UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA
NÍVEL MESTRADO
CLÁUDIO VINÍCIUS SILVA FARIAS
APRENDIZADO, INOVAÇÃO E COOPERAÇÃO: um estudo do segmento
vinícola do arranjo produtivo da vitivinicultura da Serra gaúcha
SÃO LEOPOLDO
2010
2
CLÁUDIO VINÍCIUS SILVA FARIAS
APRENDIZADO, INOVAÇÃO E COOPERAÇÃO: um estudo do segmento
vinícola do arranjo produtivo da vitivinicultura da Serra gaúcha
Dissertação apresentada como requisito
parcial para obter o título de Mestre, pelo
Programa
de
Pós-Graduação
em
Economia da Universidade do Vale do
Rio dos Sinos.
Orientadora: Profa. Dra. Ana Lúcia Tatsch
Co-Orientadora: Profa. Dra. Gláucia A. Campregher
SÃO LEOPOLDO
2010
3
CLÁUDIO VINÍCIUS SILVA FARIAS
APRENDIZADO, INOVAÇÃO E COOPERAÇÃO: um estudo do segmento
vinícola do arranjo produtivo da vitivinicultura da Serra gaúcha
Dissertação apresentada como requisito
parcial para obter o título de Mestre, pelo
Programa de Pós-Graduação em Economia
da Universidade do Vale do Rio dos Sinos.
Aprovado em ____/____/2010.
BANCA EXAMINADORA:
_____________________________________________
Profa. Dra. Gláucia Angélica Campregher – UFSM
_____________________________________________
Prof. Dr. Achyles Barcelos da Costa – Unisinos
_____________________________________________
Prof. Dr. Marco Antonio Vargas – UFF
_____________________________________________
Profa. Dra. Janaína Ruffoni Trez - Unisinos
Profa. Dra. Ana Lúcia Tatsch (Orientadora)
Visto e permitida à impressão.
São Leopoldo, ____/____/2010.
Prof. Dr. André Filipe Zago de Azevedo
Coordenador Executivo PPG em Economia
4
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Ficha Elaborada pelo Bibliotecário Filipe Xerxenesky da Silveira – CRB 10/1497
F224a
Farias, Cláudio Vinícius Silva.
Aprendizado, Inovação e Cooperação: um estudo do segmento vinícola
do arranjo produtivo da vitivinicultura da Serra Gaúcha. /
Cláudio Vinícius Silva Farias. -- São Leopoldo, 2010. 198 f.
Dissertação (Mestrado) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos,
Programa de Pós-Graduação em Economia, 2010.
Orientadora: Profª Drª Ana Lúcia Tatsch
Co-orientadora: Profª Drª Gláucia A. Campregher
1. Economia. 2. Vitivinicultura. 3. Aprendizado. 4. Inovação.
5. Cooperação I. Título.
CDU – 338.439:663.2
5
AGRADECIMENTOS
Ao longo desta jornada, que se encerra com a apresentação desta dissertação,
muitas pessoas e organizações tiveram um papel fundamental, e sem o apoio destas,
certamente não conseguiria chegar onde estou agora.
Primeiramente, gostaria de agradecer a Deus por ter permitido chegar até aqui,
mesmo em meio a tantas adversidades.
Agradeço de forma especial a Profa. Ana Lúcia Tatsch, pela orientação
impagável e paciência ilimitada, diante das inúmeras dificuldades que lhe impus durante
a construção deste trabalho. Agradeço também a ajuda da Profa. Gláucia Campregher,
que mesmo sem a obrigação institucional de fazê-lo, co-orientou esta dissertação,
empenhando além de seu conhecimento, a amizade e espontaneidade que lhe são
características. Agradeço, igualmente, aos demais membros da Banca, por suas
considerações que conduziram à melhoria desse trabalho.
Aos professores e funcionários do Programa de Pós-Graduação em Economia,
por suas importantes participações nessa etapa de minha vida. Agradeço também as
colegas do mestrado, pela troca de experiências, e aos amigos do Campus Porto Alegre
do IFRS, pela preocupação comigo, principalmente nos prazos finais de entrega desse
trabalho.
A todos os empresários e representantes de instituições vinculados ao APL
vitivinícola da Serra gaúcha, pelas inúmeras horas despendidas na resposta aos
questionamentos que conduziram ao resultado final deste trabalho. Devoto um especial
agradecimento ao Sr. Carlos Paviani, Diretor Executivo do IBRAVIN, e ao Prof. Dr.
Eduardo Giovaninni, Diretor Geral do Campus Bento Gonçalves do IFRS, pela
6
transmissão de seus conhecimentos e pelo apoio ao acesso às empresas e organizações
do setor.
Agradecimento especial à Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES), pela concessão da bolsa de estudos que viabilizou a realização deste
curso.
Por fim, mas não por último, agradecer a minha amada esposa, companheira,
amiga e motorista, que em todos os momentos, até os mais difíceis, esteve sempre ao
meu lado. Rendo a ti não apenas minha gratidão, mas todo o meu amor.
7
[...] Melhor é serem dois do que um... Pois se caírem,
um levantará o seu companheiro [...].
Eclesiastes 4:9-11
8
RESUMO
A presente dissertação tem por objetivo caracterizar e avaliar os processos de
aprendizado, que conduzem ao fortalecimento da capacidade de inovação e cooperação
das empresas do segmento vinícola localizado na Serra gaúcha. Ancorado no conceito
de Arranjos Produtivos Locais (APLs), buscou-se inicialmente realizar uma
caracterização do arranjo vitivinícola, expandindo a análise para além da cadeia
produtiva da uva e do vinho, com especial atenção aos aspectos históricos e
institucionais que conduziram ao desenvolvimento desse arranjo. Mapearam-se as
principais relações de cooperação, buscando qualificar os relacionamentos que se
estabelecem entre as firmas, e destas com as demais organizações. Por meio de um
levantamento de dados empíricos, coube analisar os processos de aprendizagem
enquanto raízes das inovações e da cooperação dentro do Arranjo.
Palavras-Chave: Processos de Aprendizagem; Inovação; Cooperação; Arranjo
Produtivo Local; Vitivinicultura.
9
ABSTRACT
This work aims to characterize and evaluate the learning processes that lead to
strengthening the capacity of innovation and cooperation of the business segment
winery located in the Serra Gaucho. Anchored in the concept of Local Productive
Arrangements (LPAs), we sought initially to characterize the arrangement wine,
expanding the analysis beyond the production chain of the grape and wine, with special
attention to historical and institutional development that led to this arrangement. They
mapped out the main relations of cooperation, seeking to qualify the relationships
established between firms, and with those in other organizations. Through a survey of
empirical data, it fell to analyze the processes of learning as roots of innovation and
cooperation within the arrangement.
KEY-WORDS: Learning Processes; Innovation; Cooperation; Local Productive
Arrangements; wine sector
10
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Processo de produção de vinhos finos..................................................... 87
Figura 2 – Períodos Evolutivos da Vitivinicultura do Brasil................................. 107
11
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Evolução da quantidade de uvas processadas no RS (milhões Kg). .... 78
Gráfico 2 – Evolução do número de empresas vinícolas no RS............................... 84
12
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Lavoura permanente de uva no APL vitivinícola da Serra Gaucha
(2008) ......................................................................................................................... 76
Tabela 2 – Principais cultivares de uvas comuns no RS por superfície vitícola
(2007) ......................................................................................................................... 77
Tabela 3 - Principais cultivares de uvas viníferas no RS por superfície vitícola
(2007) ......................................................................................................................... 77
Tabela 4 – Comparativo dos municípios com maior produção de uva
industrializadas (milhões de Kg) – Safra 2005 a 2009 ............................................. 83
Tabela 5 – Produção de vinhos e derivados no RS (1994 a 2009) ............................ 86
Tabela 6 – Destino da uva processada no RS (2004 a 2009) .................................... 90
Tabela 7 – Procedência das importações de vinhos do Brasil (mil litros) ............... 91
Tabela 8 – Distribuição das empresas entrevistadas no APL ................................ 116
Tabela 9 – Distribuição das empresas da amostra por porte. ............................... 118
Tabela 10 – Municípios X Distribuição da empresas da amostra (por porte). ..... 118
Tabela 11 – Distribuição de empresas da amostra por período de fundação. ...... 119
Tabela 12 – Grau de constância (%) das atividades inovativas desenvolvidas pelas
empresas da amostra (2007 a 2009). ....................................................................... 133
Tabela 13 – Freqüência (%) das atividades de treinamento e capacitação de
recursos humanos pelas vinícolas da amostra (2007 a 2009) ................................. 137
Tabela 14 – Áreas em que se estabeleceram atividades de cooperação (2007 a 2009)
................................................................................................................................. 147
Tabela 15 – Formas de cooperação que se estabeleceram (2007 a 2009) .............. 148
13
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Tipos de Cooperação Interfirmas .......................................................... 46
Quadro 2 – Principais Fornecedores de Máquinas, Equipamentos e Insumos
Enológicos às empresas do APL da Vitivinicultura da Serra gaúcha ..................... 94
Quadro 3 – Representação esquemática das principais organizações vinculadas à
vitivinicultura na Serra gaúcha .............................................................................. 100
Quadro 4 – Inovações e principais agentes de desenvolvimento (2007 a 2009) .... 128
14
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO.................................................................................................. 16
2 Aprendizagem, Inovação e Cooperação em Arranjos Produtivos Locais: uma
revisão de conceitos sob uma ótica evolucionária e neo-institucional ..................... 21
2.1 Processos de Aprendizagem na visão dos evolucionistas .................................... 24
2.2 Inovação na visão dos evolucionistas e de neo-institucionalistas ........................ 32
2.3 Processos de Cooperação em atividades inovativas ............................................ 41
2.4 A Relevância dos Arranjos Produtivos Locais (APL’s) e dos Sistemas de
Inovação .................................................................................................................. 49
2.4.1 Do Distrito Marshalliano ao Distrito Italiano ............................................... 49
2.4.2 Arranjos Produtivos Locais e Sistemas de Inovação .................................... 53
3 CARACTERIZAÇÃO DO APL DA VITIVINICULTURA DA SERRA
GAÚCHA .................................................................................................................. 60
3.1 - Constituição histórica do APL: os primórdios da vitivinicultura no RS e a
imigração italiana .................................................................................................... 61
3.2. Caracterização produtiva do APL da Vitivinicultura da Serra Gaúcha ............... 74
3.2.1 Produção vitícola no RS .............................................................................. 74
3.2.2 Produção Vinícola no RS ............................................................................ 83
3.2.3 Fornecedores de Máquinas, Equipamentos e Insumos enológicos ................ 94
3.3 Caracterização Institucional do APL .................................................................. 98
3.3.1 – Associações Representativas: IBRAVIN ................................................ 100
3.3.2 – Instituições de Apoio: APROVALE ....................................................... 102
3.3.3- Instituição de Pesquisa: Embrapa Uva e Vinho......................................... 104
3.3.4 – Instituições de Ensino: Campus Bento Gonçalves do IFRS ..................... 104
3.4. Periodização do ciclo da industrialização do vinho brasileiro .......................... 106
4
APRENDIZADO, INOVAÇÃO E COOPERAÇÃO EM VINÍCOLAS DA SERRA
GAÚCHA... ................................................................................................................. 112
4.1 - Metodologia da pesquisa ............................................................................... 112
4.1.1 – Perfil da amostra ........................................................................................ 116
4.2 – Inovação, Cooperação e Aprendizado ........................................................... 125
4.3 - Estrutura, governança e vantagens associadas ao ambiente local .................... 150
15
4.4 – Ações de Promoção ...................................................................................... 158
5
Considerações finais......................................................................................... 166
Referências bibliográficas....................................................................................... 173
APÊNDICES ........................................................................................................... 181
16
1 INTRODUÇÃO
A associação entre o surgimento da indústria vitivinícola no Rio Grande do Sul
(RS) e os processos de imigração, principalmente procedentes das diversas regiões da
Itália – ocorridos a partir do último quartil do século XIX -, é praticamente automático.
Tais imigrantes, quando da sua instalação no estado, trouxeram consigo hábitos
culturais e sociais altamente vinculados ao associativismo, que posteriormente viriam
introduzir no RS o germe dos sistemas cooperativados de produção, muito semelhantes
à estrutura das guildas profissionais na Idade Média1. A partir deste processo
migratório, se “importou” um modelo de “firma colonial” vitivinícola, caracterizada por
ser de pequeno porte, com forte vinculação familiar e permanente busca por
especialização da produção, que acabou por afetar (e acelerar) o progresso tecnológico
na região nordeste do RS.
Percebe-se que, desde a sua introdução, a vitivinicultura assume papel relevante
na estrutura produtiva da região da Serra gaúcha. Alguns autores, como Iotti (2001) e
Moure (1980), justificam isso com a origem dos colonos italianos: estima-se que 54%
dos imigrantes eram oriundos do Vêneto; 33% da Lombardia; 7% do Trento; e 6% das
demais regiões da Itália. Estas regiões são, a muitos séculos, tradicionais produtoras
vinícolas da Itália, com experiência em produção de vinhos que remonta o Império
1
Putnam (1996: 137) afirma: “Com a evolução da vida comunal, artesãos e comerciantes criaram guildas
para mútua assistência, com fins não apenas sociais mas também estritamente profissionais. O mais
antigo estatuto de guilda é o de Verona, que data de 1303, mas certamente foi copiado de algum outro
estatuto bem mais antigo. Eis algumas das obrigações dos membros: ‘assistência fraternal em todo tipo
de necessidade’ e ‘obrigação de oferecer ajuda em caso de doença’. ‘A violação dos estatutos implicava
boicote e ostracismo social’”.
17
Romano. Além do conhecimento técnico-produtivo acumulado, tais imigrantes
trouxeram em suas bagagens uma secular experiência de organização republicana.
Ao longo de mais de um século de história, a transformação da Serra gaúcha na
principal região produtora de vinhos do Brasil está intimamente relacionada à história
dos colonos italianos aqui chegados e às inúmeras mutações institucionais que estes
empreenderam (não somente no âmbito econômico, mas, sobretudo, no estabelecimento
de relações sociais, entre si e com outras instituições – tais como o Estado e o
“mercado”2).
Como pano de fundo desse trabalho, considerou-se que não apenas aspectos
tecnológicos foram “importados” com a vinda dos imigrantes italianos, mas também
aspectos sócio-culturais, que moldaram as instituições vinculadas à vitivinicultura,
marcando esta região de forma distinta das demais regiões do RS3. No entanto, deve-se
compreender que o imigrante italiano que veio para o Brasil possui características
marcantemente distintas do que Putnam (1996), por exemplo, apresenta em sua obra,
visto que pelos inúmeros problemas sociais, econômicos e políticos, tais imigrantes se
constituíam em uma parcela consideravelmente marginalizada, inclusive de processos
cívicos, democráticos e participativos de que trata o autor em sua obra. Ainda assim,
importa compreender que esses colonos estabeleceram relações sociais entre si, que
marcaram até o presente momento o desenvolvimento do arranjo, seja pela
especialização das firmas, seja pela constituição de um aparato institucional fortemente
presente na região.
2
A idéia aqui é compreender os mercados como instituições socialmente construídas, organizadas para promover
alguns interesses em detrimento de outros. Ver Samuels (2004).
3
Evidentemente não se está associando o desenvolvimento da região nordeste do RS ao desenvolvimento das
instituições vitivinícolas ali localizadas; porém, fica o reconhecimento de que o desenvolvimento da região da Serra
gaúcha está fortemente vinculado às normas, regras e tradições (leia-se instituições) “importadas” juntamente com os
colonos italianos.
18
A partir da análise do arranjo produtivo da vitivinicultura da Serra gaúcha,
pretendeu-se analisar os processos de aprendizado que estimulam a inovação das firmas
e a cooperação no interior do arranjo. Os pressupostos dessa dissertação vinculam-se a
idéia de que a inovação é o fator-chave que confere à firma competitividade econômica
sustentável; o aprendizado é o veículo de geração e difusão da inovação e do
conhecimento; a aquisição de conhecimento é fundamentalmente baseada na
cooperação, que ocorre através de diferentes formas de interação.
Importante citar que temas como aprendizado e inovação têm sido empregados,
ao longo dos anos, cada vez mais no sentido de compreender as vantagens competitivas
e o desenvolvimento, não apenas de pessoas e de firmas, mas também de regiões e
países. Tais conceitos têm sofrido alterações em suas interpretações, nas diversas
correntes da teoria econômica. Para os economistas ortodoxos, por exemplo, as questões
da aprendizagem são encaradas como elemento capaz de promover maior otimização da
produção, bem como redução do custo médio.
Estes mesmos economistas, ao estudarem temas como a inovação e os avanços
tecnológicos se restringem a analisar, em nível da firma, a construção e observação de
isoquantas e a medição de taxas marginais de substituição técnica. De outro modo, para
autores como Lundvall (1995), a abordagem que vem ao encontro das preocupações
atuais de firmas e instituições, diz respeito à aprendizagem pela interação (learning-byinteracting), destacando-se por ser de natureza cumulativa, além de cumprir um
relevante papel na construção do desempenho competitivo das firmas.
Que fique claro, desde então, que a base conceitual dessa dissertação está nos
conceitos
atribuídos
aos
autores
conhecidos
como
evolucionistas
e
neo-
schumpeterianos, além de uma análise das instituições, embasada na abordagem da
Nova Economia Institucional. Os autores vinculados a essas correntes, sobretudo os
19
neo-schumpeterianos, encaram as inovações como oportunidades que a firma dispõe de
obter lucros diferenciados. Assim, para tais autores, a preocupação da firma inovadora é
a busca de oportunidades lucrativas e um maior domínio sobre o mercado (DOSI,
1988). No entanto, o objetivo desse estudo não é analisar a firma como um agente
atomizado, mas um elo de uma cadeia de relações, conformadas por uma proximidade
territorial.
Onde se desenvolvem as atividades inovativas e os processos de aprendizagem?
Certamente que o locus da inovação é a firma (SCHUMPETER, 1942), porém, apenas
habilidades individuais da firma são suficientes para o desenvolvimento pleno de tais
processos? Nesse contexto, Maskell e Malmberg (1999) apontam que as firmas
constroem sua competitividade de forma interativa, baseando-se em capacitações
localizadas, pois se utilizam de infraestruturas e instituições estabelecidas localmente.
Assim, o espaço ou território passa a ser um elemento fundamental para a análise dos
processos de inovação e aprendizagem (CASSIOLATO; LASTRES, 1999).
Um olhar sobre a literatura econômica recente aponta para a crescente
importância dos arranjos produtivos locais (APLs), enquanto conceito que introduz o
território como unidade específica de análise. Tal literatura ressalta que a inserção de
empresas nesses arranjos possibilita o acesso a recursos e competências privilegiadas,
disponíveis em escala local, bem como aprofunda os processos de aprendizado que
permitem às empresas fortalecer sua posição competitiva nos respectivos setores de
atuação.
Fundamentalmente, a presente dissertação se propõe a identificar e caracterizar
os processos de aprendizado, que resultam num aprofundamento e no fortalecimento da
capacidade inovativa e dos processos de cooperação nas vinícolas localizadas na Serra
gaúcha. De pronto, destaca-se que o foco das análises desse trabalho são as vinícolas do
20
APL da Serra gaúcha, em virtude da importância desse segmento para o APL como um
todo (importância essa expressa não apenas no número de empresas, mas na quantidade
e representatividade de instituições ligadas ao segmento vinícola). Nesse sentido, esse
trabalho visa contribuir para a discussão acerca do papel da proximidade territorial nos
processos de aprendizagem, inovação e cooperação de empresas inseridas em
aglomerações produtivas.
Este trabalho pretende analisar, ainda, as relações que se estabelecem dentro do
arranjo produtivo local da vitivinicultura da Serra gaúcha, compreendendo as ações de
cooperação (entre firmas e destas com as instituições que compõem esse APL) e como
estas afetam (ou são afetadas) pelos processos de aprendizagem e inovação. A
dissertação está organizada em quatro capítulos, além dessa introdução. O primeiro
capítulo apresenta os principais conceitos de que trata o trabalho, ou seja,
Aprendizagem, Inovação, Cooperação e Aglomerados Produtivos, à luz dos
pressupostos teóricos dos autores neo-schumpeterianos e neo-institucionalistas. O
segundo capítulo, intitulado “Caracterização do APL da Vitivinicultura da Serra
gaúcha”, apresenta, primeiramente, uma discussão histórica acerca da formação e
consolidação do APL, além caracterizar a organização produtiva do APL (produtores
vitícolas, vinícolas e fornecedores de bens e serviços). De igual modo, esse segundo
capítulo trata de apresentar uma contextualização do arranjo institucional que compõem
o APL. O terceiro capítulo apresenta os dados obtidos na pesquisa de campo realizada
junto a vinte vinícolas localizadas no APL, buscando captar a percepção e participação
desses em atividades de cooperação e inovação, bem como os meios utilizados para a
promoção da aprendizagem. Por fim, apresentam-se as considerações finais do trabalho.
21
2 Aprendizagem, Inovação e Cooperação em Arranjos Produtivos Locais:
uma revisão de conceitos sob uma ótica evolucionária e neo-institucional
Temas como aprendizado e inovação não são recentes na teoria econômica,
apesar do emprego destes conceitos se mostrar mais intensivo a partir do final dos anos
70. Qualquer leitor encontrará referências sobre estes temas nos principais manuais de
economia. Para os economistas ortodoxos, a noção de aprendizado está associada à
“curva de aprendizagem”, que informa que o custo de produção de uma empresa pode
apresentar reduções ao decorrer certo tempo, em virtude dos funcionários se
familiarizarem mais com as máquinas e equipamentos, tornando assim a produção mais
eficaz. Dessa forma, por um longo período de tempo, os economistas analisavam as
questões da aprendizagem sob a ótica da otimização da produção e da redução do custo
médio (sendo então o aprendizado outra forma de se obter tal redução, além do declínio
oriundo dos ganhos de escala).
De igual modo, os temas relacionados à inovação e aos avanços tecnológicos
também aparecem na literatura neoclássica. De certo que muitos modelos
econométricos dão fixa e exógena tais questões, não podendo a firma exercer qualquer
influência, uma vez que tais avanços ocorrem “fora dos muros” da empresa (geralmente
nas universidades, centros de pesquisa etc.). Porém, se se buscar as referências nos
manuais de economia, se encontrará aqueles que defendem que a tecnologia não é fixa,
mas mutável (MILLER, 1981; MANSFIELD, 1968; HIRSCH, 1952). Mas que tipo de
mutabilidade sofre (e exerce) a tecnologia? Para os autores neoclássicos mais arrojados,
22
mudanças tecnológicas são sinônimos de alterações da função de produção da firma.
Dessa forma, a alteração tecnológica é motivada “pelo desejo de produzir a mesma
quantidade a um custo médio mais baixo” (MILLER, 1981: 208). Assim, a análise da
inovação e das mudanças tecnológicas se restringia, ao nível da firma, à construção e
observação de isoquantas e à medição de taxas marginais de substituição técnica.
No intuito de apresentar outra visão sobre os processos de inovação e suas
interferências sobre as relações intra e interfirmas, o presente capítulo desta dissertação
pretende apresentar uma revisão de alguns conceitos-chave, à luz das contribuições de
autores
conhecidos
como
evolucionistas
(neo-schumpeterianos)
e
neo-
institucionalistas4. O que diferencia estes dois grupos dos neoclássicos, em termos da
compreensão dos processos de cooperação, de inovação e de aprendizagem?
Primeiramente, cabe destacar que tanto evolucionistas quanto neo-institucionalistas
encaram as inovações como oportunidades que a firma dispõe de obter lucros
diferenciados (CONCEIÇÃO, 2002). Assim, diferente dos neoclássicos, que vêem na
inovação uma possibilidade de redução do custo médio de produção, a preocupação da
firma inovadora é a busca de oportunidades lucrativas e um maior domínio sobre o
mercado (DOSI, 1988). Destaca-se o caráter sistêmico da inovação, isto é, as firmas não
inovam isoladamente, mas procuram interagir com outras organizações, tais como
universidades, centros de pesquisa ou ainda outras firmas. Essa interação, para os
evolucionistas, conduz à construção de inúmeros e distintos processos de aprendizagem,
que podem se dar pela execução repetida de atividades, pelo uso de equipamentos, mas,
sobretudo, pela interação entre os agentes econômicos (LUNDVALL, 1988; QUEIROZ,
2006). Outra grande diferença dos evolucionistas e neo-institucionalistas em relação ao
4
Este capítulo não pretende ser um exercício exaustivo de apresentação das contribuições e divergências dos
evolucionistas e neo-institucionalistas para o entendimento da dinâmica econômica da inovação, da cooperação e dos
processos de aprendizado. Diversos outros autores já fizeram tal exposição de forma mais completa e brilhante, entre
os quais citamos Nelson e Winter (1982), Dosi (1988), North (1990 e 1996) e Possas (1989).
23
mainstream é que o contexto institucional (leis, normas, regras sociais) é um importante
elemento para analisar a evolução das inovações, da cooperação e do aprendizado no
interior e ao redor das firmas. Isso porque tais instituições podem tanto incentivar
quanto restringir tais processos.
Onde se desenvolvem as atividades inovativas e os processos de cooperação e
aprendizagem? Certamente que o locus da inovação é a firma (SCHUMPETER, 1982),
porém, apenas habilidades individuais da firma são suficientes para o desenvolvimento
pleno de tais processos? Nesse contexto, Maskell e Malmberg (1999) apontam que as
firmas estruturam sua competitividade de forma interativa, baseando-se em capacitações
localizadas, pois se utilizam de infraestruturas e instituições estabelecidas localmente.
Tais capacidades são moldadas por aspectos históricos, sociais, geográficos e
econômicos, tornando, assim, cada região ou espaço um locus ímpar de interação e
aprendizado coletivo, que impacta diferentemente os vários agentes ali localizados.
Dessa forma, o espaço ou território passa a ser um elemento fundamental para a análise
dos processos de inovação, cooperação e aprendizagem, uma vez que a proximidade
geográfica é o melhor elemento de promoção da interação, da inovação e do
aprendizado5 (CASSIOLATO; LASTRES, 1999).
O presente capítulo está organizado em quatro seções, nas quais se discute: a) os
aspectos principais dos processos de aprendizagem, expondo os principais pressupostos
teóricos dos autores evolucionistas; b) a inovação em seus diferentes aspectos, partindose da compreensão de que apesar de ser a firma o locus da inovação, tal processo não se
dá isoladamente, mas pelo contrário, é resultante de processos interativos e de natureza
5
Importante ressaltar que esta abordagem da aproximação geográfica das firmas tem seu berço em Marshall, que
associa tanto fatores estruturais como comportamentais e institucionais, que se refletem em ações coletivas indutoras
do incremento das competências e competitividade dos agentes locais, gerando “externalidades positivas”, inerentes à
aglomeração das firmas.
24
social, tendo por participantes diversos atores sociais; c) a compreensão da existência e
importância dos processos de cooperação, tanto entre as firmas como entre essas e
outras instituições, em geral localizadas territorialmente; e d) o entendimento das
conceituações das aglomerações geográficas de firmas e instituições, em especial os
arranjos e sistemas produtivos locais (ASPL’s ou simplesmente APL’s), focalizando um
conjunto especifico de atividades econômicas que possibilitam e privilegiam a
investigação das relações entre conjuntos de empresas e destes com outros agentes;
especial ênfase será dada ao corpo conceitual adotado pela REDESIST6.
2.1 Processos de Aprendizagem na visão dos evolucionistas
Para os evolucionistas, a concepção sobre os processos de aprendizagem se dá
de forma ampla, não se restringindo apenas à aprendizagem formal, adquirida a partir
dos anos de instrução dos agentes econômicos. Para os principais autores desta corrente,
o aprendizado está intimamente relacionado à capacidade, enquanto resultado final, de
gerar conhecimento aos agentes. Tal conhecimento se estrutura através de um processo
de aprendizagem, que de fato se constitui em “vários processos distintos, que muitas
vezes se sobrepõem ou realimentam uns aos outros” (ROSENBERG, 2006: 108).
Cabe salientar que o processo de aprendizado será a maneira escolhida (formal
ou tacitamente) pelo qual um agente pode gerar conhecimento. Ou seja, o resultado da
performance dos agentes e instituições depende diretamente do aprendizado. Como
6
A REDESIST é uma rede de pesquisa de caráter interdisciplinar, formalizada desde 1997, sob coordenação do
Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Desta rede, participam diversas universidades e
institutos de pesquisa no Brasil e no Exterior, promovendo importantes estudos sobre o papel dos arranjos e sistemas
produtivos locais (ASPL’s) na construção do processo de desenvolvimento econômico (REDESIST,
<http://www.ie.ufrj.br/redesist. >acesso: dezembro: 2009).
25
apontam Torres, Almeida e Tatsch (2004:03), “o conceito de aprendizado é muito mais
amplo do que o mero acesso a um maior conjunto de informações, como usualmente
frisado no enfoque neoclássico (...) está diretamente associado à forma pela qual as
capacitações são desenvolvidas e adaptadas à mudança no ambiente econômico”.
Do ponto de vista da concorrência inter-firmas e da gestão intra-firmas, Bessant
et al. (1999) propõem que o aprendizado seja entendido como um processo de
combinação de experiências, reflexões, formação de conceitos e experimentação. Três
componentes principais estão envolvidos em tal processo:
a) a acumulação e o desenvolvimento de “competências centrais”, que
diferenciam as firmas entre si, oferecendo ou não o potencial de vantagem competitiva
para cada uma;
b) a dimensão temporal - o aprendizado (como processo contínuo e cumulativo)
envolve um processo de longo prazo;
c) “componente idiossincrático” - os processos de aprendizado são próprios das
organizações e seus ambientes e dificilmente são replicáveis por outras.
Dessa forma, Bessant et al. (1999) apontam como características principais do
aprendizado: (a) que o mesmo não é automático, não sendo necessário investimentos
explícitos para se aprender; (a) o aprendizado pode envolver o domínio e a mudança de
tarefas corriqueiras como processos mais intensivos em conhecimento, incorporando
transformações radicais; assim sendo, quanto mais radical a mudança, maior a
necessidade do investimento em aprendizado; (c) aprender a aprender é fundamental e
envolve tanto componentes formais quanto tácitos (e, portanto, seu caráter interativo e
dependente do contexto).
26
Para Teece (1992), o aprendizado envolve diversas características, que
necessitam ser explicitadas. Primeiramente, o aprendizado requer habilidades
organizacionais e individuais. Muito embora as habilidades individuais sejam
importantes, seu valor depende do seu emprego em ambientes organizacionais
específicos. Teece (1992:155) afirma que “os processos de aprendizado são
intrinsecamente sociais e coletivos, e ocorrem em função de contribuições conjuntas
relativas ao entendimento dos problemas complexos”. Assim, é de se esperar que o
aprendizado, ao gerar conhecimento organizacional, promova novos padrões de
atividade, ou “rotinas” – padrões de interações que representam soluções bem-sucedidas
de problemas específicos (DOSI, 1988).
A aprendizagem, enquanto processo de acumulação de conhecimento no interior
da firma, depende, em maior ou menor escala, das capacitações prévias da firma e do
seu acesso às fontes externas de informações. Esse processo adquire distintos formatos e
provoca impactos diferenciados sobre o conhecimento que será acumulado. A criação
de competências no interior da firma é, portanto, um processo contínuo de
aprendizagem, do qual decorrem capacitações também especificas.
Existem várias formas de aprendizado ligadas às diferentes maneiras de se
difundir e adquirir conhecimento. Tais processos podem estar associados ao
conhecimento acumulado em atividades de produção, o chamado learning-by-doing
(ARROW, 1962). Por outro lado, o aprendizado pode decorrer do uso de determinado
bem ou serviço, o chamado learning-by-using (ROSENBERG, 2006). Porém, talvez a
forma mais importante aprendizado entre firmas se relacione com a experiência de
interação com outros agentes (tais como fornecedores e clientes), chamado learning-byinteracting (LUNDVALL, 1988). Assim, processos de inovação e atividades de
27
produção requerem formas específicas de interação entre agentes econômicos (e destes
com as instituições).
No momento atual, caracterizado por uma competição que extravasa a
comparação simples de preços, o mais importante não é apenas ter acesso à informação
ou possuir um conjunto de habilidades, mas fundamentalmente ter capacidade para
adquirir novas habilidades e conhecimentos (learn-to-learn). Isto se manifesta na
capacidade de aprender e de tornar o aprendizado um fator competitivo. Isso significa
uma constante transformação das habilidades dos indivíduos e das competências
tecnológica e organizacional da firma (LUNDVALL; BORRÁS, 1998). O aprendizado
é importante tanto para se adaptar às rápidas mudanças nos mercados e nas condições
técnicas, como para gerar inovações em produtos, processos e formas organizacionais.
Em síntese, a aprendizagem está relacionada a um processo cumulativo em que
as firmas ampliam seu estoque de conhecimento, aperfeiçoam os seus procedimentos de
busca e refinam suas habilidades em desenvolver e fabricar produtos (e/ou serviços).
Segundo Dodgson (1996: 55), “a aprendizagem pode ser descrita como a forma
utilizada pelas firmas para construir, organizar o conhecimento e as rotinas ao redor das
competências e cultura da firma, e para adaptar e desenvolver a eficiência
organizacional através da melhoria do uso dessas competências”. Dessa forma, a
aprendizagem amplia de forma contínua o estoque de conhecimentos da firma,
viabilizando a incorporação de inovações, além da exploração de novas oportunidades
produtivas e tecnológicas, facilitando a expansão para novos mercados.
Jensen et al. (2004) destacam que existem dois tipos de modelos que
caracterizam o processo de aprendizagem e sua relação com a inovação. O primeiro é
denominado STI (Science, Technology, Innovation) que implica que o conhecimento
28
codificado, e as maneiras científicas de obter acesso, produzir e utilizar esse
conhecimento são dominantes no processo de inovação. Os departamentos de P&D das
grandes firmas exercem um papel-chave neste processo.
O outro modelo, que é focado por Jensen et al. (2004), é denominado DUI
(Doing, Using, Interacting) que implica em conhecimento tácito (conhecimentos não
codificáveis e difíceis de serem transferidos), buscando construir estruturas e
relacionamentos, que intensificam e utilizam o learning-by-doing (aprender fazendo),
learning-by-using (aprender usando) e learning-by-interacting (aprender interagindo).
Tal ênfase na interação corresponde às condições e contextos nos quais as firmas
estão inseridas, que são facilitadas pela proximidade entre os agentes. Para Malmberg e
Maskel (2006) a proximidade na “aprendizagem localizada” possui dimensões espaciais
que podem ser verificadas verticalmente (é o caso do learning-by-interacting, pela
relação entres empresas em diferentes elos da cadeia), horizontalmente (é o caso do
learning-by-monitoring, que privilegia a observação e comparação entre firmas) e
socialmente (de natureza informal, pela presença de hábitos e valores comuns,
decorrentes do capital social acumulado no espaço de interação entre os agentes).
A principal forma de classificar as interações é a regularidade de sua ocorrência.
As interações podem ser classificadas como irregulares, ou seja, quando a interação não
possui um padrão definido de repetição; e aquelas interações onde há um padrão de
periodicidade cronológica, caracterizadas como regulares. A partir dessa classificação
(regular/irregular), Torres, Almeida e Tatsch (2004) apontam quatro tipos de interação,
que podem conduzir a efetivação de processos de cooperação. Uma interação regular
pode estar associada a uma cooperação formal ou a uma cooperação informal. Já uma
29
interação irregular desdobra-se em contatos bilaterais ou em contatos multilaterais.
Assim, tais autores classificam em:
(1) Cooperação Formal - interação entre os agentes não só é regular, mas
também quando está definido um propósito e um resultado esperado para a
interação.
(2) Cooperação Informal - diferentemente da cooperação formal, aqui não se
têm bem definido o objetivo e o propósito da interação. A cooperação pode
ser recorrente, com expectativa de futuras repetições, mas sem, no entanto,
ter um escopo delimitado, em seu objetivo e método.
(3) Contato Bilateral - interações entre dois agentes que ocorrerem sem um
padrão definido de repetição. Este tipo de interação pode ser o primeiro
passo da constituição de uma futura cooperação.
(4) Contato Multilateral - diferentemente do contato bilateral, neste caso a
interação não ocorre entre duas partes, mas entre um conjunto de agentes que
possuam algum mecanismo comum de identificação, por exemplo, firmas
que atuem no mesmo setor na mesma região (TORRES, ALMEIDA;
TATSCH; 2004: 05).
Para Ribeiro e Mezzomo (2004), na medida em que a abordagem evolucionista
considera a firma como um conjunto de capacidades técnicas, econômicas e
organizacionais, direciona a unidade básica de análise na firma, o que implica que
A Teoria Evolucionista procura compreender as fronteiras das organizações,
não apenas em relação ao custo de transação, mas em termos do aprendizado,
do padrão de dependência, das oportunidades tecnológicas, da seleção e da
complementaridade dos ativos (RIBEIRO; MEZZOMO, 1994: 113).
Assim, os processos de aprendizado são múltiplos, mas no caso específico das
firmas localizadas em arranjos produtivos, o aprendizado por interação assume um
papel de especial relevância. Johnson e Lundvall (1994) formulam algumas hipóteses
sobre o contexto no qual ocorre o processo de aprendizado por interação, as quais
podem ser correlacionadas ao contexto no qual se conformam arranjos produtivos
locais. Primeiramente, tal aprendizado envolve - como já mencionado -, um "processo
social", que exige o estabelecimento de uma linguagem própria entre os agentes, através
do estabelecimento de códigos e canais de comunicação entre estes, a fim de facilitar o
30
intercâmbio de informações. Em segundo lugar, quanto mais complexo for o
aprendizado, tanto maior será a necessidade de interação para viabilizá-lo.
Neste contexto surge a “economia baseada no conhecimento”7, exprimindo a
importância do conhecimento como base fundamental para a competição, sendo o
aprendizado interativo a principal forma de indivíduos, firmas e regiões acessarem os
benefícios de tais mudanças. A fim de especificar e ampliar a análise econômica do
conhecimento, Foray e Lundvall (1996) diferenciaram os tipos de conhecimento que são
importantes neste período de Economia Baseada no Conhecimento, quais sejam:
a) know-what: refere-se ao conhecimento sobre alguns fatos, aproximando do
conceito de informação, podendo este conhecimento ser codificado facilmente.
b) know-why: refere-se a conhecimentos científicos de princípios e leis da
natureza; este tipo de conhecimento esta ligado ao desenvolvimento tecnológico e
avanços em produtos e processos em algumas áreas industriais. A produção e
reprodução deste conhecimento (know-why) são freqüentemente utilizadas em
organizações especializadas, como laboratórios e universidades, existindo certo nível de
codificação; no entanto, as firmas que frequentemente têm acesso a este tipo de
conhecimento são as que interagem com tais organizações especializadas.
c) know-how: refere-se à habilidade ou à capacidade para desempenhar alguma
atividade, seja ela produtiva ou não, por exemplo, um trabalhador que opera uma
máquina complexa utiliza o seu know-how; um empreendedor que analisa e julga se
determinado mercado é promissor ou não utiliza seu know-how.
7
Para uma maior caracterização da “Economia baseada no conhecimento” ver: LASTRES; CASSIOLATO;
ARROIO (2005).
31
d) know-who: envolve informações sobre quem sabe o quê e quem sabe fazer o
quê; está ligado às habilidades sociais, sendo importante no momento atual, onde há a
necessidade de se ter acesso a vários tipos diferentes de conhecimentos e habilidades.
Assim, observa-se que os tipos de conhecimento possuem uma dimensão
codificada (de fácil transferência) e uma dimensão tácita (transferida a partir da
interação entre os indivíduos). Para Foray e Lundvall, o conhecimento tácito é a
ferramenta necessária para manusear o conhecimento codificado, isso por que:
[…] Codified knowledge might be considered as the material to be
transformed, and tacit knowledge, particularly know-how, as the tool for
handling this material (1996: 96).
Observa-se, também, que o aprofundamento do aprendizado por interação
muitas vezes requer o estabelecimento de relações não-econômicas entre os agentes,
através das quais princípios de confiança mútua podem paulatinamente se consolidar
(PUTNAM, 1996; COLEMAN, 1985). Por fim, observa-se que o aprendizado por
interação requer um tempo para se desenvolver, não só devido à necessidade de
consolidação desta confiança mútua entre os agentes, mas, sobretudo, em razão dos
investimentos específicos requeridos. Tais aspectos apontam para a relevância de se
adotar um quadro sócio-econômico-cultural de análise, que viabilize o entendimento de
processos interativos de aprendizado, sendo muito provável encontrá-los no interior de
arranjos produtivos locais.
Dentre
as
características
do
aprendizado
por
interação,
comentadas
anteriormente, recebe importância singular, segundo o referencial evolucionista, o fato
de que tais processos de interação e aprendizagem viabilizam a constituição de um
espaço econômico próprio. Esses espaços possuem um corpo institucional próprio e
particular, condicionando à forma como se dá a geração e difusão dos conhecimentos
32
(sejam codificados ou tácitos). É esse aprendizado acumulado que capacita a firma a
desenvolver, no seu interior, processos inovativos, e impulsiona a mesma a adotar (ou
não) padrões mais sólidos de cooperação.
2.2 Inovação na visão dos evolucionistas e de neo-institucionalistas
Inicialmente, cabe ressaltar que a inovação assume um papel preponderante
entre os autores da abordagem evolucionária. A abordagem evolucionária tem como
eixos teóricos (NELSON; WINTER, 1982; DOSI, 1982 e 1988): (i) a diversidade
comportamental entre os agentes, gerada endogenamente por um processo de busca de
oportunidades de inovação; e (ii) a seleção de empresas, estratégias e/ou tecnologias a
partir de uma dinâmica baseada na competição e na mudança contínua. Depreendem-se
dois conceitos fundamentais para definir esta abordagem, que são: a) a busca por parte
das empresas, da introdução de inovações (à lá Schumpeter, incorporando novos
produtos, métodos de produção e novos mercados) que lhes permitam obter vantagens
competitivas (DOSI, 1988); b) a seleção destas inovações no ambiente econômico,
devendo ser esclarecidos os mecanismos que dão substância à escolha ou à exclusão de
uma firma em longo prazo, junto com suas escolhas estratégicas e a tecnologia utilizada.
A concorrência opera como um processo de seleção por meio de três instrumentos
fundamentais: a introdução de inovações por parte das firmas, a eliminação de
tecnologias que se revelem insuficientemente lucrativas e as mudanças nas proporções
entre as quantidades produzidas utilizando cada uma das tecnologias sobreviventes.
Seguindo a tradição de Schumpeter, a análise desenvolvida por esta corrente não
está baseada em pressupostos de equilíbrio (ainda que “dinâmico”), mas sim em
33
“desequilíbrios”, intrínsecos à economia capitalista, por serem gerados pela busca
incessante de oportunidades de maior lucratividade entre as firmas, geralmente
representadas pelas inovações, que por sua vez desencadeiam efeitos dinâmicos
cumulativos de desajuste e de expansão. Contrariamente aos pressupostos da teoria
neoclássica, nos modelos evolucionários o eixo central é a idéia de desequilíbrio, a
partir de uma análise desagregada (setorial, industrial e tecnológica) centrada nas
assimetrias dos processos competitivos e de mutação/diversidade técnica, econômica e
estratégica, de onde surge a dinâmica evolucionária e a mudança estrutural no
capitalismo (POSSAS, 1996).
Para os evolucionistas, a decisão de introduzir uma inovação tecnológica é
interna à firma e depende de sua capacitação e trajetória tecnológicas. A compreensão
das especificidades dessas tecnologias, bem como o contexto socio-econômico que as
viabiliza, vai explicar com mais robustez os arranjos institucionais/organizacionais e os
determinantes dessa dinâmica. Na medida em que os arranjos institucionais moldam as
condutas individuais e sua interação, alteram a direção e o fluxo de inovações, em
relação à seleção e ao aprendizado, delimitando-se, assim, os “caminhos evolutivos”
mais prováveis de serem seguidos (FOSS, 2001; HODGSON, 2001).
Cabe um pequeno destaque quanto à convergência entre evolucionários e o
pensamento desenvolvido pelos neo-institucionalistas, em especial o de Douglass North,
que a partir dos anos setenta, em seus estudos sobre história econômica, chama atenção
para as instituições, enquanto invenções humanas, reguladoras de comportamentos
individuais e sociais, cujo aperfeiçoamento constante é resultado de um bom
funcionamento anterior, em todos os campos e com destaque para a vida econômica.
Para North: “[...] as instituições são as regras do jogo em uma sociedade, ou mais
formalmente, são as limitações idealizadas pelo homem que dão forma às interações
34
humanas. Elas estruturam incentivos na interação humana, seja político, social ou
econômico” (1996: 13).
As instituições não são apenas regras, mas também sistemas de estímulos à
interação; interação essa que se processa sob formas distintas. Isso implica numa das
grandes diferenciações do modelo de análise neo-institucionalista de North e o
mainstream: as escolhas individuais dependem de crenças, e essas são uma
conseqüência do aprendizado cumulativo que se transmite culturalmente de geração a
geração; o tempo é a dimensão em que o processo de aprendizagem dos seres humanos
modela a evolução das instituições (NORTH, 1996). Este é um dos muitos pontos de
convergência entre neo-institucionalistas e neo-schumpeterianos, qual seja a
importância dada aos processos de decisão como elementos que, cumulativamente, vão
gerando aprendizagem, na grande maioria dos casos via interação entre os diversos
agentes econômicos.
Segundo North (apud Arend e Cário, 2005), as instituições, juntamente com a
tecnologia empregada, influenciam os custos de produção e de transação. Necessitam-se
recursos para transformar fatores de produção (terra, trabalho e capital), e essa
transformação é uma função da tecnologia empregada; no entanto, a forma de acesso a
estes recursos (em geral financeiros), bem como o grau de facilidade na obtenção dessas
tecnologias (sem falar no regramento das relações de trabalho) é influenciado pela
estrutura das instituições. Afetará os custos de transação pela conexão direta entre
instituições e custos de transação. Mas, afetará também os custos de transformação, por
influir na tecnologia empregada.
35
É por isso que as organizações8, para North, têm papel-chave para a mudança
institucional, pois elas são construídas com base em “crenças”, que determinarão as
recompensas esperadas dos empresários (que para o autor podem assumir duas
categorias: políticos e econômicos), fundamentais para a mudança econômica. Esse
conhecimento, ao menos em um tempo presente, é formado pelo aprendizado coletivo, e
esse processo de aprendizagem determinará a mudança institucional, necessária ao
desenvolvimento econômico.
Essa influência das instituições sobre os custos de produção e transação define,
na visão de North, a estrutura industrial de um país ou região. Para ele, regiões do
Terceiro Mundo carecem de uma estrutura institucional mais formal, que conduza a
mercados eficientes. Para North (1990), há nos países de Terceiro Mundo a
proeminência de setores informais (constituindo-se em verdadeiras economias
subterrâneas), que se esforçam em proporcionar certa estrutura de intercâmbio. Esta
estrutura tem custos elevados devido à falta de salvaguardas formais ao direito de
propriedade. Para o autor, o pior é que este débil marco institucional determina uma
estrutura básica de produção que tende a perpetuar o subdesenvolvimento, via atraso
tecnológico.
A análise dos processos históricos é, para North, indispensável para se entender
o desenvolvimento econômico, enquanto processo de construção da própria história. A
história da evolução das instituições servirá para o autor responder às seguintes
perguntas: “Como explicamos a sobrevivência de economias com desempenho
persistentemente baixo durante longos lapsos de tempo? [...] O que explica a
sobrevivência de sociedades e economias caracterizadas por um mau desempenho
8
Douglass North, para melhor explicar a diferença entre “instituições” e “organizações”, faz uma analogia com os
esportes: as instituições são as regras do esporte, enquanto que as organizações são os times, que disputam entre si as
partidas, seguindo a regra estabelecida. Muitas vezes as regras são direcionadas para atender as necessidades de
determinados times, como é claro perceber, por exemplo, na história econômica do Brasil.
36
persistente? [...] Por que persistem as economias relativamente ineficientes?” (NORTH,
1996: 121-22).
Segundo
North (1996: 124),
as
economias
podem
apresentar
duas
características: a existência de mercados imperfeitos (dadas as dificuldades de se
compreender um ambiente complexo); e sua alta dinamicidade (visto que promovem a
interação de um número significativo de agentes). Também, as instituições
caracterizam-se por apresentar retornos crescentes. Isso significa que, uma vez
escolhido um caminho, há a atuação dos mecanismos que reforçam a manutenção da
rota optada, que fazem com que a matriz institucional fique locked in e seja path
dependence. Dessa forma, o autor entende que mesmo que as opções institucionais
apresentem resultados ineficientes em termos de desenvolvimento econômico, tais
instituições tendem a se manter no tempo, pois apresentam retornos institucionais
crescentes.
Esse comportamento locked in reforça o caráter de path dependence, ou seja, as
instituições são dependentes de suas próprias trajetórias prévias. A história passada de
uma determinada instituição é que definirá a matriz institucional do presente,
conformando sua estrutura futura. Assim, entender que o desenvolvimento institucional
ao longo do tempo, e seus impactos objetivos sobre o desenvolvimento econômico, é o
que chamamos de path dependence. Essa questão também explica porque as instituições
não “copiam” desempenhos positivos em termos de eficiência econômica: por estarem
(as instituições) vinculadas ao estoque de conhecimentos que adquiriram ao longo de
sua história, estão sujeitas às construções sociais (fatores culturais, políticos, religiosos,
econômicos etc.) resultantes de suas inter-relações. Como as instituições possuem
históricos diversos, os resultados de suas opções serão necessariamente diversos. Somese a isso o fato de que tais instituições atendem a interesses coletivos diversos ao longo
37
do tempo. Isso também explica as diferenças no desenvolvimento institucional e
econômico em regiões distintas, mesmo em um mesmo período de tempo.
Assim,
percebe-se
que
tanto
para
evolucionistas
quanto
para
neo-
institucionalistas, os processos de inovação e aprendizado tendem a ser intrinsecamente
vinculados, desde que tais processos estejam inseridos em um ambiente institucional
que estimule a inovação e os processos de interação e cooperação entre as organizações.
Isso se dá de forma mais evidente nos arranjos produtivos, dada sua construção
institucional, visto que são conformados pela cultura e pelas relações sociais
geograficamente localizadas. É mais provável que no interior dos arranjos ocorra um
comportamento amalgamado entre cooperação, aprendizado e inovação, que poderá
acentuar (ou não) a vantagem competitiva da região.
As inovações, de maneira geral, oriundas de processos de capacitações
tecnológicas desenvolvidas no interior das firmas, não devem simplesmente solucionar
um problema técnico da empresa; devem sim receber a “aprovação” do mercado. Este
significado específico à inovação está baseado em Schumpeter (1982), que aponta para
a necessidade de que esta seja uma “invenção” viável do ponto de vista comercial, ou
seja, uma idéia (sobre produtos, processos ou serviços) que possua valor de troca no
mercado. No momento em que tal idéia tem seu valor reconhecido e aceito pelo
mercado, deixa de ser invenção e passa a ser inovação.
Cabe ressaltar que, para Schumpeter (1982), a inovação é um processo
caracterizado pela descontinuidade com o que está estabelecido, englobando cinco
casos: novas combinações que são concebidas pela introdução de um novo produto; a
introdução de um novo método de produção; a abertura de um novo mercado; a
38
conquista de uma nova fonte de matéria-prima; o estabelecimento de uma nova
organização de qualquer indústria, como a criação de uma posição de monopólio.
Diversos autores que seguem a vertente schumpeteriana descreveram os
processos de inovações como sendo de dois tipos genéricos: radicais ou incrementais.
Segundo Freeman (1988), pode-se entender a inovação radical como o desenvolvimento
e introdução de um novo produto, processo ou forma de organização da produção
inteiramente nova. Este tipo de inovação representa uma ruptura estrutural com o
padrão tecnológico anterior, originando novas indústrias, setores, mercados etc. As
inovações podem ser ainda de caráter incremental, referindo-se à introdução de qualquer
tipo de melhoria em um produto, processo ou organização da produção dentro de uma
empresa, sem alteração na estrutura industrial. Inúmeros são os exemplos de inovações
incrementais, muitas delas imperceptíveis para o consumidor, podendo gerar
crescimento da eficiência técnica, aumento da produtividade, redução de custos,
aumento de qualidade e mudanças que possibilitem a ampliação das aplicações de um
produto ou processo.
Há um número considerável de metodologias e indicadores para se avaliar os
esforços de inovação de uma empresa ou setor industrial, tais como os níveis de
investimento em P&D, o tamanho e posição hierárquica do setor de P&D na empresas,
a razão entre P&D e faturamento, número de depósitos de patentes etc. No entanto, tais
indicadores expressam com melhor propriedade a realidade de setores tecnologicamente
dinâmicos ou em empresas de grande porte, sendo complexa sua utilização em setores
tradicionais, ou ainda em pequenas empresas (VIOTTI, 2003).
Neste mesmo sentindo, Freeman (1988) discute os resultados de pesquisas
realizadas pela OCDE, onde a grande maioria das empresas com até 200 funcionários
39
(consideradas de pequeno e médio porte) informa não realizar atividades de P&D. Para
o autor, as estatísticas oficiais não conseguem captar esforços de pesquisa e inovação
realizados por gerentes, engenheiros ou outras pessoas da empresa. As atividades
informais de P&D estão ancoradas no talento criativo destas pessoas.
De acordo com Zawislak (1994), a gestão da inovação tecnológica em pequenas
e médias empresas (PMEs) de setores tradicionais é, em geral, informal. Neste sentido,
os conhecimentos que propiciam as modificações na tecnologia também podem ser
gerados por trabalhadores ligados à produção, e não apenas por engenheiros e pessoal
de P&D.
Para Lam (1998), a natureza do conhecimento dentro da empresa e o papel do
conhecimento tácito na aprendizagem e inovação não podem ser plenamente
compreendidos por uma análise restrita ao nível organizacional. Um contexto mais
amplo da sociedade e das institucionais deve ser levado em conta. A autora aponta para
a necessidade de se fazer distinção entre conhecimento individual e conhecimento
coletivo (LAM, 1998: 9). De um lado tem-se o conhecimento individual, que representa
o que foi acumulado através do tempo, ao longo da educação formal, além das
experiências de treinamento e outras ocupações profissionais. Por outro lado, o
conhecimento coletivo diz respeito ao conhecimento comum dos empregados de uma
empresa ou organização. Tal conhecimento está implícito nas regras, nos
procedimentos, nas rotinas e nas normas que guiam o comportamento dos membros de
uma organização.
Nesse sentido, Tatsch (2008) analisa que o conhecimento no interior das
organizações é construído a partir de diferentes formas e não se restringe a um único
tipo. Portanto, a criação e a disseminação desse conhecimento envolvem momentos
40
individuais e coletivos, de intercâmbio de saberes tácitos e codificados. Assim, Tatsch
(2008: 74) afirma que “no âmbito da firma o conhecimento organizacional é construído
a partir das especificidades de seus recursos humanos e de seu meio”. Tal situação se
alinha ao entendimento teórico dessa dissertação, que enfoca as características
particulares e potenciais da aprendizagem e do conhecimento, gerados nas
aglomerações produtivas.
Para Vargas (2002), a natureza interativa do processo de aprendizado introduz,
de forma apropriada o espaço geográfico como uma dimensão de análise. Na medida em
que se concebe o ambiente local como um conjunto de configurações institucionais e
organizacionais inseridas num rol de interações com diferentes agentes econômicos,
percebe-se a relevância da dimensão localizada tanto dos processos de aprendizado
quanto da inovação das firmas. A aglomeração territorial evidencia os benefícios
relacionados ao engajamento de empresas em processos de aprendizado interativo.
Neste tipo de ambiente o conhecimento tende a se tornar incorporado devido às
qualificações individuais, às rotinas das organizações, ao próprio ambiente local e aos
vínculos de interação entre os diferentes atores e desenhos institucionais.
Assim, a complexidade das relações entre interação, aprendizado e inovação,
vinculando as instituições e as firmas, torna necessário que se estabeleça a influência
desses sobre os processos de cooperação, destacando a importância das aglomerações
locais como fator preponderante no alcance de dinamismo tecnológico e diferenciação
competitiva entre firmas (VARGAS, 2002).
41
2.3 Processos de Cooperação em atividades inovativas9
Os processos de cooperação entre as firmas capitalistas não é um tema
propriamente recente na literatura econômica. Adam Smith já analisava, em seu clássico
“Riqueza das Nações”, os efeitos “maléficos” da cooperação de firmas (cartéis e
acordos de liderança de preço, principalmente). Um pouco mais tarde, Alfred Marshall
descreveria alguns detalhes dos “distritos industriais” e a relação da aglomeração
espacial de empresas com a formação de arranjos cooperativos entre estas.
A leitura desta seção demonstrará a crescente importância que o tema da
cooperação adquiriu com as mudanças em curso na economia mundial do último século.
A análise que aqui se fundamenta tem por “pano de fundo”, estudar a situação de firmas
aglomeradas espacialmente que desenvolveram algum tipo de especialização setorial.
Tais vantagens de aglomeração (à lá Marshall), associadas à atividade
cooperativa entre as firmas envolvidas, podem influenciar no aumento da
competitividade da coletividade das firmas aglomeradas. Essa situação, para Schmitz
(1997), não exclui o caráter de competitividade entre as empresas localizadas, fator
considerado benéfico para o desenvolvimento de uma aglomeração. Nesse sentido,
Porter (1999) sugere que a rivalidade local gera uma pressão por aumento de
produtividade, gerando redução de custos e busca por inovações. Segundo Porter
(1999), a competição é um conceito dinâmico que repousa sobre a busca por inovação e
por diferenciais estratégicos às firmas.
9
Cabe ressaltar que nesta seção o termo “atividade inovativa” está estritamente vinculado ao conceito produzido por
Schumpeter (1982), sendo caracterizado por ser um processo marcado pela descontinuidade com o que está
estabelecido, englobando cinco casos: novas combinações que são concebidas pela introdução de um novo produto; a
introdução de um novo método de produção; a abertura de um novo mercado; a conquista de uma nova fonte de
matéria-prima; o estabelecimento de uma nova organização de qualquer indústria, como a criação de uma posição de
monopólio. Definições semelhantes a essas são aplicadas pelo Manual de Oslo e pela PINTEC (em nível nacional).
42
Assim, o estabelecimento de relações de cooperação entre firmas, bem como
dessas com seus consumidores, fornecedores ou outras instituições cumpre um papel
vital para o fortalecimento não apenas da eficiência desses agentes internamente à
aglomeração, mas desenvolve vantagens competitivas e de inovação, cada vez mais
importantes na dinâmica das firmas atuais.
É importante ressaltar que o termo cooperação, na literatura econômica, carece
de uma maior delimitação. Por vezes o termo é tratado como sinônimo de “redes de
firmas”10. Não se discutirá aqui a similaridade ou não com o conceito de redes, porém,
se partirá do entendimento de que os processos cooperativos são aqueles que estão
diretamente relacionados com o processo decisório da firma, isto é, sendo
compreendido como uma estratégia de busca por competitividade, através da ação
deliberada e cooperada (ainda que informal) entre firmas e/ou com outras instituições.
Embora possa parecer contraditório o fato de firmas concorrentes entre si
cooperarem, Schmitz (1997) aponta que no relacionamento horizontal interfirmas, a
competição não exclui uma série de ações conjuntas em fases pré-competitivas, como
no desenvolvimento da infra-estrutura, treinamento de funcionários e provisão de
serviços em geral.
Para Tironi (2001), uma forte relação entre competição e cooperação quando se
busca compreender os fatores que conduzem à ampliação das vantagens competitivas de
empresas. Tal relação se torna mais intensa na medida em que as firmas se organizam
sob a forma de aglomerações. Para o autor, firmas localizadas em aglomerações irão
fazer frente ao aumento da competitividade imposta sobre elas de duas formas
10
Uma apresentação dos diversos significados do conceito de “Redes de Firmas” pode ser encontrada em Britto
(1999).
43
possíveis: irão ampliar a competição interna (através da busca constante por inovações
em processos e produtos), ou agirão em cooperação, a fim de enfrentar a competição
externa ao aglomerado, gerando o que chamou de “associativismo competitivo”
(TIRONI, 2001).
Para Benko (2000), desde o final da década de 70, vários grupos de
pesquisadores têm se dedicado à questão do desenvolvimento local, originando uma
diversidade de abordagens11. De forma similar, em cada uma delas as ações de
cooperação desempenham um papel crucial. Uma dessas abordagens diz respeito ao
conjunto de reflexões presentes nos estudos de economistas como Giacomo Beccatini,
Alfredo Bagnasco e Sebastiano Brusco sobre os distritos industriais italianos. Neste
grupo se inclui, também, os trabalhos de Michael Piore e Charles Sabel acerca da
especialização flexível. Para estes autores, em geral, os casos de sucesso apresentados
pelas empresas da Terceira Itália mostram que a cooperação desempenha um papel
fundamental para a competitividade das empresas (COCCO; GALVÃO; URANI,
1999). Dessa forma, o desenvolvimento de laços de cooperação apresenta maior
importância no caso de empresas de menor porte, que enfrentam problemas de escala no
acesso a mercados, informação, serviços e tecnologia, os quais afetam seu desempenho
competitivo.
Outra abordagem aponta para um conjunto de reflexões que consideram o
território como um ambiente (“millieu”) inovador. Nesta abordagem as firmas presentes
num território estabelecem diferentes formas de inter-relações e vínculos de cooperação
que levam ao desenvolvimento de inovações. Tal situação decorre do fato das ações de
11
Dada a delimitação desse estudo, não se realizou aqui uma análise mais aprofundada de todas as abordagens que
envolvem o desenvolvimento local e as relações de cooperação. Ficaram de fora da análise as abordagens de
relacionadas aos Custos de Transação (Olliver Williamson e Ronald Coase) e aos trabalhos desenvolvidos pelos
“Geógrafos californianos” (Allen Scott e Michael Storper). Também não integraram essa análise os trabalhos dos
regulacionistas franceses (Alain Lipietz e Daniéle Leborgne).
44
cooperação resultarem em uma maior capacidade de transformar os conhecimentos
tácitos, desenvolvidos internamente nas empresas de uma localidade, gerando vantagem
competitiva para estas empresas (ALBAGLI, 2001).
A existência de relações de cooperação entre empresas próximas não significa
que estas se dão de forma automática. A coesão social desenvolvida ao longo da história
da região, a densidade institucional e a implementação de projetos comuns facilitam a
presença de ações cooperativas e são um fator importante de diferenciação das regiões.
Schmitz (2000), ao citar quatro pesquisas realizadas em aglomerados industriais
diversos, aponta para uma situação relevante: empresas localizadas nestas aglomerações
que apresentaram maior grau de cooperação obtiveram melhora no desempenho de sua
performance, bem como na sua capacidade de gerar vantagens competitivas mais
duradouras. Nesse sentido, Brito (2000) aponta que a possibilidade das firmas obterem
externalidades positivas através da aglomeração estimula uma maior organização e
coordenação desses agentes, através de organizações responsáveis, em última análise,
pela garantia (e no mínimo manutenção) de ganhos gerados pela cooperação, expressos
principalmente pela redução de custos, minimização de riscos e por ganhos de escala.
Para Beije (1991), existem quatro razões básicas que explicam a cooperação de
firmas entre si: a) diminuição da incerteza; b) controle sobre mercados potencialmente
promissores; c) racionalização dos gastos em P&D; e d) obtenção de lucros que não
poderiam ser acessados de forma independente.
Ainda, para Camagni (1993), existem ganhos decorrentes de práticas
cooperativas que são inegáveis, entre os quais: a) maior sinergia e economia de escala
entre as atividades de produção, marketing e P&D; b) economias de escopo e aumento
dos esforços de diferenciação de produto; c) ganhos associados ao desenvolvimento de
45
complementaridades tecnológicas; d) aumento da capacidade de reagir proativamente
aos choques externos; e) consolidação de tipos específicos de barreiras à entrada; e f)
controle mais efetivo sobre ativos e competências necessários ao fortalecimento de
processos de inovação internos às firmas.
Para Albagli e Britto (2003), a cooperação pode ocorrer por diversas vias, sendo
as mais comuns de serem observadas: i) através da troca de informações (produtivas,
tecnológicas e/ou mercadológicas) com clientes, fornecedores ou concorrentes; ii) por
meio da interação entre firmas e outras instituições, através de programas de
treinamento comuns, compras conjuntas de insumos ou realização/participação de
eventos em geral; e iii) pela integração de competências entre as firmas e entre essas e
outras instituições, através de ações de melhoria de produtos e processos ou atividades
de pesquisa e desenvolvimento.
Schmitz (1997) apresenta uma tipologia dos processos de cooperação entre
firmas, que podem ser tanto bilaterais quanto multilaterais, bem como horizontais e
verticais. A cooperação bilateral horizontal ocorrerá quando, no mínimo duas empresas
concorrentes desenvolverem alguma atividade conjunta, podendo ser de natureza
produtiva ou não; a cooperação bilateral vertical ocorrerá quando uma firma e seus
fornecedores/clientes cooperarem entre si, a fim de promover a melhoria de algum fator
relacionado a uma das etapas da cadeia produtiva, seja a montante ou a jusante; a
cooperação multilateral horizontal ocorrerá quando as firmas de uma aglomeração,
produtoras de bens similares, se unem em associações cooperativas; por fim, a
cooperação multilateral vertical ocorrerá quando setores, que pertencem a mesma cadeia
produtiva, se unem para desenvolvimento de alguma atividade conjunta. Tais situações
se resumem no Quadro 1, abaixo.
46
Quadro 1 - Tipos de Cooperação Interfirmas
Bilateral
Multilateral
Horizontal
Exemplo: partilhando
algum equipamento
Exemplo: participando da
associação empresarial
local
Vertical
Exemplo: produtores e
clientes melhorando
componentes
Exemplo: formando
alianças ao longo da cadeia
de valor ampliada
Fonte: Adaptado a partir de Schmitz (1997: 1.634)
Para Amato Neto (2000), entre as principais razões que conduzem a um
estreitamento das relações de cooperação interfirmas, são: a) combinação de
competências e utilização de know-how de outras empresas; b) “socialização” do ônus
na realização de pesquisas tecnológicas; c) compartilhamento de riscos e custos de
novas oportunidades; d) oferecimento de linhas de produtos melhores e mais
diversificados; e) efetivação de uma maior pressão no mercado; f) compartilhamento de
recursos subutilizados; g) fortalecimento do poder de compra junto aos fornecedores e
de venda junto aos consumidores; e h) fortalecimento e capacitação das firmas, afim de
que possam atuar em mercados internacionais. Mais uma vez, não se pretende aqui uma
defesa inconteste das relações de cooperação, nem mesmo apresentar essas ações como
a panacéia de todos os problemas da firma contemporânea, mas sim que uma maior
interação entre firmas (ou dessas com instituições diversas) possibilita um incremento
na capacidade inovativa e colaborativa dessas.
Compreende-se, assim, que um aglomerado de empresas em si não leva
necessariamente à cooperação. Faz-se necessário a presença de estruturas de
relacionamentos minimamente organizadas entre os agentes econômicos e sociais
47
envolvidos localmente. Porém, tal relacionamento é um fator necessário, mas não
suficiente para que ocorra a cooperação. É preciso que haja um enraizamento
(embeddedness)12 local, aonde os agentes compartilhem história, normas e valores
comuns, facilitando o desenvolvimento de capital social.
Para Santos et al. (2002), para existir cooperação (e confiança) entre firmas
numa aglomeração, é imprescindível não apenas a proximidade física, mas também a
proximidade cognitiva. Hansen (2003: 17) reitera que firmas que integram uma
aglomeração “estão conectadas por uma série de ligações e redes sociais, institucionais,
culturais e técnicas que conduzem à criação de capital social”.
A proximidade entre os agentes em termos social, cultural e institucional se
revela um elemento catalisador de práticas cooperativas que reforça, como já vimos, os
processos de aprendizado por interação (JOHNSON; LUNDVALL, 1994). A
importância de fatores não-econômicos e da estruturação de regras e normas
socialmente definidas (que condicionam as interações entre os agentes) aponta para a
relevância dos estímulos à cooperação e ao aprendizado oriundos das condições
institucionais locais.
Diferentes estudos do caráter local da inovação têm contribuído para afirmar
que, a partir da proximidade territorial, possibilita-se uma maior interação direta entre
agentes que compartilham códigos comuns de comunicação, convenções e normas que
reforçam a confiança, caracterizando um ambiente propício para a geração,
compartilhamento e socialização de conhecimentos (BRITTO, 2004).
12
Tal conceito foi cunhado por Mark Granovetter (1985) e tem se expressado como um dos conceitos fundamentais
de uma nova “disciplina” na economia, conhecida como Sociologia Econômica. A argumentação de Granovetter
consiste que as ações e as instituições econômicas estão submersos ou enraizados no todo social do qual fazem parte.
48
A cooperação no interior do aglomerado permite, principalmente às pequenas
empresas, o desenvolvimento de eficiência e flexibilidade, resultantes da especialização
em etapas do processo produtivo e pelo inter-relacionamento entre as firmas, e dessas
com o ambiente local. De acordo com Sengenberger e Pyke (1991), o aglomerado tornase competitivo através da forma como se organiza, ao invés de se basear em uma
eventual vantagem comparativa proveniente de algum recurso de baixo custo.
Costa e Costa (2005) atentam para a importância de se avaliar que o atributo do
produto no qual o aglomerado baseia sua competitividade torna-se um elemento-chave à
compreensão do tipo de cooperação que se estabelecerá entre os agentes. Mesmo em
aglomerados, as empresas têm por objetivo a obtenção de lucros. Assim, o padrão de
competição (FERRAZ, KUPFER, HAGUENAUER, 1996) que se estabelece nos
mercados de atuação das firmas irá influir no tipo de cooperação em que estão dispostas
a desenvolver. É nesse sentido que Costa e Costa afirmam que:
É de se esperar que naqueles fatores de competitividade aos quais se pode ter
acesso via mercado ou através de esforço próprio, a atuação ocorrerá de
forma individual. Naquelas situações, ao contrário, em que a atuação
atomizada é insuficiente para alcançar competitividade, então ações conjuntas
para superar as restrições podem ser observadas, mesmo que os benefícios
sejam também de alcance de concorrentes. (2005: 13).
Daí se depreende que ações que exijam envolvimento cooperativo, mas que não
ofereçam ganhos diretos à posição no mercado (no atributo em que se concorre) têm
poucas chances de prosperarem, a menos que ocorra consenso entre os agentes de que
“pressões competitivas externas indiquem um ajuste em direção à capacitação em um
novo fator de competitividade” (COSTA; COSTA, 2005: 14).
Nesse sentido, torna-se necessário aprofundar o conhecimento a cerca das
aglomerações, retratando o modelo apresentado pela literatura econômica como
49
Arranjos Produtivos Locais (APLs). Especial atenção será dada ao conceito
desenvolvido pela REDESIST ao longo dos anos, que caracteriza as aglomerações não
apenas levando em consideração os aspectos produtivos, organizacionais, sociais e
culturais, mas também a realidade dos países em desenvolvimento e sua relação de
dependência com os países desenvolvidos.
2.4 A Relevância dos Arranjos Produtivos Locais (APLs) e dos Sistemas de
Inovação
A questão territorial no âmbito das ciências econômicas não é recente, tendo
recebido amplo destaque por diversos autores clássicos, em especial pelo economista
inglês Alfred Marshall, em sua obra Principles of Economics de 1890. Marshall
observou pequenas fábricas de setores correlatos, localizadas geograficamente
próximas, em regiões periféricas aos grandes centros produtores do Reino Unido (final
do século XIX) e foi Marshall o primeiro a formular o conceito original de distrito
industrial. Entretanto, o século XX e o sucesso da produção fordista de massa,
relegaram as contribuições marshallianas ao esquecimento, até o início da década de 80
do século XX.
2.4.1 Do Distrito Marshalliano ao Distrito Italiano
Existe uma vasta literatura nacional e internacional sobre o fenômeno da
aglomeração de atividades produtivas em uma região geograficamente localizada. Há
50
muitas denominações e ênfases diferentes. O mesmo fenômeno é às vezes denominado
arranjo produtivo local, distrito industrial, sistema produtivo local ou mesmo “cluster”.
Marshall (1982) é o primeiro economista a abordar a temática da concentração
de indústrias, demonstrando que a aglomeração poderia auxiliar as firmas, sobretudo as
pequenas, a obter vantagens. Para o autor, as “indústrias aglomeradas”, envolvidas em
atividades similares, obtinham um conjunto de vantagens (denominadas por ele como
“economias externas”). Tais vantagens são fruto da divisão do trabalho entre os
produtores de um mesmo ramo industrial, concentrados num mesmo território.
Para Marshall (1982), há no interior dos aglomerados uma “atmosfera
industrial”, onde ocorre uma interseção dos sistemas econômico e social. Em síntese, o
distrito industrial marshalliano pressupõe: a) a convivência entre os aspectos sociais e
produtivos; e b) uma ampla divisão do trabalho entre firmas envolvidas em atividades
complementares.
Após Marshall, a idéia dos distritos industriais perdeu a força, em parte pela
pressão exercida pelo modelo fordista de produção em massa. O interesse na temática
das aglomerações de empresas reaparece na literatura acadêmica e no debate político
nas décadas de 1970 a 1990. Seu ressurgimento é fruto de um novo modelo de sistema
produtivo (especialização flexível) que emergia nos “distritos industriais” da Terceira
Itália, com as experiências de sucesso de empresas pequenas e médias na região da
Emilia Romagna.
Entre os principais autores italianos que discutem a questão dos distritos, podese citar os estudos de Becatini (1990) e Brusco (1990 e 1992). Para ambos, a idéia de
distrito industrial é encarada como um conjunto de firmas localizadas em uma área
geográfica reduzida, que atuam em um mesmo nicho de mercado e que compartilham
51
crenças, valores e conhecimentos que moldam um habitat sócio-cultural particular.
Essas firmas se relacionam entre si através de um misto entre competição e cooperação
(BRUSCO, 1992).
O que fica evidente na obra dos autores italianos sobre distritos é que, a partir de
um olhar sobre a dinâmica das aglomerações, avaliaram que este tipo de organização
industrial propiciava às empresas um ganho de flexibilidade produtiva, implicando em
um aumento da qualidade dos produtos, bem como velocidade de produção e de
resposta às mudanças. Nesse sentido, os distritos são vistos como espaços de
complementaridade entre firmas ali localizadas, permitindo assim, a constituição de
redes de empresas.
Para um conjunto de autores (SCHMITZ, 1997; RABELLOTI, 1995; NADVI,
1994) a partir da concentração regional e setorial de pequenas empresas seria possível
proporcionar uma maior ação conjunta entre as firmas, permitindo ganhos para o
aglomerado de forma geral. Tais autores compreendem que as aglomerações são
concentrações geográficas de um determinado setor ou cadeia produtiva, onde se
pretende, através da desverticalização do processo de produção, o estabelecimento de
redes de cooperação, complementada não somente pela relação entre as firmas, mas pela
existência de um conjunto de instituições de apoio, representação, ensino e pesquisa,
que promovem a coordenação local das atividades.
Além desses autores, é possível ainda identificar uma linha de pesquisadores
franceses que também privilegiam a idéia de desenvolvimento baseado nas
aglomerações locais, surgindo daí o conceito de sistema industrial localizado ou
sistemas produtivos locais (COURLET, 1993).
52
Para Courlet (1993), os sistemas produtivos locais se estabelecem a partir de
uma rede de relações de colaboração entre empresas que produzem conjuntamente, de
acordo com pactos específicos. Dessa forma, é de se esperar a existência de uma densa
rede de interdependências entre as firmas. A base desses sistemas é eminentemente
territorial, porém, não apenas o território, mas também a história da região, bem como
as estratégias individuais das firmas devem ser consideradas ao se analisar um sistema
produtivo.
Ainda, Courlet (1993), indo ao encontro do que já havia afirmado Marshall e os
autores italianos, afirma que os sistemas fazem uso dos ganhos das economias de
aglomeração, dada a intensa relação que se estabelece entre as firmas no interior do
território. A partir de uma intensa divisão do trabalho, as firmas aglomeradas tendem a
uma especialização produtiva, possibilitando também a introdução de novas
tecnologias, gerando, enfim, ganhos de eficiência para os sistemas locais. Tais ganhos
de eficiência tornam possível a obtenção de ganhos de escala, até então somente
observado na literatura econômica como sendo um comportamento típico das grandes
fábricas integradas.
Courlet extrapola a análise das aglomerações sob a ótica do território,
incorporando análises sobre a inovação, se aproximando, assim, de autores
evolucionários. A proximidade das firmas, além de gerar externalidades que afetam a
produção no interior dos aglomerados, gera também um conjunto de externalidades que
se originam de uma tecitura de conhecimentos, uma vez que tais firmas, por estarem
geograficamente próximas, possuem maior oportunidade de trocar conhecimentos, ainda
que de maneira informal. O efeito desse “tecido espacial de conhecimentos” é
compreender, a partir dessa lógica, que a inovação adquire uma conotação de
territorialidade (COURLET, 1993).
53
Assim, o território passa a ser o ponto de encontro entre os atores do
desenvolvimento, sendo o local onde se organizam as formas de cooperação entre
empresas, onde se decide, também, a divisão do trabalho, ele é, enfim, o ponto de
encontro entre as formas de mercado e as formas de regulação social (COURLET,
2001). O espaço deixa de ser apenas um fator de custo para as firmas, mas passa a se
comportar como um ambiente favorável, ou desfavorável, à criação de economias (ou
deseconomias) externas.
Dito isso, cabe refletir sobre a constituição de uma definição de arranjo
produtivo, que aproxime tanto os efeitos da aglomeração espacial de firmas e
instituições com a possibilidade dessa proximidade viabilizar o surgimento de processos
inovativos internos ao arranjo. Para tanto, é importante avaliar o conceito de sistema de
inovação e arranjo produtivo local.
2.4.2 Arranjos Produtivos Locais e Sistemas de Inovação
Inicialmente, é importante ressaltar que não há uma fórmula ou modelo
específico para criação ou desenvolvimento de aglomerações ou arranjos, pois existem
aspectos particulares para cada tipo de arranjo que variam de acordo com a região na
qual os agentes destes arranjos estão inseridos, inerentes à dinâmica interna de cada um
deles. Amaral Filho (2002) afirma que em todos os casos exitosos de organização
coletiva de micro e pequenas empresas verificou-se a presença de quatro elementos
estruturantes. Estes elementos, de acordo com o autor, são: capital social, estratégias
coletivas de organização da produção, estratégias coletivas de mercado e articulação
político-institucional.
54
Ao mencionar o capital social13, o autor se refere a um fator intangível por
natureza, representando um acúmulo de compromissos sociais consolidados pelas
interações sociais em uma determinada localidade. Por sua vez, este capital social serve
de apoio a outro componente, conhecido como estratégia coletiva de organização da
produção. Esta estratégia se relaciona com as decisões coordenadas, entre os produtores,
no que se refere a quem vai produzir, o que produzir e como produzir. E é por meio
desta estratégia que a aglomeração das pequenas empresas determina seu poder em
relação às grandes empresas, por meio da equivalência da vantagem em relação à escala
da compra dos insumos, do uso de máquinas e equipamentos, da produção em geral etc.
De igual modo, é por meio da estratégia coletiva de organização da produção que se
revela e se processa a aprendizagem coletiva, fonte das inovações e da competitividade.
O terceiro elemento, conforme Amaral Filho (2002), está direcionado à
estratégia coletiva de mercado. Esta também está voltada para as ações coordenadas e
convergentes entre os produtores. Vale ressaltar que a estratégia coletiva de organização
da produção não teria importância caso não existisse uma estratégia também coordenada
e coletiva para a conquista e manutenção dos mercados. Tal situação decorre de que os
mercados compradores, além de serem formados por grandes players, são também
condicionados por grande escala. Sem uma estratégia comum entre os produtores, as
pequenas empresas veriam reduzidos os ganhos conseguidos nas economias de escala,
alcançados nas esferas da compra dos insumos e na realização da produção.
O último ponto citado por Amaral Filho (2002) está voltado para a articulação
político-institucional, também decorrida do capital social. Este é o instrumento pelo
qual o arranjo produtivo se articula com instituições públicas e privadas responsáveis
13
Para maior entendimento, ver Albagli e Maciel (2003); Portes (2000); Costa e Costa (2005).
55
pelas políticas públicas, e com as organizações privadas de apoio às pequenas empresas.
Amaral Filho aponta que “as evidências revelam que, quanto mais capital social
acumulado dentro de num determinado núcleo ou aglomeração de empresas, melhor e
mais eficiente será a articulação com as organizações e instituições” (2002: 580).
Cassiolato e Szapiro (2002) propõem, dentro do quadro referencial da
REDESIST, a adoção de dois conceitos. O primeiro define os chamados arranjos
produtivos locais, “os quais são compreendidos como aglomerações territoriais de
agentes econômicos, políticos e sociais - com foco em um conjunto específico de
atividades econômicas - que apresentam
vínculos mesmo que incipientes”
(CASSIOLATO; SZAPIRO, 2002: 16; CASSIOLATO; LASTRES, 1999). Geralmente
envolvem a participação e a interação de empresas - que podem ser desde produtoras de
bens e serviços finais até fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de
consultoria e serviços, comercializadoras, clientes, entre outros - e suas variadas formas
de representação e associação. Incluem também diversas outras instituições públicas e
privadas voltadas para: formação e capacitação de recursos humanos, como escolas
técnicas e universidades; pesquisa, desenvolvimento e engenharia; política, promoção e
financiamento.
O segundo conceito qualifica os chamados sistemas produtivos e inovativos
locais que são “aqueles arranjos produtivos em que interdependência, articulação e
vínculos consistentes resultam em interação, cooperação e aprendizagem, com potencial
de gerar o incremento da capacidade inovativa endógena, da competitividade e do
desenvolvimento local” (CASSIOLATO; SZAPIRO, 2002: 17).
Os pesquisadores da REDESIST definem os sistemas produtivos e inovativos
locais como “[...] conjuntos de agentes econômicos, políticos e sociais, localizados em
56
um mesmo território, desenvolvendo atividades econômicas correlatas e que apresentam
vínculos expressivos de produção, interação, cooperação e aprendizagem”. Portanto,
[...] geralmente incluem empresas – produtoras de bens e serviços finais,
fornecedoras de equipamentos e outros insumos, prestadoras de serviços,
comercializadoras, clientes, etc., cooperativas, associações e representações e demais organizações voltadas à formação e treinamento de recursos
humanos, informação, pesquisa, desenvolvimento e engenharia, promoção e
financiamento (REDESIST, 2005: 1).
De outro modo, os arranjos produtivos locais não são considerados sistemas, em
razão da articulação entre os agentes ser ainda ausente ou incipiente.
De acordo com Cassiolato e Lastres (1999) o entendimento dos arranjos
produtivos locais baseia-se na visão evolucionista sobre inovação e mudança
tecnológica, que destaca: a) o reconhecimento de que a inovação e o conhecimento são
cada vez mais vistos como elementos centrais da dinâmica e do crescimento de nações,
regiões, setores, organizações e instituições (e não como fenômenos marginais); b) o
entendimento de que a inovação e o aprendizado - enquanto processos dependentes de
interações -, são influenciados por contextos econômicos, sociais, institucionais e
políticos específicos; c) a idéia da existência de consideráveis diferenças entre os
agentes e suas capacidades de aprender, que refletem e dependem de aprendizados
anteriores; d) a visão de que apesar das informações e conhecimentos codificados
possuírem condições crescentes de disseminação e transferência, os conhecimentos
tácitos têm um papel fundamental para o sucesso inovativo e são muito difíceis de
serem transferidos.
Para Britto (2004), os processos de aprendizagem que ocorrem no interior de
APL’s se apresentam tanto em arranjos inseridos em setores tradicionais como naqueles
de maior grau de hierarquização. Nos primeiros, predomina uma estrutura de
governança com forte presença de pequenas e médias empresas articuladas por meio de
57
diversos tipos de redes de relacionamento (de caráter vertical ou horizontal). Exemplos
destes arranjos estão ligados às indústrias de vestuário, calçados, móveis, vinhos, entre
outros.
Já nos arranjos produtivos com maior grau de hierarquização participam
empresas articuladas no interior de cadeias produtivas complexas, direcionadas à
produção de bens que incorporam um elevado número de componentes. Neste tipo de
arranjo observa-se uma centralização de fluxos produtivos e do comando decisório nas
mãos de grandes empresas como, por exemplo, firmas montadoras e fornecedores de
subsistemas e componentes a serem integrados no produto final. Exemplo dos tipos de
indústria que caracterizam esses arranjos são: automobilística, computadores,
equipamentos eletrônicos, aeronaves, entre outros.
Pode-se dizer que o embrião da idéia de sistemas e arranjos localizados é o
conceito de sistema nacional de inovação. Desenvolvido por Lundvall (1992) e Freeman
(1995), tal conceito tem por base a consideração de que os atores econômicos e sociais e
as relações entre eles determinam em grande medida a capacidade de aprendizado de
um país e, portanto, a capacidade de inovar e de se adaptar às mudanças do ambiente.
Desempenhos nacionais, relativos à inovação, derivam de uma confluência social e
institucional, particulares entre si e de características histórico-culturais específicas
(LASTRES et al, 1999). Esse conceito já vem sendo discutido em níveis locais e
regionais.
Os sistemas nacionais, regionais ou locais de inovação podem ser tratados, dessa
forma, como uma rede de instituições dos setores público (instituições de pesquisa e
universidades, agências governamentais, empresas públicas e estatais, entre outros) e
privado (como empresas, associações empresariais, sindicatos, organizações não-
58
governamentais etc.) cujas atividades e interações geram, adotam, importam, modificam
e difundem novas tecnologias, sendo a inovação e o aprendizado aspectos cruciais para
o seu desempenho exitoso.
O enfoque dos sistemas nacionais de inovação se contrapõe à idéia de que a
crescente globalização vem ocorrendo em todos os níveis. Pelo contrário, dados
empíricos demonstram que a geração de inovações e de tecnologias é localizada e
circunscrita às fronteiras localizadas entre o nacional e o regional (LASTRES, 1997).
Tendo em vista que os conhecimentos que se geram no processo inovativo são tácitos,
cumulativos e localizados, existiria um espaço importante em nível nacional, regional
ou local para o desenvolvimento de capacitações tecnológicas endógenas. Essas
capacitações são imprescindíveis para se absorver de forma eficiente o que vem de fora
e adaptar, modificar e gerar novos conhecimentos.
Percebe-se que a ótica dos sistemas de inovação e de arranjos locais são
complementares, e se apresentam como uma importante unidade de análise, captando a
relação que se estabelece entre os agentes pertencentes a um território específico,
desenvolvendo nesse local, um espaço de aprendizagem particular. Dessa forma, a
abordagem dos arranjos produtivos locais privilegia o aprendizado interativo, pondo em
evidência, para além das trocas de bens e insumos entre as empresas, a importância das
trocas de informação e conhecimento, não apenas entre as firmas, mas destas com uma
gama de instituições, muitas delas criadas para proporcionar esse fim: uma maior
interação entre agentes em um espaço geográfico definido. Daí o papel fundamental
desse referencial para a compreensão das relações que se estabelecem entre os processos
inovativos, o aprendizado interativo e as práticas de cooperação, em um arranjo
produtivo local.
59
Particularmente, o objetivo desta pesquisa é analisar o papel que cumpre a
aprendizagem, a cooperação e a inovação no arranjo produtivo vitivinícola da Serra
Gaúcha. Cabe, porém, anteriormente, caracterizar o referido APL, tarefa realizada no
próximo capítulo.
60
3 CARACTERIZAÇÃO DO APL DA VITIVINICULTURA DA SERRA
GAÚCHA
Uma das razões principais que motivaram a realização desta pesquisa consiste
no fato de que os inúmeros estudos existentes sobre a vitivinicultura no Brasil o
analisarem, em sua grande maioria, sob a ótica de um “setor” ou quando muito como
uma “cadeia produtiva”. Desde o início deste trabalho, percebeu-se a importância para a
compreensão da dinâmica da produção de vinhos no Brasil de se adotar uma abordagem
de arranjos produtivos, organizados localmente e que possuísse uma estrutura de
coordenação e suporte que extravasasse os mecanismos de mercado (à semelhança
metodológica do trabalho de Vargas, 2002). Essa talvez seja uma das primeiras
contribuições deste trabalho, qual seja compreender a produção de vinhos para além das
relações das firmas à jusante e à montante, mas principalmente o papel e as relações que
estas travam entre si e com as inúmeras organizações locais que dão suporte
tecnológico, educacional e político-representativo às diversas demandas das firmas ali
localizadas.
Assim, a presente caracterização privilegia o papel da história como elemento
fundamental para o entendimento da constituição do Arranjo Produtivo da
Vitivinicultura da Serra Gaúcha, compreendendo a primeira seção deste capítulo. Em
seguida, parte-se para a caracterização produtiva do APL, através de uma análise da
organização industrial da sua produção vitícola e vinícola, bem como a presença e
61
organização de agentes que dão suporte a esta produção localizada (fornecedores de
máquinas, equipamentos e insumos enológicos). Por fim, se fará uma caracterização das
principais organizações presentes no APL e que auxiliam na conformação deste como
tal. Para tanto, repartiu-se a totalidade das organizações presentes em quatro grandes
grupos: Associações representativas; Instituições de pesquisa; Instituições de ensino; e
Instituições de promoção setorial.
3.1 - Constituição histórica do APL: os primórdios da vitivinicultura no RS e a
imigração italiana
Os primeiros vitivinicultores em terras gaúchas, conforme Paz e Baldisserotto
(1997), foram os Jesuítas, seguidos pelos açorianos. As correntes imigratórias do século
XIX, com os alemães à frente, igualmente cultivaram a videira e produziram os vinhos,
mas foi com os italianos que a vitivinicultura mais prosperou. Os vinhedos gaúchos, nos
seus primórdios, de acordo com Paz e Baldisserotto (1997), foram organizados com
variedades européias, e a partir da segunda metade do século XIX, as variedades
americanas (Isabel, Herbemont) foram substituindo as européias por sua facilidade de
cultivo.
Os italianos foram os que incrementaram o cultivo da uva e a produção de vinho.
A primeira venda de vinho para fora do Estado foi feita por Antônio Pieruccini, em
1898, em São Paulo e, em 1900, Abramo Eberle realizou outra viagem, vendendo
“graspa” e 20 bordalesas de vinho colonial em São Paulo, Santos e Ribeirão Preto
(PELLANDA, 1950).
62
Cabe salientar que os processos imigratórios da Europa para o Brasil respeitaram
critérios geopolíticos da Corte Portuguesa, aliados aos interesses econômicos e de
ocupação espacial14. É sabido que tais processos se iniciaram, em nível nacional, como
alternativa à escassez de mão-de-obra para o trabalho nas grandes “plantations”
brasileiras, localizadas principalmente na região do estado de São Paulo, e diretamente
orientadas para a cafeicultura. No caso das correntes migratórias voltadas para a região
sul do país, estas seguiram interesses primeiramente demográficos, buscando o
povoamento das terras do sul, evitando assim as freqüentes investidas dos espanhóis por
ampliação de seus territórios.
A verdade é que o trabalho do imigrante garantiu a solução de problemas tanto
de ordem econômica quanto demográfica, no Brasil e na Europa. No caso específico da
imigração italiana, Pellanda (1950) apresenta cinco grandes motivos que impulsionaram
uma grande massa de trabalhadores para as Américas, em especial os italianos:
a) grande crescimento demográfico europeu, experimentado entre 1815 e 1914
(crescimento da industrialização e primórdios da Primeira Revolução Industrial), que
fez com que a população do velho continente saltasse de 180 milhões para 450 milhões
de habitantes, “empurrando” cerca de 40 milhões de pessoas aos processos imigratórios,
sendo 85% para as Américas;
b) no caso específico da Itália recém unificada (1870)15, uma das primeiras
medidas do governo foi a supressão das alfândegas regionais, unificando o sistema
14
A colonização do Rio Grande do Sul, por açorianos, alemães e italianos tem longínqua origem no despacho do
Conselho Ultramarino da Metrópole lusa, de 22 de junho de 1729, no qual dizia "conveniente que, se não instalando
no sul, nas povoações da Colônia e outras, casais de ilhéus, e quando êstes forem insuficientes, se podiam conseguir
casais estrangeiros, sendo alemães ou italianos e de outras nações que não sejam castelhanos, inglêses, holandeses e
franceses" (PELLANDA, 1950:02).
15
Cabe assinalar que o processo de unificação da Itália não se deu de forma pacífica e instantânea: a unificação
inicia-se em 1861, mas somente em 1866 é que Veneza é anexada; Roma integra o território do “Reino da Itália” em
1870. A Região do Trento somente integra o país após a Primeira Guerra, em 1919. Parecem pertinentes as palavras
63
alfandegário tendo por base a Sardenha (que possuía as taxas alfandegárias mais baixas
da região), afetando diretamente diversas economias regionais (relativamente fechadas,
mas que conseguiam manter certo equilíbrio), bem como pressionando os preços dos
produtos industrializados para baixo, destruindo o restante da produção artesanal,
fragilizando ainda mais os pequenos agricultores, que complementavam sua renda com
o trabalho em “micro-estabelecimentos” artesanais, localizadas no campo;
c) a unificação alfandegária acentuou ainda mais as desigualdades econômicas e
sociais entre o norte da Itália (que se industrializou mais cedo) e o sul (eminentemente
agrícola). A preocupação do governo em obter recursos capazes de financiar obras
públicas de infra-estrutura (principalmente ferrovias), fez com que se tomassem
medidas fiscais impopulares, de supertaxação de bens de primeira necessidade, como
foi o caso do aumento dos impostos sobre a produção de farinha e restrição à entrada de
cereais vindos das Américas, em geral mais baratos que os produzidos internamente.
Tais medidas beneficiaram os grandes produtores, visto que os pequenos agricultores
ficavam restritos à produção de subsistência. As populações de baixa renda foram as
mais afetadas, pois tiveram de pagar preços mais elevados para a compra da farinha,
item fundamental da dieta italiana;
d) medidas fiscais e alfandegárias afetaram duramente a indústria vinícola
italiana como um todo, visto a decisão unilateral do governo italiano em sobretaxar a
entrada de vinhos franceses. Como reação, a França também sobretaxou os vinhos
oriundos da Itália. Como resultado, as exportações italianas para a França caíram, em
três anos (1887 a 1890) dos 300 milhões de litros para 1,9 milhões de litros. A indústria
vinícola italiana, composta em sua maioria por pequenas estruturas familiares de
de um dos principais articuladores políticos da unificação italiana quando afirma que “nós fizemos a Itália: agora
temos de fazer os italianos” (PELLANDA, 1950:02).
64
produção, localizadas principalmente nas regiões do Vêneto e da Lombardia, viu sua
situação, em um curto espaço de tempo, tornar-se caótica;
e) por último, a elevação dos preços dos produtos alimentares provocou um
desequilíbrio na dieta da população demograficamente inchada, aumentando os níveis
de miséria, subnutrição e doenças (crescem os surtos de malária e pelagra, tipo de
avitaminose causada pelo consumo quase que exclusivo de milho e seus derivados).
Todos estes motivos, conjuntamente, alimentaram a alternativa da migração,
principalmente para a América (o Novo Mundo).
Prado Junior (1945) reafirma o caráter dicotômico do processo de
“imigração/colonização”, deixando claro que apesar de ser permeado por critérios
econômicos, a entrada desta mão-de-obra estrangeira serviu para propósitos distintos:
aos cafeicultores de São Paulo, lhes interessava a “imigração” de europeus, destinados a
mitigar os déficits de trabalhadores livres nas fazendas; aos governos dos estados do sul
do país, serviram para implementar uma estratégia de ocupação e “colonização” de
terras com baixa densidade demográfica, com vistas a garantia e manutenção dos
territórios, regularmente submetidos aos ataques de tropas cisplatinas. “Em conjunto, a
‘imigração’ superará sempre de muito a ‘colonização’” (PRADO JUNIOR, 1945:190).
Essa dinâmica de abastecimento do mercado interno de mão-de-obra estrangeira
livre foi arquitetada com base em contratos estabelecidos entre o governo central do
Brasil e empresas privadas, responsáveis pelo recrutamento dos trabalhadores na
Europa. Tais empresas eram remuneradas por trabalhador que desembarcasse no Brasil.
Assim, importava única e tão somente a quantidade, não a qualidade dos imigrantes.
Não raro, muitos fazendeiros paulistas se desiludiam com o desembarque de pessoas
idosas e/ou incapacitados para o trabalho no campo (PELLANDA, 1950).
65
A fim de atrair parte destes imigrantes para o Rio Grande do Sul, a presidência
da província instituiu as colônias de Conde D’Eu e Dona Isabel (atualmente Garibaldi e
Bento Gonçalves, respectivamente) em 1870. Após isso, “firmou contrato com duas
empresas privadas, que deveriam agenciar e introduzir quarenta mil colonos em um
prazo de dez anos”16 (MACHADO; HERÉDIA, 2003:52). Essa estratégia do governo
provincial se mostrou um fracasso (nos três anos em que esteve vigente o contrato 1872 a 1875 -, ambas as empresas somente conseguiram introduzir menos de quatro mil
colonos, em sua maioria oriundos da Alemanha).
A explicação para este fracasso, segundo Pellanda (1950), é: a deflagração de
campanhas na Alemanha de restrição ao embarque de trabalhadores para o Brasil,
difundindo-se a imagem de que os imigrantes sofriam imensas privações aqui; e o fato
das defasagens nos valores dos contratos firmados, onde as firmas agenciadoras
preferiam negociar com o governo central, visto que este remunerava melhor o ingresso
dos imigrantes17. Além disso, os próprios colonos preferiam instalar-se no sopé na serra
gaúcha, onde já havia colônias alemãs, ficando mais próximos dos focos de urbanização
existente na época. Neste quadro de insucesso, o governo provincial desistiu de
administrar a colonização do nordeste gaúcho, repassando tal incumbência à
administração do governo imperial.
Sobre a colonização do Rio Grande do Sul, na segunda metade do século XIX,
Woortmann (1988:99) aponta:
16
O Presidente da Província, Francisco Xavier Pinto, assinou contrato em 29/04/1871, com a Companhia Caetano
Pinto & Irmãos e Holtzweiss & Cia, para a introdução de “40.000 colonos industriosos, jornaleiros e principalmente
agricultores, no prazo de 10 anos” (MACHADO; HERÁDIA, 2003:51). O pagamento era feito de forma parcelada:
1/3 em títulos da dívida provincial, ao juro de 7% ao apresentarem as listas dos imigrantes embarcados na Europa;
1/3 nas mesmas condições ao serem entregues no porto de desembarque (Rio Grande) e o terço restante em dinheiro,
também nesse ato. Este parcelamento dificultava a execução do contrato por parte das empresas, que deviam arcar
antecipadamente com todas as despesas de transporte dos imigrantes.
17
Enquanto o governo provincial pagava 60$000 por adulto, o Império pagava 70$000, conforme contrato firmado
com duas empresas inglesas: Mackai Son & Co e Guilherme Hasfield (PELLANDA, 1950).
66
O processo de ocupação pelos colonos interessava ao capital num duplo
sentido: a valorização das terras e a comercialização da produção. Realizando
o objetivo da Lei de Terras, datada de 1850, a colonização transforma terras
devolutas em mercadoria, cria um campesinato parcelar ao mesmo tempo em
que elimina o posseiro (e os grupos indígenas, exterminados no bojo do
processo), e transforma a propriedade no fundamento da subordinação do
capital.
A Lei de Terras teria um papel fundamental, pois se constituiria no primeiro
marco regulatório no sentido de garantir o direito de propriedade aos colonos italianos.
Diferentemente de Woortmann, que vê na lei uma espécie de “valorização especulativa”
da terra, sob a ótica dos neo-institucionalistas, tal regulação, ao se apresentar como um
direito de propriedade seguro, incentiva a valoração do recurso (no caso a terra), pelo
investimento privado (dos colonos). É com esse espírito de investimento na valorização
da terra (através da produção de gêneros alimentícios para a subsistência, inicialmente)
que o colonizador italiano se instalará na região nordeste do RS.
A transformação das terras devolutas em “lotes colonizáveis”, gerando pequenas
propriedades rurais particulares, regulados por uma série de normas emitidas pelo
governo central e provincial, foi o primeiro passo para o surgimento de instituições
sólidas que resultariam na prosperidade das colônias anos após. Não se pode desprezar,
também, o fato de que os colonos eram impedidos de utilizar do trabalho escravo,
devendo empregar mão-de-obra assalariada em seus empreendimentos. Esse fato fez
fortalecer o surgimento de relações mais claras, duradouras e convenientes aos tipos de
contratos que os colonos estavam habituados na Europa.
Em 1875, inicia-se a chegada dos primeiros colonos italianos no Rio Grande do
Sul, ocupando as colônias de Conde D’Eu e Dona Isabel, criadas em 1870,
originalmente para receber os colonos alemães. Ainda em 1875, o Império cria a colônia
67
de Caxias e, em 1877, é criada a quarta colônia italiana no RS, chamada Silveira
Martins (região central do estado).
O Rio Grande do Sul que os colonos italianos encontraram era bem diferente do
encontrado pelos alemães, que iniciaram seu ingresso no estado desde 1824. Segundo
Moure (1980), a população da província em cinqüenta anos (1825 a 1875) havia
quadruplicado, passando dos 110 mil habitantes para 440 mil. De 1824 a 1875, a
província passou de cinco municípios para vinte e oito. Havia uma incipiente
infraestrutura, que possibilitava o crescimento da província: ferrovia, rede telegráfica,
sistema bancário, navegação fluvial a vapor, etc. Além disso, o povoamento das terras
altas da serra fez surgir as principais estradas que ligavam os centros urbanos existentes
à época com as colônias, permitindo a constituição de uma atividade econômica mais
sólida e organizada18. É importante ressaltar que os colonos italianos, com seus próprios
braços, tiveram papel preponderante na construção destas vias, visto a existência de uma
lei que garantia aos trabalhadores rurais localizados nas quatro colônias italianas o
pagamento de quinhentos réis por metro corrente construído, por um período máximo
de quinze dias ao mês, destinado às obras de construção das estradas. Esta era uma
política de estímulo à permanência do colono em suas regiões, visto a desistência de
muitos em virtude das dificuldades de acesso aos lotes de terra, bem como as
dificuldades de sobrevivência nos primeiros anos, em virtude da incipiente plantação de
subsistência.
Das regiões da Itália com maior nível de desenvolvimento agrícola e industrial à
época, as principais eram a do Vêneto e da Lombardia, caracterizadas por serem de
grande densidade demográfica, de onde proveio a imigração para o Brasil. No Rio
18
Apesar destes avanços, a economia regional da província ainda estava centrada na pecuária e na agroindústria do
charque, do couro e de seus derivados. Porém, não se pode desconsiderar que a colonização inicia um processo de
desconcentração econômica e de poder, que posteriormente dará origem a uma nova forma de concentração, agora
industrial, na Serra Gaúcha (MOURE, 1980; PESAVENTO, 1983).
68
Grande do Sul, desde 1824, a colonização se fez à base da pequena propriedade: o
imigrante italiano, embora sem as vantagens da gratuidade da terra de que gozaram os
alemães, fez-se desde início dono de sua lavoura e do lucro do seu esforço, como
recompensa natural aos sacrifícios dos primeiros tempos.
Analisando os aspectos econômicos da colonização italiana para o Rio Grande
do Sul, Moure (1980:96) afirma que a imigração italiana seguiu três etapas básicas:
(a) o estabelecimento dos imigrantes em moldes de uma agricultura de
subsistência (1875-1910); (b) o desenvolvimento de atividades
vitivinicultoras (1910-1950), onde a comercialização de excedentes de
produção começa a especificar a área de colonização italiana; e (c) a
instalação de cooperativas e empresas de industrialização capazes de
aproveitar a produção local, gerando, a exemplo da zona colonial alemã,
redefinições ao nível de mercado e nas relações de produção da pequena
propriedade (...).
Percebe-se que, desde o início, a vitivinicultura assume papel relevante na
estrutura produtiva da região da serra. Alguns autores como Iotti (2001) e Moure (1980)
justificam este surgimento com a origem dos colonos italianos: estima-se que 54% dos
imigrantes eram oriundos do Vêneto; 33% da Lombardia; 7% do Trento; e 6% das
demais regiões da Itália. Estas regiões são tradicionais produtoras vinícolas da Itália,
com experiência em produção de vinhos que remonta ao Império Romano. Além do
conhecimento técnico-produtivo acumulado, tais imigrantes trouxeram em suas
bagagens uma secular experiência de organização republicana. Essa experiência, como
relata Putnam (1996:138), remonta a formação de comunas no norte da Itália, onde “as
práticas do republicanismo cívico propiciaram um grau de participação popular nas
deliberações públicas sem paralelo no mundo medieval” 19. Além do mais, os imigrantes
italianos tinham noção de uma instituição econômica que seria de grande valia no
19
Este ‘republicanismo cívico’, como denomina Putnam, está baseado no surgimento de instituições formais que
garantiram o rápido crescimento comercial das regiões do Vêneto e da Lombardia, alicerçadas na presença de
sistemas jurídicos e semijurídicos, cujo intuito era dirimir controvérsias, trocar informações e diluir o risco em
determinadas operações (PUTNAM, 1996).
69
Brasil: o crédito. O crédito foi inventado nas repúblicas italianas do norte. Não se pode
esquecer que as instituições bancárias do norte da Itália foram responsáveis pelo
financiamento das grandes expedições rumo “às índias”, bem como das navegações
portuguesas e espanholas para as Américas. Tais sistemas financeiros, ainda que
incipientes, requeriam o estabelecimento de “relações de confiança mútua e a certeza de
que os contratos e as leis que os regulamentavam seriam executados de forma
imparcial” (PUTNAM, 1996:140).
Os primeiros colonos trouxeram consigo mudas de novas variedades de uvas,
auxiliando no aperfeiçoamento da qualidade do vinho produzido na região 20. Passadas
as duas primeiras safras, que garantiram a subsistência dos colonos, começaram a surgir
os primeiros excedentes dos produtos agrícolas e agroindustriais (ainda que de forma
rudimentar), dando início a um comércio inter-regional e, logo a seguir, estadual e
nacional, a despeito de todas as dificuldades logísticas existentes à época. Além dos
produtos agrícolas tradicionais da subsistência colonial (milho, batata, trigo, arroz e
feijão), as plantações de uvas se adaptaram muito bem ao clima (principalmente as do
tipo Isabel), gerando os maiores excedentes entre os produtos da região. Em 1883, o
cônsul italiano em Porto Alegre relatou que:
[...] a videira cresce de modo surpreendente. Já no segundo ano dá uva e no
terceiro a colheita é abundante. Segundo afirmações de muitos colonos, foi
precisamente esta riqueza agrícola que reteve os nossos imigrantes. Em
Conde D’Eu produziu-se em 1881 aproximadamente 5.000 hectolitros de
vinho. No presente ano espera-se obter o triplo (COSTA et al., 1999).
Assim, o fato de existirem excedentes de produção logo nos primeiros anos da
instalação das famílias italianas na serra gaúcha deve-se, além das questões
institucionais (associativismo e conhecimento técnico acumulado), ao fato de que,
20
Desde 1824, com a chegada dos primeiros colonos alemães, há produção sistemática de vinho para o consumo
próprio dos imigrantes. O vinho “alemão” produzido no RS era tido como de péssima qualidade, muito por conta da
baixa adaptabilidade das mudas trazidas pelos colonos germânicos ao clima do RS (COSTA, et al., 1999).
70
diferentemente dos colonos germânicos, os italianos deveriam pagar pelas terras
recebidas, bem como pelos equipamentos e maquinários eventualmente concedidos a
eles pelo governo. Podemos dizer que este endividamento inicial estimulou a
necessidade de se destinar parte do produto agrícola para a comercialização nos centros
urbanos existentes à época. Por essa razão, as famílias italianas optaram pela produção
de gêneros agrícolas de rápida produção e que fizesse parte do hábito de consumo dos
imigrantes aqui localizados. Assim, iniciaram a plantação de uvas pela variedade
americana, devido à alta produtividade desta por hectare, em comparação a
produtividade das uvas européias21.
Uma gama de legislações, Provincial e Imperial, regulava a colonização das
terras desocupadas, criando uma administração central em cada colônia. Um corpo
funcional foi designado para a administração dos projetos de colonização e urbanização
das áreas antes devolutas22. A localização desta sede era escolhida em um lugar
conveniente, que posteriormente se transformaria no centro do município. As primeiras
instalações destas sedes (havia uma para cada uma das quatro colônias italianas) foram
a casa da Comissão de Terras e Colonização, o Barracão para receber os imigrantes, um
depósito de materiais e almoxarifado, o cemitério e as residências dos funcionários do
governo. Posteriormente eram construídas uma igreja e uma escola (MACHADO;
HERÉDIA, 2003). Logo estes núcleos foram sendo ampliados com a construção de
mais moradias para os imigrantes que não se adequavam ou não queriam se dedicar às
atividades agrícolas, surgindo assim os primeiros estabelecimentos de serviços, como
oficinas, funilarias, botequins, casas de negócios etc.
21
Obviamente que aqui não se despreza a maior adaptação das uvas americanas às condições climáticas existentes na
serra gaúcha.
22
Este corpo funcional era formado por: um diretor geral, um engenheiro, dois ajudantes, um subdelegado de polícia,
um médico, um farmacêutico e dois fiscais. A legislação previa a constituição de um Conselho Diretor, composto por
colonos mais velhos, que na prática nunca foi adotado (PELLANDA, 1950).
71
Machado e Herédia (2003) apontam que no final do século XIX, toda a região
dava sinais de prosperidade. Muitas pequenas fábricas já tinham sido instaladas. Em
Caxias, havia 65 moinhos, 41 serrarias, 35 alambiques, 27 ferrarias, 17 engenhos de
cana, 9 curtumes, duas funilarias, além de um sem números de outros estabelecimentos.
Como resultados do crescimento econômico que as colônias vinham alcançando, em
1884, foram emancipadas as colônias de Caxias, Dona Isabel e Conde D’Eu, passando à
condição de distritos. Apenas seis anos depois, em 1890, foi criado o município de
Caxias, tendo por sede a Vila de Caxias.
A expansão do comércio possibilitou o crescimento das atividades artesanais e
industriais, que promoveu na região colonial o aparecimento de indústrias de porte
significativo nos setores vinícola, tritícola, madeireira, mecânica, metalúrgica e têxtil
(GIRON, 1994). A diversificação industrial da região colocou a economia regional no
mercado nacional, garantindo a colocação dos seus produtos mesmo nas épocas de forte
depressão econômica. É importante ressaltar que o processo de industrialização da
região (tal qual ocorreu no Brasil) se deu anteriormente ao processo de “substituição de
importações”, servindo inicialmente ao atendimento das demandas dos núcleos
coloniais. Como explica Herrlein Jr. (2000:17):
[...] a existência de dois pólos econômicos subregionais, apoiados numa
estrutura dual de posse da terra, implicou maior distribuição espacial dos
capitais e a divisão de esferas comerciais, mas também uma maior
diversidade social e produtiva e uma capacidade de desdobramento
econômico desconcentrado.
Assim, pode-se dizer que a capacidade industrial instalada foi crescendo
paulatinamente, se antecipando ao fortalecimento da indústria nacional, principalmente
após 1930, com a implementação das políticas de substituição de importações23.
23
Devido ao estrangulamento externo, gerado pela crise internacional decorrente da quebra da Bolsa de Nova York,
houve a necessidade de produzir internamente o que antes era importado, defendendo-se dessa forma o nível de
72
Por volta de 1896, o Governo do Estado buscou dinamizar a iniciativa do colono
italiano no sentido de obter vinho nacional de boa qualidade. O Governo importou
mudas de videiras da Europa, fundou uma Estação Experimental de Agronomia, na qual
se fizeram as primeiras análises dos vinhos produzidos, aconselhando-se a correção do
mosto e outras medidas indispensáveis, sobretudo, à conservação do produto. Cabe
ressaltar que, neste período, o RS vivia um período de ditadura, instituída pela
Constituição Estadual de 1891. No comando do estado estava o Partido Republicano
Riograndense (PRR), de cunho positivista, que promoveu uma verdadeira ruptura
política no RS, deslocando as oligarquias vinculadas à economia pastoril da Campanha
gaúcha, enfraquecendo a forma de dominação tradicional e patrimonialista (TARGA,
2002). Na ideologia do PRR, o estado deveria cumprir um papel auxiliar na vida
econômica, exercendo uma espécie de tutela social, responsabilizando-se sobre as
condições de abastecimento e ocupação da população local. Tais movimentos serviram
para “zelar” por um setor incipiente, baseado na produção familiar de vinhos, além de
servir como forma de legitimação e estabilização do governo 24.
Em 1898, o governo do RS mandou vir do Uruguai 25.000 mudas e as distribuiu
aos colonos de Caxias do Sul, Antônio Prado, São Marcos, Alfredo Chaves, e Bento
Gonçalves, e também para alguns agricultores localizados nas colônias alemãs
(principalmente São Leopoldo). Houve também investimentos do estado em
embalagens e carretos. Neste período, a Estação Experimental de Agronomia estudava a
adaptação de viníferas européias ao nosso clima e solo, além de comparar os produtos
das castas finas e das comuns, realizava enxertos etc. Desse modo, já em 1901 este
Instituto podia distribuir 8.800 bacelos (mudas em forma de galhos) de produção
atividade econômica. Assim, a industrialização brasileira foi projetada para dentro, isto é, visando atender ao mercado
interno, em especial com a produção de bens de consumo.
24
Herrlein Jr (2000) afirma que apesar do PRR representar um poder ditatorial, isso não significava que os governos
não tivessem de prestar contas. Pelo contrário, foi preciso apoiar uma série de ações estatais, num discurso público, a
fim de garantir a estabilidade.
73
própria, o que continuou a fazer até 1910, quando passou a responsabilidade à Escola de
Engenharia. O estado operou através desta Estação Experimental como propulsor da
inovação tecnológica e melhoria dos processos de plantio de uvas e produção de vinhos
e seus derivados.
Outras ações associativas entre o estado e os produtores foram importantes para
a estruturação do setor vitivinícola no final do século XIX e início do século XX. Entre
as iniciativas está a formação do Sindicato Vinícola25, depois transformado em Instituto
Riograndense do Vinho, com o fim de regular a produção e obter a progressiva melhora
da qualidade da produção, através da substituição da uva Isabel por castas de viníferas e
híbridas. Ao lado do organismo oficial de defesa que, então, só congregava as vinícolas
constituídas, organizaram-se, sob a orientação do agrônomo do Ministério da
Agricultura, Dr. Paulo Monteiro de Barros, dezenas de cooperativas de produtores,
acentuando ainda mais a desconcentração desta indústria. Essa dinâmica evolutiva da
região da Serra gaúcha, marcada por períodos de intensas transformações, repercutiu de
forma significativa sobre a organização das empresas na região, bem como sobre o
estabelecimento de padrões de produção, de distribuição e de investimento.
Assim, ao analisar a vitivinicultura da região colonial italiana, na Serra Gaúcha,
ao longo do tempo, se percebe a adoção de certo “padrão” de desenvolvimento: dedicou
sua produção, inicialmente, para o consumo próprio e local; posteriormente, com a
gradual evolução e adaptação da produção, as vendas foram ampliadas para o mercado
estadual e nacional; as melhorias das variedades viníferas, com o aprimoramento
tecnológico dos processos de produção do vinho, fizeram com que a região ficasse
25
Importante ressaltar que o Sindicato Vinícola não representava os interesses dos trabalhadores vinculados ao setor,
mas sim os interesses dos empresários. O principal interesse consistia na manutenção dos investimentos do estado na
geração de melhorias das mudas, bem como nos estudos referentes ao aumento da qualidade do vinho.
Posteriormente, já como Instituto Riograndense do Vinho, adicionou-se o interesse na regulação do mercado
produtor, buscando evitar a superprodução, que efetivamente veio a ocorrer em 1928, colocando em risco a estrutura
frágil do setor no RS à época (MOURE, 1980).
74
reconhecida como líder no mercado nacional e com pequena, mas progressiva
participação no mercado internacional26.
Há um verdadeiro
amálgama de tradições, costumes e instituições,
historicamente forjadas, que explica a constituição do arranjo produtivo da
vitivinicultura da Serra gaúcha, responsável pela produção de cerca de 90% de toda a
produção de vinhos no Brasil (IBRAVIN, 2008). Para compreender melhor a dimensão
deste arranjo, faz-se necessário a caracterização, primeiramente, da atividade produtiva,
expressa na próxima seção, a partir da organização e estrutura da produção vitícola e
vinícola da região, bem como da presença de uma estrutura de apoio, composta por
empresas fornecedoras de máquinas, equipamentos e insumos enológicos.
3.2. Caracterização produtiva do APL da Vitivinicultura da Serra Gaúcha
Nesta seção, se entende por caracterização produtiva do APL da vitivinicultura
da Serra Gaúcha a demonstração da organização das diversas empresas participantes da
cadeia produtiva da uva e do vinho, presentes na região, em especial os produtores
vitícolas, as empresas vinícolas e os fornecedores de máquinas, equipamentos e insumos
enológicos.
3.2.1 Produção vitícola no RS
A viticultura da Serra gaúcha envolve cerca de 13.000 propriedades rurais, sendo
responsáveis por 90% da produção de uvas do Rio Grande do Sul (IBRAVIN, 2008).
26
Nos próximos capítulos ficará evidente que a adoção destas variedades viníferas somente se dará de forma efetiva
em meados dos anos 70. O uso extensivo de uvas americanas, produtoras de vinhos comuns, é facilmente explicado
pela alta produtividade por hectare, em relação às viníferas. Enquanto a safra de uvas americanas atinge facilmente as
25 toneladas por hectare, nas uvas viníferas a safra média é de 9 toneladas por hectare (GIOVANINI et al., 2009).
75
Na sua quase totalidade (89%), a produção é de uvas americanas (vides labursca e vides
bourquina), além das híbridas. As cultivares vitis viniferas destinadas à elaboração de
vinhos de mesa finos e espumantes, representam 15% da produção. Assim, em termos
de estrutura produtiva, caracterizar da produção vitícola da Serra gaúcha corresponde,
por seu grau de concentração, falar da produção de uvas do RS27.
Desde 1995, o Rio Grande do Sul vem realizando o Cadastro Vitícola, sendo
hoje o único estado do país que o executa com periodicidade. Trata-se de um
instrumento que dá suporte à Fiscalização, à pesquisa vitivinícola e, em especial, ao
desenvolvimento do setor. Em sua última edição, lançada em dezembro de 2008, são
apresentadas informações sobre os vinhedos do Rio Grande do Sul, referentes aos anos
de 2005, 2006 e 2007.
Em 2007, a área vitícola do estado foi de 38.500 ha. Comparativamente a 1995
(primeiro ano de levantamento de dados vitícolas no RS), houve incremento de 58,33%
na área total de vinhedos do estado, o que representa um crescimento anual médio de
4%. Para as cultivares Vitis viniferas, usadas para elaboração de vinhos de mesa finos e
espumantes o incremento foi de 63% (CADASTRO VITÍCOLA DO RS, 2008).
Os municípios de maior área cultivada com videiras são aqueles que constituem
o APL vitivinícola da Serra gaúcha28, composto por nove municípios contíguos da
Serra, quais sejam: Bento Gonçalves, Flores da Cunha, Farroupilha, Caxias do Sul,
Garibaldi, Monte Belo do Sul, Nova Pádua, São Marcos e Antonio Prado (Tabela 1).
27
É importante mencionar que a produção de uvas e vinhos em outras regiões do RS, tais como a campanha e a
fronteira oeste, já é uma realidade e dados do Cadastro Vitícola do RS demonstram que são justamente estas as
regiões que apresentam maior crescimento proporcional, em termos de produção.
28
Como já foi mencionado, a região da serra gaúcha não é a exclusiva produtora de uvas do RS, apesar de responder
por 90% dessa produção. Cabe destacar o ingresso de novos municípios produtores de uvas nos últimos anos, como
Candiota a partir de 2005, Encruzilhada do Sul (2002), Bom Jesus (2001), Cristal do Sul (2005), Monte Negro
(2002), Rosário do Sul (2007).
76
Desses, os que possuem maior área plantada com uvas são Bento Gonçalves (5.900 ha),
Flores da Cunha (4.700 ha) e Caxias do Sul (3.700 ha).
Estes nove municípios participam da produção vitivinícola da Serra gaúcha,
respondendo juntos por 26.700 ha de área plantada com uvas, representando 69% da
área total cultivada no RS. Também, nesta região, encontram-se os municípios com
maior valor de produção (valores em Reais pela venda da lavoura) e rendimento médio
(quantidade colhida por hectare), que expressam os ganhos de produtividade presentes
na região.
Tabela 1 – Lavoura permanente de uva no APL da Serra Gaucha (2008)
Bento
Gonçalves
Flores
da
Cunha
94.000
Farroupilha
Caxias
do Sul
123.900
65.898
66.600
Produção
(ton)
69.023
49.632
40.057
41.683
Valor
Produção
(mil R$)
5.900
4.700
3.661
3.700
Área
plantada
(ha)
5.900
4.700
3.661
3.700
Área
colhida (ha)
21.000
20.000
18.000
18.000
Rendimento
Médio
(Kg/ha)
Fonte: IBGE. Produção Agrícola Municipal
www.ibge.gov.br/cidadesat em janeiro de 2010).
Garibaldi
Nova
Pádua
São
Marcos
Antonio
Prado
50.400
Monte
Belo
do Sul
42.700
30.294
19.992
24.040
26.722
24.669
15.342
10.027
12.595
2.800
2.440
1.377
943
1.202
2.800
2.440
1.377
943
1.202
18.000
17.500
22.000
21.200
20.000
2008.
RJ:
IBGE,
2009.
(acesso
por
Segundo dados da União Brasileira de Vitivinicultura (UVIBRA) estão
estimados para este período (2009-2010) a colheita de 600 mil toneladas de uva, uma
safra 12 % superior à colheita do período anterior (2008-2009), que registrou um total
de 534 mil toneladas.
77
Tabela 2 – Principais cultivares de uvas comuns no RS / superfície vitícola (2007)
Cultivar
Área (ha) Destinação
Isabel
10.690
Vinho comum, suco e consumo in natura
Bordô
6.726
Vinho comum e suco
Niágara Branca
2.289
Vinho comum
Concord
2.477
Suco de uva
Niágara Rosada
1.952
Vinho comum
Fonte: CADASTRO VITÍCOLA DO RS, 2008
Em termos de tipos de cultivares plantadas no RS, em especial na Serra gaúcha,
podemos ressaltar a presença significativa de uvas comuns e híbridas, entre aquelas que
ocupam maior superfície vitícola no RS. A tradicional uva Isabel ocupa mais de um
quarto da superfície vitícola do Estado (CADASTRO VITÍCOLA DO RS, 2008). Essa
cultivar tem triplo propósito: elaboração de suco, vinho de mesa e consumo in natura. A
segunda cultivar de maior área em 2007 é a Bordô, com 6.726 ha, embora de triplo
propósito, sua importância está voltada para a produção de suco e vinho de mesa. Na
seqüência, na terceira posição, a Niágara Branca, utilizada para consumo in natura e
elaboração de vinho de mesa, ocupa 2.389 ha. A variedade Concord é especialmente
usada para elaboração de suco de uvas, ocupando a 4ª posição com 2.477 ha. Por fim, a
Niágara rosada possui 1.952 ha, aparecendo na 5ª posição.
Ao analisar a Tabela 3, pode-se perceber a extensão de terras utilizadas com a
plantação de uvas Vitis viniferas – empregadas na elaboração de vinhos de mesa finos –
que mais se destacou, em 2007.
Tabela 3 - Principais cultivares de uvas viníferas no RS / superfície vitícola (2007)
Cultivar
Área (ha)
Destinação
Cabernet Sauvignon
1.868
Merlot
1.089
Moscato Branco
777
Chardonnay
642
Tannat
421
Fonte: CADASTRO VITÍCOLA DO RS, 2008
Vinhos finos
Vinhos finos
Vinhos finos
Vinhos finos
Vinhos finos
78
É interessante observar que, das 112 cultivares do grupo Vitis viniferas,
registradas de 1995 a 2007 no Cadastro Vitícola, 14 cultivares foram eliminadas, não
apresentando área em 2007. No mesmo período, 26 cultivares apresentaram área
inferior a um hectare e 26 cultivares possuíam área entre um e dez hectares. Tal situação
pode ser um indicativo de inadequação dessas cultivares às condições climáticas ou a
busca de uma diferenciação dos produtos elaborados.
Outro ponto a considerar e que merece uma análise com maior profundidade, é a
redução da área de uvas Vitis viniferas brancas, considerando a tendência de mercado e
vocação da Serra Gaúcha na produção de espumantes de alta qualidade. Houve um
grande incremento na área das uvas tintas em detrimento das brancas, essas mais aptas
para elaboração de espumantes. As cultivares Vitis viniferas tiveram aumento
importante na área, passando de 4.606 ha em 1995 para 7.536 ha em 2007. No entanto,
as cultivares brancas e rosadas tiveram sua área reduzida, passando de 3.062 ha em
1995, para 2.774 ha em 2007 (CADASTRO VITÍCOLA DO RS, 2008). Essa dinâmica
espacial da produção de uvas se expressa também nas quantidades produzidas, como se
percebe no Gráfico 1.
Gráfico 1 – Quantidade de uvas processadas no RS (milhões Kg) – 2001 a 2009.
Fonte: CADASTRO VITÍCOLA DO RS, 2008
79
Percebe-se que os anos de melhor safra beneficiam tanto as uvas comuns como
as variedades viníferas. Dessa forma, a safra é o principal elemento determinante da
qualidade e da quantidade de produtos elaborados, sejam esses vinhos comuns ou finos.
Considerando os excedentes de vinhos de mesa tintos e o aumento da demanda
por espumantes, percebe-se uma tendência de aumento no cultivo de uvas Vitis viniferas
brancas para elaboração de espumantes, que além de agradarem ao paladar dos
brasileiros, são apreciados por especialistas da vitivinicultura mundial.
Nesse sentido, há uma pressão por parte das vinícolas, que compram a produção
de uvas do RS em sua quase totalidade, para que os produtores invistam cada vez mais
na expansão da produção de uvas viníferas, com o intuito de ampliar ainda mais a
elaboração de vinhos finos e espumantes. No entanto, o que se percebe é uma carência
de estímulos reais à maior qualificação da produção vitícola, através da ampliação das
áreas plantadas com vitis viniferas. Para exemplificar essa situação de baixo estímulo,
segundo informações do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Caxias do Sul, os custos
de produção de uvas comuns, do tipo Isabel e Niágara, são de cerca de R$ 0,55 por
quilo, enquanto que o preço mínimo fixado pela Companhia Nacional de Abastecimento
(CONAB) é de R$ 0,46, e se mantém neste patamar desde 2007. Para uvas varietais, os
custos de produção não são homogêneos, pois dependem de uma série de fatores
(declividade do solo, tecnologia empregada, tipo varietal, etc.). Em média, segundo
informações do mesmo Sindicato, os custos de produção deste tipo de uvas gravitam
entre R$ 0,89 e R$ 1,56 por quilo. Os valores pagos este ano (2010) para chardonnay,
por exemplo, é em média de R$ 1,00 o quilo.
Dado que os custos de transformação de parreirais tradicionais em parreiras
produtores de uvas viníferas são bastante elevados, e considerando a quebra de
80
produtividade inerente à produção de uvas de castas especiais29, somado a maior
sensibilidade destas uvas aos fenômenos climáticos, é lento o processo de reconversão
das videiras no RS.
Além deste problema de fixação e reajuste dos preços mínimos das uvas, que
anualmente tenciona as relações entre produtores de uva e vinícolas, há também a
influência das questões climáticas sobre a produção de uvas. Ocorre que o excesso de
chuvas (principal problema para os produtores da Serra gaúcha) prejudica a produção de
uvas em quantidades razoáveis, além de afetar diretamente na qualidade da mesma, que
por conseqüência afeta a qualidade do vinho após o processo de vinificação. Em
entrevista realizada com o chefe de pesquisas da Embrapa Uva e Vinho, este estimou
que as fortes chuvas que vêem ocorrendo na serra gaúcha deste agosto de 2009
ocasionaram uma quebra na produção de uvas comuns e viníferas na casa dos 20% e
30%, respectivamente.
As propriedades envolvidas no cultivo de uvas são, em média, de 15 hectares,
dos quais cerca de 6 a 8 hectares destinam-se aos vinhedos. Há pouca mecanização
utilizada tanto no cultivo quanto na colheita das uvas, em virtude da topografia
acidentada da região. Nas propriedades, há o predomínio da mão-de-obra familiar, que
tem se constituído em um grande problema para muitos produtores, uma vez que as
novas gerações têm buscado outras formas de ocupação, mais próximo das regiões
metropolitanas (Bento Gonçalves e Caxias do Sul) e menos das regiões rurais
periféricas (IBRAVIN, 2008).
Na região da Serra gaúcha, predomina o sistema de condução de videiras por
latada. O sistema de condução latada é também chamado de pérgola. É o sistema mais
29
Enquanto que em um hectare de uvas comuns se consegue em média colher 20.000 quilos, em um hectare de
videiras viníferas colhe-se, em média, 8.000 quilos (EMBRAPA, 2008).
81
utilizado na Serra Gaúcha e no Vale do Rio do Peixe (SC). Na América do Sul tem
alguma expressão na Argentina, Chile e Uruguai. Na Europa, aparece em determinadas
regiões vitícolas, especialmente na Itália, com denominações e formas diferenciadas.
Para Giovaninni et al. (2009), as principais vantagens que se pode enumerar para
utilização deste sistema são:

Proporciona o desenvolvimento de videiras mais vigorosas;

Proporciona elevado número de cachos e alta produtividade;

Em função de sua produtividade, possui uma boa rentabilidade econômica
especialmente em pequenas propriedades;

É de fácil adaptação à topografia de regiões montanhosas, como a Serra gaúcha.
As desvantagens deste sistema recaem justamente sobre os elevados custos de
implantação e manutenção, que somados à impossibilidade de se realizar uma colheita
mecanizada, bem como os elevados custos com fungicidas aplicados ao longo do ano
(devido à baixa insolação dos cachos e à conseqüente elevação da umidade). Somado a
isso, encontra-se a recomendação dos técnicos de que a utilização deste sistema não
deve ultrapassar quatro hectares por propriedade (GIOVANINNI et. al., 2009).
Nos últimos anos, tem se intensificado a produção de Vitis viniferas, o que tem
ocasionado uma gradativa substituição deste sistema por outro conhecido por
espaldeira.
As principais vantagens na utilização deste sistema são (GIOVANINNI et al.,
2009):

Adapta-se bem ao hábito vegetativo da maior parte das viníferas;

Maior facilidade nas operações mecanizadas, como remoção de folhas,
pulverizações dos cachos e desponta;
82

Apresenta boa aeração;

Pode ser ampliado paulatinamente, pois a estrutura de cada fileira é
independente;
Os elevados custos de implantação do sistema espaldeira, bem como de
aquisição de mudas estrangeiras, têm fomentado a cooperação entre muitos produtores
de uva e vinícolas, principalmente as de maior capacidade de produção. Sem dúvida que
na cadeia produtiva vitivinícola do RS o elo mais frágil ainda é o produtor vitícola, que
muitas vezes não encontra apoio institucional suficiente que respalde as suas
reivindicações.
Em termos de apoio tecnológico, muitos produtores recorrem ao “amparo”
fornecido pelos vendedores de produtos químicos, que muitas vezes, no afã de ampliar
as vendas de defensivos agrícolas, recomendam a aplicação de quantidades superiores
destes produtos. Para a Embrapa Uva e Vinho, tal prática tem colocado em risco não
apenas a qualidade dos produtos produzidos, mas também a saúde dos produtores. No
entanto, não se pode negar que são essas empresas que têm atuado de forma mais
intensiva como extensionistas rurais, transmitindo conhecimentos e técnicas de
produção a muitos pequenos produtores de uva da Serra gaúcha.
Essa “fragilidade institucional” que se encontra entre os produtores de uva não
se observa entre as vinícolas, que historicamente vêem se organizando no sentido de
ampliar a produção e a comercialização de vinhos no país. A organização das vinícolas
é caracterizada na próxima seção deste capítulo.
83
3.2.2 Produção Vinícola no RS
A indústria brasileira de vinhos é concentrada, tanto em termos da quantidade e
localização das principais empresas produtoras, quanto em relação ao consumo. Cerca
de 90% da produção nacional de vinhos está concentrada no Rio Grande do Sul,
notadamente na Serra Gaúcha. O consumo também é concentrado. O consumo anual per
capita varia muito entre regiões: 1,80 litros no Brasil, 5,77 litros no Rio Grande do Sul e
27 litros na Serra Gaúcha (WRIGHT et al., 1992)30.
Dada essa concentração da produção de uvas e vinhos no RS, selecionou-se os
nove municípios com maior participação na produção vitivinícola na Serra gaúcha,
região de maior produção no estado, a fim de representar o APL Vitivinícola. Tais
municípios formam uma região geográfica contígua e sua importância em termos de
produção para o APL está resumidamente expressa na Tabela 4.
Tabela 4 – Municípios com maior produção de uvas industrializadas (milhões de
Kg) – Safra 2005 a 2009
Município
2005
%
2006
%
Bento
94,28
18,6% 81,28
19,2%
Gonçalves
Flores da
76,61
15,1% 67,38
15,9%
Cunha
Farroupilha 49,83
9,8% 40,73
9,6%
Caxias
48,53
9,6% 38,68
9,1%
do Sul
Garibaldi
36,91
7,3% 30,09
7,1%
Monte
35,61
7,0% 29,65
7,0%
Belo do Sul
Nova Pádua 22,29
4,4% 20,32
4,8%
São Marcos 13,82
2,7% 14,77
3,5%
Antônio
15,38
3,0% 14,42
3,4%
Prado
Outros
113,78 22,4% 86,33
20,4%
Total Safra 507,05 100% 423,64 100%
Fonte: CADASTRO VITÍCOLA DO RS, 2008
30
2007
110,47
%
19,4%
2008
117,96
%
18,6%
2009
113,19
%
21,2%
81,92
14,4%
99,32
15,7%
72,18
13,5%
64,30
54,73
11,3%
9,6%
62,38
57,34
9,8%
9,0%
57,00
42,63
10,7%
8,0%
39,00
40,69
6,8%
7,1%
46,16
43,27
7,3%
6,8%
39,43
40,40
7,4%
7,6%
25,77
16,36
18,93
4,5%
2,9%
3,3%
30,21
19,74
22,96
4,8%
3,1%
3,6%
24,41
12,84
17,58
4,6%
2,4%
3,3%
118,37
570,54
20,7%
100%
134,70
634,04
21,2%
100%
114,46
534,12
21,4%
100%
Existe um grande hiato de informações, principalmente pelas organizações representativas, acerca do consumo per
capita de vinhos no país. Percebe-se que este consumo médio tem se ampliado nos últimos anos, mas dados oficiais
mais recentes inexistem, razão pela qual ainda se utilizam os dados apontados na pesquisa de Wright et al. (1992).
84
O setor industrial vinícola do RS é formado por 738 empresas (CADASTRO
VITÍCOLA DO RS, 2008). Destas, 88% estão localizadas nos nove municípios acima
mencionados, havendo cerca de 60 empresas localizadas em outras regiões do estado.
Nos últimos anos, o número de estabelecimentos vinícolas no RS tem se ampliado,
como se pode observar através do Gráfico 2, crescendo de 2001 a 2009 cerca de 60% o
número de empresas registradas no IBRAVIN.
Tal crescimento se explica não somente pela ampliação da comercialização de
vinhos e sucos de uva, como também por uma ampliação do chamado “negócio do
vinho”. Inúmeras empresas (vitícolas e vinícolas) vêem investindo, nos últimos anos, no
incremento de seus negócios originais, indo para além da produção de uvas e vinhos,
agregando valor às suas marcas através de uma série de produtos e serviços acessórios,
todos ligados ao vinho, tais como restaurantes, pousadas, hotéis, cosméticos etc.
Gráfico 2 – Evolução do número de empresas vinícolas no RS – 2001 a 2009.
Fonte: CADASTRO VITÍCOLA DO RS, 2008. Os dados de 2009 foram repassados pelo IBRAVIN em
entrevista.
85
O mercado de vinhos compreende basicamente os vinhos de consumo corrente
ou vinhos comuns, produzidos a partir de uvas de variedades americanas e híbridas, e
vinhos finos, que são elaborados a partir de uvas de castas nobres, da espécie Vitis
Vinífera. Nos últimos quinze anos, tem ocorrido um intenso movimento de valorização
da produção, através de investimentos em uvas varietais. No entanto, a produção de
vinhos comuns ainda é a tônica do setor, respondendo por 60% da produção total de
vinhos e derivados em 2009, como se pode perceber na Tabela 5, adiante.
Para Vargas (2002), o arranjo produtivo da vitivinicultura da Serra gaúcha se
caracteriza pelo predomínio (ou foco) nos mercados locais e nacionais, a despeito do
substancial esforço de um grupo expressivo de empresas em assumirem a
internacionalização como uma de suas metas principais. No entanto, tais estratégias de
internacionalização têm como finalidade, entre outras medidas, a ampliação do
reconhecimento do mercado interno. A busca pela valorização das marcas no mercado
nacional passa também pela participação em feiras e premiações internacionais, cujo
objetivo principal é a agregação de valor aos produtos via distinção das marcas
(FARIAS; CAMPREGHER, 2008).
86
Tabela 5 – Produção de vinhos e derivados no RS (1994 a 2009)
ANO
MILHÕES DE LITROS
Vinhos
Vinhos de
Outros derivados
TOTAL
Finos
Mesa
da uva e do vinho
1994
58,73
202,07
29,40
290,20
1995
47,13
213,36
37,96
298,45
1996
45,33
152,92
21,94
220,19
1997
46,99
182,82
37,96
267,77
1998
33,90
150,81
28,60
213,31
1999
45,83
226,52
38,95
311,31
2000
56,21
273,03
43,68
372,92
2001
34,16
228,93
33,49
96,58
2002
31,66
259,65
48,74
340,04
2003
29,88
203,90
36,60
270,38
2004
42,96
313,70
51,87
408,53
2005
45,45
226,08
53,50
325,04
2006
32,12
185,08
59,13
276,33
2007
43,18
275,25
70,89
389,32
2008
47,33
287,44
93,19
427,97
2009
39,90
205,42
96,50
341,82
Fonte: CADASTRO VITÍCOLA DO RS, 2008. Os dados de 2009
foram fornecidos pelo IBRAVIN em entrevista realizada pelo autor.
Vargas (2002) categoriza as empresas presentes no APL vitivinícola da Serra
gaúcha em três segmentos distintos, a saber:
i)
Empresas com capacidade de produção acima de seis milhões de
litros/ano, que atuam principalmente na produção de vinhos finos e
espumantes (o que não impede a produção de outros produtos ou subprodutos por parte dessas empresas). Encontram-se nesse segmento tanto
grandes empresas de capital nacional, quanto divisões de grupos
estrangeiros com filiais na região. Representam menos de 2% do
universo de empresas do setor, mas são responsáveis por mais de um
terço do total de vinhos do arranjo.
87
ii)
Pequenas vinícolas e cooperativas que produzem menos de três milhões
de litros/ano, porém são responsáveis por mais de 50% da produção de
vinhos do arranjo. Grande parte dessas empresas se dedica a produção de
vinhos comuns, e apenas nos últimos anos têm iniciado a produção
(ainda pequena) de vinhos finos.
iii)
Pequenas cantinas familiares, que têm se especializado na produção de
vinhos finos, que têm conquistado parcelas significativas de nichos do
mercado nacional, anteriormente atendidas pelas empresas do primeiro
segmento (nacionais ou estrangeiras).
O que se percebe, em especial nas pequenas cantinas e naquelas de produção
estritamente familiar, é que o número de funcionários (formais e informais) variará
conforme o produto principal da empresa. Se a firma foca sua produção na elaboração
de vinhos comuns e sub-produtos do vinho, a quantidade de mão-de-obra empregada é
menor do que naquelas firmas que concentram sua produção nos vinhos finos e
espumantes. Isso porque o processo de vinificação de produtos finos é mais extensa do
que o processo de vinhos comuns, uma vez que esse, em geral, é vendido a granel,
reduzindo boa parte do processo. O processo de produção de vinhos finos pode ser
verificada, em sua extensão, na figura 1. Por diversas razões, um número cada vez
maior de vinícolas tem orientado sua produção para a elaboração de vinhos finos e
espumantes.
88
Figura 1 – Processo de produção de vinhos finos.
Fonte: elaborado a partir de Bellé (2003).
89
Este movimento de orientação das empresas, em maior ou menor escala, em
ofertar em seus portfólios de produtos, vinhos finos, exige das empresas esforços
adicionais. A produção de vinhos finos, como já foi mencionado, demanda um elevado
nível de capacitação e investimento por parte das vinícolas, que se reflete não apenas no
nível tecnológico de máquinas e equipamentos utilizados na produção, mas sobretudo
em um estoque de conhecimentos técnicos e de melhores práticas enológicas
(VARGAS, 2002).
A fim de avaliar a intensidade desse movimento rumo à produção de vinhos
finos, torna-se importante analisar o destino das uvas processadas no RS nos últimos
anos. A Tabela 6 demonstra a evolução da utilização de uvas para a vinificação de
vinhos comuns, finos, sucos de uva e outros produtos derivados (coolers, xaropes,
sangrias etc.). A primeira grande constatação é a substantiva quantidade de uvas comuns
que são utilizadas na fabricação de sucos de uva, um crescimento de 61% de 2004 a
2009. Isso explica, em parte, a queda na utilização de uvas comuns para a produção de
vinhos comuns, que no mesmo período teve uma redução de uso de 45%.
Analisando a destinação das uvas viníferas processadas, percebe-se que estas são
quase todas para a produção de vinhos finos, com uma mínima utilização em sucos e
uma pequena, mas crescente, utilização em outros produtos, aqui, em especial, destacase a utilização de viníferas na elaboração de espumantes, produto que juntamente com o
suco de uva apresenta maiores taxas de crescimento de vendas do setor.
90
Tabela 6 – Destino da uva processada no RS (2004 a 2009)
Destino
2004 2005 2006
2007
2008
2009
Comuns p/sucos
19,1%
24,4%
28,5%
22,4%
23,5%
31,2%
Viníferas p/sucos
0,0%
0,5%
1,1%
0,8%
1,1%
2,9%
Comuns p/vinhos
75,1%
67,3%
63,6%
68,2%
64,6%
54,9%
Viníferas p/vinhos
96,2%
96,3%
89,4%
92,7%
90,9%
90,6%
Comuns p/outros produtos
5,8%
8,3%
7,9%
9,5%
11,9%
13,9%
Viníferas p/outros produtos
3,8%
3,2%
9,5%
6,5%
8,0%
6,5%
Total de Comuns
100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Total de Viníferas
100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Fonte: CADASTRO VITÍCOLA DO RS, 2008
O setor vitivinícola, especialmente as empresas focadas na produção de vinhos
finos, tem sofrido com a pressão dos produtos importados no mercado brasileiro. Em
2009, segundo dados da SECEX, foram importados 59,12 milhões de litros de vinhos
finos, o que representa um aumento de importações de vinhos de 2002 a 2009 na ordem
de 122%. A mesma comparação realizada em termos de valores em dólares demonstra
que, de 2002 a 2009, ocorreu um incremento de 227% no valor das importações de
vinhos finos.
Os principais rivais da vitivinicultura nacional em termos de importação são dois
vizinhos do Mercosul: Argentina e Chile (Tabela 7). De 2002 a 2009, a Argentina
incrementou suas exportações para o Brasil de vinhos finos na ordem de 281% (em
termos de volume), exportando para o Brasil, em 2009, 14,8 milhões de litros de vinhos;
o Chile, no mesmo período, incrementou suas exportações para o Brasil em 263% (em
volume), exportando para o Brasil, em 2009, 22,5 milhões de litros.
A análise da balança comercial do setor de vinhos nacional apresenta
peculiaridades. Ao se analisar a situação da comercialização interna de vinhos finos,
percebe-se que 75% desse mercado é dominado por produtos importados, cabendo aos
produtores nacionais a fatia pouco significativa da quarta parte deste. Esse tem sido um
dos temas mais discutidos na agenda setorial de vinhos nacionais. Esse desequilíbrio é
91
fruto de problemas de negociação interna ao Mercosul. Medidas têm sido exigidas pela
Câmara Setorial da Vitivinicultura, ligada ao Ministério de Desenvolvimento, Indústria
e Comércio (MDIC). Entre as medidas, está a revisão dos acordos firmados com o Chile
através do Mercosul, que prevê a redução progressiva das tarifas de importação de
vinhos finos chilenos. Em 2005, a tarifação de entrada de vinhos com rótulos chilenos
era de 27%. Hoje, por conta dos acordos bilaterais do Mercosul, esta tarifação é de
4,59%, chegando a zero em meados de 2011. Por conta disso, a vendas de vinhos com
rótulos chilenos no Brasil, por exemplo, em 2009, representou 56% da produção total de
vinhos finos elaborados por todas as vinícolas nacionais (UVIBRA, 2009).
Tabela 7 – Procedência das importações de vinhos do Brasil (mil litros)
2002 2003 2004 2005
2006
2007
2008
2009
Argentina
Itália
Chile
Portugal
Franca
Espanha
África do Sul
Uruguai
Estados Unidos
Alemanha
Outros
3.884
7.363
6.206
3.061
3.024
602
32
1.249
141
767
225
5.864
6.446
7.972
3.361
2.923
575
163
1.098
175
576
173
11.211
7.224
11.160
4.181
2.839
814
304
661
79
443
233
11.981
7.103
11.685
5.193
2.603
722
408
513
56
255
402
13.653
9.394
15.224
5.971
3.658
1.222
359
726
63
315
333
16.177
10.415
18.895
6.846
3.817
1.116
386
2.395
83
236
492
15.448
10.792
18.747
6.276
3.458
1.258
325
922
78
296
340
14.797
9.081
22.516
5.916
3.503
1.508
503
751
92
57
398
Total Global
26.554
29.329
39.157
40.938
50.948
60.875
57.944
59.126
Fonte: MDIC/SECEX, 2009
O inverso do comportamento dos vinhos finos nacionais com relação aos
estrangeiros ocorre com os espumantes produzidos na Serra gaúcha. Em 2009, 78% dos
espumantes vendidos no mercado interno são de produtos nacionais, contra 22% de
espumantes estrangeiros (principalmente franceses e argentinos). A produção de
espumantes de qualidade diferenciada tem sido uma estratégia das empresas vinícolas
para ganhar espaço na preferência dos consumidores nacionais.
92
Ao longo de todo o século XX, um conjunto de viticultores e vinícolas em
alguns municípios da Serra Gaúcha foi se notabilizando na especialização produtiva de
espumantes. Segundo Tonietto (2007), isto se deu com técnicas de produção de uvas e
de elaboração enológica que exigiram o desenvolvimento de um “saber-fazer” local
para explorar o potencial de uvas cultivadas nesta região específica. Específica porque
têm um clima vitícola que, seguidamente questionado quanto à sua aptidão, tem se
mostrado um fator-chave da adaptação e da qualidade obtida nas uvas utilizadas para a
elaboração do vinho-base que se destina à segunda fermentação do espumante fino.
Desta combinação, "clima + solo + variedades + saber-fazer local", é que nasce a
original qualidade do espumante da Serra Gaúcha que tem, ao longo do tempo, ganhado
crescente reputação no mercado nacional e reconhecimento de especialistas
internacionais. Um exemplo disso tem sido o desempenho das exportações do
espumante nacional tipo moscatel, que de 2004 a 2009 obteve uma variação positiva de
vendas de 211% (UVIBRA, 2009). Ocorre que a participação dos espumantes em
relação às vendas totais, seja para o mercado interno, seja para o externo, não
ultrapassam os 5%, segundo informações do IBRAVIN em entrevista. Tanto a UVIRA
quanto o IBRAVIN apontam que a venda de espumantes por empresas nacionais tem
seguido a estratégia de abertura de novos mercados, mas a intenção real é incrementar,
ao longo do tempo, a comercialização de vinhos finos, cuja participação no mercado
nacional ainda é pequena.
A participação dos produtos estrangeiros no mercado nacional de vinhos, fruto
de acordos comerciais e de variações da taxa de câmbio, aliado aos excedentes
crescentes de vinhos e dos problemas climáticos que têm afetado a produção de uvas em
quantidade e qualidade significativas, têm colocado o setor de vinhos finos brasileiros
em condições desfavoráveis. Em que pese este cenário, o setor está investindo no
93
aumento da qualidade dos vinhos e na promoção de indicações geográficas buscando a
valorização do produto pelos valores territoriais e culturais. Tais esforços têm recebido
o apoio institucional de diversas organizações vinculadas à uva e ao vinho, tendo por
objetivo principal o aumento da competitividade das empresas do setor.
Na comercialização de vinhos comuns e finos no mercado interno, prevalecem
as transações das cooperativas e vinícolas com as redes atacadistas ou varejistas. São, de
forma geral, produtos homogêneos e com baixa especificidade, onde os riscos
associados à execução de contratos são baixos e a freqüência de transação é alta,
havendo poucos incentivos para a integração vertical para frente dos estabelecimentos
vinícolas, tampouco para trás pelos distribuidores (CHADDAD, 1996). No caso
específico dos vinhos comuns, os canais de distribuição mais comuns são atacadistas e
redes de supermercados populares. Estas constatações denotam uma estratégia
competitiva baseada em preços baixos, voltada ao consumidor de baixo poder
aquisitivo.
As vinícolas produtoras de vinhos finos competem no mercado através da
diferenciação por marca e qualidade, comunicadas ao consumidor principalmente
através da indicação da variedade no rótulo do produto. Algumas empresas têm adotado
estratégias de investir no embelezamento e/ou na maior praticidade das embalagens,
como garrafas em formas e cores diversificadas, semelhantes a alguns vinhos famosos,
especialmente os europeus. Os canais de distribuição mais utilizados são as grandes
redes de supermercados e os chamados “pontos-de-dose”, tais como restaurantes, bares
e hotéis. Todo o esforço de marketing das empresas está voltado para o consumidor de
renda média e/ou alta.
94
3.2.3 Fornecedores de Máquinas, Equipamentos e Insumos enológicos
A idéia desta seção é caracterizar, ainda que de maneira não exaustiva, a
presença de empresas fornecedoras de bens e serviços acessórios à indústria vitivinícola.
A presença destas empresas ou de seus representantes junto às empresas produtoras de
uva e vinho justifica ainda mais atribuir-se a compreensão da região como um arranjo
produtivo local.
Ao se analisar, inicialmente, o Quadro 2, verifica-se a presença de uma gama
significativa de empresas fornecedoras de bens e serviços específicos ao setor
vitivinícola. Ocorre também a presença expressiva de empresas estrangeiras, seja pela
instalação no APL de fábricas, seja pela manutenção de escritórios de representação e
comercialização. Os segmentos que apresentam maior número de empresas estrangeiras
na região são os de rolhas e equipamentos.
Quadro 2 – Principais Fornecedores de Máquinas, Equipamentos e Insumos
Enológicos às empresas do APL da Vitivinicultura da Serra gaúcha
Fornecedores
Número de
Origem
Presença no APL
Empresas
Rolhas
04 empresas
Garrafas
01 empresa
Produtos Enológicos
05 empresas
Rótulos
04 empresas
Embalagens
05 empresas
Equipamentos
07 empresas
Cápsulas
01 empresa
03 portuguesas
brasileira
Francesa
e
01
01 italiana, 01 argentina e
03 brasileiras
03 brasileiras e 01
canadense
01 americana e 04
brasileiras
03 americanas e 04
brasileiras
Brasileira
Todas presentes
Não
04 presentes, 01 não
03 presentes, 01 não
03 presentes e 02 não
03 presentes e 04 não
sim
Acessórios e Barricas
05 empresas
05 brasileiras
04 presentes e 01 não
Fonte: Elaborado pelo autor, com base nas informações fornecidas pela Associação Brasileira de
Enologia (ABE), em janeiro de 2010.
95
Outro segmento que apresenta uma expressiva participação de empresas
estrangeiras é o de insumos enológicos. Este segmento se caracteriza tanto no
fornecimento de produtos químicos para o tratamento das videiras, como também
insumos biológicos utilizados no processo de vinificação. As empresas nacionais
presentes no APL são na verdade importadoras de produtos químicos e biológicos,
atuando mais como representantes do que como produtores (apesar de uma das maiores
empresas nacionais do segmento anuncia que possui um laboratório de biotecnologia
nos moldes das grandes multinacionais do setor).
Percebe-se um considerável poder de influência dos segmentos fornecedores de
insumos enológicos sobre os produtores de uva, bem com sobre as vinícolas. Como já
mencionado, muitas destas empresas fazem o papel de extensionistas rurais, não apenas
comercializando produtos químicos, mas repassando conhecimentos e técnicas de
manejo com as parreiras. O ônus desta relação, que se estabelece em meio à ausência de
organizações que supram essas necessidades, é justamente o fato de muitos produtores
adquirirem muitos destes produtos químicos como sendo a panacéia de todos os seus
problemas. Essa atitude de “apoio” por parte dos revendedores é fortemente reconhecida
pelos produtores rurais e pelas vinícolas.
Essa relação não se caracteriza como puramente de mercado, havendo uma
significativa assimetria de poder, favorecendo os vendedores de insumos. Em grande
parte, isso se explica pelo fato da cadeia vitivinícola da Serra gaúcha enfrentar
problemas de escala, principalmente em comparação a outras cadeias de bebidas (por
exemplo, cervejas e refrigerantes).
96
Outra peculiaridade é a existência de um monopólio na comercialização de
garrafas, ofertadas por apenas uma empresa, de origem francesa, com uma planta
instalada no município de Campo Bom, cerca de 100 km de Bento Gonçalves, principal
cidade do APL. As empresas de maior capacidade de produção utilizam-se das
variações cambiais para poder barganhar preços com a empresa. Muitas vezes estas
vinícolas adquirem mais vantagens com a importação de garrafas do que com a compra
interna.
Outro fator que contribui para a manutenção e aprofundamento deste predomínio
de “forças” nas relações de governança, principalmente por parte dos produtores de
insumos e de garrafas, é que, em grande parte, as compras são feitas de forma isolada, o
que dá um maior poder aos ofertantes destes produtos quando das decisões referentes a
preços e quantidades. Iniciativas que começam a buscar uma reversão deste quadro,
com uma conseqüente diminuição do poder de barganha por parte dos fornecedores,
serão destacadas no próximo capítulo.
Os maquinários e equipamentos utilizados pelas vinícolas são oferecidos em
larga escala no mercado. Muitas empresas preferem, para alguns tipos específicos de
produtos os importados, embora, de maneira geral, a produção nacional já abasteça boa
parte desse mercado. A relação entre as vinícolas e os fornecedores de equipamentos se
assemelha a relação destas com os vendedores de insumos. Existe uma relação de
colaboração explícita entre as vinícolas e principalmente os produtores nacionais de
equipamentos.
Entre os produtores de equipamentos, alguns produtores nacionais começam a se
destacar, principalmente em relação à fabricação de tipos específicos de equipamentos,
como é o caso das engarrafadoras e equipamentos de filtragem, em sua grande maioria
97
importados da Itália ou da França. Hoje, na Serra gaúcha já há um número significativo
de empresas fabricantes de equipamentos para esmagamento da uva, de equipamentos
de resfriamento, de tanques de inox e prensas. Muitas destas empresas surgiram com o
apoio de vinícolas locais, que necessitando de serviços técnicos de manutenção,
“abriam” suas portas para que tais empresas conhecessem seus equipamentos, gerando
assim a possibilidade de se estabelecer, entre muitas empresas desse segmento, a
estratégia de surgimento através da aplicação da engenharia reversa, guardadas as
devidas proporções, internamente ao APL.
A história de muitas das empresas nacionais de equipamentos para
vitivinicultura inicia-se com a prestação de serviços de manutenção de máquinas
importadas, uma vez que no passado a totalidade das máquinas para o setor era
importada, não possuindo, no entanto, manutenção local para as mesmas. Assim, é a
partir do conserto de equipamentos importados que se estabelece parte desse segmento
industrial nacional.
De igual modo, durante toda a década de 70, muitas empresas estrangeiras se
instalaram nos municípios da Serra, como já foi mencionado. A política nacional
vigente de substituição de importações impedia, em muitos casos, a compra de peças
importadas, possibilitando o surgimento de uma indústria autóctone de máquinas e
equipamentos para vinificação.
Uma relação diferente se estabelece com os fornecedores de insumos do
chamado “custo seco” (garrafas, rótulos, cápsulas, rolhas etc.). Apesar da presença de
muitas empresas estrangeiras, as empresas nacionais apresentam elevado poder de
barganha, aliadas em menor escala a pequenas empresas produtoras destes insumos,
com pouco poder no mercado. As rolhas de cortiça natural (dominante nos vinhos finos)
98
são importadas em sua maior parte de Portugal, fazendo com que as vinícolas sofram as
conseqüências das variações cambiais sobre seus custos no mercado interno, além do
elevado imposto de importação.
Na região do APL da vitivinicultura da Serra gaúcha desenvolveu-se, ao longo
dos anos, empresas industriais e prestadores de serviços técnicos especializados na
viticultura. Entre eles, podem-se citar os fabricantes de tesouras de poda, fabricantes de
caixas de plástico para coleta da uva, fabricantes de sulfato de cobre e fabricantes de
carretas agrícolas e pulverizadores.
Na região também ocorre a presença de importadores de barris de carvalho, além
de montadores locais, que são utilizados pelas grandes vinícolas quando da importação
de outras madeiras (menos nobres), utilizadas no processo de envelhecimento dos
vinhos. Neste caso, importa-se a madeira e repassa-se para uma empresa local,
responsável pela montagem do barril.
No que se refere ao engarrafamento e embalagem, o APL é totalmente autosuficiente. Há na região um grande número de empresas gráficas, responsáveis pela
produção de rótulos, contra-rótulos, caixas e estojos de papel e papelão. O único item
que não se encontra presente na região é a garrafa, que como já foi mencionado, é
produzida por uma única empresa multinacional, localizada no município de Campo
Bom, no Rio Grande do Sul.
3.3 Caracterização Institucional do APL
99
Apenas a presença de empresas produtoras de uva e vinhos em uma determinada
região geográfica não é suficiente para se observar um APL. É com a estruturação de
uma cadeia produtiva, aliada à presença de instituições de ensino, pesquisa, regulação e
apoio, que se pode desenhar o formato mínimo ideal para a formação e consolidação de
um APL, em especial o APL da vitivinicultura da Serra gaúcha.
Entre as muitas peculiaridades deste APL, podemos destacar a presença forte de
inúmeras organizações, presentes com maior ou menor intensidade no cotidiano das
empresas do setor. Tais organizações representativas e de apoio, em muitos casos,
apresentam objetivos justapostos e até mesmo antagônicos.
Vargas (2002) ao avaliar a organização institucional do arranjo produtivo da
vitivinicultura da Serra gaúcha, aponta para a constituição de um arcabouço
institucional e de uma infra-estrutura de pesquisa e ensino que tornam esse arranjo
único e bastante completo. A análise da infra-estrutura educacional e tecnológica do
APL revela que, além da existência de um conjunto de organizações que atuam na
geração e disseminação de informações e conhecimentos no arranjo, existe também um
grau de interação destas com os agentes do segmento produtivo.
A fim de melhor compreender a dinâmica destas instituições, dividiu-se as mesmas
em quatro categorias e em cada uma escolhida uma organização que melhor
representasse sua categoria. São elas: Associações Representativas (IBRAVIN);
Instituições de Apoio (APROVALE); Instituições de Pesquisa (EMBRAPA); e
Instituições de Ensino (IFRS). No Quadro 3, a seguir, apresenta-se uma distribuição das
principais organizações, dentro da categorização institucional proposta por este
trabalho.
100
Quadro 3 – Representação esquemática das principais organizações vinculadas à
vitivinicultura na Serra gaúcha
Associações Representativas
- Instituto Brasileiro do Vinho (IBRAVIN)
- União Brasileira de Vitivinicultura (UVIBRA)
- Comissão Interestadual da Uva (COMIUVA)
- Associação Brasileira de Enologia (ABE)
- Sindicato das indústrias do vinho do RS
(SINDIVINHO)
- Federação das Cooperativas de Vinho do RS
(FECOVINHO)
Instituições de Pesquisa
- Embrapa Uva e Vinho (EMBRAPA CNPUV)
- Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária
(FEPAGRO)
Fonte: elaborado pelo autor
Instituições de Apoio
- Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena
Empresa (SEBRAE-RS)
- Associação Gaúcha de Vinicultores (AGAVI)
- Associação dos Produtores de Vinhos do Vale dos
Vinhedos (APROVALE)
- Associação de Produtores de Vinhos dos Altos
Montes (APROMONTES)
- Associação de Produtores de Vinho de Pinto
Bandeira (ASPROVINHO)
- Associação dos Vinicultores de Garibaldi
(AVIGA)
- Associação dos Engenheiros Agrônomos da
Região dos Vinhedos
- Associação Riograndense de Empreendimentos
de Assistência Técnica (EMATER)
Instituições de Ensino
- Campus Bento Gonçalves do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do RS (IFRS)
- Universidade de Caxias do Sul (UCS)
3.3.1 – Associações Representativas: IBRAVIN
No ano de 1997, foi instituída a Lei nº 10.989, de 13.08.1997, que além de fixar
os objetivos da política e regulamentar a produção de uva, vinho e seus derivados, criou
o Fundo de Desenvolvimento da Vitivinicultura – Fundovitis. Com a criação deste
Fundo, gerou-se uma fonte de recursos específica para aplicação nas deficiências
existentes no setor, dentre as quais podemos citar a fiscalização e ordenamento da
cadeia produtiva.
Como conseqüência, em 10 de Janeiro de 1998, foi criado o Instituto Brasileiro
do Vinho – IBRAVIN, sociedade civil, sem fins lucrativos, ao qual estão associados
pessoas jurídicas de direito privado, representantes de produtores de uva, cooperativas,
101
indústria vinícola e o Governo do RS. E, em 05 de julho de 2007, foi assinada a Lei nº
12.743, que contemplou a possibilidade de repasse direto ao IBRAVIN de 25% do
montante recolhido pela taxa constante na Lei 10.989. A proposta original do IBRAVIN
era gerir e executar uma série de projetos aprovados através do Fundo de Apoio ao
Setor Vitivinícola (FUNDOVITIS), constituído basicamente pela renúncia fiscal parcial
por parte do governo do estado. A partir da existência e da destinação deste recurso sob
gerência do IBRAVIN, a organização conseguiu aglutinar internamente uma série de
outras organizações, que por falta de estrutura ou recursos, tinham suas reivindicações
setoriais esvaziadas.
Nesse sentido, o IBRAVIN passou a ser encarado como a organização
responsável pela promoção, regulação e controle do setor, investindo fortemente no
debate e execução de projetos que discutissem a reconversão do setor vitivinícola.
Conforme o artigo quarto do seu Estatuto, o IBRAVIN tem por objetivo
promover e ordenar institucionalmente o setor vitivinícola, notadamente nas questões
concernentes à produção de uvas, de vinhos, de suco de uva e de qualquer outro produto
derivado da uva e do vinho, em todos os seus âmbitos: agrícola, produtivo, de
elaboração, técnico, comercial, de promoção, de consumo, estrutural, organizacional,
cultural, ambiental, jurídico, legal e institucional.
Para atingir os seus objetivos, o IBRAVIN executa projetos através de convênios
com diversas instituições tanto em nível Estadual quando Federal. As principais
parceiras do IBRAVIN são com: Secretaria de Agricultura, Pecuária, Pesca e
Agronegócio (SEAPPA), Agência Brasileira de Promoção de Exportações e
Investimentos (APEX Brasil), o Ministério da Agricultura e Abastecimento (MAPA),
Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA), Associação Brasileira de Enologia
(ABE), Embrapa Uva e Vinho, Sindicatos de Trabalhadores Rurais (STRs), Emater,
102
além de outras instituições como Universidades e Centros de Pesquisas. Os projetos são
executados por instituições de pesquisa e/ou consultores contratados ou pelo próprio
Instituto. O andamento destes projetos é acompanhado pelo Conselho Deliberativo para
o qual conta com proposições técnicas ou pareceres obtidos junto ao Conselho
Consultivo.
Além da bandeira da reconversão produtivo do setor, o IBRAVIN tem
desenvolvido uma série de ações no sentido de ampliar a comercialização dos vinhos
nacionais no mercado interno, bem como fortalecer a imagem do vinho nacional nos
mercados internacionais. A fim de ampliar a demanda nacional, o IBRAVIN tem
investido em estudos de mercado e projetos de ampliação das relações das vinícolas
com as cadeias varejistas, responsáveis para comercialização de 70% dos vinhos no
mercado interno.
Para reforçar a imagem dos produtos nacionais no mercado internacional, o
IBRAVIN, em parceria com a Agência de Promoção de Exportações (APEX), lançou,
em 2002, o consórcio “Wines From Brazil”, que conta hoje com a participação de 38
vinícolas, sendo 34 delas localizadas no APL. O objetivo principal do consórcio é
uniformizar e valorizar a imagem do vinho nacional no exterior, além de fomentar a
internacionalização de empresas do setor.
3.3.2 – Instituições de Apoio: APROVALE
Até, aproximadamente, a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do
Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca
quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar. Esta realidade
mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, conseqüentemente, o
103
preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para
fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento
nos lucros.
A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada ao processo vitivinícola
possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e o reconhecimento dos vinhos do
Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais
importante meta dos produtores do Vale. Para alcançar este objetivo e atender às
exigências legais da Indicação Geográfica31, seis vinícolas se associaram, criando, em
1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos
(APROVALE).
Com o tempo, as funções da associação ampliaram-se e, conseqüentemente,
expandiram os objetivos, que passaram a incluir:

o incentivo à pesquisa vitivinícola, assim como a qualificação do produto
vinícola e seus derivados;

o desenvolvimento de ações que promovam a organização e preservação do
espaço físico do Vale dos Vinhedos, promovendo estudos e agindo junto às
autoridades competentes para a elaboração de Leis adequadas ao atendimento
deste objetivo;

o estímulo e a promoção do potencial turístico da região, bem como o
aprimoramento sócio cultural dos associados, seus familiares e da comunidade;
31
Ao contrário do que ocorreu em diversos outros países, a Indicação Geográfica assumiu um papel importante na
diferenciação dos produtos nacionais, especialmente com relação aos vinhos importados. A alternativa de
implementação de indicações geográficas tornou-se concreta no Brasil a partir da publicação da Lei nº 9.279, de 14
de maio de 1996 - "Lei de Propriedade Industrial". Com ela, pela primeira vez, o Brasil, contemplou-se a
possibilidade da proteção legal das indicações geográficas para produtos vitivinícolas e, igualmente, para outros
produtos da agropecuária e da agroindústria nacional. De acordo com o que estabelece a lei brasileira, considera-se
Indicação de Procedência o nome geográfico - do país, da cidade, da região ou da localidade do seu território, que se
tenha tornado conhecido como centro de extração, produção ou fabricação de determinado produto ou de prestação de
determinado serviço. Já na Denominação de Origem o nome geográfico designa produto ou serviço cujas qualidades
ou características se devam exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, incluindo os fatores naturais e humanos
(TONIETTO, 2001).
104

a preservação e proteção à indicação geográfica dos vinhos da região Vale dos
Vinhedos.
Atualmente, a APROVALE conta com 31 vinícolas associadas e 39 associados
não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, artesanatos, queijarias e
outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2008, 7,6 milhões de litros
de vinhos finos equivalentes a 10 milhões de garrafas (APROVALE, 2009).
3.3.3- Instituição de Pesquisa: Embrapa Uva e Vinho
A Embrapa Uva e Vinho, ou também conhecido Centro Nacional de Pesquisa da
Uva e do Vinho (CNPUV), é a maior instituição de pesquisa em vitivinicultura do país,
localizada em Bento Gonçalves. O CNPUV foi criado em 1975, coincidindo com o
terceiro estágio do ciclo de industrialização da vitivinicultura brasileira, marcando,
assim, o início de um momento de grandes investimentos na modernização do setor.
Hoje, a Embrapa Uva e Vinho está vinculada a uma série de pesquisas, que
visam ampliar a produtividade e a qualidade da uva e do vinho nacional. Entre as
principais atividades desenvolvidas pela Unidade Embrapa Uva e Vinho, destacam-se:
ampliação das bases tecnológicas para indicações geográficas; melhoramento genético
de cultivares (com uso inclusive de biotecnologia); ampliação e implantação de sistemas
sustentáveis de produção (integrada, orgânica etc.); ampliação da competitividade da
viticultura e da enologia brasileira, via difusão de novas tecnologias; auxílio no
desenvolvimento de novos produtos (alimentos funcionais); estudos com base na
redução das mudanças climáticas.
3.3.4 – Instituições de Ensino: Campus Bento Gonçalves do IFRS
105
O Campus Bento Gonçalves do Instituo Federal de Educação Ciência e
Tecnologia do Rio Grande do Sul (antigo Cefet-BG)32 é uma instituição federal de
ensino, localizada em Bento Gonçalves, e tem por objetivo principal a formação técnica
e tecnológica de profissionais em diversas áreas, incluindo viticultura e enologia. A
instituição foi criada em 22 de outubro de 1959 pela Lei nº 3646, de 22 de outubro de
1959, na época como Colégio de Viticultura e Enologia de Bento Gonçalves e passou a
funcionar de forma efetiva a partir de 27 de março de 1960. Em 25 de março de 1985
alterou sua denominação para Escola Agrotécnica Federal Presidente Juscelino
Kubistchek. Em 16 de agosto de 2002, foi implantado o Centro Federal de Educação
Tecnológica de Bento Gonçalves (Cefet-BG).
A instituição foi formada num período em que se pretendia ampliar as escalas de
produção, e para tanto, era necessário a formação de profissionais técnicos que
pudessem implementar projetos de diversificação, principalmente pela introdução de
cultivares híbridas.
Desde 1995, a instituição conta com um curso superior em viticultura e enologia,
formando assim, não somente os técnicos para atuação no campo, mas também o
enólogo, responsável técnico pelo processo de elaboração do vinho. O papel
fundamental da Instituição é ofertar mão-de-obra qualificada às empresas da região. A
grande maioria dos alunos, por exigência curricular, realiza estágios em empresas da
região, que não raro, após o período de estágio, efetivam o aluno em seus quadros de
funcionários da empresa.
Como entidade voltada à educação profissional, o Campus mantém acordos e
convênios com várias instituições do país e exterior, entre elas: Universidade de Trás-os
32
Em 29 de dezembro de 2008, foi sancionada a Lei nº 11.892, que reorganiza a Rede Federal de Educação
Profissional e Tecnológica, formando 38 Institutos Federais, três deles no RS. Dessa forma foi criado o Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, que conta com os seguintes campi: Bento
Gonçalves, Caxias do Sul, Erechim, Osório, Porto Alegre, Restinga, Rio Grande e Sertão.
106
Montes e Alto Douro, de Portugal; Università degli Studi di Udine e Università degli
Studi di Padova, da Itália e com o Liceu de Ensino Geral e Tecnológico Agrícola de
Blanquefort, da França.
O campus Bento Gonçalves se constitui no maior centro formador de
profissionais para a indústria vitivinícola do país. A quase totalidade dos técnicos e
enólogos do APL é formada pela instituição, que por suas crenças e procedimentos
pedagógicos, acaba por influenciando o “fazer” do vinho em seu cotidiano.
3.4. Periodização do ciclo da industrialização do vinho brasileiro
A cultura/produção do vinho no RS pode ser dividida em quatro grandes
momentos: a) de 1875 a 1920, onde a produção de produtos da uva era destinada ao
consumo familiar e local, sobretudo para a produção de vinhos comuns originados da
vinificação de uvas americanas; b) a partir de 1930, com a conclusão de uma série de
obras de infraestrutura (em especial da estrada de ferro que ligava Caxias do Sul a
Montenegro), possibilitou-se o escoamento de produtos coloniais para as principais
localidades do estado e do país (desde então, a região de colonização italiana do RS
tornou-se o maior centro produtor de vinhos do país) iniciando também nesse período o
processo de diversificação da produção; c) entre as décadas de 1970 e 1990, dois
grandes movimentos foram percebidos no setor: primeiramente, a entrada de empresas
internacionais como Chandon, Maison Forestier, Martini, National Distillers, Chateau
Lacave, Welch Foods (Suvalan), entre outras, na produção e comercialização de vinhos
e sucos; e em um segundo momento, fomentado por essas empresas, houve um
incremento na qualidade da produção por parte das empresas nacionais, iniciando a
107
produção em maior escala de vinhos varietais; d) a partir dos anos 2000, a tecnologia se
disseminou entre o setor vitivinícola gaúcho, chegando até as pequenas vinícolas, que
começaram a controlar as fermentações, a utilizar leveduras e enzimas e usar tanques de
aço inoxidável, que ampliou drasticamente a qualidade e competitividade das firmas
gaúchas, inserindo parte da produção vinícola gaúcha no mercado internacional – ainda
que por via de poucas e específicas empresas (EMBRAPA, 1982; TONIETTO;
MELLO, 2001; TONIETTO; MILAN, 2003; FARIAS; CAMPREGHER, 2008). Os
ganhos com a exportação dos produtos vinícolas da Serra gaúcha ainda são muito
reduzidos, porém, a experiência junto aos mercados internacionais tem produzido
ganhos de conhecimento e expertise significativos às empresas que têm participado
desse tipo de movimento. Tal situação pode ser visualizada na Figura 2, abaixo.
Figura 2 – Períodos Evolutivos da Vitivinicultura do Brasil
Fonte: Tonietto; Mello (2001:05)
108
Vale destacar que este corte temporal não pretende expressar que tais ciclos
evolutivos se deram da mesma forma para todas as empresas da região. Tais
movimentos são percebidos inicialmente pelas empresas de maior porte e pelas
cooperativas. As empresas de menor porte, que se constituem ao longo dos anos a
maioria das empresas da região, adotaram tais estratégias buscando a manutenção de
suas posições de mercado. O mesmo pode-se afirmar acerca da ampliação das vendas
para os mercados estrangeiros. Na verdade, como será abordado mais à frente nesse
trabalho, a opção pelas exportações não está relacionada apenas a questão do porte das
empresas, mas principalmente a uma estratégia de ampliação e valorização dos produtos
e marcas no mercado interno.
Essa periodização é importante para se perceber o caráter evolutivo da
vitivinicultura no Brasil (ainda que o predomínio das ocorrências em cada período se
perceba no RS). Cada período compreende uma fase do ciclo de industrialização que
ocorreu (e vem ocorrendo) com a vitivinicultura brasileira. No primeiro período, como
já foi mencionado na primeira seção deste capítulo, ainda que se constate a presença de
produção de uva e vinhos na região das Missões (1726) e em regiões de colonização
portuguesa litorânea (Rio Grande e Pelotas, a partir de 1732), é com a chegada do
imigrante italiano, a partir de 1875, que ocorre o primeiro grande salto da vitivinicultura
gaúcha, quando da implantação dos primeiros vinhedos utilizando-se o sistema de
latadas (PESAVENTO, 1983).
O surgimento da produção de vinhos está vinculado ao atendimento da demanda
local e regional, mas à medida que a produção cresce, tais mercados se tornaram
insuficientes para absorver a totalidade da oferta, conduzindo as empresas coloniais da
Serra gaúcha a buscarem novas estruturas de produção e distribuição, “introduzindo
uma nova dinâmica empresarial em torno desta atividade” (VARGAS, 2002: 185).
109
Vargas (2002) destaca que o desenvolvimento inicial do arranjo vinculado à
produção de vinho está respaldado pela existência externalidades regionais, tais como:
a) estrutura fundiária baseada em pequenas propriedades, com uso de trabalho familiar;
b) mão-de-obra especializada nas técnicas de plantio e colheita de uvas; e c)
infraestrutura incipiente de produção e distribuição, estabelecida nuclearmente em
poucas empresas nacionais localizadas regionalmente.
Ainda neste primeiro período, o ciclo de industrialização foi marcado pelo
surgimento das primeiras cooperativas, além do término das obras de construção da
estrada de ferro que ligou Caxias do Sul à Montenegro, possibilitando uma rápida
ampliação dos mercados, bem como uma maior integração da cadeia produtiva
vitivinícola no RS.
Entre as décadas de 1930 e 1960, não se verifica grandes modificações nos
processos produtivos e tecnológicos das vinícolas. Neste período, a única grande
estratégia das empresas foi iniciar a implementação de um processo gradual de
diversificação da produção, via introdução de cepas híbridas, além das americanas já
amplamente exploradas na Serra gaúcha. A diversificação passou também pela
ampliação do número de produtos derivados do vinho, como é o caso da graspa, do
brandy e da sangria.
A partir de década 1970, inicia-se uma nova etapa do ciclo de industrialização da
vitivinicultura, tendo por finalidade a melhoria da qualidade dos produtos oriundos do
arranjo vitivinícola da Serra gaúcha, através de investimentos na modernização do
parque industrial local e na expansão da produção vitícola, alicerçada na importação de
mudas européias que garantiram uma maior adaptação ao clima da região (VARGAS,
2002).
110
Neste mesmo período (década de 70), inicia-se o ingresso de inúmeras empresas
de capital estrangeiro no Brasil, se instalando em sua totalidade na Serra gaúcha. Fica
evidente a intenção destas empresas em aproveitar o crescimento do mercado interno
brasileiro no período. Esse crescimento foi sustentado pela ampliação do poder
aquisitivo da classe média urbana, possibilitando o surgimento, pela primeira vez, de
um genuíno mercado nacional de vinhos finos nacionais, em substituição aos produtos
importados. Nesse momento, a indústria vitivinícola acompanha as movimentações
estruturais que ocorrem no Brasil, nos setores mais diversos.
Para Vargas (2002), as empresas locais, em especial as com maior capacidade
produtiva, foram capazes de absorver as mudanças tecnológicas necessárias nesse
processo de reorganização e modernização da produção vinícola. Assim, entrada de
capital externo no arranjo se deu através do estabelecimento de alianças estratégicas
entre empresas nacionais e grupos estrangeiros (VARGAS, 2002: 188).
O último período de modificação da vitivinicultura brasileira é caracterizado por
uma intensificação dos investimentos em tecnologia e na melhoria da qualidade dos
produtos, através da consolidação de regiões determinadas e identificadas para a
produção de vinhos finos específicos. Esse representa o maior salto de investimento
tecnológico feito pelas empresas do arranjo, desde o melhoramento genético de
cultivares até o desenvolvimento de novos processos de elaboração de vinhos e
espumantes.
Fica evidente que o processo de formação e consolidação deste APL está
intimamente vinculado aos contextos históricos e culturais, se confundindo com a
própria trajetória de construção das identidades regionais (COOKE et al., 1997;
VARGAS, 2002). Assim, a conformação histórica, cultural e institucional da região da
111
Serra gaúcha impactou diretamente a organização e consolidação da indústria vinícola
do RS e do Brasil, de maneira geral.
Com base nessa caracterização do APL pretende-se, no próximo capítulo,
apresentar os principais resultados da pesquisa de campo, que teve por finalidade
perceber, pela ótica dos empresários e das instituições, o papel da cooperação, dos
processos de aprendizagem e da inovação no APL da vitivinicultura da Serra gaúcha.
112
4 APRENDIZADO, INOVAÇÃO E COOPERAÇÃO EM VINÍCOLAS DA
SERRA GAÚCHA
O presente capítulo pretende apresentar os dados levantados na pesquisa de
campo realizada junto a vinte empresas vinícolas do APL da Serra gaúcha, além de oito
entrevistas com organizações ligadas ao setor, durante os meses de janeiro e fevereiro
de 2010.
O capítulo está dividido em quatro seções, quais sejam: metodologia da pesquisa
(incluindo um perfil da amostra estudada); percepção dos entrevistados sobre as suas
atividades inovativas e cooperativas, bem como sobre os seus processos de
aprendizagem; avaliação dos respondentes com relação às estruturas de governança e as
vantagens associadas ao ambiente local; e, por último, a avaliação sobre as ações de
promoção do setor.
4.1 Metodologia da pesquisa
A presente dissertação se propôs a realizar um estudo empírico, exploratório,
acerca dos processos de cooperação e aprendizagem no arranjo produtivo local da
vitivinicultura da Serra gaúcha. Pretendeu-se, assim, relacionar tais processos
(cooperação e aprendizagem) com a capacidade inovativa das firmas, bem como a
competitividade do arranjo como um todo.
Ao longo da pesquisa de campo procurou-se entender que mecanismos de
aprendizado dão suporte às estratégias inovativas adotadas pelas empresas. Uma vez
que tais processos de aprendizado ocorrem sob a forma de relacionamentos presentes no
113
interior do arranjo, pretendeu-se compreender se tal interação gerou vínculos
cooperativos, e quais seriam estes.
Neste trabalho, o método empregado para a consecução dos seus objetivos foi do
tipo pesquisa survey, descritiva, com amostragem não-probabilística. A survey foi
precedida por um conjunto de entrevistas em profundidade, que foram realizadas entre
os meses de agosto e outubro de 2009, com especialistas do setor, bem como
representantes de instituições de ensino e pesquisa (EMBRAPA e IFRS) e órgãos de
representação e apoio (IBRAVIN e Sebrae/RS). Tais entrevistas serviram para adequar
o instrumento de coleta de dados aos objetivos específicos da pesquisa. A aplicação do
questionário (ver Apêndice A) em campo foi realizada durante os meses de janeiro e
fevereiro de 2010.
Antes, porém, ocorreu uma etapa em que se realizaram oito entrevistas em
profundidade, seguindo um roteiro de orientação (ver Apêndice B). Tais entrevistas
tiveram por objetivo conhecer as ações das principais instituições, bem como suas
opiniões acerca da organização do arranjo e os fatores de competitividade das empresas.
Para a fase de investigação de campo, junto às vinícolas, utilizou-se como
estrutura básica do questionário a mesma base conceitual e metodológica desenvolvida
nos diversos trabalhos da REDESIST sobre os APLs, sendo este questionário aplicado
nas pesquisas de campo realizadas pela referida Rede. Ocorreram algumas adaptações,
necessárias para compreender as particularidades das vinícolas. Além disso, foi
necessário incluir algumas questões que não se fazem presentes na versão original do
questionário da Rede. Tais adaptações basearam-se nos dados secundários coletados ao
longo da pesquisa, bem como no resultado das entrevistas em profundidade.
114
O questionário foi aplicado junto a vinte vinícolas inseridas no arranjo em
estudo. Essas vinte empresas correspondem à produção de 21% do total da produção de
vinhos do RS, no ano de 200933. A amostra, ainda que seja não-probabilística, apresenta
um grau de representatividade considerável, não apenas por representar 1/5 da produção
vinícola do RS (e por conseqüência do Brasil), mas por retratar a realidade das
principais produtoras do Brasil. Por ser o segmento mais importante do APL,
concentrou-se os esforços da pesquisa no levantamento de informações junto às
vinícolas.
Optou-se pela aplicação presencial de todos os questionários. Tal estratégia foi
adotada em virtude da extensão do instrumento de pesquisa, bem como pela
complexidade e profundidade das informações requeridas. Por essa razão, todos os
respondentes ocupavam cargos de alta administração das empresas (Diretor, Gerente ou
Enólogo).
O questionário é estruturado em cinco blocos. O primeiro pretende descrever
algumas características básicas da firma entrevistada, como porte e número de
empregados. O segundo bloco discute alguns aspectos do processo produtivo e da
qualificação da mão-de-obra. O terceiro bloco visa observar os principais aspectos
relativos ao processo inovativo, cooperação e aprendizado entre as firmas do arranjo. O
quarto bloco analisa as fontes de externalidades no ambiente local. Por último, um bloco
que avalia o impacto de políticas públicas sobre o desempenho das firmas nos arranjos
produtivos locais.
Pela delimitação da pesquisa, o terceiro bloco teve maior relevância para o
presente projeto. Esse bloco de questões avaliou a origem da informação para o
33
As vinte empresas juntas totalizaram uma produção, em 2009, de 70,5 milhões de litros de vinhos (finos e
comuns). Dados do IBRAVIN, em entrevista, apontaram que a produção, no mesmo ano, das vinícolas do RS foi de
342 milhões de litros.
115
processo inovativo, se esta fonte é interna ou externa à firma. Avaliou, também, a
forma, a intensidade e com quem a cooperação ocorre (se ocorre), além de verificar se a
firma interage mais dentro ou fora do arranjo. As questões do questionário REDESIST,
neste bloco de análise, sofreram as devidas adaptações, para se adequarem às
peculiaridades do setor vitivinícola, além de atender aos pontos levantados pelos
especialistas, quando da realização das entrevistas em profundidade.
Assim, o instrumento de coleta de dados utilizado na pesquisa possui 48
questões, divididas em cinco blocos, que são: a) identificação da empresa; b) produção,
mercados e emprego; c) inovação, cooperação e aprendizado; d) estrutura, governança e
vantagens associadas ao ambiente local; e) ações de promoção.
É importante destacar que o intervalo temporal de análise das diversas questões
presentes no instrumento de pesquisa foi dos últimos três anos (2007 a 2009). Ainda,
grande parte das questões foi estruturada solicitando que os respondentes identificassem
graus de importância, que variavam de baixa importância a muita importância, além da
possibilidade de indicar se a questão era irrelevante para a empresa. Assim, justifica-se
o porquê de muitas das análises que se seguirão, se somadas, totalizam valores acima de
100%, uma vez que muitas dessas questões eram de múltipla escolha.
Cabe-nos concordar com Tatsch (2008) quando argumenta que temas como
aprendizado, conhecimento e inovação fazem parte de uma agenda de estudos em
construção, necessitando de uma massa crítica de pesquisas ainda maior, afim de que se
possam levantar outras variáveis (além das utilizadas aqui) para a melhor compreensão
de tais questões. A que se levar em conta, também, a complexidade inerente ao estudo
de temas como a cooperação entre empresas, e destas com outras instituições.
116
Feitas essas observações, importa mencionar algumas características da amostra,
composta por empresas vinícolas inseridas no APL vitivinícola da Serra gaúcha.
4.1.1 Perfil da amostra
Inicialmente, é importante traçar um perfil das vinícolas investigadas no presente
estudo, partindo-se da relação das empresas entrevistadas com sua localização no APL
vitivinícola da Serra gaúcha. Todas as vinte empresas investigadas são nacionais e
independentes, ou seja, não existem outras empresas no controle acionário/societário
delas. Nisso se assemelham em muito a grande maioria das vinícolas brasileiras.
A Tabela 8 demonstra que quanto a localização das empresas entrevistadas há
maior concentração em Bento Gonçalves (50%), seguida por Garibaldi (20%),
Farroupilha (10%) e Flores da Cunha (10%). Duas empresas estão localizadas nos
municípios de Cotiporã e São Marcos, ambos pertencentes ao APL vitivinícola da Serra.
Tal distribuição é facilmente explicada pelo predomínio da produção e do número de
firmas nos municípios de Bento Gonçalves e Garibaldi, respectivamente o maior
produtor de vinhos e o maior produtor de espumantes do Brasil.
Tabela 8 – Distribuição das empresas entrevistadas no APL por Municípios
Município
Freqüência
%
Bento Gonçalves
Cotiporã
Farroupilha
Flores da Cunha
Garibaldi
São Marcos
Total
Fonte: pesquisa de campo (2010)
10
1
2
2
4
1
20
50,0
5,0
10,0
10,0
20,0
5,0
100,0
117
Outra característica importante da amostra é sua segmentação por porte. Por uma
particularidade na produção de vinhos, a classificação usual de empresas levando-se em
consideração o número de funcionários, torna-se inapropriada, visto que o tipo de vinho
(comum ou fino) e a preocupação com o posicionamento da marca no mercado
(especialmente associado ao volume de produção) afetam diretamente o número de
contratações necessárias. Em geral, vinhos finos requerem mais mão-de-obra que vinhos
comuns.
Assim, optou-se por determinar o porte das empresas da amostra a partir da
estimativa de seus faturamentos34. No questionário, as questões 11, 12 e 13 solicitavam
que a empresa informasse a produção total de vinhos finos, comuns e suco de uva, no
ano de 2009, expressos em litros. Com esses dados, buscou-se os preços médios desses
produtos junto ao IBRAVIN. Com isso, estimou-se o faturamento das empresas,
segmentando-as, posteriormente, conforme a classificação de empresas utilizada pelo
Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES)35. É evidente que tal estimativa
carece de precisão, uma vez que não considera as possíveis práticas de sonegação
fiscal36.
34
Das empresas entrevistadas, apenas as duas de porte médio, aceitaram informar seu faturamento. Isso porque
ambas são Sociedades Anônimas, e publicam seus balanços anualmente. As demais empresas se negaram a fornecer
esse dado. Em entrevista com o IBRAVIN, houve o relato de que a organização, ainda que representante das
vinícolas brasileiras, não conseguiam junto as menores empresas essa informação, o que leva a organização a estimar,
também o faturamento do setor.
35
O BNDES estipula o porte das empresas conforme seu faturamento anual: Microempresa (até R$ 2.400.000,00);
Pequena (de R$ 2.400.000,00 a R$ 10.500.000,00); Média (de R$ 10.500.000,00 a R$ 60.000.000,00) e Grande
(acima de R$ 60.000.000,00). Poder-se-ia perfeitamente enquadrar, em circunstância do perfil das empresas que
compõem o setor, estabelecer que empresas que faturam entre R$ 10,5 milhões e R$ 60 milhões como grandes
empresas, porém, preferiu-se seguir à risca o esquema utilizado pelo BNDES.
36
Durante as entrevistas com empresários, muitos afirmaram que existe uma prática recorrente de sonegação de
impostos, principalmente entre aquelas que produzem grandes volumes de vinho comum. Para muitos desses
empresários essa prática garante a sobrevivência dessas firmas, dada a pesada carga tributária incidente sobre o
produto final (vinho), bem como sobre os seus insumos, provocando efeitos em cascata que impossibilitam, segundo
eles, a plena regularidade das empresas.
118
Tabela 9 – Distribuição das empresas da amostra por porte.
Porte
Freqüência
%
% Válidos
micro
pequena
média
Total
10
8
2
20
50,0
40,0
10,0
100,0
50,0
40,0
10,0
100,0
Fonte: pesquisa de campo (2010)
A Tabela 9 apresenta a distribuição da amostra, segundo seu porte. Chama a
atenção a inexistência de empresas de grande porte. O fato de 90% das empresas
entrevistadas serem de micro e pequeno porte reforça as características do APL já
apontadas nos capítulos anteriores. Na Tabela 10, observa-se a relação entre os
municípios-sede das empresas da amostra, segundo seu porte.
Tabela 10 – Municípios X Distribuição da empresas da amostra (por porte).
Porte
Municípios
micro
pequena
média
Total
Bento Gonçalves
4
4
2
10
Cotiporã
0
1
0
1
Farroupilha
1
1
0
2
Flores da Cunha
1
1
0
2
Garibaldi
4
0
0
4
São Marcos
0
1
0
1
Total
10
8
2
20
Fonte: pesquisa de campo (2010)
Com relação ao número de funcionários, as empresas entrevistadas
apresentaram, em média, 19 funcionários, incluindo entre esses os empregados das
vinícolas e das unidades produtoras de uvas. Com relação a estas últimas, há uma
quantidade significativa de mão-de-obra sazonal, empregada principalmente no período
da safra (janeiro a março), que foram contabilizados. Apenas uma empresa da amostra
afirmou possuir cinco funcionários, e duas empresas informaram possuir mais de cem
funcionários (sendo que uma delas possui mais de quatrocentos empregados diretos).
119
Como já apontado anteriormente, o emprego (maior ou menor) de funcionários se
estabelece de forma mais nítida, se se considerar a opção produtiva da empresa. Se optar
por concentrar a produção nos vinhos finos, possivelmente ocupará mais mão-de-obra
se optasse pela elaboração de vinhos comuns. Tal situação está vinculada ao fato da
elaboração de vinhos finos e espumantes possuírem um maior número de etapas de
produção37.
Entre as vinícolas participantes da pesquisa, observa-se uma concentração com
relação ao ano de fundação das empresas. Os dados da Tabela 11 apontam para o
surgimento de 10% da amostra antes de 1959; outros 10% nasceram na década de 60,
enquanto que 65% das empresas iniciaram suas atividades vinícolas entre as décadas de
70 e 80. Apenas 15% das empresas informaram ter iniciado suas atividades após 1990.
Tabela 11 – Distribuição de empresas da amostra por período de fundação.
Período
Freqüência
%
antes de 1959
2
10,0
entre 1960 e 1969
2
10,0
entre 1970 e 1979
7
35,0
entre 1980 e 1989
6
30,0
depois de 1990
3
15,0
Total
20
100,0
Fonte: pesquisa de campo (2010)
As informações com relação ao ano de fundação das empresas corroboram a
importância de se perceber a consolidação do APL vitivinícola da Serra gaúcha a partir
de um olhar histórico-institucional. O fato de 65% das empresas terem surgido entre as
décadas de 70 e 80 confirmam a leitura de que neste período ocorreu um intenso
movimento no sentido de se ampliar a profissionalização e a industrialização do vinho
nacional. Neste período, como já foi mencionado, ocorreu um grande esforço no sentido
de profissionalizar a produção, tendo por objetivo a ampliação da oferta e do consumo
37
Observa-se isso na Figura 1 dessa dissertação.
120
de vinhos no Brasil. Em especial, a década de 70 apresentou-se como o período de
maior oportunidade às empresas do setor (nacionais ou estrangeiras sediadas no país),
dado o significativo aumento do poder aquisitivo da classe média, fruto das políticas
expansionistas orquestradas pelos governos militares.
Tal período se assemelha em muito ao atual momento em que vive o país, agora
ancorado não apenas na estabilidade do poder de compra, mas na ascensão de camadas
inferiores da sociedade que, ano após ano, tem ampliado seu poder aquisitivo, por conta,
dentre outros fatores, da continuidade das políticas de garantia de renda às populações
menos assistidas. Tais vinícolas, surgidas nesse período, investiram na diversificação,
iniciando uma produção mista de vinhos comuns e finos. É o aumento do poder
aquisitivo e a dimensão do mercado interno que estimulam o surgimento de vinhos de
maior qualidade.
As empresas que surgiram após a década de 90 apresentam uma característica
distinta, pois trabalham exclusivamente com vinhos finos e espumantes. Das empresas
entrevistadas, cinco iniciaram suas atividades ao longo dos anos 90, em especial após a
implantação do Plano Real. Essas empresas têm se especializado em vinhos de
qualidade, buscando controlar a quantidade produzida como forma de garantir ao
consumidor o fornecimento de um produto exclusivo. Estas empresas têm aproveitado o
ambiente de valorização do consumo de vinhos, ainda que esta valorização, no Brasil,
represente, também, a ampliação do consumo de produtos estrangeiros.
Outra informação relevante para se compreender a dinâmica recente das
empresas vinícolas desse APL diz respeito ao tempo em que estas vêm trabalhando com
vinhos finos. Das vinte empresas pesquisadas, apenas uma informou não trabalhar com
vinhos finos, apenas com vinhos comuns. Isso demonstra que a grande maioria das
121
empresas tem adotado a produção de vinhos finos como uma estratégia de mercado, seja
de permanência, seja de ampliação destes. Tal informação foi corroborada por uma série
de entrevistados, bem como pelos especialistas ouvidos. Os dados da Tabela 12 indicam
que 63% das empresas trabalham com vinhos finos em um período não superior a dez
anos. Isso confirma a informação de que na última década as empresas têm acentuado
seus esforços no sentido de produzirem cada vez mais vinhos de melhor qualidade.
Entre esses esforços ganha especial atenção o levantamento da indicação de procedência
e a busca pela obtenção da denominação de origem (ambas no Vale dos Vinhedos). As
que produzem vinhos finos a mais de onze anos representam 37% das empresas,
coincidindo com o fato de terem iniciado suas operações na década de 80.
Tabela 12 – Experiência na produção de vinhos finos.
Período
Freqüência
até 4 anos
1
de 5 a 10 anos
11
de 11 a 20 anos
3
mais de 20 anos
4
Total
19
Não Resposta
1
Total
20
%
5,0
55,0
15,0
20,0
95,0
5,0
100,0
Fonte: pesquisa de campo (2010)
A heterogeneidade no setor vinícola não se expressa apenas na produção de
diversos produtos, mas também no emprego de diversos canais de comercialização.
Questionadas sobre os principais canais de comercialização utilizados para o
escoamento da produção vinícola, 65% das empresas da amostra apontaram ser de alta
importância o atendimento de pedidos sob encomenda, em consonância ao fato de
várias dessas empresas atuarem, independentemente do volume, com vinhos finos, que
tem nesse canal sua principal forma de distribuição.
Nesta mesma direção, de valorização dos vinhos finos produzidos, 56% das
empresas afirmam ser muito importante a existência de lojas próprias, geralmente
122
vinculadas às unidades produtivas. A adoção deste canal é uma estratégia adotada pelas
empresas para dar visibilidade, a um custo reduzido, a variedade de produtos ofertados,
em geral vendidos com preços diferenciados (abaixo dos preços praticados no mercado
para o mesmo produto), além da oferta de outros utensílios, tais como taças, saca-rolhas,
baldes de gelo etc., bem como de uma série de produtos promocionais, vendidos em
embalagens e combinações especiais. Durante a realização das entrevistas, quatro das
vinte empresas estavam investindo na ampliação de suas lojas próprias (quinze das vinte
empresas possuem lojas próprias).
Questionadas sobre a importância do comércio varejista, em especial os
supermercados, enquanto canal de distribuição de vinhos, não houve consenso entre os
entrevistados. Para 35% das empresas da amostra, os supermercados não se apresentam
como canal de preferência, enquanto para 53% delas, esse é o principal meio de
comercialização de seus produtos38. Essa informação é importante, pois demonstra o
elevado grau de desconfiança que está instalado entre as vinícolas e o setor varejista.
Segundo pesquisa realizada pelo IBRAVIN, cerca de 70% do todo o vinho
comercializado no país (nacional e importado) é feito através das gôndolas dos
supermercados. O crescente processo de oligopolização do setor varejista nacional,
aliado ao elevado número de marcas e ao baixo estímulo à ampliação do consumo de
vinhos, faz com que somente as empresas de maior porte do setor possam disputar nesse
canal. Não é sem motivos que 82% dos respondentes atribuem elevada importância para
a comercialização que é feita através dos distribuidores e representantes de venda, que
geralmente atuam em seus mercados locais/regionais via varejos de menor porte, o que
38
Cabe relembrar que grande parte das questões era de múltipla escolha, e tinham o objetivo de levantar o grau de
importância atribuído as mesmas, pelos respondentes. Por isso, num grande número de casos, o somatório das
respostas excede a 100%.
123
possibilita, além da expansão dos horizontes de atuação da vinícola, uma ampliação dos
ganhos e do poder de barganha com as redes varejistas.
Com relação às vendas de produtos nos últimos três anos (2007 a 2009), a
grande diversidade de linhas de produtos existentes dificultou as empresas a
apresentarem valores precisos com relação a esta informação. Dessa forma, estes
números representam a média das estimativas feitas pelas empresas, pensando em seus
produtos de forma genérica. Assim, as empresas investigadas concentram, em média,
15% de suas vendas nos municípios da região da Serra gaúcha, 20% para outros
municípios do RS, 63% para os demais estados do país, e apenas 2% do total
comercializado se destina à exportação.
Quando questionados sobre a origem dos principais insumos e matérias-primas
utilizadas no processo produtivo, a quase totalidade das empresas (19 vinícolas)
apontou que tais recursos são adquiridos de empresas presentes na região. A única
exceção se dá com relação à compra de garrafas, que são adquiridas de uma única
empresa produtora, localizada em Campo Bom, cerca de 100 quilômetros de Bento
Gonçalves. Outra característica é a presença de empresas multinacionais e importadoras
de insumos enológicos na região. Praticamente todo o insumo utilizado, seja nas
parreiras, seja na elaboração do vinho, provêem de outros países.
Com relação à origem dos equipamentos utilizados no processo de produção, a
totalidade dos entrevistados informou que é possível, hoje em dia, montar uma vinícola
utilizando-se apenas equipamentos nacionais. Os principais pólos produtores de
máquinas e equipamentos, segundo as vinícolas, são a região da Serra gaúcha e São
Paulo, sendo que neste último ocorre grande parte da fabricação de equipamentos que
são utilizados pela indústria de bebidas de modo geral (lavadores de garrafas,
124
engarrafadoras etc.). No entanto, apesar do país ser auto-suficiente na produção desses
equipamentos, é comum entre as empresas, independente do porte, a aquisição de
equipamentos importados, principalmente centrais de engarrafamento (equipamentos
responsáveis pelo envase, rolhamento e etiquetagem dos produtos), geralmente
adquiridas da Itália. Na região da Serra gaúcha, estão concentradas as empresas
fabricantes de equipamentos mais focadas na produção de vinhos e espumantes, tais
como filtros, tanques de inox, prensas etc.
Questionou-se ainda aos respondentes acerca dos fatores determinantes para
manter a capacidade competitiva da empresa em sua principal linha de produtos. Por
ordem dos fatores mais citados, para as vinte empresas, os que merecem a sua máxima
atenção e maior atribuição de importância são: qualidade do produto, capacidade de
atendimento de pedidos (em volume e prazos), e a localização (o fato de estarem
presentes no APL vitivinícola da Serra gaúcha). Mais uma vez, a partir da avaliação
dessas respostas, pode-se perceber que, ao menos para as empresas da amostra, está
ocorrendo um movimento de qualificação da oferta de vinhos, que passa
necessariamente pela migração gradativa de produtos (de vinhos comuns para finos).
Em seguida, para 95% dos respondentes, o maior atributo determinante da
competitividade está associado à qualidade da matéria-prima e de outros insumos. E é
novamente na ampliação da oferta de vinhos finos que se explica esse resultado.
Posteriormente, os fatores com maior importância para a competitividade das vinícolas
são: capacidade de introdução de novos produtos e processos, custo da mão-de-obra e
adoção de novas estratégias de comercialização. Mudanças de embalagens e qualidade
da mão-de-obra apresentam-se como os fatores com o menor nível de importância para
a manutenção da competitividade das empresas.
125
Com base nessa caracterização inicial das empresas que compuseram a amostra
da pesquisa, é possível apresentar a opinião dessas com respeito à inovação, à
cooperação e ao processo de aprendizado, presente na próxima seção desse capítulo.
4.2 Inovação, Aprendizado e Cooperação
Na presente seção, pretende-se apresentar os dados obtidos em pesquisa de
campo, procurando mapear as atividades de inovação e cooperação, e suas relações com
o processo de aprendizagem que se desenvolve no interior do APL vitivinícola da Serra
gaúcha.
A totalidade das empresas investigadas informou ter introduzido alguma
inovação (de produto, processo ou organizacional) 39 nos últimos três anos (2007 a
2009). Apesar de apresentar uma elevada taxa de inovação, se comparado com a média
da indústria nacional40, percebeu-se que nenhuma das empresas investigadas introduziu
alguma inovação inédita para o setor, seja nacional ou internacional. As inovações
implementadas eram todas de caráter incremental, em grande parte reproduzindo
melhorias (de produtos e processos) realizadas por empresas líderes, seja no mercado
nacional, seja internacional.
39
Utilizou-se aqui a mesma definição expressa na PINTEC (2002), que classifica: Inovações de produto – são
produtos tecnologicamente novos, cujas características fundamentais (especificações técnicas, usos pretendidos,
software ou outro componente imaterial incorporado) diferem significativamente de todos os produtos previamente
produzidos pela empresa. A inovação de produto também pode ser progressiva, através de um significativo
aperfeiçoamento tecnológico de produto previamente existente, cujo desempenho foi substancialmente aumentado ou
aprimorado. Desta definição são excluídas: as mudanças puramente estéticas ou de estilo e a comercialização de
produtos novos integralmente desenvolvidos, e produzidos por outra empresa; Inovação tecnológica de processo refere-se a processo tecnologicamente novo ou substancialmente aprimorado, que envolve a introdução de tecnologia
de produção nova ou significativamente aperfeiçoada, assim como de métodos novos ou substancialmente
aprimorados de manuseio e entrega de produtos (acondicionamento e preservação). Estes novos métodos podem
envolver mudanças nas máquinas e equipamentos e/ou na organização produtiva (desde que acompanhada de
mudanças no processo técnico de transformação do produto).
40
Ver PINTEC (2002).
126
Inquiridas sobre qual agente teve a principal responsabilidade pelo
desenvolvimento da inovação de produto, 19 empresas da amostra informaram ser de
sua própria autoria o desenvolvimento das etapas de inovação de produto. Apenas uma
empresa informou ter desenvolvido tal inovação em cooperação com outras empresas
ou institutos. Em grande parte as empresas apresentavam como inovação de produto a
introdução de um novo vinho varietal, ou ainda um vinho fino resultante da combinação
de várias uvas varietais. Muitas empresas, também, informaram que neste período
investiram no desenvolvimento de espumantes; e é, nesse caso específico, que surgem
as atividades de cooperação para desenvolvimento do produto. Isso se justifica pelo fato
da elaboração de um bom espumante requerer um “vinho de base” de boa qualidade,
que passe pela segunda fermentação e resulte em um espumante estruturado. Ocorre que
muitas empresas, em especial as de micro e pequeno porte, ou não possuem o “vinho de
base”, ou ainda não possuem os equipamentos necessários para a elaboração do
espumante (no caso desse ser elaborado pelo método charmat). Isso implica no uso
compartilhado de equipamentos e máquinas, em especial os tanques de resfriamento,
que por seu elevado custo, ainda não está popularizado, principalmente entre as micro e
pequenas empresas.
Essa significativa participação das empresas no desenvolvimento de inovação de
produto está intimamente vinculada ao acelerado processo de diversificação de produtos
que vem vivenciando o setor. Essa diversificação ocorre no sentido de se intensificar a
produção de vinhos finos e espumantes, em qualidade cada vez maior. Também,
segundo informação dada pelo Diretor-Executivo do IBRAVIN, uma das inovações de
produto mais significativas dos últimos anos consiste na valorização e ampliação da
produção de sucos de uva, em suas diversas formas (concentrado, adoçado, orgânico
etc.). Dados do IBRAVIN apontam que nos últimos dois anos o crescimento na
127
produção de sucos de uva é de 40%, caracterizando-se em um dos produtos da uva que
mais cresceu no período. O suco da uva também é um produto que possibilitou um
significativo grau de cooperação entre empresas, uma vez que muitas das empresas, em
especial as mais recentes, ou não possuem os equipamentos específicos, ou não
possuem plantações de uvas comuns, de onde se produz o suco de uva.
Quando questionadas acerca da autoria da principal inovação de processos, 75%
das empresas investigadas responderam serem elas mesmas as desenvolvedoras de tais
inovações. Por outro lado, 25% das empresas informaram que nos últimos três anos
contaram com apoio de outras empresas ou instituições no desenvolvimento de
inovações no processo produtivo.
É importante ressaltar que, assim como ocorreu com as inovações de produto,
com relação aos processos, as inovações introduzidas pelas empresas se constituíam em
melhorias ao seu processo de produção, não se caracterizando em processo novo, seja
para o setor nacional, seja internacional. A partir do depoimento das empresas e das
organizações na fase qualitativa desse estudo, pode-se segmentar as inovações de
processo em dois tipos: inovações no processo de produção de uvas (videiras) e
inovação no processo de vinificação.
Nos últimos anos, as inovações no processo de produção de uva têm chegado
com maior velocidade aos produtores vitícolas, em parte por conta da pressão do
mercado pela obtenção de um produto de melhor qualidade, além do fato de inúmeras
vinícolas e organizações estarem envolvidas em processos de denominação de origem, o
que reforça a pressão pela obtenção de insumos de melhor qualidade. A primeira grande
inovação, segundo as empresas e organizações ouvidas na pesquisa, consiste na
alteração dos sistemas de manejo do solo e da videira. No caso específico do solo,
128
busca-se a redução no nível de adubação por planta. Além disso, tem-se difundido a
utilização de duas podas na planta, uma chamada seca e outra intitulada parte verde,
cujo intuito é reduzir o excesso de ramos e eliminar os cachos com má formação,
diminuindo a produção e promovendo a melhoria da qualidade da uva. Não raro as
empresas de maior porte fornecem assistência técnica aos agricultores integrados que
produzem uvas para a empresa.
Quadro 4 – Inovações e principais agentes de desenvolvimento (2007 a 2009)
Inovações de Produto
Inovações de Processo
Desenvolvimento
Próprio
Desenvolvimento com
Parceiros
- Introdução de vinhos varietais;
- Introdução de vinhos com
combinações de varietais;
- Introdução de espumantes;
- Introdução de sucos de uva;
- Manejo do solo e das videiras*;
- Reconversão das videiras*;
- Mecanização do recebimento de
uvas até fermentação;
- Automatização da fermentação;
- Investimento no envelhecimento
e no armazenamento dos produtos;
- Manejo do solo e videiras*;
- Reconversão de videiras*.
Fonte: Elaborado pelo autor a partir das entrevistas. As inovações indicadas com (*) são desenvolvidas
tanto pelas empresas individualmente, quanto por essas com o auxílio de parceiros (empresas ou
instituições).
Outra inovação de processo, na etapa de produção de uvas, anunciada pelas
empresas da amostra, consiste na intensificação da reconversão das videiras. Por
reconversão das videiras entende-se a substituição do sistema de condução dos vinhedos
de latada para o de espaldeira, a fim de se obter uma produtividade média entre 7 a 10
toneladas por hectare. Na Serra gaúcha, tem-se expandido a quantidade plantada de
cultivares viníferas tradicionais, destinados à produção de vinhos finos tintos e brancos,
entre os quais se destacam as variedades Cabernet Sauvignon, Merlot e Tannat, por sua
maior adaptação à região. As mudas dessas castas, na sua maioria, são importadas da
Itália e da França, apesar de já existir o desenvolvimento endógeno de mudas dessas
variedades, produzidas e comercializadas pela Embrapa Uva e Vinho. Apesar desse
processo de reconversão ser uma tendência nacional na produção de uvas e vinhos, as
129
áreas com indicação de procedência, como é o caso do Vale dos Vinhedos (Bento
Gonçalves), têm acelerado esse processo de reconversão, buscando que tal processo se
conclua em até vinte anos. Outras áreas de produção de uvas no RS, de plantio mais
recente, já têm iniciado suas operações através do uso de sistemas do tipo espaldeira, e o
cultivo já é, em sua grande maioria, de cultivares viníferas.
A outra forma de inovação de processo identificada pelos respondentes diz
respeito ao processo de vinificação. Apesar da pesquisa questionar acerca das inovações
realizadas nos últimos três anos, várias dessas modificações vêm sendo apontadas por
uma série de estudos que vem ocorrendo junto ao setor vitivinícola nos últimos dez
anos, pelo menos41.
A primeira grande inovação introduzida no processo de vinificação pelas
empresas diz respeito à mecanização de uma série de etapas, que vão desde o
recebimento das uvas até a fermentação. Investimentos na aquisição de esteiras para
recebimento de uvas e de desengaçadeiras constituem as principais inovações de
processos, uma vez que com tais equipamentos o desengace e a primeira etapa de
esmagamento das uvas se dão de forma mais delicada, auxiliando as etapas posteriores
de fermentação e maceração do vinho. Para nove empresas da amostra, tais
equipamentos foram importados, mas poderiam ter sido adquiridos no mercado
nacional, através de empresas fabricantes, localizadas em São Paulo. Duas
microempresas pertencentes à amostra informaram que possuíam desengaçadeiras
importadas, usadas, compradas de outras vinícolas da região. A resposta para tal
comportamento, segundo as empresas (e de certa forma ratificada pela maioria das
empresas pesquisadas), consiste no fato dos equipamentos importados desempenharem
41
Ver: BELLÉ (2003); LOVATEL (2002); TRICHES (2007).
130
melhor a atividade, sendo de certa forma, tecnologicamente superiores aos produtos
nacionais.
Outro investimento bastante freqüente entre as empresas investigadas consiste
no sistema de fermentação, em geral realizados em tanques de inox. Nestes casos, a
grande inovação tem se dado na aquisição de tanques com controles automáticos de
temperatura, tornando a etapa de fermentação mais precisa. Contrariamente ao que
ocorre com as desengaçadeiras, no caso dos tanques de inox, a quase totalidade das
empresas questionadas informou possuir equipamentos de origem nacional, produzidos
por empresas localizadas na Serra gaúcha. Quando questionadas, as empresas
informaram que tais produtos, produzidos nos municípios do APL, se equivalem
tecnologicamente àqueles produzidos pelos grandes produtores internacionais desses
equipamentos.
Por implementarem inovações de processos incrementais, as vinícolas
investigadas atrelam tal inovação à aquisição de máquinas e equipamentos, parte deles
nacional, parte importada. Ainda que já se desenvolva, internamente no APL, um
pequeno conjunto de firmas locais de máquinas e equipamentos, para algumas
categorias de produtos, ainda não há similar nacional, ou o existente não condiz com os
padrões de qualidade exigidos pelas vinícolas, padrões esses que são ditados pelos
grandes players internacionais (produtores de equipamentos). Essa estratégia tem sido a
mesma empregada por grande parte da indústria nacional, que a despeito do
fortalecimento e do incremento tecnológico endógeno, bem como da melhor
estruturação de um sistema nacional de inovação, tem-se acessado tais tecnologias via
aquisição externa, tornando mais precário o gap existente entre a tecnologia nacional e a
produção de ponta em outros países.
131
Por fim, a última inovação mais citada pelas empresas e organizações
entrevistadas consiste no processo de armazenamento e envelhecimento do vinho nas
garrafas. Primeiramente, para os vinhos finos, para que se complete o processo de
vinificação, é importante que esses passem por uma etapa de envelhecimento, em geral
em barris de carvalho americano ou francês. O tempo de permanência nos barris é
determinado pelo tipo de vinho que se pretende elaborar. Quanto mais tempo esse
permanecer nos barris, maior o seu valor agregado, uma vez que o contato com a
madeira confere ao vinho especificações únicas. Saindo dos barris, o vinho fino é
engarrafado, sendo conduzido às caves, que se constitui na última grande inovação de
processo42. As caves são espaços para o envelhecimento dos produtos, com
luminosidade e temperatura controladas. O tempo de permanência nas caves também
depende da sofisticação que se pretende conferir ao vinho: quando maior o tempo de
cave, mais estabilizado será o vinho, logo, maior seu valor agregado.
As empresas também foram questionadas acerca de inovações organizacionais
que por ventura tenham implementado nos últimos três anos. A realização de mudanças
organizacionais esteve presente na rotina de 65% das empresas entrevistadas. Entre as
principais modificações, destacam-se a implementação de mudanças na estrutura
organizacional das firmas, seguida de alterações nos conceitos e práticas de marketing e
comercialização. Apenas três empresas da amostra afirmaram ter iniciado alterações nos
processos de gerenciamento, a fim de atender normas de certificação do tipo ISO 9000.
Entre as modificações organizacionais implantadas pelas micro e pequenas
empresas estão a introdução de reuniões periódicas de avaliação do desempenho e a
implantação de programas de cargos e salários. Para a quase totalidade das empresas, o
42
As caves em si não se caracterizam como inovações, porém, segundo alguns especialistas entrevistados na fase
qualitativa da pesquisa, grande parte das vinícolas nacionais produziram, durante muito tempo, vinhos jovens, para
consumo em até um ano. Nos últimos anos, com a maior qualificação dos vinhos finos, é que se tem investido no
envelhecimento dos produtos, criando “vinhos de guarda”, sendo necessário, então, o uso de caves.
132
principal parceiro dessas mudanças organizacionais tem sido o SEBRAE, que tem
fornecido suporte técnico e de treinamento nesses casos.
Após a etapa de levantamento das principais inovações, procurou-se identificar a
importância dos impactos das inovações de produto e processos sobre o desempenho
geral da empresa, em alguns quesitos específicos. A unanimidade das empresas
pesquisadas afirmou que a maior importância dessas inovações recaiu sobre
diversificação de produtos como uma estratégia deliberada para garantir tanto a
manutenção quanto a ampliação de mercados.
Para 94% das empresas da amostra, as inovações de produto e processo
permitiram aumentar a qualidade dos produtos, garantindo, nos últimos três anos (2007
a 2009), a manutenção de sua participação no mercado. Para 88% dos entrevistados, tais
inovações foram importantes para aumentar a produtividade da empresa, permitindo a
ampliação da oferta no mercado interno, bem como a abertura de novos mercados, até
então não atendidos pela empresa.
Em 65% dos casos investigados, a implementação destas inovações garantiu a
participação da empresa no mercado externo. Em igual proporção, tais inovações foram
importantes por permitirem o enquadramento da empresa em regulamentações e
normas-padrão relativas ao mercado interno e externo.
Com relação ao uso de insumos básicos, 41% das empresas da amostra
afirmaram que tais inovações permitiram uma redução significativa no custo do
trabalho; 29% afirmaram ter reduzido o consumo de matérias-primas, enquanto apenas
12% atribuíram a redução do consumo de energia à implementação de inovações de
produto ou de processo. Para 76% das empresas, o emprego dessas inovações,
associadas às inovações organizacionais, possibilitaram reduzir o impacto da atividade
produtiva sobre o meio ambiente.
133
Aprofundando ainda mais as questões relacionadas à atividade inovativa das
firmas investigadas, perguntou-se sobre o grau de constância de tais atividades, nos
últimos três anos. A síntese das respostas está presente na Tabela 12.
A primeira constatação refere-se ao fato de todas as empresas, em maior ou
menor grau, terem investido, nos últimos três anos, na compra de máquinas e
equipamentos
que
implicaram
em
significativas
melhorias
tecnológicas
de
produtos/processos. Entre as atividades que foram desenvolvidas de forma rotineira,
esta foi a que apresentou maior grau de constância (61,1%).
Tabela 12 – Grau de constância (%) das atividades inovativas desenvolvidas pelas
empresas da amostra (2007 a 2009).
Atividade
Não
desenvolveu
Desenvolveu
rotineiramente
Desenvolveu
ocasionalmente
Total
P&D na Empresa
Aquisição externa de P&D
Aquisição de Máquinas e
Equipamentos que afetaram o
desenv.
de
novos
produtos/processos
Aquisição
de
outras
tecnologias
Projeto industrial ou desenho
industrial
Programas de treinamento e
reconversão de videiras
Programas de gestão da
qualidade
ou
de
modernização organizacional
Novas
formas
de
comercialização
e
distribuição de produtos
33,3
77,8
0
27,8
5,6
61,1
38,9
16,7
38,9
100
100
100
83,3
5,6
11,1
100
16,7
22,2
61,1
100
22,2
44,4
33,3
100
22,2
38,9
38,9
100
16,7
50,0
33,3
100
Fonte: elaborada pelo autor a partir dos dados coletados em campo.
As atividades inovativas menos desenvolvidas pelas empresas pesquisadas
referem-se à aquisição de outras tecnologias, do tipo softwares, licenças ou acordos de
transferência de tecnologia, tais como patentes, marcas, segredos industriais etc. Na
seqüência, as atividades de inovação menos desenvolvidas pelas empresas estavam às
134
vinculadas à aquisição externa de Pesquisa e Desenvolvimento - P&D - (77,8%),
seguida pelo desenvolvimento e implantação de P&D interno à firma (33,3%).
Ainda, de forma rotineira, as empresas pesquisadas apontaram a aquisição de
máquinas e equipamentos que afetaram o desenvolvimento de novos produtos ou
processos (61,1%). Tal informação corrobora a idéia já exposta que parte das empresas
optam pela compra de tecnologias prontas. Tal situação é reforçada pelo fato de 44,4%
das empresas da amostra ter investido na aquisição de treinamentos, ainda que
utilizados nos programas de reconversão das videiras. A compra de tecnologia exige,
por parte da empresa, investimentos que extravasam o valor de aquisição da máquina,
mas contempla, também, a necessidade de treinamento aos trabalhadores envolvidos
com essas novas tecnologias ou novos processos. É importante destacar que outra
atividade inovativa realizada rotineiramente diz respeito a adoção de novas formas de
comercialização e distribuição para o mercado, de produtos novos ou significativamente
melhorados (50%).
O que se pode perceber com relação às atividades inovativas das vinícolas
investigadas é que, com a exceção das atividades ligadas ao desenvolvimento interno ou
aquisição externa de P&D, bem como da aquisição de outras tecnologias (patentes,
marcas etc.), as empresas têm desenvolvido algum tipo de atividade inovativa com um
significativo grau de constância, ainda que este se dê de forma ocasional. O fato das
empresas não investirem em P&D condiz com o perfil da amostra: micro e pequenas
empresas, produtoras de produtos tradicionais, que utilizam tecnologias e processos de
produção estabilizados. Também, o baixo uso de P&D pelas empresas pode ser
explicado pelo fato de suas inovações serem, em suma, incrementais, não exigindo,
assim, grandes aparatos tecnológicos relacionados ao processo produtivo. A exceção são
as empresas de maior porte, entre elas duas das empresas entrevistadas, que possuem
135
seus laboratórios próprios, contando cada uma com cerca de dez profissionais nas áreas
de química, enologia, biotecnologia e engenharia de alimentos.
No entanto, o não investimento por parte das empresas de menor porte em P&D
não significa que tais atividades não se desenvolvam. Internamente, no APL, diversas
organizações têm o papel de executar essa tarefa, tais como a Embrapa Uva e Vinho e o
Campus Bento Gonçalves do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS).
As pesquisas tecnológicas desenvolvidas pela Embrapa e pelo IFRS são
socializadas às empresas de diversas formas, desde a realização de eventos científicos
destinados aos enólogos, passando pela formação acadêmica e profissional desenvolvida
nesta instituição de ensino, indo até as atividades de extensão desenvolvidas por ambas
as instituições, que promovem uma maior interação entre empresas e os projetos de
pesquisa e qualificação desenvolvidos no interior do APL. Ainda assim, existe pouca
interação das empresas com instituições desse tipo (ensino e pesquisa). Tal informação
é corroborada, como já se viu, pelo fato de apenas 25% das respondentes afirmarem ter
desenvolvido alguma inovação, no período analisado, em parceria com outra empresa
ou instituição.
Outra informação interessante diz respeito aos gastos despendidos para o
desenvolvimento das atividades de inovação, considerando os gastos médios realizados
em 2009. Em média, os gastos com atividades inovativas representaram cerca de 3% do
faturamento das empresas entrevistadas em 2009. Para dezoito empresas da amostra, a
fonte principal de financiamento dessas atividades concentra-se nos recursos próprios da
empresa. Apenas duas empresas informaram utilizar recursos de terceiros, em especial
recursos repassados por meio do FINAME, empregados principalmente na aquisição de
máquinas e equipamentos de origem nacional. Apenas seis empresas das vinte
136
pesquisadas informaram haver gastos em 2009 com P&D, sendo que esses
representaram não mais de 2% do faturamento delas no mesmo ano.
Tais investimentos, ainda que aparentemente pequenos, encontram guarida nos
número expressos na média da indústria nacional em investimentos em P&D, que é de
3% do faturamento das empresas (PINTEC, 2002). Condiz, também, com a
característica da atividade produtiva e inovativa do setor vitivinícola. Na visão de vários
especialistas entrevistados, as inovações no arranjo produtivo tendem a caminhar rumo
aos vinhedos, onde efetivamente se pode gerar diferenciação de produtos e ganhos
permanentes de competitividade. Assim, justifica-se o baixo investimento em P&D no
interior das vinícolas, uma vez que boa parte dos gastos inovativos é direcionada para a
reconversão dos vinhedos e para a qualificação dos varietais empregados.
Outra questão relevante investigada pela pesquisa foi levantar se as vinícolas
efetuaram, entre 2007 e 2009, atividades de treinamento e capacitação de seus recursos
humanos. Tal avaliação torna-se importante, pois através da promoção de tais atividades
desenvolvem-se os processos de aprendizado, formal ou informal, tanto no interior das
firmas como no interior do APL. A Tabela 7, abaixo, aponta as principais ocorrências
com relação à execução de atividades de treinamento, capacitação e absorção da mãode-obra qualificada.
137
Tabela 13 – Freqüência (%) das atividades de treinamento e capacitação de
recursos humanos pelas vinícolas da amostra (2007 a 2009)
Descrição
Ocorrência
Total
(%)
Sim (%) Não (%)
Treinamento na empresa
Treinamento em cursos técnicos da região
Treinamento em cursos técnicos fora da região
(Brasil)
Treinamento em cursos técnicos fora da região
(exterior)
Estágios em empresas fornecedoras ou clientes
Estágios em empresas do grupo
Contratação de profissionais técnicos de outras
empresas da região
Contratação de profissionais técnicos de
empresas de fora da região
Absorção de formandos dos cursos universitários
localizados na região ou próximos
Absorção de formandos dos cursos técnicos
localizados na região ou próximos
Fonte: pesquisa de campo.
55,6
83,3
52,9
44,4
16,7
47,1
100
100
100
66,7
33,3
100
11,1
5,6
50
88,9
94,4
50
100
100
100
22,2
77,8
100
83,3
16,7
100
77,8
22,2
100
A partir das informações da Tabela 13, pode-se inferir constatações acerca da
relação das vinícolas pesquisadas e a qualificação de seus recursos humanos.
Primeiramente, cabe salientar que um pouco mais da metade das empresas da amostra
afirmou ter realizado cursos e treinamentos internamente (55,6%). Outra característica
marcante é a preferência por realização de treinamentos da força de trabalho junto aos
cursos técnicos da região (83,3%), consolidando a importância do arranjo para a
qualificação da mão-de-obra local. Em ambos os casos, as empresas entrevistadas
apontam um freqüência média semestral de realização desses cursos (internamente ou
nos cursos técnicos da região).
Treinamentos fora da região da Serra gaúcha também ocorrem, havendo uma
ocorrência levemente superior nos treinamentos que se realizam no exterior (66,7%) em
relação àqueles realizados em outros estados do Brasil (52,9%). Os cursos no exterior,
que ocorrem com uma periodicidade média anual, têm o objetivo de atualizar enólogos,
138
diretores e proprietários de vinícolas das tendências no mercado internacional do vinho.
Os principais destinos são os tradicionais países produtores de vinho da Europa (Itália,
França e Portugal). Os cursos realizados em outros estados do país, com periodicidade
média também anual, têm por objetivo aprimorar os responsáveis pelas áreas de
comercialização, distribuição e exportação das vinícolas. Geralmente, segundo
informações dos respondentes, tais cursos se dão em São Paulo e no Rio de Janeiro,
principais pólos de comercialização de vinhos no Brasil. Além dos treinamentos, os
profissionais aproveitam a oportunidade para aprofundar os contatos com seus
principais clientes, localizados nessa região.
Em decorrência do perfil da amostra, a quase totalidade das firmas investigadas
(94,4%) afirmou não terem realizado atividades de estágio em coligadas ou controladas.
Outra informação relevante diz respeito à realização de estágios em fornecedores e
clientes. Para quase nove em cada dez empresas entrevistadas, a realização dessas
atividades com fornecedores ou clientes não são relevantes. Aqui parece haver uma
confirmação do que aponta a literatura evolucionista, notadamente quando se explica a
presença mais intensa do “learning-by-interacting” entre firmas e seus fornecedores em
setores mais vinculados ao uso de tecnologias de ponta, como é o caso dos setores de
informática e aeroespacial (ROSENBERG, 2006). No caso específico da vitivinicultura
da Serra gaúcha, como ficará claro mais à frente, percebe-se que o aprendizado por
interação se restringe às atividades comerciais, em especial àquelas relacionadas à
abertura de oportunidades de negócio no exterior.
Com relação aos clientes, um grande número de entrevistados aponta para a
existência de um grande hiato entre as vinícolas e seus clientes, sejam esses nacionais
ou estrangeiros. Várias organizações do setor corroboram essa visão, indicando a
importância, nos próximos anos, de se investir na estruturação dos canais de
139
comercialização, em especial na melhoria das relações com os grandes varejos
supermercadistas do país. Esses canais necessitam de formação e informação acerca dos
produtos vinícolas, a fim de propiciar uma venda mais qualificada dos produtos.
Sabedor dessa necessidade, o IBRAVIN prepara-se para lançar uma grande campanha
de marketing, ao longo de todo o ano de 2010, junto às gôndolas de supermercados,
cuja finalidade é estimular o consumo de vinhos através da educação do consumidor
sobre os produtos elaborados no Brasil. A idéia é também promover a valorização do
vinho nacional em relação aos concorrentes estrangeiros. As questões logísticas têm
ocupado um papel de destaque na pauta de ações das empresas nacionais, em grande
parte pela baixa competitividade que as mesmas têm em relação às estrangeiras, nesta
área de distribuição.
Uma agenda comum para os empresários dos diversos segmentos da
vitivinicultura da Serra gaúcha é a preocupação em intensificar a relação com os agentes
da cadeia de comercialização e distribuição de vinhos e derivados. Tais laços são
fundamentais para se solidificar o papel de dominância no mercado interno. Nesse
sentido, falta às empresas do setor, de forma geral, maior competitividade em termos de
logística de distribuição. Em entrevista realizada junto a uma das maiores vinícolas do
país, esta confidenciou que a empresa mais ágil do setor atende um pedido realizado em
São Paulo em quatro dias. Em contrapartida, qualquer empresa argentina, sediada em
Mendoza, na fronteira com o Chile, entrega a mesma encomenda em dois dias. O
avanço nessas questões requer um forte investimento por parte das empresas, em
especial de novos processos de fabricação e distribuição, exigindo a internalização de
novos aprendizados tecnológicos.
Para analisar os processos de aprendizagem, buscou-se identificar o fluxo de
informações bem como o uso de fontes internas e externas. Assim, o instrumento de
140
pesquisa buscou analisar, no período avaliado, se as empresas efetivaram atividades de
treinamento e capacitação de seus recursos humanos, bem como o grau de importância
das fontes de informação internas (P&D, área de produção e vendas etc.) e externas
(clientes, concorrentes, universidades, centros de pesquisa etc.).
O aprendizado tecnológico, em sua grande maioria, se dá pelo “aprenderfazendo”, ou ainda pela contratação de profissionais técnicos formados nas instituições
de ensino da região. Percebe-se uma preferência clara pela contratação de profissionais
da Serra gaúcha, e certa rejeição aos profissionais de outras regiões. De igual modo, as
vinícolas apresentam-se como o destino de grande parte dos egressos de cursos
universitários da região (83,3%), bem como dos cursos técnicos localizados no APL
(77,8%).
Além da capacitação da mão-de-obra, intentou-se verificar o papel que
desempenharam as fontes de informação das vinícolas para o seu processo de
aprendizagem, no período de 2007 a 2009. Para as vinícolas entrevistadas, a principal
fonte de informação para o aprendizado são as que se originam no interior das firmas.
Nesse sentido, cumprem um papel fundamental as informações advindas das áreas de
P&D e laboratório (73%)43 e da produção (75%). As áreas de vendas, marketing e
atendimento ao cliente também apresentam uma elevada importância para os processos
de aprendizado internos à firma (75%). Tal situação reforça que o tipo de aprendizado
utilizado nas vinícolas se aproxima do “learning-by-doing”, visto que o aprendizado
dessas empresas está calcado e é decorrente da sua própria atividade produtiva.
As fontes externas de informação com maior grau de importância para as
vinícolas estudadas são os fornecedores de máquinas e equipamentos e de insumos
43
Para a maioria das empresas entrevistadas, a existência de uma pequena área com tubos de ensaio e reagentes,
utilizados pelo enólogo, constitui um laboratório. Ficou evidente nas observações de campo que muito poucas
informações poderiam ser originadas de ambientes tecnologicamente tão restritos. A exceção se dá nas duas empresas
de maior porte, que empregam cerca de dez profissionais cada, envolvidos exclusivamente em atividades de pesquisa
e desenvolvimento de produtos.
141
(químicos e enológicos), que são considerados por 85% das firmas da amostra. Para
essas vinícolas, não são quaisquer fornecedores que apresentam importância na sua
relação, mas àqueles localizados nos municípios da região da Serra. Esse dado confirma
a forte relação existente entre vinícolas e seus fornecedores, explicitado no capítulo
anterior, quando da caracterização produtiva do APL. Com o estreitamento dessas
relações promove-se o estabelecimento de trajetórias incrementais nas inovações
inerentes ao setor. Nesse caso, percebe-se que o processo de aprendizagem se aproxima
do “learning-by-interacting”, dada a natureza do envolvimento entre usuários e
produtores na promoção de inovações (LUNDVALL, 1998).
Os clientes ocupam o segundo lugar em importância (62%) com relação às
fontes externas de informação para o aprendizado. Os clientes que recebem maior
atenção, diferentemente dos fornecedores, são os que se localizam em outros estados do
país, em especial no sudeste (São Paulo e Rio de Janeiro). A informação repassada
pelos clientes dessas localidades é preferida em virtude do volume de vendas e da
capacidade de consumo existentes nessa região. O terceiro colocado na importância das
fontes externas de informação são os concorrentes (52%), principalmente os localizados
no APL. Nenhuma empresa entrevistada apontou a existência de algum sistema formal
de monitoramento das ações dos concorrentes locais. Isso porque as ações das empresas
do APL são reconhecidas, além do ambiente de mercado, através das relações sociais
que se estabelecem entre as firmas dentro do APL.
Outras fontes de informação para o aprendizado da firma são as universidades e
as instituições de pesquisa. Quando questionadas sobre a importância dessas instituições
como fonte de aprendizado, as vinícolas entrevistadas concentraram a importância na
relação existente com os institutos de pesquisa, em especial a Embrapa Uva e Vinho
(95%). Para apenas 5% das empresas da amostra, as universidades e instituições de
142
ensino técnico e profissionalizante apresentam-se como importantes fontes de
informações tecnológicas e de aprimoramentos das atividades de produção. Para o
diretor-geral do Campus Bento Gonçalves do IFRS, durante cerca de 50 anos, a
instituição preocupou-se única e tão somente com a formação de recursos humanos
técnicos para as firmas vinícolas locais. A dedicação à pesquisa e à extensão são
atividades recentes, presentes apenas nos últimos dois anos. A Embrapa, em
contrapartida, apesar de parecer elitista para um grande número de empresários, tem
sido a única instituição que ao longo dos anos tem se dedicado à pesquisa, recebendo o
reconhecimento nacional e internacional por suas produções científicas nas áreas da
produção vitícola e vinícola.
Outras fontes importantes de informação para as firmas vinícolas estudadas são
as conferências, seminários, cursos etc. (82%), realizados na região da Serra ou no
exterior, seguidas das exposições em feiras e concursos (80%). A participação em
associações empresariais locais (80%) e os encontros de lazer na região (78%) também
foram destacados. Esses dois últimos pontos sinalizam a importância de se olhar a
produção vitivinícola pela ótica dos arranjos produtivos localizados, uma vez que a
proximidade dos agentes econômicos importa para o estabelecimento não apenas de
estratégias internas às firmas, como também para a consolidação de uma agenda comum
de debates, envolvendo vinícolas, produtores de uva, instituições diversas e o próprio
Estado, em suas diversas esferas.
As informações obtidas junto às empresas possibilitam verificar a presença
marcante de dois processos de aprendizado que dão sustentação as atividades inovativas
das vinícolas: a) “learning-by-doing”, que através da análise das fontes de informação
interna (notadamente as informações da produção e da área comercial), possibilitam a
introdução de novos produtos ou de variações de produtos já existentes; b) “learning-
143
by-interacting”, que através da análise das fontes de informação externas
(principalmente as advindas da relação com os fornecedores), possibilitam implementar
processos produtivos melhor adaptados às necessidades e características das vinícolas.
A inovação introduzida, em ambos os casos, é do tipo incremental
Na seqüência da pesquisa, buscou-se identificar quais foram os principais tipos
de informação que as empresas obtiveram a partir do contato com as diversas fontes de
informação para o aprendizado, sejam essas internas ou externas às firmas. Para 16
empresas da amostra, as fontes serviram para fornecer informações sobre a existência de
novos produtos e processos de produção de uvas e vinhos. Já para 19 empresas, a
importância das fontes estava em fornecer informações sobre possíveis melhorias
tecnológicas, tanto nos produtos quanto nos processos. É importante destacar a presença
de um verdadeiro esforço inovativo entre as empresas entrevistadas, expressas pelos
dados recém citados.
Apenas 35% das empresas buscaram, nas diversas fontes, informações sobre
novos concorrentes. Informações sobre a existência de consultores especializados são
consideradas irrelevantes ou de baixa importância para 80% das empresas investigadas,
que não recorrem a este tipo de expediente para obtenção de maior conhecimento.
Apenas uma empresa da amostra utiliza os serviços de um consultor internacional, que
para muitos dos entrevistados é visto mais como uma jogada de marketing da empresa,
no sentido de valorizar sua marca através da associação de sua imagem com a de um
renomado enólogo internacional.
Para reforçar o que já foi mencionado com relação aos fornecedores, para todas
as empresas da amostra, a informação principal que se pode obter das diversas fontes de
informação é sobre a existência de novos fornecedores. A relação com os fornecedores
apresenta-se como uma das relações de maior importância estratégica para as firmas
144
entrevistadas. A busca de novos parceiros potenciais e de novas oportunidades de
negócios é citada como elementos importantes para 90% das empresas entrevistadas.
Em contrapartida, 95% das empresas afirmam não buscar informações sobre fontes de
financiamento. Isso talvez ocorra por conta da preferência das empresas de realizarem
seus investimentos utilizando, na sua quase totalidade, recursos próprios, evitando
assim, um elevado endividamento44.
Um dos eixos centrais desta pesquisa consiste em compreender as atividades
cooperativas, formais ou informais, que se estabelecem entre as firmas vinícolas do
APL da Serra gaúcha. Para tanto, questionou-se as empresas da amostra se, nos últimos
três anos (2007 a 2009), estiveram envolvidas em atividades de cooperação com
outra(s) empresa(s) ou organização(ões). Todas as vinte empresas da amostra afirmaram
ter desenvolvido alguma atividade cooperativa nesse período.
Posteriormente, buscou-se identificar que agentes desempenharam papel
importante como parceiros dessas empresas. Por ordem de importância, o parceiro mais
importante para 82% das empresas da amostra são os fornecedores de insumos, com
uma ocorrência de intercâmbios regulares no período analisado. Muitos desses
intercâmbios na verdade se constituem na venda de produtos químicos às plantações de
uvas, ou ainda o fornecimento de insumos biológicos necessários ao processo de
vinificação. Segundo informações da Embrapa Uva e Vinho em entrevista de campo,
muitos dos problemas fitossanitários que afetam as videiras na Serra gaúcha podem ser
resolvidos sem o uso intensivo de produtos químicos. Muitas vezes a poda adequada da
videira ou mesmo a maior aeração dos cachos se apresentariam como soluções muitas
vezes mais efetivas que o uso de químicos.
44
Não apenas o endividamento é reduzido nesses casos, como também a capacidade de investimento, além de
imobilizar parte do capital que deveria ser utilizado no financiamento das operações de curto prazo da empresa.
145
Mais uma vez corrobora-se o que já foi expresso pelas empresas com relação ao
uso de fontes de informação. Isso aponta para a compreensão de que a relação estreita
com os fornecedores, para as vinícolas estudadas, se caracteriza como uma estratégia
deliberada para obtenção de vantagens tecnológicas.
De igual modo, percebe-se no discurso dos empresários do vinho que ao longo
do tempo se estabeleceu uma relação de confiança e cooperação entre eles e as empresas
de equipamentos instaladas na região. Isso porque muitas dessas empresas desenvolvem
soluções muitas vezes para problemas específicos de uma dada vinícola, impondo assim
uma relação que por vezes extravasa a pura relação comercial entre firmas.
Por outro lado, a presença de empresas multinacionais de máquinas e
equipamentos (ainda que apenas sob a forma de escritórios de representação e vendas),
demonstra que ainda há um grande espaço não suprido pelas firmas nacionais. Duas
explicações se apresentam para isso: a) a defasagem tecnológica, em segmentos
específicos, das empresas nacionais de máquinas e equipamentos, em relação às firmas
estrangeiras; b) o status dado à empresa em razão da compra de equipamento
estrangeiro. Esta última explicação surgiu nas entrevistas realizadas com empresas e
organizações quando da realização desta pesquisa. Muitas empresas se utilizam da
importação de equipamentos como signo de prosperidade e sucesso em relação às
demais firmas da região.
O segundo parceiro em ordem de importância são as instituições de
representação (75%); especial menção foi dada ao papel que vem desempenhando o
IBRAVIN, como órgão coordenador das principais iniciativas do coletivo de empresas
do setor.
146
Em terceiro lugar em grau de importância se posicionam, empatadas, as
instituições de apoio e promoção (SEBRAE, Wines From Brazil etc.), com 70% das
indicações das empresas da amostra, e os institutos de pesquisa (69%), em especial a
Embrapa Uva e Vinho.
É importante ressaltar que todos esses quatro agentes citados nos primeiros
lugares de importância em termos de participação em atividades cooperativas, estão
localizados no interior do APL vitivinícola da Serra gaúcha. Assim, ainda que em geral
critérios geográficos não sejam primordiais para o desenvolvimento de atividades
cooperativas, percebe-se que no caso específico da vitivinicultura do RS, a proximidade
territorial, aliada à proximidade social e cultural dos agentes, tem desempenhado um
papel relevante na consolidação de processos localizados de inovação, aprendizado e
cooperação.
Ainda, com relação às atividades de cooperação, foi solicitado aos respondentes
que apontassem os principais motivos por eles considerados no momento do
estabelecimento de relações de parceria. Para a quase totalidade das empresas da
amostra, os principais critérios utilizados são: confiança; reputação do parceiro
(histórico de relações com outras empresas ou organizações); qualificação e
conhecimento técnico do parceiro; qualidade do produto ou do serviço prestado;
proximidade física entre os agentes; e estabilidade institucional do parceiro. Para apenas
duas empresas da amostra a relação com os custos envolvidos na atividade de
cooperação importavam significativamente.
A Tabela 14 demonstra as principais áreas em que as empresas da amostra
afirmaram ter realizado atividades de cooperação, durante o período de 2007 a 2009.
Tais atividades poderiam se dar tanto entre empresas quanto entre empresas e
organizações.
147
Tabela 14 – Áreas em que se estabeleceram atividades de cooperação (2007 a 2009)
Descrição
Ocorrência
Total
(%)
Sim (%) Não (%)
Comercialização
Compra de insumos
Compra de tecnologia
Capacitação
Intercâmbio de pessoal
Exportação/Participação em feiras internacionais
P&D conjuntos
Testes e certificações
Fonte: pesquisa de campo.
90
35
20
65
05
85
30
25
10
65
80
35
95
15
70
75
100
100
100
100
100
100
100
100
Ao se analisar as informações da Tabela 14, percebe-se que as áreas em que as
atividades de cooperação se deram de forma mais intensiva foram a comercialização
(90%), a exportação e a participação de feiras internacionais (85%) e a capacitação de
recursos humanos (65%). Tal situação assim se define, pois 13 das 20 empresas da
amostra participam ativamente do consórcio de exportação intitulado Wines from Brazil,
projeto coordenado pelo IBRAVIN em parceria com 38 vinícolas brasileiras (34 delas
localizadas no APL vitivinícola da Serra gaúcha), com aporte financeiro da Agência de
Promoção de Exportações e Investimentos (APEX BRASIL). Nesse sentido, verifica-se
claramente
que as empresas possuem interesses específicos nas áreas de
comercialização e exportações, sendo essas as que atraíram a maioria das atividades de
cooperação.
As áreas de menor interesse em se promover atividades de cooperação são:
intercâmbio de pessoal (95%), na compra de tecnologia (80%), no desenvolvimento de
P&D conjuntos e realizações de testes e certificações (respectivamente 70% e 75%) e na
compra de insumos (65%). Como era de se esperar, percebe-se que nas áreas mais
nevrálgicas, em que se estabelece boa parte do diferencial competitivo das vinícolas, as
empresas não desenvolvem atividades de cooperação, como por exemplo, na promoção
148
de intercâmbios de pessoal, cuja intenção é evitar a “apropriação de saberes”, que são da
empresa, e foram construídos ao longo do tempo.
As empresas da amostra também foram questionadas com relação às formas de
cooperação que essas estabeleceram com outras empresas ou organizações. A Tabela 15
apresenta as principais formas apontadas pelas firmas respondentes.
Tabela 15 – Formas de cooperação que se estabeleceram (2007 a 2009)
Descrição
Ocorrência
Total
(%)
Sim (%) Não (%)
Contratos informais
Joint Ventures
Consórcios
Acordos
Consultorias
Subcontratação
Fonte: pesquisa de campo.
100
5.6
83,3
0
22,2
0
0
94,4
16,7
100
77,8
100
100
100
100
100
100
100
Basicamente, as formas de cooperação que se estabelecem para as empresas
pesquisadas são os contratos informais e o consórcio, em especial o consórcio de
exportação mencionado anteriormente. Apesar de não se constituir em uma atividade
cooperativa (uma vez que é uma relação estritamente comercial), para quatro empresas
da amostra (22,2%) ocorre cooperação sob a forma de consultoria, sendo que três dessas
empresas consideram ações desenvolvidas em conjunto com o SEBRAE como
atividades de cooperação. Apenas uma empresa da amostra utiliza-se de Joint Ventures,
nesse caso específico estabelecendo parcerias com três grandes vinícolas internacionais.
As empresas da amostra também foram questionadas com relação às razões que
as conduziram às ações de cooperação, especialmente com agentes localizados nos
municípios da região da Serra gaúcha, entre 2007 e 2009. As razões que apresentaram
maior grau de importância para as empresas da amostra foram: a participação conjunta
em feiras, exposições, concursos etc. (95%), a realização de venda conjunta (90%), a
149
elaboração e encaminhamento de reivindicações comuns (89%). Confirma-se ai o
interesse das empresas investigadas em cooperar em atividades comerciais, em especial
àquelas que facilitam o ingresso, ou reduzem o risco, aos mercados internacionais.
As ações de cooperação ficam fortemente comprometidas em áreas como
obtenção de financiamento, criação de design de produtos e embalagens e o
desenvolvimento conjunto de produtos e processos. Novamente fica claro que naquelas
áreas em que se dá a competição entre as vinícolas, não ocorre cooperação, ainda que as
empresas se localizem no interior de um APL. Isso significa dizer que os APL’s não são
espaços de ausência de competição, mas sim espaços em que as trocas cooperativas,
ainda que em áreas específicas, são propiciadas.
Foi solicitado às empresas da amostra que avaliassem os resultados obtidos com
as ações conjuntas realizadas com agentes locais. Os resultados com maior importância
para as empresas foram a melhoria nas condições de comercialização dos produtos
(75%), seguida da melhoria da promoção do nome/marca da empresa no mercado
nacional (70%), além do surgimento de novas oportunidades de negócios (65%) e maior
inserção da empresa em mercados internacionais (65%). É importante ressaltar que para
muitas empresas vinícolas, a comercialização de seus produtos em mercados
internacionais, bem como a presença em feiras e exposições no exterior, tem sido a
garantia de uma maior valorização de seus produtos no mercado interno. Assim, as
estratégias de comercialização no mercado exterior é uma estratégia para, em última
instância, ampliar sua participação no mercado nacional. Por esse motivo muitas
empresas da amostra aceitam cooperar para acessar mercados estrangeiros, pois buscam
nessa atividade cooperativa a minimização dos riscos inerentes à atividade exportadora.
Os resultados com avaliação irrelevante ou com baixa importância para as
empresas investigadas são justamente aqueles relacionados ao desenvolvimento
150
conjunto de ações inovativas, seja no desenvolvimento de novos produtos (70%), seja
na melhoria dos processos produtivos (75%). A área em que as empresas apresentaram
menor interesse em desenvolverem ações conjuntas foi na implementação de inovações
organizacionais (84%).
Por fim, solicitou-se que as empresas apontassem as principais dificuldades para
se desenvolver ações cooperativas, principalmente entre empresas. A maioria da
empresas não encontra dificuldade para identificar parceiros (60%). Para dez empresas
da amostra, o problema também não reside na falta de parceiros com um mínimo de
requisitos desejados. Porém, a quase totalidade das empresas (95%) destaca que a
principal barreira ao desenvolvimento de atividades cooperativas é a ausência local de
uma cultura de cooperação, seguida por uma profunda falta de confiança entre os
agentes da região (90%). Esse é um dos pontos que requereria um estudo mais
aprofundado, contando com o auxílio de outras áreas do conhecimento, a fim de melhor
compreender as razões para esta falta de confiança, que na opinião dos próprios
entrevistados, dificulta em muitos momentos a obtenção de melhores resultados, não
apenas para as firmas de forma isolada, mas também para o coletivo de empresas de
maneira geral.
Dito isso, cabe avaliar a opinião dos respondentes com relação a estrutura,
governança e vantagens associadas ao APL da vitivinicultura da Serra gaúcha.
4.3 Estrutura, governança e vantagens associadas ao ambiente local
Parte do instrumento de pesquisa foi dedicado a avaliar o grau de importância
das externalidades associadas à localização da empresa no Arranjo Produtivo da
vitivinicultura da Serra gaúcha. A importância desse tipo de avaliação está em verificar,
151
entre outras coisas, o grau de pertencimento percebido pelos empresários, bem como as
vantagens de terem suas firmas instaladas em meio a um ambiente de aglomeração
empresarial.
Para as empresas pertencentes à amostra, os fatores que apresentaram maior
importância com relação às externalidades advindas da localização das firmas são: a
qualidade da mão-de-obra e a proximidade com fornecedores de matérias-primas (95%);
a existência de uma infraestrutura (física e de serviços) no local, além da existência de
serviços técnicos especializados (90%). Tal avaliação se relaciona ao fato de 85% dos
empresários entrevistados apontarem ser de alta relevância o fato de estarem próximos
de produtores e fornecedores de máquinas e equipamentos.
A importância dessa proximidade com os fornecedores ficou explícita durante as
entrevistas, quando 12 empresas da amostra citaram entre os principais parceiros, algum
fornecedor, seja de máquina e equipamentos, seja de outros insumos para a produção de
uvas e vinhos. A proximidade com esses agentes, para além das questões geográficas, se
dá no âmbito das relações sociais e pessoais entre os empresários e os fornecedores (ou
ainda desses com os representantes de venda das empresas estrangeiras fornecedoras de
insumos). A relação vai além da “pura relação de mercado”. Um dos respondentes,
enólogo-chefe de uma grande empresa da amostra, informou que realiza compras de
diversos tipos de insumos biológicos, um de cada vendedor, mesmo sabendo que essa
atitude o coloca em risco, uma vez que pode ocorrer a contaminação cruzada dos
produtos, dada a “convivência” de vários tipos de agentes biológicos em um mesmo
recinto. A justificativa dele para essa atitude é a convivência, não só profissional, mas,
sobretudo, social com esses vendedores. “Conheço a família e os filhos de todos os
vendedores que batem à minha porta, penso neles, e acabo comprando um pouco de
cada um deles”, afirmou o enólogo durante a entrevista. Diante disso, convém citar
152
Putnam (1994), que afirma ser o capital social uma “cola social”, que estabelece
conexões entre indivíduos e as redes sociais, gerando normas de reciprocidade que
emergem dessas conexões.
Outras externalidades avaliadas pelos respondentes, que receberam um grau de
importância elevado para 80% das firmas pesquisadas foram: disponibilidade de mãode-obra em quantidade suficiente para suprir as demandas internas do APL, bem como a
existência de programas de apoio e promoção, vinculadas à produção de uvas e vinhos,
na região da Serra gaúcha. A proximidade com universidades e centros de pesquisa é
avaliada como importante para 75% da empresas da amostra. Ao contrário do que
ocorre com os fornecedores de insumos, percebeu-se, ao longo das entrevistas, que a
simples proximidade locacional não gera, automaticamente, relações de reciprocidade
entre empresas e universidades ou centros de pesquisa. As duas instituições utilizadas
como referências nessas áreas (Embrapa Uva e Vinho e o Campus Bento Gonçalves do
IFRS) apresentam-se com as maiores credenciais, em nível nacional e internacional,
seja na área da pesquisa científica e tecnológica, seja na expertise do ensino e formação
de profissionais das áreas de viticultura e enologia.
A Embrapa se apresenta como o maior parceiro das empresas do APL, apesar de
muitas delas, durante as entrevistas, afirmarem que possuem dificuldade de acessar ou
pelo menos de compreender as razões de escolha, por parte da Embrapa, de alguns
estudos. A organização informou que para a realização de muitos dos seus trabalhos, há
necessidade de se desenvolver um forte aparato tecnológico, que muitas vezes não é
absorvido e compreendido pelas empresas. Percebeu-se que a principal diferença entre a
Embrapa e os fornecedores de insumos é que esses se utilizam de uma linguagem mais
próxima da realidade de muitos produtores de uva, bem como de proprietários de
vinícolas. A relação com a Embrapa torna-se menos conflitante quando essa se dá com
153
empresas maiores, ou ainda quando o elo da empresa com a organização é o enólogo ou
o profissional técnico responsável. A transferência de saberes e tecnologias exigem,
prioritariamente, o estabelecimento de uma linguagem comum entre os agentes
envolvidos.
Durante a realização das entrevistas, observou-se que a grande maioria dos
enólogos entrevistados se conhecia pessoalmente, e esse estreito grau de conhecimento
vinha do período de formação profissional junto ao Campus Bento Gonçalves. Esta
aproximação profissional possibilita, conforme indicado por vários enólogos, a troca de
informações e conhecimentos, que acabam por influenciar as decisões produtivas das
firmas locais. Muitos dos enólogos entrevistados apontaram que as atividades
executadas pelo Campus Bento Gonçalves estão aquém daquelas esperadas por eles.
Para os entrevistados, a organização deverá, nos próximos anos, se preocupar não
somente com a formação de mão-de-obra qualificada, mas principalmente com o
estabelecimento de ações de pesquisa e transferência tecnológica às empresas do setor.
O diretor-geral do Campus, em entrevista, informou que a leitura realizada pelos
enólogos estava correta. Desde 1959, quando da sua fundação, a instituição sempre se
comportou como uma escola de ensino profissional e técnico. A alteração de sua
institucionalidade, agora transformada em Campus, assemelhando-se a uma estrutura
universitária, exige dos docentes e técnicos uma postura mais proativa, voltada não
apenas para o ensino, mas também para a pesquisa e a extensão, estreitando ainda mais
as relações entre a comunidade acadêmica e as empresas.
O fator que recebeu menor avaliação de importância por parte dos empresários,
em termos de sua relevância como externalidade importante para o APL, foi o custo da
mão-de-obra. Para 50% das empresas investigadas, esse fator não possui nenhuma
relevância na tomada de decisão com relação à localização da empresa no APL. Durante
154
as entrevistas, um grande número de empresas informou que os custos com mão-deobra são compatíveis ao fato de se empregar, em sua maioria, uma força de trabalho
que, além de escolarizada, possui em grande parte formação técnica. Para 60% das
empresas da amostra, a principal característica requerida da mão-de-obra local, no
momento da contratação, é a escolaridade em nível superior ou técnico. Esse fator só é
suplantado pela busca de profissionais com experiência nos processos de produção,
apontado como muito importante para 90% das empresas da amostra.
Buscou-se investigar qual a avaliação feita pelas empresas da amostra sobre a
contribuição das diversas instituições, associações, sindicatos etc. acerca de uma série
de atividades. Como já se mencionou, existe uma grande quantidade de organizações,
localizadas no APL, vinculadas ao apoio (em suas diversas formas) e à representação
dos agentes ligados à produção de uvas e vinhos.
Dentre as diversas contribuições que essas organizações poderiam apresentar, as
que receberam as piores avaliações se referem à identificação, às empresas, de fontes
alternativas de financiamento. Para 80% das empresas pesquisadas, as diversas
organizações ligadas ao vinho falham no fornecimento desse tipo de informação. Para
65% das empresas da amostra existe, por parte dessas organizações, um baixo estímulo
ao desenvolvimento de sistemas de ensino e pesquisa local. Para 53% dos respondentes
existe falha, também, na promoção de ações dirigidas à capacitação tecnológica das
firmas (com relação a esse ponto específico, a estrutura do instrumento de pesquisa não
nos permite oferecer uma explicação para isso). De maneira geral, talvez a explicação
para as avaliações negativas esteja na já comentada dificuldade de comunicação entre as
instituições, principalmente de pesquisa, e as firmas locais, bem como no
“encasulamento” do Campus Bento Gonçalves.
155
As contribuições mais importantes, desempenhadas pelas organizações locais
ligadas ao vinho, na ótica das empresas, referem-se à apresentação de reivindicações
comuns, apontadas por 80% das empresas entrevistadas. Cabe assinalar o papel
fundamental que cumpre, no discurso dos empresários, o IBRAVIN, que nos últimos
anos vem se consolidando, segundo esses, como o grande articulador e representante do
segmento vitivinícola brasileiro. Muitas ações de sucesso no IBRAVIN têm reforçado
essa visão por parte dos empresários, tais como o estudo de mercado sobre
características do consumo de vinhos, realizado nas principais capitais do país; o
cadastramento vitícola, amplamente desenvolvido no RS, que se estenderá para os
estados de Santa Catarina e Pernambuco, em um segundo momento; a constituição do
Laboratório de Referência Enológica (Laren) 45, em parceria com a Secretaria da
Agricultura e Abastecimento do RS. Tais iniciativas têm ajudado o segmento
vitivinícola a se perceber melhor, não somente por sua importância produtiva, mas
também social, e o grande articulador desse movimento, para grande parte das empresas
investigadas tem sido o IBRAVIN.
Outra contribuição apontada como relevante para 60% das empresas
investigadas refere-se à promoção de ações de cooperação entre empresas e instituições.
Nesse caso, mais uma vez, cumpre um papel fundamental o IBRAVIN, responsável pela
organização do consórcio de exportação Wines from Brazil (WFB), em parceria com a
APEX BRASIL. Para as empresas da amostra, as ações do WFB se constituem em uma
das melhores ações de cooperação entre empresas e instituições já vistas no APL.
Além desses pontos positivos, as empresas da amostra apontaram algumas áreas
em que a contribuição das organizações necessitam ser melhor coordenadas. Para 55%
45
O LAREN, inaugurado em dezembro de 2001, situa-se junto à sede da Divisão de Enologia do Departamento de
Produção Vegetal da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária, Pesca e Agronegócio do Rio Grande do Sul em
Caxias do Sul. É mantido com recursos do FUNDOVITIS (Fundo de Desenvolvimento da Vitivinicultura do Estado
do Rio Grande do Sul), encaminhado conforme convênio com o IBRAVIN.
156
das empresas, há espaços para a melhoria de ações que visem ampliar as informações
sobre novas matérias-primas, equipamentos, assistência técnica, etc. De igual modo,
essas empresas acreditam que se deve estimular a percepção de futuro junto às empresas
do segmento, promovendo o desenvolvimento de ações estratégicas, tanto individuais
quanto conjuntas por parte das firmas do APL. Isso significa que a dificuldade no
desenvolvimento de ações cooperativas não fica restrita ao ambiente interno das firmas,
mas vai além, bloqueando tais ações em nível institucional.
A dificuldade na promoção de ações de cooperação, que extravasem a lógica
comercial, fica clara quando, para apenas 45% dos respondentes, as atividades de
auxílio na definição de objetivos comuns para o conjunto de atores do APL é tida como
relevante. Muitas empresas acreditam que os objetivos comuns no segmento do vinho
dizem respeito apenas às questões de tributação interna (tida como abusiva) e à
necessidade de melhores condições de competição com os concorrentes estrangeiros,
em particular os chilenos e argentinos. Tal situação se reforça, quando apenas quatro em
cada dez entrevistados apontam como importante a criação de fóruns e ambientes de
discussão, que promovam o debate de uma série de temas relevantes, tais como a
reconversão ou não dos vinhedos, a ampliação da fiscalização sanitária, a melhoria das
relações comerciais entre produtores de uvas e vinhos etc.
Obviamente que não se pretende aqui defender a “panacéia” dos processos
cooperativos, mas sim identificá-los e verificar até que ponto tais processos contribuem
para a melhoria do desempenho (ou ao menos sobrevivência) das firmas. O que se
percebe entre as empresas desse APL é a existência de uma forte cooperação
associativa, que vincula as diversas empresas, seus diversos portes e diferentes agendas
em torno de um conjunto significativo de instituições localizadas, que dialogam entre si
com maior ou menor intensidade, buscando atender/defender aos interesses comuns de
157
seus associados. O que se percebe em um grau bem mais reduzido é a cooperação
produtiva, principalmente entre vinícolas, mas bastante existente entre estas e
produtores de uva terceirizados, bem como com instituições de ensino e pesquisa. Como
já apontado por Costa e Costa (2005:12), “naquilo que as empresas concorrem, não se
espera que elas cooperem com facilidade”.
Em entrevista com o diretor-executivo do IBRAVIN, questionado acerca da
coordenação no APL, afirma que o problema não é de falta de coordenação, mas de
excesso, isso porque o setor possui uma tríplice agenda de interesses: a agenda dos
produtores de vinhos finos e espumantes; a agenda dos produtores de vinhos comuns; e
a agenda dos produtores de uva. Ou seja, não é o número de entidades representativas
que se constitui numa barreira para a ampliação de uma maior coordenação no APL,
mas sim a multiplicidade de agendas e interesses.
Tal multiplicidade fica evidente no discurso de empresários vinícolas: àqueles
que dedicam grande parte de sua produção nos vinhos finos, possuem uma postura
ostensivamente defensora dos processos de reconversão de videiras, exterminando a
produção de uvas e vinhos comuns; àqueles que produzem majoritariamente vinhos
comuns têm, em geral, participado dessas discussões de forma mais apática, sem expor
os motivos pelos quais ainda é importante, econômica e socialmente, tal produção. Por
fim ainda há os produtores vitícolas, que ano após ano tem reivindicado ampliações nos
preços do quilo da uva, principalmente às comuns, que garantiria uma melhor condição
a estes trabalhadores do campo. Assim, agendas múltiplas conduzem a presença de uma
coordenação difusa, mas peculiar, entre as empresas do APL.
Nesse sentido, Vargas (2002) apresenta peculiaridades na coordenação das
empresas do arranjo vitivinícola da Serra gaúcha, atribuindo ser a principal delas a
presença de um forte comportamento associativo na relação entre produtores de uva e
158
vinícolas. Esses produtores de uva não estão vinculados a apenas um pequeno número
de vinícolas, que se assim fosse, teriam maior concentração de poder nessa relação.
É essa diferenciação nas agendas de reivindicações que provoca o surgimento de
um número significativo de organizações, que em alguns casos possuem objetivos
justapostos. Vargas (2002) aponta em seu estudo que, não obstante o fato dessas
organizações atuarem na representação dos interesses específicos de cada segmento,
havia um elevado grau de articulação entre elas na promoção de ações conjuntas,
principalmente no que tange à qualificação dos vinhedos e na abertura de novos nichos
de mercado. Os dados obtidos nessa pesquisa não corroboram, em sua totalidade, a
manifestação do autor. Existe sim um grande número de ações sendo executadas, mas
essas não são articuladas. Muitos desses atores, responsáveis por tais ações,
desconhecem o trabalho das instituições vizinhas. A avaliação das ações promovidas
por essas organizações é a tônica da próxima seção.
4.4 Ações de Promoção
O bloco de questões do instrumento de pesquisa atinentes a esse tema tinha por
intenção avaliar o grau de participação e de conhecimento dos programas e ações
específicas para o segmento vitivinícola, promovidos pelas diferentes esferas de
governo ou instituições, pelos entrevistados. A fim de melhor avaliar a posição das
empresas, dividiram-se as instituições em quatro categorias, a saber: instituições e
associações representativas; instituições de ensino superior, técnico e tecnológico;
instituições de pesquisa; e instituições de promoção setorial.
A primeira constatação é que nenhuma das empresas investigadas afirmou
desconhecer quaisquer das categorias citadas. Isso indica que mesmo que seja grande o
159
número de organizações, ainda assim elas são reconhecidas pelas empresas. Também, é
muito comum que as empresas se associem a mais de uma organização, ampliando,
assim, o grau de abrangência das ações promovidas por essas.
A totalidade das empresas pesquisadas afirmou conhecer e participar dos
programas e ações das instituições e associações representativas, tais como IBRAVIN,
UVIBRA, AGAVI, etc. Com relação à avaliação dos programas ou ações desenvolvidas
por essas instituições representativas, todas as pesquisadas avaliaram positivamente o
trabalho desempenhado por tais instituições.
Com relação às instituições de ensino, a posição dos empresários foi menos
consensuada. Para seis das vinte empresas da amostra, o trabalho dessas instituições é
conhecido e as firmas possuem alguma forma de participação nessas ações. As ações
mais citadas com o Campus Bento Gonçalves são a absorção de estudantes dos cursos
superiores e técnicos, seja durante o curso (estágios), seja ao final, pela contratação de
egressos. Outra ação citada é a participação, por parte dos enólogos, no Curso de PósGraduação (Lato Sensu) em Viticultura e Enologia. Apenas duas empresas analisadas
afirmaram não possuir elementos para avaliar as ações dessa instituição. Para 90% dos
respondentes, a avaliação geral dos programas e ações desenvolvidas pelo Campus
Bento Gonçalves do IFRS é positiva.
Com relação às ações e programas específicos desenvolvidos pela Embrapa Uva
e Vinho, 40% das empresas afirmaram conhecê-los, mas não participam ativamente
deles. Doze das vinte empresas da amostra afirmaram não só conhecer, mas também
participar ativamente das ações promovidas pelo instituto de pesquisa. Entre as ações e
programas mais citados pelas empresas durante as entrevistas estão o Programa de
Melhoramento Genético de Uvas e o Projeto de Indicações Geográficas de Vinhos. Para
90% das empresas ouvidas na pesquisa, a avaliação da instituição é positiva.
160
As ações e programas desenvolvidos pelas instituições de promoção setorial são
conhecidos por 85% das empresas da amostra, que afirmaram além de conhecer,
participar ativamente de algum projeto desenvolvido por tais instituições. As
organizações que compõem essa categoria e foram mais citadas pelas empresas são o
SEBRAE/RS e as ações desenvolvidas pelo consórcio de exportação Wines from Brazil,
em parceria com a APEX BRASIL. Para 90% das empresas, a avaliação das ações e
programas específicos ao segmento vitivinícola é positiva.
As empresas avaliaram, também, pela sua importância, que tipo de políticas
públicas poderia contribuir para o aumento da eficiência competitiva das firmas
localizadas no APL. As políticas públicas consideradas menos relevantes para a
competitividade das empresas são os programas de melhoria na educação básica e os
programas de capacitação profissional. Tais questões são menos valorizadas, pois, para
grande parte das empresas investigadas, o nível de escolaridade da mão-de-obra
empregada nas vinícolas é relativamente alto. Além disso, os empresários apontam para
a existência de uma instituição de ensino técnico e tecnológico, gratuita, responsável
pela colocação no mercado de trabalho de cerca de cem profissionais, entre técnicos e
tecnólogos.
Para as empresas, as políticas públicas que apresentam maior relevância para o
segmento vitivinícola são a formulação de programas de incentivos fiscais, aos moldes
do Fundo de Operação Empresa Rio Grande do Sul (FUNDOPEM/RS), porém com
caráter específico para as empresas vinícolas, bem como a criação de linhas de crédito
ou formas de obtenção de financiamentos às atividades produtivas. Tanto empresas
quanto instituições apresentam queixas com relação a postura dos governos, em suas
várias esferas, com relação ao desestímulo à produção, ora por falta de crédito, ora pelo
excesso de impostos incidentes sobre o vinho.
161
O IBRAVIN aponta para o problema que é ter a sua principal receita
(FUNDOVITIS) vinculada à situação orçamentária do governo estadual. Entre 2002 e
2004, os repasses do Fundo foram bloqueados pelo sucessivo déficit orçamentário,
quase causando o fechamento do Instituto. Desde final de 2007, 25% do FUNDOVITIS
é destinado pelas empresas contribuintes diretamente para o IBRAVIN, o que tem
garantido a execução dos projetos mencionados anteriormente. Em nível federal, os
principais problemas estão relacionados às políticas comerciais com os vizinhos do
MERCOSUL, constituindo-se em pauta permanente e especial da Câmara Setorial da
Uva e do Vinho.
Mesmo em meio às dificuldades, apenas uma empresa da amostra, quando
questionada, afirmou que se pudesse mudaria as suas instalações produtivas para fora do
APL. Algumas empresas têm aberto unidades produtivas em outras regiões do RS e do
Brasil. Porém, na opinião de muitas empresas e organizações entrevistadas, elas
desejam obter as vantagens advindas das novas localizações, sem perder os ganhos
referentes de participar do APL da vitivinicultura da Serra gaúcha.
Com relação à exploração dessas novas áreas vitícolas, em especial nas regiões
da Campanha e na fronteira oeste do RS, empresas e instituições apontam para a
inexistência de uma análise mais técnica das possibilidades de produção, fruto da
fragilidade institucional nessas regiões. As estruturas que estão solidamente presentes
na Serra gaúcha, tais como entidades de representação, instituições de ensino e
pesquisa, não se fazem presentes, ainda, nessas áreas. A exploração dessas áreas tem
seguido, em grande parte, a lógica da verticalização de algumas vinícolas, em geral as
de maior porte, com sede na Serra gaúcha. Muitas dessas vinícolas têm contado com o
apoio de prefeituras municipais, que na tentativa de revitalizar as áreas da metade sul do
RS, tem criado verdadeiros planos de incentivo à implantação de vinícolas na região.
162
A existência de diversas organizações, muitas delas vinculadas entre si, torna o
arranjo institucional do APL vitivinícola um dos mais densos e completos do RS
(VARGAS, 2000). A infraestrutura educacional e tecnológica presentes na região, bem
como a presença marcante de empresas fornecedoras de máquinas, equipamentos e
insumos em geral, demonstra a robustez institucional desse arranjo.
Ao mencionar a “robustez institucional” do APL vitivinícola da Serra gaúcha
não se pretende menosprezar as fragilidades existentes, tais como a inexistência de
regulamentações acerca dos processos produtivos e de plantios, bem como a falta de
fiscalização – inerente à falta de normatizações. Essa, entre outras, é uma das grandes
distinções desse APL com outras regiões produtoras de vinho no mundo, incluindo os
vizinhos produtores do Mercosul, que em termos de regulamentação e fiscalização estão
sobremodo adiantados em relação a nossa situação.
Nos últimos anos, empresas e instituições formadoras desse APL têm
intensificado esforços no sentido de ampliar a capacidade tecnológica das vinícolas,
promovendo reconhecidos avanços na vitivinicultura nacional. Exemplo desse
movimento é a crescente participação de vinícolas nacionais em feiras e concursos
enológicos internacionais, o que tem servido para valorizar ainda mais o produto
nacional, que em alguns casos, como dos espumantes produzidos na Serra gaúcha,
desfrutam de reconhecimento no exterior.
As empresas pesquisadas apresentaram uma elevada taxa de inovação, superior
aos índices registrados pela PINTEC para o setor de bebidas no RS. Os dados dessa
pesquisa apontam para uma taxa de inovação de 100%, ou seja, todas as vinte empresas
afirmaram ter introduzido algum tipo de inovação entre 2007 e 2009. No setor de
bebidas do RS, segundo dados do IBGE, entre 2003 e 2005, 76% da amostra analisada
afirmaram ter implantado algum tipo de inovação (56 das 74 empresas de bebidas
163
entrevistadas). Esse esforço inovativo por parte das vinícolas, provavelmente, está
associado ao clima de intenso investimento nos processos de reconversão das videiras,
que traduz um debate que vem se travando no interior do APL a pelo menos duas
décadas, acerca da qualificação dos produtos oriundos da região. Para muitos dos
entrevistados, a verdadeira inovação tecnológica no segmento vinícola está próximo das
videiras, seja pela reconversão, seja pela melhoria e adaptação das cultivares produzidas
nacionalmente.
Esse esforço inovativo, como pode-se perceber, é fruto do trabalho dos
empresário. Para oito em cada dez empresas entrevistadas, o responsável pela
introdução de tais inovações foi a própria empresa. Apenas 25% das respondentes
afirmou ter o auxílio de alguma empresa ou instituição na introdução de inovações. Tal
situação reforça a trajetória incremental das inovações introduzidas entre as vinícolas da
Serra gaúcha. As inovações, seja de produto ou de processo, se dão de forma reativa,
adotando um padrão de reprodução das inovações implementadas por outras empresas.
As empresas de maior porte “imitam” as inovações das grandes empresas
internacionais; as empresas de menor porte “copiam” as inovações introduzidas pelas
empresas de maior porte; assim fecha-se o ciclo da inovação no segmento vinícola da
Serra gaúcha.
Tais inovações, eminentemente incrementais, são sustentadas por mecanismos
de aprendizado do tipo “learning-by-doing” e “learning-by-interacting”. O primeiro se
observa no desenvolvimento de atividades inovativas mais vinculadas à introdução de
novos produtos (ou produtos melhorados), em que as fontes internas de informação
assumem um papel fundamental, em especial as informações advindas das áreas de
produção e vendas. O aprendizado nesses casos está estritamente vinculado ao processo
de produção de vinhos. O “learning-by-interacting” é melhor visualizado ao se observar
164
as atividades inovativas ligadas à introdução de inovações de processo. As vinícolas,
nesse caso, estabelecem um estreito relacionamento com seus fornecedores, tanto de
matérias-primas quanto de máquinas e equipamentos, do Brasil e do exterior. Muitos
fornecedores assumem um papel fundamental de difusores de novas tecnologias
vitivinícolas, principalmente com relação às pequenas empresas e produtores vitícolas,
em que muitas dessas empresas operam à semelhança de extensionistas tecnológicos.
A atividade inovativa das empresas entrevistadas está intimamente vinculada à
compra de máquinas, equipamentos e tecnologias, seja de empresas fornecedoras
localizadas no país (muito especialmente nos municípios da Serra gaúcha), seja de
fornecedores estrangeiros. A relação das empresas pesquisadas com seus fornecedores é
intensa, e não raro tais fornecedores comercializam produtos customizados, adaptando
equipamentos padrões para as necessidades particulares das vinícolas. Isso denota a
presença de um aprendizado tecnológico incorporado, aos moldes do descrito por
Rosemberg (2006). Esse processo inovativo via aquisição de equipamentos exige que as
empresas invistam em treinamento de sua força de trabalho, fato que se percebeu na
pesquisa, em que mais de 40% dos respondentes afirmaram terem propiciado atividades
de treinamento aos seus funcionários. Tal prática amplia o acúmulo de conhecimento da
firma, propiciando o surgimento de vantagens competitivas através do aprendizado
tecnológico.
Pode-se perceber que tais processos de aprendizado possibilitaram, ao menos
para as empresas entrevistadas, o surgimento de ações cooperativas, tanto entre as
empresas como dessas e as instituições presentes no APL. Observou-se a presença entre
as empresas da amostra de dois tipos distintos de cooperação: vertical e horizontal. A
cooperação vertical ficou evidente a partir da ação interativa das vinícolas e as empresas
fornecedoras, seja de máquinas e equipamentos, seja de insumos enológicos em geral.
165
As ações cooperativas desse modo são marcadas pela estreita cooperação entre os
agentes, sendo que tal relação extravasa a mera relação comercial entre empresas, mas é
marcada pelo estabelecimento de laços sociais mais profundos. A cooperação horizontal
está presente nas ações entre vinícolas, e nesse caso específico a cooperação visa,
apenas, o acesso aos mercados internacionais. Estar no mercado internacional é uma das
estratégias deliberadas das vinícolas, pois compreendem que o mercado nacional
(verdadeiro alvo delas) valoriza mais os produtos com presença internacional, seja
através de exportação, seja através de participação em feiras e promoções
internacionais. Dada a complexidade em se operar no mercado internacional, muitas
empresas têm optado pela cooperação, através da participação do consórcio de
exportação Wines from Brazil, uma ação entre o IBRAVIN e a APEX BRASIL.
As empresas entrevistadas são categóricas em dois pontos: a) valorizam mais as
atividades cooperativas verticais (com fornecedores) do que as horizontais (com outras
vinícolas) - isso ocorre porque as empresas entrevistadas vislumbram maiores ganhos
competitivos ao se relacionarem com os fornecedores; b) as empresas da amostra
preferem se relacionar com empresas localizadas no APL, sejam essas vinícolas ou
fornecedores. Assim, a proximidade física com fornecedores e a existência de uma forte
infraestrutura institucional local são pontos fundamentais na análise das empresas.
Por fim, cabe às empresas e instituições promoverem, ainda mais, ações
cooperativas que caminhem para além dos simples acordos para exportação conjunta ou
participação em feiras internacionais. É necessária a promoção de ações conjuntas que
possibilitem o estabelecimento de regras de conduta que minimizem o estabelecimento
de formas hostilizadas de concorrência entre vinícolas, que em muitos casos se
expressam através da competição desleal, pela guerra de preços ou, ainda, pela
adulteração de produtos.
166
5 Considerações finais
Essa dissertação teve por objetivo identificar e caracterizar os processos de
aprendizado que resultam no aprofundamento e no fortalecimento da capacidade
inovativa e cooperativa das firmas vitivinícolas localizadas na Serra gaúcha. Nesse
sentido, esse trabalho buscou contribuir para a discussão acerca do papel da
proximidade territorial nos processos de aprendizagem, cooperação e inovação de
empresas inseridas em aglomerações produtivas. A análise esteve fundamentada no
conceito de arranjo produtivo local, referindo-se genericamente aos diversos modos de
aglomeração, envolvendo vínculos entre as empresas e os demais atores institucionais
localizados em um mesmo território.
Para atingir os objetivos propostos, optou-se pela realização de uma survey, com
uma amostra não-probabilística de vinte empresas, em que se buscou através da
aplicação de um instrumento de pesquisa, coletar informações acerca de quatro áreas, a
saber: uma caracterização geral das firmas respondentes, bem como de seus processos
produtivos e suas relações com o mercado; o comportamento destas com relação aos
processos inovativos, à cooperação e ao aprendizado; uma análise da percepção das
firmas sobre as estruturas de governança e as vantagens associadas ao ambiente local; e
a avaliação das empresas sobre as ações de promoção existentes, conduzidas pelas
diversas organizações presentes no APL.
167
Buscou-se compreender e identificar as inovações implementadas pelas
empresas do APL vitivinícola do RS, quanto à sua capacidade tecnológica, isto é, sua
habilidade para realizar mudanças com vistas a ganhar (ou ampliar) espaços
competitivos frente à concorrência.
A primeira constatação, que conversa com os resultados de uma série de estudos
sobre inovação tecnológica, é que o arranjo, por empregar um tipo de tecnologia de
produção madura (tanto em nível nacional quanto internacional), possui uma capacidade
inovativa restrita, circunscrita à adequação incremental de produtos e processos de
vinificação, cuja finalidade é aproximar os vinhos nacionais ao tipo ou estilo dos vinhos
produzidos nos países do “velho mundo” vitivinícola, tais como a França, Portugal e
Itália. Essa capacidade inovativa restrita, em verdade, é decorrência do regime
tecnológico vigente no setor. Tal iniciativa incremental, ainda que reativa, apresenta-se
como adequada, se considerada as dificuldades climáticas existentes na região nordeste
do RS, bem como a forte presença de competidores estrangeiros, que por meio da escala
de produção e vantagens climáticas de suas regiões de origem, possuem uma sólida
posição competitiva no mercado nacional.
As inovações implementadas são mais de caráter organizacional, promovendo
melhorias mercadológicas e a exploração de novos canais de distribuição, além da
abertura de novos mercados. Nesse sentido, tais inovações correspondem ao tradicional
conceito de inovação schumpeteriano, não se vinculando apenas ao caráter tecnológico
de tais processos. Tanto para os empresários quanto para os especialistas entrevistados,
as inovações nesse segmento deveriam caminhar rumo aos vinhedos, onde efetivamente
se pode gerar diferenciação de produtos e ganhos permanentes de competitividade.
Porém, para que isso ocorra, deveria haver um grande esforço, que conjugasse as firmas
e outras instituições presentes no APL, tais como os centros de pesquisa e formação, o
168
que ocorre de forma parcial, seja pelo desinteresse dos primeiros, seja pelas falhas de
comunicação e relacionamento dos segundos. A chave para o aumento da produtividade
e da qualidade dos vinhos finos reside, dessa forma, no investimento em pesquisa e
desenvolvimento tecnológico junto ao insumo básico – a uva. Para além dos
investimentos, os entrevistados foram claros quanto à necessidade de se solidificar um
arranjo institucional, que alie a força empresarial, suas entidades representativas, os
centros de pesquisa e o Estado.
O processo de reconversão dos vinhedos, que por um lado apresenta-se como a
melhor alternativa para melhoria dos cultivares gaúchos, ainda ocorre em um ritmo
pouco acelerado. A principal explicação para isso é a percepção dos empresários que tal
processo (substituição total das uvas americanas por vitis viníferas) se configure em
uma espécie de Sunk Cost. Uma vez feita a opção pela substituição, não se poderá
recorrer a qualquer alternativa, senão a produção de comercialização de vinhos finos,
entrando assim na concorrência direta com os produtores estrangeiros. Hoje há um
grande espaço, no mercado nacional, para a comercialização de vinhos comuns, que
requer menos investimentos técnicos (tanto nos parreirais quanto no processo de
vinificação) e que tradicionalmente ocupa um nicho nesse mercado, operando com
margens bem atraentes, uma vez que uma série de custos existentes nos vinhos finos
(embalagem, despesas técnicas, custos com controle de pragas e correção do mosto etc.)
não se reproduz nos vinhos comuns, em geral comercializados no sudeste do país, em
diversos tipos de embalagens. Isso demonstra que existe sim, a despeito de todo um
discurso fortemente presente no interior do APL, ganhos competitivos através da
produção e comercialização de vinhos comuns.
As atividades de inovação tecnológica se dão estimuladas por comportamentos
miméticos, de observação e adequação de produtos às inovações implantadas pelos
169
concorrentes, principalmente em nível local. Tal comportamento se percebe nos demais
elementos da cadeia produtiva, como por exemplo, as empresas nacionais de máquinas e
equipamentos vinícolas. À exemplo de outros setores do RS, como é o caso dos
calçadistas do Vale dos Sinos, existem duas trajetórias tecnológicas claramente distintas
no interior da vitivinicultura da Serra gaúcha: uma trajetória pautada na inovação,
através da produção de uvas varietais e da conseqüente produção de vinhos finos e
espumantes; e a tradicional produção de vinhos comuns e, de forma mais recente, de
sucos de uva.
Neste sentido, percebeu-se que a ocorrência de processos inovativos que são
fruto de inúmeras fontes de informação, aquisição e difusão do conhecimento entre os
agentes do APL. Apesar de informal e restrito, os canais utilizados para aquisição de
conhecimento cumprem um papel relevante no aprimoramento do aprendizado, bem
como na difusão de inovações, ainda que incrementais. Importante ressaltar que ao
observar a relação das empresas com a estrutura educacional presente, percebeu-se um
estreito laço entre esses, especialmente quando se trata de absorver a mão-de-obra
técnica formada localmente. As firmas apontam que têm estabelecido uma relação com
o Campus Bento Gonçalves do IFRS puramente de contratação de estagiários e alunos
egressos de seus cursos, havendo uma clara lacuna na relação do Campus com os
demais atores do arranjo, principalmente no que se refere a atividades de pesquisa e
extensão. Talvez por isso, apenas uma das vinte empresas entrevistadas apontaram o
Campus Bento Gonçalves como sendo o espaço, dentro do APL, de maior promoção de
atividades cooperativas.
Nos últimos anos, tem-se observado uma busca por parte da empresas em
acessar informações externas, oriundas principalmente da participação em feiras e
concursos enológicos internacionais. Isso tem capacitado as empresas com relação aos
170
seus processos de produção (da uva e do vinho), que tem provocado um
“transbordamento” de saber técnico entre as empresas da região, afetando positivamente
a qualidade os produtos finais. Assim, fica evidente a importância dos atores locais para
a organização e difusão dos sistemas de conhecimento dentro do arranjo.
Apesar de não ter sido possível realizar uma categorização precisa das empresas
da amostra, percebeu-se que o porte das empresas afeta a busca e o tipo de fontes de
informação. Empresas de maior porte usam de forma mais intensiva as informações
disponíveis em diversas fontes, tanto internas quanto externas. Apesar de não
dispensaram as fontes internas de informação (tanto à firma quanto ao APL), nos
últimos anos, as vinícolas têm investido mais na busca por fontes externas, tais como a
contratação de enólogos internacionais como consultores, contratos de aquisição e
manutenção de equipamentos estrangeiros, bem como a formação de Joint Ventures
com vinícolas estrangeiras.
As vinícolas de menor porte, por sua vez, utilizam de maneira mais intensiva as
fontes de informação internas ao APL, em especial as informações oriundas da área de
produção das empresas, bem como uma estreita relação com os fornecedores,
localizados nos municípios que integram o APL. A contratação de profissionais
formados no Campus Bento Gonçalves do IFRS é uma das formas de se renovar o
conhecimento presente nas pequenas vinícolas. As fontes externas mais utilizadas por
essas empresas são a participação em feiras internacionais e em visitas técnicas em
empresas estrangeiras. Assim, observou-se que tanto entre grandes quanto entre
pequenas vinícolas, a adoção de processos cooperativos, mais ou menos estruturados,
está presente no cotidiano produtivo das empresas do APL.
171
Durante a realização das entrevistas, os processos de cooperação, apresentaramse, inicialmente, como uma atividade corriqueira, ao menos na ótica dos empresários. É
possível perceber a existência de cooperação tanto em nível vertical quanto horizontal.
As ações de cooperação vertical, tais como as relações entre empresas e seus
fornecedores, são mais freqüentes e mais valorizadas do que as ações horizontais de
cooperação (entre empresas).
Mesmo se compreendendo que as empresas de um mesmo segmento irão
cooperar em áreas em que não competem, ainda assim, observou-se que a principal
modalidade de cooperação entre as empresas se dá na esfera da comercialização de
produtos no exterior. Isso porque as atividades de exportação, além de complexas,
exigem uma estrutura organizacional e de conhecimento específicas, o que não ocorre
entre micro e pequenas vinícolas que compõem, majoritariamente, o APL. Assim, tais
empresas buscam no Wines from Brazil, uma forma consorciada de acessar os mercados
internacionais, diminuindo os riscos desse acesso.
Importante destacar o motivo principal que conduz empresas de diversos portes
a se interessarem pelos mercados internacionais: para os entrevistados (empresas e
organizações) o mercado nacional valoriza mais as empresas que estão presentes no
circuito internacional de consumo de vinhos, seja através da exportação direta, seja
através da participação de feiras e eventos enológicos internacionais. Assim, a presença
nos mercados internacionais é uma estratégia das empresas nacionais de ampliação de
sua participação no mercado brasileiro. De forma geral, a cooperação entre concorrentes
locais se resume na união desses para enfrentar os desafios do acesso aos mercados
internacionais.
172
Além dos concorrentes locais e das empresas fornecedoras, outro agente muito
citado, por ter assumido um importante papel enquanto parceiro das empresas locais,
foram as instituições de representação, em especial o IBRAVIN. O IBRAVIN aparece
como o grande articulador do segmento vitivinícola, assumindo o papel de coordenação
das ações que atendem a coletividade das vinícolas do Brasil. A estruturação do
Instituto nos últimos quatro anos possibilitou que não apenas as vinícolas, mas os
demais atores localizados no APL ampliassem sua confiança e outorgassem a
responsabilidade de ser o IBRAVIN o representante legítimo do segmento vitivinícola
no Brasil.
Fica como ponto para ser aprofundado em próximas pesquisas o papel do perfil
inovador do empresário, que segundo os especialistas é de fundamental importância na
implantação de processos inovativos bem sucedidos. Outro ponto interessante é analisar
os processos de cooperação entre empresas. Uma vez que as atividades cooperativas se
dão, em geral, em áreas e de formas distintas, que extravasam as competências de
análise da economia, cabe uma aproximação com outras áreas, tais como a sociologia, a
antropologia etc., a fim de se fundamentar ainda mais o conhecimento acerca desse
tema. O desenvolvimento de mais pesquisas empíricas no campo da análise dos
processos cooperativos torna-se indispensável, não apenas porque possibilitará a
ampliação desse conhecimento (ainda restrito), mas também porque promoverá,
necessariamente, um estreitamento interdisciplinar de áreas do conhecimento.
173
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181
APÊNDICES
182
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO APLICADO ÀS VINÍCOLAS
I - IDENTIFICAÇÃO DA EMPRESA
1. Razão Social:________________________________________________________________
2. Município de localização:_______________________________________________________
Nome do Respondente:_____________________________Cargo:______________________
3. Tamanho.
Micro
(Até 19 funcionários)
( ) 1.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
( ) 2.
Pequena
(De 20 a 99 funcionários)
( ) 3.
Média
(De 100 a 499 funcionários)
( ) 4.
Grande
(Mais de 500 funcionários)
Pessoal ocupado atual: ___________
Ano de fundação: _______________
Origem do capital controlador da empresa:
Nacional
( ) 1.
( ) 2.
Estrangeiro
( ) 3.
Nacional e Estrangeiro
No caso do capital controlador estrangeiro, qual a sua localização:
( ) 1.
Mercosul
( ) 2.
Estados Unidos da América
( ) 3.
Outros Países da América
( ) 4.
Ásia
( ) 5.
Europa
( ) 6.
Oceania ou África
Sua empresa é:
( ) 1.
Independente
( ) 2.
Parte de um Grupo
Qual a sua relação com o grupo:
( ) 1. Controladora
Controladora - é aquela que exerce, direta ou indiretamente, o poder de
eleger a maioria dos administradores e prepondera nas deliberações
sociais; Controlada – é aquela na qual a controladora exerce tal poder;
( ) 2.
Controlada
Coligada - é aquela na qual a investidora participa com pelo menos 10%
do seu capital, sem controla-la.
( ) 3. Coligada
O Volume total de produção, em 2009, foi de:____________________
O volume de vinhos comuns, em 2009, foi de:____________________
O volume de vinhos finos, em 2009, foi de: ______________________
O volume de suco de uva, em 2009, foi de:_______________________
II – PRODUÇÃO, MERCADOS E EMPREGO.
14. Indique a participação dos produtos abaixo com relação às vendas totais:
Linha de produtos
1. Vinhos Comuns
2. Vinhos Finos
3. Espumantes
4. Suco de Uva
5. Outros
6. Total
% das Vendas
100%
183
15. A quanto tempo a empresa vem trabalhando com vinhos finos?
1.( )
Até 4 anos
2.( )
5 a 10 anos
3.( )
11 a 20 anos
4.( )
Mais de 20
16. Evolução da empresa:
Faturamento
Pessoal
Ano
Preços correntes
ocupado
(R$)
Mercados (%)
Vendas nos
municípios da
Região
Vendas no Vendas no Vendas no
Estado
Brasil
exterior
2009
2008
2007
Total
100%
100%
100%
17. Aponte os principais canais de comercialização adotados pela empresa. Favor marcar o grau de
importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta
importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa.
Forma de comercialização
Grau de Importância
Sob encomenda
(0)
(1)
(2)
(3)
Lojas próprias
(0)
(1)
(2)
(3)
Comércio Varejista (supermercados)
(0)
(1)
(2)
(3)
Escritórios de Exportação
(0)
(1)
(2)
(3)
Outras (especificar):
(0)
(1)
(2)
(3)
18. Indique os principais insumos/matérias-primas utilizados, bem como a sua origem (em
percentual):
Principais insumos/
Municípios Estado do RS Outros Estados
Exterior
matérias-primas
da Região
do Brasil
Total
100%
100%
100%
100%
19. Indique os principais equipamentos utilizados no processo de produção, bem como a sua origem
(em percentual):
Principais
Municípios da Estado do RS
Outros
Exterior
Total
equipamentos
Região
Estados do
Brasil
100%
100%
100%
100%
100%
20. Quais fatores são determinantes para manter a capacidade competitiva na principal linha de
produto? Favor marcar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2
é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa.
Fatores
Grau de importância
Qualidade da matéria-prima e outros insumos
(0)
(1)
(2)
(3)
Qualidade da mão-de-obra
(0)
(1)
(2)
(3)
Custo da mão-de-obra
(0)
(1)
(2)
(3)
Nível tecnológico dos equipamentos
(0)
(1)
(2)
(3)
Capacidade de introdução de novos produtos/processos
(0)
(1)
(2)
(3)
Mudança de embalagens
(0)
(1)
(2)
(3)
Estratégias de comercialização
(0)
(1)
(2)
(3)
Qualidade do produto
(0)
(1)
(2)
(3)
Capacidade de atendimento (volume e prazo)
(0)
(1)
(2)
(3)
184
Localização da empresa
Outra. Citar:
(0)
(0)
(1)
(1)
(2)
(2)
(3)
(3)
III – INOVAÇÃO, COOPERAÇÃO E APRENDIZADO
21. Entre 2007 e 2009, a empresa introduziu inovações de produto, processo e organizacionais?
Descrição
Inovações de produto
Produto novo para a sua empresa, mas já existente no mercado nacional
Produto novo para o mercado nacional
Produto novo para o mercado internacional
Inovações de processo
Processos tecnológicos novos para a sua empresa, mas já existentes no setor no
Brasil
Processos tecnológicos novos para o setor de atuação
Outros tipos de inovação
Criação ou melhoria substancial, do ponto de vista tecnológico, do modo de
acondicionamento de produtos (embalagem)
Realização de mudanças organizacionais (inovações organizacionais)
Implementação de técnicas avançadas de gestão
Implementação de significativas mudanças na estrutura organizacional
Mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de marketing
Mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de comercialização
Implementação de novos métodos e gerenciamento, visando a atender normas de
certificação (ISO 9000, ISSO 14000, etc.)
1. Sim
2. Não
(1)
(1)
(1)
(2)
(2)
(2)
(1)
(2)
(1)
(2)
(1)
(2)
(1)
(1)
(1)
(1)
(2)
(2)
(2)
(2)
(1)
(2)
22. Quem desenvolveu a principal inovação de produto?
Principalmente a empresa
( ) 1.
Principalmente outra empresa do grupo
( ) 2.
Principalmente a empresa em cooperação com outras empresas ou
( ) 3.
institutos
Principalmente outras empresas ou institutos
( ) 4.
23. Quem desenvolveu a principal inovação de processo?
Principalmente a empresa
( ) 1.
Principalmente outra empresa do grupo
( ) 2.
Principalmente a empresa em cooperação com outras empresas ou
( ) 3.
institutos
Principalmente outras empresas ou institutos
( ) 4.
24. Indique a importância dos impactos das inovações de produto e processo, implementadas
durante o período entre 2007 a 2009. Favor marcar o grau de importância utilizando a escala,
onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for
relevante para a sua empresa.
Descrição
Grau de Importância
Aumentou a produtividade da empresa
(0)
(1)
(2)
(3)
Ampliou a gama de produtos ofertados
(0)
(1)
(2)
(3)
Aumentou a qualidade dos produtos
(0)
(1)
(2)
(3)
Permitiu manter a participação da empresa no mercado
(0)
(1)
(2)
(3)
Ampliou a participação da empresa no mercado interno
(0)
(1)
(2)
(3)
Ampliou a participação da empresa no mercado externo
(0)
(1)
(2)
(3)
Permitiu abrir novos mercados
(0)
(1)
(2)
(3)
Permitiu a redução de custos do trabalho
(0)
(1)
(2)
(3)
Permitiu a redução do consumo de matérias-primas
(0)
(1)
(2)
(3)
Permitiu a redução do consumo de energia
(0)
(1)
(2)
(3)
185
Permitiu o enquadramento em regulações e normas
padrão relativas ao:
- Mercado Interno
- Mercado Externo
Permitiu reduzir o impacto sobre o meio ambiente
(0)
(0)
(0)
(1)
(1)
(1)
(2)
(2)
(2)
(3)
(3)
(3)
25. Assinale o grau de constância das atividades inovativas desenvolvidas pela empresa no
período entre 2007 e 2009? Assinale (0) se não desenvolveu, (1) se desenvolveu rotineiramente,
e (2) se desenvolveu ocasionalmente.
Descrição
Grau de Constância
Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) na sua empresa
(0)
(1)
(2)
Aquisição externa de P&D
(0)
(1)
(2)
Aquisição de máquinas e equipamentos que implicaram em
significativas melhorias tecnológicas de produtos/processos ou
(0)
(1)
(2)
que estão associados aos novos produtos/processos
Aquisição de outras tecnologias (softwares, licenças ou acordos
de transferência de tecnologias tais como patentes, marcas,
(0)
(1)
(2)
segredos industriais)
Projeto industrial ou desenho industrial associados à
produtos/processos tecnologicamente novos ou significativamente
(0)
(1)
(2)
melhorados
Programa de treinamento e auxílio na reconversão de videiras (de
(0)
(1)
(2)
Americanas para Viníferas), próprias ou de produtorers parceiros
Programas de gestão da qualidade ou de modernização
organizacional, tais como: qualidade total, reengenharia de
(0)
(1)
(2)
processos administrativos, desverticalização do processo
produtivo, métodos de “just in time”, etc
Novas formas de comercialização e distribuição para o mercado
(0)
(1)
(2)
de produtos novos ou significativamente melhorados
26. Informe os gastos despendidos para desenvolver as atividades de inovação:
26.1 Gastos com atividades inovativas sobre faturamento em 2009.....................( %)
26.2 Gastos com P&D sobre faturamento em 2009............................................ .( %)
26.3 Fontes de financiamento para as atividades inovativas (em %)
26.3.1 Próprias
(
%)
26.3.2 De Terceiros
(
%)
26.3.2.1 Privados (
%)
26.3.2.2 Público (FINEP,BNDES, SEBRAE, BB, etc.) (
%)
27. Sua empresa efetuou atividades de treinamento e capacitação de seus recursos humanos entre
2007 e 2009? Se Sim, com que freqüência?
Freqüência
Ocorrência
Descrição
mensal trimestral semestral
Treinamento na empresa
( )1.Sim ( )2.Não
Treinamento em cursos técnicos
( )1.Sim ( )2.Não
realizados na região
Treinamento em cursos técnicos fora
da região
( )1.Sim ( )2.Não
No Brasil
( )1.Sim ( )2.Não
No Exterior
Estágios em empresas fornecedoras
( )1.Sim ( )2.Não
ou clientes
Estágios em empresas do grupo
( )1.Sim ( )2.Não
Contratação de técnicos/engenheiros
( )1.Sim ( )2.Não
de outras empresas da região
Contratação de técnicos/engenheiros
( )1.Sim ( )2.Não
de empresas fora da região
anual
186
Absorção de formandos dos cursos
universitários localizados na região
ou próximo
Absorção de formandos dos cursos
técnicos localizados na região ou
próximo
( )1.Sim
( )2.Não
( )1.Sim
( )2.Não
28. Quais dos seguintes itens desempenharam um papel importante como fonte de informação
para o aprendizado, entre 2007 e 2009? Favor marcar o grau de importância utilizando a
escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se
não for relevante para a sua empresa. Quanto à localização, utilizar 1 quando localizado nos
municípios da região, 2 no Estado, 3 no Brasil, 4 no exterior.
Grau de Importância
Localização
Fontes Internas
Departamento de P&D ou Laboratório
(0) (1) (2) (3)
Área de produção
(0) (1) (2) (3)
Áreas de vendas e marketing, serviços de
(0) (1) (2) (3)
atendimento ao cliente
Outros (especifique):
(0) (1) (2) (3)
Fontes Externas
Outras empresas dentro do grupo
(0) (1) (2) (3)
(1) (2) (3)
Empresas associadas (joint venture)
(0) (1) (2) (3)
(1) (2) (3)
Fornecedores de insumos (equipamentos,
(0) (1) (2) (3)
(1) (2) (3)
materiais)
Clientes
(0) (1) (2) (3)
(1) (2) (3)
Concorrentes
(0) (1) (2) (3)
(1) (2) (3)
Outras empresas do Setor
(0) (1) (2) (3)
(1) (2) (3)
Empresas de consultoria
(0) (1) (2) (3)
(1) (2) (3)
Universidades e Outros Institutos de Pesquisa
Universidades e Instituições de Ensino
(0)
Técnico e Profissionalizante
Institutos de Pesquisa
(0)
Centros de capacitação profissional, de
(0)
assistência técnica e de manutenção
Instituições de testes, ensaios e
(0)
certificações
Outras Fontes de Informação
Licenças, patentes e “know-how”
Conferências, Seminários, Cursos
Feiras, Exibições e Lojas
Encontros de Lazer (Clubes, Restaurantes,
etc)
Associações empresariais locais
(inclusive consórcios de exportações)
Informações de rede baseadas na Internet
ou computador
Publicações especializadas
(4)
(4)
(4)
(4)
(4)
(4)
(4)
(1)
(2)
(3)
(1)
(2)
(3)
(4)
(1)
(2)
(3)
(1)
(2)
(3)
(4)
(1)
(2)
(3)
(1)
(2)
(3)
(4)
(1)
(2)
(3)
(1)
(2)
(3)
(4)
(0)
(0)
(0)
(1)
(1)
(1)
(2)
(2)
(2)
(3)
(3)
(3)
(1)
(1)
(1)
(2)
(2)
(2)
(3)
(3)
(3)
(4)
(4)
(4)
(0)
(1)
(2)
(3)
(1)
(2)
(3)
(4)
(0)
(1)
(2)
(3)
(1)
(2)
(3)
(4)
(0)
(1)
(2)
(3)
(1)
(2)
(3)
(4)
(0)
(1)
(2)
(3)
(1)
(2)
(3)
(4)
29. Que tipos de informações sua empresa obteve a partir destas fontes. Favor marcar o grau de
importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta
importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa.
Grau de importância
Sobre a existência de novos produtos e processos
(0)
(1)
(2)
(3)
Sobre possíveis melhorias de produtos/processos
(0)
(1)
(2)
(3)
Sobre novos concorrentes
(0)
(1)
(2)
(3)
Sobre consultores especializados
(0)
(1)
(2)
(3)
Sobre novos fornecedores
(0)
(1)
(2)
(3)
187
Sobre novos parceiros potenciais
Sobre oportunidades de negócios
Sobre fontes de financiamento
Sobre seminários, cursos de capacitação, feiras
Outros (especificar):
(0)
(0)
(0)
(0)
(0)
(1)
(1)
(1)
(1)
(1)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(3)
(3)
(3)
(3)
(3)
30. Durante o período entre 2007 e 2009, sua empresa esteve envolvida em atividades
cooperativas, formais ou informais, com outra(s) empresa ou organização?
Sim
( ) 1.
( ) 2.
Não
31. Em caso afirmativo, quais dos seguintes agentes desempenharam papel importante como
parceiros, no período entre 2007 a 2009? Favor marcar o grau de importância utilizando a
escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se
não for relevante para a sua empresa. Indique a freqüência de ocorrência dos intercâmbios
entre os agentes: 1 quando inexistente, 2 quando eventual e 3 quando regular. Quanto à
localização utilizar 1 quando localizado nos municípios da região, 2 no Estado, 3 no Brasil, 4
no exterior.
Agentes
Importância
Freqüência
Outras empresas dentro do grupo
(0) (1) (2) (3) (1) (2) (3)
Empresas associadas (joint venture)
(0) (1) (2) (3) (1) (2) (3)
Fornecedores de insumos (equipamentos,
(0) (1) (2) (3) (1) (2) (3)
materiais, componentes e softwares)
Clientes
(0) (1) (2) (3) (1) (2) (3)
Concorrentes
(0) (1) (2) (3) (1) (2) (3)
Outras empresas do setor
(0) (1) (2) (3) (1) (2) (3)
Empresas de consultoria
(0) (1) (2) (3) (1) (2) (3)
Universidades
(0) (1) (2) (3) (1) (2) (3)
Institutos de pesquisa
(0) (1) (2) (3) (1) (2) (3)
Centros de capacitação profissional de
(0) (1) (2) (3) (1) (2) (3)
assistência técnica e de manutenção
Instituições de testes, ensaios e
(0) (1) (2) (3) (1) (2) (3)
certificações
Representação
(0) (1) (2) (3) (1) (2) (3)
Entidades Sindicais
(0) (1) (2) (3) (1) (2) (3)
Órgãos de apoio e promoção
(0) (1) (2) (3) (1) (2) (3)
Agentes financeiros
(0) (1) (2) (3) (1) (2) (3)
Agentes
Outras empresas dentro do grupo
Empresas associadas (joint venture)
Fornecedores de insumos (equipamentos,
materiais, componentes e softwares)
Clientes
Concorrentes
Outras empresas do setor
Empresas de consultoria
Universidades
Institutos de pesquisa
Centros de capacitação profissional de
assistência técnica e de manutenção
Instituições de testes, ensaios e certificações
Representação
Entidades Sindicais
Órgãos de apoio e promoção
Agentes financeiros
(1)
(1)
Localização
(2)
(3)
(2)
(3)
(4)
(4)
(1)
(2)
(3)
(4)
(1)
(1)
(1)
(1)
(1)
(1)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(3)
(3)
(3)
(3)
(3)
(3)
(4)
(4)
(4)
(4)
(4)
(4)
(1)
(2)
(3)
(4)
(1)
(1)
(1)
(1)
(1)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(3)
(3)
(3)
(3)
(3)
(4)
(4)
(4)
(4)
(4)
188
32. Identifique cinco principais parceiros, por ordem de importância, e aponte os motivos da
escolha destes parceiros.
1.
2.
3.
4.
5
Confiança
Reputação
Qualificação
(conhecimento
técnico)
Qualidade do serviço
ou produto
Proximidade física
Estabilidade
institucional/financeira
Baixo custo
Outro (especificar):
33. Em que áreas se deu a cooperação?
Áreas
Comercialização
Compra de insumos
Compra de tecnologia
Capacitação
Intercâmbio de pessoal
Exportação / Participação em Feiras Internacionais
P&D conjunto
Teste e certificação
Outras (especificar):
1. Sim
(1)
(1)
(1)
(1)
(1)
(1)
(1)
(1)
(1)
2. Não
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
34. E quais foram as formas de cooperação:
Formas
Contatos informais
Joint ventures
Consórcios
Acordos
Consultoria
Subcontratação
Outra (especificar):
1. Sim
(1)
(1)
(1)
(1)
(1)
(1)
(1)
2. Não
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
35. Considerando os cinco principais parceiros elencados, indique como vêm evoluindo as relações
de colaboração com eles nos últimos três anos.
Parceiros
Evolução
Forte
Diminuição Estável
Aumento Forte
Diminuição
Aumento
1.
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
2.
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
3.
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
4.
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
5.
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
36. O que visavam as ações de cooperação, com agentes localizados nos municípios da região,
realizadas no período entre 2007 e 2009? Favor marcar o grau de importância utilizando a
189
escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se
não for relevante para a sua empresa.
Descrição
Grau de Importância
Troca de informações
(0)
(1)
(2)
(3)
Comprar insumos e equipamentos
(0)
(1)
(2)
(3)
Vender conjuntamente produtos
(0)
(1)
(2)
(3)
Desenvolver produtos e processos
(0)
(1)
(2)
(3)
Desenvolvimento de embalagens
(0)
(1)
(2)
(3)
Capacitar Recursos Humanos
(0)
(1)
(2)
(3)
Obter financiamento
(0)
(1)
(2)
(3)
Fazer Reivindicações
(0)
(1)
(2)
(3)
Participar conjuntamente em feiras, etc
(0)
(1)
(2)
(3)
Utilizar equipamentos em comum
(0)
(1)
(2)
(3)
Testar e Certificar produtos
(0)
(1)
(2)
(3)
Outras: especificar
(0)
(1)
(2)
(3)
37. Caso a empresa já tenha participado de alguma forma de cooperação com agentes locais, como
avalia os resultados das ações conjuntas já realizadas. Favor marcar o grau de importância
utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância.
Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa.
Descrição
Grau de Importância
Melhoria na qualidade dos produtos
(0)
(1)
(2)
(3)
Desenvolvimento de novos produtos
(0)
(1)
(2)
(3)
Melhoria nos processos produtivos
(0)
(1)
(2)
(3)
Melhoria nas condições de fornecimento dos produtos
(0)
(1)
(2)
(3)
Melhor capacitação de recursos humanos
(0)
(1)
(2)
(3)
Melhoria nas condições de comercialização
(0)
(1)
(2)
(3)
Introdução de inovações organizacionais
(0)
(1)
(2)
(3)
Oportunidades de novos negócios
(0)
(1)
(2)
(3)
Promoção de nome/marca da empresa no mercado nacional
(0)
(1)
(2)
(3)
Maior inserção da empresa no mercado externo
(0)
(1)
(2)
(3)
Outras: especificar
(0)
(1)
(2)
(3)
38. Aponte as principais dificuldades para desenvolver ações de cooperação. Favor marcar o grau
de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta
importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa.
Descrição
Grau de Importância
Dificuldade de identificar parceiros
(0)
(1)
(2)
(3)
Falta de parceiros com os requisitos desejados
(0)
(1)
(2)
(3)
Ausência local de cultura de cooperação
(0)
(1)
(2)
(3)
Falta de confiança
(0)
(1)
(2)
(3)
Outros (especificar):
(0)
(1)
(2)
(3)
IV – ESTRUTURA, GOVERNANÇA E VANTAGENS ASSOCIADAS AO AMBIENTE LOCAL
39. Avalie o grau de importância das externalidades associadas à localização da empresa na região?
Favor marcar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média
importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa.
Grau de Importância
Infraestrutura disponível (física e de serviços)
(0)
(1)
(2)
(3)
Disponibilidade de mão-de-obra
(0)
(1)
(2)
(3)
Qualidade da mão-de-obra
(0)
(1)
(2)
(3)
Custo da mão-de-obra
(0)
(1)
(2)
(3)
190
Existência de programas de apoio e promoção
(0)
(1)
(2)
(3)
Proximidade com universidades e centros de pesquisa
(0)
(1)
(2)
(3)
Proximidade com fornecedores de matérias-primas
(0)
(1)
(2)
(3)
Proximidade com clientes/consumidores
(0)
(1)
(2)
(3)
Proximidade com produtores de equipamentos
(0)
(1)
(2)
(3)
Disponibilidade de serviços técnicos especializados
(0)
(1)
(2)
(3)
Outros (especificar):
(0)
(1)
(2)
(3)
40. Qual a importância para a sua empresa das seguintes características da mão-de-obra local?
Favor marcar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média
importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa.
Características
Escolaridade formal de 1º e 2º graus
Escolaridade em nível superior e técnico
Conhecimento prático e/ou técnico na produção
Disciplina
Flexibilidade
Criatividade
Capacidade para aprender novas qualificações
Outros. Citar:
Grau de importância
(0)
(0)
(0)
(0)
(0)
(0)
(0)
(0)
(1)
(1)
(1)
(1)
(1)
(1)
(1)
(1)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(3)
(3)
(3)
(3)
(3)
(3)
(3)
(3)
41. Como a sua empresa avalia a contribuição de sindicatos, associações, cooperativas locais no
tocante às seguintes atividades: Favor marcar o grau de importância utilizando a escala, onde 1
é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for
relevante para a sua empresa.
Tipo de contribuição
Grau de importância
Auxílio na definição de objetivos comuns para o conjunto de atores
localizados nos municípios da região
Estímulo na percepção de visões de futuro para ação estratégica
Disponibilização de informações sobre matérias-primas,
equipamento, assistência técnica, consultoria, etc.
Identificação de fontes e formas de financiamento
Promoção de ações de cooperação entre empresas e instituições
Apresentação de reivindicações comuns
Criação de fóruns e ambientes para discussão
Promoção de ações dirigidas à capacitação tecnológica de empresas
Estímulo ao desenvolvimento do sistema de ensino e pesquisa local
Organização de eventos técnicos e comerciais
(0)
(1)
(2)
(3)
(0)
(1)
(2)
(3)
(0)
(1)
(2)
(3)
(0)
(0)
(0)
(0)
(0)
(0)
(0)
(1)
(1)
(1)
(1)
(1)
(1)
(1)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(3)
(3)
(3)
(3)
(3)
(3)
(3)
191
V – AÇÕES DE PROMOÇÃO
42. A empresa participa ou tem conhecimento sobre algum tipo de programa ou ações
específicas para o segmento vitivinícola, promovido pelas diferentes esferas de governo e/ou
instituições abaixo relacionados:
Instituição
1. Não tem
2. Conhece, mas não
3. Conhece e participa
conhecimento
participa
Instituições e associações
(1)
(2)
(3)
representativas
Instituições de Ensino
Superior,
Técnico
e
(1)
(2)
(3)
Tecnológico
Instituições de Pesquisa
(1)
(2)
(3)
Instituições de Promoção
(1)
(2)
(3)
Setorial
Outras Instituições
(1)
(2)
(3)
43. Qual a sua avaliação dos programas ou ações específicas para o segmento vitivinícola,
promovido pelas diferentes esferas de governo e/ou instituições abaixo relacionados:
Instituição/esfera
1. Avaliação
2. Avaliação negativa
3. Sem elementos para
governamental
positiva
avaliação
Instituições e associações
representativas
Instituições de Ensino
Superior,
Técnico
e
Tecnológico
Instituições de Pesquisa
Instituições de Promoção
Setorial
Outras Instituições
(1)
(2)
(3)
(2)
(1)
(1)
(1)
(1)
(3)
(2)
(2)
(3)
(2)
(3)
(3)
44. Quais políticas públicas poderiam contribuir para o aumento da eficiência competitiva das
empresas localizadas nos municípios da região? Favor marcar o grau de importância utilizando
a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se
não for relevante para a sua empresa.
Ações de Política
Programas de capacitação profissional e treinamento técnico
Melhorias na educação básica
Programas de apoio a consultoria técnica
Estímulos à oferta de serviços tecnológicos
Programas de acesso à informação (produção, tecnologia, mercados, etc.)
Linhas de crédito e outras formas de financiamento
Incentivos fiscais
Políticas de fundo de aval
Programas de estímulo ao investimento (venture capital)
Outras (especifique):
45. As atividades abaixo relacionadas estão associadas a que tipo de Instituição?
1
Tipo de contribuição
Auxílio na definição de objetivos comuns para o conjunto de atores
localizados nos municípios da região
Estímulo na percepção de visões de futuro para ação estratégica
Grau de importância
(0)
(0)
(0)
(0)
(0)
(0)
(0)
(0)
(0)
(0)
2
(1)
(1)
(1)
(1)
(1)
(1)
(1)
(1)
(1)
(1)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
3
(3)
(3)
(3)
(3)
(3)
(3)
(3)
(3)
(3)
(3)
4
192
Disponibilização de informações sobre matérias-primas,
equipamento, assistência técnica, consultoria, etc.
Identificação de fontes e formas de financiamento
Promoção de ações de cooperação entre empresas e instituições
Apresentação de reivindicações comuns
Criação de fóruns e ambientes para discussão
Promoção de ações dirigidas à capacitação tecnológica de empresas
Estímulo ao desenvolvimento do sistema de ensino e pesquisa local
Organização de eventos técnicos e comerciais
1 – Instituições e associações representativas (Ex.: Ibravin, Uvibra, Agavi, Aprovale, etc.).
2 – Instituições de Ensino Superior, Técnico e Tecnológico (Ex.: IFRS, UCS etc.)
3 – Instituições de Pesquisa (Ex.: Embrapa)
4 – Instituições de Promoção Setorial (SEBRAE, APEX etc.).
46. Sua empresa mudaria as instalações produtivas para fora do APL vitivinícola da Serra Gaúcha,
deixando de trabalhar neste APL?
Sim
( ) 1.
Não
( ) 2.
47. Se a resposta anterior for afirmativa, aponte quais os principais motivos para a saída do APL?
Razões para Saída APL vinhos
Outra região com custos de produção menores
Outra região que ofereça incentivos fiscais
Associação com outra empresa na nova região
Acesso a Linhas de Crédito ou outras formas de financiamento
Maior produtividade
Maior acesso aos mercados internacionais
Maior acesso ao mercado interno
Outras (especifique):
Grau de importância
(0)
(0)
(0)
(0)
(0)
(0)
(0)
(0)
(1)
(1)
(1)
(1)
(1)
(1)
(1)
(1)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
(2)
48. Em que instituição você percebe maior espaço para a promoção de atividades de cooperação no
APL vitivinícola da Serra Gaúcha?
(1) Instituições e associações representativas (Ex.: Ibravin, Uvibra, Agavi, Aprovale, etc.).
(2) Instituições de Ensino Superior, Técnico e Tecnológico (Ex.: IFRS, UCS etc.)
(3) Instituições de Pesquisa (Ex.: Embrapa)
(4) Instituições de Promoção Setorial (SEBRAE, APEX etc.).
(5) Outras. Qual________________________________________
(3)
(3)
(3)
(3)
(3)
(3)
(3)
(3)
193
APÊNDICE B
ROTEIRO DE ENTREVISTA COM INSTITUIÇÕES DO APL
VITIVINÍCOLA
1) Breve histórico da organização;
2) Quais são os principais objetivos da organização;
3) Quais fatores são determinantes para as vinícolas da Serra gaúcha manterem
sua capacidade competitiva;
4) Quais as principais inovações introduzidas nos últimos três anos (produto,
processo e organizacional);
5) A organização tem servido como fonte de informação para o aprendizado das
vinícolas? Como isso tem ocorrido?
6) Que tipo de atividades cooperativas a organização tem apoiado/participado
nos últimos anos?
7) Quais são os principais parceiros da organização nessas atividades
cooperativas?
8) Quais as principais dificuldades para o desenvolvimento de ações de
cooperação no APL?
9) Quais políticas públicas poderiam contribuir para o aumento da
competitividade das empresas do APL?
194
APÊNDICE C
RELAÇÃO DE EMPRESAS ENTREVISTADAS
1) VINÍCOLA MIOLO LTDA
2) VINHOS SALTON S/A
3) VINÍCOLA CORDELIER LTDA
4) INDÚSTRIA DE VINHOS AUGUSTINI LTDA
5) INDÚSTRIA DE VINHOS SÃO LUIZ LTDA
6) COURMAYEUR DO BRASIL VINHOS LTDA
7) VINÍCOLA IRMÃOS BASSO LTDA
8) DON CANDIDO VINHOS FINOS LTDA
9) VINHOS MIORANZA LTDA
10) VINÍCOLA GALIOTTO LTDA
11) DAL PIZZOL VINHOS FINOS LTDA
12) ABEGÊ PARTICIPAÇÕES,
BEBIDAS LTDA
INDÚSTRIA
13) IRMÃOS MOLON LTDA
14) VINÍCOLA PERINI LTDA
15) CAVE MARSON LTDA
16) CAVE DE PEDRA WINERY LTDA
17) LIDIO CARRARO LTDA
18) PIZZATO VINHAS E VINHOS LTDA
19) VINÍCOLA DON MIGUEL LTDA
20) VALLONTANO VINHOS NOBRES LTDA
E
COMÉRCIO
DE
195
APÊNDICE D
INSTITUIÇÕES VISITADAS E PESQUISADAS
1) IBRAVIN – Instituto Brasileiro do Vinho
2) UVIBRA – União dos Vinicultores do Brasil
3) AGAVI – Associação Gaúcha dos Vinicultores
4) APROVALE – Associação dos Produtores do Vale dos Vinhedos
5) CAMPUS BENTO GONÇALVES DO IFRS
6) EMBRAPA UVA E VINHO
7) AVIGA – Associação dos Vinicultores de Garibaldi
8) APROBELO – Associação dos Produtores de Monte Belo do Sul
196
UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA
NÍVEL MESTRADO
AUTORIZAÇÃO
Eu Cláudio Vinícius Silva Farias, CPF 901.364.540-20 autorizo o Programa de Mestrado em
Economia da UNISINOS, a disponibilizar a Dissertação de minha autoria sob o título
Aprendizado, Inovação e Cooperação: um estudo do segmento vinícola do arranjo produtivo
da vitivinicultura da Serra Gaúcha, orientada pela professora doutora Ana Lúcia Tatsch, para:
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texto integral da minha Dissertação citada acima, no site do Programa, para fins de leitura e/ou
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São Leopoldo, 17/05/2010
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