UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA NÍVEL MESTRADO CLÁUDIO VINÍCIUS SILVA FARIAS APRENDIZADO, INOVAÇÃO E COOPERAÇÃO: um estudo do segmento vinícola do arranjo produtivo da vitivinicultura da Serra gaúcha SÃO LEOPOLDO 2010 2 CLÁUDIO VINÍCIUS SILVA FARIAS APRENDIZADO, INOVAÇÃO E COOPERAÇÃO: um estudo do segmento vinícola do arranjo produtivo da vitivinicultura da Serra gaúcha Dissertação apresentada como requisito parcial para obter o título de Mestre, pelo Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Orientadora: Profa. Dra. Ana Lúcia Tatsch Co-Orientadora: Profa. Dra. Gláucia A. Campregher SÃO LEOPOLDO 2010 3 CLÁUDIO VINÍCIUS SILVA FARIAS APRENDIZADO, INOVAÇÃO E COOPERAÇÃO: um estudo do segmento vinícola do arranjo produtivo da vitivinicultura da Serra gaúcha Dissertação apresentada como requisito parcial para obter o título de Mestre, pelo Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Aprovado em ____/____/2010. BANCA EXAMINADORA: _____________________________________________ Profa. Dra. Gláucia Angélica Campregher – UFSM _____________________________________________ Prof. Dr. Achyles Barcelos da Costa – Unisinos _____________________________________________ Prof. Dr. Marco Antonio Vargas – UFF _____________________________________________ Profa. Dra. Janaína Ruffoni Trez - Unisinos Profa. Dra. Ana Lúcia Tatsch (Orientadora) Visto e permitida à impressão. São Leopoldo, ____/____/2010. Prof. Dr. André Filipe Zago de Azevedo Coordenador Executivo PPG em Economia 4 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Ficha Elaborada pelo Bibliotecário Filipe Xerxenesky da Silveira – CRB 10/1497 F224a Farias, Cláudio Vinícius Silva. Aprendizado, Inovação e Cooperação: um estudo do segmento vinícola do arranjo produtivo da vitivinicultura da Serra Gaúcha. / Cláudio Vinícius Silva Farias. -- São Leopoldo, 2010. 198 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Programa de Pós-Graduação em Economia, 2010. Orientadora: Profª Drª Ana Lúcia Tatsch Co-orientadora: Profª Drª Gláucia A. Campregher 1. Economia. 2. Vitivinicultura. 3. Aprendizado. 4. Inovação. 5. Cooperação I. Título. CDU – 338.439:663.2 5 AGRADECIMENTOS Ao longo desta jornada, que se encerra com a apresentação desta dissertação, muitas pessoas e organizações tiveram um papel fundamental, e sem o apoio destas, certamente não conseguiria chegar onde estou agora. Primeiramente, gostaria de agradecer a Deus por ter permitido chegar até aqui, mesmo em meio a tantas adversidades. Agradeço de forma especial a Profa. Ana Lúcia Tatsch, pela orientação impagável e paciência ilimitada, diante das inúmeras dificuldades que lhe impus durante a construção deste trabalho. Agradeço também a ajuda da Profa. Gláucia Campregher, que mesmo sem a obrigação institucional de fazê-lo, co-orientou esta dissertação, empenhando além de seu conhecimento, a amizade e espontaneidade que lhe são características. Agradeço, igualmente, aos demais membros da Banca, por suas considerações que conduziram à melhoria desse trabalho. Aos professores e funcionários do Programa de Pós-Graduação em Economia, por suas importantes participações nessa etapa de minha vida. Agradeço também as colegas do mestrado, pela troca de experiências, e aos amigos do Campus Porto Alegre do IFRS, pela preocupação comigo, principalmente nos prazos finais de entrega desse trabalho. A todos os empresários e representantes de instituições vinculados ao APL vitivinícola da Serra gaúcha, pelas inúmeras horas despendidas na resposta aos questionamentos que conduziram ao resultado final deste trabalho. Devoto um especial agradecimento ao Sr. Carlos Paviani, Diretor Executivo do IBRAVIN, e ao Prof. Dr. Eduardo Giovaninni, Diretor Geral do Campus Bento Gonçalves do IFRS, pela 6 transmissão de seus conhecimentos e pelo apoio ao acesso às empresas e organizações do setor. Agradecimento especial à Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela concessão da bolsa de estudos que viabilizou a realização deste curso. Por fim, mas não por último, agradecer a minha amada esposa, companheira, amiga e motorista, que em todos os momentos, até os mais difíceis, esteve sempre ao meu lado. Rendo a ti não apenas minha gratidão, mas todo o meu amor. 7 [...] Melhor é serem dois do que um... Pois se caírem, um levantará o seu companheiro [...]. Eclesiastes 4:9-11 8 RESUMO A presente dissertação tem por objetivo caracterizar e avaliar os processos de aprendizado, que conduzem ao fortalecimento da capacidade de inovação e cooperação das empresas do segmento vinícola localizado na Serra gaúcha. Ancorado no conceito de Arranjos Produtivos Locais (APLs), buscou-se inicialmente realizar uma caracterização do arranjo vitivinícola, expandindo a análise para além da cadeia produtiva da uva e do vinho, com especial atenção aos aspectos históricos e institucionais que conduziram ao desenvolvimento desse arranjo. Mapearam-se as principais relações de cooperação, buscando qualificar os relacionamentos que se estabelecem entre as firmas, e destas com as demais organizações. Por meio de um levantamento de dados empíricos, coube analisar os processos de aprendizagem enquanto raízes das inovações e da cooperação dentro do Arranjo. Palavras-Chave: Processos de Aprendizagem; Inovação; Cooperação; Arranjo Produtivo Local; Vitivinicultura. 9 ABSTRACT This work aims to characterize and evaluate the learning processes that lead to strengthening the capacity of innovation and cooperation of the business segment winery located in the Serra Gaucho. Anchored in the concept of Local Productive Arrangements (LPAs), we sought initially to characterize the arrangement wine, expanding the analysis beyond the production chain of the grape and wine, with special attention to historical and institutional development that led to this arrangement. They mapped out the main relations of cooperation, seeking to qualify the relationships established between firms, and with those in other organizations. Through a survey of empirical data, it fell to analyze the processes of learning as roots of innovation and cooperation within the arrangement. KEY-WORDS: Learning Processes; Innovation; Cooperation; Local Productive Arrangements; wine sector 10 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Processo de produção de vinhos finos..................................................... 87 Figura 2 – Períodos Evolutivos da Vitivinicultura do Brasil................................. 107 11 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Evolução da quantidade de uvas processadas no RS (milhões Kg). .... 78 Gráfico 2 – Evolução do número de empresas vinícolas no RS............................... 84 12 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Lavoura permanente de uva no APL vitivinícola da Serra Gaucha (2008) ......................................................................................................................... 76 Tabela 2 – Principais cultivares de uvas comuns no RS por superfície vitícola (2007) ......................................................................................................................... 77 Tabela 3 - Principais cultivares de uvas viníferas no RS por superfície vitícola (2007) ......................................................................................................................... 77 Tabela 4 – Comparativo dos municípios com maior produção de uva industrializadas (milhões de Kg) – Safra 2005 a 2009 ............................................. 83 Tabela 5 – Produção de vinhos e derivados no RS (1994 a 2009) ............................ 86 Tabela 6 – Destino da uva processada no RS (2004 a 2009) .................................... 90 Tabela 7 – Procedência das importações de vinhos do Brasil (mil litros) ............... 91 Tabela 8 – Distribuição das empresas entrevistadas no APL ................................ 116 Tabela 9 – Distribuição das empresas da amostra por porte. ............................... 118 Tabela 10 – Municípios X Distribuição da empresas da amostra (por porte). ..... 118 Tabela 11 – Distribuição de empresas da amostra por período de fundação. ...... 119 Tabela 12 – Grau de constância (%) das atividades inovativas desenvolvidas pelas empresas da amostra (2007 a 2009). ....................................................................... 133 Tabela 13 – Freqüência (%) das atividades de treinamento e capacitação de recursos humanos pelas vinícolas da amostra (2007 a 2009) ................................. 137 Tabela 14 – Áreas em que se estabeleceram atividades de cooperação (2007 a 2009) ................................................................................................................................. 147 Tabela 15 – Formas de cooperação que se estabeleceram (2007 a 2009) .............. 148 13 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Tipos de Cooperação Interfirmas .......................................................... 46 Quadro 2 – Principais Fornecedores de Máquinas, Equipamentos e Insumos Enológicos às empresas do APL da Vitivinicultura da Serra gaúcha ..................... 94 Quadro 3 – Representação esquemática das principais organizações vinculadas à vitivinicultura na Serra gaúcha .............................................................................. 100 Quadro 4 – Inovações e principais agentes de desenvolvimento (2007 a 2009) .... 128 14 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 16 2 Aprendizagem, Inovação e Cooperação em Arranjos Produtivos Locais: uma revisão de conceitos sob uma ótica evolucionária e neo-institucional ..................... 21 2.1 Processos de Aprendizagem na visão dos evolucionistas .................................... 24 2.2 Inovação na visão dos evolucionistas e de neo-institucionalistas ........................ 32 2.3 Processos de Cooperação em atividades inovativas ............................................ 41 2.4 A Relevância dos Arranjos Produtivos Locais (APL’s) e dos Sistemas de Inovação .................................................................................................................. 49 2.4.1 Do Distrito Marshalliano ao Distrito Italiano ............................................... 49 2.4.2 Arranjos Produtivos Locais e Sistemas de Inovação .................................... 53 3 CARACTERIZAÇÃO DO APL DA VITIVINICULTURA DA SERRA GAÚCHA .................................................................................................................. 60 3.1 - Constituição histórica do APL: os primórdios da vitivinicultura no RS e a imigração italiana .................................................................................................... 61 3.2. Caracterização produtiva do APL da Vitivinicultura da Serra Gaúcha ............... 74 3.2.1 Produção vitícola no RS .............................................................................. 74 3.2.2 Produção Vinícola no RS ............................................................................ 83 3.2.3 Fornecedores de Máquinas, Equipamentos e Insumos enológicos ................ 94 3.3 Caracterização Institucional do APL .................................................................. 98 3.3.1 – Associações Representativas: IBRAVIN ................................................ 100 3.3.2 – Instituições de Apoio: APROVALE ....................................................... 102 3.3.3- Instituição de Pesquisa: Embrapa Uva e Vinho......................................... 104 3.3.4 – Instituições de Ensino: Campus Bento Gonçalves do IFRS ..................... 104 3.4. Periodização do ciclo da industrialização do vinho brasileiro .......................... 106 4 APRENDIZADO, INOVAÇÃO E COOPERAÇÃO EM VINÍCOLAS DA SERRA GAÚCHA... ................................................................................................................. 112 4.1 - Metodologia da pesquisa ............................................................................... 112 4.1.1 – Perfil da amostra ........................................................................................ 116 4.2 – Inovação, Cooperação e Aprendizado ........................................................... 125 4.3 - Estrutura, governança e vantagens associadas ao ambiente local .................... 150 15 4.4 – Ações de Promoção ...................................................................................... 158 5 Considerações finais......................................................................................... 166 Referências bibliográficas....................................................................................... 173 APÊNDICES ........................................................................................................... 181 16 1 INTRODUÇÃO A associação entre o surgimento da indústria vitivinícola no Rio Grande do Sul (RS) e os processos de imigração, principalmente procedentes das diversas regiões da Itália – ocorridos a partir do último quartil do século XIX -, é praticamente automático. Tais imigrantes, quando da sua instalação no estado, trouxeram consigo hábitos culturais e sociais altamente vinculados ao associativismo, que posteriormente viriam introduzir no RS o germe dos sistemas cooperativados de produção, muito semelhantes à estrutura das guildas profissionais na Idade Média1. A partir deste processo migratório, se “importou” um modelo de “firma colonial” vitivinícola, caracterizada por ser de pequeno porte, com forte vinculação familiar e permanente busca por especialização da produção, que acabou por afetar (e acelerar) o progresso tecnológico na região nordeste do RS. Percebe-se que, desde a sua introdução, a vitivinicultura assume papel relevante na estrutura produtiva da região da Serra gaúcha. Alguns autores, como Iotti (2001) e Moure (1980), justificam isso com a origem dos colonos italianos: estima-se que 54% dos imigrantes eram oriundos do Vêneto; 33% da Lombardia; 7% do Trento; e 6% das demais regiões da Itália. Estas regiões são, a muitos séculos, tradicionais produtoras vinícolas da Itália, com experiência em produção de vinhos que remonta o Império 1 Putnam (1996: 137) afirma: “Com a evolução da vida comunal, artesãos e comerciantes criaram guildas para mútua assistência, com fins não apenas sociais mas também estritamente profissionais. O mais antigo estatuto de guilda é o de Verona, que data de 1303, mas certamente foi copiado de algum outro estatuto bem mais antigo. Eis algumas das obrigações dos membros: ‘assistência fraternal em todo tipo de necessidade’ e ‘obrigação de oferecer ajuda em caso de doença’. ‘A violação dos estatutos implicava boicote e ostracismo social’”. 17 Romano. Além do conhecimento técnico-produtivo acumulado, tais imigrantes trouxeram em suas bagagens uma secular experiência de organização republicana. Ao longo de mais de um século de história, a transformação da Serra gaúcha na principal região produtora de vinhos do Brasil está intimamente relacionada à história dos colonos italianos aqui chegados e às inúmeras mutações institucionais que estes empreenderam (não somente no âmbito econômico, mas, sobretudo, no estabelecimento de relações sociais, entre si e com outras instituições – tais como o Estado e o “mercado”2). Como pano de fundo desse trabalho, considerou-se que não apenas aspectos tecnológicos foram “importados” com a vinda dos imigrantes italianos, mas também aspectos sócio-culturais, que moldaram as instituições vinculadas à vitivinicultura, marcando esta região de forma distinta das demais regiões do RS3. No entanto, deve-se compreender que o imigrante italiano que veio para o Brasil possui características marcantemente distintas do que Putnam (1996), por exemplo, apresenta em sua obra, visto que pelos inúmeros problemas sociais, econômicos e políticos, tais imigrantes se constituíam em uma parcela consideravelmente marginalizada, inclusive de processos cívicos, democráticos e participativos de que trata o autor em sua obra. Ainda assim, importa compreender que esses colonos estabeleceram relações sociais entre si, que marcaram até o presente momento o desenvolvimento do arranjo, seja pela especialização das firmas, seja pela constituição de um aparato institucional fortemente presente na região. 2 A idéia aqui é compreender os mercados como instituições socialmente construídas, organizadas para promover alguns interesses em detrimento de outros. Ver Samuels (2004). 3 Evidentemente não se está associando o desenvolvimento da região nordeste do RS ao desenvolvimento das instituições vitivinícolas ali localizadas; porém, fica o reconhecimento de que o desenvolvimento da região da Serra gaúcha está fortemente vinculado às normas, regras e tradições (leia-se instituições) “importadas” juntamente com os colonos italianos. 18 A partir da análise do arranjo produtivo da vitivinicultura da Serra gaúcha, pretendeu-se analisar os processos de aprendizado que estimulam a inovação das firmas e a cooperação no interior do arranjo. Os pressupostos dessa dissertação vinculam-se a idéia de que a inovação é o fator-chave que confere à firma competitividade econômica sustentável; o aprendizado é o veículo de geração e difusão da inovação e do conhecimento; a aquisição de conhecimento é fundamentalmente baseada na cooperação, que ocorre através de diferentes formas de interação. Importante citar que temas como aprendizado e inovação têm sido empregados, ao longo dos anos, cada vez mais no sentido de compreender as vantagens competitivas e o desenvolvimento, não apenas de pessoas e de firmas, mas também de regiões e países. Tais conceitos têm sofrido alterações em suas interpretações, nas diversas correntes da teoria econômica. Para os economistas ortodoxos, por exemplo, as questões da aprendizagem são encaradas como elemento capaz de promover maior otimização da produção, bem como redução do custo médio. Estes mesmos economistas, ao estudarem temas como a inovação e os avanços tecnológicos se restringem a analisar, em nível da firma, a construção e observação de isoquantas e a medição de taxas marginais de substituição técnica. De outro modo, para autores como Lundvall (1995), a abordagem que vem ao encontro das preocupações atuais de firmas e instituições, diz respeito à aprendizagem pela interação (learning-byinteracting), destacando-se por ser de natureza cumulativa, além de cumprir um relevante papel na construção do desempenho competitivo das firmas. Que fique claro, desde então, que a base conceitual dessa dissertação está nos conceitos atribuídos aos autores conhecidos como evolucionistas e neo- schumpeterianos, além de uma análise das instituições, embasada na abordagem da Nova Economia Institucional. Os autores vinculados a essas correntes, sobretudo os 19 neo-schumpeterianos, encaram as inovações como oportunidades que a firma dispõe de obter lucros diferenciados. Assim, para tais autores, a preocupação da firma inovadora é a busca de oportunidades lucrativas e um maior domínio sobre o mercado (DOSI, 1988). No entanto, o objetivo desse estudo não é analisar a firma como um agente atomizado, mas um elo de uma cadeia de relações, conformadas por uma proximidade territorial. Onde se desenvolvem as atividades inovativas e os processos de aprendizagem? Certamente que o locus da inovação é a firma (SCHUMPETER, 1942), porém, apenas habilidades individuais da firma são suficientes para o desenvolvimento pleno de tais processos? Nesse contexto, Maskell e Malmberg (1999) apontam que as firmas constroem sua competitividade de forma interativa, baseando-se em capacitações localizadas, pois se utilizam de infraestruturas e instituições estabelecidas localmente. Assim, o espaço ou território passa a ser um elemento fundamental para a análise dos processos de inovação e aprendizagem (CASSIOLATO; LASTRES, 1999). Um olhar sobre a literatura econômica recente aponta para a crescente importância dos arranjos produtivos locais (APLs), enquanto conceito que introduz o território como unidade específica de análise. Tal literatura ressalta que a inserção de empresas nesses arranjos possibilita o acesso a recursos e competências privilegiadas, disponíveis em escala local, bem como aprofunda os processos de aprendizado que permitem às empresas fortalecer sua posição competitiva nos respectivos setores de atuação. Fundamentalmente, a presente dissertação se propõe a identificar e caracterizar os processos de aprendizado, que resultam num aprofundamento e no fortalecimento da capacidade inovativa e dos processos de cooperação nas vinícolas localizadas na Serra gaúcha. De pronto, destaca-se que o foco das análises desse trabalho são as vinícolas do 20 APL da Serra gaúcha, em virtude da importância desse segmento para o APL como um todo (importância essa expressa não apenas no número de empresas, mas na quantidade e representatividade de instituições ligadas ao segmento vinícola). Nesse sentido, esse trabalho visa contribuir para a discussão acerca do papel da proximidade territorial nos processos de aprendizagem, inovação e cooperação de empresas inseridas em aglomerações produtivas. Este trabalho pretende analisar, ainda, as relações que se estabelecem dentro do arranjo produtivo local da vitivinicultura da Serra gaúcha, compreendendo as ações de cooperação (entre firmas e destas com as instituições que compõem esse APL) e como estas afetam (ou são afetadas) pelos processos de aprendizagem e inovação. A dissertação está organizada em quatro capítulos, além dessa introdução. O primeiro capítulo apresenta os principais conceitos de que trata o trabalho, ou seja, Aprendizagem, Inovação, Cooperação e Aglomerados Produtivos, à luz dos pressupostos teóricos dos autores neo-schumpeterianos e neo-institucionalistas. O segundo capítulo, intitulado “Caracterização do APL da Vitivinicultura da Serra gaúcha”, apresenta, primeiramente, uma discussão histórica acerca da formação e consolidação do APL, além caracterizar a organização produtiva do APL (produtores vitícolas, vinícolas e fornecedores de bens e serviços). De igual modo, esse segundo capítulo trata de apresentar uma contextualização do arranjo institucional que compõem o APL. O terceiro capítulo apresenta os dados obtidos na pesquisa de campo realizada junto a vinte vinícolas localizadas no APL, buscando captar a percepção e participação desses em atividades de cooperação e inovação, bem como os meios utilizados para a promoção da aprendizagem. Por fim, apresentam-se as considerações finais do trabalho. 21 2 Aprendizagem, Inovação e Cooperação em Arranjos Produtivos Locais: uma revisão de conceitos sob uma ótica evolucionária e neo-institucional Temas como aprendizado e inovação não são recentes na teoria econômica, apesar do emprego destes conceitos se mostrar mais intensivo a partir do final dos anos 70. Qualquer leitor encontrará referências sobre estes temas nos principais manuais de economia. Para os economistas ortodoxos, a noção de aprendizado está associada à “curva de aprendizagem”, que informa que o custo de produção de uma empresa pode apresentar reduções ao decorrer certo tempo, em virtude dos funcionários se familiarizarem mais com as máquinas e equipamentos, tornando assim a produção mais eficaz. Dessa forma, por um longo período de tempo, os economistas analisavam as questões da aprendizagem sob a ótica da otimização da produção e da redução do custo médio (sendo então o aprendizado outra forma de se obter tal redução, além do declínio oriundo dos ganhos de escala). De igual modo, os temas relacionados à inovação e aos avanços tecnológicos também aparecem na literatura neoclássica. De certo que muitos modelos econométricos dão fixa e exógena tais questões, não podendo a firma exercer qualquer influência, uma vez que tais avanços ocorrem “fora dos muros” da empresa (geralmente nas universidades, centros de pesquisa etc.). Porém, se se buscar as referências nos manuais de economia, se encontrará aqueles que defendem que a tecnologia não é fixa, mas mutável (MILLER, 1981; MANSFIELD, 1968; HIRSCH, 1952). Mas que tipo de mutabilidade sofre (e exerce) a tecnologia? Para os autores neoclássicos mais arrojados, 22 mudanças tecnológicas são sinônimos de alterações da função de produção da firma. Dessa forma, a alteração tecnológica é motivada “pelo desejo de produzir a mesma quantidade a um custo médio mais baixo” (MILLER, 1981: 208). Assim, a análise da inovação e das mudanças tecnológicas se restringia, ao nível da firma, à construção e observação de isoquantas e à medição de taxas marginais de substituição técnica. No intuito de apresentar outra visão sobre os processos de inovação e suas interferências sobre as relações intra e interfirmas, o presente capítulo desta dissertação pretende apresentar uma revisão de alguns conceitos-chave, à luz das contribuições de autores conhecidos como evolucionistas (neo-schumpeterianos) e neo- institucionalistas4. O que diferencia estes dois grupos dos neoclássicos, em termos da compreensão dos processos de cooperação, de inovação e de aprendizagem? Primeiramente, cabe destacar que tanto evolucionistas quanto neo-institucionalistas encaram as inovações como oportunidades que a firma dispõe de obter lucros diferenciados (CONCEIÇÃO, 2002). Assim, diferente dos neoclássicos, que vêem na inovação uma possibilidade de redução do custo médio de produção, a preocupação da firma inovadora é a busca de oportunidades lucrativas e um maior domínio sobre o mercado (DOSI, 1988). Destaca-se o caráter sistêmico da inovação, isto é, as firmas não inovam isoladamente, mas procuram interagir com outras organizações, tais como universidades, centros de pesquisa ou ainda outras firmas. Essa interação, para os evolucionistas, conduz à construção de inúmeros e distintos processos de aprendizagem, que podem se dar pela execução repetida de atividades, pelo uso de equipamentos, mas, sobretudo, pela interação entre os agentes econômicos (LUNDVALL, 1988; QUEIROZ, 2006). Outra grande diferença dos evolucionistas e neo-institucionalistas em relação ao 4 Este capítulo não pretende ser um exercício exaustivo de apresentação das contribuições e divergências dos evolucionistas e neo-institucionalistas para o entendimento da dinâmica econômica da inovação, da cooperação e dos processos de aprendizado. Diversos outros autores já fizeram tal exposição de forma mais completa e brilhante, entre os quais citamos Nelson e Winter (1982), Dosi (1988), North (1990 e 1996) e Possas (1989). 23 mainstream é que o contexto institucional (leis, normas, regras sociais) é um importante elemento para analisar a evolução das inovações, da cooperação e do aprendizado no interior e ao redor das firmas. Isso porque tais instituições podem tanto incentivar quanto restringir tais processos. Onde se desenvolvem as atividades inovativas e os processos de cooperação e aprendizagem? Certamente que o locus da inovação é a firma (SCHUMPETER, 1982), porém, apenas habilidades individuais da firma são suficientes para o desenvolvimento pleno de tais processos? Nesse contexto, Maskell e Malmberg (1999) apontam que as firmas estruturam sua competitividade de forma interativa, baseando-se em capacitações localizadas, pois se utilizam de infraestruturas e instituições estabelecidas localmente. Tais capacidades são moldadas por aspectos históricos, sociais, geográficos e econômicos, tornando, assim, cada região ou espaço um locus ímpar de interação e aprendizado coletivo, que impacta diferentemente os vários agentes ali localizados. Dessa forma, o espaço ou território passa a ser um elemento fundamental para a análise dos processos de inovação, cooperação e aprendizagem, uma vez que a proximidade geográfica é o melhor elemento de promoção da interação, da inovação e do aprendizado5 (CASSIOLATO; LASTRES, 1999). O presente capítulo está organizado em quatro seções, nas quais se discute: a) os aspectos principais dos processos de aprendizagem, expondo os principais pressupostos teóricos dos autores evolucionistas; b) a inovação em seus diferentes aspectos, partindose da compreensão de que apesar de ser a firma o locus da inovação, tal processo não se dá isoladamente, mas pelo contrário, é resultante de processos interativos e de natureza 5 Importante ressaltar que esta abordagem da aproximação geográfica das firmas tem seu berço em Marshall, que associa tanto fatores estruturais como comportamentais e institucionais, que se refletem em ações coletivas indutoras do incremento das competências e competitividade dos agentes locais, gerando “externalidades positivas”, inerentes à aglomeração das firmas. 24 social, tendo por participantes diversos atores sociais; c) a compreensão da existência e importância dos processos de cooperação, tanto entre as firmas como entre essas e outras instituições, em geral localizadas territorialmente; e d) o entendimento das conceituações das aglomerações geográficas de firmas e instituições, em especial os arranjos e sistemas produtivos locais (ASPL’s ou simplesmente APL’s), focalizando um conjunto especifico de atividades econômicas que possibilitam e privilegiam a investigação das relações entre conjuntos de empresas e destes com outros agentes; especial ênfase será dada ao corpo conceitual adotado pela REDESIST6. 2.1 Processos de Aprendizagem na visão dos evolucionistas Para os evolucionistas, a concepção sobre os processos de aprendizagem se dá de forma ampla, não se restringindo apenas à aprendizagem formal, adquirida a partir dos anos de instrução dos agentes econômicos. Para os principais autores desta corrente, o aprendizado está intimamente relacionado à capacidade, enquanto resultado final, de gerar conhecimento aos agentes. Tal conhecimento se estrutura através de um processo de aprendizagem, que de fato se constitui em “vários processos distintos, que muitas vezes se sobrepõem ou realimentam uns aos outros” (ROSENBERG, 2006: 108). Cabe salientar que o processo de aprendizado será a maneira escolhida (formal ou tacitamente) pelo qual um agente pode gerar conhecimento. Ou seja, o resultado da performance dos agentes e instituições depende diretamente do aprendizado. Como 6 A REDESIST é uma rede de pesquisa de caráter interdisciplinar, formalizada desde 1997, sob coordenação do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Desta rede, participam diversas universidades e institutos de pesquisa no Brasil e no Exterior, promovendo importantes estudos sobre o papel dos arranjos e sistemas produtivos locais (ASPL’s) na construção do processo de desenvolvimento econômico (REDESIST, <http://www.ie.ufrj.br/redesist. >acesso: dezembro: 2009). 25 apontam Torres, Almeida e Tatsch (2004:03), “o conceito de aprendizado é muito mais amplo do que o mero acesso a um maior conjunto de informações, como usualmente frisado no enfoque neoclássico (...) está diretamente associado à forma pela qual as capacitações são desenvolvidas e adaptadas à mudança no ambiente econômico”. Do ponto de vista da concorrência inter-firmas e da gestão intra-firmas, Bessant et al. (1999) propõem que o aprendizado seja entendido como um processo de combinação de experiências, reflexões, formação de conceitos e experimentação. Três componentes principais estão envolvidos em tal processo: a) a acumulação e o desenvolvimento de “competências centrais”, que diferenciam as firmas entre si, oferecendo ou não o potencial de vantagem competitiva para cada uma; b) a dimensão temporal - o aprendizado (como processo contínuo e cumulativo) envolve um processo de longo prazo; c) “componente idiossincrático” - os processos de aprendizado são próprios das organizações e seus ambientes e dificilmente são replicáveis por outras. Dessa forma, Bessant et al. (1999) apontam como características principais do aprendizado: (a) que o mesmo não é automático, não sendo necessário investimentos explícitos para se aprender; (a) o aprendizado pode envolver o domínio e a mudança de tarefas corriqueiras como processos mais intensivos em conhecimento, incorporando transformações radicais; assim sendo, quanto mais radical a mudança, maior a necessidade do investimento em aprendizado; (c) aprender a aprender é fundamental e envolve tanto componentes formais quanto tácitos (e, portanto, seu caráter interativo e dependente do contexto). 26 Para Teece (1992), o aprendizado envolve diversas características, que necessitam ser explicitadas. Primeiramente, o aprendizado requer habilidades organizacionais e individuais. Muito embora as habilidades individuais sejam importantes, seu valor depende do seu emprego em ambientes organizacionais específicos. Teece (1992:155) afirma que “os processos de aprendizado são intrinsecamente sociais e coletivos, e ocorrem em função de contribuições conjuntas relativas ao entendimento dos problemas complexos”. Assim, é de se esperar que o aprendizado, ao gerar conhecimento organizacional, promova novos padrões de atividade, ou “rotinas” – padrões de interações que representam soluções bem-sucedidas de problemas específicos (DOSI, 1988). A aprendizagem, enquanto processo de acumulação de conhecimento no interior da firma, depende, em maior ou menor escala, das capacitações prévias da firma e do seu acesso às fontes externas de informações. Esse processo adquire distintos formatos e provoca impactos diferenciados sobre o conhecimento que será acumulado. A criação de competências no interior da firma é, portanto, um processo contínuo de aprendizagem, do qual decorrem capacitações também especificas. Existem várias formas de aprendizado ligadas às diferentes maneiras de se difundir e adquirir conhecimento. Tais processos podem estar associados ao conhecimento acumulado em atividades de produção, o chamado learning-by-doing (ARROW, 1962). Por outro lado, o aprendizado pode decorrer do uso de determinado bem ou serviço, o chamado learning-by-using (ROSENBERG, 2006). Porém, talvez a forma mais importante aprendizado entre firmas se relacione com a experiência de interação com outros agentes (tais como fornecedores e clientes), chamado learning-byinteracting (LUNDVALL, 1988). Assim, processos de inovação e atividades de 27 produção requerem formas específicas de interação entre agentes econômicos (e destes com as instituições). No momento atual, caracterizado por uma competição que extravasa a comparação simples de preços, o mais importante não é apenas ter acesso à informação ou possuir um conjunto de habilidades, mas fundamentalmente ter capacidade para adquirir novas habilidades e conhecimentos (learn-to-learn). Isto se manifesta na capacidade de aprender e de tornar o aprendizado um fator competitivo. Isso significa uma constante transformação das habilidades dos indivíduos e das competências tecnológica e organizacional da firma (LUNDVALL; BORRÁS, 1998). O aprendizado é importante tanto para se adaptar às rápidas mudanças nos mercados e nas condições técnicas, como para gerar inovações em produtos, processos e formas organizacionais. Em síntese, a aprendizagem está relacionada a um processo cumulativo em que as firmas ampliam seu estoque de conhecimento, aperfeiçoam os seus procedimentos de busca e refinam suas habilidades em desenvolver e fabricar produtos (e/ou serviços). Segundo Dodgson (1996: 55), “a aprendizagem pode ser descrita como a forma utilizada pelas firmas para construir, organizar o conhecimento e as rotinas ao redor das competências e cultura da firma, e para adaptar e desenvolver a eficiência organizacional através da melhoria do uso dessas competências”. Dessa forma, a aprendizagem amplia de forma contínua o estoque de conhecimentos da firma, viabilizando a incorporação de inovações, além da exploração de novas oportunidades produtivas e tecnológicas, facilitando a expansão para novos mercados. Jensen et al. (2004) destacam que existem dois tipos de modelos que caracterizam o processo de aprendizagem e sua relação com a inovação. O primeiro é denominado STI (Science, Technology, Innovation) que implica que o conhecimento 28 codificado, e as maneiras científicas de obter acesso, produzir e utilizar esse conhecimento são dominantes no processo de inovação. Os departamentos de P&D das grandes firmas exercem um papel-chave neste processo. O outro modelo, que é focado por Jensen et al. (2004), é denominado DUI (Doing, Using, Interacting) que implica em conhecimento tácito (conhecimentos não codificáveis e difíceis de serem transferidos), buscando construir estruturas e relacionamentos, que intensificam e utilizam o learning-by-doing (aprender fazendo), learning-by-using (aprender usando) e learning-by-interacting (aprender interagindo). Tal ênfase na interação corresponde às condições e contextos nos quais as firmas estão inseridas, que são facilitadas pela proximidade entre os agentes. Para Malmberg e Maskel (2006) a proximidade na “aprendizagem localizada” possui dimensões espaciais que podem ser verificadas verticalmente (é o caso do learning-by-interacting, pela relação entres empresas em diferentes elos da cadeia), horizontalmente (é o caso do learning-by-monitoring, que privilegia a observação e comparação entre firmas) e socialmente (de natureza informal, pela presença de hábitos e valores comuns, decorrentes do capital social acumulado no espaço de interação entre os agentes). A principal forma de classificar as interações é a regularidade de sua ocorrência. As interações podem ser classificadas como irregulares, ou seja, quando a interação não possui um padrão definido de repetição; e aquelas interações onde há um padrão de periodicidade cronológica, caracterizadas como regulares. A partir dessa classificação (regular/irregular), Torres, Almeida e Tatsch (2004) apontam quatro tipos de interação, que podem conduzir a efetivação de processos de cooperação. Uma interação regular pode estar associada a uma cooperação formal ou a uma cooperação informal. Já uma 29 interação irregular desdobra-se em contatos bilaterais ou em contatos multilaterais. Assim, tais autores classificam em: (1) Cooperação Formal - interação entre os agentes não só é regular, mas também quando está definido um propósito e um resultado esperado para a interação. (2) Cooperação Informal - diferentemente da cooperação formal, aqui não se têm bem definido o objetivo e o propósito da interação. A cooperação pode ser recorrente, com expectativa de futuras repetições, mas sem, no entanto, ter um escopo delimitado, em seu objetivo e método. (3) Contato Bilateral - interações entre dois agentes que ocorrerem sem um padrão definido de repetição. Este tipo de interação pode ser o primeiro passo da constituição de uma futura cooperação. (4) Contato Multilateral - diferentemente do contato bilateral, neste caso a interação não ocorre entre duas partes, mas entre um conjunto de agentes que possuam algum mecanismo comum de identificação, por exemplo, firmas que atuem no mesmo setor na mesma região (TORRES, ALMEIDA; TATSCH; 2004: 05). Para Ribeiro e Mezzomo (2004), na medida em que a abordagem evolucionista considera a firma como um conjunto de capacidades técnicas, econômicas e organizacionais, direciona a unidade básica de análise na firma, o que implica que A Teoria Evolucionista procura compreender as fronteiras das organizações, não apenas em relação ao custo de transação, mas em termos do aprendizado, do padrão de dependência, das oportunidades tecnológicas, da seleção e da complementaridade dos ativos (RIBEIRO; MEZZOMO, 1994: 113). Assim, os processos de aprendizado são múltiplos, mas no caso específico das firmas localizadas em arranjos produtivos, o aprendizado por interação assume um papel de especial relevância. Johnson e Lundvall (1994) formulam algumas hipóteses sobre o contexto no qual ocorre o processo de aprendizado por interação, as quais podem ser correlacionadas ao contexto no qual se conformam arranjos produtivos locais. Primeiramente, tal aprendizado envolve - como já mencionado -, um "processo social", que exige o estabelecimento de uma linguagem própria entre os agentes, através do estabelecimento de códigos e canais de comunicação entre estes, a fim de facilitar o 30 intercâmbio de informações. Em segundo lugar, quanto mais complexo for o aprendizado, tanto maior será a necessidade de interação para viabilizá-lo. Neste contexto surge a “economia baseada no conhecimento”7, exprimindo a importância do conhecimento como base fundamental para a competição, sendo o aprendizado interativo a principal forma de indivíduos, firmas e regiões acessarem os benefícios de tais mudanças. A fim de especificar e ampliar a análise econômica do conhecimento, Foray e Lundvall (1996) diferenciaram os tipos de conhecimento que são importantes neste período de Economia Baseada no Conhecimento, quais sejam: a) know-what: refere-se ao conhecimento sobre alguns fatos, aproximando do conceito de informação, podendo este conhecimento ser codificado facilmente. b) know-why: refere-se a conhecimentos científicos de princípios e leis da natureza; este tipo de conhecimento esta ligado ao desenvolvimento tecnológico e avanços em produtos e processos em algumas áreas industriais. A produção e reprodução deste conhecimento (know-why) são freqüentemente utilizadas em organizações especializadas, como laboratórios e universidades, existindo certo nível de codificação; no entanto, as firmas que frequentemente têm acesso a este tipo de conhecimento são as que interagem com tais organizações especializadas. c) know-how: refere-se à habilidade ou à capacidade para desempenhar alguma atividade, seja ela produtiva ou não, por exemplo, um trabalhador que opera uma máquina complexa utiliza o seu know-how; um empreendedor que analisa e julga se determinado mercado é promissor ou não utiliza seu know-how. 7 Para uma maior caracterização da “Economia baseada no conhecimento” ver: LASTRES; CASSIOLATO; ARROIO (2005). 31 d) know-who: envolve informações sobre quem sabe o quê e quem sabe fazer o quê; está ligado às habilidades sociais, sendo importante no momento atual, onde há a necessidade de se ter acesso a vários tipos diferentes de conhecimentos e habilidades. Assim, observa-se que os tipos de conhecimento possuem uma dimensão codificada (de fácil transferência) e uma dimensão tácita (transferida a partir da interação entre os indivíduos). Para Foray e Lundvall, o conhecimento tácito é a ferramenta necessária para manusear o conhecimento codificado, isso por que: […] Codified knowledge might be considered as the material to be transformed, and tacit knowledge, particularly know-how, as the tool for handling this material (1996: 96). Observa-se, também, que o aprofundamento do aprendizado por interação muitas vezes requer o estabelecimento de relações não-econômicas entre os agentes, através das quais princípios de confiança mútua podem paulatinamente se consolidar (PUTNAM, 1996; COLEMAN, 1985). Por fim, observa-se que o aprendizado por interação requer um tempo para se desenvolver, não só devido à necessidade de consolidação desta confiança mútua entre os agentes, mas, sobretudo, em razão dos investimentos específicos requeridos. Tais aspectos apontam para a relevância de se adotar um quadro sócio-econômico-cultural de análise, que viabilize o entendimento de processos interativos de aprendizado, sendo muito provável encontrá-los no interior de arranjos produtivos locais. Dentre as características do aprendizado por interação, comentadas anteriormente, recebe importância singular, segundo o referencial evolucionista, o fato de que tais processos de interação e aprendizagem viabilizam a constituição de um espaço econômico próprio. Esses espaços possuem um corpo institucional próprio e particular, condicionando à forma como se dá a geração e difusão dos conhecimentos 32 (sejam codificados ou tácitos). É esse aprendizado acumulado que capacita a firma a desenvolver, no seu interior, processos inovativos, e impulsiona a mesma a adotar (ou não) padrões mais sólidos de cooperação. 2.2 Inovação na visão dos evolucionistas e de neo-institucionalistas Inicialmente, cabe ressaltar que a inovação assume um papel preponderante entre os autores da abordagem evolucionária. A abordagem evolucionária tem como eixos teóricos (NELSON; WINTER, 1982; DOSI, 1982 e 1988): (i) a diversidade comportamental entre os agentes, gerada endogenamente por um processo de busca de oportunidades de inovação; e (ii) a seleção de empresas, estratégias e/ou tecnologias a partir de uma dinâmica baseada na competição e na mudança contínua. Depreendem-se dois conceitos fundamentais para definir esta abordagem, que são: a) a busca por parte das empresas, da introdução de inovações (à lá Schumpeter, incorporando novos produtos, métodos de produção e novos mercados) que lhes permitam obter vantagens competitivas (DOSI, 1988); b) a seleção destas inovações no ambiente econômico, devendo ser esclarecidos os mecanismos que dão substância à escolha ou à exclusão de uma firma em longo prazo, junto com suas escolhas estratégicas e a tecnologia utilizada. A concorrência opera como um processo de seleção por meio de três instrumentos fundamentais: a introdução de inovações por parte das firmas, a eliminação de tecnologias que se revelem insuficientemente lucrativas e as mudanças nas proporções entre as quantidades produzidas utilizando cada uma das tecnologias sobreviventes. Seguindo a tradição de Schumpeter, a análise desenvolvida por esta corrente não está baseada em pressupostos de equilíbrio (ainda que “dinâmico”), mas sim em 33 “desequilíbrios”, intrínsecos à economia capitalista, por serem gerados pela busca incessante de oportunidades de maior lucratividade entre as firmas, geralmente representadas pelas inovações, que por sua vez desencadeiam efeitos dinâmicos cumulativos de desajuste e de expansão. Contrariamente aos pressupostos da teoria neoclássica, nos modelos evolucionários o eixo central é a idéia de desequilíbrio, a partir de uma análise desagregada (setorial, industrial e tecnológica) centrada nas assimetrias dos processos competitivos e de mutação/diversidade técnica, econômica e estratégica, de onde surge a dinâmica evolucionária e a mudança estrutural no capitalismo (POSSAS, 1996). Para os evolucionistas, a decisão de introduzir uma inovação tecnológica é interna à firma e depende de sua capacitação e trajetória tecnológicas. A compreensão das especificidades dessas tecnologias, bem como o contexto socio-econômico que as viabiliza, vai explicar com mais robustez os arranjos institucionais/organizacionais e os determinantes dessa dinâmica. Na medida em que os arranjos institucionais moldam as condutas individuais e sua interação, alteram a direção e o fluxo de inovações, em relação à seleção e ao aprendizado, delimitando-se, assim, os “caminhos evolutivos” mais prováveis de serem seguidos (FOSS, 2001; HODGSON, 2001). Cabe um pequeno destaque quanto à convergência entre evolucionários e o pensamento desenvolvido pelos neo-institucionalistas, em especial o de Douglass North, que a partir dos anos setenta, em seus estudos sobre história econômica, chama atenção para as instituições, enquanto invenções humanas, reguladoras de comportamentos individuais e sociais, cujo aperfeiçoamento constante é resultado de um bom funcionamento anterior, em todos os campos e com destaque para a vida econômica. Para North: “[...] as instituições são as regras do jogo em uma sociedade, ou mais formalmente, são as limitações idealizadas pelo homem que dão forma às interações 34 humanas. Elas estruturam incentivos na interação humana, seja político, social ou econômico” (1996: 13). As instituições não são apenas regras, mas também sistemas de estímulos à interação; interação essa que se processa sob formas distintas. Isso implica numa das grandes diferenciações do modelo de análise neo-institucionalista de North e o mainstream: as escolhas individuais dependem de crenças, e essas são uma conseqüência do aprendizado cumulativo que se transmite culturalmente de geração a geração; o tempo é a dimensão em que o processo de aprendizagem dos seres humanos modela a evolução das instituições (NORTH, 1996). Este é um dos muitos pontos de convergência entre neo-institucionalistas e neo-schumpeterianos, qual seja a importância dada aos processos de decisão como elementos que, cumulativamente, vão gerando aprendizagem, na grande maioria dos casos via interação entre os diversos agentes econômicos. Segundo North (apud Arend e Cário, 2005), as instituições, juntamente com a tecnologia empregada, influenciam os custos de produção e de transação. Necessitam-se recursos para transformar fatores de produção (terra, trabalho e capital), e essa transformação é uma função da tecnologia empregada; no entanto, a forma de acesso a estes recursos (em geral financeiros), bem como o grau de facilidade na obtenção dessas tecnologias (sem falar no regramento das relações de trabalho) é influenciado pela estrutura das instituições. Afetará os custos de transação pela conexão direta entre instituições e custos de transação. Mas, afetará também os custos de transformação, por influir na tecnologia empregada. 35 É por isso que as organizações8, para North, têm papel-chave para a mudança institucional, pois elas são construídas com base em “crenças”, que determinarão as recompensas esperadas dos empresários (que para o autor podem assumir duas categorias: políticos e econômicos), fundamentais para a mudança econômica. Esse conhecimento, ao menos em um tempo presente, é formado pelo aprendizado coletivo, e esse processo de aprendizagem determinará a mudança institucional, necessária ao desenvolvimento econômico. Essa influência das instituições sobre os custos de produção e transação define, na visão de North, a estrutura industrial de um país ou região. Para ele, regiões do Terceiro Mundo carecem de uma estrutura institucional mais formal, que conduza a mercados eficientes. Para North (1990), há nos países de Terceiro Mundo a proeminência de setores informais (constituindo-se em verdadeiras economias subterrâneas), que se esforçam em proporcionar certa estrutura de intercâmbio. Esta estrutura tem custos elevados devido à falta de salvaguardas formais ao direito de propriedade. Para o autor, o pior é que este débil marco institucional determina uma estrutura básica de produção que tende a perpetuar o subdesenvolvimento, via atraso tecnológico. A análise dos processos históricos é, para North, indispensável para se entender o desenvolvimento econômico, enquanto processo de construção da própria história. A história da evolução das instituições servirá para o autor responder às seguintes perguntas: “Como explicamos a sobrevivência de economias com desempenho persistentemente baixo durante longos lapsos de tempo? [...] O que explica a sobrevivência de sociedades e economias caracterizadas por um mau desempenho 8 Douglass North, para melhor explicar a diferença entre “instituições” e “organizações”, faz uma analogia com os esportes: as instituições são as regras do esporte, enquanto que as organizações são os times, que disputam entre si as partidas, seguindo a regra estabelecida. Muitas vezes as regras são direcionadas para atender as necessidades de determinados times, como é claro perceber, por exemplo, na história econômica do Brasil. 36 persistente? [...] Por que persistem as economias relativamente ineficientes?” (NORTH, 1996: 121-22). Segundo North (1996: 124), as economias podem apresentar duas características: a existência de mercados imperfeitos (dadas as dificuldades de se compreender um ambiente complexo); e sua alta dinamicidade (visto que promovem a interação de um número significativo de agentes). Também, as instituições caracterizam-se por apresentar retornos crescentes. Isso significa que, uma vez escolhido um caminho, há a atuação dos mecanismos que reforçam a manutenção da rota optada, que fazem com que a matriz institucional fique locked in e seja path dependence. Dessa forma, o autor entende que mesmo que as opções institucionais apresentem resultados ineficientes em termos de desenvolvimento econômico, tais instituições tendem a se manter no tempo, pois apresentam retornos institucionais crescentes. Esse comportamento locked in reforça o caráter de path dependence, ou seja, as instituições são dependentes de suas próprias trajetórias prévias. A história passada de uma determinada instituição é que definirá a matriz institucional do presente, conformando sua estrutura futura. Assim, entender que o desenvolvimento institucional ao longo do tempo, e seus impactos objetivos sobre o desenvolvimento econômico, é o que chamamos de path dependence. Essa questão também explica porque as instituições não “copiam” desempenhos positivos em termos de eficiência econômica: por estarem (as instituições) vinculadas ao estoque de conhecimentos que adquiriram ao longo de sua história, estão sujeitas às construções sociais (fatores culturais, políticos, religiosos, econômicos etc.) resultantes de suas inter-relações. Como as instituições possuem históricos diversos, os resultados de suas opções serão necessariamente diversos. Somese a isso o fato de que tais instituições atendem a interesses coletivos diversos ao longo 37 do tempo. Isso também explica as diferenças no desenvolvimento institucional e econômico em regiões distintas, mesmo em um mesmo período de tempo. Assim, percebe-se que tanto para evolucionistas quanto para neo- institucionalistas, os processos de inovação e aprendizado tendem a ser intrinsecamente vinculados, desde que tais processos estejam inseridos em um ambiente institucional que estimule a inovação e os processos de interação e cooperação entre as organizações. Isso se dá de forma mais evidente nos arranjos produtivos, dada sua construção institucional, visto que são conformados pela cultura e pelas relações sociais geograficamente localizadas. É mais provável que no interior dos arranjos ocorra um comportamento amalgamado entre cooperação, aprendizado e inovação, que poderá acentuar (ou não) a vantagem competitiva da região. As inovações, de maneira geral, oriundas de processos de capacitações tecnológicas desenvolvidas no interior das firmas, não devem simplesmente solucionar um problema técnico da empresa; devem sim receber a “aprovação” do mercado. Este significado específico à inovação está baseado em Schumpeter (1982), que aponta para a necessidade de que esta seja uma “invenção” viável do ponto de vista comercial, ou seja, uma idéia (sobre produtos, processos ou serviços) que possua valor de troca no mercado. No momento em que tal idéia tem seu valor reconhecido e aceito pelo mercado, deixa de ser invenção e passa a ser inovação. Cabe ressaltar que, para Schumpeter (1982), a inovação é um processo caracterizado pela descontinuidade com o que está estabelecido, englobando cinco casos: novas combinações que são concebidas pela introdução de um novo produto; a introdução de um novo método de produção; a abertura de um novo mercado; a 38 conquista de uma nova fonte de matéria-prima; o estabelecimento de uma nova organização de qualquer indústria, como a criação de uma posição de monopólio. Diversos autores que seguem a vertente schumpeteriana descreveram os processos de inovações como sendo de dois tipos genéricos: radicais ou incrementais. Segundo Freeman (1988), pode-se entender a inovação radical como o desenvolvimento e introdução de um novo produto, processo ou forma de organização da produção inteiramente nova. Este tipo de inovação representa uma ruptura estrutural com o padrão tecnológico anterior, originando novas indústrias, setores, mercados etc. As inovações podem ser ainda de caráter incremental, referindo-se à introdução de qualquer tipo de melhoria em um produto, processo ou organização da produção dentro de uma empresa, sem alteração na estrutura industrial. Inúmeros são os exemplos de inovações incrementais, muitas delas imperceptíveis para o consumidor, podendo gerar crescimento da eficiência técnica, aumento da produtividade, redução de custos, aumento de qualidade e mudanças que possibilitem a ampliação das aplicações de um produto ou processo. Há um número considerável de metodologias e indicadores para se avaliar os esforços de inovação de uma empresa ou setor industrial, tais como os níveis de investimento em P&D, o tamanho e posição hierárquica do setor de P&D na empresas, a razão entre P&D e faturamento, número de depósitos de patentes etc. No entanto, tais indicadores expressam com melhor propriedade a realidade de setores tecnologicamente dinâmicos ou em empresas de grande porte, sendo complexa sua utilização em setores tradicionais, ou ainda em pequenas empresas (VIOTTI, 2003). Neste mesmo sentindo, Freeman (1988) discute os resultados de pesquisas realizadas pela OCDE, onde a grande maioria das empresas com até 200 funcionários 39 (consideradas de pequeno e médio porte) informa não realizar atividades de P&D. Para o autor, as estatísticas oficiais não conseguem captar esforços de pesquisa e inovação realizados por gerentes, engenheiros ou outras pessoas da empresa. As atividades informais de P&D estão ancoradas no talento criativo destas pessoas. De acordo com Zawislak (1994), a gestão da inovação tecnológica em pequenas e médias empresas (PMEs) de setores tradicionais é, em geral, informal. Neste sentido, os conhecimentos que propiciam as modificações na tecnologia também podem ser gerados por trabalhadores ligados à produção, e não apenas por engenheiros e pessoal de P&D. Para Lam (1998), a natureza do conhecimento dentro da empresa e o papel do conhecimento tácito na aprendizagem e inovação não podem ser plenamente compreendidos por uma análise restrita ao nível organizacional. Um contexto mais amplo da sociedade e das institucionais deve ser levado em conta. A autora aponta para a necessidade de se fazer distinção entre conhecimento individual e conhecimento coletivo (LAM, 1998: 9). De um lado tem-se o conhecimento individual, que representa o que foi acumulado através do tempo, ao longo da educação formal, além das experiências de treinamento e outras ocupações profissionais. Por outro lado, o conhecimento coletivo diz respeito ao conhecimento comum dos empregados de uma empresa ou organização. Tal conhecimento está implícito nas regras, nos procedimentos, nas rotinas e nas normas que guiam o comportamento dos membros de uma organização. Nesse sentido, Tatsch (2008) analisa que o conhecimento no interior das organizações é construído a partir de diferentes formas e não se restringe a um único tipo. Portanto, a criação e a disseminação desse conhecimento envolvem momentos 40 individuais e coletivos, de intercâmbio de saberes tácitos e codificados. Assim, Tatsch (2008: 74) afirma que “no âmbito da firma o conhecimento organizacional é construído a partir das especificidades de seus recursos humanos e de seu meio”. Tal situação se alinha ao entendimento teórico dessa dissertação, que enfoca as características particulares e potenciais da aprendizagem e do conhecimento, gerados nas aglomerações produtivas. Para Vargas (2002), a natureza interativa do processo de aprendizado introduz, de forma apropriada o espaço geográfico como uma dimensão de análise. Na medida em que se concebe o ambiente local como um conjunto de configurações institucionais e organizacionais inseridas num rol de interações com diferentes agentes econômicos, percebe-se a relevância da dimensão localizada tanto dos processos de aprendizado quanto da inovação das firmas. A aglomeração territorial evidencia os benefícios relacionados ao engajamento de empresas em processos de aprendizado interativo. Neste tipo de ambiente o conhecimento tende a se tornar incorporado devido às qualificações individuais, às rotinas das organizações, ao próprio ambiente local e aos vínculos de interação entre os diferentes atores e desenhos institucionais. Assim, a complexidade das relações entre interação, aprendizado e inovação, vinculando as instituições e as firmas, torna necessário que se estabeleça a influência desses sobre os processos de cooperação, destacando a importância das aglomerações locais como fator preponderante no alcance de dinamismo tecnológico e diferenciação competitiva entre firmas (VARGAS, 2002). 41 2.3 Processos de Cooperação em atividades inovativas9 Os processos de cooperação entre as firmas capitalistas não é um tema propriamente recente na literatura econômica. Adam Smith já analisava, em seu clássico “Riqueza das Nações”, os efeitos “maléficos” da cooperação de firmas (cartéis e acordos de liderança de preço, principalmente). Um pouco mais tarde, Alfred Marshall descreveria alguns detalhes dos “distritos industriais” e a relação da aglomeração espacial de empresas com a formação de arranjos cooperativos entre estas. A leitura desta seção demonstrará a crescente importância que o tema da cooperação adquiriu com as mudanças em curso na economia mundial do último século. A análise que aqui se fundamenta tem por “pano de fundo”, estudar a situação de firmas aglomeradas espacialmente que desenvolveram algum tipo de especialização setorial. Tais vantagens de aglomeração (à lá Marshall), associadas à atividade cooperativa entre as firmas envolvidas, podem influenciar no aumento da competitividade da coletividade das firmas aglomeradas. Essa situação, para Schmitz (1997), não exclui o caráter de competitividade entre as empresas localizadas, fator considerado benéfico para o desenvolvimento de uma aglomeração. Nesse sentido, Porter (1999) sugere que a rivalidade local gera uma pressão por aumento de produtividade, gerando redução de custos e busca por inovações. Segundo Porter (1999), a competição é um conceito dinâmico que repousa sobre a busca por inovação e por diferenciais estratégicos às firmas. 9 Cabe ressaltar que nesta seção o termo “atividade inovativa” está estritamente vinculado ao conceito produzido por Schumpeter (1982), sendo caracterizado por ser um processo marcado pela descontinuidade com o que está estabelecido, englobando cinco casos: novas combinações que são concebidas pela introdução de um novo produto; a introdução de um novo método de produção; a abertura de um novo mercado; a conquista de uma nova fonte de matéria-prima; o estabelecimento de uma nova organização de qualquer indústria, como a criação de uma posição de monopólio. Definições semelhantes a essas são aplicadas pelo Manual de Oslo e pela PINTEC (em nível nacional). 42 Assim, o estabelecimento de relações de cooperação entre firmas, bem como dessas com seus consumidores, fornecedores ou outras instituições cumpre um papel vital para o fortalecimento não apenas da eficiência desses agentes internamente à aglomeração, mas desenvolve vantagens competitivas e de inovação, cada vez mais importantes na dinâmica das firmas atuais. É importante ressaltar que o termo cooperação, na literatura econômica, carece de uma maior delimitação. Por vezes o termo é tratado como sinônimo de “redes de firmas”10. Não se discutirá aqui a similaridade ou não com o conceito de redes, porém, se partirá do entendimento de que os processos cooperativos são aqueles que estão diretamente relacionados com o processo decisório da firma, isto é, sendo compreendido como uma estratégia de busca por competitividade, através da ação deliberada e cooperada (ainda que informal) entre firmas e/ou com outras instituições. Embora possa parecer contraditório o fato de firmas concorrentes entre si cooperarem, Schmitz (1997) aponta que no relacionamento horizontal interfirmas, a competição não exclui uma série de ações conjuntas em fases pré-competitivas, como no desenvolvimento da infra-estrutura, treinamento de funcionários e provisão de serviços em geral. Para Tironi (2001), uma forte relação entre competição e cooperação quando se busca compreender os fatores que conduzem à ampliação das vantagens competitivas de empresas. Tal relação se torna mais intensa na medida em que as firmas se organizam sob a forma de aglomerações. Para o autor, firmas localizadas em aglomerações irão fazer frente ao aumento da competitividade imposta sobre elas de duas formas 10 Uma apresentação dos diversos significados do conceito de “Redes de Firmas” pode ser encontrada em Britto (1999). 43 possíveis: irão ampliar a competição interna (através da busca constante por inovações em processos e produtos), ou agirão em cooperação, a fim de enfrentar a competição externa ao aglomerado, gerando o que chamou de “associativismo competitivo” (TIRONI, 2001). Para Benko (2000), desde o final da década de 70, vários grupos de pesquisadores têm se dedicado à questão do desenvolvimento local, originando uma diversidade de abordagens11. De forma similar, em cada uma delas as ações de cooperação desempenham um papel crucial. Uma dessas abordagens diz respeito ao conjunto de reflexões presentes nos estudos de economistas como Giacomo Beccatini, Alfredo Bagnasco e Sebastiano Brusco sobre os distritos industriais italianos. Neste grupo se inclui, também, os trabalhos de Michael Piore e Charles Sabel acerca da especialização flexível. Para estes autores, em geral, os casos de sucesso apresentados pelas empresas da Terceira Itália mostram que a cooperação desempenha um papel fundamental para a competitividade das empresas (COCCO; GALVÃO; URANI, 1999). Dessa forma, o desenvolvimento de laços de cooperação apresenta maior importância no caso de empresas de menor porte, que enfrentam problemas de escala no acesso a mercados, informação, serviços e tecnologia, os quais afetam seu desempenho competitivo. Outra abordagem aponta para um conjunto de reflexões que consideram o território como um ambiente (“millieu”) inovador. Nesta abordagem as firmas presentes num território estabelecem diferentes formas de inter-relações e vínculos de cooperação que levam ao desenvolvimento de inovações. Tal situação decorre do fato das ações de 11 Dada a delimitação desse estudo, não se realizou aqui uma análise mais aprofundada de todas as abordagens que envolvem o desenvolvimento local e as relações de cooperação. Ficaram de fora da análise as abordagens de relacionadas aos Custos de Transação (Olliver Williamson e Ronald Coase) e aos trabalhos desenvolvidos pelos “Geógrafos californianos” (Allen Scott e Michael Storper). Também não integraram essa análise os trabalhos dos regulacionistas franceses (Alain Lipietz e Daniéle Leborgne). 44 cooperação resultarem em uma maior capacidade de transformar os conhecimentos tácitos, desenvolvidos internamente nas empresas de uma localidade, gerando vantagem competitiva para estas empresas (ALBAGLI, 2001). A existência de relações de cooperação entre empresas próximas não significa que estas se dão de forma automática. A coesão social desenvolvida ao longo da história da região, a densidade institucional e a implementação de projetos comuns facilitam a presença de ações cooperativas e são um fator importante de diferenciação das regiões. Schmitz (2000), ao citar quatro pesquisas realizadas em aglomerados industriais diversos, aponta para uma situação relevante: empresas localizadas nestas aglomerações que apresentaram maior grau de cooperação obtiveram melhora no desempenho de sua performance, bem como na sua capacidade de gerar vantagens competitivas mais duradouras. Nesse sentido, Brito (2000) aponta que a possibilidade das firmas obterem externalidades positivas através da aglomeração estimula uma maior organização e coordenação desses agentes, através de organizações responsáveis, em última análise, pela garantia (e no mínimo manutenção) de ganhos gerados pela cooperação, expressos principalmente pela redução de custos, minimização de riscos e por ganhos de escala. Para Beije (1991), existem quatro razões básicas que explicam a cooperação de firmas entre si: a) diminuição da incerteza; b) controle sobre mercados potencialmente promissores; c) racionalização dos gastos em P&D; e d) obtenção de lucros que não poderiam ser acessados de forma independente. Ainda, para Camagni (1993), existem ganhos decorrentes de práticas cooperativas que são inegáveis, entre os quais: a) maior sinergia e economia de escala entre as atividades de produção, marketing e P&D; b) economias de escopo e aumento dos esforços de diferenciação de produto; c) ganhos associados ao desenvolvimento de 45 complementaridades tecnológicas; d) aumento da capacidade de reagir proativamente aos choques externos; e) consolidação de tipos específicos de barreiras à entrada; e f) controle mais efetivo sobre ativos e competências necessários ao fortalecimento de processos de inovação internos às firmas. Para Albagli e Britto (2003), a cooperação pode ocorrer por diversas vias, sendo as mais comuns de serem observadas: i) através da troca de informações (produtivas, tecnológicas e/ou mercadológicas) com clientes, fornecedores ou concorrentes; ii) por meio da interação entre firmas e outras instituições, através de programas de treinamento comuns, compras conjuntas de insumos ou realização/participação de eventos em geral; e iii) pela integração de competências entre as firmas e entre essas e outras instituições, através de ações de melhoria de produtos e processos ou atividades de pesquisa e desenvolvimento. Schmitz (1997) apresenta uma tipologia dos processos de cooperação entre firmas, que podem ser tanto bilaterais quanto multilaterais, bem como horizontais e verticais. A cooperação bilateral horizontal ocorrerá quando, no mínimo duas empresas concorrentes desenvolverem alguma atividade conjunta, podendo ser de natureza produtiva ou não; a cooperação bilateral vertical ocorrerá quando uma firma e seus fornecedores/clientes cooperarem entre si, a fim de promover a melhoria de algum fator relacionado a uma das etapas da cadeia produtiva, seja a montante ou a jusante; a cooperação multilateral horizontal ocorrerá quando as firmas de uma aglomeração, produtoras de bens similares, se unem em associações cooperativas; por fim, a cooperação multilateral vertical ocorrerá quando setores, que pertencem a mesma cadeia produtiva, se unem para desenvolvimento de alguma atividade conjunta. Tais situações se resumem no Quadro 1, abaixo. 46 Quadro 1 - Tipos de Cooperação Interfirmas Bilateral Multilateral Horizontal Exemplo: partilhando algum equipamento Exemplo: participando da associação empresarial local Vertical Exemplo: produtores e clientes melhorando componentes Exemplo: formando alianças ao longo da cadeia de valor ampliada Fonte: Adaptado a partir de Schmitz (1997: 1.634) Para Amato Neto (2000), entre as principais razões que conduzem a um estreitamento das relações de cooperação interfirmas, são: a) combinação de competências e utilização de know-how de outras empresas; b) “socialização” do ônus na realização de pesquisas tecnológicas; c) compartilhamento de riscos e custos de novas oportunidades; d) oferecimento de linhas de produtos melhores e mais diversificados; e) efetivação de uma maior pressão no mercado; f) compartilhamento de recursos subutilizados; g) fortalecimento do poder de compra junto aos fornecedores e de venda junto aos consumidores; e h) fortalecimento e capacitação das firmas, afim de que possam atuar em mercados internacionais. Mais uma vez, não se pretende aqui uma defesa inconteste das relações de cooperação, nem mesmo apresentar essas ações como a panacéia de todos os problemas da firma contemporânea, mas sim que uma maior interação entre firmas (ou dessas com instituições diversas) possibilita um incremento na capacidade inovativa e colaborativa dessas. Compreende-se, assim, que um aglomerado de empresas em si não leva necessariamente à cooperação. Faz-se necessário a presença de estruturas de relacionamentos minimamente organizadas entre os agentes econômicos e sociais 47 envolvidos localmente. Porém, tal relacionamento é um fator necessário, mas não suficiente para que ocorra a cooperação. É preciso que haja um enraizamento (embeddedness)12 local, aonde os agentes compartilhem história, normas e valores comuns, facilitando o desenvolvimento de capital social. Para Santos et al. (2002), para existir cooperação (e confiança) entre firmas numa aglomeração, é imprescindível não apenas a proximidade física, mas também a proximidade cognitiva. Hansen (2003: 17) reitera que firmas que integram uma aglomeração “estão conectadas por uma série de ligações e redes sociais, institucionais, culturais e técnicas que conduzem à criação de capital social”. A proximidade entre os agentes em termos social, cultural e institucional se revela um elemento catalisador de práticas cooperativas que reforça, como já vimos, os processos de aprendizado por interação (JOHNSON; LUNDVALL, 1994). A importância de fatores não-econômicos e da estruturação de regras e normas socialmente definidas (que condicionam as interações entre os agentes) aponta para a relevância dos estímulos à cooperação e ao aprendizado oriundos das condições institucionais locais. Diferentes estudos do caráter local da inovação têm contribuído para afirmar que, a partir da proximidade territorial, possibilita-se uma maior interação direta entre agentes que compartilham códigos comuns de comunicação, convenções e normas que reforçam a confiança, caracterizando um ambiente propício para a geração, compartilhamento e socialização de conhecimentos (BRITTO, 2004). 12 Tal conceito foi cunhado por Mark Granovetter (1985) e tem se expressado como um dos conceitos fundamentais de uma nova “disciplina” na economia, conhecida como Sociologia Econômica. A argumentação de Granovetter consiste que as ações e as instituições econômicas estão submersos ou enraizados no todo social do qual fazem parte. 48 A cooperação no interior do aglomerado permite, principalmente às pequenas empresas, o desenvolvimento de eficiência e flexibilidade, resultantes da especialização em etapas do processo produtivo e pelo inter-relacionamento entre as firmas, e dessas com o ambiente local. De acordo com Sengenberger e Pyke (1991), o aglomerado tornase competitivo através da forma como se organiza, ao invés de se basear em uma eventual vantagem comparativa proveniente de algum recurso de baixo custo. Costa e Costa (2005) atentam para a importância de se avaliar que o atributo do produto no qual o aglomerado baseia sua competitividade torna-se um elemento-chave à compreensão do tipo de cooperação que se estabelecerá entre os agentes. Mesmo em aglomerados, as empresas têm por objetivo a obtenção de lucros. Assim, o padrão de competição (FERRAZ, KUPFER, HAGUENAUER, 1996) que se estabelece nos mercados de atuação das firmas irá influir no tipo de cooperação em que estão dispostas a desenvolver. É nesse sentido que Costa e Costa afirmam que: É de se esperar que naqueles fatores de competitividade aos quais se pode ter acesso via mercado ou através de esforço próprio, a atuação ocorrerá de forma individual. Naquelas situações, ao contrário, em que a atuação atomizada é insuficiente para alcançar competitividade, então ações conjuntas para superar as restrições podem ser observadas, mesmo que os benefícios sejam também de alcance de concorrentes. (2005: 13). Daí se depreende que ações que exijam envolvimento cooperativo, mas que não ofereçam ganhos diretos à posição no mercado (no atributo em que se concorre) têm poucas chances de prosperarem, a menos que ocorra consenso entre os agentes de que “pressões competitivas externas indiquem um ajuste em direção à capacitação em um novo fator de competitividade” (COSTA; COSTA, 2005: 14). Nesse sentido, torna-se necessário aprofundar o conhecimento a cerca das aglomerações, retratando o modelo apresentado pela literatura econômica como 49 Arranjos Produtivos Locais (APLs). Especial atenção será dada ao conceito desenvolvido pela REDESIST ao longo dos anos, que caracteriza as aglomerações não apenas levando em consideração os aspectos produtivos, organizacionais, sociais e culturais, mas também a realidade dos países em desenvolvimento e sua relação de dependência com os países desenvolvidos. 2.4 A Relevância dos Arranjos Produtivos Locais (APLs) e dos Sistemas de Inovação A questão territorial no âmbito das ciências econômicas não é recente, tendo recebido amplo destaque por diversos autores clássicos, em especial pelo economista inglês Alfred Marshall, em sua obra Principles of Economics de 1890. Marshall observou pequenas fábricas de setores correlatos, localizadas geograficamente próximas, em regiões periféricas aos grandes centros produtores do Reino Unido (final do século XIX) e foi Marshall o primeiro a formular o conceito original de distrito industrial. Entretanto, o século XX e o sucesso da produção fordista de massa, relegaram as contribuições marshallianas ao esquecimento, até o início da década de 80 do século XX. 2.4.1 Do Distrito Marshalliano ao Distrito Italiano Existe uma vasta literatura nacional e internacional sobre o fenômeno da aglomeração de atividades produtivas em uma região geograficamente localizada. Há 50 muitas denominações e ênfases diferentes. O mesmo fenômeno é às vezes denominado arranjo produtivo local, distrito industrial, sistema produtivo local ou mesmo “cluster”. Marshall (1982) é o primeiro economista a abordar a temática da concentração de indústrias, demonstrando que a aglomeração poderia auxiliar as firmas, sobretudo as pequenas, a obter vantagens. Para o autor, as “indústrias aglomeradas”, envolvidas em atividades similares, obtinham um conjunto de vantagens (denominadas por ele como “economias externas”). Tais vantagens são fruto da divisão do trabalho entre os produtores de um mesmo ramo industrial, concentrados num mesmo território. Para Marshall (1982), há no interior dos aglomerados uma “atmosfera industrial”, onde ocorre uma interseção dos sistemas econômico e social. Em síntese, o distrito industrial marshalliano pressupõe: a) a convivência entre os aspectos sociais e produtivos; e b) uma ampla divisão do trabalho entre firmas envolvidas em atividades complementares. Após Marshall, a idéia dos distritos industriais perdeu a força, em parte pela pressão exercida pelo modelo fordista de produção em massa. O interesse na temática das aglomerações de empresas reaparece na literatura acadêmica e no debate político nas décadas de 1970 a 1990. Seu ressurgimento é fruto de um novo modelo de sistema produtivo (especialização flexível) que emergia nos “distritos industriais” da Terceira Itália, com as experiências de sucesso de empresas pequenas e médias na região da Emilia Romagna. Entre os principais autores italianos que discutem a questão dos distritos, podese citar os estudos de Becatini (1990) e Brusco (1990 e 1992). Para ambos, a idéia de distrito industrial é encarada como um conjunto de firmas localizadas em uma área geográfica reduzida, que atuam em um mesmo nicho de mercado e que compartilham 51 crenças, valores e conhecimentos que moldam um habitat sócio-cultural particular. Essas firmas se relacionam entre si através de um misto entre competição e cooperação (BRUSCO, 1992). O que fica evidente na obra dos autores italianos sobre distritos é que, a partir de um olhar sobre a dinâmica das aglomerações, avaliaram que este tipo de organização industrial propiciava às empresas um ganho de flexibilidade produtiva, implicando em um aumento da qualidade dos produtos, bem como velocidade de produção e de resposta às mudanças. Nesse sentido, os distritos são vistos como espaços de complementaridade entre firmas ali localizadas, permitindo assim, a constituição de redes de empresas. Para um conjunto de autores (SCHMITZ, 1997; RABELLOTI, 1995; NADVI, 1994) a partir da concentração regional e setorial de pequenas empresas seria possível proporcionar uma maior ação conjunta entre as firmas, permitindo ganhos para o aglomerado de forma geral. Tais autores compreendem que as aglomerações são concentrações geográficas de um determinado setor ou cadeia produtiva, onde se pretende, através da desverticalização do processo de produção, o estabelecimento de redes de cooperação, complementada não somente pela relação entre as firmas, mas pela existência de um conjunto de instituições de apoio, representação, ensino e pesquisa, que promovem a coordenação local das atividades. Além desses autores, é possível ainda identificar uma linha de pesquisadores franceses que também privilegiam a idéia de desenvolvimento baseado nas aglomerações locais, surgindo daí o conceito de sistema industrial localizado ou sistemas produtivos locais (COURLET, 1993). 52 Para Courlet (1993), os sistemas produtivos locais se estabelecem a partir de uma rede de relações de colaboração entre empresas que produzem conjuntamente, de acordo com pactos específicos. Dessa forma, é de se esperar a existência de uma densa rede de interdependências entre as firmas. A base desses sistemas é eminentemente territorial, porém, não apenas o território, mas também a história da região, bem como as estratégias individuais das firmas devem ser consideradas ao se analisar um sistema produtivo. Ainda, Courlet (1993), indo ao encontro do que já havia afirmado Marshall e os autores italianos, afirma que os sistemas fazem uso dos ganhos das economias de aglomeração, dada a intensa relação que se estabelece entre as firmas no interior do território. A partir de uma intensa divisão do trabalho, as firmas aglomeradas tendem a uma especialização produtiva, possibilitando também a introdução de novas tecnologias, gerando, enfim, ganhos de eficiência para os sistemas locais. Tais ganhos de eficiência tornam possível a obtenção de ganhos de escala, até então somente observado na literatura econômica como sendo um comportamento típico das grandes fábricas integradas. Courlet extrapola a análise das aglomerações sob a ótica do território, incorporando análises sobre a inovação, se aproximando, assim, de autores evolucionários. A proximidade das firmas, além de gerar externalidades que afetam a produção no interior dos aglomerados, gera também um conjunto de externalidades que se originam de uma tecitura de conhecimentos, uma vez que tais firmas, por estarem geograficamente próximas, possuem maior oportunidade de trocar conhecimentos, ainda que de maneira informal. O efeito desse “tecido espacial de conhecimentos” é compreender, a partir dessa lógica, que a inovação adquire uma conotação de territorialidade (COURLET, 1993). 53 Assim, o território passa a ser o ponto de encontro entre os atores do desenvolvimento, sendo o local onde se organizam as formas de cooperação entre empresas, onde se decide, também, a divisão do trabalho, ele é, enfim, o ponto de encontro entre as formas de mercado e as formas de regulação social (COURLET, 2001). O espaço deixa de ser apenas um fator de custo para as firmas, mas passa a se comportar como um ambiente favorável, ou desfavorável, à criação de economias (ou deseconomias) externas. Dito isso, cabe refletir sobre a constituição de uma definição de arranjo produtivo, que aproxime tanto os efeitos da aglomeração espacial de firmas e instituições com a possibilidade dessa proximidade viabilizar o surgimento de processos inovativos internos ao arranjo. Para tanto, é importante avaliar o conceito de sistema de inovação e arranjo produtivo local. 2.4.2 Arranjos Produtivos Locais e Sistemas de Inovação Inicialmente, é importante ressaltar que não há uma fórmula ou modelo específico para criação ou desenvolvimento de aglomerações ou arranjos, pois existem aspectos particulares para cada tipo de arranjo que variam de acordo com a região na qual os agentes destes arranjos estão inseridos, inerentes à dinâmica interna de cada um deles. Amaral Filho (2002) afirma que em todos os casos exitosos de organização coletiva de micro e pequenas empresas verificou-se a presença de quatro elementos estruturantes. Estes elementos, de acordo com o autor, são: capital social, estratégias coletivas de organização da produção, estratégias coletivas de mercado e articulação político-institucional. 54 Ao mencionar o capital social13, o autor se refere a um fator intangível por natureza, representando um acúmulo de compromissos sociais consolidados pelas interações sociais em uma determinada localidade. Por sua vez, este capital social serve de apoio a outro componente, conhecido como estratégia coletiva de organização da produção. Esta estratégia se relaciona com as decisões coordenadas, entre os produtores, no que se refere a quem vai produzir, o que produzir e como produzir. E é por meio desta estratégia que a aglomeração das pequenas empresas determina seu poder em relação às grandes empresas, por meio da equivalência da vantagem em relação à escala da compra dos insumos, do uso de máquinas e equipamentos, da produção em geral etc. De igual modo, é por meio da estratégia coletiva de organização da produção que se revela e se processa a aprendizagem coletiva, fonte das inovações e da competitividade. O terceiro elemento, conforme Amaral Filho (2002), está direcionado à estratégia coletiva de mercado. Esta também está voltada para as ações coordenadas e convergentes entre os produtores. Vale ressaltar que a estratégia coletiva de organização da produção não teria importância caso não existisse uma estratégia também coordenada e coletiva para a conquista e manutenção dos mercados. Tal situação decorre de que os mercados compradores, além de serem formados por grandes players, são também condicionados por grande escala. Sem uma estratégia comum entre os produtores, as pequenas empresas veriam reduzidos os ganhos conseguidos nas economias de escala, alcançados nas esferas da compra dos insumos e na realização da produção. O último ponto citado por Amaral Filho (2002) está voltado para a articulação político-institucional, também decorrida do capital social. Este é o instrumento pelo qual o arranjo produtivo se articula com instituições públicas e privadas responsáveis 13 Para maior entendimento, ver Albagli e Maciel (2003); Portes (2000); Costa e Costa (2005). 55 pelas políticas públicas, e com as organizações privadas de apoio às pequenas empresas. Amaral Filho aponta que “as evidências revelam que, quanto mais capital social acumulado dentro de num determinado núcleo ou aglomeração de empresas, melhor e mais eficiente será a articulação com as organizações e instituições” (2002: 580). Cassiolato e Szapiro (2002) propõem, dentro do quadro referencial da REDESIST, a adoção de dois conceitos. O primeiro define os chamados arranjos produtivos locais, “os quais são compreendidos como aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais - com foco em um conjunto específico de atividades econômicas - que apresentam vínculos mesmo que incipientes” (CASSIOLATO; SZAPIRO, 2002: 16; CASSIOLATO; LASTRES, 1999). Geralmente envolvem a participação e a interação de empresas - que podem ser desde produtoras de bens e serviços finais até fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços, comercializadoras, clientes, entre outros - e suas variadas formas de representação e associação. Incluem também diversas outras instituições públicas e privadas voltadas para: formação e capacitação de recursos humanos, como escolas técnicas e universidades; pesquisa, desenvolvimento e engenharia; política, promoção e financiamento. O segundo conceito qualifica os chamados sistemas produtivos e inovativos locais que são “aqueles arranjos produtivos em que interdependência, articulação e vínculos consistentes resultam em interação, cooperação e aprendizagem, com potencial de gerar o incremento da capacidade inovativa endógena, da competitividade e do desenvolvimento local” (CASSIOLATO; SZAPIRO, 2002: 17). Os pesquisadores da REDESIST definem os sistemas produtivos e inovativos locais como “[...] conjuntos de agentes econômicos, políticos e sociais, localizados em 56 um mesmo território, desenvolvendo atividades econômicas correlatas e que apresentam vínculos expressivos de produção, interação, cooperação e aprendizagem”. Portanto, [...] geralmente incluem empresas – produtoras de bens e serviços finais, fornecedoras de equipamentos e outros insumos, prestadoras de serviços, comercializadoras, clientes, etc., cooperativas, associações e representações e demais organizações voltadas à formação e treinamento de recursos humanos, informação, pesquisa, desenvolvimento e engenharia, promoção e financiamento (REDESIST, 2005: 1). De outro modo, os arranjos produtivos locais não são considerados sistemas, em razão da articulação entre os agentes ser ainda ausente ou incipiente. De acordo com Cassiolato e Lastres (1999) o entendimento dos arranjos produtivos locais baseia-se na visão evolucionista sobre inovação e mudança tecnológica, que destaca: a) o reconhecimento de que a inovação e o conhecimento são cada vez mais vistos como elementos centrais da dinâmica e do crescimento de nações, regiões, setores, organizações e instituições (e não como fenômenos marginais); b) o entendimento de que a inovação e o aprendizado - enquanto processos dependentes de interações -, são influenciados por contextos econômicos, sociais, institucionais e políticos específicos; c) a idéia da existência de consideráveis diferenças entre os agentes e suas capacidades de aprender, que refletem e dependem de aprendizados anteriores; d) a visão de que apesar das informações e conhecimentos codificados possuírem condições crescentes de disseminação e transferência, os conhecimentos tácitos têm um papel fundamental para o sucesso inovativo e são muito difíceis de serem transferidos. Para Britto (2004), os processos de aprendizagem que ocorrem no interior de APL’s se apresentam tanto em arranjos inseridos em setores tradicionais como naqueles de maior grau de hierarquização. Nos primeiros, predomina uma estrutura de governança com forte presença de pequenas e médias empresas articuladas por meio de 57 diversos tipos de redes de relacionamento (de caráter vertical ou horizontal). Exemplos destes arranjos estão ligados às indústrias de vestuário, calçados, móveis, vinhos, entre outros. Já nos arranjos produtivos com maior grau de hierarquização participam empresas articuladas no interior de cadeias produtivas complexas, direcionadas à produção de bens que incorporam um elevado número de componentes. Neste tipo de arranjo observa-se uma centralização de fluxos produtivos e do comando decisório nas mãos de grandes empresas como, por exemplo, firmas montadoras e fornecedores de subsistemas e componentes a serem integrados no produto final. Exemplo dos tipos de indústria que caracterizam esses arranjos são: automobilística, computadores, equipamentos eletrônicos, aeronaves, entre outros. Pode-se dizer que o embrião da idéia de sistemas e arranjos localizados é o conceito de sistema nacional de inovação. Desenvolvido por Lundvall (1992) e Freeman (1995), tal conceito tem por base a consideração de que os atores econômicos e sociais e as relações entre eles determinam em grande medida a capacidade de aprendizado de um país e, portanto, a capacidade de inovar e de se adaptar às mudanças do ambiente. Desempenhos nacionais, relativos à inovação, derivam de uma confluência social e institucional, particulares entre si e de características histórico-culturais específicas (LASTRES et al, 1999). Esse conceito já vem sendo discutido em níveis locais e regionais. Os sistemas nacionais, regionais ou locais de inovação podem ser tratados, dessa forma, como uma rede de instituições dos setores público (instituições de pesquisa e universidades, agências governamentais, empresas públicas e estatais, entre outros) e privado (como empresas, associações empresariais, sindicatos, organizações não- 58 governamentais etc.) cujas atividades e interações geram, adotam, importam, modificam e difundem novas tecnologias, sendo a inovação e o aprendizado aspectos cruciais para o seu desempenho exitoso. O enfoque dos sistemas nacionais de inovação se contrapõe à idéia de que a crescente globalização vem ocorrendo em todos os níveis. Pelo contrário, dados empíricos demonstram que a geração de inovações e de tecnologias é localizada e circunscrita às fronteiras localizadas entre o nacional e o regional (LASTRES, 1997). Tendo em vista que os conhecimentos que se geram no processo inovativo são tácitos, cumulativos e localizados, existiria um espaço importante em nível nacional, regional ou local para o desenvolvimento de capacitações tecnológicas endógenas. Essas capacitações são imprescindíveis para se absorver de forma eficiente o que vem de fora e adaptar, modificar e gerar novos conhecimentos. Percebe-se que a ótica dos sistemas de inovação e de arranjos locais são complementares, e se apresentam como uma importante unidade de análise, captando a relação que se estabelece entre os agentes pertencentes a um território específico, desenvolvendo nesse local, um espaço de aprendizagem particular. Dessa forma, a abordagem dos arranjos produtivos locais privilegia o aprendizado interativo, pondo em evidência, para além das trocas de bens e insumos entre as empresas, a importância das trocas de informação e conhecimento, não apenas entre as firmas, mas destas com uma gama de instituições, muitas delas criadas para proporcionar esse fim: uma maior interação entre agentes em um espaço geográfico definido. Daí o papel fundamental desse referencial para a compreensão das relações que se estabelecem entre os processos inovativos, o aprendizado interativo e as práticas de cooperação, em um arranjo produtivo local. 59 Particularmente, o objetivo desta pesquisa é analisar o papel que cumpre a aprendizagem, a cooperação e a inovação no arranjo produtivo vitivinícola da Serra Gaúcha. Cabe, porém, anteriormente, caracterizar o referido APL, tarefa realizada no próximo capítulo. 60 3 CARACTERIZAÇÃO DO APL DA VITIVINICULTURA DA SERRA GAÚCHA Uma das razões principais que motivaram a realização desta pesquisa consiste no fato de que os inúmeros estudos existentes sobre a vitivinicultura no Brasil o analisarem, em sua grande maioria, sob a ótica de um “setor” ou quando muito como uma “cadeia produtiva”. Desde o início deste trabalho, percebeu-se a importância para a compreensão da dinâmica da produção de vinhos no Brasil de se adotar uma abordagem de arranjos produtivos, organizados localmente e que possuísse uma estrutura de coordenação e suporte que extravasasse os mecanismos de mercado (à semelhança metodológica do trabalho de Vargas, 2002). Essa talvez seja uma das primeiras contribuições deste trabalho, qual seja compreender a produção de vinhos para além das relações das firmas à jusante e à montante, mas principalmente o papel e as relações que estas travam entre si e com as inúmeras organizações locais que dão suporte tecnológico, educacional e político-representativo às diversas demandas das firmas ali localizadas. Assim, a presente caracterização privilegia o papel da história como elemento fundamental para o entendimento da constituição do Arranjo Produtivo da Vitivinicultura da Serra Gaúcha, compreendendo a primeira seção deste capítulo. Em seguida, parte-se para a caracterização produtiva do APL, através de uma análise da organização industrial da sua produção vitícola e vinícola, bem como a presença e 61 organização de agentes que dão suporte a esta produção localizada (fornecedores de máquinas, equipamentos e insumos enológicos). Por fim, se fará uma caracterização das principais organizações presentes no APL e que auxiliam na conformação deste como tal. Para tanto, repartiu-se a totalidade das organizações presentes em quatro grandes grupos: Associações representativas; Instituições de pesquisa; Instituições de ensino; e Instituições de promoção setorial. 3.1 - Constituição histórica do APL: os primórdios da vitivinicultura no RS e a imigração italiana Os primeiros vitivinicultores em terras gaúchas, conforme Paz e Baldisserotto (1997), foram os Jesuítas, seguidos pelos açorianos. As correntes imigratórias do século XIX, com os alemães à frente, igualmente cultivaram a videira e produziram os vinhos, mas foi com os italianos que a vitivinicultura mais prosperou. Os vinhedos gaúchos, nos seus primórdios, de acordo com Paz e Baldisserotto (1997), foram organizados com variedades européias, e a partir da segunda metade do século XIX, as variedades americanas (Isabel, Herbemont) foram substituindo as européias por sua facilidade de cultivo. Os italianos foram os que incrementaram o cultivo da uva e a produção de vinho. A primeira venda de vinho para fora do Estado foi feita por Antônio Pieruccini, em 1898, em São Paulo e, em 1900, Abramo Eberle realizou outra viagem, vendendo “graspa” e 20 bordalesas de vinho colonial em São Paulo, Santos e Ribeirão Preto (PELLANDA, 1950). 62 Cabe salientar que os processos imigratórios da Europa para o Brasil respeitaram critérios geopolíticos da Corte Portuguesa, aliados aos interesses econômicos e de ocupação espacial14. É sabido que tais processos se iniciaram, em nível nacional, como alternativa à escassez de mão-de-obra para o trabalho nas grandes “plantations” brasileiras, localizadas principalmente na região do estado de São Paulo, e diretamente orientadas para a cafeicultura. No caso das correntes migratórias voltadas para a região sul do país, estas seguiram interesses primeiramente demográficos, buscando o povoamento das terras do sul, evitando assim as freqüentes investidas dos espanhóis por ampliação de seus territórios. A verdade é que o trabalho do imigrante garantiu a solução de problemas tanto de ordem econômica quanto demográfica, no Brasil e na Europa. No caso específico da imigração italiana, Pellanda (1950) apresenta cinco grandes motivos que impulsionaram uma grande massa de trabalhadores para as Américas, em especial os italianos: a) grande crescimento demográfico europeu, experimentado entre 1815 e 1914 (crescimento da industrialização e primórdios da Primeira Revolução Industrial), que fez com que a população do velho continente saltasse de 180 milhões para 450 milhões de habitantes, “empurrando” cerca de 40 milhões de pessoas aos processos imigratórios, sendo 85% para as Américas; b) no caso específico da Itália recém unificada (1870)15, uma das primeiras medidas do governo foi a supressão das alfândegas regionais, unificando o sistema 14 A colonização do Rio Grande do Sul, por açorianos, alemães e italianos tem longínqua origem no despacho do Conselho Ultramarino da Metrópole lusa, de 22 de junho de 1729, no qual dizia "conveniente que, se não instalando no sul, nas povoações da Colônia e outras, casais de ilhéus, e quando êstes forem insuficientes, se podiam conseguir casais estrangeiros, sendo alemães ou italianos e de outras nações que não sejam castelhanos, inglêses, holandeses e franceses" (PELLANDA, 1950:02). 15 Cabe assinalar que o processo de unificação da Itália não se deu de forma pacífica e instantânea: a unificação inicia-se em 1861, mas somente em 1866 é que Veneza é anexada; Roma integra o território do “Reino da Itália” em 1870. A Região do Trento somente integra o país após a Primeira Guerra, em 1919. Parecem pertinentes as palavras 63 alfandegário tendo por base a Sardenha (que possuía as taxas alfandegárias mais baixas da região), afetando diretamente diversas economias regionais (relativamente fechadas, mas que conseguiam manter certo equilíbrio), bem como pressionando os preços dos produtos industrializados para baixo, destruindo o restante da produção artesanal, fragilizando ainda mais os pequenos agricultores, que complementavam sua renda com o trabalho em “micro-estabelecimentos” artesanais, localizadas no campo; c) a unificação alfandegária acentuou ainda mais as desigualdades econômicas e sociais entre o norte da Itália (que se industrializou mais cedo) e o sul (eminentemente agrícola). A preocupação do governo em obter recursos capazes de financiar obras públicas de infra-estrutura (principalmente ferrovias), fez com que se tomassem medidas fiscais impopulares, de supertaxação de bens de primeira necessidade, como foi o caso do aumento dos impostos sobre a produção de farinha e restrição à entrada de cereais vindos das Américas, em geral mais baratos que os produzidos internamente. Tais medidas beneficiaram os grandes produtores, visto que os pequenos agricultores ficavam restritos à produção de subsistência. As populações de baixa renda foram as mais afetadas, pois tiveram de pagar preços mais elevados para a compra da farinha, item fundamental da dieta italiana; d) medidas fiscais e alfandegárias afetaram duramente a indústria vinícola italiana como um todo, visto a decisão unilateral do governo italiano em sobretaxar a entrada de vinhos franceses. Como reação, a França também sobretaxou os vinhos oriundos da Itália. Como resultado, as exportações italianas para a França caíram, em três anos (1887 a 1890) dos 300 milhões de litros para 1,9 milhões de litros. A indústria vinícola italiana, composta em sua maioria por pequenas estruturas familiares de de um dos principais articuladores políticos da unificação italiana quando afirma que “nós fizemos a Itália: agora temos de fazer os italianos” (PELLANDA, 1950:02). 64 produção, localizadas principalmente nas regiões do Vêneto e da Lombardia, viu sua situação, em um curto espaço de tempo, tornar-se caótica; e) por último, a elevação dos preços dos produtos alimentares provocou um desequilíbrio na dieta da população demograficamente inchada, aumentando os níveis de miséria, subnutrição e doenças (crescem os surtos de malária e pelagra, tipo de avitaminose causada pelo consumo quase que exclusivo de milho e seus derivados). Todos estes motivos, conjuntamente, alimentaram a alternativa da migração, principalmente para a América (o Novo Mundo). Prado Junior (1945) reafirma o caráter dicotômico do processo de “imigração/colonização”, deixando claro que apesar de ser permeado por critérios econômicos, a entrada desta mão-de-obra estrangeira serviu para propósitos distintos: aos cafeicultores de São Paulo, lhes interessava a “imigração” de europeus, destinados a mitigar os déficits de trabalhadores livres nas fazendas; aos governos dos estados do sul do país, serviram para implementar uma estratégia de ocupação e “colonização” de terras com baixa densidade demográfica, com vistas a garantia e manutenção dos territórios, regularmente submetidos aos ataques de tropas cisplatinas. “Em conjunto, a ‘imigração’ superará sempre de muito a ‘colonização’” (PRADO JUNIOR, 1945:190). Essa dinâmica de abastecimento do mercado interno de mão-de-obra estrangeira livre foi arquitetada com base em contratos estabelecidos entre o governo central do Brasil e empresas privadas, responsáveis pelo recrutamento dos trabalhadores na Europa. Tais empresas eram remuneradas por trabalhador que desembarcasse no Brasil. Assim, importava única e tão somente a quantidade, não a qualidade dos imigrantes. Não raro, muitos fazendeiros paulistas se desiludiam com o desembarque de pessoas idosas e/ou incapacitados para o trabalho no campo (PELLANDA, 1950). 65 A fim de atrair parte destes imigrantes para o Rio Grande do Sul, a presidência da província instituiu as colônias de Conde D’Eu e Dona Isabel (atualmente Garibaldi e Bento Gonçalves, respectivamente) em 1870. Após isso, “firmou contrato com duas empresas privadas, que deveriam agenciar e introduzir quarenta mil colonos em um prazo de dez anos”16 (MACHADO; HERÉDIA, 2003:52). Essa estratégia do governo provincial se mostrou um fracasso (nos três anos em que esteve vigente o contrato 1872 a 1875 -, ambas as empresas somente conseguiram introduzir menos de quatro mil colonos, em sua maioria oriundos da Alemanha). A explicação para este fracasso, segundo Pellanda (1950), é: a deflagração de campanhas na Alemanha de restrição ao embarque de trabalhadores para o Brasil, difundindo-se a imagem de que os imigrantes sofriam imensas privações aqui; e o fato das defasagens nos valores dos contratos firmados, onde as firmas agenciadoras preferiam negociar com o governo central, visto que este remunerava melhor o ingresso dos imigrantes17. Além disso, os próprios colonos preferiam instalar-se no sopé na serra gaúcha, onde já havia colônias alemãs, ficando mais próximos dos focos de urbanização existente na época. Neste quadro de insucesso, o governo provincial desistiu de administrar a colonização do nordeste gaúcho, repassando tal incumbência à administração do governo imperial. Sobre a colonização do Rio Grande do Sul, na segunda metade do século XIX, Woortmann (1988:99) aponta: 16 O Presidente da Província, Francisco Xavier Pinto, assinou contrato em 29/04/1871, com a Companhia Caetano Pinto & Irmãos e Holtzweiss & Cia, para a introdução de “40.000 colonos industriosos, jornaleiros e principalmente agricultores, no prazo de 10 anos” (MACHADO; HERÁDIA, 2003:51). O pagamento era feito de forma parcelada: 1/3 em títulos da dívida provincial, ao juro de 7% ao apresentarem as listas dos imigrantes embarcados na Europa; 1/3 nas mesmas condições ao serem entregues no porto de desembarque (Rio Grande) e o terço restante em dinheiro, também nesse ato. Este parcelamento dificultava a execução do contrato por parte das empresas, que deviam arcar antecipadamente com todas as despesas de transporte dos imigrantes. 17 Enquanto o governo provincial pagava 60$000 por adulto, o Império pagava 70$000, conforme contrato firmado com duas empresas inglesas: Mackai Son & Co e Guilherme Hasfield (PELLANDA, 1950). 66 O processo de ocupação pelos colonos interessava ao capital num duplo sentido: a valorização das terras e a comercialização da produção. Realizando o objetivo da Lei de Terras, datada de 1850, a colonização transforma terras devolutas em mercadoria, cria um campesinato parcelar ao mesmo tempo em que elimina o posseiro (e os grupos indígenas, exterminados no bojo do processo), e transforma a propriedade no fundamento da subordinação do capital. A Lei de Terras teria um papel fundamental, pois se constituiria no primeiro marco regulatório no sentido de garantir o direito de propriedade aos colonos italianos. Diferentemente de Woortmann, que vê na lei uma espécie de “valorização especulativa” da terra, sob a ótica dos neo-institucionalistas, tal regulação, ao se apresentar como um direito de propriedade seguro, incentiva a valoração do recurso (no caso a terra), pelo investimento privado (dos colonos). É com esse espírito de investimento na valorização da terra (através da produção de gêneros alimentícios para a subsistência, inicialmente) que o colonizador italiano se instalará na região nordeste do RS. A transformação das terras devolutas em “lotes colonizáveis”, gerando pequenas propriedades rurais particulares, regulados por uma série de normas emitidas pelo governo central e provincial, foi o primeiro passo para o surgimento de instituições sólidas que resultariam na prosperidade das colônias anos após. Não se pode desprezar, também, o fato de que os colonos eram impedidos de utilizar do trabalho escravo, devendo empregar mão-de-obra assalariada em seus empreendimentos. Esse fato fez fortalecer o surgimento de relações mais claras, duradouras e convenientes aos tipos de contratos que os colonos estavam habituados na Europa. Em 1875, inicia-se a chegada dos primeiros colonos italianos no Rio Grande do Sul, ocupando as colônias de Conde D’Eu e Dona Isabel, criadas em 1870, originalmente para receber os colonos alemães. Ainda em 1875, o Império cria a colônia 67 de Caxias e, em 1877, é criada a quarta colônia italiana no RS, chamada Silveira Martins (região central do estado). O Rio Grande do Sul que os colonos italianos encontraram era bem diferente do encontrado pelos alemães, que iniciaram seu ingresso no estado desde 1824. Segundo Moure (1980), a população da província em cinqüenta anos (1825 a 1875) havia quadruplicado, passando dos 110 mil habitantes para 440 mil. De 1824 a 1875, a província passou de cinco municípios para vinte e oito. Havia uma incipiente infraestrutura, que possibilitava o crescimento da província: ferrovia, rede telegráfica, sistema bancário, navegação fluvial a vapor, etc. Além disso, o povoamento das terras altas da serra fez surgir as principais estradas que ligavam os centros urbanos existentes à época com as colônias, permitindo a constituição de uma atividade econômica mais sólida e organizada18. É importante ressaltar que os colonos italianos, com seus próprios braços, tiveram papel preponderante na construção destas vias, visto a existência de uma lei que garantia aos trabalhadores rurais localizados nas quatro colônias italianas o pagamento de quinhentos réis por metro corrente construído, por um período máximo de quinze dias ao mês, destinado às obras de construção das estradas. Esta era uma política de estímulo à permanência do colono em suas regiões, visto a desistência de muitos em virtude das dificuldades de acesso aos lotes de terra, bem como as dificuldades de sobrevivência nos primeiros anos, em virtude da incipiente plantação de subsistência. Das regiões da Itália com maior nível de desenvolvimento agrícola e industrial à época, as principais eram a do Vêneto e da Lombardia, caracterizadas por serem de grande densidade demográfica, de onde proveio a imigração para o Brasil. No Rio 18 Apesar destes avanços, a economia regional da província ainda estava centrada na pecuária e na agroindústria do charque, do couro e de seus derivados. Porém, não se pode desconsiderar que a colonização inicia um processo de desconcentração econômica e de poder, que posteriormente dará origem a uma nova forma de concentração, agora industrial, na Serra Gaúcha (MOURE, 1980; PESAVENTO, 1983). 68 Grande do Sul, desde 1824, a colonização se fez à base da pequena propriedade: o imigrante italiano, embora sem as vantagens da gratuidade da terra de que gozaram os alemães, fez-se desde início dono de sua lavoura e do lucro do seu esforço, como recompensa natural aos sacrifícios dos primeiros tempos. Analisando os aspectos econômicos da colonização italiana para o Rio Grande do Sul, Moure (1980:96) afirma que a imigração italiana seguiu três etapas básicas: (a) o estabelecimento dos imigrantes em moldes de uma agricultura de subsistência (1875-1910); (b) o desenvolvimento de atividades vitivinicultoras (1910-1950), onde a comercialização de excedentes de produção começa a especificar a área de colonização italiana; e (c) a instalação de cooperativas e empresas de industrialização capazes de aproveitar a produção local, gerando, a exemplo da zona colonial alemã, redefinições ao nível de mercado e nas relações de produção da pequena propriedade (...). Percebe-se que, desde o início, a vitivinicultura assume papel relevante na estrutura produtiva da região da serra. Alguns autores como Iotti (2001) e Moure (1980) justificam este surgimento com a origem dos colonos italianos: estima-se que 54% dos imigrantes eram oriundos do Vêneto; 33% da Lombardia; 7% do Trento; e 6% das demais regiões da Itália. Estas regiões são tradicionais produtoras vinícolas da Itália, com experiência em produção de vinhos que remonta ao Império Romano. Além do conhecimento técnico-produtivo acumulado, tais imigrantes trouxeram em suas bagagens uma secular experiência de organização republicana. Essa experiência, como relata Putnam (1996:138), remonta a formação de comunas no norte da Itália, onde “as práticas do republicanismo cívico propiciaram um grau de participação popular nas deliberações públicas sem paralelo no mundo medieval” 19. Além do mais, os imigrantes italianos tinham noção de uma instituição econômica que seria de grande valia no 19 Este ‘republicanismo cívico’, como denomina Putnam, está baseado no surgimento de instituições formais que garantiram o rápido crescimento comercial das regiões do Vêneto e da Lombardia, alicerçadas na presença de sistemas jurídicos e semijurídicos, cujo intuito era dirimir controvérsias, trocar informações e diluir o risco em determinadas operações (PUTNAM, 1996). 69 Brasil: o crédito. O crédito foi inventado nas repúblicas italianas do norte. Não se pode esquecer que as instituições bancárias do norte da Itália foram responsáveis pelo financiamento das grandes expedições rumo “às índias”, bem como das navegações portuguesas e espanholas para as Américas. Tais sistemas financeiros, ainda que incipientes, requeriam o estabelecimento de “relações de confiança mútua e a certeza de que os contratos e as leis que os regulamentavam seriam executados de forma imparcial” (PUTNAM, 1996:140). Os primeiros colonos trouxeram consigo mudas de novas variedades de uvas, auxiliando no aperfeiçoamento da qualidade do vinho produzido na região 20. Passadas as duas primeiras safras, que garantiram a subsistência dos colonos, começaram a surgir os primeiros excedentes dos produtos agrícolas e agroindustriais (ainda que de forma rudimentar), dando início a um comércio inter-regional e, logo a seguir, estadual e nacional, a despeito de todas as dificuldades logísticas existentes à época. Além dos produtos agrícolas tradicionais da subsistência colonial (milho, batata, trigo, arroz e feijão), as plantações de uvas se adaptaram muito bem ao clima (principalmente as do tipo Isabel), gerando os maiores excedentes entre os produtos da região. Em 1883, o cônsul italiano em Porto Alegre relatou que: [...] a videira cresce de modo surpreendente. Já no segundo ano dá uva e no terceiro a colheita é abundante. Segundo afirmações de muitos colonos, foi precisamente esta riqueza agrícola que reteve os nossos imigrantes. Em Conde D’Eu produziu-se em 1881 aproximadamente 5.000 hectolitros de vinho. No presente ano espera-se obter o triplo (COSTA et al., 1999). Assim, o fato de existirem excedentes de produção logo nos primeiros anos da instalação das famílias italianas na serra gaúcha deve-se, além das questões institucionais (associativismo e conhecimento técnico acumulado), ao fato de que, 20 Desde 1824, com a chegada dos primeiros colonos alemães, há produção sistemática de vinho para o consumo próprio dos imigrantes. O vinho “alemão” produzido no RS era tido como de péssima qualidade, muito por conta da baixa adaptabilidade das mudas trazidas pelos colonos germânicos ao clima do RS (COSTA, et al., 1999). 70 diferentemente dos colonos germânicos, os italianos deveriam pagar pelas terras recebidas, bem como pelos equipamentos e maquinários eventualmente concedidos a eles pelo governo. Podemos dizer que este endividamento inicial estimulou a necessidade de se destinar parte do produto agrícola para a comercialização nos centros urbanos existentes à época. Por essa razão, as famílias italianas optaram pela produção de gêneros agrícolas de rápida produção e que fizesse parte do hábito de consumo dos imigrantes aqui localizados. Assim, iniciaram a plantação de uvas pela variedade americana, devido à alta produtividade desta por hectare, em comparação a produtividade das uvas européias21. Uma gama de legislações, Provincial e Imperial, regulava a colonização das terras desocupadas, criando uma administração central em cada colônia. Um corpo funcional foi designado para a administração dos projetos de colonização e urbanização das áreas antes devolutas22. A localização desta sede era escolhida em um lugar conveniente, que posteriormente se transformaria no centro do município. As primeiras instalações destas sedes (havia uma para cada uma das quatro colônias italianas) foram a casa da Comissão de Terras e Colonização, o Barracão para receber os imigrantes, um depósito de materiais e almoxarifado, o cemitério e as residências dos funcionários do governo. Posteriormente eram construídas uma igreja e uma escola (MACHADO; HERÉDIA, 2003). Logo estes núcleos foram sendo ampliados com a construção de mais moradias para os imigrantes que não se adequavam ou não queriam se dedicar às atividades agrícolas, surgindo assim os primeiros estabelecimentos de serviços, como oficinas, funilarias, botequins, casas de negócios etc. 21 Obviamente que aqui não se despreza a maior adaptação das uvas americanas às condições climáticas existentes na serra gaúcha. 22 Este corpo funcional era formado por: um diretor geral, um engenheiro, dois ajudantes, um subdelegado de polícia, um médico, um farmacêutico e dois fiscais. A legislação previa a constituição de um Conselho Diretor, composto por colonos mais velhos, que na prática nunca foi adotado (PELLANDA, 1950). 71 Machado e Herédia (2003) apontam que no final do século XIX, toda a região dava sinais de prosperidade. Muitas pequenas fábricas já tinham sido instaladas. Em Caxias, havia 65 moinhos, 41 serrarias, 35 alambiques, 27 ferrarias, 17 engenhos de cana, 9 curtumes, duas funilarias, além de um sem números de outros estabelecimentos. Como resultados do crescimento econômico que as colônias vinham alcançando, em 1884, foram emancipadas as colônias de Caxias, Dona Isabel e Conde D’Eu, passando à condição de distritos. Apenas seis anos depois, em 1890, foi criado o município de Caxias, tendo por sede a Vila de Caxias. A expansão do comércio possibilitou o crescimento das atividades artesanais e industriais, que promoveu na região colonial o aparecimento de indústrias de porte significativo nos setores vinícola, tritícola, madeireira, mecânica, metalúrgica e têxtil (GIRON, 1994). A diversificação industrial da região colocou a economia regional no mercado nacional, garantindo a colocação dos seus produtos mesmo nas épocas de forte depressão econômica. É importante ressaltar que o processo de industrialização da região (tal qual ocorreu no Brasil) se deu anteriormente ao processo de “substituição de importações”, servindo inicialmente ao atendimento das demandas dos núcleos coloniais. Como explica Herrlein Jr. (2000:17): [...] a existência de dois pólos econômicos subregionais, apoiados numa estrutura dual de posse da terra, implicou maior distribuição espacial dos capitais e a divisão de esferas comerciais, mas também uma maior diversidade social e produtiva e uma capacidade de desdobramento econômico desconcentrado. Assim, pode-se dizer que a capacidade industrial instalada foi crescendo paulatinamente, se antecipando ao fortalecimento da indústria nacional, principalmente após 1930, com a implementação das políticas de substituição de importações23. 23 Devido ao estrangulamento externo, gerado pela crise internacional decorrente da quebra da Bolsa de Nova York, houve a necessidade de produzir internamente o que antes era importado, defendendo-se dessa forma o nível de 72 Por volta de 1896, o Governo do Estado buscou dinamizar a iniciativa do colono italiano no sentido de obter vinho nacional de boa qualidade. O Governo importou mudas de videiras da Europa, fundou uma Estação Experimental de Agronomia, na qual se fizeram as primeiras análises dos vinhos produzidos, aconselhando-se a correção do mosto e outras medidas indispensáveis, sobretudo, à conservação do produto. Cabe ressaltar que, neste período, o RS vivia um período de ditadura, instituída pela Constituição Estadual de 1891. No comando do estado estava o Partido Republicano Riograndense (PRR), de cunho positivista, que promoveu uma verdadeira ruptura política no RS, deslocando as oligarquias vinculadas à economia pastoril da Campanha gaúcha, enfraquecendo a forma de dominação tradicional e patrimonialista (TARGA, 2002). Na ideologia do PRR, o estado deveria cumprir um papel auxiliar na vida econômica, exercendo uma espécie de tutela social, responsabilizando-se sobre as condições de abastecimento e ocupação da população local. Tais movimentos serviram para “zelar” por um setor incipiente, baseado na produção familiar de vinhos, além de servir como forma de legitimação e estabilização do governo 24. Em 1898, o governo do RS mandou vir do Uruguai 25.000 mudas e as distribuiu aos colonos de Caxias do Sul, Antônio Prado, São Marcos, Alfredo Chaves, e Bento Gonçalves, e também para alguns agricultores localizados nas colônias alemãs (principalmente São Leopoldo). Houve também investimentos do estado em embalagens e carretos. Neste período, a Estação Experimental de Agronomia estudava a adaptação de viníferas européias ao nosso clima e solo, além de comparar os produtos das castas finas e das comuns, realizava enxertos etc. Desse modo, já em 1901 este Instituto podia distribuir 8.800 bacelos (mudas em forma de galhos) de produção atividade econômica. Assim, a industrialização brasileira foi projetada para dentro, isto é, visando atender ao mercado interno, em especial com a produção de bens de consumo. 24 Herrlein Jr (2000) afirma que apesar do PRR representar um poder ditatorial, isso não significava que os governos não tivessem de prestar contas. Pelo contrário, foi preciso apoiar uma série de ações estatais, num discurso público, a fim de garantir a estabilidade. 73 própria, o que continuou a fazer até 1910, quando passou a responsabilidade à Escola de Engenharia. O estado operou através desta Estação Experimental como propulsor da inovação tecnológica e melhoria dos processos de plantio de uvas e produção de vinhos e seus derivados. Outras ações associativas entre o estado e os produtores foram importantes para a estruturação do setor vitivinícola no final do século XIX e início do século XX. Entre as iniciativas está a formação do Sindicato Vinícola25, depois transformado em Instituto Riograndense do Vinho, com o fim de regular a produção e obter a progressiva melhora da qualidade da produção, através da substituição da uva Isabel por castas de viníferas e híbridas. Ao lado do organismo oficial de defesa que, então, só congregava as vinícolas constituídas, organizaram-se, sob a orientação do agrônomo do Ministério da Agricultura, Dr. Paulo Monteiro de Barros, dezenas de cooperativas de produtores, acentuando ainda mais a desconcentração desta indústria. Essa dinâmica evolutiva da região da Serra gaúcha, marcada por períodos de intensas transformações, repercutiu de forma significativa sobre a organização das empresas na região, bem como sobre o estabelecimento de padrões de produção, de distribuição e de investimento. Assim, ao analisar a vitivinicultura da região colonial italiana, na Serra Gaúcha, ao longo do tempo, se percebe a adoção de certo “padrão” de desenvolvimento: dedicou sua produção, inicialmente, para o consumo próprio e local; posteriormente, com a gradual evolução e adaptação da produção, as vendas foram ampliadas para o mercado estadual e nacional; as melhorias das variedades viníferas, com o aprimoramento tecnológico dos processos de produção do vinho, fizeram com que a região ficasse 25 Importante ressaltar que o Sindicato Vinícola não representava os interesses dos trabalhadores vinculados ao setor, mas sim os interesses dos empresários. O principal interesse consistia na manutenção dos investimentos do estado na geração de melhorias das mudas, bem como nos estudos referentes ao aumento da qualidade do vinho. Posteriormente, já como Instituto Riograndense do Vinho, adicionou-se o interesse na regulação do mercado produtor, buscando evitar a superprodução, que efetivamente veio a ocorrer em 1928, colocando em risco a estrutura frágil do setor no RS à época (MOURE, 1980). 74 reconhecida como líder no mercado nacional e com pequena, mas progressiva participação no mercado internacional26. Há um verdadeiro amálgama de tradições, costumes e instituições, historicamente forjadas, que explica a constituição do arranjo produtivo da vitivinicultura da Serra gaúcha, responsável pela produção de cerca de 90% de toda a produção de vinhos no Brasil (IBRAVIN, 2008). Para compreender melhor a dimensão deste arranjo, faz-se necessário a caracterização, primeiramente, da atividade produtiva, expressa na próxima seção, a partir da organização e estrutura da produção vitícola e vinícola da região, bem como da presença de uma estrutura de apoio, composta por empresas fornecedoras de máquinas, equipamentos e insumos enológicos. 3.2. Caracterização produtiva do APL da Vitivinicultura da Serra Gaúcha Nesta seção, se entende por caracterização produtiva do APL da vitivinicultura da Serra Gaúcha a demonstração da organização das diversas empresas participantes da cadeia produtiva da uva e do vinho, presentes na região, em especial os produtores vitícolas, as empresas vinícolas e os fornecedores de máquinas, equipamentos e insumos enológicos. 3.2.1 Produção vitícola no RS A viticultura da Serra gaúcha envolve cerca de 13.000 propriedades rurais, sendo responsáveis por 90% da produção de uvas do Rio Grande do Sul (IBRAVIN, 2008). 26 Nos próximos capítulos ficará evidente que a adoção destas variedades viníferas somente se dará de forma efetiva em meados dos anos 70. O uso extensivo de uvas americanas, produtoras de vinhos comuns, é facilmente explicado pela alta produtividade por hectare, em relação às viníferas. Enquanto a safra de uvas americanas atinge facilmente as 25 toneladas por hectare, nas uvas viníferas a safra média é de 9 toneladas por hectare (GIOVANINI et al., 2009). 75 Na sua quase totalidade (89%), a produção é de uvas americanas (vides labursca e vides bourquina), além das híbridas. As cultivares vitis viniferas destinadas à elaboração de vinhos de mesa finos e espumantes, representam 15% da produção. Assim, em termos de estrutura produtiva, caracterizar da produção vitícola da Serra gaúcha corresponde, por seu grau de concentração, falar da produção de uvas do RS27. Desde 1995, o Rio Grande do Sul vem realizando o Cadastro Vitícola, sendo hoje o único estado do país que o executa com periodicidade. Trata-se de um instrumento que dá suporte à Fiscalização, à pesquisa vitivinícola e, em especial, ao desenvolvimento do setor. Em sua última edição, lançada em dezembro de 2008, são apresentadas informações sobre os vinhedos do Rio Grande do Sul, referentes aos anos de 2005, 2006 e 2007. Em 2007, a área vitícola do estado foi de 38.500 ha. Comparativamente a 1995 (primeiro ano de levantamento de dados vitícolas no RS), houve incremento de 58,33% na área total de vinhedos do estado, o que representa um crescimento anual médio de 4%. Para as cultivares Vitis viniferas, usadas para elaboração de vinhos de mesa finos e espumantes o incremento foi de 63% (CADASTRO VITÍCOLA DO RS, 2008). Os municípios de maior área cultivada com videiras são aqueles que constituem o APL vitivinícola da Serra gaúcha28, composto por nove municípios contíguos da Serra, quais sejam: Bento Gonçalves, Flores da Cunha, Farroupilha, Caxias do Sul, Garibaldi, Monte Belo do Sul, Nova Pádua, São Marcos e Antonio Prado (Tabela 1). 27 É importante mencionar que a produção de uvas e vinhos em outras regiões do RS, tais como a campanha e a fronteira oeste, já é uma realidade e dados do Cadastro Vitícola do RS demonstram que são justamente estas as regiões que apresentam maior crescimento proporcional, em termos de produção. 28 Como já foi mencionado, a região da serra gaúcha não é a exclusiva produtora de uvas do RS, apesar de responder por 90% dessa produção. Cabe destacar o ingresso de novos municípios produtores de uvas nos últimos anos, como Candiota a partir de 2005, Encruzilhada do Sul (2002), Bom Jesus (2001), Cristal do Sul (2005), Monte Negro (2002), Rosário do Sul (2007). 76 Desses, os que possuem maior área plantada com uvas são Bento Gonçalves (5.900 ha), Flores da Cunha (4.700 ha) e Caxias do Sul (3.700 ha). Estes nove municípios participam da produção vitivinícola da Serra gaúcha, respondendo juntos por 26.700 ha de área plantada com uvas, representando 69% da área total cultivada no RS. Também, nesta região, encontram-se os municípios com maior valor de produção (valores em Reais pela venda da lavoura) e rendimento médio (quantidade colhida por hectare), que expressam os ganhos de produtividade presentes na região. Tabela 1 – Lavoura permanente de uva no APL da Serra Gaucha (2008) Bento Gonçalves Flores da Cunha 94.000 Farroupilha Caxias do Sul 123.900 65.898 66.600 Produção (ton) 69.023 49.632 40.057 41.683 Valor Produção (mil R$) 5.900 4.700 3.661 3.700 Área plantada (ha) 5.900 4.700 3.661 3.700 Área colhida (ha) 21.000 20.000 18.000 18.000 Rendimento Médio (Kg/ha) Fonte: IBGE. Produção Agrícola Municipal www.ibge.gov.br/cidadesat em janeiro de 2010). Garibaldi Nova Pádua São Marcos Antonio Prado 50.400 Monte Belo do Sul 42.700 30.294 19.992 24.040 26.722 24.669 15.342 10.027 12.595 2.800 2.440 1.377 943 1.202 2.800 2.440 1.377 943 1.202 18.000 17.500 22.000 21.200 20.000 2008. RJ: IBGE, 2009. (acesso por Segundo dados da União Brasileira de Vitivinicultura (UVIBRA) estão estimados para este período (2009-2010) a colheita de 600 mil toneladas de uva, uma safra 12 % superior à colheita do período anterior (2008-2009), que registrou um total de 534 mil toneladas. 77 Tabela 2 – Principais cultivares de uvas comuns no RS / superfície vitícola (2007) Cultivar Área (ha) Destinação Isabel 10.690 Vinho comum, suco e consumo in natura Bordô 6.726 Vinho comum e suco Niágara Branca 2.289 Vinho comum Concord 2.477 Suco de uva Niágara Rosada 1.952 Vinho comum Fonte: CADASTRO VITÍCOLA DO RS, 2008 Em termos de tipos de cultivares plantadas no RS, em especial na Serra gaúcha, podemos ressaltar a presença significativa de uvas comuns e híbridas, entre aquelas que ocupam maior superfície vitícola no RS. A tradicional uva Isabel ocupa mais de um quarto da superfície vitícola do Estado (CADASTRO VITÍCOLA DO RS, 2008). Essa cultivar tem triplo propósito: elaboração de suco, vinho de mesa e consumo in natura. A segunda cultivar de maior área em 2007 é a Bordô, com 6.726 ha, embora de triplo propósito, sua importância está voltada para a produção de suco e vinho de mesa. Na seqüência, na terceira posição, a Niágara Branca, utilizada para consumo in natura e elaboração de vinho de mesa, ocupa 2.389 ha. A variedade Concord é especialmente usada para elaboração de suco de uvas, ocupando a 4ª posição com 2.477 ha. Por fim, a Niágara rosada possui 1.952 ha, aparecendo na 5ª posição. Ao analisar a Tabela 3, pode-se perceber a extensão de terras utilizadas com a plantação de uvas Vitis viniferas – empregadas na elaboração de vinhos de mesa finos – que mais se destacou, em 2007. Tabela 3 - Principais cultivares de uvas viníferas no RS / superfície vitícola (2007) Cultivar Área (ha) Destinação Cabernet Sauvignon 1.868 Merlot 1.089 Moscato Branco 777 Chardonnay 642 Tannat 421 Fonte: CADASTRO VITÍCOLA DO RS, 2008 Vinhos finos Vinhos finos Vinhos finos Vinhos finos Vinhos finos 78 É interessante observar que, das 112 cultivares do grupo Vitis viniferas, registradas de 1995 a 2007 no Cadastro Vitícola, 14 cultivares foram eliminadas, não apresentando área em 2007. No mesmo período, 26 cultivares apresentaram área inferior a um hectare e 26 cultivares possuíam área entre um e dez hectares. Tal situação pode ser um indicativo de inadequação dessas cultivares às condições climáticas ou a busca de uma diferenciação dos produtos elaborados. Outro ponto a considerar e que merece uma análise com maior profundidade, é a redução da área de uvas Vitis viniferas brancas, considerando a tendência de mercado e vocação da Serra Gaúcha na produção de espumantes de alta qualidade. Houve um grande incremento na área das uvas tintas em detrimento das brancas, essas mais aptas para elaboração de espumantes. As cultivares Vitis viniferas tiveram aumento importante na área, passando de 4.606 ha em 1995 para 7.536 ha em 2007. No entanto, as cultivares brancas e rosadas tiveram sua área reduzida, passando de 3.062 ha em 1995, para 2.774 ha em 2007 (CADASTRO VITÍCOLA DO RS, 2008). Essa dinâmica espacial da produção de uvas se expressa também nas quantidades produzidas, como se percebe no Gráfico 1. Gráfico 1 – Quantidade de uvas processadas no RS (milhões Kg) – 2001 a 2009. Fonte: CADASTRO VITÍCOLA DO RS, 2008 79 Percebe-se que os anos de melhor safra beneficiam tanto as uvas comuns como as variedades viníferas. Dessa forma, a safra é o principal elemento determinante da qualidade e da quantidade de produtos elaborados, sejam esses vinhos comuns ou finos. Considerando os excedentes de vinhos de mesa tintos e o aumento da demanda por espumantes, percebe-se uma tendência de aumento no cultivo de uvas Vitis viniferas brancas para elaboração de espumantes, que além de agradarem ao paladar dos brasileiros, são apreciados por especialistas da vitivinicultura mundial. Nesse sentido, há uma pressão por parte das vinícolas, que compram a produção de uvas do RS em sua quase totalidade, para que os produtores invistam cada vez mais na expansão da produção de uvas viníferas, com o intuito de ampliar ainda mais a elaboração de vinhos finos e espumantes. No entanto, o que se percebe é uma carência de estímulos reais à maior qualificação da produção vitícola, através da ampliação das áreas plantadas com vitis viniferas. Para exemplificar essa situação de baixo estímulo, segundo informações do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Caxias do Sul, os custos de produção de uvas comuns, do tipo Isabel e Niágara, são de cerca de R$ 0,55 por quilo, enquanto que o preço mínimo fixado pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) é de R$ 0,46, e se mantém neste patamar desde 2007. Para uvas varietais, os custos de produção não são homogêneos, pois dependem de uma série de fatores (declividade do solo, tecnologia empregada, tipo varietal, etc.). Em média, segundo informações do mesmo Sindicato, os custos de produção deste tipo de uvas gravitam entre R$ 0,89 e R$ 1,56 por quilo. Os valores pagos este ano (2010) para chardonnay, por exemplo, é em média de R$ 1,00 o quilo. Dado que os custos de transformação de parreirais tradicionais em parreiras produtores de uvas viníferas são bastante elevados, e considerando a quebra de 80 produtividade inerente à produção de uvas de castas especiais29, somado a maior sensibilidade destas uvas aos fenômenos climáticos, é lento o processo de reconversão das videiras no RS. Além deste problema de fixação e reajuste dos preços mínimos das uvas, que anualmente tenciona as relações entre produtores de uva e vinícolas, há também a influência das questões climáticas sobre a produção de uvas. Ocorre que o excesso de chuvas (principal problema para os produtores da Serra gaúcha) prejudica a produção de uvas em quantidades razoáveis, além de afetar diretamente na qualidade da mesma, que por conseqüência afeta a qualidade do vinho após o processo de vinificação. Em entrevista realizada com o chefe de pesquisas da Embrapa Uva e Vinho, este estimou que as fortes chuvas que vêem ocorrendo na serra gaúcha deste agosto de 2009 ocasionaram uma quebra na produção de uvas comuns e viníferas na casa dos 20% e 30%, respectivamente. As propriedades envolvidas no cultivo de uvas são, em média, de 15 hectares, dos quais cerca de 6 a 8 hectares destinam-se aos vinhedos. Há pouca mecanização utilizada tanto no cultivo quanto na colheita das uvas, em virtude da topografia acidentada da região. Nas propriedades, há o predomínio da mão-de-obra familiar, que tem se constituído em um grande problema para muitos produtores, uma vez que as novas gerações têm buscado outras formas de ocupação, mais próximo das regiões metropolitanas (Bento Gonçalves e Caxias do Sul) e menos das regiões rurais periféricas (IBRAVIN, 2008). Na região da Serra gaúcha, predomina o sistema de condução de videiras por latada. O sistema de condução latada é também chamado de pérgola. É o sistema mais 29 Enquanto que em um hectare de uvas comuns se consegue em média colher 20.000 quilos, em um hectare de videiras viníferas colhe-se, em média, 8.000 quilos (EMBRAPA, 2008). 81 utilizado na Serra Gaúcha e no Vale do Rio do Peixe (SC). Na América do Sul tem alguma expressão na Argentina, Chile e Uruguai. Na Europa, aparece em determinadas regiões vitícolas, especialmente na Itália, com denominações e formas diferenciadas. Para Giovaninni et al. (2009), as principais vantagens que se pode enumerar para utilização deste sistema são: Proporciona o desenvolvimento de videiras mais vigorosas; Proporciona elevado número de cachos e alta produtividade; Em função de sua produtividade, possui uma boa rentabilidade econômica especialmente em pequenas propriedades; É de fácil adaptação à topografia de regiões montanhosas, como a Serra gaúcha. As desvantagens deste sistema recaem justamente sobre os elevados custos de implantação e manutenção, que somados à impossibilidade de se realizar uma colheita mecanizada, bem como os elevados custos com fungicidas aplicados ao longo do ano (devido à baixa insolação dos cachos e à conseqüente elevação da umidade). Somado a isso, encontra-se a recomendação dos técnicos de que a utilização deste sistema não deve ultrapassar quatro hectares por propriedade (GIOVANINNI et. al., 2009). Nos últimos anos, tem se intensificado a produção de Vitis viniferas, o que tem ocasionado uma gradativa substituição deste sistema por outro conhecido por espaldeira. As principais vantagens na utilização deste sistema são (GIOVANINNI et al., 2009): Adapta-se bem ao hábito vegetativo da maior parte das viníferas; Maior facilidade nas operações mecanizadas, como remoção de folhas, pulverizações dos cachos e desponta; 82 Apresenta boa aeração; Pode ser ampliado paulatinamente, pois a estrutura de cada fileira é independente; Os elevados custos de implantação do sistema espaldeira, bem como de aquisição de mudas estrangeiras, têm fomentado a cooperação entre muitos produtores de uva e vinícolas, principalmente as de maior capacidade de produção. Sem dúvida que na cadeia produtiva vitivinícola do RS o elo mais frágil ainda é o produtor vitícola, que muitas vezes não encontra apoio institucional suficiente que respalde as suas reivindicações. Em termos de apoio tecnológico, muitos produtores recorrem ao “amparo” fornecido pelos vendedores de produtos químicos, que muitas vezes, no afã de ampliar as vendas de defensivos agrícolas, recomendam a aplicação de quantidades superiores destes produtos. Para a Embrapa Uva e Vinho, tal prática tem colocado em risco não apenas a qualidade dos produtos produzidos, mas também a saúde dos produtores. No entanto, não se pode negar que são essas empresas que têm atuado de forma mais intensiva como extensionistas rurais, transmitindo conhecimentos e técnicas de produção a muitos pequenos produtores de uva da Serra gaúcha. Essa “fragilidade institucional” que se encontra entre os produtores de uva não se observa entre as vinícolas, que historicamente vêem se organizando no sentido de ampliar a produção e a comercialização de vinhos no país. A organização das vinícolas é caracterizada na próxima seção deste capítulo. 83 3.2.2 Produção Vinícola no RS A indústria brasileira de vinhos é concentrada, tanto em termos da quantidade e localização das principais empresas produtoras, quanto em relação ao consumo. Cerca de 90% da produção nacional de vinhos está concentrada no Rio Grande do Sul, notadamente na Serra Gaúcha. O consumo também é concentrado. O consumo anual per capita varia muito entre regiões: 1,80 litros no Brasil, 5,77 litros no Rio Grande do Sul e 27 litros na Serra Gaúcha (WRIGHT et al., 1992)30. Dada essa concentração da produção de uvas e vinhos no RS, selecionou-se os nove municípios com maior participação na produção vitivinícola na Serra gaúcha, região de maior produção no estado, a fim de representar o APL Vitivinícola. Tais municípios formam uma região geográfica contígua e sua importância em termos de produção para o APL está resumidamente expressa na Tabela 4. Tabela 4 – Municípios com maior produção de uvas industrializadas (milhões de Kg) – Safra 2005 a 2009 Município 2005 % 2006 % Bento 94,28 18,6% 81,28 19,2% Gonçalves Flores da 76,61 15,1% 67,38 15,9% Cunha Farroupilha 49,83 9,8% 40,73 9,6% Caxias 48,53 9,6% 38,68 9,1% do Sul Garibaldi 36,91 7,3% 30,09 7,1% Monte 35,61 7,0% 29,65 7,0% Belo do Sul Nova Pádua 22,29 4,4% 20,32 4,8% São Marcos 13,82 2,7% 14,77 3,5% Antônio 15,38 3,0% 14,42 3,4% Prado Outros 113,78 22,4% 86,33 20,4% Total Safra 507,05 100% 423,64 100% Fonte: CADASTRO VITÍCOLA DO RS, 2008 30 2007 110,47 % 19,4% 2008 117,96 % 18,6% 2009 113,19 % 21,2% 81,92 14,4% 99,32 15,7% 72,18 13,5% 64,30 54,73 11,3% 9,6% 62,38 57,34 9,8% 9,0% 57,00 42,63 10,7% 8,0% 39,00 40,69 6,8% 7,1% 46,16 43,27 7,3% 6,8% 39,43 40,40 7,4% 7,6% 25,77 16,36 18,93 4,5% 2,9% 3,3% 30,21 19,74 22,96 4,8% 3,1% 3,6% 24,41 12,84 17,58 4,6% 2,4% 3,3% 118,37 570,54 20,7% 100% 134,70 634,04 21,2% 100% 114,46 534,12 21,4% 100% Existe um grande hiato de informações, principalmente pelas organizações representativas, acerca do consumo per capita de vinhos no país. Percebe-se que este consumo médio tem se ampliado nos últimos anos, mas dados oficiais mais recentes inexistem, razão pela qual ainda se utilizam os dados apontados na pesquisa de Wright et al. (1992). 84 O setor industrial vinícola do RS é formado por 738 empresas (CADASTRO VITÍCOLA DO RS, 2008). Destas, 88% estão localizadas nos nove municípios acima mencionados, havendo cerca de 60 empresas localizadas em outras regiões do estado. Nos últimos anos, o número de estabelecimentos vinícolas no RS tem se ampliado, como se pode observar através do Gráfico 2, crescendo de 2001 a 2009 cerca de 60% o número de empresas registradas no IBRAVIN. Tal crescimento se explica não somente pela ampliação da comercialização de vinhos e sucos de uva, como também por uma ampliação do chamado “negócio do vinho”. Inúmeras empresas (vitícolas e vinícolas) vêem investindo, nos últimos anos, no incremento de seus negócios originais, indo para além da produção de uvas e vinhos, agregando valor às suas marcas através de uma série de produtos e serviços acessórios, todos ligados ao vinho, tais como restaurantes, pousadas, hotéis, cosméticos etc. Gráfico 2 – Evolução do número de empresas vinícolas no RS – 2001 a 2009. Fonte: CADASTRO VITÍCOLA DO RS, 2008. Os dados de 2009 foram repassados pelo IBRAVIN em entrevista. 85 O mercado de vinhos compreende basicamente os vinhos de consumo corrente ou vinhos comuns, produzidos a partir de uvas de variedades americanas e híbridas, e vinhos finos, que são elaborados a partir de uvas de castas nobres, da espécie Vitis Vinífera. Nos últimos quinze anos, tem ocorrido um intenso movimento de valorização da produção, através de investimentos em uvas varietais. No entanto, a produção de vinhos comuns ainda é a tônica do setor, respondendo por 60% da produção total de vinhos e derivados em 2009, como se pode perceber na Tabela 5, adiante. Para Vargas (2002), o arranjo produtivo da vitivinicultura da Serra gaúcha se caracteriza pelo predomínio (ou foco) nos mercados locais e nacionais, a despeito do substancial esforço de um grupo expressivo de empresas em assumirem a internacionalização como uma de suas metas principais. No entanto, tais estratégias de internacionalização têm como finalidade, entre outras medidas, a ampliação do reconhecimento do mercado interno. A busca pela valorização das marcas no mercado nacional passa também pela participação em feiras e premiações internacionais, cujo objetivo principal é a agregação de valor aos produtos via distinção das marcas (FARIAS; CAMPREGHER, 2008). 86 Tabela 5 – Produção de vinhos e derivados no RS (1994 a 2009) ANO MILHÕES DE LITROS Vinhos Vinhos de Outros derivados TOTAL Finos Mesa da uva e do vinho 1994 58,73 202,07 29,40 290,20 1995 47,13 213,36 37,96 298,45 1996 45,33 152,92 21,94 220,19 1997 46,99 182,82 37,96 267,77 1998 33,90 150,81 28,60 213,31 1999 45,83 226,52 38,95 311,31 2000 56,21 273,03 43,68 372,92 2001 34,16 228,93 33,49 96,58 2002 31,66 259,65 48,74 340,04 2003 29,88 203,90 36,60 270,38 2004 42,96 313,70 51,87 408,53 2005 45,45 226,08 53,50 325,04 2006 32,12 185,08 59,13 276,33 2007 43,18 275,25 70,89 389,32 2008 47,33 287,44 93,19 427,97 2009 39,90 205,42 96,50 341,82 Fonte: CADASTRO VITÍCOLA DO RS, 2008. Os dados de 2009 foram fornecidos pelo IBRAVIN em entrevista realizada pelo autor. Vargas (2002) categoriza as empresas presentes no APL vitivinícola da Serra gaúcha em três segmentos distintos, a saber: i) Empresas com capacidade de produção acima de seis milhões de litros/ano, que atuam principalmente na produção de vinhos finos e espumantes (o que não impede a produção de outros produtos ou subprodutos por parte dessas empresas). Encontram-se nesse segmento tanto grandes empresas de capital nacional, quanto divisões de grupos estrangeiros com filiais na região. Representam menos de 2% do universo de empresas do setor, mas são responsáveis por mais de um terço do total de vinhos do arranjo. 87 ii) Pequenas vinícolas e cooperativas que produzem menos de três milhões de litros/ano, porém são responsáveis por mais de 50% da produção de vinhos do arranjo. Grande parte dessas empresas se dedica a produção de vinhos comuns, e apenas nos últimos anos têm iniciado a produção (ainda pequena) de vinhos finos. iii) Pequenas cantinas familiares, que têm se especializado na produção de vinhos finos, que têm conquistado parcelas significativas de nichos do mercado nacional, anteriormente atendidas pelas empresas do primeiro segmento (nacionais ou estrangeiras). O que se percebe, em especial nas pequenas cantinas e naquelas de produção estritamente familiar, é que o número de funcionários (formais e informais) variará conforme o produto principal da empresa. Se a firma foca sua produção na elaboração de vinhos comuns e sub-produtos do vinho, a quantidade de mão-de-obra empregada é menor do que naquelas firmas que concentram sua produção nos vinhos finos e espumantes. Isso porque o processo de vinificação de produtos finos é mais extensa do que o processo de vinhos comuns, uma vez que esse, em geral, é vendido a granel, reduzindo boa parte do processo. O processo de produção de vinhos finos pode ser verificada, em sua extensão, na figura 1. Por diversas razões, um número cada vez maior de vinícolas tem orientado sua produção para a elaboração de vinhos finos e espumantes. 88 Figura 1 – Processo de produção de vinhos finos. Fonte: elaborado a partir de Bellé (2003). 89 Este movimento de orientação das empresas, em maior ou menor escala, em ofertar em seus portfólios de produtos, vinhos finos, exige das empresas esforços adicionais. A produção de vinhos finos, como já foi mencionado, demanda um elevado nível de capacitação e investimento por parte das vinícolas, que se reflete não apenas no nível tecnológico de máquinas e equipamentos utilizados na produção, mas sobretudo em um estoque de conhecimentos técnicos e de melhores práticas enológicas (VARGAS, 2002). A fim de avaliar a intensidade desse movimento rumo à produção de vinhos finos, torna-se importante analisar o destino das uvas processadas no RS nos últimos anos. A Tabela 6 demonstra a evolução da utilização de uvas para a vinificação de vinhos comuns, finos, sucos de uva e outros produtos derivados (coolers, xaropes, sangrias etc.). A primeira grande constatação é a substantiva quantidade de uvas comuns que são utilizadas na fabricação de sucos de uva, um crescimento de 61% de 2004 a 2009. Isso explica, em parte, a queda na utilização de uvas comuns para a produção de vinhos comuns, que no mesmo período teve uma redução de uso de 45%. Analisando a destinação das uvas viníferas processadas, percebe-se que estas são quase todas para a produção de vinhos finos, com uma mínima utilização em sucos e uma pequena, mas crescente, utilização em outros produtos, aqui, em especial, destacase a utilização de viníferas na elaboração de espumantes, produto que juntamente com o suco de uva apresenta maiores taxas de crescimento de vendas do setor. 90 Tabela 6 – Destino da uva processada no RS (2004 a 2009) Destino 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Comuns p/sucos 19,1% 24,4% 28,5% 22,4% 23,5% 31,2% Viníferas p/sucos 0,0% 0,5% 1,1% 0,8% 1,1% 2,9% Comuns p/vinhos 75,1% 67,3% 63,6% 68,2% 64,6% 54,9% Viníferas p/vinhos 96,2% 96,3% 89,4% 92,7% 90,9% 90,6% Comuns p/outros produtos 5,8% 8,3% 7,9% 9,5% 11,9% 13,9% Viníferas p/outros produtos 3,8% 3,2% 9,5% 6,5% 8,0% 6,5% Total de Comuns 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% Total de Viníferas 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% Fonte: CADASTRO VITÍCOLA DO RS, 2008 O setor vitivinícola, especialmente as empresas focadas na produção de vinhos finos, tem sofrido com a pressão dos produtos importados no mercado brasileiro. Em 2009, segundo dados da SECEX, foram importados 59,12 milhões de litros de vinhos finos, o que representa um aumento de importações de vinhos de 2002 a 2009 na ordem de 122%. A mesma comparação realizada em termos de valores em dólares demonstra que, de 2002 a 2009, ocorreu um incremento de 227% no valor das importações de vinhos finos. Os principais rivais da vitivinicultura nacional em termos de importação são dois vizinhos do Mercosul: Argentina e Chile (Tabela 7). De 2002 a 2009, a Argentina incrementou suas exportações para o Brasil de vinhos finos na ordem de 281% (em termos de volume), exportando para o Brasil, em 2009, 14,8 milhões de litros de vinhos; o Chile, no mesmo período, incrementou suas exportações para o Brasil em 263% (em volume), exportando para o Brasil, em 2009, 22,5 milhões de litros. A análise da balança comercial do setor de vinhos nacional apresenta peculiaridades. Ao se analisar a situação da comercialização interna de vinhos finos, percebe-se que 75% desse mercado é dominado por produtos importados, cabendo aos produtores nacionais a fatia pouco significativa da quarta parte deste. Esse tem sido um dos temas mais discutidos na agenda setorial de vinhos nacionais. Esse desequilíbrio é 91 fruto de problemas de negociação interna ao Mercosul. Medidas têm sido exigidas pela Câmara Setorial da Vitivinicultura, ligada ao Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). Entre as medidas, está a revisão dos acordos firmados com o Chile através do Mercosul, que prevê a redução progressiva das tarifas de importação de vinhos finos chilenos. Em 2005, a tarifação de entrada de vinhos com rótulos chilenos era de 27%. Hoje, por conta dos acordos bilaterais do Mercosul, esta tarifação é de 4,59%, chegando a zero em meados de 2011. Por conta disso, a vendas de vinhos com rótulos chilenos no Brasil, por exemplo, em 2009, representou 56% da produção total de vinhos finos elaborados por todas as vinícolas nacionais (UVIBRA, 2009). Tabela 7 – Procedência das importações de vinhos do Brasil (mil litros) 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Argentina Itália Chile Portugal Franca Espanha África do Sul Uruguai Estados Unidos Alemanha Outros 3.884 7.363 6.206 3.061 3.024 602 32 1.249 141 767 225 5.864 6.446 7.972 3.361 2.923 575 163 1.098 175 576 173 11.211 7.224 11.160 4.181 2.839 814 304 661 79 443 233 11.981 7.103 11.685 5.193 2.603 722 408 513 56 255 402 13.653 9.394 15.224 5.971 3.658 1.222 359 726 63 315 333 16.177 10.415 18.895 6.846 3.817 1.116 386 2.395 83 236 492 15.448 10.792 18.747 6.276 3.458 1.258 325 922 78 296 340 14.797 9.081 22.516 5.916 3.503 1.508 503 751 92 57 398 Total Global 26.554 29.329 39.157 40.938 50.948 60.875 57.944 59.126 Fonte: MDIC/SECEX, 2009 O inverso do comportamento dos vinhos finos nacionais com relação aos estrangeiros ocorre com os espumantes produzidos na Serra gaúcha. Em 2009, 78% dos espumantes vendidos no mercado interno são de produtos nacionais, contra 22% de espumantes estrangeiros (principalmente franceses e argentinos). A produção de espumantes de qualidade diferenciada tem sido uma estratégia das empresas vinícolas para ganhar espaço na preferência dos consumidores nacionais. 92 Ao longo de todo o século XX, um conjunto de viticultores e vinícolas em alguns municípios da Serra Gaúcha foi se notabilizando na especialização produtiva de espumantes. Segundo Tonietto (2007), isto se deu com técnicas de produção de uvas e de elaboração enológica que exigiram o desenvolvimento de um “saber-fazer” local para explorar o potencial de uvas cultivadas nesta região específica. Específica porque têm um clima vitícola que, seguidamente questionado quanto à sua aptidão, tem se mostrado um fator-chave da adaptação e da qualidade obtida nas uvas utilizadas para a elaboração do vinho-base que se destina à segunda fermentação do espumante fino. Desta combinação, "clima + solo + variedades + saber-fazer local", é que nasce a original qualidade do espumante da Serra Gaúcha que tem, ao longo do tempo, ganhado crescente reputação no mercado nacional e reconhecimento de especialistas internacionais. Um exemplo disso tem sido o desempenho das exportações do espumante nacional tipo moscatel, que de 2004 a 2009 obteve uma variação positiva de vendas de 211% (UVIBRA, 2009). Ocorre que a participação dos espumantes em relação às vendas totais, seja para o mercado interno, seja para o externo, não ultrapassam os 5%, segundo informações do IBRAVIN em entrevista. Tanto a UVIRA quanto o IBRAVIN apontam que a venda de espumantes por empresas nacionais tem seguido a estratégia de abertura de novos mercados, mas a intenção real é incrementar, ao longo do tempo, a comercialização de vinhos finos, cuja participação no mercado nacional ainda é pequena. A participação dos produtos estrangeiros no mercado nacional de vinhos, fruto de acordos comerciais e de variações da taxa de câmbio, aliado aos excedentes crescentes de vinhos e dos problemas climáticos que têm afetado a produção de uvas em quantidade e qualidade significativas, têm colocado o setor de vinhos finos brasileiros em condições desfavoráveis. Em que pese este cenário, o setor está investindo no 93 aumento da qualidade dos vinhos e na promoção de indicações geográficas buscando a valorização do produto pelos valores territoriais e culturais. Tais esforços têm recebido o apoio institucional de diversas organizações vinculadas à uva e ao vinho, tendo por objetivo principal o aumento da competitividade das empresas do setor. Na comercialização de vinhos comuns e finos no mercado interno, prevalecem as transações das cooperativas e vinícolas com as redes atacadistas ou varejistas. São, de forma geral, produtos homogêneos e com baixa especificidade, onde os riscos associados à execução de contratos são baixos e a freqüência de transação é alta, havendo poucos incentivos para a integração vertical para frente dos estabelecimentos vinícolas, tampouco para trás pelos distribuidores (CHADDAD, 1996). No caso específico dos vinhos comuns, os canais de distribuição mais comuns são atacadistas e redes de supermercados populares. Estas constatações denotam uma estratégia competitiva baseada em preços baixos, voltada ao consumidor de baixo poder aquisitivo. As vinícolas produtoras de vinhos finos competem no mercado através da diferenciação por marca e qualidade, comunicadas ao consumidor principalmente através da indicação da variedade no rótulo do produto. Algumas empresas têm adotado estratégias de investir no embelezamento e/ou na maior praticidade das embalagens, como garrafas em formas e cores diversificadas, semelhantes a alguns vinhos famosos, especialmente os europeus. Os canais de distribuição mais utilizados são as grandes redes de supermercados e os chamados “pontos-de-dose”, tais como restaurantes, bares e hotéis. Todo o esforço de marketing das empresas está voltado para o consumidor de renda média e/ou alta. 94 3.2.3 Fornecedores de Máquinas, Equipamentos e Insumos enológicos A idéia desta seção é caracterizar, ainda que de maneira não exaustiva, a presença de empresas fornecedoras de bens e serviços acessórios à indústria vitivinícola. A presença destas empresas ou de seus representantes junto às empresas produtoras de uva e vinho justifica ainda mais atribuir-se a compreensão da região como um arranjo produtivo local. Ao se analisar, inicialmente, o Quadro 2, verifica-se a presença de uma gama significativa de empresas fornecedoras de bens e serviços específicos ao setor vitivinícola. Ocorre também a presença expressiva de empresas estrangeiras, seja pela instalação no APL de fábricas, seja pela manutenção de escritórios de representação e comercialização. Os segmentos que apresentam maior número de empresas estrangeiras na região são os de rolhas e equipamentos. Quadro 2 – Principais Fornecedores de Máquinas, Equipamentos e Insumos Enológicos às empresas do APL da Vitivinicultura da Serra gaúcha Fornecedores Número de Origem Presença no APL Empresas Rolhas 04 empresas Garrafas 01 empresa Produtos Enológicos 05 empresas Rótulos 04 empresas Embalagens 05 empresas Equipamentos 07 empresas Cápsulas 01 empresa 03 portuguesas brasileira Francesa e 01 01 italiana, 01 argentina e 03 brasileiras 03 brasileiras e 01 canadense 01 americana e 04 brasileiras 03 americanas e 04 brasileiras Brasileira Todas presentes Não 04 presentes, 01 não 03 presentes, 01 não 03 presentes e 02 não 03 presentes e 04 não sim Acessórios e Barricas 05 empresas 05 brasileiras 04 presentes e 01 não Fonte: Elaborado pelo autor, com base nas informações fornecidas pela Associação Brasileira de Enologia (ABE), em janeiro de 2010. 95 Outro segmento que apresenta uma expressiva participação de empresas estrangeiras é o de insumos enológicos. Este segmento se caracteriza tanto no fornecimento de produtos químicos para o tratamento das videiras, como também insumos biológicos utilizados no processo de vinificação. As empresas nacionais presentes no APL são na verdade importadoras de produtos químicos e biológicos, atuando mais como representantes do que como produtores (apesar de uma das maiores empresas nacionais do segmento anuncia que possui um laboratório de biotecnologia nos moldes das grandes multinacionais do setor). Percebe-se um considerável poder de influência dos segmentos fornecedores de insumos enológicos sobre os produtores de uva, bem com sobre as vinícolas. Como já mencionado, muitas destas empresas fazem o papel de extensionistas rurais, não apenas comercializando produtos químicos, mas repassando conhecimentos e técnicas de manejo com as parreiras. O ônus desta relação, que se estabelece em meio à ausência de organizações que supram essas necessidades, é justamente o fato de muitos produtores adquirirem muitos destes produtos químicos como sendo a panacéia de todos os seus problemas. Essa atitude de “apoio” por parte dos revendedores é fortemente reconhecida pelos produtores rurais e pelas vinícolas. Essa relação não se caracteriza como puramente de mercado, havendo uma significativa assimetria de poder, favorecendo os vendedores de insumos. Em grande parte, isso se explica pelo fato da cadeia vitivinícola da Serra gaúcha enfrentar problemas de escala, principalmente em comparação a outras cadeias de bebidas (por exemplo, cervejas e refrigerantes). 96 Outra peculiaridade é a existência de um monopólio na comercialização de garrafas, ofertadas por apenas uma empresa, de origem francesa, com uma planta instalada no município de Campo Bom, cerca de 100 km de Bento Gonçalves, principal cidade do APL. As empresas de maior capacidade de produção utilizam-se das variações cambiais para poder barganhar preços com a empresa. Muitas vezes estas vinícolas adquirem mais vantagens com a importação de garrafas do que com a compra interna. Outro fator que contribui para a manutenção e aprofundamento deste predomínio de “forças” nas relações de governança, principalmente por parte dos produtores de insumos e de garrafas, é que, em grande parte, as compras são feitas de forma isolada, o que dá um maior poder aos ofertantes destes produtos quando das decisões referentes a preços e quantidades. Iniciativas que começam a buscar uma reversão deste quadro, com uma conseqüente diminuição do poder de barganha por parte dos fornecedores, serão destacadas no próximo capítulo. Os maquinários e equipamentos utilizados pelas vinícolas são oferecidos em larga escala no mercado. Muitas empresas preferem, para alguns tipos específicos de produtos os importados, embora, de maneira geral, a produção nacional já abasteça boa parte desse mercado. A relação entre as vinícolas e os fornecedores de equipamentos se assemelha a relação destas com os vendedores de insumos. Existe uma relação de colaboração explícita entre as vinícolas e principalmente os produtores nacionais de equipamentos. Entre os produtores de equipamentos, alguns produtores nacionais começam a se destacar, principalmente em relação à fabricação de tipos específicos de equipamentos, como é o caso das engarrafadoras e equipamentos de filtragem, em sua grande maioria 97 importados da Itália ou da França. Hoje, na Serra gaúcha já há um número significativo de empresas fabricantes de equipamentos para esmagamento da uva, de equipamentos de resfriamento, de tanques de inox e prensas. Muitas destas empresas surgiram com o apoio de vinícolas locais, que necessitando de serviços técnicos de manutenção, “abriam” suas portas para que tais empresas conhecessem seus equipamentos, gerando assim a possibilidade de se estabelecer, entre muitas empresas desse segmento, a estratégia de surgimento através da aplicação da engenharia reversa, guardadas as devidas proporções, internamente ao APL. A história de muitas das empresas nacionais de equipamentos para vitivinicultura inicia-se com a prestação de serviços de manutenção de máquinas importadas, uma vez que no passado a totalidade das máquinas para o setor era importada, não possuindo, no entanto, manutenção local para as mesmas. Assim, é a partir do conserto de equipamentos importados que se estabelece parte desse segmento industrial nacional. De igual modo, durante toda a década de 70, muitas empresas estrangeiras se instalaram nos municípios da Serra, como já foi mencionado. A política nacional vigente de substituição de importações impedia, em muitos casos, a compra de peças importadas, possibilitando o surgimento de uma indústria autóctone de máquinas e equipamentos para vinificação. Uma relação diferente se estabelece com os fornecedores de insumos do chamado “custo seco” (garrafas, rótulos, cápsulas, rolhas etc.). Apesar da presença de muitas empresas estrangeiras, as empresas nacionais apresentam elevado poder de barganha, aliadas em menor escala a pequenas empresas produtoras destes insumos, com pouco poder no mercado. As rolhas de cortiça natural (dominante nos vinhos finos) 98 são importadas em sua maior parte de Portugal, fazendo com que as vinícolas sofram as conseqüências das variações cambiais sobre seus custos no mercado interno, além do elevado imposto de importação. Na região do APL da vitivinicultura da Serra gaúcha desenvolveu-se, ao longo dos anos, empresas industriais e prestadores de serviços técnicos especializados na viticultura. Entre eles, podem-se citar os fabricantes de tesouras de poda, fabricantes de caixas de plástico para coleta da uva, fabricantes de sulfato de cobre e fabricantes de carretas agrícolas e pulverizadores. Na região também ocorre a presença de importadores de barris de carvalho, além de montadores locais, que são utilizados pelas grandes vinícolas quando da importação de outras madeiras (menos nobres), utilizadas no processo de envelhecimento dos vinhos. Neste caso, importa-se a madeira e repassa-se para uma empresa local, responsável pela montagem do barril. No que se refere ao engarrafamento e embalagem, o APL é totalmente autosuficiente. Há na região um grande número de empresas gráficas, responsáveis pela produção de rótulos, contra-rótulos, caixas e estojos de papel e papelão. O único item que não se encontra presente na região é a garrafa, que como já foi mencionado, é produzida por uma única empresa multinacional, localizada no município de Campo Bom, no Rio Grande do Sul. 3.3 Caracterização Institucional do APL 99 Apenas a presença de empresas produtoras de uva e vinhos em uma determinada região geográfica não é suficiente para se observar um APL. É com a estruturação de uma cadeia produtiva, aliada à presença de instituições de ensino, pesquisa, regulação e apoio, que se pode desenhar o formato mínimo ideal para a formação e consolidação de um APL, em especial o APL da vitivinicultura da Serra gaúcha. Entre as muitas peculiaridades deste APL, podemos destacar a presença forte de inúmeras organizações, presentes com maior ou menor intensidade no cotidiano das empresas do setor. Tais organizações representativas e de apoio, em muitos casos, apresentam objetivos justapostos e até mesmo antagônicos. Vargas (2002) ao avaliar a organização institucional do arranjo produtivo da vitivinicultura da Serra gaúcha, aponta para a constituição de um arcabouço institucional e de uma infra-estrutura de pesquisa e ensino que tornam esse arranjo único e bastante completo. A análise da infra-estrutura educacional e tecnológica do APL revela que, além da existência de um conjunto de organizações que atuam na geração e disseminação de informações e conhecimentos no arranjo, existe também um grau de interação destas com os agentes do segmento produtivo. A fim de melhor compreender a dinâmica destas instituições, dividiu-se as mesmas em quatro categorias e em cada uma escolhida uma organização que melhor representasse sua categoria. São elas: Associações Representativas (IBRAVIN); Instituições de Apoio (APROVALE); Instituições de Pesquisa (EMBRAPA); e Instituições de Ensino (IFRS). No Quadro 3, a seguir, apresenta-se uma distribuição das principais organizações, dentro da categorização institucional proposta por este trabalho. 100 Quadro 3 – Representação esquemática das principais organizações vinculadas à vitivinicultura na Serra gaúcha Associações Representativas - Instituto Brasileiro do Vinho (IBRAVIN) - União Brasileira de Vitivinicultura (UVIBRA) - Comissão Interestadual da Uva (COMIUVA) - Associação Brasileira de Enologia (ABE) - Sindicato das indústrias do vinho do RS (SINDIVINHO) - Federação das Cooperativas de Vinho do RS (FECOVINHO) Instituições de Pesquisa - Embrapa Uva e Vinho (EMBRAPA CNPUV) - Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (FEPAGRO) Fonte: elaborado pelo autor Instituições de Apoio - Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (SEBRAE-RS) - Associação Gaúcha de Vinicultores (AGAVI) - Associação dos Produtores de Vinhos do Vale dos Vinhedos (APROVALE) - Associação de Produtores de Vinhos dos Altos Montes (APROMONTES) - Associação de Produtores de Vinho de Pinto Bandeira (ASPROVINHO) - Associação dos Vinicultores de Garibaldi (AVIGA) - Associação dos Engenheiros Agrônomos da Região dos Vinhedos - Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica (EMATER) Instituições de Ensino - Campus Bento Gonçalves do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do RS (IFRS) - Universidade de Caxias do Sul (UCS) 3.3.1 – Associações Representativas: IBRAVIN No ano de 1997, foi instituída a Lei nº 10.989, de 13.08.1997, que além de fixar os objetivos da política e regulamentar a produção de uva, vinho e seus derivados, criou o Fundo de Desenvolvimento da Vitivinicultura – Fundovitis. Com a criação deste Fundo, gerou-se uma fonte de recursos específica para aplicação nas deficiências existentes no setor, dentre as quais podemos citar a fiscalização e ordenamento da cadeia produtiva. Como conseqüência, em 10 de Janeiro de 1998, foi criado o Instituto Brasileiro do Vinho – IBRAVIN, sociedade civil, sem fins lucrativos, ao qual estão associados pessoas jurídicas de direito privado, representantes de produtores de uva, cooperativas, 101 indústria vinícola e o Governo do RS. E, em 05 de julho de 2007, foi assinada a Lei nº 12.743, que contemplou a possibilidade de repasse direto ao IBRAVIN de 25% do montante recolhido pela taxa constante na Lei 10.989. A proposta original do IBRAVIN era gerir e executar uma série de projetos aprovados através do Fundo de Apoio ao Setor Vitivinícola (FUNDOVITIS), constituído basicamente pela renúncia fiscal parcial por parte do governo do estado. A partir da existência e da destinação deste recurso sob gerência do IBRAVIN, a organização conseguiu aglutinar internamente uma série de outras organizações, que por falta de estrutura ou recursos, tinham suas reivindicações setoriais esvaziadas. Nesse sentido, o IBRAVIN passou a ser encarado como a organização responsável pela promoção, regulação e controle do setor, investindo fortemente no debate e execução de projetos que discutissem a reconversão do setor vitivinícola. Conforme o artigo quarto do seu Estatuto, o IBRAVIN tem por objetivo promover e ordenar institucionalmente o setor vitivinícola, notadamente nas questões concernentes à produção de uvas, de vinhos, de suco de uva e de qualquer outro produto derivado da uva e do vinho, em todos os seus âmbitos: agrícola, produtivo, de elaboração, técnico, comercial, de promoção, de consumo, estrutural, organizacional, cultural, ambiental, jurídico, legal e institucional. Para atingir os seus objetivos, o IBRAVIN executa projetos através de convênios com diversas instituições tanto em nível Estadual quando Federal. As principais parceiras do IBRAVIN são com: Secretaria de Agricultura, Pecuária, Pesca e Agronegócio (SEAPPA), Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX Brasil), o Ministério da Agricultura e Abastecimento (MAPA), Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA), Associação Brasileira de Enologia (ABE), Embrapa Uva e Vinho, Sindicatos de Trabalhadores Rurais (STRs), Emater, 102 além de outras instituições como Universidades e Centros de Pesquisas. Os projetos são executados por instituições de pesquisa e/ou consultores contratados ou pelo próprio Instituto. O andamento destes projetos é acompanhado pelo Conselho Deliberativo para o qual conta com proposições técnicas ou pareceres obtidos junto ao Conselho Consultivo. Além da bandeira da reconversão produtivo do setor, o IBRAVIN tem desenvolvido uma série de ações no sentido de ampliar a comercialização dos vinhos nacionais no mercado interno, bem como fortalecer a imagem do vinho nacional nos mercados internacionais. A fim de ampliar a demanda nacional, o IBRAVIN tem investido em estudos de mercado e projetos de ampliação das relações das vinícolas com as cadeias varejistas, responsáveis para comercialização de 70% dos vinhos no mercado interno. Para reforçar a imagem dos produtos nacionais no mercado internacional, o IBRAVIN, em parceria com a Agência de Promoção de Exportações (APEX), lançou, em 2002, o consórcio “Wines From Brazil”, que conta hoje com a participação de 38 vinícolas, sendo 34 delas localizadas no APL. O objetivo principal do consórcio é uniformizar e valorizar a imagem do vinho nacional no exterior, além de fomentar a internacionalização de empresas do setor. 3.3.2 – Instituições de Apoio: APROVALE Até, aproximadamente, a década de 80 do século XX, os produtores de uvas do Vale dos Vinhedos vendiam sua produção para grandes vinícolas da região. A pouca quantidade de vinho que produziam destinava-se ao consumo familiar. Esta realidade mudou quando a comercialização de vinho entrou em queda e, conseqüentemente, o 103 preço da uva desvalorizou. Os viticultores passaram então a utilizar sua produção para fazer seu vinho e comercializá-lo diretamente, tendo assim possibilidade de aumento nos lucros. A evolução tecnológica das últimas décadas aplicada ao processo vitivinícola possibilitou a conquista de mercados mais exigentes e o reconhecimento dos vinhos do Vale dos Vinhedos. Assim, a evolução da vitivinicultura da região passou a ser a mais importante meta dos produtores do Vale. Para alcançar este objetivo e atender às exigências legais da Indicação Geográfica31, seis vinícolas se associaram, criando, em 1995, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (APROVALE). Com o tempo, as funções da associação ampliaram-se e, conseqüentemente, expandiram os objetivos, que passaram a incluir: o incentivo à pesquisa vitivinícola, assim como a qualificação do produto vinícola e seus derivados; o desenvolvimento de ações que promovam a organização e preservação do espaço físico do Vale dos Vinhedos, promovendo estudos e agindo junto às autoridades competentes para a elaboração de Leis adequadas ao atendimento deste objetivo; o estímulo e a promoção do potencial turístico da região, bem como o aprimoramento sócio cultural dos associados, seus familiares e da comunidade; 31 Ao contrário do que ocorreu em diversos outros países, a Indicação Geográfica assumiu um papel importante na diferenciação dos produtos nacionais, especialmente com relação aos vinhos importados. A alternativa de implementação de indicações geográficas tornou-se concreta no Brasil a partir da publicação da Lei nº 9.279, de 14 de maio de 1996 - "Lei de Propriedade Industrial". Com ela, pela primeira vez, o Brasil, contemplou-se a possibilidade da proteção legal das indicações geográficas para produtos vitivinícolas e, igualmente, para outros produtos da agropecuária e da agroindústria nacional. De acordo com o que estabelece a lei brasileira, considera-se Indicação de Procedência o nome geográfico - do país, da cidade, da região ou da localidade do seu território, que se tenha tornado conhecido como centro de extração, produção ou fabricação de determinado produto ou de prestação de determinado serviço. Já na Denominação de Origem o nome geográfico designa produto ou serviço cujas qualidades ou características se devam exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, incluindo os fatores naturais e humanos (TONIETTO, 2001). 104 a preservação e proteção à indicação geográfica dos vinhos da região Vale dos Vinhedos. Atualmente, a APROVALE conta com 31 vinícolas associadas e 39 associados não produtores de vinho, entre hotéis, pousadas, restaurantes, artesanatos, queijarias e outros. As vinícolas do Vale dos Vinhedos produziram, em 2008, 7,6 milhões de litros de vinhos finos equivalentes a 10 milhões de garrafas (APROVALE, 2009). 3.3.3- Instituição de Pesquisa: Embrapa Uva e Vinho A Embrapa Uva e Vinho, ou também conhecido Centro Nacional de Pesquisa da Uva e do Vinho (CNPUV), é a maior instituição de pesquisa em vitivinicultura do país, localizada em Bento Gonçalves. O CNPUV foi criado em 1975, coincidindo com o terceiro estágio do ciclo de industrialização da vitivinicultura brasileira, marcando, assim, o início de um momento de grandes investimentos na modernização do setor. Hoje, a Embrapa Uva e Vinho está vinculada a uma série de pesquisas, que visam ampliar a produtividade e a qualidade da uva e do vinho nacional. Entre as principais atividades desenvolvidas pela Unidade Embrapa Uva e Vinho, destacam-se: ampliação das bases tecnológicas para indicações geográficas; melhoramento genético de cultivares (com uso inclusive de biotecnologia); ampliação e implantação de sistemas sustentáveis de produção (integrada, orgânica etc.); ampliação da competitividade da viticultura e da enologia brasileira, via difusão de novas tecnologias; auxílio no desenvolvimento de novos produtos (alimentos funcionais); estudos com base na redução das mudanças climáticas. 3.3.4 – Instituições de Ensino: Campus Bento Gonçalves do IFRS 105 O Campus Bento Gonçalves do Instituo Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (antigo Cefet-BG)32 é uma instituição federal de ensino, localizada em Bento Gonçalves, e tem por objetivo principal a formação técnica e tecnológica de profissionais em diversas áreas, incluindo viticultura e enologia. A instituição foi criada em 22 de outubro de 1959 pela Lei nº 3646, de 22 de outubro de 1959, na época como Colégio de Viticultura e Enologia de Bento Gonçalves e passou a funcionar de forma efetiva a partir de 27 de março de 1960. Em 25 de março de 1985 alterou sua denominação para Escola Agrotécnica Federal Presidente Juscelino Kubistchek. Em 16 de agosto de 2002, foi implantado o Centro Federal de Educação Tecnológica de Bento Gonçalves (Cefet-BG). A instituição foi formada num período em que se pretendia ampliar as escalas de produção, e para tanto, era necessário a formação de profissionais técnicos que pudessem implementar projetos de diversificação, principalmente pela introdução de cultivares híbridas. Desde 1995, a instituição conta com um curso superior em viticultura e enologia, formando assim, não somente os técnicos para atuação no campo, mas também o enólogo, responsável técnico pelo processo de elaboração do vinho. O papel fundamental da Instituição é ofertar mão-de-obra qualificada às empresas da região. A grande maioria dos alunos, por exigência curricular, realiza estágios em empresas da região, que não raro, após o período de estágio, efetivam o aluno em seus quadros de funcionários da empresa. Como entidade voltada à educação profissional, o Campus mantém acordos e convênios com várias instituições do país e exterior, entre elas: Universidade de Trás-os 32 Em 29 de dezembro de 2008, foi sancionada a Lei nº 11.892, que reorganiza a Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica, formando 38 Institutos Federais, três deles no RS. Dessa forma foi criado o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, que conta com os seguintes campi: Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Erechim, Osório, Porto Alegre, Restinga, Rio Grande e Sertão. 106 Montes e Alto Douro, de Portugal; Università degli Studi di Udine e Università degli Studi di Padova, da Itália e com o Liceu de Ensino Geral e Tecnológico Agrícola de Blanquefort, da França. O campus Bento Gonçalves se constitui no maior centro formador de profissionais para a indústria vitivinícola do país. A quase totalidade dos técnicos e enólogos do APL é formada pela instituição, que por suas crenças e procedimentos pedagógicos, acaba por influenciando o “fazer” do vinho em seu cotidiano. 3.4. Periodização do ciclo da industrialização do vinho brasileiro A cultura/produção do vinho no RS pode ser dividida em quatro grandes momentos: a) de 1875 a 1920, onde a produção de produtos da uva era destinada ao consumo familiar e local, sobretudo para a produção de vinhos comuns originados da vinificação de uvas americanas; b) a partir de 1930, com a conclusão de uma série de obras de infraestrutura (em especial da estrada de ferro que ligava Caxias do Sul a Montenegro), possibilitou-se o escoamento de produtos coloniais para as principais localidades do estado e do país (desde então, a região de colonização italiana do RS tornou-se o maior centro produtor de vinhos do país) iniciando também nesse período o processo de diversificação da produção; c) entre as décadas de 1970 e 1990, dois grandes movimentos foram percebidos no setor: primeiramente, a entrada de empresas internacionais como Chandon, Maison Forestier, Martini, National Distillers, Chateau Lacave, Welch Foods (Suvalan), entre outras, na produção e comercialização de vinhos e sucos; e em um segundo momento, fomentado por essas empresas, houve um incremento na qualidade da produção por parte das empresas nacionais, iniciando a 107 produção em maior escala de vinhos varietais; d) a partir dos anos 2000, a tecnologia se disseminou entre o setor vitivinícola gaúcho, chegando até as pequenas vinícolas, que começaram a controlar as fermentações, a utilizar leveduras e enzimas e usar tanques de aço inoxidável, que ampliou drasticamente a qualidade e competitividade das firmas gaúchas, inserindo parte da produção vinícola gaúcha no mercado internacional – ainda que por via de poucas e específicas empresas (EMBRAPA, 1982; TONIETTO; MELLO, 2001; TONIETTO; MILAN, 2003; FARIAS; CAMPREGHER, 2008). Os ganhos com a exportação dos produtos vinícolas da Serra gaúcha ainda são muito reduzidos, porém, a experiência junto aos mercados internacionais tem produzido ganhos de conhecimento e expertise significativos às empresas que têm participado desse tipo de movimento. Tal situação pode ser visualizada na Figura 2, abaixo. Figura 2 – Períodos Evolutivos da Vitivinicultura do Brasil Fonte: Tonietto; Mello (2001:05) 108 Vale destacar que este corte temporal não pretende expressar que tais ciclos evolutivos se deram da mesma forma para todas as empresas da região. Tais movimentos são percebidos inicialmente pelas empresas de maior porte e pelas cooperativas. As empresas de menor porte, que se constituem ao longo dos anos a maioria das empresas da região, adotaram tais estratégias buscando a manutenção de suas posições de mercado. O mesmo pode-se afirmar acerca da ampliação das vendas para os mercados estrangeiros. Na verdade, como será abordado mais à frente nesse trabalho, a opção pelas exportações não está relacionada apenas a questão do porte das empresas, mas principalmente a uma estratégia de ampliação e valorização dos produtos e marcas no mercado interno. Essa periodização é importante para se perceber o caráter evolutivo da vitivinicultura no Brasil (ainda que o predomínio das ocorrências em cada período se perceba no RS). Cada período compreende uma fase do ciclo de industrialização que ocorreu (e vem ocorrendo) com a vitivinicultura brasileira. No primeiro período, como já foi mencionado na primeira seção deste capítulo, ainda que se constate a presença de produção de uva e vinhos na região das Missões (1726) e em regiões de colonização portuguesa litorânea (Rio Grande e Pelotas, a partir de 1732), é com a chegada do imigrante italiano, a partir de 1875, que ocorre o primeiro grande salto da vitivinicultura gaúcha, quando da implantação dos primeiros vinhedos utilizando-se o sistema de latadas (PESAVENTO, 1983). O surgimento da produção de vinhos está vinculado ao atendimento da demanda local e regional, mas à medida que a produção cresce, tais mercados se tornaram insuficientes para absorver a totalidade da oferta, conduzindo as empresas coloniais da Serra gaúcha a buscarem novas estruturas de produção e distribuição, “introduzindo uma nova dinâmica empresarial em torno desta atividade” (VARGAS, 2002: 185). 109 Vargas (2002) destaca que o desenvolvimento inicial do arranjo vinculado à produção de vinho está respaldado pela existência externalidades regionais, tais como: a) estrutura fundiária baseada em pequenas propriedades, com uso de trabalho familiar; b) mão-de-obra especializada nas técnicas de plantio e colheita de uvas; e c) infraestrutura incipiente de produção e distribuição, estabelecida nuclearmente em poucas empresas nacionais localizadas regionalmente. Ainda neste primeiro período, o ciclo de industrialização foi marcado pelo surgimento das primeiras cooperativas, além do término das obras de construção da estrada de ferro que ligou Caxias do Sul à Montenegro, possibilitando uma rápida ampliação dos mercados, bem como uma maior integração da cadeia produtiva vitivinícola no RS. Entre as décadas de 1930 e 1960, não se verifica grandes modificações nos processos produtivos e tecnológicos das vinícolas. Neste período, a única grande estratégia das empresas foi iniciar a implementação de um processo gradual de diversificação da produção, via introdução de cepas híbridas, além das americanas já amplamente exploradas na Serra gaúcha. A diversificação passou também pela ampliação do número de produtos derivados do vinho, como é o caso da graspa, do brandy e da sangria. A partir de década 1970, inicia-se uma nova etapa do ciclo de industrialização da vitivinicultura, tendo por finalidade a melhoria da qualidade dos produtos oriundos do arranjo vitivinícola da Serra gaúcha, através de investimentos na modernização do parque industrial local e na expansão da produção vitícola, alicerçada na importação de mudas européias que garantiram uma maior adaptação ao clima da região (VARGAS, 2002). 110 Neste mesmo período (década de 70), inicia-se o ingresso de inúmeras empresas de capital estrangeiro no Brasil, se instalando em sua totalidade na Serra gaúcha. Fica evidente a intenção destas empresas em aproveitar o crescimento do mercado interno brasileiro no período. Esse crescimento foi sustentado pela ampliação do poder aquisitivo da classe média urbana, possibilitando o surgimento, pela primeira vez, de um genuíno mercado nacional de vinhos finos nacionais, em substituição aos produtos importados. Nesse momento, a indústria vitivinícola acompanha as movimentações estruturais que ocorrem no Brasil, nos setores mais diversos. Para Vargas (2002), as empresas locais, em especial as com maior capacidade produtiva, foram capazes de absorver as mudanças tecnológicas necessárias nesse processo de reorganização e modernização da produção vinícola. Assim, entrada de capital externo no arranjo se deu através do estabelecimento de alianças estratégicas entre empresas nacionais e grupos estrangeiros (VARGAS, 2002: 188). O último período de modificação da vitivinicultura brasileira é caracterizado por uma intensificação dos investimentos em tecnologia e na melhoria da qualidade dos produtos, através da consolidação de regiões determinadas e identificadas para a produção de vinhos finos específicos. Esse representa o maior salto de investimento tecnológico feito pelas empresas do arranjo, desde o melhoramento genético de cultivares até o desenvolvimento de novos processos de elaboração de vinhos e espumantes. Fica evidente que o processo de formação e consolidação deste APL está intimamente vinculado aos contextos históricos e culturais, se confundindo com a própria trajetória de construção das identidades regionais (COOKE et al., 1997; VARGAS, 2002). Assim, a conformação histórica, cultural e institucional da região da 111 Serra gaúcha impactou diretamente a organização e consolidação da indústria vinícola do RS e do Brasil, de maneira geral. Com base nessa caracterização do APL pretende-se, no próximo capítulo, apresentar os principais resultados da pesquisa de campo, que teve por finalidade perceber, pela ótica dos empresários e das instituições, o papel da cooperação, dos processos de aprendizagem e da inovação no APL da vitivinicultura da Serra gaúcha. 112 4 APRENDIZADO, INOVAÇÃO E COOPERAÇÃO EM VINÍCOLAS DA SERRA GAÚCHA O presente capítulo pretende apresentar os dados levantados na pesquisa de campo realizada junto a vinte empresas vinícolas do APL da Serra gaúcha, além de oito entrevistas com organizações ligadas ao setor, durante os meses de janeiro e fevereiro de 2010. O capítulo está dividido em quatro seções, quais sejam: metodologia da pesquisa (incluindo um perfil da amostra estudada); percepção dos entrevistados sobre as suas atividades inovativas e cooperativas, bem como sobre os seus processos de aprendizagem; avaliação dos respondentes com relação às estruturas de governança e as vantagens associadas ao ambiente local; e, por último, a avaliação sobre as ações de promoção do setor. 4.1 Metodologia da pesquisa A presente dissertação se propôs a realizar um estudo empírico, exploratório, acerca dos processos de cooperação e aprendizagem no arranjo produtivo local da vitivinicultura da Serra gaúcha. Pretendeu-se, assim, relacionar tais processos (cooperação e aprendizagem) com a capacidade inovativa das firmas, bem como a competitividade do arranjo como um todo. Ao longo da pesquisa de campo procurou-se entender que mecanismos de aprendizado dão suporte às estratégias inovativas adotadas pelas empresas. Uma vez que tais processos de aprendizado ocorrem sob a forma de relacionamentos presentes no 113 interior do arranjo, pretendeu-se compreender se tal interação gerou vínculos cooperativos, e quais seriam estes. Neste trabalho, o método empregado para a consecução dos seus objetivos foi do tipo pesquisa survey, descritiva, com amostragem não-probabilística. A survey foi precedida por um conjunto de entrevistas em profundidade, que foram realizadas entre os meses de agosto e outubro de 2009, com especialistas do setor, bem como representantes de instituições de ensino e pesquisa (EMBRAPA e IFRS) e órgãos de representação e apoio (IBRAVIN e Sebrae/RS). Tais entrevistas serviram para adequar o instrumento de coleta de dados aos objetivos específicos da pesquisa. A aplicação do questionário (ver Apêndice A) em campo foi realizada durante os meses de janeiro e fevereiro de 2010. Antes, porém, ocorreu uma etapa em que se realizaram oito entrevistas em profundidade, seguindo um roteiro de orientação (ver Apêndice B). Tais entrevistas tiveram por objetivo conhecer as ações das principais instituições, bem como suas opiniões acerca da organização do arranjo e os fatores de competitividade das empresas. Para a fase de investigação de campo, junto às vinícolas, utilizou-se como estrutura básica do questionário a mesma base conceitual e metodológica desenvolvida nos diversos trabalhos da REDESIST sobre os APLs, sendo este questionário aplicado nas pesquisas de campo realizadas pela referida Rede. Ocorreram algumas adaptações, necessárias para compreender as particularidades das vinícolas. Além disso, foi necessário incluir algumas questões que não se fazem presentes na versão original do questionário da Rede. Tais adaptações basearam-se nos dados secundários coletados ao longo da pesquisa, bem como no resultado das entrevistas em profundidade. 114 O questionário foi aplicado junto a vinte vinícolas inseridas no arranjo em estudo. Essas vinte empresas correspondem à produção de 21% do total da produção de vinhos do RS, no ano de 200933. A amostra, ainda que seja não-probabilística, apresenta um grau de representatividade considerável, não apenas por representar 1/5 da produção vinícola do RS (e por conseqüência do Brasil), mas por retratar a realidade das principais produtoras do Brasil. Por ser o segmento mais importante do APL, concentrou-se os esforços da pesquisa no levantamento de informações junto às vinícolas. Optou-se pela aplicação presencial de todos os questionários. Tal estratégia foi adotada em virtude da extensão do instrumento de pesquisa, bem como pela complexidade e profundidade das informações requeridas. Por essa razão, todos os respondentes ocupavam cargos de alta administração das empresas (Diretor, Gerente ou Enólogo). O questionário é estruturado em cinco blocos. O primeiro pretende descrever algumas características básicas da firma entrevistada, como porte e número de empregados. O segundo bloco discute alguns aspectos do processo produtivo e da qualificação da mão-de-obra. O terceiro bloco visa observar os principais aspectos relativos ao processo inovativo, cooperação e aprendizado entre as firmas do arranjo. O quarto bloco analisa as fontes de externalidades no ambiente local. Por último, um bloco que avalia o impacto de políticas públicas sobre o desempenho das firmas nos arranjos produtivos locais. Pela delimitação da pesquisa, o terceiro bloco teve maior relevância para o presente projeto. Esse bloco de questões avaliou a origem da informação para o 33 As vinte empresas juntas totalizaram uma produção, em 2009, de 70,5 milhões de litros de vinhos (finos e comuns). Dados do IBRAVIN, em entrevista, apontaram que a produção, no mesmo ano, das vinícolas do RS foi de 342 milhões de litros. 115 processo inovativo, se esta fonte é interna ou externa à firma. Avaliou, também, a forma, a intensidade e com quem a cooperação ocorre (se ocorre), além de verificar se a firma interage mais dentro ou fora do arranjo. As questões do questionário REDESIST, neste bloco de análise, sofreram as devidas adaptações, para se adequarem às peculiaridades do setor vitivinícola, além de atender aos pontos levantados pelos especialistas, quando da realização das entrevistas em profundidade. Assim, o instrumento de coleta de dados utilizado na pesquisa possui 48 questões, divididas em cinco blocos, que são: a) identificação da empresa; b) produção, mercados e emprego; c) inovação, cooperação e aprendizado; d) estrutura, governança e vantagens associadas ao ambiente local; e) ações de promoção. É importante destacar que o intervalo temporal de análise das diversas questões presentes no instrumento de pesquisa foi dos últimos três anos (2007 a 2009). Ainda, grande parte das questões foi estruturada solicitando que os respondentes identificassem graus de importância, que variavam de baixa importância a muita importância, além da possibilidade de indicar se a questão era irrelevante para a empresa. Assim, justifica-se o porquê de muitas das análises que se seguirão, se somadas, totalizam valores acima de 100%, uma vez que muitas dessas questões eram de múltipla escolha. Cabe-nos concordar com Tatsch (2008) quando argumenta que temas como aprendizado, conhecimento e inovação fazem parte de uma agenda de estudos em construção, necessitando de uma massa crítica de pesquisas ainda maior, afim de que se possam levantar outras variáveis (além das utilizadas aqui) para a melhor compreensão de tais questões. A que se levar em conta, também, a complexidade inerente ao estudo de temas como a cooperação entre empresas, e destas com outras instituições. 116 Feitas essas observações, importa mencionar algumas características da amostra, composta por empresas vinícolas inseridas no APL vitivinícola da Serra gaúcha. 4.1.1 Perfil da amostra Inicialmente, é importante traçar um perfil das vinícolas investigadas no presente estudo, partindo-se da relação das empresas entrevistadas com sua localização no APL vitivinícola da Serra gaúcha. Todas as vinte empresas investigadas são nacionais e independentes, ou seja, não existem outras empresas no controle acionário/societário delas. Nisso se assemelham em muito a grande maioria das vinícolas brasileiras. A Tabela 8 demonstra que quanto a localização das empresas entrevistadas há maior concentração em Bento Gonçalves (50%), seguida por Garibaldi (20%), Farroupilha (10%) e Flores da Cunha (10%). Duas empresas estão localizadas nos municípios de Cotiporã e São Marcos, ambos pertencentes ao APL vitivinícola da Serra. Tal distribuição é facilmente explicada pelo predomínio da produção e do número de firmas nos municípios de Bento Gonçalves e Garibaldi, respectivamente o maior produtor de vinhos e o maior produtor de espumantes do Brasil. Tabela 8 – Distribuição das empresas entrevistadas no APL por Municípios Município Freqüência % Bento Gonçalves Cotiporã Farroupilha Flores da Cunha Garibaldi São Marcos Total Fonte: pesquisa de campo (2010) 10 1 2 2 4 1 20 50,0 5,0 10,0 10,0 20,0 5,0 100,0 117 Outra característica importante da amostra é sua segmentação por porte. Por uma particularidade na produção de vinhos, a classificação usual de empresas levando-se em consideração o número de funcionários, torna-se inapropriada, visto que o tipo de vinho (comum ou fino) e a preocupação com o posicionamento da marca no mercado (especialmente associado ao volume de produção) afetam diretamente o número de contratações necessárias. Em geral, vinhos finos requerem mais mão-de-obra que vinhos comuns. Assim, optou-se por determinar o porte das empresas da amostra a partir da estimativa de seus faturamentos34. No questionário, as questões 11, 12 e 13 solicitavam que a empresa informasse a produção total de vinhos finos, comuns e suco de uva, no ano de 2009, expressos em litros. Com esses dados, buscou-se os preços médios desses produtos junto ao IBRAVIN. Com isso, estimou-se o faturamento das empresas, segmentando-as, posteriormente, conforme a classificação de empresas utilizada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES)35. É evidente que tal estimativa carece de precisão, uma vez que não considera as possíveis práticas de sonegação fiscal36. 34 Das empresas entrevistadas, apenas as duas de porte médio, aceitaram informar seu faturamento. Isso porque ambas são Sociedades Anônimas, e publicam seus balanços anualmente. As demais empresas se negaram a fornecer esse dado. Em entrevista com o IBRAVIN, houve o relato de que a organização, ainda que representante das vinícolas brasileiras, não conseguiam junto as menores empresas essa informação, o que leva a organização a estimar, também o faturamento do setor. 35 O BNDES estipula o porte das empresas conforme seu faturamento anual: Microempresa (até R$ 2.400.000,00); Pequena (de R$ 2.400.000,00 a R$ 10.500.000,00); Média (de R$ 10.500.000,00 a R$ 60.000.000,00) e Grande (acima de R$ 60.000.000,00). Poder-se-ia perfeitamente enquadrar, em circunstância do perfil das empresas que compõem o setor, estabelecer que empresas que faturam entre R$ 10,5 milhões e R$ 60 milhões como grandes empresas, porém, preferiu-se seguir à risca o esquema utilizado pelo BNDES. 36 Durante as entrevistas com empresários, muitos afirmaram que existe uma prática recorrente de sonegação de impostos, principalmente entre aquelas que produzem grandes volumes de vinho comum. Para muitos desses empresários essa prática garante a sobrevivência dessas firmas, dada a pesada carga tributária incidente sobre o produto final (vinho), bem como sobre os seus insumos, provocando efeitos em cascata que impossibilitam, segundo eles, a plena regularidade das empresas. 118 Tabela 9 – Distribuição das empresas da amostra por porte. Porte Freqüência % % Válidos micro pequena média Total 10 8 2 20 50,0 40,0 10,0 100,0 50,0 40,0 10,0 100,0 Fonte: pesquisa de campo (2010) A Tabela 9 apresenta a distribuição da amostra, segundo seu porte. Chama a atenção a inexistência de empresas de grande porte. O fato de 90% das empresas entrevistadas serem de micro e pequeno porte reforça as características do APL já apontadas nos capítulos anteriores. Na Tabela 10, observa-se a relação entre os municípios-sede das empresas da amostra, segundo seu porte. Tabela 10 – Municípios X Distribuição da empresas da amostra (por porte). Porte Municípios micro pequena média Total Bento Gonçalves 4 4 2 10 Cotiporã 0 1 0 1 Farroupilha 1 1 0 2 Flores da Cunha 1 1 0 2 Garibaldi 4 0 0 4 São Marcos 0 1 0 1 Total 10 8 2 20 Fonte: pesquisa de campo (2010) Com relação ao número de funcionários, as empresas entrevistadas apresentaram, em média, 19 funcionários, incluindo entre esses os empregados das vinícolas e das unidades produtoras de uvas. Com relação a estas últimas, há uma quantidade significativa de mão-de-obra sazonal, empregada principalmente no período da safra (janeiro a março), que foram contabilizados. Apenas uma empresa da amostra afirmou possuir cinco funcionários, e duas empresas informaram possuir mais de cem funcionários (sendo que uma delas possui mais de quatrocentos empregados diretos). 119 Como já apontado anteriormente, o emprego (maior ou menor) de funcionários se estabelece de forma mais nítida, se se considerar a opção produtiva da empresa. Se optar por concentrar a produção nos vinhos finos, possivelmente ocupará mais mão-de-obra se optasse pela elaboração de vinhos comuns. Tal situação está vinculada ao fato da elaboração de vinhos finos e espumantes possuírem um maior número de etapas de produção37. Entre as vinícolas participantes da pesquisa, observa-se uma concentração com relação ao ano de fundação das empresas. Os dados da Tabela 11 apontam para o surgimento de 10% da amostra antes de 1959; outros 10% nasceram na década de 60, enquanto que 65% das empresas iniciaram suas atividades vinícolas entre as décadas de 70 e 80. Apenas 15% das empresas informaram ter iniciado suas atividades após 1990. Tabela 11 – Distribuição de empresas da amostra por período de fundação. Período Freqüência % antes de 1959 2 10,0 entre 1960 e 1969 2 10,0 entre 1970 e 1979 7 35,0 entre 1980 e 1989 6 30,0 depois de 1990 3 15,0 Total 20 100,0 Fonte: pesquisa de campo (2010) As informações com relação ao ano de fundação das empresas corroboram a importância de se perceber a consolidação do APL vitivinícola da Serra gaúcha a partir de um olhar histórico-institucional. O fato de 65% das empresas terem surgido entre as décadas de 70 e 80 confirmam a leitura de que neste período ocorreu um intenso movimento no sentido de se ampliar a profissionalização e a industrialização do vinho nacional. Neste período, como já foi mencionado, ocorreu um grande esforço no sentido de profissionalizar a produção, tendo por objetivo a ampliação da oferta e do consumo 37 Observa-se isso na Figura 1 dessa dissertação. 120 de vinhos no Brasil. Em especial, a década de 70 apresentou-se como o período de maior oportunidade às empresas do setor (nacionais ou estrangeiras sediadas no país), dado o significativo aumento do poder aquisitivo da classe média, fruto das políticas expansionistas orquestradas pelos governos militares. Tal período se assemelha em muito ao atual momento em que vive o país, agora ancorado não apenas na estabilidade do poder de compra, mas na ascensão de camadas inferiores da sociedade que, ano após ano, tem ampliado seu poder aquisitivo, por conta, dentre outros fatores, da continuidade das políticas de garantia de renda às populações menos assistidas. Tais vinícolas, surgidas nesse período, investiram na diversificação, iniciando uma produção mista de vinhos comuns e finos. É o aumento do poder aquisitivo e a dimensão do mercado interno que estimulam o surgimento de vinhos de maior qualidade. As empresas que surgiram após a década de 90 apresentam uma característica distinta, pois trabalham exclusivamente com vinhos finos e espumantes. Das empresas entrevistadas, cinco iniciaram suas atividades ao longo dos anos 90, em especial após a implantação do Plano Real. Essas empresas têm se especializado em vinhos de qualidade, buscando controlar a quantidade produzida como forma de garantir ao consumidor o fornecimento de um produto exclusivo. Estas empresas têm aproveitado o ambiente de valorização do consumo de vinhos, ainda que esta valorização, no Brasil, represente, também, a ampliação do consumo de produtos estrangeiros. Outra informação relevante para se compreender a dinâmica recente das empresas vinícolas desse APL diz respeito ao tempo em que estas vêm trabalhando com vinhos finos. Das vinte empresas pesquisadas, apenas uma informou não trabalhar com vinhos finos, apenas com vinhos comuns. Isso demonstra que a grande maioria das 121 empresas tem adotado a produção de vinhos finos como uma estratégia de mercado, seja de permanência, seja de ampliação destes. Tal informação foi corroborada por uma série de entrevistados, bem como pelos especialistas ouvidos. Os dados da Tabela 12 indicam que 63% das empresas trabalham com vinhos finos em um período não superior a dez anos. Isso confirma a informação de que na última década as empresas têm acentuado seus esforços no sentido de produzirem cada vez mais vinhos de melhor qualidade. Entre esses esforços ganha especial atenção o levantamento da indicação de procedência e a busca pela obtenção da denominação de origem (ambas no Vale dos Vinhedos). As que produzem vinhos finos a mais de onze anos representam 37% das empresas, coincidindo com o fato de terem iniciado suas operações na década de 80. Tabela 12 – Experiência na produção de vinhos finos. Período Freqüência até 4 anos 1 de 5 a 10 anos 11 de 11 a 20 anos 3 mais de 20 anos 4 Total 19 Não Resposta 1 Total 20 % 5,0 55,0 15,0 20,0 95,0 5,0 100,0 Fonte: pesquisa de campo (2010) A heterogeneidade no setor vinícola não se expressa apenas na produção de diversos produtos, mas também no emprego de diversos canais de comercialização. Questionadas sobre os principais canais de comercialização utilizados para o escoamento da produção vinícola, 65% das empresas da amostra apontaram ser de alta importância o atendimento de pedidos sob encomenda, em consonância ao fato de várias dessas empresas atuarem, independentemente do volume, com vinhos finos, que tem nesse canal sua principal forma de distribuição. Nesta mesma direção, de valorização dos vinhos finos produzidos, 56% das empresas afirmam ser muito importante a existência de lojas próprias, geralmente 122 vinculadas às unidades produtivas. A adoção deste canal é uma estratégia adotada pelas empresas para dar visibilidade, a um custo reduzido, a variedade de produtos ofertados, em geral vendidos com preços diferenciados (abaixo dos preços praticados no mercado para o mesmo produto), além da oferta de outros utensílios, tais como taças, saca-rolhas, baldes de gelo etc., bem como de uma série de produtos promocionais, vendidos em embalagens e combinações especiais. Durante a realização das entrevistas, quatro das vinte empresas estavam investindo na ampliação de suas lojas próprias (quinze das vinte empresas possuem lojas próprias). Questionadas sobre a importância do comércio varejista, em especial os supermercados, enquanto canal de distribuição de vinhos, não houve consenso entre os entrevistados. Para 35% das empresas da amostra, os supermercados não se apresentam como canal de preferência, enquanto para 53% delas, esse é o principal meio de comercialização de seus produtos38. Essa informação é importante, pois demonstra o elevado grau de desconfiança que está instalado entre as vinícolas e o setor varejista. Segundo pesquisa realizada pelo IBRAVIN, cerca de 70% do todo o vinho comercializado no país (nacional e importado) é feito através das gôndolas dos supermercados. O crescente processo de oligopolização do setor varejista nacional, aliado ao elevado número de marcas e ao baixo estímulo à ampliação do consumo de vinhos, faz com que somente as empresas de maior porte do setor possam disputar nesse canal. Não é sem motivos que 82% dos respondentes atribuem elevada importância para a comercialização que é feita através dos distribuidores e representantes de venda, que geralmente atuam em seus mercados locais/regionais via varejos de menor porte, o que 38 Cabe relembrar que grande parte das questões era de múltipla escolha, e tinham o objetivo de levantar o grau de importância atribuído as mesmas, pelos respondentes. Por isso, num grande número de casos, o somatório das respostas excede a 100%. 123 possibilita, além da expansão dos horizontes de atuação da vinícola, uma ampliação dos ganhos e do poder de barganha com as redes varejistas. Com relação às vendas de produtos nos últimos três anos (2007 a 2009), a grande diversidade de linhas de produtos existentes dificultou as empresas a apresentarem valores precisos com relação a esta informação. Dessa forma, estes números representam a média das estimativas feitas pelas empresas, pensando em seus produtos de forma genérica. Assim, as empresas investigadas concentram, em média, 15% de suas vendas nos municípios da região da Serra gaúcha, 20% para outros municípios do RS, 63% para os demais estados do país, e apenas 2% do total comercializado se destina à exportação. Quando questionados sobre a origem dos principais insumos e matérias-primas utilizadas no processo produtivo, a quase totalidade das empresas (19 vinícolas) apontou que tais recursos são adquiridos de empresas presentes na região. A única exceção se dá com relação à compra de garrafas, que são adquiridas de uma única empresa produtora, localizada em Campo Bom, cerca de 100 quilômetros de Bento Gonçalves. Outra característica é a presença de empresas multinacionais e importadoras de insumos enológicos na região. Praticamente todo o insumo utilizado, seja nas parreiras, seja na elaboração do vinho, provêem de outros países. Com relação à origem dos equipamentos utilizados no processo de produção, a totalidade dos entrevistados informou que é possível, hoje em dia, montar uma vinícola utilizando-se apenas equipamentos nacionais. Os principais pólos produtores de máquinas e equipamentos, segundo as vinícolas, são a região da Serra gaúcha e São Paulo, sendo que neste último ocorre grande parte da fabricação de equipamentos que são utilizados pela indústria de bebidas de modo geral (lavadores de garrafas, 124 engarrafadoras etc.). No entanto, apesar do país ser auto-suficiente na produção desses equipamentos, é comum entre as empresas, independente do porte, a aquisição de equipamentos importados, principalmente centrais de engarrafamento (equipamentos responsáveis pelo envase, rolhamento e etiquetagem dos produtos), geralmente adquiridas da Itália. Na região da Serra gaúcha, estão concentradas as empresas fabricantes de equipamentos mais focadas na produção de vinhos e espumantes, tais como filtros, tanques de inox, prensas etc. Questionou-se ainda aos respondentes acerca dos fatores determinantes para manter a capacidade competitiva da empresa em sua principal linha de produtos. Por ordem dos fatores mais citados, para as vinte empresas, os que merecem a sua máxima atenção e maior atribuição de importância são: qualidade do produto, capacidade de atendimento de pedidos (em volume e prazos), e a localização (o fato de estarem presentes no APL vitivinícola da Serra gaúcha). Mais uma vez, a partir da avaliação dessas respostas, pode-se perceber que, ao menos para as empresas da amostra, está ocorrendo um movimento de qualificação da oferta de vinhos, que passa necessariamente pela migração gradativa de produtos (de vinhos comuns para finos). Em seguida, para 95% dos respondentes, o maior atributo determinante da competitividade está associado à qualidade da matéria-prima e de outros insumos. E é novamente na ampliação da oferta de vinhos finos que se explica esse resultado. Posteriormente, os fatores com maior importância para a competitividade das vinícolas são: capacidade de introdução de novos produtos e processos, custo da mão-de-obra e adoção de novas estratégias de comercialização. Mudanças de embalagens e qualidade da mão-de-obra apresentam-se como os fatores com o menor nível de importância para a manutenção da competitividade das empresas. 125 Com base nessa caracterização inicial das empresas que compuseram a amostra da pesquisa, é possível apresentar a opinião dessas com respeito à inovação, à cooperação e ao processo de aprendizado, presente na próxima seção desse capítulo. 4.2 Inovação, Aprendizado e Cooperação Na presente seção, pretende-se apresentar os dados obtidos em pesquisa de campo, procurando mapear as atividades de inovação e cooperação, e suas relações com o processo de aprendizagem que se desenvolve no interior do APL vitivinícola da Serra gaúcha. A totalidade das empresas investigadas informou ter introduzido alguma inovação (de produto, processo ou organizacional) 39 nos últimos três anos (2007 a 2009). Apesar de apresentar uma elevada taxa de inovação, se comparado com a média da indústria nacional40, percebeu-se que nenhuma das empresas investigadas introduziu alguma inovação inédita para o setor, seja nacional ou internacional. As inovações implementadas eram todas de caráter incremental, em grande parte reproduzindo melhorias (de produtos e processos) realizadas por empresas líderes, seja no mercado nacional, seja internacional. 39 Utilizou-se aqui a mesma definição expressa na PINTEC (2002), que classifica: Inovações de produto – são produtos tecnologicamente novos, cujas características fundamentais (especificações técnicas, usos pretendidos, software ou outro componente imaterial incorporado) diferem significativamente de todos os produtos previamente produzidos pela empresa. A inovação de produto também pode ser progressiva, através de um significativo aperfeiçoamento tecnológico de produto previamente existente, cujo desempenho foi substancialmente aumentado ou aprimorado. Desta definição são excluídas: as mudanças puramente estéticas ou de estilo e a comercialização de produtos novos integralmente desenvolvidos, e produzidos por outra empresa; Inovação tecnológica de processo refere-se a processo tecnologicamente novo ou substancialmente aprimorado, que envolve a introdução de tecnologia de produção nova ou significativamente aperfeiçoada, assim como de métodos novos ou substancialmente aprimorados de manuseio e entrega de produtos (acondicionamento e preservação). Estes novos métodos podem envolver mudanças nas máquinas e equipamentos e/ou na organização produtiva (desde que acompanhada de mudanças no processo técnico de transformação do produto). 40 Ver PINTEC (2002). 126 Inquiridas sobre qual agente teve a principal responsabilidade pelo desenvolvimento da inovação de produto, 19 empresas da amostra informaram ser de sua própria autoria o desenvolvimento das etapas de inovação de produto. Apenas uma empresa informou ter desenvolvido tal inovação em cooperação com outras empresas ou institutos. Em grande parte as empresas apresentavam como inovação de produto a introdução de um novo vinho varietal, ou ainda um vinho fino resultante da combinação de várias uvas varietais. Muitas empresas, também, informaram que neste período investiram no desenvolvimento de espumantes; e é, nesse caso específico, que surgem as atividades de cooperação para desenvolvimento do produto. Isso se justifica pelo fato da elaboração de um bom espumante requerer um “vinho de base” de boa qualidade, que passe pela segunda fermentação e resulte em um espumante estruturado. Ocorre que muitas empresas, em especial as de micro e pequeno porte, ou não possuem o “vinho de base”, ou ainda não possuem os equipamentos necessários para a elaboração do espumante (no caso desse ser elaborado pelo método charmat). Isso implica no uso compartilhado de equipamentos e máquinas, em especial os tanques de resfriamento, que por seu elevado custo, ainda não está popularizado, principalmente entre as micro e pequenas empresas. Essa significativa participação das empresas no desenvolvimento de inovação de produto está intimamente vinculada ao acelerado processo de diversificação de produtos que vem vivenciando o setor. Essa diversificação ocorre no sentido de se intensificar a produção de vinhos finos e espumantes, em qualidade cada vez maior. Também, segundo informação dada pelo Diretor-Executivo do IBRAVIN, uma das inovações de produto mais significativas dos últimos anos consiste na valorização e ampliação da produção de sucos de uva, em suas diversas formas (concentrado, adoçado, orgânico etc.). Dados do IBRAVIN apontam que nos últimos dois anos o crescimento na 127 produção de sucos de uva é de 40%, caracterizando-se em um dos produtos da uva que mais cresceu no período. O suco da uva também é um produto que possibilitou um significativo grau de cooperação entre empresas, uma vez que muitas das empresas, em especial as mais recentes, ou não possuem os equipamentos específicos, ou não possuem plantações de uvas comuns, de onde se produz o suco de uva. Quando questionadas acerca da autoria da principal inovação de processos, 75% das empresas investigadas responderam serem elas mesmas as desenvolvedoras de tais inovações. Por outro lado, 25% das empresas informaram que nos últimos três anos contaram com apoio de outras empresas ou instituições no desenvolvimento de inovações no processo produtivo. É importante ressaltar que, assim como ocorreu com as inovações de produto, com relação aos processos, as inovações introduzidas pelas empresas se constituíam em melhorias ao seu processo de produção, não se caracterizando em processo novo, seja para o setor nacional, seja internacional. A partir do depoimento das empresas e das organizações na fase qualitativa desse estudo, pode-se segmentar as inovações de processo em dois tipos: inovações no processo de produção de uvas (videiras) e inovação no processo de vinificação. Nos últimos anos, as inovações no processo de produção de uva têm chegado com maior velocidade aos produtores vitícolas, em parte por conta da pressão do mercado pela obtenção de um produto de melhor qualidade, além do fato de inúmeras vinícolas e organizações estarem envolvidas em processos de denominação de origem, o que reforça a pressão pela obtenção de insumos de melhor qualidade. A primeira grande inovação, segundo as empresas e organizações ouvidas na pesquisa, consiste na alteração dos sistemas de manejo do solo e da videira. No caso específico do solo, 128 busca-se a redução no nível de adubação por planta. Além disso, tem-se difundido a utilização de duas podas na planta, uma chamada seca e outra intitulada parte verde, cujo intuito é reduzir o excesso de ramos e eliminar os cachos com má formação, diminuindo a produção e promovendo a melhoria da qualidade da uva. Não raro as empresas de maior porte fornecem assistência técnica aos agricultores integrados que produzem uvas para a empresa. Quadro 4 – Inovações e principais agentes de desenvolvimento (2007 a 2009) Inovações de Produto Inovações de Processo Desenvolvimento Próprio Desenvolvimento com Parceiros - Introdução de vinhos varietais; - Introdução de vinhos com combinações de varietais; - Introdução de espumantes; - Introdução de sucos de uva; - Manejo do solo e das videiras*; - Reconversão das videiras*; - Mecanização do recebimento de uvas até fermentação; - Automatização da fermentação; - Investimento no envelhecimento e no armazenamento dos produtos; - Manejo do solo e videiras*; - Reconversão de videiras*. Fonte: Elaborado pelo autor a partir das entrevistas. As inovações indicadas com (*) são desenvolvidas tanto pelas empresas individualmente, quanto por essas com o auxílio de parceiros (empresas ou instituições). Outra inovação de processo, na etapa de produção de uvas, anunciada pelas empresas da amostra, consiste na intensificação da reconversão das videiras. Por reconversão das videiras entende-se a substituição do sistema de condução dos vinhedos de latada para o de espaldeira, a fim de se obter uma produtividade média entre 7 a 10 toneladas por hectare. Na Serra gaúcha, tem-se expandido a quantidade plantada de cultivares viníferas tradicionais, destinados à produção de vinhos finos tintos e brancos, entre os quais se destacam as variedades Cabernet Sauvignon, Merlot e Tannat, por sua maior adaptação à região. As mudas dessas castas, na sua maioria, são importadas da Itália e da França, apesar de já existir o desenvolvimento endógeno de mudas dessas variedades, produzidas e comercializadas pela Embrapa Uva e Vinho. Apesar desse processo de reconversão ser uma tendência nacional na produção de uvas e vinhos, as 129 áreas com indicação de procedência, como é o caso do Vale dos Vinhedos (Bento Gonçalves), têm acelerado esse processo de reconversão, buscando que tal processo se conclua em até vinte anos. Outras áreas de produção de uvas no RS, de plantio mais recente, já têm iniciado suas operações através do uso de sistemas do tipo espaldeira, e o cultivo já é, em sua grande maioria, de cultivares viníferas. A outra forma de inovação de processo identificada pelos respondentes diz respeito ao processo de vinificação. Apesar da pesquisa questionar acerca das inovações realizadas nos últimos três anos, várias dessas modificações vêm sendo apontadas por uma série de estudos que vem ocorrendo junto ao setor vitivinícola nos últimos dez anos, pelo menos41. A primeira grande inovação introduzida no processo de vinificação pelas empresas diz respeito à mecanização de uma série de etapas, que vão desde o recebimento das uvas até a fermentação. Investimentos na aquisição de esteiras para recebimento de uvas e de desengaçadeiras constituem as principais inovações de processos, uma vez que com tais equipamentos o desengace e a primeira etapa de esmagamento das uvas se dão de forma mais delicada, auxiliando as etapas posteriores de fermentação e maceração do vinho. Para nove empresas da amostra, tais equipamentos foram importados, mas poderiam ter sido adquiridos no mercado nacional, através de empresas fabricantes, localizadas em São Paulo. Duas microempresas pertencentes à amostra informaram que possuíam desengaçadeiras importadas, usadas, compradas de outras vinícolas da região. A resposta para tal comportamento, segundo as empresas (e de certa forma ratificada pela maioria das empresas pesquisadas), consiste no fato dos equipamentos importados desempenharem 41 Ver: BELLÉ (2003); LOVATEL (2002); TRICHES (2007). 130 melhor a atividade, sendo de certa forma, tecnologicamente superiores aos produtos nacionais. Outro investimento bastante freqüente entre as empresas investigadas consiste no sistema de fermentação, em geral realizados em tanques de inox. Nestes casos, a grande inovação tem se dado na aquisição de tanques com controles automáticos de temperatura, tornando a etapa de fermentação mais precisa. Contrariamente ao que ocorre com as desengaçadeiras, no caso dos tanques de inox, a quase totalidade das empresas questionadas informou possuir equipamentos de origem nacional, produzidos por empresas localizadas na Serra gaúcha. Quando questionadas, as empresas informaram que tais produtos, produzidos nos municípios do APL, se equivalem tecnologicamente àqueles produzidos pelos grandes produtores internacionais desses equipamentos. Por implementarem inovações de processos incrementais, as vinícolas investigadas atrelam tal inovação à aquisição de máquinas e equipamentos, parte deles nacional, parte importada. Ainda que já se desenvolva, internamente no APL, um pequeno conjunto de firmas locais de máquinas e equipamentos, para algumas categorias de produtos, ainda não há similar nacional, ou o existente não condiz com os padrões de qualidade exigidos pelas vinícolas, padrões esses que são ditados pelos grandes players internacionais (produtores de equipamentos). Essa estratégia tem sido a mesma empregada por grande parte da indústria nacional, que a despeito do fortalecimento e do incremento tecnológico endógeno, bem como da melhor estruturação de um sistema nacional de inovação, tem-se acessado tais tecnologias via aquisição externa, tornando mais precário o gap existente entre a tecnologia nacional e a produção de ponta em outros países. 131 Por fim, a última inovação mais citada pelas empresas e organizações entrevistadas consiste no processo de armazenamento e envelhecimento do vinho nas garrafas. Primeiramente, para os vinhos finos, para que se complete o processo de vinificação, é importante que esses passem por uma etapa de envelhecimento, em geral em barris de carvalho americano ou francês. O tempo de permanência nos barris é determinado pelo tipo de vinho que se pretende elaborar. Quanto mais tempo esse permanecer nos barris, maior o seu valor agregado, uma vez que o contato com a madeira confere ao vinho especificações únicas. Saindo dos barris, o vinho fino é engarrafado, sendo conduzido às caves, que se constitui na última grande inovação de processo42. As caves são espaços para o envelhecimento dos produtos, com luminosidade e temperatura controladas. O tempo de permanência nas caves também depende da sofisticação que se pretende conferir ao vinho: quando maior o tempo de cave, mais estabilizado será o vinho, logo, maior seu valor agregado. As empresas também foram questionadas acerca de inovações organizacionais que por ventura tenham implementado nos últimos três anos. A realização de mudanças organizacionais esteve presente na rotina de 65% das empresas entrevistadas. Entre as principais modificações, destacam-se a implementação de mudanças na estrutura organizacional das firmas, seguida de alterações nos conceitos e práticas de marketing e comercialização. Apenas três empresas da amostra afirmaram ter iniciado alterações nos processos de gerenciamento, a fim de atender normas de certificação do tipo ISO 9000. Entre as modificações organizacionais implantadas pelas micro e pequenas empresas estão a introdução de reuniões periódicas de avaliação do desempenho e a implantação de programas de cargos e salários. Para a quase totalidade das empresas, o 42 As caves em si não se caracterizam como inovações, porém, segundo alguns especialistas entrevistados na fase qualitativa da pesquisa, grande parte das vinícolas nacionais produziram, durante muito tempo, vinhos jovens, para consumo em até um ano. Nos últimos anos, com a maior qualificação dos vinhos finos, é que se tem investido no envelhecimento dos produtos, criando “vinhos de guarda”, sendo necessário, então, o uso de caves. 132 principal parceiro dessas mudanças organizacionais tem sido o SEBRAE, que tem fornecido suporte técnico e de treinamento nesses casos. Após a etapa de levantamento das principais inovações, procurou-se identificar a importância dos impactos das inovações de produto e processos sobre o desempenho geral da empresa, em alguns quesitos específicos. A unanimidade das empresas pesquisadas afirmou que a maior importância dessas inovações recaiu sobre diversificação de produtos como uma estratégia deliberada para garantir tanto a manutenção quanto a ampliação de mercados. Para 94% das empresas da amostra, as inovações de produto e processo permitiram aumentar a qualidade dos produtos, garantindo, nos últimos três anos (2007 a 2009), a manutenção de sua participação no mercado. Para 88% dos entrevistados, tais inovações foram importantes para aumentar a produtividade da empresa, permitindo a ampliação da oferta no mercado interno, bem como a abertura de novos mercados, até então não atendidos pela empresa. Em 65% dos casos investigados, a implementação destas inovações garantiu a participação da empresa no mercado externo. Em igual proporção, tais inovações foram importantes por permitirem o enquadramento da empresa em regulamentações e normas-padrão relativas ao mercado interno e externo. Com relação ao uso de insumos básicos, 41% das empresas da amostra afirmaram que tais inovações permitiram uma redução significativa no custo do trabalho; 29% afirmaram ter reduzido o consumo de matérias-primas, enquanto apenas 12% atribuíram a redução do consumo de energia à implementação de inovações de produto ou de processo. Para 76% das empresas, o emprego dessas inovações, associadas às inovações organizacionais, possibilitaram reduzir o impacto da atividade produtiva sobre o meio ambiente. 133 Aprofundando ainda mais as questões relacionadas à atividade inovativa das firmas investigadas, perguntou-se sobre o grau de constância de tais atividades, nos últimos três anos. A síntese das respostas está presente na Tabela 12. A primeira constatação refere-se ao fato de todas as empresas, em maior ou menor grau, terem investido, nos últimos três anos, na compra de máquinas e equipamentos que implicaram em significativas melhorias tecnológicas de produtos/processos. Entre as atividades que foram desenvolvidas de forma rotineira, esta foi a que apresentou maior grau de constância (61,1%). Tabela 12 – Grau de constância (%) das atividades inovativas desenvolvidas pelas empresas da amostra (2007 a 2009). Atividade Não desenvolveu Desenvolveu rotineiramente Desenvolveu ocasionalmente Total P&D na Empresa Aquisição externa de P&D Aquisição de Máquinas e Equipamentos que afetaram o desenv. de novos produtos/processos Aquisição de outras tecnologias Projeto industrial ou desenho industrial Programas de treinamento e reconversão de videiras Programas de gestão da qualidade ou de modernização organizacional Novas formas de comercialização e distribuição de produtos 33,3 77,8 0 27,8 5,6 61,1 38,9 16,7 38,9 100 100 100 83,3 5,6 11,1 100 16,7 22,2 61,1 100 22,2 44,4 33,3 100 22,2 38,9 38,9 100 16,7 50,0 33,3 100 Fonte: elaborada pelo autor a partir dos dados coletados em campo. As atividades inovativas menos desenvolvidas pelas empresas pesquisadas referem-se à aquisição de outras tecnologias, do tipo softwares, licenças ou acordos de transferência de tecnologia, tais como patentes, marcas, segredos industriais etc. Na seqüência, as atividades de inovação menos desenvolvidas pelas empresas estavam às 134 vinculadas à aquisição externa de Pesquisa e Desenvolvimento - P&D - (77,8%), seguida pelo desenvolvimento e implantação de P&D interno à firma (33,3%). Ainda, de forma rotineira, as empresas pesquisadas apontaram a aquisição de máquinas e equipamentos que afetaram o desenvolvimento de novos produtos ou processos (61,1%). Tal informação corrobora a idéia já exposta que parte das empresas optam pela compra de tecnologias prontas. Tal situação é reforçada pelo fato de 44,4% das empresas da amostra ter investido na aquisição de treinamentos, ainda que utilizados nos programas de reconversão das videiras. A compra de tecnologia exige, por parte da empresa, investimentos que extravasam o valor de aquisição da máquina, mas contempla, também, a necessidade de treinamento aos trabalhadores envolvidos com essas novas tecnologias ou novos processos. É importante destacar que outra atividade inovativa realizada rotineiramente diz respeito a adoção de novas formas de comercialização e distribuição para o mercado, de produtos novos ou significativamente melhorados (50%). O que se pode perceber com relação às atividades inovativas das vinícolas investigadas é que, com a exceção das atividades ligadas ao desenvolvimento interno ou aquisição externa de P&D, bem como da aquisição de outras tecnologias (patentes, marcas etc.), as empresas têm desenvolvido algum tipo de atividade inovativa com um significativo grau de constância, ainda que este se dê de forma ocasional. O fato das empresas não investirem em P&D condiz com o perfil da amostra: micro e pequenas empresas, produtoras de produtos tradicionais, que utilizam tecnologias e processos de produção estabilizados. Também, o baixo uso de P&D pelas empresas pode ser explicado pelo fato de suas inovações serem, em suma, incrementais, não exigindo, assim, grandes aparatos tecnológicos relacionados ao processo produtivo. A exceção são as empresas de maior porte, entre elas duas das empresas entrevistadas, que possuem 135 seus laboratórios próprios, contando cada uma com cerca de dez profissionais nas áreas de química, enologia, biotecnologia e engenharia de alimentos. No entanto, o não investimento por parte das empresas de menor porte em P&D não significa que tais atividades não se desenvolvam. Internamente, no APL, diversas organizações têm o papel de executar essa tarefa, tais como a Embrapa Uva e Vinho e o Campus Bento Gonçalves do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS). As pesquisas tecnológicas desenvolvidas pela Embrapa e pelo IFRS são socializadas às empresas de diversas formas, desde a realização de eventos científicos destinados aos enólogos, passando pela formação acadêmica e profissional desenvolvida nesta instituição de ensino, indo até as atividades de extensão desenvolvidas por ambas as instituições, que promovem uma maior interação entre empresas e os projetos de pesquisa e qualificação desenvolvidos no interior do APL. Ainda assim, existe pouca interação das empresas com instituições desse tipo (ensino e pesquisa). Tal informação é corroborada, como já se viu, pelo fato de apenas 25% das respondentes afirmarem ter desenvolvido alguma inovação, no período analisado, em parceria com outra empresa ou instituição. Outra informação interessante diz respeito aos gastos despendidos para o desenvolvimento das atividades de inovação, considerando os gastos médios realizados em 2009. Em média, os gastos com atividades inovativas representaram cerca de 3% do faturamento das empresas entrevistadas em 2009. Para dezoito empresas da amostra, a fonte principal de financiamento dessas atividades concentra-se nos recursos próprios da empresa. Apenas duas empresas informaram utilizar recursos de terceiros, em especial recursos repassados por meio do FINAME, empregados principalmente na aquisição de máquinas e equipamentos de origem nacional. Apenas seis empresas das vinte 136 pesquisadas informaram haver gastos em 2009 com P&D, sendo que esses representaram não mais de 2% do faturamento delas no mesmo ano. Tais investimentos, ainda que aparentemente pequenos, encontram guarida nos número expressos na média da indústria nacional em investimentos em P&D, que é de 3% do faturamento das empresas (PINTEC, 2002). Condiz, também, com a característica da atividade produtiva e inovativa do setor vitivinícola. Na visão de vários especialistas entrevistados, as inovações no arranjo produtivo tendem a caminhar rumo aos vinhedos, onde efetivamente se pode gerar diferenciação de produtos e ganhos permanentes de competitividade. Assim, justifica-se o baixo investimento em P&D no interior das vinícolas, uma vez que boa parte dos gastos inovativos é direcionada para a reconversão dos vinhedos e para a qualificação dos varietais empregados. Outra questão relevante investigada pela pesquisa foi levantar se as vinícolas efetuaram, entre 2007 e 2009, atividades de treinamento e capacitação de seus recursos humanos. Tal avaliação torna-se importante, pois através da promoção de tais atividades desenvolvem-se os processos de aprendizado, formal ou informal, tanto no interior das firmas como no interior do APL. A Tabela 7, abaixo, aponta as principais ocorrências com relação à execução de atividades de treinamento, capacitação e absorção da mãode-obra qualificada. 137 Tabela 13 – Freqüência (%) das atividades de treinamento e capacitação de recursos humanos pelas vinícolas da amostra (2007 a 2009) Descrição Ocorrência Total (%) Sim (%) Não (%) Treinamento na empresa Treinamento em cursos técnicos da região Treinamento em cursos técnicos fora da região (Brasil) Treinamento em cursos técnicos fora da região (exterior) Estágios em empresas fornecedoras ou clientes Estágios em empresas do grupo Contratação de profissionais técnicos de outras empresas da região Contratação de profissionais técnicos de empresas de fora da região Absorção de formandos dos cursos universitários localizados na região ou próximos Absorção de formandos dos cursos técnicos localizados na região ou próximos Fonte: pesquisa de campo. 55,6 83,3 52,9 44,4 16,7 47,1 100 100 100 66,7 33,3 100 11,1 5,6 50 88,9 94,4 50 100 100 100 22,2 77,8 100 83,3 16,7 100 77,8 22,2 100 A partir das informações da Tabela 13, pode-se inferir constatações acerca da relação das vinícolas pesquisadas e a qualificação de seus recursos humanos. Primeiramente, cabe salientar que um pouco mais da metade das empresas da amostra afirmou ter realizado cursos e treinamentos internamente (55,6%). Outra característica marcante é a preferência por realização de treinamentos da força de trabalho junto aos cursos técnicos da região (83,3%), consolidando a importância do arranjo para a qualificação da mão-de-obra local. Em ambos os casos, as empresas entrevistadas apontam um freqüência média semestral de realização desses cursos (internamente ou nos cursos técnicos da região). Treinamentos fora da região da Serra gaúcha também ocorrem, havendo uma ocorrência levemente superior nos treinamentos que se realizam no exterior (66,7%) em relação àqueles realizados em outros estados do Brasil (52,9%). Os cursos no exterior, que ocorrem com uma periodicidade média anual, têm o objetivo de atualizar enólogos, 138 diretores e proprietários de vinícolas das tendências no mercado internacional do vinho. Os principais destinos são os tradicionais países produtores de vinho da Europa (Itália, França e Portugal). Os cursos realizados em outros estados do país, com periodicidade média também anual, têm por objetivo aprimorar os responsáveis pelas áreas de comercialização, distribuição e exportação das vinícolas. Geralmente, segundo informações dos respondentes, tais cursos se dão em São Paulo e no Rio de Janeiro, principais pólos de comercialização de vinhos no Brasil. Além dos treinamentos, os profissionais aproveitam a oportunidade para aprofundar os contatos com seus principais clientes, localizados nessa região. Em decorrência do perfil da amostra, a quase totalidade das firmas investigadas (94,4%) afirmou não terem realizado atividades de estágio em coligadas ou controladas. Outra informação relevante diz respeito à realização de estágios em fornecedores e clientes. Para quase nove em cada dez empresas entrevistadas, a realização dessas atividades com fornecedores ou clientes não são relevantes. Aqui parece haver uma confirmação do que aponta a literatura evolucionista, notadamente quando se explica a presença mais intensa do “learning-by-interacting” entre firmas e seus fornecedores em setores mais vinculados ao uso de tecnologias de ponta, como é o caso dos setores de informática e aeroespacial (ROSENBERG, 2006). No caso específico da vitivinicultura da Serra gaúcha, como ficará claro mais à frente, percebe-se que o aprendizado por interação se restringe às atividades comerciais, em especial àquelas relacionadas à abertura de oportunidades de negócio no exterior. Com relação aos clientes, um grande número de entrevistados aponta para a existência de um grande hiato entre as vinícolas e seus clientes, sejam esses nacionais ou estrangeiros. Várias organizações do setor corroboram essa visão, indicando a importância, nos próximos anos, de se investir na estruturação dos canais de 139 comercialização, em especial na melhoria das relações com os grandes varejos supermercadistas do país. Esses canais necessitam de formação e informação acerca dos produtos vinícolas, a fim de propiciar uma venda mais qualificada dos produtos. Sabedor dessa necessidade, o IBRAVIN prepara-se para lançar uma grande campanha de marketing, ao longo de todo o ano de 2010, junto às gôndolas de supermercados, cuja finalidade é estimular o consumo de vinhos através da educação do consumidor sobre os produtos elaborados no Brasil. A idéia é também promover a valorização do vinho nacional em relação aos concorrentes estrangeiros. As questões logísticas têm ocupado um papel de destaque na pauta de ações das empresas nacionais, em grande parte pela baixa competitividade que as mesmas têm em relação às estrangeiras, nesta área de distribuição. Uma agenda comum para os empresários dos diversos segmentos da vitivinicultura da Serra gaúcha é a preocupação em intensificar a relação com os agentes da cadeia de comercialização e distribuição de vinhos e derivados. Tais laços são fundamentais para se solidificar o papel de dominância no mercado interno. Nesse sentido, falta às empresas do setor, de forma geral, maior competitividade em termos de logística de distribuição. Em entrevista realizada junto a uma das maiores vinícolas do país, esta confidenciou que a empresa mais ágil do setor atende um pedido realizado em São Paulo em quatro dias. Em contrapartida, qualquer empresa argentina, sediada em Mendoza, na fronteira com o Chile, entrega a mesma encomenda em dois dias. O avanço nessas questões requer um forte investimento por parte das empresas, em especial de novos processos de fabricação e distribuição, exigindo a internalização de novos aprendizados tecnológicos. Para analisar os processos de aprendizagem, buscou-se identificar o fluxo de informações bem como o uso de fontes internas e externas. Assim, o instrumento de 140 pesquisa buscou analisar, no período avaliado, se as empresas efetivaram atividades de treinamento e capacitação de seus recursos humanos, bem como o grau de importância das fontes de informação internas (P&D, área de produção e vendas etc.) e externas (clientes, concorrentes, universidades, centros de pesquisa etc.). O aprendizado tecnológico, em sua grande maioria, se dá pelo “aprenderfazendo”, ou ainda pela contratação de profissionais técnicos formados nas instituições de ensino da região. Percebe-se uma preferência clara pela contratação de profissionais da Serra gaúcha, e certa rejeição aos profissionais de outras regiões. De igual modo, as vinícolas apresentam-se como o destino de grande parte dos egressos de cursos universitários da região (83,3%), bem como dos cursos técnicos localizados no APL (77,8%). Além da capacitação da mão-de-obra, intentou-se verificar o papel que desempenharam as fontes de informação das vinícolas para o seu processo de aprendizagem, no período de 2007 a 2009. Para as vinícolas entrevistadas, a principal fonte de informação para o aprendizado são as que se originam no interior das firmas. Nesse sentido, cumprem um papel fundamental as informações advindas das áreas de P&D e laboratório (73%)43 e da produção (75%). As áreas de vendas, marketing e atendimento ao cliente também apresentam uma elevada importância para os processos de aprendizado internos à firma (75%). Tal situação reforça que o tipo de aprendizado utilizado nas vinícolas se aproxima do “learning-by-doing”, visto que o aprendizado dessas empresas está calcado e é decorrente da sua própria atividade produtiva. As fontes externas de informação com maior grau de importância para as vinícolas estudadas são os fornecedores de máquinas e equipamentos e de insumos 43 Para a maioria das empresas entrevistadas, a existência de uma pequena área com tubos de ensaio e reagentes, utilizados pelo enólogo, constitui um laboratório. Ficou evidente nas observações de campo que muito poucas informações poderiam ser originadas de ambientes tecnologicamente tão restritos. A exceção se dá nas duas empresas de maior porte, que empregam cerca de dez profissionais cada, envolvidos exclusivamente em atividades de pesquisa e desenvolvimento de produtos. 141 (químicos e enológicos), que são considerados por 85% das firmas da amostra. Para essas vinícolas, não são quaisquer fornecedores que apresentam importância na sua relação, mas àqueles localizados nos municípios da região da Serra. Esse dado confirma a forte relação existente entre vinícolas e seus fornecedores, explicitado no capítulo anterior, quando da caracterização produtiva do APL. Com o estreitamento dessas relações promove-se o estabelecimento de trajetórias incrementais nas inovações inerentes ao setor. Nesse caso, percebe-se que o processo de aprendizagem se aproxima do “learning-by-interacting”, dada a natureza do envolvimento entre usuários e produtores na promoção de inovações (LUNDVALL, 1998). Os clientes ocupam o segundo lugar em importância (62%) com relação às fontes externas de informação para o aprendizado. Os clientes que recebem maior atenção, diferentemente dos fornecedores, são os que se localizam em outros estados do país, em especial no sudeste (São Paulo e Rio de Janeiro). A informação repassada pelos clientes dessas localidades é preferida em virtude do volume de vendas e da capacidade de consumo existentes nessa região. O terceiro colocado na importância das fontes externas de informação são os concorrentes (52%), principalmente os localizados no APL. Nenhuma empresa entrevistada apontou a existência de algum sistema formal de monitoramento das ações dos concorrentes locais. Isso porque as ações das empresas do APL são reconhecidas, além do ambiente de mercado, através das relações sociais que se estabelecem entre as firmas dentro do APL. Outras fontes de informação para o aprendizado da firma são as universidades e as instituições de pesquisa. Quando questionadas sobre a importância dessas instituições como fonte de aprendizado, as vinícolas entrevistadas concentraram a importância na relação existente com os institutos de pesquisa, em especial a Embrapa Uva e Vinho (95%). Para apenas 5% das empresas da amostra, as universidades e instituições de 142 ensino técnico e profissionalizante apresentam-se como importantes fontes de informações tecnológicas e de aprimoramentos das atividades de produção. Para o diretor-geral do Campus Bento Gonçalves do IFRS, durante cerca de 50 anos, a instituição preocupou-se única e tão somente com a formação de recursos humanos técnicos para as firmas vinícolas locais. A dedicação à pesquisa e à extensão são atividades recentes, presentes apenas nos últimos dois anos. A Embrapa, em contrapartida, apesar de parecer elitista para um grande número de empresários, tem sido a única instituição que ao longo dos anos tem se dedicado à pesquisa, recebendo o reconhecimento nacional e internacional por suas produções científicas nas áreas da produção vitícola e vinícola. Outras fontes importantes de informação para as firmas vinícolas estudadas são as conferências, seminários, cursos etc. (82%), realizados na região da Serra ou no exterior, seguidas das exposições em feiras e concursos (80%). A participação em associações empresariais locais (80%) e os encontros de lazer na região (78%) também foram destacados. Esses dois últimos pontos sinalizam a importância de se olhar a produção vitivinícola pela ótica dos arranjos produtivos localizados, uma vez que a proximidade dos agentes econômicos importa para o estabelecimento não apenas de estratégias internas às firmas, como também para a consolidação de uma agenda comum de debates, envolvendo vinícolas, produtores de uva, instituições diversas e o próprio Estado, em suas diversas esferas. As informações obtidas junto às empresas possibilitam verificar a presença marcante de dois processos de aprendizado que dão sustentação as atividades inovativas das vinícolas: a) “learning-by-doing”, que através da análise das fontes de informação interna (notadamente as informações da produção e da área comercial), possibilitam a introdução de novos produtos ou de variações de produtos já existentes; b) “learning- 143 by-interacting”, que através da análise das fontes de informação externas (principalmente as advindas da relação com os fornecedores), possibilitam implementar processos produtivos melhor adaptados às necessidades e características das vinícolas. A inovação introduzida, em ambos os casos, é do tipo incremental Na seqüência da pesquisa, buscou-se identificar quais foram os principais tipos de informação que as empresas obtiveram a partir do contato com as diversas fontes de informação para o aprendizado, sejam essas internas ou externas às firmas. Para 16 empresas da amostra, as fontes serviram para fornecer informações sobre a existência de novos produtos e processos de produção de uvas e vinhos. Já para 19 empresas, a importância das fontes estava em fornecer informações sobre possíveis melhorias tecnológicas, tanto nos produtos quanto nos processos. É importante destacar a presença de um verdadeiro esforço inovativo entre as empresas entrevistadas, expressas pelos dados recém citados. Apenas 35% das empresas buscaram, nas diversas fontes, informações sobre novos concorrentes. Informações sobre a existência de consultores especializados são consideradas irrelevantes ou de baixa importância para 80% das empresas investigadas, que não recorrem a este tipo de expediente para obtenção de maior conhecimento. Apenas uma empresa da amostra utiliza os serviços de um consultor internacional, que para muitos dos entrevistados é visto mais como uma jogada de marketing da empresa, no sentido de valorizar sua marca através da associação de sua imagem com a de um renomado enólogo internacional. Para reforçar o que já foi mencionado com relação aos fornecedores, para todas as empresas da amostra, a informação principal que se pode obter das diversas fontes de informação é sobre a existência de novos fornecedores. A relação com os fornecedores apresenta-se como uma das relações de maior importância estratégica para as firmas 144 entrevistadas. A busca de novos parceiros potenciais e de novas oportunidades de negócios é citada como elementos importantes para 90% das empresas entrevistadas. Em contrapartida, 95% das empresas afirmam não buscar informações sobre fontes de financiamento. Isso talvez ocorra por conta da preferência das empresas de realizarem seus investimentos utilizando, na sua quase totalidade, recursos próprios, evitando assim, um elevado endividamento44. Um dos eixos centrais desta pesquisa consiste em compreender as atividades cooperativas, formais ou informais, que se estabelecem entre as firmas vinícolas do APL da Serra gaúcha. Para tanto, questionou-se as empresas da amostra se, nos últimos três anos (2007 a 2009), estiveram envolvidas em atividades de cooperação com outra(s) empresa(s) ou organização(ões). Todas as vinte empresas da amostra afirmaram ter desenvolvido alguma atividade cooperativa nesse período. Posteriormente, buscou-se identificar que agentes desempenharam papel importante como parceiros dessas empresas. Por ordem de importância, o parceiro mais importante para 82% das empresas da amostra são os fornecedores de insumos, com uma ocorrência de intercâmbios regulares no período analisado. Muitos desses intercâmbios na verdade se constituem na venda de produtos químicos às plantações de uvas, ou ainda o fornecimento de insumos biológicos necessários ao processo de vinificação. Segundo informações da Embrapa Uva e Vinho em entrevista de campo, muitos dos problemas fitossanitários que afetam as videiras na Serra gaúcha podem ser resolvidos sem o uso intensivo de produtos químicos. Muitas vezes a poda adequada da videira ou mesmo a maior aeração dos cachos se apresentariam como soluções muitas vezes mais efetivas que o uso de químicos. 44 Não apenas o endividamento é reduzido nesses casos, como também a capacidade de investimento, além de imobilizar parte do capital que deveria ser utilizado no financiamento das operações de curto prazo da empresa. 145 Mais uma vez corrobora-se o que já foi expresso pelas empresas com relação ao uso de fontes de informação. Isso aponta para a compreensão de que a relação estreita com os fornecedores, para as vinícolas estudadas, se caracteriza como uma estratégia deliberada para obtenção de vantagens tecnológicas. De igual modo, percebe-se no discurso dos empresários do vinho que ao longo do tempo se estabeleceu uma relação de confiança e cooperação entre eles e as empresas de equipamentos instaladas na região. Isso porque muitas dessas empresas desenvolvem soluções muitas vezes para problemas específicos de uma dada vinícola, impondo assim uma relação que por vezes extravasa a pura relação comercial entre firmas. Por outro lado, a presença de empresas multinacionais de máquinas e equipamentos (ainda que apenas sob a forma de escritórios de representação e vendas), demonstra que ainda há um grande espaço não suprido pelas firmas nacionais. Duas explicações se apresentam para isso: a) a defasagem tecnológica, em segmentos específicos, das empresas nacionais de máquinas e equipamentos, em relação às firmas estrangeiras; b) o status dado à empresa em razão da compra de equipamento estrangeiro. Esta última explicação surgiu nas entrevistas realizadas com empresas e organizações quando da realização desta pesquisa. Muitas empresas se utilizam da importação de equipamentos como signo de prosperidade e sucesso em relação às demais firmas da região. O segundo parceiro em ordem de importância são as instituições de representação (75%); especial menção foi dada ao papel que vem desempenhando o IBRAVIN, como órgão coordenador das principais iniciativas do coletivo de empresas do setor. 146 Em terceiro lugar em grau de importância se posicionam, empatadas, as instituições de apoio e promoção (SEBRAE, Wines From Brazil etc.), com 70% das indicações das empresas da amostra, e os institutos de pesquisa (69%), em especial a Embrapa Uva e Vinho. É importante ressaltar que todos esses quatro agentes citados nos primeiros lugares de importância em termos de participação em atividades cooperativas, estão localizados no interior do APL vitivinícola da Serra gaúcha. Assim, ainda que em geral critérios geográficos não sejam primordiais para o desenvolvimento de atividades cooperativas, percebe-se que no caso específico da vitivinicultura do RS, a proximidade territorial, aliada à proximidade social e cultural dos agentes, tem desempenhado um papel relevante na consolidação de processos localizados de inovação, aprendizado e cooperação. Ainda, com relação às atividades de cooperação, foi solicitado aos respondentes que apontassem os principais motivos por eles considerados no momento do estabelecimento de relações de parceria. Para a quase totalidade das empresas da amostra, os principais critérios utilizados são: confiança; reputação do parceiro (histórico de relações com outras empresas ou organizações); qualificação e conhecimento técnico do parceiro; qualidade do produto ou do serviço prestado; proximidade física entre os agentes; e estabilidade institucional do parceiro. Para apenas duas empresas da amostra a relação com os custos envolvidos na atividade de cooperação importavam significativamente. A Tabela 14 demonstra as principais áreas em que as empresas da amostra afirmaram ter realizado atividades de cooperação, durante o período de 2007 a 2009. Tais atividades poderiam se dar tanto entre empresas quanto entre empresas e organizações. 147 Tabela 14 – Áreas em que se estabeleceram atividades de cooperação (2007 a 2009) Descrição Ocorrência Total (%) Sim (%) Não (%) Comercialização Compra de insumos Compra de tecnologia Capacitação Intercâmbio de pessoal Exportação/Participação em feiras internacionais P&D conjuntos Testes e certificações Fonte: pesquisa de campo. 90 35 20 65 05 85 30 25 10 65 80 35 95 15 70 75 100 100 100 100 100 100 100 100 Ao se analisar as informações da Tabela 14, percebe-se que as áreas em que as atividades de cooperação se deram de forma mais intensiva foram a comercialização (90%), a exportação e a participação de feiras internacionais (85%) e a capacitação de recursos humanos (65%). Tal situação assim se define, pois 13 das 20 empresas da amostra participam ativamente do consórcio de exportação intitulado Wines from Brazil, projeto coordenado pelo IBRAVIN em parceria com 38 vinícolas brasileiras (34 delas localizadas no APL vitivinícola da Serra gaúcha), com aporte financeiro da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX BRASIL). Nesse sentido, verifica-se claramente que as empresas possuem interesses específicos nas áreas de comercialização e exportações, sendo essas as que atraíram a maioria das atividades de cooperação. As áreas de menor interesse em se promover atividades de cooperação são: intercâmbio de pessoal (95%), na compra de tecnologia (80%), no desenvolvimento de P&D conjuntos e realizações de testes e certificações (respectivamente 70% e 75%) e na compra de insumos (65%). Como era de se esperar, percebe-se que nas áreas mais nevrálgicas, em que se estabelece boa parte do diferencial competitivo das vinícolas, as empresas não desenvolvem atividades de cooperação, como por exemplo, na promoção 148 de intercâmbios de pessoal, cuja intenção é evitar a “apropriação de saberes”, que são da empresa, e foram construídos ao longo do tempo. As empresas da amostra também foram questionadas com relação às formas de cooperação que essas estabeleceram com outras empresas ou organizações. A Tabela 15 apresenta as principais formas apontadas pelas firmas respondentes. Tabela 15 – Formas de cooperação que se estabeleceram (2007 a 2009) Descrição Ocorrência Total (%) Sim (%) Não (%) Contratos informais Joint Ventures Consórcios Acordos Consultorias Subcontratação Fonte: pesquisa de campo. 100 5.6 83,3 0 22,2 0 0 94,4 16,7 100 77,8 100 100 100 100 100 100 100 Basicamente, as formas de cooperação que se estabelecem para as empresas pesquisadas são os contratos informais e o consórcio, em especial o consórcio de exportação mencionado anteriormente. Apesar de não se constituir em uma atividade cooperativa (uma vez que é uma relação estritamente comercial), para quatro empresas da amostra (22,2%) ocorre cooperação sob a forma de consultoria, sendo que três dessas empresas consideram ações desenvolvidas em conjunto com o SEBRAE como atividades de cooperação. Apenas uma empresa da amostra utiliza-se de Joint Ventures, nesse caso específico estabelecendo parcerias com três grandes vinícolas internacionais. As empresas da amostra também foram questionadas com relação às razões que as conduziram às ações de cooperação, especialmente com agentes localizados nos municípios da região da Serra gaúcha, entre 2007 e 2009. As razões que apresentaram maior grau de importância para as empresas da amostra foram: a participação conjunta em feiras, exposições, concursos etc. (95%), a realização de venda conjunta (90%), a 149 elaboração e encaminhamento de reivindicações comuns (89%). Confirma-se ai o interesse das empresas investigadas em cooperar em atividades comerciais, em especial àquelas que facilitam o ingresso, ou reduzem o risco, aos mercados internacionais. As ações de cooperação ficam fortemente comprometidas em áreas como obtenção de financiamento, criação de design de produtos e embalagens e o desenvolvimento conjunto de produtos e processos. Novamente fica claro que naquelas áreas em que se dá a competição entre as vinícolas, não ocorre cooperação, ainda que as empresas se localizem no interior de um APL. Isso significa dizer que os APL’s não são espaços de ausência de competição, mas sim espaços em que as trocas cooperativas, ainda que em áreas específicas, são propiciadas. Foi solicitado às empresas da amostra que avaliassem os resultados obtidos com as ações conjuntas realizadas com agentes locais. Os resultados com maior importância para as empresas foram a melhoria nas condições de comercialização dos produtos (75%), seguida da melhoria da promoção do nome/marca da empresa no mercado nacional (70%), além do surgimento de novas oportunidades de negócios (65%) e maior inserção da empresa em mercados internacionais (65%). É importante ressaltar que para muitas empresas vinícolas, a comercialização de seus produtos em mercados internacionais, bem como a presença em feiras e exposições no exterior, tem sido a garantia de uma maior valorização de seus produtos no mercado interno. Assim, as estratégias de comercialização no mercado exterior é uma estratégia para, em última instância, ampliar sua participação no mercado nacional. Por esse motivo muitas empresas da amostra aceitam cooperar para acessar mercados estrangeiros, pois buscam nessa atividade cooperativa a minimização dos riscos inerentes à atividade exportadora. Os resultados com avaliação irrelevante ou com baixa importância para as empresas investigadas são justamente aqueles relacionados ao desenvolvimento 150 conjunto de ações inovativas, seja no desenvolvimento de novos produtos (70%), seja na melhoria dos processos produtivos (75%). A área em que as empresas apresentaram menor interesse em desenvolverem ações conjuntas foi na implementação de inovações organizacionais (84%). Por fim, solicitou-se que as empresas apontassem as principais dificuldades para se desenvolver ações cooperativas, principalmente entre empresas. A maioria da empresas não encontra dificuldade para identificar parceiros (60%). Para dez empresas da amostra, o problema também não reside na falta de parceiros com um mínimo de requisitos desejados. Porém, a quase totalidade das empresas (95%) destaca que a principal barreira ao desenvolvimento de atividades cooperativas é a ausência local de uma cultura de cooperação, seguida por uma profunda falta de confiança entre os agentes da região (90%). Esse é um dos pontos que requereria um estudo mais aprofundado, contando com o auxílio de outras áreas do conhecimento, a fim de melhor compreender as razões para esta falta de confiança, que na opinião dos próprios entrevistados, dificulta em muitos momentos a obtenção de melhores resultados, não apenas para as firmas de forma isolada, mas também para o coletivo de empresas de maneira geral. Dito isso, cabe avaliar a opinião dos respondentes com relação a estrutura, governança e vantagens associadas ao APL da vitivinicultura da Serra gaúcha. 4.3 Estrutura, governança e vantagens associadas ao ambiente local Parte do instrumento de pesquisa foi dedicado a avaliar o grau de importância das externalidades associadas à localização da empresa no Arranjo Produtivo da vitivinicultura da Serra gaúcha. A importância desse tipo de avaliação está em verificar, 151 entre outras coisas, o grau de pertencimento percebido pelos empresários, bem como as vantagens de terem suas firmas instaladas em meio a um ambiente de aglomeração empresarial. Para as empresas pertencentes à amostra, os fatores que apresentaram maior importância com relação às externalidades advindas da localização das firmas são: a qualidade da mão-de-obra e a proximidade com fornecedores de matérias-primas (95%); a existência de uma infraestrutura (física e de serviços) no local, além da existência de serviços técnicos especializados (90%). Tal avaliação se relaciona ao fato de 85% dos empresários entrevistados apontarem ser de alta relevância o fato de estarem próximos de produtores e fornecedores de máquinas e equipamentos. A importância dessa proximidade com os fornecedores ficou explícita durante as entrevistas, quando 12 empresas da amostra citaram entre os principais parceiros, algum fornecedor, seja de máquina e equipamentos, seja de outros insumos para a produção de uvas e vinhos. A proximidade com esses agentes, para além das questões geográficas, se dá no âmbito das relações sociais e pessoais entre os empresários e os fornecedores (ou ainda desses com os representantes de venda das empresas estrangeiras fornecedoras de insumos). A relação vai além da “pura relação de mercado”. Um dos respondentes, enólogo-chefe de uma grande empresa da amostra, informou que realiza compras de diversos tipos de insumos biológicos, um de cada vendedor, mesmo sabendo que essa atitude o coloca em risco, uma vez que pode ocorrer a contaminação cruzada dos produtos, dada a “convivência” de vários tipos de agentes biológicos em um mesmo recinto. A justificativa dele para essa atitude é a convivência, não só profissional, mas, sobretudo, social com esses vendedores. “Conheço a família e os filhos de todos os vendedores que batem à minha porta, penso neles, e acabo comprando um pouco de cada um deles”, afirmou o enólogo durante a entrevista. Diante disso, convém citar 152 Putnam (1994), que afirma ser o capital social uma “cola social”, que estabelece conexões entre indivíduos e as redes sociais, gerando normas de reciprocidade que emergem dessas conexões. Outras externalidades avaliadas pelos respondentes, que receberam um grau de importância elevado para 80% das firmas pesquisadas foram: disponibilidade de mãode-obra em quantidade suficiente para suprir as demandas internas do APL, bem como a existência de programas de apoio e promoção, vinculadas à produção de uvas e vinhos, na região da Serra gaúcha. A proximidade com universidades e centros de pesquisa é avaliada como importante para 75% da empresas da amostra. Ao contrário do que ocorre com os fornecedores de insumos, percebeu-se, ao longo das entrevistas, que a simples proximidade locacional não gera, automaticamente, relações de reciprocidade entre empresas e universidades ou centros de pesquisa. As duas instituições utilizadas como referências nessas áreas (Embrapa Uva e Vinho e o Campus Bento Gonçalves do IFRS) apresentam-se com as maiores credenciais, em nível nacional e internacional, seja na área da pesquisa científica e tecnológica, seja na expertise do ensino e formação de profissionais das áreas de viticultura e enologia. A Embrapa se apresenta como o maior parceiro das empresas do APL, apesar de muitas delas, durante as entrevistas, afirmarem que possuem dificuldade de acessar ou pelo menos de compreender as razões de escolha, por parte da Embrapa, de alguns estudos. A organização informou que para a realização de muitos dos seus trabalhos, há necessidade de se desenvolver um forte aparato tecnológico, que muitas vezes não é absorvido e compreendido pelas empresas. Percebeu-se que a principal diferença entre a Embrapa e os fornecedores de insumos é que esses se utilizam de uma linguagem mais próxima da realidade de muitos produtores de uva, bem como de proprietários de vinícolas. A relação com a Embrapa torna-se menos conflitante quando essa se dá com 153 empresas maiores, ou ainda quando o elo da empresa com a organização é o enólogo ou o profissional técnico responsável. A transferência de saberes e tecnologias exigem, prioritariamente, o estabelecimento de uma linguagem comum entre os agentes envolvidos. Durante a realização das entrevistas, observou-se que a grande maioria dos enólogos entrevistados se conhecia pessoalmente, e esse estreito grau de conhecimento vinha do período de formação profissional junto ao Campus Bento Gonçalves. Esta aproximação profissional possibilita, conforme indicado por vários enólogos, a troca de informações e conhecimentos, que acabam por influenciar as decisões produtivas das firmas locais. Muitos dos enólogos entrevistados apontaram que as atividades executadas pelo Campus Bento Gonçalves estão aquém daquelas esperadas por eles. Para os entrevistados, a organização deverá, nos próximos anos, se preocupar não somente com a formação de mão-de-obra qualificada, mas principalmente com o estabelecimento de ações de pesquisa e transferência tecnológica às empresas do setor. O diretor-geral do Campus, em entrevista, informou que a leitura realizada pelos enólogos estava correta. Desde 1959, quando da sua fundação, a instituição sempre se comportou como uma escola de ensino profissional e técnico. A alteração de sua institucionalidade, agora transformada em Campus, assemelhando-se a uma estrutura universitária, exige dos docentes e técnicos uma postura mais proativa, voltada não apenas para o ensino, mas também para a pesquisa e a extensão, estreitando ainda mais as relações entre a comunidade acadêmica e as empresas. O fator que recebeu menor avaliação de importância por parte dos empresários, em termos de sua relevância como externalidade importante para o APL, foi o custo da mão-de-obra. Para 50% das empresas investigadas, esse fator não possui nenhuma relevância na tomada de decisão com relação à localização da empresa no APL. Durante 154 as entrevistas, um grande número de empresas informou que os custos com mão-deobra são compatíveis ao fato de se empregar, em sua maioria, uma força de trabalho que, além de escolarizada, possui em grande parte formação técnica. Para 60% das empresas da amostra, a principal característica requerida da mão-de-obra local, no momento da contratação, é a escolaridade em nível superior ou técnico. Esse fator só é suplantado pela busca de profissionais com experiência nos processos de produção, apontado como muito importante para 90% das empresas da amostra. Buscou-se investigar qual a avaliação feita pelas empresas da amostra sobre a contribuição das diversas instituições, associações, sindicatos etc. acerca de uma série de atividades. Como já se mencionou, existe uma grande quantidade de organizações, localizadas no APL, vinculadas ao apoio (em suas diversas formas) e à representação dos agentes ligados à produção de uvas e vinhos. Dentre as diversas contribuições que essas organizações poderiam apresentar, as que receberam as piores avaliações se referem à identificação, às empresas, de fontes alternativas de financiamento. Para 80% das empresas pesquisadas, as diversas organizações ligadas ao vinho falham no fornecimento desse tipo de informação. Para 65% das empresas da amostra existe, por parte dessas organizações, um baixo estímulo ao desenvolvimento de sistemas de ensino e pesquisa local. Para 53% dos respondentes existe falha, também, na promoção de ações dirigidas à capacitação tecnológica das firmas (com relação a esse ponto específico, a estrutura do instrumento de pesquisa não nos permite oferecer uma explicação para isso). De maneira geral, talvez a explicação para as avaliações negativas esteja na já comentada dificuldade de comunicação entre as instituições, principalmente de pesquisa, e as firmas locais, bem como no “encasulamento” do Campus Bento Gonçalves. 155 As contribuições mais importantes, desempenhadas pelas organizações locais ligadas ao vinho, na ótica das empresas, referem-se à apresentação de reivindicações comuns, apontadas por 80% das empresas entrevistadas. Cabe assinalar o papel fundamental que cumpre, no discurso dos empresários, o IBRAVIN, que nos últimos anos vem se consolidando, segundo esses, como o grande articulador e representante do segmento vitivinícola brasileiro. Muitas ações de sucesso no IBRAVIN têm reforçado essa visão por parte dos empresários, tais como o estudo de mercado sobre características do consumo de vinhos, realizado nas principais capitais do país; o cadastramento vitícola, amplamente desenvolvido no RS, que se estenderá para os estados de Santa Catarina e Pernambuco, em um segundo momento; a constituição do Laboratório de Referência Enológica (Laren) 45, em parceria com a Secretaria da Agricultura e Abastecimento do RS. Tais iniciativas têm ajudado o segmento vitivinícola a se perceber melhor, não somente por sua importância produtiva, mas também social, e o grande articulador desse movimento, para grande parte das empresas investigadas tem sido o IBRAVIN. Outra contribuição apontada como relevante para 60% das empresas investigadas refere-se à promoção de ações de cooperação entre empresas e instituições. Nesse caso, mais uma vez, cumpre um papel fundamental o IBRAVIN, responsável pela organização do consórcio de exportação Wines from Brazil (WFB), em parceria com a APEX BRASIL. Para as empresas da amostra, as ações do WFB se constituem em uma das melhores ações de cooperação entre empresas e instituições já vistas no APL. Além desses pontos positivos, as empresas da amostra apontaram algumas áreas em que a contribuição das organizações necessitam ser melhor coordenadas. Para 55% 45 O LAREN, inaugurado em dezembro de 2001, situa-se junto à sede da Divisão de Enologia do Departamento de Produção Vegetal da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária, Pesca e Agronegócio do Rio Grande do Sul em Caxias do Sul. É mantido com recursos do FUNDOVITIS (Fundo de Desenvolvimento da Vitivinicultura do Estado do Rio Grande do Sul), encaminhado conforme convênio com o IBRAVIN. 156 das empresas, há espaços para a melhoria de ações que visem ampliar as informações sobre novas matérias-primas, equipamentos, assistência técnica, etc. De igual modo, essas empresas acreditam que se deve estimular a percepção de futuro junto às empresas do segmento, promovendo o desenvolvimento de ações estratégicas, tanto individuais quanto conjuntas por parte das firmas do APL. Isso significa que a dificuldade no desenvolvimento de ações cooperativas não fica restrita ao ambiente interno das firmas, mas vai além, bloqueando tais ações em nível institucional. A dificuldade na promoção de ações de cooperação, que extravasem a lógica comercial, fica clara quando, para apenas 45% dos respondentes, as atividades de auxílio na definição de objetivos comuns para o conjunto de atores do APL é tida como relevante. Muitas empresas acreditam que os objetivos comuns no segmento do vinho dizem respeito apenas às questões de tributação interna (tida como abusiva) e à necessidade de melhores condições de competição com os concorrentes estrangeiros, em particular os chilenos e argentinos. Tal situação se reforça, quando apenas quatro em cada dez entrevistados apontam como importante a criação de fóruns e ambientes de discussão, que promovam o debate de uma série de temas relevantes, tais como a reconversão ou não dos vinhedos, a ampliação da fiscalização sanitária, a melhoria das relações comerciais entre produtores de uvas e vinhos etc. Obviamente que não se pretende aqui defender a “panacéia” dos processos cooperativos, mas sim identificá-los e verificar até que ponto tais processos contribuem para a melhoria do desempenho (ou ao menos sobrevivência) das firmas. O que se percebe entre as empresas desse APL é a existência de uma forte cooperação associativa, que vincula as diversas empresas, seus diversos portes e diferentes agendas em torno de um conjunto significativo de instituições localizadas, que dialogam entre si com maior ou menor intensidade, buscando atender/defender aos interesses comuns de 157 seus associados. O que se percebe em um grau bem mais reduzido é a cooperação produtiva, principalmente entre vinícolas, mas bastante existente entre estas e produtores de uva terceirizados, bem como com instituições de ensino e pesquisa. Como já apontado por Costa e Costa (2005:12), “naquilo que as empresas concorrem, não se espera que elas cooperem com facilidade”. Em entrevista com o diretor-executivo do IBRAVIN, questionado acerca da coordenação no APL, afirma que o problema não é de falta de coordenação, mas de excesso, isso porque o setor possui uma tríplice agenda de interesses: a agenda dos produtores de vinhos finos e espumantes; a agenda dos produtores de vinhos comuns; e a agenda dos produtores de uva. Ou seja, não é o número de entidades representativas que se constitui numa barreira para a ampliação de uma maior coordenação no APL, mas sim a multiplicidade de agendas e interesses. Tal multiplicidade fica evidente no discurso de empresários vinícolas: àqueles que dedicam grande parte de sua produção nos vinhos finos, possuem uma postura ostensivamente defensora dos processos de reconversão de videiras, exterminando a produção de uvas e vinhos comuns; àqueles que produzem majoritariamente vinhos comuns têm, em geral, participado dessas discussões de forma mais apática, sem expor os motivos pelos quais ainda é importante, econômica e socialmente, tal produção. Por fim ainda há os produtores vitícolas, que ano após ano tem reivindicado ampliações nos preços do quilo da uva, principalmente às comuns, que garantiria uma melhor condição a estes trabalhadores do campo. Assim, agendas múltiplas conduzem a presença de uma coordenação difusa, mas peculiar, entre as empresas do APL. Nesse sentido, Vargas (2002) apresenta peculiaridades na coordenação das empresas do arranjo vitivinícola da Serra gaúcha, atribuindo ser a principal delas a presença de um forte comportamento associativo na relação entre produtores de uva e 158 vinícolas. Esses produtores de uva não estão vinculados a apenas um pequeno número de vinícolas, que se assim fosse, teriam maior concentração de poder nessa relação. É essa diferenciação nas agendas de reivindicações que provoca o surgimento de um número significativo de organizações, que em alguns casos possuem objetivos justapostos. Vargas (2002) aponta em seu estudo que, não obstante o fato dessas organizações atuarem na representação dos interesses específicos de cada segmento, havia um elevado grau de articulação entre elas na promoção de ações conjuntas, principalmente no que tange à qualificação dos vinhedos e na abertura de novos nichos de mercado. Os dados obtidos nessa pesquisa não corroboram, em sua totalidade, a manifestação do autor. Existe sim um grande número de ações sendo executadas, mas essas não são articuladas. Muitos desses atores, responsáveis por tais ações, desconhecem o trabalho das instituições vizinhas. A avaliação das ações promovidas por essas organizações é a tônica da próxima seção. 4.4 Ações de Promoção O bloco de questões do instrumento de pesquisa atinentes a esse tema tinha por intenção avaliar o grau de participação e de conhecimento dos programas e ações específicas para o segmento vitivinícola, promovidos pelas diferentes esferas de governo ou instituições, pelos entrevistados. A fim de melhor avaliar a posição das empresas, dividiram-se as instituições em quatro categorias, a saber: instituições e associações representativas; instituições de ensino superior, técnico e tecnológico; instituições de pesquisa; e instituições de promoção setorial. A primeira constatação é que nenhuma das empresas investigadas afirmou desconhecer quaisquer das categorias citadas. Isso indica que mesmo que seja grande o 159 número de organizações, ainda assim elas são reconhecidas pelas empresas. Também, é muito comum que as empresas se associem a mais de uma organização, ampliando, assim, o grau de abrangência das ações promovidas por essas. A totalidade das empresas pesquisadas afirmou conhecer e participar dos programas e ações das instituições e associações representativas, tais como IBRAVIN, UVIBRA, AGAVI, etc. Com relação à avaliação dos programas ou ações desenvolvidas por essas instituições representativas, todas as pesquisadas avaliaram positivamente o trabalho desempenhado por tais instituições. Com relação às instituições de ensino, a posição dos empresários foi menos consensuada. Para seis das vinte empresas da amostra, o trabalho dessas instituições é conhecido e as firmas possuem alguma forma de participação nessas ações. As ações mais citadas com o Campus Bento Gonçalves são a absorção de estudantes dos cursos superiores e técnicos, seja durante o curso (estágios), seja ao final, pela contratação de egressos. Outra ação citada é a participação, por parte dos enólogos, no Curso de PósGraduação (Lato Sensu) em Viticultura e Enologia. Apenas duas empresas analisadas afirmaram não possuir elementos para avaliar as ações dessa instituição. Para 90% dos respondentes, a avaliação geral dos programas e ações desenvolvidas pelo Campus Bento Gonçalves do IFRS é positiva. Com relação às ações e programas específicos desenvolvidos pela Embrapa Uva e Vinho, 40% das empresas afirmaram conhecê-los, mas não participam ativamente deles. Doze das vinte empresas da amostra afirmaram não só conhecer, mas também participar ativamente das ações promovidas pelo instituto de pesquisa. Entre as ações e programas mais citados pelas empresas durante as entrevistas estão o Programa de Melhoramento Genético de Uvas e o Projeto de Indicações Geográficas de Vinhos. Para 90% das empresas ouvidas na pesquisa, a avaliação da instituição é positiva. 160 As ações e programas desenvolvidos pelas instituições de promoção setorial são conhecidos por 85% das empresas da amostra, que afirmaram além de conhecer, participar ativamente de algum projeto desenvolvido por tais instituições. As organizações que compõem essa categoria e foram mais citadas pelas empresas são o SEBRAE/RS e as ações desenvolvidas pelo consórcio de exportação Wines from Brazil, em parceria com a APEX BRASIL. Para 90% das empresas, a avaliação das ações e programas específicos ao segmento vitivinícola é positiva. As empresas avaliaram, também, pela sua importância, que tipo de políticas públicas poderia contribuir para o aumento da eficiência competitiva das firmas localizadas no APL. As políticas públicas consideradas menos relevantes para a competitividade das empresas são os programas de melhoria na educação básica e os programas de capacitação profissional. Tais questões são menos valorizadas, pois, para grande parte das empresas investigadas, o nível de escolaridade da mão-de-obra empregada nas vinícolas é relativamente alto. Além disso, os empresários apontam para a existência de uma instituição de ensino técnico e tecnológico, gratuita, responsável pela colocação no mercado de trabalho de cerca de cem profissionais, entre técnicos e tecnólogos. Para as empresas, as políticas públicas que apresentam maior relevância para o segmento vitivinícola são a formulação de programas de incentivos fiscais, aos moldes do Fundo de Operação Empresa Rio Grande do Sul (FUNDOPEM/RS), porém com caráter específico para as empresas vinícolas, bem como a criação de linhas de crédito ou formas de obtenção de financiamentos às atividades produtivas. Tanto empresas quanto instituições apresentam queixas com relação a postura dos governos, em suas várias esferas, com relação ao desestímulo à produção, ora por falta de crédito, ora pelo excesso de impostos incidentes sobre o vinho. 161 O IBRAVIN aponta para o problema que é ter a sua principal receita (FUNDOVITIS) vinculada à situação orçamentária do governo estadual. Entre 2002 e 2004, os repasses do Fundo foram bloqueados pelo sucessivo déficit orçamentário, quase causando o fechamento do Instituto. Desde final de 2007, 25% do FUNDOVITIS é destinado pelas empresas contribuintes diretamente para o IBRAVIN, o que tem garantido a execução dos projetos mencionados anteriormente. Em nível federal, os principais problemas estão relacionados às políticas comerciais com os vizinhos do MERCOSUL, constituindo-se em pauta permanente e especial da Câmara Setorial da Uva e do Vinho. Mesmo em meio às dificuldades, apenas uma empresa da amostra, quando questionada, afirmou que se pudesse mudaria as suas instalações produtivas para fora do APL. Algumas empresas têm aberto unidades produtivas em outras regiões do RS e do Brasil. Porém, na opinião de muitas empresas e organizações entrevistadas, elas desejam obter as vantagens advindas das novas localizações, sem perder os ganhos referentes de participar do APL da vitivinicultura da Serra gaúcha. Com relação à exploração dessas novas áreas vitícolas, em especial nas regiões da Campanha e na fronteira oeste do RS, empresas e instituições apontam para a inexistência de uma análise mais técnica das possibilidades de produção, fruto da fragilidade institucional nessas regiões. As estruturas que estão solidamente presentes na Serra gaúcha, tais como entidades de representação, instituições de ensino e pesquisa, não se fazem presentes, ainda, nessas áreas. A exploração dessas áreas tem seguido, em grande parte, a lógica da verticalização de algumas vinícolas, em geral as de maior porte, com sede na Serra gaúcha. Muitas dessas vinícolas têm contado com o apoio de prefeituras municipais, que na tentativa de revitalizar as áreas da metade sul do RS, tem criado verdadeiros planos de incentivo à implantação de vinícolas na região. 162 A existência de diversas organizações, muitas delas vinculadas entre si, torna o arranjo institucional do APL vitivinícola um dos mais densos e completos do RS (VARGAS, 2000). A infraestrutura educacional e tecnológica presentes na região, bem como a presença marcante de empresas fornecedoras de máquinas, equipamentos e insumos em geral, demonstra a robustez institucional desse arranjo. Ao mencionar a “robustez institucional” do APL vitivinícola da Serra gaúcha não se pretende menosprezar as fragilidades existentes, tais como a inexistência de regulamentações acerca dos processos produtivos e de plantios, bem como a falta de fiscalização – inerente à falta de normatizações. Essa, entre outras, é uma das grandes distinções desse APL com outras regiões produtoras de vinho no mundo, incluindo os vizinhos produtores do Mercosul, que em termos de regulamentação e fiscalização estão sobremodo adiantados em relação a nossa situação. Nos últimos anos, empresas e instituições formadoras desse APL têm intensificado esforços no sentido de ampliar a capacidade tecnológica das vinícolas, promovendo reconhecidos avanços na vitivinicultura nacional. Exemplo desse movimento é a crescente participação de vinícolas nacionais em feiras e concursos enológicos internacionais, o que tem servido para valorizar ainda mais o produto nacional, que em alguns casos, como dos espumantes produzidos na Serra gaúcha, desfrutam de reconhecimento no exterior. As empresas pesquisadas apresentaram uma elevada taxa de inovação, superior aos índices registrados pela PINTEC para o setor de bebidas no RS. Os dados dessa pesquisa apontam para uma taxa de inovação de 100%, ou seja, todas as vinte empresas afirmaram ter introduzido algum tipo de inovação entre 2007 e 2009. No setor de bebidas do RS, segundo dados do IBGE, entre 2003 e 2005, 76% da amostra analisada afirmaram ter implantado algum tipo de inovação (56 das 74 empresas de bebidas 163 entrevistadas). Esse esforço inovativo por parte das vinícolas, provavelmente, está associado ao clima de intenso investimento nos processos de reconversão das videiras, que traduz um debate que vem se travando no interior do APL a pelo menos duas décadas, acerca da qualificação dos produtos oriundos da região. Para muitos dos entrevistados, a verdadeira inovação tecnológica no segmento vinícola está próximo das videiras, seja pela reconversão, seja pela melhoria e adaptação das cultivares produzidas nacionalmente. Esse esforço inovativo, como pode-se perceber, é fruto do trabalho dos empresário. Para oito em cada dez empresas entrevistadas, o responsável pela introdução de tais inovações foi a própria empresa. Apenas 25% das respondentes afirmou ter o auxílio de alguma empresa ou instituição na introdução de inovações. Tal situação reforça a trajetória incremental das inovações introduzidas entre as vinícolas da Serra gaúcha. As inovações, seja de produto ou de processo, se dão de forma reativa, adotando um padrão de reprodução das inovações implementadas por outras empresas. As empresas de maior porte “imitam” as inovações das grandes empresas internacionais; as empresas de menor porte “copiam” as inovações introduzidas pelas empresas de maior porte; assim fecha-se o ciclo da inovação no segmento vinícola da Serra gaúcha. Tais inovações, eminentemente incrementais, são sustentadas por mecanismos de aprendizado do tipo “learning-by-doing” e “learning-by-interacting”. O primeiro se observa no desenvolvimento de atividades inovativas mais vinculadas à introdução de novos produtos (ou produtos melhorados), em que as fontes internas de informação assumem um papel fundamental, em especial as informações advindas das áreas de produção e vendas. O aprendizado nesses casos está estritamente vinculado ao processo de produção de vinhos. O “learning-by-interacting” é melhor visualizado ao se observar 164 as atividades inovativas ligadas à introdução de inovações de processo. As vinícolas, nesse caso, estabelecem um estreito relacionamento com seus fornecedores, tanto de matérias-primas quanto de máquinas e equipamentos, do Brasil e do exterior. Muitos fornecedores assumem um papel fundamental de difusores de novas tecnologias vitivinícolas, principalmente com relação às pequenas empresas e produtores vitícolas, em que muitas dessas empresas operam à semelhança de extensionistas tecnológicos. A atividade inovativa das empresas entrevistadas está intimamente vinculada à compra de máquinas, equipamentos e tecnologias, seja de empresas fornecedoras localizadas no país (muito especialmente nos municípios da Serra gaúcha), seja de fornecedores estrangeiros. A relação das empresas pesquisadas com seus fornecedores é intensa, e não raro tais fornecedores comercializam produtos customizados, adaptando equipamentos padrões para as necessidades particulares das vinícolas. Isso denota a presença de um aprendizado tecnológico incorporado, aos moldes do descrito por Rosemberg (2006). Esse processo inovativo via aquisição de equipamentos exige que as empresas invistam em treinamento de sua força de trabalho, fato que se percebeu na pesquisa, em que mais de 40% dos respondentes afirmaram terem propiciado atividades de treinamento aos seus funcionários. Tal prática amplia o acúmulo de conhecimento da firma, propiciando o surgimento de vantagens competitivas através do aprendizado tecnológico. Pode-se perceber que tais processos de aprendizado possibilitaram, ao menos para as empresas entrevistadas, o surgimento de ações cooperativas, tanto entre as empresas como dessas e as instituições presentes no APL. Observou-se a presença entre as empresas da amostra de dois tipos distintos de cooperação: vertical e horizontal. A cooperação vertical ficou evidente a partir da ação interativa das vinícolas e as empresas fornecedoras, seja de máquinas e equipamentos, seja de insumos enológicos em geral. 165 As ações cooperativas desse modo são marcadas pela estreita cooperação entre os agentes, sendo que tal relação extravasa a mera relação comercial entre empresas, mas é marcada pelo estabelecimento de laços sociais mais profundos. A cooperação horizontal está presente nas ações entre vinícolas, e nesse caso específico a cooperação visa, apenas, o acesso aos mercados internacionais. Estar no mercado internacional é uma das estratégias deliberadas das vinícolas, pois compreendem que o mercado nacional (verdadeiro alvo delas) valoriza mais os produtos com presença internacional, seja através de exportação, seja através de participação em feiras e promoções internacionais. Dada a complexidade em se operar no mercado internacional, muitas empresas têm optado pela cooperação, através da participação do consórcio de exportação Wines from Brazil, uma ação entre o IBRAVIN e a APEX BRASIL. As empresas entrevistadas são categóricas em dois pontos: a) valorizam mais as atividades cooperativas verticais (com fornecedores) do que as horizontais (com outras vinícolas) - isso ocorre porque as empresas entrevistadas vislumbram maiores ganhos competitivos ao se relacionarem com os fornecedores; b) as empresas da amostra preferem se relacionar com empresas localizadas no APL, sejam essas vinícolas ou fornecedores. Assim, a proximidade física com fornecedores e a existência de uma forte infraestrutura institucional local são pontos fundamentais na análise das empresas. Por fim, cabe às empresas e instituições promoverem, ainda mais, ações cooperativas que caminhem para além dos simples acordos para exportação conjunta ou participação em feiras internacionais. É necessária a promoção de ações conjuntas que possibilitem o estabelecimento de regras de conduta que minimizem o estabelecimento de formas hostilizadas de concorrência entre vinícolas, que em muitos casos se expressam através da competição desleal, pela guerra de preços ou, ainda, pela adulteração de produtos. 166 5 Considerações finais Essa dissertação teve por objetivo identificar e caracterizar os processos de aprendizado que resultam no aprofundamento e no fortalecimento da capacidade inovativa e cooperativa das firmas vitivinícolas localizadas na Serra gaúcha. Nesse sentido, esse trabalho buscou contribuir para a discussão acerca do papel da proximidade territorial nos processos de aprendizagem, cooperação e inovação de empresas inseridas em aglomerações produtivas. A análise esteve fundamentada no conceito de arranjo produtivo local, referindo-se genericamente aos diversos modos de aglomeração, envolvendo vínculos entre as empresas e os demais atores institucionais localizados em um mesmo território. Para atingir os objetivos propostos, optou-se pela realização de uma survey, com uma amostra não-probabilística de vinte empresas, em que se buscou através da aplicação de um instrumento de pesquisa, coletar informações acerca de quatro áreas, a saber: uma caracterização geral das firmas respondentes, bem como de seus processos produtivos e suas relações com o mercado; o comportamento destas com relação aos processos inovativos, à cooperação e ao aprendizado; uma análise da percepção das firmas sobre as estruturas de governança e as vantagens associadas ao ambiente local; e a avaliação das empresas sobre as ações de promoção existentes, conduzidas pelas diversas organizações presentes no APL. 167 Buscou-se compreender e identificar as inovações implementadas pelas empresas do APL vitivinícola do RS, quanto à sua capacidade tecnológica, isto é, sua habilidade para realizar mudanças com vistas a ganhar (ou ampliar) espaços competitivos frente à concorrência. A primeira constatação, que conversa com os resultados de uma série de estudos sobre inovação tecnológica, é que o arranjo, por empregar um tipo de tecnologia de produção madura (tanto em nível nacional quanto internacional), possui uma capacidade inovativa restrita, circunscrita à adequação incremental de produtos e processos de vinificação, cuja finalidade é aproximar os vinhos nacionais ao tipo ou estilo dos vinhos produzidos nos países do “velho mundo” vitivinícola, tais como a França, Portugal e Itália. Essa capacidade inovativa restrita, em verdade, é decorrência do regime tecnológico vigente no setor. Tal iniciativa incremental, ainda que reativa, apresenta-se como adequada, se considerada as dificuldades climáticas existentes na região nordeste do RS, bem como a forte presença de competidores estrangeiros, que por meio da escala de produção e vantagens climáticas de suas regiões de origem, possuem uma sólida posição competitiva no mercado nacional. As inovações implementadas são mais de caráter organizacional, promovendo melhorias mercadológicas e a exploração de novos canais de distribuição, além da abertura de novos mercados. Nesse sentido, tais inovações correspondem ao tradicional conceito de inovação schumpeteriano, não se vinculando apenas ao caráter tecnológico de tais processos. Tanto para os empresários quanto para os especialistas entrevistados, as inovações nesse segmento deveriam caminhar rumo aos vinhedos, onde efetivamente se pode gerar diferenciação de produtos e ganhos permanentes de competitividade. Porém, para que isso ocorra, deveria haver um grande esforço, que conjugasse as firmas e outras instituições presentes no APL, tais como os centros de pesquisa e formação, o 168 que ocorre de forma parcial, seja pelo desinteresse dos primeiros, seja pelas falhas de comunicação e relacionamento dos segundos. A chave para o aumento da produtividade e da qualidade dos vinhos finos reside, dessa forma, no investimento em pesquisa e desenvolvimento tecnológico junto ao insumo básico – a uva. Para além dos investimentos, os entrevistados foram claros quanto à necessidade de se solidificar um arranjo institucional, que alie a força empresarial, suas entidades representativas, os centros de pesquisa e o Estado. O processo de reconversão dos vinhedos, que por um lado apresenta-se como a melhor alternativa para melhoria dos cultivares gaúchos, ainda ocorre em um ritmo pouco acelerado. A principal explicação para isso é a percepção dos empresários que tal processo (substituição total das uvas americanas por vitis viníferas) se configure em uma espécie de Sunk Cost. Uma vez feita a opção pela substituição, não se poderá recorrer a qualquer alternativa, senão a produção de comercialização de vinhos finos, entrando assim na concorrência direta com os produtores estrangeiros. Hoje há um grande espaço, no mercado nacional, para a comercialização de vinhos comuns, que requer menos investimentos técnicos (tanto nos parreirais quanto no processo de vinificação) e que tradicionalmente ocupa um nicho nesse mercado, operando com margens bem atraentes, uma vez que uma série de custos existentes nos vinhos finos (embalagem, despesas técnicas, custos com controle de pragas e correção do mosto etc.) não se reproduz nos vinhos comuns, em geral comercializados no sudeste do país, em diversos tipos de embalagens. Isso demonstra que existe sim, a despeito de todo um discurso fortemente presente no interior do APL, ganhos competitivos através da produção e comercialização de vinhos comuns. As atividades de inovação tecnológica se dão estimuladas por comportamentos miméticos, de observação e adequação de produtos às inovações implantadas pelos 169 concorrentes, principalmente em nível local. Tal comportamento se percebe nos demais elementos da cadeia produtiva, como por exemplo, as empresas nacionais de máquinas e equipamentos vinícolas. À exemplo de outros setores do RS, como é o caso dos calçadistas do Vale dos Sinos, existem duas trajetórias tecnológicas claramente distintas no interior da vitivinicultura da Serra gaúcha: uma trajetória pautada na inovação, através da produção de uvas varietais e da conseqüente produção de vinhos finos e espumantes; e a tradicional produção de vinhos comuns e, de forma mais recente, de sucos de uva. Neste sentido, percebeu-se que a ocorrência de processos inovativos que são fruto de inúmeras fontes de informação, aquisição e difusão do conhecimento entre os agentes do APL. Apesar de informal e restrito, os canais utilizados para aquisição de conhecimento cumprem um papel relevante no aprimoramento do aprendizado, bem como na difusão de inovações, ainda que incrementais. Importante ressaltar que ao observar a relação das empresas com a estrutura educacional presente, percebeu-se um estreito laço entre esses, especialmente quando se trata de absorver a mão-de-obra técnica formada localmente. As firmas apontam que têm estabelecido uma relação com o Campus Bento Gonçalves do IFRS puramente de contratação de estagiários e alunos egressos de seus cursos, havendo uma clara lacuna na relação do Campus com os demais atores do arranjo, principalmente no que se refere a atividades de pesquisa e extensão. Talvez por isso, apenas uma das vinte empresas entrevistadas apontaram o Campus Bento Gonçalves como sendo o espaço, dentro do APL, de maior promoção de atividades cooperativas. Nos últimos anos, tem-se observado uma busca por parte da empresas em acessar informações externas, oriundas principalmente da participação em feiras e concursos enológicos internacionais. Isso tem capacitado as empresas com relação aos 170 seus processos de produção (da uva e do vinho), que tem provocado um “transbordamento” de saber técnico entre as empresas da região, afetando positivamente a qualidade os produtos finais. Assim, fica evidente a importância dos atores locais para a organização e difusão dos sistemas de conhecimento dentro do arranjo. Apesar de não ter sido possível realizar uma categorização precisa das empresas da amostra, percebeu-se que o porte das empresas afeta a busca e o tipo de fontes de informação. Empresas de maior porte usam de forma mais intensiva as informações disponíveis em diversas fontes, tanto internas quanto externas. Apesar de não dispensaram as fontes internas de informação (tanto à firma quanto ao APL), nos últimos anos, as vinícolas têm investido mais na busca por fontes externas, tais como a contratação de enólogos internacionais como consultores, contratos de aquisição e manutenção de equipamentos estrangeiros, bem como a formação de Joint Ventures com vinícolas estrangeiras. As vinícolas de menor porte, por sua vez, utilizam de maneira mais intensiva as fontes de informação internas ao APL, em especial as informações oriundas da área de produção das empresas, bem como uma estreita relação com os fornecedores, localizados nos municípios que integram o APL. A contratação de profissionais formados no Campus Bento Gonçalves do IFRS é uma das formas de se renovar o conhecimento presente nas pequenas vinícolas. As fontes externas mais utilizadas por essas empresas são a participação em feiras internacionais e em visitas técnicas em empresas estrangeiras. Assim, observou-se que tanto entre grandes quanto entre pequenas vinícolas, a adoção de processos cooperativos, mais ou menos estruturados, está presente no cotidiano produtivo das empresas do APL. 171 Durante a realização das entrevistas, os processos de cooperação, apresentaramse, inicialmente, como uma atividade corriqueira, ao menos na ótica dos empresários. É possível perceber a existência de cooperação tanto em nível vertical quanto horizontal. As ações de cooperação vertical, tais como as relações entre empresas e seus fornecedores, são mais freqüentes e mais valorizadas do que as ações horizontais de cooperação (entre empresas). Mesmo se compreendendo que as empresas de um mesmo segmento irão cooperar em áreas em que não competem, ainda assim, observou-se que a principal modalidade de cooperação entre as empresas se dá na esfera da comercialização de produtos no exterior. Isso porque as atividades de exportação, além de complexas, exigem uma estrutura organizacional e de conhecimento específicas, o que não ocorre entre micro e pequenas vinícolas que compõem, majoritariamente, o APL. Assim, tais empresas buscam no Wines from Brazil, uma forma consorciada de acessar os mercados internacionais, diminuindo os riscos desse acesso. Importante destacar o motivo principal que conduz empresas de diversos portes a se interessarem pelos mercados internacionais: para os entrevistados (empresas e organizações) o mercado nacional valoriza mais as empresas que estão presentes no circuito internacional de consumo de vinhos, seja através da exportação direta, seja através da participação de feiras e eventos enológicos internacionais. Assim, a presença nos mercados internacionais é uma estratégia das empresas nacionais de ampliação de sua participação no mercado brasileiro. De forma geral, a cooperação entre concorrentes locais se resume na união desses para enfrentar os desafios do acesso aos mercados internacionais. 172 Além dos concorrentes locais e das empresas fornecedoras, outro agente muito citado, por ter assumido um importante papel enquanto parceiro das empresas locais, foram as instituições de representação, em especial o IBRAVIN. O IBRAVIN aparece como o grande articulador do segmento vitivinícola, assumindo o papel de coordenação das ações que atendem a coletividade das vinícolas do Brasil. A estruturação do Instituto nos últimos quatro anos possibilitou que não apenas as vinícolas, mas os demais atores localizados no APL ampliassem sua confiança e outorgassem a responsabilidade de ser o IBRAVIN o representante legítimo do segmento vitivinícola no Brasil. Fica como ponto para ser aprofundado em próximas pesquisas o papel do perfil inovador do empresário, que segundo os especialistas é de fundamental importância na implantação de processos inovativos bem sucedidos. Outro ponto interessante é analisar os processos de cooperação entre empresas. Uma vez que as atividades cooperativas se dão, em geral, em áreas e de formas distintas, que extravasam as competências de análise da economia, cabe uma aproximação com outras áreas, tais como a sociologia, a antropologia etc., a fim de se fundamentar ainda mais o conhecimento acerca desse tema. O desenvolvimento de mais pesquisas empíricas no campo da análise dos processos cooperativos torna-se indispensável, não apenas porque possibilitará a ampliação desse conhecimento (ainda restrito), mas também porque promoverá, necessariamente, um estreitamento interdisciplinar de áreas do conhecimento. 173 Referências bibliográficas ALBAGLI, S. 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Independente ( ) 2. Parte de um Grupo Qual a sua relação com o grupo: ( ) 1. Controladora Controladora - é aquela que exerce, direta ou indiretamente, o poder de eleger a maioria dos administradores e prepondera nas deliberações sociais; Controlada – é aquela na qual a controladora exerce tal poder; ( ) 2. Controlada Coligada - é aquela na qual a investidora participa com pelo menos 10% do seu capital, sem controla-la. ( ) 3. Coligada O Volume total de produção, em 2009, foi de:____________________ O volume de vinhos comuns, em 2009, foi de:____________________ O volume de vinhos finos, em 2009, foi de: ______________________ O volume de suco de uva, em 2009, foi de:_______________________ II – PRODUÇÃO, MERCADOS E EMPREGO. 14. Indique a participação dos produtos abaixo com relação às vendas totais: Linha de produtos 1. Vinhos Comuns 2. Vinhos Finos 3. Espumantes 4. Suco de Uva 5. Outros 6. Total % das Vendas 100% 183 15. A quanto tempo a empresa vem trabalhando com vinhos finos? 1.( ) Até 4 anos 2.( ) 5 a 10 anos 3.( ) 11 a 20 anos 4.( ) Mais de 20 16. Evolução da empresa: Faturamento Pessoal Ano Preços correntes ocupado (R$) Mercados (%) Vendas nos municípios da Região Vendas no Vendas no Vendas no Estado Brasil exterior 2009 2008 2007 Total 100% 100% 100% 17. Aponte os principais canais de comercialização adotados pela empresa. Favor marcar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Forma de comercialização Grau de Importância Sob encomenda (0) (1) (2) (3) Lojas próprias (0) (1) (2) (3) Comércio Varejista (supermercados) (0) (1) (2) (3) Escritórios de Exportação (0) (1) (2) (3) Outras (especificar): (0) (1) (2) (3) 18. Indique os principais insumos/matérias-primas utilizados, bem como a sua origem (em percentual): Principais insumos/ Municípios Estado do RS Outros Estados Exterior matérias-primas da Região do Brasil Total 100% 100% 100% 100% 19. Indique os principais equipamentos utilizados no processo de produção, bem como a sua origem (em percentual): Principais Municípios da Estado do RS Outros Exterior Total equipamentos Região Estados do Brasil 100% 100% 100% 100% 100% 20. Quais fatores são determinantes para manter a capacidade competitiva na principal linha de produto? Favor marcar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Fatores Grau de importância Qualidade da matéria-prima e outros insumos (0) (1) (2) (3) Qualidade da mão-de-obra (0) (1) (2) (3) Custo da mão-de-obra (0) (1) (2) (3) Nível tecnológico dos equipamentos (0) (1) (2) (3) Capacidade de introdução de novos produtos/processos (0) (1) (2) (3) Mudança de embalagens (0) (1) (2) (3) Estratégias de comercialização (0) (1) (2) (3) Qualidade do produto (0) (1) (2) (3) Capacidade de atendimento (volume e prazo) (0) (1) (2) (3) 184 Localização da empresa Outra. Citar: (0) (0) (1) (1) (2) (2) (3) (3) III – INOVAÇÃO, COOPERAÇÃO E APRENDIZADO 21. Entre 2007 e 2009, a empresa introduziu inovações de produto, processo e organizacionais? Descrição Inovações de produto Produto novo para a sua empresa, mas já existente no mercado nacional Produto novo para o mercado nacional Produto novo para o mercado internacional Inovações de processo Processos tecnológicos novos para a sua empresa, mas já existentes no setor no Brasil Processos tecnológicos novos para o setor de atuação Outros tipos de inovação Criação ou melhoria substancial, do ponto de vista tecnológico, do modo de acondicionamento de produtos (embalagem) Realização de mudanças organizacionais (inovações organizacionais) Implementação de técnicas avançadas de gestão Implementação de significativas mudanças na estrutura organizacional Mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de marketing Mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de comercialização Implementação de novos métodos e gerenciamento, visando a atender normas de certificação (ISO 9000, ISSO 14000, etc.) 1. Sim 2. Não (1) (1) (1) (2) (2) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (2) (1) (1) (1) (1) (2) (2) (2) (2) (1) (2) 22. Quem desenvolveu a principal inovação de produto? Principalmente a empresa ( ) 1. Principalmente outra empresa do grupo ( ) 2. Principalmente a empresa em cooperação com outras empresas ou ( ) 3. institutos Principalmente outras empresas ou institutos ( ) 4. 23. Quem desenvolveu a principal inovação de processo? Principalmente a empresa ( ) 1. Principalmente outra empresa do grupo ( ) 2. Principalmente a empresa em cooperação com outras empresas ou ( ) 3. institutos Principalmente outras empresas ou institutos ( ) 4. 24. Indique a importância dos impactos das inovações de produto e processo, implementadas durante o período entre 2007 a 2009. Favor marcar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Descrição Grau de Importância Aumentou a produtividade da empresa (0) (1) (2) (3) Ampliou a gama de produtos ofertados (0) (1) (2) (3) Aumentou a qualidade dos produtos (0) (1) (2) (3) Permitiu manter a participação da empresa no mercado (0) (1) (2) (3) Ampliou a participação da empresa no mercado interno (0) (1) (2) (3) Ampliou a participação da empresa no mercado externo (0) (1) (2) (3) Permitiu abrir novos mercados (0) (1) (2) (3) Permitiu a redução de custos do trabalho (0) (1) (2) (3) Permitiu a redução do consumo de matérias-primas (0) (1) (2) (3) Permitiu a redução do consumo de energia (0) (1) (2) (3) 185 Permitiu o enquadramento em regulações e normas padrão relativas ao: - Mercado Interno - Mercado Externo Permitiu reduzir o impacto sobre o meio ambiente (0) (0) (0) (1) (1) (1) (2) (2) (2) (3) (3) (3) 25. Assinale o grau de constância das atividades inovativas desenvolvidas pela empresa no período entre 2007 e 2009? Assinale (0) se não desenvolveu, (1) se desenvolveu rotineiramente, e (2) se desenvolveu ocasionalmente. Descrição Grau de Constância Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) na sua empresa (0) (1) (2) Aquisição externa de P&D (0) (1) (2) Aquisição de máquinas e equipamentos que implicaram em significativas melhorias tecnológicas de produtos/processos ou (0) (1) (2) que estão associados aos novos produtos/processos Aquisição de outras tecnologias (softwares, licenças ou acordos de transferência de tecnologias tais como patentes, marcas, (0) (1) (2) segredos industriais) Projeto industrial ou desenho industrial associados à produtos/processos tecnologicamente novos ou significativamente (0) (1) (2) melhorados Programa de treinamento e auxílio na reconversão de videiras (de (0) (1) (2) Americanas para Viníferas), próprias ou de produtorers parceiros Programas de gestão da qualidade ou de modernização organizacional, tais como: qualidade total, reengenharia de (0) (1) (2) processos administrativos, desverticalização do processo produtivo, métodos de “just in time”, etc Novas formas de comercialização e distribuição para o mercado (0) (1) (2) de produtos novos ou significativamente melhorados 26. Informe os gastos despendidos para desenvolver as atividades de inovação: 26.1 Gastos com atividades inovativas sobre faturamento em 2009.....................( %) 26.2 Gastos com P&D sobre faturamento em 2009............................................ .( %) 26.3 Fontes de financiamento para as atividades inovativas (em %) 26.3.1 Próprias ( %) 26.3.2 De Terceiros ( %) 26.3.2.1 Privados ( %) 26.3.2.2 Público (FINEP,BNDES, SEBRAE, BB, etc.) ( %) 27. Sua empresa efetuou atividades de treinamento e capacitação de seus recursos humanos entre 2007 e 2009? Se Sim, com que freqüência? Freqüência Ocorrência Descrição mensal trimestral semestral Treinamento na empresa ( )1.Sim ( )2.Não Treinamento em cursos técnicos ( )1.Sim ( )2.Não realizados na região Treinamento em cursos técnicos fora da região ( )1.Sim ( )2.Não No Brasil ( )1.Sim ( )2.Não No Exterior Estágios em empresas fornecedoras ( )1.Sim ( )2.Não ou clientes Estágios em empresas do grupo ( )1.Sim ( )2.Não Contratação de técnicos/engenheiros ( )1.Sim ( )2.Não de outras empresas da região Contratação de técnicos/engenheiros ( )1.Sim ( )2.Não de empresas fora da região anual 186 Absorção de formandos dos cursos universitários localizados na região ou próximo Absorção de formandos dos cursos técnicos localizados na região ou próximo ( )1.Sim ( )2.Não ( )1.Sim ( )2.Não 28. Quais dos seguintes itens desempenharam um papel importante como fonte de informação para o aprendizado, entre 2007 e 2009? Favor marcar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Quanto à localização, utilizar 1 quando localizado nos municípios da região, 2 no Estado, 3 no Brasil, 4 no exterior. Grau de Importância Localização Fontes Internas Departamento de P&D ou Laboratório (0) (1) (2) (3) Área de produção (0) (1) (2) (3) Áreas de vendas e marketing, serviços de (0) (1) (2) (3) atendimento ao cliente Outros (especifique): (0) (1) (2) (3) Fontes Externas Outras empresas dentro do grupo (0) (1) (2) (3) (1) (2) (3) Empresas associadas (joint venture) (0) (1) (2) (3) (1) (2) (3) Fornecedores de insumos (equipamentos, (0) (1) (2) (3) (1) (2) (3) materiais) Clientes (0) (1) (2) (3) (1) (2) (3) Concorrentes (0) (1) (2) (3) (1) (2) (3) Outras empresas do Setor (0) (1) (2) (3) (1) (2) (3) Empresas de consultoria (0) (1) (2) (3) (1) (2) (3) Universidades e Outros Institutos de Pesquisa Universidades e Instituições de Ensino (0) Técnico e Profissionalizante Institutos de Pesquisa (0) Centros de capacitação profissional, de (0) assistência técnica e de manutenção Instituições de testes, ensaios e (0) certificações Outras Fontes de Informação Licenças, patentes e “know-how” Conferências, Seminários, Cursos Feiras, Exibições e Lojas Encontros de Lazer (Clubes, Restaurantes, etc) Associações empresariais locais (inclusive consórcios de exportações) Informações de rede baseadas na Internet ou computador Publicações especializadas (4) (4) (4) (4) (4) (4) (4) (1) (2) (3) (1) (2) (3) (4) (1) (2) (3) (1) (2) (3) (4) (1) (2) (3) (1) (2) (3) (4) (1) (2) (3) (1) (2) (3) (4) (0) (0) (0) (1) (1) (1) (2) (2) (2) (3) (3) (3) (1) (1) (1) (2) (2) (2) (3) (3) (3) (4) (4) (4) (0) (1) (2) (3) (1) (2) (3) (4) (0) (1) (2) (3) (1) (2) (3) (4) (0) (1) (2) (3) (1) (2) (3) (4) (0) (1) (2) (3) (1) (2) (3) (4) 29. Que tipos de informações sua empresa obteve a partir destas fontes. Favor marcar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Grau de importância Sobre a existência de novos produtos e processos (0) (1) (2) (3) Sobre possíveis melhorias de produtos/processos (0) (1) (2) (3) Sobre novos concorrentes (0) (1) (2) (3) Sobre consultores especializados (0) (1) (2) (3) Sobre novos fornecedores (0) (1) (2) (3) 187 Sobre novos parceiros potenciais Sobre oportunidades de negócios Sobre fontes de financiamento Sobre seminários, cursos de capacitação, feiras Outros (especificar): (0) (0) (0) (0) (0) (1) (1) (1) (1) (1) (2) (2) (2) (2) (2) (3) (3) (3) (3) (3) 30. Durante o período entre 2007 e 2009, sua empresa esteve envolvida em atividades cooperativas, formais ou informais, com outra(s) empresa ou organização? Sim ( ) 1. ( ) 2. Não 31. Em caso afirmativo, quais dos seguintes agentes desempenharam papel importante como parceiros, no período entre 2007 a 2009? Favor marcar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Indique a freqüência de ocorrência dos intercâmbios entre os agentes: 1 quando inexistente, 2 quando eventual e 3 quando regular. Quanto à localização utilizar 1 quando localizado nos municípios da região, 2 no Estado, 3 no Brasil, 4 no exterior. Agentes Importância Freqüência Outras empresas dentro do grupo (0) (1) (2) (3) (1) (2) (3) Empresas associadas (joint venture) (0) (1) (2) (3) (1) (2) (3) Fornecedores de insumos (equipamentos, (0) (1) (2) (3) (1) (2) (3) materiais, componentes e softwares) Clientes (0) (1) (2) (3) (1) (2) (3) Concorrentes (0) (1) (2) (3) (1) (2) (3) Outras empresas do setor (0) (1) (2) (3) (1) (2) (3) Empresas de consultoria (0) (1) (2) (3) (1) (2) (3) Universidades (0) (1) (2) (3) (1) (2) (3) Institutos de pesquisa (0) (1) (2) (3) (1) (2) (3) Centros de capacitação profissional de (0) (1) (2) (3) (1) (2) (3) assistência técnica e de manutenção Instituições de testes, ensaios e (0) (1) (2) (3) (1) (2) (3) certificações Representação (0) (1) (2) (3) (1) (2) (3) Entidades Sindicais (0) (1) (2) (3) (1) (2) (3) Órgãos de apoio e promoção (0) (1) (2) (3) (1) (2) (3) Agentes financeiros (0) (1) (2) (3) (1) (2) (3) Agentes Outras empresas dentro do grupo Empresas associadas (joint venture) Fornecedores de insumos (equipamentos, materiais, componentes e softwares) Clientes Concorrentes Outras empresas do setor Empresas de consultoria Universidades Institutos de pesquisa Centros de capacitação profissional de assistência técnica e de manutenção Instituições de testes, ensaios e certificações Representação Entidades Sindicais Órgãos de apoio e promoção Agentes financeiros (1) (1) Localização (2) (3) (2) (3) (4) (4) (1) (2) (3) (4) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (4) (4) (4) (4) (4) (4) (1) (2) (3) (4) (1) (1) (1) (1) (1) (2) (2) (2) (2) (2) (3) (3) (3) (3) (3) (4) (4) (4) (4) (4) 188 32. Identifique cinco principais parceiros, por ordem de importância, e aponte os motivos da escolha destes parceiros. 1. 2. 3. 4. 5 Confiança Reputação Qualificação (conhecimento técnico) Qualidade do serviço ou produto Proximidade física Estabilidade institucional/financeira Baixo custo Outro (especificar): 33. Em que áreas se deu a cooperação? Áreas Comercialização Compra de insumos Compra de tecnologia Capacitação Intercâmbio de pessoal Exportação / Participação em Feiras Internacionais P&D conjunto Teste e certificação Outras (especificar): 1. Sim (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) 2. Não (2) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (2) 34. E quais foram as formas de cooperação: Formas Contatos informais Joint ventures Consórcios Acordos Consultoria Subcontratação Outra (especificar): 1. Sim (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) 2. Não (2) (2) (2) (2) (2) (2) (2) 35. Considerando os cinco principais parceiros elencados, indique como vêm evoluindo as relações de colaboração com eles nos últimos três anos. Parceiros Evolução Forte Diminuição Estável Aumento Forte Diminuição Aumento 1. (1) (2) (3) (4) (5) 2. (1) (2) (3) (4) (5) 3. (1) (2) (3) (4) (5) 4. (1) (2) (3) (4) (5) 5. (1) (2) (3) (4) (5) 36. O que visavam as ações de cooperação, com agentes localizados nos municípios da região, realizadas no período entre 2007 e 2009? Favor marcar o grau de importância utilizando a 189 escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Descrição Grau de Importância Troca de informações (0) (1) (2) (3) Comprar insumos e equipamentos (0) (1) (2) (3) Vender conjuntamente produtos (0) (1) (2) (3) Desenvolver produtos e processos (0) (1) (2) (3) Desenvolvimento de embalagens (0) (1) (2) (3) Capacitar Recursos Humanos (0) (1) (2) (3) Obter financiamento (0) (1) (2) (3) Fazer Reivindicações (0) (1) (2) (3) Participar conjuntamente em feiras, etc (0) (1) (2) (3) Utilizar equipamentos em comum (0) (1) (2) (3) Testar e Certificar produtos (0) (1) (2) (3) Outras: especificar (0) (1) (2) (3) 37. Caso a empresa já tenha participado de alguma forma de cooperação com agentes locais, como avalia os resultados das ações conjuntas já realizadas. Favor marcar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Descrição Grau de Importância Melhoria na qualidade dos produtos (0) (1) (2) (3) Desenvolvimento de novos produtos (0) (1) (2) (3) Melhoria nos processos produtivos (0) (1) (2) (3) Melhoria nas condições de fornecimento dos produtos (0) (1) (2) (3) Melhor capacitação de recursos humanos (0) (1) (2) (3) Melhoria nas condições de comercialização (0) (1) (2) (3) Introdução de inovações organizacionais (0) (1) (2) (3) Oportunidades de novos negócios (0) (1) (2) (3) Promoção de nome/marca da empresa no mercado nacional (0) (1) (2) (3) Maior inserção da empresa no mercado externo (0) (1) (2) (3) Outras: especificar (0) (1) (2) (3) 38. Aponte as principais dificuldades para desenvolver ações de cooperação. Favor marcar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Descrição Grau de Importância Dificuldade de identificar parceiros (0) (1) (2) (3) Falta de parceiros com os requisitos desejados (0) (1) (2) (3) Ausência local de cultura de cooperação (0) (1) (2) (3) Falta de confiança (0) (1) (2) (3) Outros (especificar): (0) (1) (2) (3) IV – ESTRUTURA, GOVERNANÇA E VANTAGENS ASSOCIADAS AO AMBIENTE LOCAL 39. Avalie o grau de importância das externalidades associadas à localização da empresa na região? Favor marcar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Grau de Importância Infraestrutura disponível (física e de serviços) (0) (1) (2) (3) Disponibilidade de mão-de-obra (0) (1) (2) (3) Qualidade da mão-de-obra (0) (1) (2) (3) Custo da mão-de-obra (0) (1) (2) (3) 190 Existência de programas de apoio e promoção (0) (1) (2) (3) Proximidade com universidades e centros de pesquisa (0) (1) (2) (3) Proximidade com fornecedores de matérias-primas (0) (1) (2) (3) Proximidade com clientes/consumidores (0) (1) (2) (3) Proximidade com produtores de equipamentos (0) (1) (2) (3) Disponibilidade de serviços técnicos especializados (0) (1) (2) (3) Outros (especificar): (0) (1) (2) (3) 40. Qual a importância para a sua empresa das seguintes características da mão-de-obra local? Favor marcar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Características Escolaridade formal de 1º e 2º graus Escolaridade em nível superior e técnico Conhecimento prático e/ou técnico na produção Disciplina Flexibilidade Criatividade Capacidade para aprender novas qualificações Outros. Citar: Grau de importância (0) (0) (0) (0) (0) (0) (0) (0) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) 41. Como a sua empresa avalia a contribuição de sindicatos, associações, cooperativas locais no tocante às seguintes atividades: Favor marcar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Tipo de contribuição Grau de importância Auxílio na definição de objetivos comuns para o conjunto de atores localizados nos municípios da região Estímulo na percepção de visões de futuro para ação estratégica Disponibilização de informações sobre matérias-primas, equipamento, assistência técnica, consultoria, etc. Identificação de fontes e formas de financiamento Promoção de ações de cooperação entre empresas e instituições Apresentação de reivindicações comuns Criação de fóruns e ambientes para discussão Promoção de ações dirigidas à capacitação tecnológica de empresas Estímulo ao desenvolvimento do sistema de ensino e pesquisa local Organização de eventos técnicos e comerciais (0) (1) (2) (3) (0) (1) (2) (3) (0) (1) (2) (3) (0) (0) (0) (0) (0) (0) (0) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) 191 V – AÇÕES DE PROMOÇÃO 42. A empresa participa ou tem conhecimento sobre algum tipo de programa ou ações específicas para o segmento vitivinícola, promovido pelas diferentes esferas de governo e/ou instituições abaixo relacionados: Instituição 1. Não tem 2. Conhece, mas não 3. Conhece e participa conhecimento participa Instituições e associações (1) (2) (3) representativas Instituições de Ensino Superior, Técnico e (1) (2) (3) Tecnológico Instituições de Pesquisa (1) (2) (3) Instituições de Promoção (1) (2) (3) Setorial Outras Instituições (1) (2) (3) 43. Qual a sua avaliação dos programas ou ações específicas para o segmento vitivinícola, promovido pelas diferentes esferas de governo e/ou instituições abaixo relacionados: Instituição/esfera 1. Avaliação 2. Avaliação negativa 3. Sem elementos para governamental positiva avaliação Instituições e associações representativas Instituições de Ensino Superior, Técnico e Tecnológico Instituições de Pesquisa Instituições de Promoção Setorial Outras Instituições (1) (2) (3) (2) (1) (1) (1) (1) (3) (2) (2) (3) (2) (3) (3) 44. Quais políticas públicas poderiam contribuir para o aumento da eficiência competitiva das empresas localizadas nos municípios da região? Favor marcar o grau de importância utilizando a escala, onde 1 é baixa importância, 2 é média importância e 3 é alta importância. Coloque 0 se não for relevante para a sua empresa. Ações de Política Programas de capacitação profissional e treinamento técnico Melhorias na educação básica Programas de apoio a consultoria técnica Estímulos à oferta de serviços tecnológicos Programas de acesso à informação (produção, tecnologia, mercados, etc.) Linhas de crédito e outras formas de financiamento Incentivos fiscais Políticas de fundo de aval Programas de estímulo ao investimento (venture capital) Outras (especifique): 45. As atividades abaixo relacionadas estão associadas a que tipo de Instituição? 1 Tipo de contribuição Auxílio na definição de objetivos comuns para o conjunto de atores localizados nos municípios da região Estímulo na percepção de visões de futuro para ação estratégica Grau de importância (0) (0) (0) (0) (0) (0) (0) (0) (0) (0) 2 (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (2) 3 (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) 4 192 Disponibilização de informações sobre matérias-primas, equipamento, assistência técnica, consultoria, etc. Identificação de fontes e formas de financiamento Promoção de ações de cooperação entre empresas e instituições Apresentação de reivindicações comuns Criação de fóruns e ambientes para discussão Promoção de ações dirigidas à capacitação tecnológica de empresas Estímulo ao desenvolvimento do sistema de ensino e pesquisa local Organização de eventos técnicos e comerciais 1 – Instituições e associações representativas (Ex.: Ibravin, Uvibra, Agavi, Aprovale, etc.). 2 – Instituições de Ensino Superior, Técnico e Tecnológico (Ex.: IFRS, UCS etc.) 3 – Instituições de Pesquisa (Ex.: Embrapa) 4 – Instituições de Promoção Setorial (SEBRAE, APEX etc.). 46. Sua empresa mudaria as instalações produtivas para fora do APL vitivinícola da Serra Gaúcha, deixando de trabalhar neste APL? Sim ( ) 1. Não ( ) 2. 47. Se a resposta anterior for afirmativa, aponte quais os principais motivos para a saída do APL? Razões para Saída APL vinhos Outra região com custos de produção menores Outra região que ofereça incentivos fiscais Associação com outra empresa na nova região Acesso a Linhas de Crédito ou outras formas de financiamento Maior produtividade Maior acesso aos mercados internacionais Maior acesso ao mercado interno Outras (especifique): Grau de importância (0) (0) (0) (0) (0) (0) (0) (0) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (1) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (2) (2) 48. Em que instituição você percebe maior espaço para a promoção de atividades de cooperação no APL vitivinícola da Serra Gaúcha? (1) Instituições e associações representativas (Ex.: Ibravin, Uvibra, Agavi, Aprovale, etc.). (2) Instituições de Ensino Superior, Técnico e Tecnológico (Ex.: IFRS, UCS etc.) (3) Instituições de Pesquisa (Ex.: Embrapa) (4) Instituições de Promoção Setorial (SEBRAE, APEX etc.). (5) Outras. Qual________________________________________ (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) (3) 193 APÊNDICE B ROTEIRO DE ENTREVISTA COM INSTITUIÇÕES DO APL VITIVINÍCOLA 1) Breve histórico da organização; 2) Quais são os principais objetivos da organização; 3) Quais fatores são determinantes para as vinícolas da Serra gaúcha manterem sua capacidade competitiva; 4) Quais as principais inovações introduzidas nos últimos três anos (produto, processo e organizacional); 5) A organização tem servido como fonte de informação para o aprendizado das vinícolas? Como isso tem ocorrido? 6) Que tipo de atividades cooperativas a organização tem apoiado/participado nos últimos anos? 7) Quais são os principais parceiros da organização nessas atividades cooperativas? 8) Quais as principais dificuldades para o desenvolvimento de ações de cooperação no APL? 9) Quais políticas públicas poderiam contribuir para o aumento da competitividade das empresas do APL? 194 APÊNDICE C RELAÇÃO DE EMPRESAS ENTREVISTADAS 1) VINÍCOLA MIOLO LTDA 2) VINHOS SALTON S/A 3) VINÍCOLA CORDELIER LTDA 4) INDÚSTRIA DE VINHOS AUGUSTINI LTDA 5) INDÚSTRIA DE VINHOS SÃO LUIZ LTDA 6) COURMAYEUR DO BRASIL VINHOS LTDA 7) VINÍCOLA IRMÃOS BASSO LTDA 8) DON CANDIDO VINHOS FINOS LTDA 9) VINHOS MIORANZA LTDA 10) VINÍCOLA GALIOTTO LTDA 11) DAL PIZZOL VINHOS FINOS LTDA 12) ABEGÊ PARTICIPAÇÕES, BEBIDAS LTDA INDÚSTRIA 13) IRMÃOS MOLON LTDA 14) VINÍCOLA PERINI LTDA 15) CAVE MARSON LTDA 16) CAVE DE PEDRA WINERY LTDA 17) LIDIO CARRARO LTDA 18) PIZZATO VINHAS E VINHOS LTDA 19) VINÍCOLA DON MIGUEL LTDA 20) VALLONTANO VINHOS NOBRES LTDA E COMÉRCIO DE 195 APÊNDICE D INSTITUIÇÕES VISITADAS E PESQUISADAS 1) IBRAVIN – Instituto Brasileiro do Vinho 2) UVIBRA – União dos Vinicultores do Brasil 3) AGAVI – Associação Gaúcha dos Vinicultores 4) APROVALE – Associação dos Produtores do Vale dos Vinhedos 5) CAMPUS BENTO GONÇALVES DO IFRS 6) EMBRAPA UVA E VINHO 7) AVIGA – Associação dos Vinicultores de Garibaldi 8) APROBELO – Associação dos Produtores de Monte Belo do Sul 196 UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA NÍVEL MESTRADO AUTORIZAÇÃO Eu Cláudio Vinícius Silva Farias, CPF 901.364.540-20 autorizo o Programa de Mestrado em Economia da UNISINOS, a disponibilizar a Dissertação de minha autoria sob o título Aprendizado, Inovação e Cooperação: um estudo do segmento vinícola do arranjo produtivo da vitivinicultura da Serra Gaúcha, orientada pela professora doutora Ana Lúcia Tatsch, para: Consulta ( x ) Sim ( ) Não Empréstimo ( x ) Sim ( ) Não Reprodução: Parcial ( x ) Sim ( ) Não Total ( ) Sim ( x ) Não Divulgar e disponibilizar na Internet gratuitamente, sem ressarcimento dos direitos autorais, o texto integral da minha Dissertação citada acima, no site do Programa, para fins de leitura e/ou impressão pela Internet Parcial ( x ) Sim ( ) Não Total ( ) Não ( x ) Sim Em caso afirmativo, especifique: Sumário: ( x ) Sim ( ) Não Resumo: ( x ) Sim ( ) Não Capítulos: ( x ) Sim ( ) Não Quais: Todos Bibliografia: ( x ) Sim Anexos: ( x ) Sim ( ) Não ( ) Não São Leopoldo, 17/05/2010 Assinatura do Autor Visto da Orientadora