Desafios na definição da Base de Remuneração de Ativos Diretor-Geral Jerson Kelman Diretores Isaac Averbuch Jaconias Aguiar Textos para discussão Esta publicação tem o objetivo de divulgar estudos e trabalhos desenvolvidos por servidores e colaboradores da ANEEL. As opiniões emitidas são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista da Agência Nacional de Energia Elétrica. Textos para Discussão - III Desafios na definição da Base de Remuneração de Ativos Francisco L.S. Gomide Brasília 2005 Agência Nacional de Energia Elétrica Endereço: SGAN 603 Módulos I e J Brasília - DF CEP: 70830-030 Fone: (61) 2192 8600 Autor Francisco L.S Gomide Professor titular da Universidade Federal do Paraná Sugestões: [email protected] CIP. Brasil. Catalogação-na-Publicação Centro de Documentação – CEDOC G633d Gomide, Francisco L. S. Desafios na definição da base de remuneração de ativos / Francisco L. S. Gomide. – Brasília : ANEEL, 2005. 20 p. : il. (Textos para discussão ; 3) 1. Tarifa elétrica - Brasil. 2. Revisão tarifária. 3. Custo de serviço. 4. Concessionária. I. Agência Nacional de Energia Elétrica. II. Título. III. Série. CDU: 338.516.46:621.31(81) © ANEEL 2005 Apresentação Um dos principais desafios da regulação é lograr a emissão de sinais econômicos direcionados aos agentes do setor para que, em busca da maximização dos lucros, eles contribuam para a modicidade tarifária. Obtive essa percepção logo no início de minha gestão na Aneel, ainda no primeiro trimestre de 2005. Esse desafio parece contraditório, mas não é, como bem demonstra o ex-ministro Francisco Gomide nesta notável contribuição à metodologia para avaliação da base de remuneração de empresas de distribuição. Devo confessar que abusei de minha fraternal amizade de mais de três décadas com o autor para interessá-lo por tema tão árido. Gomide é um dos mais completos e preparados profissionais do setor elétrico e acadêmico. Obteve o doutoramento na Colorado State University, é professor titular da Universidade Federal do Paraná, foi presidente da COPEL, Itaipu, Escelsa e Enersul e, como mencionado, ministro de Minas e Energia. É muito difícil achar alguém tão preparado para, além de conseguir resolver problemas complexos, saber enunciá-los com tamanha precisão. Jerson Kelman Diretor-Geral Sumário Introdução 01 Avaliação de ativos: Abordagem da Contabilidade 02 Avaliação de ativos: Abordagem do Regulador 03 Estudos recentes sobre base de remuneração de ativos em serviço 05 Nova abordagem proposta 09 Cuidados com a homogeneidade dos dados e com o modelo de regressão 13 Uma simplificação para a nova abordagem proposta 15 Conclusões 19 Bibliografia 20 Introdução Os Contratos de Concessão do Serviço Público de Distribuição de Energia Elétrica no Brasil estabelecem que as tarifas de fornecimento sejam corrigidas anualmente, mediante a aplicação de uma fórmula específica, que considera a inflação ocorrida nos últimos doze meses. Estabelecem também que as tarifas sejam revisadas, de tempos em tempos, de forma a preservar o equilíbrio econômico financeiro da Concessão. O intervalo entre revisões pode variar de empresa para empresa, mas geralmente é de quatro anos. É preciso levar em conta que a metodologia a ser aplicada no processo de revisão tarifária periódica não é especificada nos Contratos de Concessão. Eles apenas mencionam que, nesse processo, a Agência Reguladora - Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL - deve considerar, além da estrutura de custos e de mercado da concessionária, os níveis de tarifas observados em empresas similares no contexto nacional e internacional e os estímulos à eficiência e à modicidade das tarifas. No contexto da revisão tarifária periódica, especial importância deve ser conferida à definição da base de remuneração dos ativos em serviço, tema deste trabalho. Trata-se de avaliar o valor do investimento sobre o qual os investidores podem auferir uma determinada taxa de retorno, e de definir os critérios de depreciação que devem ser aplicados. É preciso levar em conta que a metodologia a ser aplicada no processo de revisão tarifária periódica não é especificada nos Contratos de Concessão. Eles apenas mencionam que, nesse processo, a Agência Reguladora deve considerar, além da estrutura de custos e de mercado da concessionária, os níveis de tarifas observados em empresas similares no contexto nacional e internacional e os estímulos à eficiência e à modicidade das tarifas. 1 Avaliação de ativos: Abordagem da Contabilidade 2 Para facilitar a discussão do tema, aqui se transcrevem conceitos básicos de Contabilidade Financeira, da lavra de Stickney & Weil (2001). Um ativo de uma empresa é um recurso cujo direito de uso ela possui, com vistas à obtenção de benefícios econômicos futuros. A cada ativo da empresa deve ser atribuído um valor monetário, e para tanto, vários méto- dos podem ser utilizados: Custo Histórico - É a quantia paga no evento da aquisição do ativo, acrescida das despesas para sua colocação em serviço. É verificável em documentos como contratos, faturas, cheques etc. Do ponto de vista dos investidores, constitui um piso (limite inferior) para o valor dos benefícios futuros que o ativo deverá trazer para a empresa. Custo de Reposição - É a quantia que seria paga caso fosse necessário substituir o ativo. Devido à inexistência de um mercado organizado de ativos usados, é necessário adotar o preço de um ativo novo, afetado por um redutor. Por outro lado, devido às evoluções tecnológicas, nem sempre o mesmo ativo é encontrado, e escolher um ativo “semelhante” ou “que preste serviços semelhantes” introduz subjetividade e pode conduzir a valores muito díspares. Valor Realizável Líquido - É a quantia que a empresa receberia se vendesse cada ativo separadamente. Novamente, a inexistência de um mercado organizado de ativos usados dificulta em muito a avaliação. Além disso, muito provavelmente o preço de venda (valor de troca) seria inferior ao valor dos benefícios futuros que o ativo traria para a empresa (valor de uso). Valor Presente do Fluxo de Caixa Futuro Líquido - Como um ativo representa um recurso que trará benefícios futuros para a empresa, faz sen- tido calcular o valor presente desses benefícios. No entanto, essa estimação envolve vários problemas, como a incerteza a respeito dos valores do fluxo de caixa futuro e a dificuldade de alocação do fluxo total resultante da venda de um produto a todos os ativos envolvidos no processo comercial. Avaliação de ativos: Abordagem do Regulador O propósito desta discussão é fato de a remuneração do capital (e o ressaltar as diferenças entre as abor- seu volume) ser parte da tarifa - que dagens da Contabilidade e do Regu- se deseja módica. O conflito é apenas lador. O estabelecimento de “prin- aparente, se for levado em consideracípios contábeis ção que a continuiaceitáveis em gedade e a expansão ral” tem por objedos serviços presO Regulador tem por objetivo facilitar a leitados é também do tivo estabelecer tarifas justura e compreensão mais alto interesse tas, procurando o delicado das demonstrações dos consumidores. equilíbrio entre os interesfinanceiras por um As diferenças grande número de entre alguns conses aparentemente confliusuários com obceitos da Contabitantes dos consumidores e jetivos diversos, lidade e as necessiinvestidores. dades do Regulador como acionistas, ficam claras quantrabalhadores, do se considera, clientes, eventuais competidores, autoridades regulado- por exemplo, o Valor Presente do ras, autoridades tributárias etc. Fluxo de Caixa Futuro Líquido. É Já o Regulador tem por objetivo um conceito interessante do ponto estabelecer tarifas justas, procurando de vista da Contabilidade Financeira o delicado equilíbrio entre os interes- e constitui critério consagrado para ses aparentemente conflitantes dos avaliação de ativos em processos de consumidores - que desejam serviço fusão e de aquisição. Para o Regude qualidade com tarifas módicas lador, no entanto, é conceito inapro- e dos investidores - que desejam a veitável, uma vez que a tarifa justa remuneração do capital de forma a – a incógnita – teria de ser fornecida manter o seu interesse na continuida- como dado de entrada para se obter de e na expansão dos serviços pres- o fluxo de caixa futuro que, por sua tados. vez, possibilitaria a determinação... O aparente conflito decorre do dela mesmo, a tarifa! 3 Já o Valor Realizável Líquido, além de difícil determinação, deve certamente ser rejeitado pelo Regulador. Caso contrário, imputará ao investidor uma perda injustificável, medida pela diferença entre o “valor de uso” e o “valor de troca”. Fica o Regulador, portanto, limitado à avaliação de ativos com base em custos, sejam eles “históricos” ou “de reposição”. Os primeiros são inúteis, a não ser que sejam corrigidos pela inflação. Os segundos são difíceis de determinar, e podem ser seriamente contaminados pelos efeitos da evolução tecnológica. Em ambos os casos, há de se definir o tratamento a ser dado à depreciação. O Regulador pode ficar tentado a adotar o custo de reposição. Mas ele tende a ser menor que o custo histórico devido a inovações tecnológicas. Isso certamente desestimula os investidores. Há quem argumente que seriam valores compatíveis com o custo que um novo participante no mercado teria para instalar redes e prestar serviços similares aos da empresa regulada. O problema é que o tal novo participante seria, na verdade, um competidor, figura impossível pela definição de monopólio natural...! É forçoso reconhecer que, por questões também de segurança jurídica, é indispensável o apoio dos dados reais históricos. Na verdade, os custos históricos foram “aceitos” pela ANEEL e pelo seu antecessor, 4 o Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica – DNAEE, à medida que os ativos foram objeto de prestação mensal e anual de contas ao longo dos anos. Por isso, todo o esforço deve ser aplicado para a determinação da somatória dos custos históricos, devidamente corrigida por índice apropriado que reflita a inflação (de maneira geral) e, a seguir, depreciada pelas regras da própria ANEEL. Trata-se de trabalho normal e rotineiro para empresas de auditoria independente, que podem se socorrer de empresas de consultoria em engenharia para eventuais inspeções. Chamemos o resultado de ativo bruto real corrigido (ABRC) e, subtraindo a depreciação acumu- Há quem argumente que seriam valores compatíveis com o custo que um novo participante no mercado teria para instalar redes e prestar serviços similares aos da empresa regulada. O problema é que o tal novo participante seria, na verdade, um competidor, figura impossível pela definição de monopólio natural...! lada dos ativos corrigidos, de ativo líquido real corrigido (ALRC). Trata-se da melhor estimativa da realidade, nua e crua. Adiante neste trabalho, será apresentada uma sugestão de como, a partir desse resultado, o Regulador poderá atuar em busca da modicidade tarifária. Estudos recentes sobre base de remuneração de ativos em serviço Em 2002, superado o traumático racionamento de eletricidade, um grande esforço foi feito para identificar todas as chamadas lacunas de regulação. Naturalmente, uma das mais evidentes foi a falta de metodologia consolidada (e aceita) para a definição da base de remuneração. Na época, a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica – ABRADEE, lembrando que pratica- A metodologia proposta pela ANEEL foi adotada oficialmente, a despeito das objeções das concessionárias de distribuição de energia elétrica. A razão das objeções decorre da tendência de o valor obtido com base em custos de reposição ser menor que o obtido com base em custos históricos. mente 2/3 do segmento de distribuição de eletricidade havia sido privatizado, argumentou que o valor inicial da base de remuneração deveria ser o preço mínimo estabelecido no edital de cada leilão de privatização, já que ele era do conhecimento da ANEEL, ou do seu antecessor, o DNAEE. Aumentando a relevância do tema na época, é bom lembrar que, até então, apenas uma concessionária (a Espírito Santo Centrais Elétricas S.A. - ESCELSA) havia sofrido revisões tarifárias – e por duas vezes. As demais concessionárias passariam por esse processo nos anos de 2003, 2004 e 2005. Ainda em 2002, a ANEEL descartou a idéia de utilização do preço mínimo do edital de privatização argumentando que eles foram determinados pelos antigos controladores, com diferentes metodologias, e que, além do mais, nem todas as distribuidoras haviam sido privatizadas - e apresentou, em audiência pública, a sua proposta de avaliação da base de remuneração a partir de custos de reposição, depreciados pelas regras vigentes. 5 6 Na seqüência da audiência pública, a metodologia proposta pela ANEEL (ver Gonçalves e Rufino, 2002) foi adotada oficialmente, a despeito das objeções das concessionárias de distribuição de energia elétrica. A razão das objeções decorre da tendência de o valor obtido com base em custos de reposição ser menor que o obtido com base em custos históricos. Este, por sua vez, tende a ser menor que o preço mínimo do edital de privatização. Além de se basear em custos de reposição, na metodologia adotada oficialmente expurgam-se da base de remuneração as parcelas subutilizadas dos ativos das empresas concessionárias. Interessado em continuar apoiando o Setor Elétrico Brasileiro, o Banco Mundial, com recursos próprios e do Public-Private Infrastructure Advisory Facility – PPIAF, ofereceu ao Governo Brasileiro estudos que comentariam as dificuldades brasileiras de regulamentação, no contexto da experiência internacional. O oferecimento foi aceito, e com referência à questão de definição da base de remuneração, foram preparados três trabalhos (Byatt, 2002; Jadresic, 2002; Foster & Antmann, 2004). Da leitura desses trabalhos, além da complexidade do assunto, percebe-se que, de uma maneira ou de outra, todos os países comentados enfrentaram dificuldades similares às do Brasil. Não se encontram argumentos contundentes para rejeitar nem para recomendar fortemente as metodologias analisadas por esses trabalhos. A metodologia adotada pela ANEEL é defensável. A sugerida pela ABRADEE, também. Na verdade, enquanto Jadresic (2002) preferiu apresentar uma metodologia específica, baseada na idéia de uma “companhia modelo”, comparando-a apenas com o procedimento adotado oficialmente pela ANEEL, Byatt (2002) e Foster & Antmann (2004) optaram por comentar as metodologias utiliza- à base de remuneração, manifestandas em diversos países (inclusive do-se inclusive sobre eventuais para apresentada por Jadresic), sem celas subutilizadas desses elementos? deixar de discutir especificamen- Poucos responderiam que sim. te as abordagens da ANEEL e da Enfim, descartada a sugestão da ABRADEE. ABRADEE, a adoCumpre menção pela ANEEL de uma metodocionar, para faciEmpresa modelo é o resultalitar a comparação logia baseada em do de um projeto ótimo, elaque será apresencustos de repositada mais adiante, ção tem lá a sua lóborado “a posteriori”, com a gica. Mesmo que que, nesses trabamelhor tecnologia, utilizando afetado por inovalhos, a metodomateriais e equipamentos mologia descrita por ções tecnológicas e dernos , com vistas a atender Jadresic (2002) é expurgos das parexatamente o mesmo mercado chamada de VNRcelas subutilizadas EM (Valor Nuevo dos ativos, o resulda concessionária real. de Reemplazo – tado fica em uma Empresa Modelo) posição intermediária entre o eventue que a metodologia adotada pela ANEEL é chamada al exagero dos custos históricos corde DORC (Depreciated Optimized rigidos e a inaplicável eficiência do constructo teórico representado pela Replacement Cost). Por oportuno, ressalte-se que, empresa modelo. Há pelo menos quatro causas mesmo que tivesse sido acatada a sugestão da ABRADEE de se adotar o para o eventual exagero dos custos valor mínimo do edital de privatiza- históricos: preços de aquisição evenção como valor inicial para a base de tualmente superiores ao do mercado remuneração, o que seria consistente da época, obsolescência tecnológicom a letra e com o espírito da legis- ca, falta de otimização dos projetos lação (o artigo nono da Lei 8.987/95 de expansão e excesso de “folgas” reza que a tarifa “será fixada pelo no sistema de distribuição. Por outro preço da proposta vencedora da li- lado, é fácil concluir que a eficiêncitação”...), ainda restaria a questão cia da empresa modelo é inatingível de como tratar os investimentos adi- no curto prazo, por definição. Basta cionais feitos nos anos subseqüentes. convencionar, para os propósitos desTeria a ANEEL condições de, “pari te trabalho, que empresa modelo é o passu” com a efetiva entrada em ser- resultado de um projeto ótimo, elaboviço de cada novo elemento do ativo, rado “a posteriori”, com a melhor tecjá ir decidindo sobre quanto acrescer nologia, utilizando materiais e equi7 pamentos modernos (isto é, não necessariamente disponíveis na época da imobilização), com vistas a atender exatamente o mesmo mercado da concessionária real. Persistem, no entanto, dois problemas sérios. Primeiro: o enorme desgaste da equipe da ANEEL para discutir elemento por elemento do ativo com vistas a expurgar eventuais parcelas subutilizadas e eliminar “folgas excessivas”. Se não é uma tarefa fácil para executar “pari passu” com a imobilização, como acreditar que é tarefa viável no contexto da revisão periódica? Segundo: “não parece justo que decisões de investimento, corretas na época da imobilização, transformem-se em prejuízo por decisão do Regulador”, o que ocorre quando se adotam custos de reposição para itens afetados por inovações tecnológicas. A propósito, a assertiva está entre aspas por tratar-se de tradução (livre) de um veredicto da Suprema Corte da Austrália, relatado por Foster & Antmann (2004). A esta altura, é importante ressaltar que a idéia de uma empresa modelo - repetindo: modelo que seria projetado “a posteriori”, de forma otimizada, com a melhor tecnologia, utilizando materiais e equipamentos modernos, para atender exatamente o mesmo mercado da concessionária real - é extremamente interessante. Adiante neste trabalho, será 8 “Não parece justo que decisões de investimento, corretas na época da imobilização, transformem-se em prejuízo por decisão do Regulador ”, o que ocorre quando se adotam custos de reposição para itens afetados por inovações tecnológicas. apresentada uma sugestão para adotar esse conceito de empresa modelo como uma espécie de piso para a base de remuneração. Por enquanto, basta estabelecer que este trabalho estará, daqui em diante, restringindo a discussão a três tipos de custos para a estimação da base de remuneração de ativos em serviço: custos históricos (corrigidos pela inflação, naturalmente), custos de reposição (com ganhos tecnológicos) e custos eficientes equivalentes (custos de reposição referentes à chamada empresa modelo). Nova abordagem proposta Imagine que o Regulador invista no projeto de uma empresa modelo para cada concessionária real existente. Obterá como resultado um ativo bruto da empresa equivalente (ABEE) para comparar com cada ativo bruto real corrigido (ABRC), descrito anteriormente. Denotando o primeiro por Z e o último por Y, verifica-se que finalmente o Regulador terá condições de comparar estatisticamente todas as concessionárias, por mais distintas que sejam, pela análise da regressão de Y|Z (leia-se “Y dado Z”). Y é tratada como variável dependente e locada no eixo das ordenadas; Z é tratada como variável independente e locada no eixo das abscissas. Para trabalhar com apenas um parâmetro, é de todo conveniente – e teoricamente justifica- do – impor que a reta de regressão contenha a origem do sistema de eixos cartesianos (isto é, Y=0, para Z=0). O conceito de empresa modelo desempenha o importantíssimo papel de capturar todas as distinções entre concessionárias que são justificáveis pelas diferenças de tipologia de carga e de topologia dos respectivos mercados. Assim, as dispersões em torno da regressão Y|Z só podem ser atribuídas à maior ou menor eficiência específica do investimento de cada concessionária, pois todas as particularidades que justificam maior ou menor valor dos ativos em serviço já terão sido captadas pela “variável independente” Z. As causas da diferença de eficiência específica do investimento de uma concessionária em relação às outras têm a ver com os preços 9 pagos pelos elementos do ativo por o eventual exagero desses custos: ocasião da imobilização – se foram implicitamente definiriam preços acima ou abaixo dos preços nor- de aquisição médios de mercado, mais de mercado – bem como com bem como níveis razoáveis das o grau de otimização dos diversos inevitáveis “folgas” e falta de otiprojetos de expansão das redes e mização dos projetos. E não ataca a com a adoção única das quatro – ou não – de folcausas que não gas maiores que deve mesmo ser A razão para premiar as mais as razoáveis nesatacada: a obsoeficientes é evidente: continuses projetos. lescência tecnoar “puxando” os preços dos lógica. Assim, Assim senao mesmo temdo, os valores ativos incrementais para baiajustados da reta po em que auxo. No longo prazo, é melhor tomaticamente de regressão Y|Z estratégia para os objetivos substitui o desconstituem um de modicidade tarifária do gastante esforço conjunto mais que o imediatismo de transfeda ANEEL na adequado de “barir desde logo os ganhos para tarefa de identises de remuneração” que os próficação das “folo consumidor. prios valores de gas” e parcelas Y, punindo-se as subutilizadas concessionárias dos ativos, não menos eficientes - quando o resíduo comete o erro de punir o investi(Y-Y|Z) é positivo – e premiando- dor no que diz respeito a inovações se as concessionárias mais eficien- tecnológicas. O método só não seria eficaz tes – quando o resíduo é negativo. A razão para premiar as mais se todas as concessionárias fossem eficientes é evidente: continuar igualmente ineficientes. Por isso é “puxando” os preços dos ativos importante incentivar as mais efiincrementais para baixo. No longo cientes, de forma que, ao procuraprazo, é melhor estratégia para os rem o melhor resultado para os seus objetivos de modicidade tarifária acionistas, estejam automaticamendo que o imediatismo de transferi- te trabalhando para o benefício dos rem-se desde logo os ganhos para o clientes das demais concessionárias consumidor. e, portanto, em benefício do inteO interessante é que esse ajus- resse público. tamento, baseado em custos hisResta comentar o que pode ser tóricos corrigidos pela inflação, chamado de ineficiência comum a ataca três das quatro causas para todos os investimentos das conces10 sionárias, ou ineficiência sistêmica dos investimentos, graficamente interpretada como a diferença de inclinação entre a reta de regressão Y|Z passante pela origem e uma reta com inclinação de 45 graus. É claro que os valores de Y devem estar acima da reta de 45 graus que divide o primeiro quadrante do sistema de eixos cartesianos, pois por definição a empresa modelo tem o investimento mais eficiente possível. Apenas para ilustração, a figura 1 apresenta o gráfico correspondente a um exemplo numérico hipotético. Na prática, a eficiência da empresa modelo é inatingível por três boas razões: a primeira, porque os Figura 1 11 preços históricos refletidos por Y correspondem a elementos de ativos com a tecnologia da época das respectivas imobilizações; a segunda, porque sempre existe alguma folga em projetos de sistemas em expansão; a terceira, porque é impossível otimizar projetos de sistemas em expansão devido ao desconhecimento do futuro – qual cidade crescerá mais nos próximos anos, quais novos bairros surgirão em cada cidade, etc. É bom lembrar que o projeto da empresa modelo é otimizado sem folgas e com materiais e equipamentos tecnologicamente modernos. No entanto, faz todo o sentido remover a ineficiência sistêmica ao longo do tempo, em um período compatível com a vida útil média dos ativos de distribuição. Por exemplo, em 20 anos, a maior parte dos ativos mais antigos será formada pelo que hoje é moderno, e o processo de crescimento das áreas atendidas terá possibilitado a otimi12 zação do subconjunto da concessionária do futuro que é formado pela concessionária de hoje. Em resumo, pretende-se aqui, como na metodologia atual (DORC), procurar uma posição intermediária entre o eventual exagero dos custos históricos corrigidos e a inaplicável, de imediato, eficiência da empresa modelo. Isso é feito em dois passos, no momento da revisão tarifária periódica. O primeiro é obtido substituindo Y pelo valor ajustado na regressão de Y|Z. Já o segundo passo é a multiplicação do valor ajustado por um coeficiente, de forma a reduzir uma pequena parte da diferença entre Y|Z e Z. Em cada um dos anos seguintes, entre duas revisões tarifárias sucessivas, novamente o mesmo redutor seria aplicado. É fácil concluir que, se a decisão do Regulador for eliminar, em tese, a ineficiência sistêmica em n anos, o redutor deve ser igual à raiz enésima da razão entre Z e Y|Z. Cuidados com a homogeneidade dos dados e com o modelo de regressão Apesar da importância da determinação da base de remuneração no processo de revisão tarifária periódica, ela é apenas uma dentre diversas questões: há que se discutir também a taxa de remuneração propriamente dita e o custo admissível para o serviço prestado, composto por despesas com pessoal, material, serviços de terceiros, aluguéis etc. É importante reconhecer que essas diversas questões relacionamse entre si, exigindo cuidados especiais para garantir-se a consistência dos procedimentos. Por exemplo, algumas empresas alugam prédios para seus escritórios e agências, enquanto outras utilizam imóveis de sua propriedade. No primeiro caso, aparecem despesas de aluguel no custo do serviço, mas em compensação, a base de remuneração é menor devido à inexistência de imóveis próprios. No segundo caso, dá-se o contrário. É claro que há necessidade de homogeneização dos dados antes de elaborarem-se os estudos de regressão. É absolutamente crucial que as comparações sejam entre grandezas efetivamente comparáveis. No exemplo acima, todas as despesas autorizadas com aluguéis devem ser convertidas em parcelas virtuais dos ativos Y das concessionárias, simplesmente dividindo seus valores numéricos pela taxa de remuneração apropriada. Outro cuidado tem a ver com o modelo de regressão a ser adotado. Pode se estimar o único parâmetro da reta de regressão pelo método dos mínimos quadrados aplicado aos pa13 res de valores (Z;Y), ou aos seus logaritmos (ver figura 2). A segunda opção é mais adequada, uma vez que as concessionárias são de tamanhos muito diferentes - uma concessionária com cinco milhões de consumidores pode ter uma base de remuneração cem vezes maior que outra, com cinqüenta mil consumidores. Quando se aplica o método dos mínimos quadrados (convencional, isto é, não ponderado) para a esti- mação de parâmetros em estudos de regressão, assume-se implicitamente a homoscedasticidade dos resíduos. Isto é, assume-se que os resíduos têm desvio padrão constante, o que é pouco provável quando os dados podem diferir por várias ordens de grandeza. Por outro lado, trabalhar com os logaritmos dos pares (Z;Y) equivale a assumir como constante o coeficiente de variação dos valores originais, em torno da reta de regressão, o que é de todo razoável. Regressão Linear Simples Monômia Se o modelo é Y=α.X+ å Então α é estimado por ? xy / ? xx Se o modelo é Y=α.X.Ψ Sendo equivalente a log Y = log α + log X + ξ Então log α é estimado por ( ? log y - ? log x ) / n Figura 2 Finalmente, resta ressaltar que a comparação é feita, o tempo todo, entre ativos brutos, seja das concessionárias reais ou das empresas modelo. Uma vez escolhida a base de remuneração que será, ao final, ado14 tada, resta adaptar os resultados para que sejam obtidos os correspondentes valores líquidos da depreciação. Para tanto, basta manter a proporcionalidade entre o ativo bruto real corrigido (ABRC) e o ativo líquido real corrigido (ALRC), explicados anteriormente. É sobre os ativos líquidos que incide a taxa de remuneração. Já a depreciação anual é despesa imputada ao custo admissível do serviço prestado. O critério tradicionalmente adotado para a depreciação é o da chamada “linha reta”, isto é, depreciação anual constante ao longo da vida útil de cada elemento (ou grupo de elementos) do ativo. No entanto, nada impede que se adote outro critério para a depreciação. Jadresic (2002), por exemplo, ao expor o método VNR-EM, preferiu adotar taxas de depreciação geometricamente crescentes, de forma tal que a soma da remuneração anual do ativo líquido com a parcela anual da depreciação seja constante ao longo da vida útil do ativo (como na chamada Tabela Price). Assim, a despesa anual de capital, representada pela soma da depreciação com a remuneração do investimento líquido, é mais bem dis- tribuída entre os atuais e os futuros consumidores: é constante, ao invés de começar mais alto e ir decrescendo ao longo dos anos. Um exemplo numérico: um ativo de valor 100 u.m. (unidades monetárias), com vida útil de 20 anos e taxa anual de remuneração de 10%, teria, pelo método de depreciação linear, um custo de 15 u.m. no primeiro ano e de 5,5 u.m. no vigésimo ano, ao passo que, pela Tabela Price, teria o custo constante de 11,746 u.m em todos os 20 anos. Evidentemente, o valor presente é de 100 u.m., em ambas as situações. Enfim, o critério adotado para a depreciação não tira a generalidade dos conceitos expostos neste trabalho. Mas é importante que não se confunda o conceito de depreciação com o de despesas com manutenção. O mérito da Tabela Price é aliviar os consumidores atuais, transferindo encargos para os consumidores futuros, e não o de providenciar recursos para eventuais aumentos das despesas de manutenção. Uma simplificação para a nova abordagem proposta A abordagem proposta é inovadora também por propiciar a comparação indireta dos níveis de tarifas observados em empresas similares como sugerido nos Contratos de Concessão. Isso é conseguido por meio das comparações dos valores de Y, não entre si, mas com os seus respectivos Z. No entanto, para determinar os valores de Z, é necessário projetar uma empresa modelo para cada concessionária real, o que pode ser excessivamente caro. Para contornar esse inconveniente, podem ser desenvolvidas técnicas simplificadas que estimem o valor 15 16 de um núcleo relevante da empresa modelo, que será aqui chamado de núcleo do ativo bruto equivalente (NABE) e denotado por X. A idéia é que, na falta de Z, trabalhe-se com a regressão Y|X. O importante é que X – por mais imperfeito que seja como estimador de Z – também capture, como Z, e transforme em valores monetários a parte relevante das particularidades da concessionária que se pretende modelar. Em outras palavras, com base no menor número possível de características de cada concessionária, projeta-se o núcleo do que seria uma empresa equivalente, de forma que, se X for “grande” (ou “pequeno”) devido às particularidades do mercado em questão, justifica-se que Y também seja “grande” (ou “pequeno”). Teoricamente, para se projetar a empresa equivalente bastaria conhecer, para cada consumidor: sua classe e localização geográfica, a demanda solicitada, a energia consumida e a tensão de atendimento. Em termos ideais, nenhum dado físico dos ativos reais em serviço deveria ser utilizado para o projeto da empresa equivalente. Para se evitar o gasto com projetos completos de empresas equivalentes, sugere-se que se projete apenas o seu “núcleo relevante”. Também para isto bastariam os da- dos de cada consumidor mencionados anteriormente, e idealmente não seriam utilizados dados físicos dos ativos reais. No entanto, para simplificar mais ainda, sugere-se a substituição de todas as informações individuais dos consumidores por um conjunto mínimo de informações em bloco, incluindo algo dos dados físicos dos ativos reais. Chamemos de estatísticas suficientes esse conjunto mínimo de informações. O detalhamento das idéias aqui expostas certamente surgirá por ocasião do desenvolvimento de um estu- do piloto, que é, aliás, indispensável. Admitindo que o número de aliMas, para os objetivos deste trabalho, mentadores seja mil vezes menor que basta imaginar um núcleo relevante o número total de consumidores, a da rede de conexão (consistente com tarefa de encontrar o X de cada conos ativos da Rede Básica que servem cessionária é bem mais barata que a tarefa de deterà região), calculado em termos minar o seu Z. monetários. A Os dois conceitos base para o cálcusão similares, pois A divulgação do algoritmo evenlo deve ser apeambos tratam de captar as particunas o comprimentualmente escolhido, constituiria to das linhas reais laridades da topoimportante instrumento para em tensões de 69 logia do mercado os Conselhos de Administração KV e 138 KV e o e da tipologia da analisarem as propostas de nonúmero de subescarga das concesvos investimentos das concessiotações, considesionárias reais. nárias, na medida em que posrando a potência Dessa forma, deve total de transhaver uma boa sibilitaria a antevisão do nível formação necescorrelação entre os de investimento que seria, no sária, em MVA. conceitos de mafuturo, provavelmente reconheEsse cálculo deve neira que se forem cido pelo Regulador, para efeito ser complementaconhecidos todos de remuneração do capital. do por um núcleo os X, de todas as relevante da rede concessionárias, de distribuição, os seus Z possam considerado em ser obtidos por termos monetácorrelação. Para rios para cada alimentador, com base isso, basta considerar um pequeno apenas no comprimento da rede pri- número de concessionárias para as mária, em 13,8 e 34,5 kV, no núme- quais se tenha investido no cálculo, ro de consumidores em cada uma de certamente bem mais caro, do valor quatro classes e no consumo médio do ativo bruto da empresa equivade energia e potência dos transforma- lente (ABEE). Assim, duas equações dores de distribuição. de regressão podem ser obtidas: Y = Assim, o número de estatísticas α.X e Z = β.X. Indiretamente, chegasuficientes seria igual a (3 + 10m + se a Y = (α / β).Z. r), em que m é o número de alimentaÉ importante ressaltar que a exdores da empresa real e r é o número periência indica que o resultado de de ligações em alta tensão, que devem métodos como os aqui expostos tende ser consideradas individualmente. a ser robusto, isto é, mesmo que va17 riem os algoritmos (desde que lógicos e racionais) que convertem as estatísticas suficientes em valores de X , e mesmo que se adotem outros conjuntos de estatísticas suficientes (desde que também lógicos e racionais), os valores ajustados (α.X) não mudam muito. Outros pesquisadores usariam outros algoritmos e outras estatísticas chegando a um valor diferente para X (digamos, X’), mas o ajustamento aos dados reais dos Y produziria outro coeficiente de regressão que não α (digamos, α’) de tal sorte que α’.X’ seria parecido com α.X. Em outras palavras, qualquer que seja o algoritmo e o conjunto de esta- tísticas adotado pelo Regulador (desde que razoável, lógico e racional) para o cálculo de X, o procedimento estará dentro do poder discricionário que caracteriza a regulação. Mas é crucial que, uma vez escolhidos o algoritmo e o conjunto de estatísticas, eles não mudem de concessionária para concessionária. A propósito, a divulgação do algoritmo eventualmente escolhido constituiria importante instrumento para os Conselhos de Administração analisarem as propostas de novos investimentos das concessionárias, na medida em que possibilitaria a antevisão do nível de investimento que COMPARAÇÃO DAS ABORDAGENS ALTERNATIVAS DE AVALIAÇÃO DA BASE DE REMUNERAÇÃO ALFA X Origem dos Ativos Preços dos Ativos DORC VNR-EM Ativos da empresa real Ativos da empresa real, expurgado das parcelas sub utilizadas Ativos da empresa modelo Custo histórico corrigido pela inflação Custo de reposição Custo de reposição Ativo líquido de depreciação linear Ativo líquido de depreciação linear Ativo bruto Base de (método da linha reta ao longo da vida útil) (método da linha reta ao longo da vida útil) remuneração K Taxa de retorno Custo médio ponderado de capital (mercado) 100 . i % S(t)=R(t)+D Serviço do Capital S (decrescente) R(t) = i . [ K - D * (t -1) ] (decrescente) D=K/n (constante) Custo médio ponderado de capital (mercado) Custo médio ponderado de capital (mercado) S(t)=R(t)+D S=R(t)+D(t) (constante) R(1) = i . K R(t) = i . [ K - D(1) - ... - D(t-1) } (decrescente) D(1) = [i . K] / [(1+i)^n - 1)] D(t) = D(1) . [(1+i)^(t-1)] (crescente) (decrescente) R(t) = i . [ K - D * (t -1) ] (decrescente) D=K/n (constante) S = [i . K . (1+i)^n] / [(1+i)^n - 1)] (constante) Ajustamento da Base A base de remuneração é ajustada por comparação com ativos de um núcleo relevante da empresa modelo A base de remuneração deve ser ajustada para subtrair a parte já depreciada nos anos anteriores à aplicação do método, e a vida útil deve ser substituida pela vida útil residual Figura 3 18 seria, no futuro, provavelmente reconhecido pelo Regulador, para efeito de remuneração do capital. Indo adiante na questão de poder discricionário, pode se afirmar, e isto não seria absurdo, que na ausência de qualquer valor de Z o Regulador simplesmente arbitrasse, com base na sua experiência, um valor razoável para β, de forma a estimar Z através do produto β.X. Finalmente, batizando de ALFA. X o método exposto neste trabalho, apresenta-se em tabulação separada (ver Figura 3) a sua comparação com os métodos DORC - adotado pela ANEEL - e VNR-EM - empresa modelo segundo Jadresic (2002). Conclusões O conjunto de leis referentes ao Setor Elétrico Brasileiro é confuso, imperfeito e pleno de disposições conflitantes. Espera-se, no futuro, um esforço para eliminar inconsistências e conflitos, quem sabe produzindo-se finalmente um Código de Eletricidade. Os dados contábeis devem ser valorizados quaisquer que sejam os procedimentos adotados pelo Regulador, inclusive por questões de segurança jurídica. No futuro, esperase que o Regulador acompanhe “pari passu” o processo de imobilização e melhore a correlação entre o ativo remunerável e os dados dos balanços das empresas concessionárias. O método proposto neste trabalho valoriza os dados contábeis. É a partir deles que se procura a modicidade tarifária: primeiramente, ajustando-os pela média, para eliminar, por comparação, excessos injustificáveis e, a seguir, dando início à caminhada na direção da máxima eficiência, medida pela empresa modelo. Tudo sem desgastar a equipe da ANEEL em discussões específicas de cada concessionária e sem causar prejuízo injustificável ao investidor. O poder discricionário do Regulador justifica a adoção de qualquer dos métodos razoáveis para estimar o chamado custo eficiente, ou seja, o custo da empresa teórica que servirá de modelo para cada concessionária real. Escolhido um dentre vários métodos igualmente bons (ou igualmente maus), é importante mantê-lo ao longo dos anos, evitando novas mudanças. Assim, ganha-se em transparência, clareza e estabilidade das regras. Se for um método simples, melhor ainda. É melhor ter regras simples, obtidas de forma econômica, mesmo que imperfeitas na aproximação da realidade, do que regras que se tornem complexas e caras em sua pretensão de precisão. 19 Bibliografia STICKNEY, Clyde P.; WEIL, Roman L. Contabilidade financeira: uma introdução aos conceitos, métodos e usos. São Paulo: Atlas, São Paulo, 2001. GONÇALVES, Cesar Antonio; RUFINO, Romeu Donizete. Metodologia e critérios gerais para definição da base de remuneração de ativos para fins de revisão tarifária periódica das concessionárias de distribuição de energia elétrica: Nota Técnica n. 148/2002/SRE/SFF/ANEEL. Brasília: ANEEL, 2002. BYATT, Ian. Regulation and asset valuation: report to the World Bank and the Ministry of Mines and Energy, Brasília: [S. l.], 2002. JADRESIC, Alejandro M. 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