenciam que, para esses alunos, a atividade proporcionou uma melhor compreensão sobre os gráficos em Coordenadas Polares. 5. Considerações Finais No desenvolvimento dessa atividade chama a atenção que, das nove duplas participantes, apenas uma dupla avançou tanto. Quando indagados sobre a falta de registro, as outras oito duplas alegaram que consideravam mais importante a realização de todos os gráficos, para depois observarem e registrarem suas conclusões. Todas essas duplas fizeram o registro apenas da primeira atividade, destacando que o raio das circunferências era determinado pela constante a . Embora o professor, no desenvolvimento da tarefa, tenha deixado claro que não havia a necessidade dos alunos se preocuparem em realizar toda a atividade, e que seria mais interessante que eles explorassem cada questão esgotando todas as possibilidades para então passar para a próxima, ainda sim eles optaram em realizar primeiro a construção de todos os gráficos. Em relação a essas duas posturas, podemos entender que nesse estudo de caso os alunos, em sua maioria, ainda apresentam uma preocupação focada na resolução da atividade, e não na reflexão e análise dos resultados encontrados. No caso da dupla B, podemos entender que, quando os alunos se preocupam na reflexão e análise dos dados encontrados, eles conseguem avançar, chegando a várias observações. Essa situação sugere um trabalho de maior conscientização por parte dos professores, levando os alunos e entender que, em alguns casos, a análise e a reflexão permitem um melhor entendimento de conceitos matemáticos. 6. Referências ANTON, Howard; BIVENS, Irl; DAVIS, Stephen. Cálculo. Trad. Claus Ivo Doering. 8.ed. Porto Alegre: Bookman, 2007. BORBA, Marcelo de Carvalho; PENTEADO, Miriam Godoy. Informática e Educação Matemática. 3.ed. 2. reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. FROTA, Maria Clara R. Estratégias gráficas na aprendizagem de Cálculo. In: VIII ENEM – Encontro Nacional de Educação Matemática, 2004, Recife. Anais do VIII ENEM, 2004. p.7-20. PERES, Gilmer J. Coordenadas Plares: uma experiência no laboratório de informática. In: IX ENEM – Encontro Nacional de Educação Matemática, 2007. Belo Horizonte. Anais do IX ENEM, 2007.p.2-5.