Educação, Corpo e Movimento
Ana Cristina Arantes
Max Gunther Haetinger
2008
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© 2006 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos
direitos autorais.
H136
Haetinger, Max Gunther; Arantes, Ana Cristina. / Educação,
Corpo e Movimento. / Max Gunther Haetinger; Ana Cristina
Arantes. — Curitiba : IESDE Brasil S.A. , 2009.
164 p.
ISBN: 978-85-7638-928-6
1. Corpo e mente. 2. Educação – Métodos e técnicas. 3. Educação moderna. 4. Movimento. 5. Psicologia. I. Título. II. Arantes,
Ana Cristina.
CDD 128.2
Capa: IESDE Brasil S.A.
Imagem da capa: IESDE Brasil S.A.
Todos os direitos reservados.
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Sumário
Atividade física, Educação Física: conceitos e histórico......................................................7
Movimentos iniciais..................................................................................................................................7
A divisão de função e os movimentos .....................................................................................................8
A Educação Física: conceito e história ....................................................................................................8
Por que entender, praticar e implementar os conteúdos da Educação Física?..........................................10
Bebês e humanidade: uma história paralela..........................................................................13
Movimento humano: aspectos introdutórios............................................................................................13
A ontogênese repete a filogênese: um pouco de história do corpo e de suas modificações ....................13
Definição do processo de crescimento humano . .....................................................................................16
Definição sobre o processo de desenvolvimento humano .......................................................................16
Fatores intervenientes ..............................................................................................................................17
Fundamentos do desenvolvimento motor.............................................................................21
Habilidades motoras básicas . ..................................................................................................................23
O corpo e o movimentona Educação Infantil.......................................................................31
Fatores físicos das atividades motoras infantis.........................................................................................31
A criança da atualidade.............................................................................................................................36
Psicomotricidade..................................................................................................................41
Entendendo a Psicomotricidade................................................................................................................41
A dimensão multidisciplinar da Psicomotricidade .................................................................................45
Sedentarismo e incapacidade motora ......................................................................................................47
Fatores das atividadesmotoras infantis.................................................................................51
As múltiplas inteligências e o movimento . .............................................................................................51
Visão construtivista do desenvolvimento motor . ....................................................................................56
A dança e a música na Educação Infantil.............................................................................61
A dança na escola ...................................................................................................................................61
A música no universo infantil ..................................................................................................................64
Retomando a dança na escola...................................................................................................................67
Recreação e lazer..................................................................................................................71
Recreação e lazer na Educação . ..............................................................................................................71
A escola contemporânea...........................................................................................................................75
O espaço físico para as atividades da Educação Infantil..........................................................................77
Criatividade e sua importância para a Educação..................................................................81
A criatividade e o brincar..........................................................................................................................81
Criatividade: a revolução na sala de aula.................................................................................................85
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A avaliação na Educação Infantil..........................................................................................91
Avaliação: um desafio à mudança.............................................................................................................91
Avaliação das habilidades motoras na infância........................................................................................93
A função da escola e da Educação Física..............................................................................99
O sistema escolar brasileiro e as aulas de Educação Física para as séries iniciais...................................100
Considerações sobre as aulas de Educação Física e os temas ou eixos transversais................................102
Possíveis blocos de conteúdos para as aulas de Educação Física.............................................................103
Características dos alunos da escolarização inicial e as aulas de Educação Física..............107
Alunos entre 6 e 10 anos de idade segundo a teoria piagetiana................................................................108
Objetivos da Educação Física para os alunos das primeiras séries da escolarização básica
segundo os PCN (1997)........................................................................................................................................ 110
Desenvolvimento do conhecimento e controle do corpo (esquema corporal) . .......................................112
Os alunos do ensino fundamental e as aulas de Educação Física.........................................117
Características dos alunos.........................................................................................................................117
As aulas de Educação Física Escolar e o processo de inclusão e integração........................125
As funções das agências de Educação Infantil.........................................................................................125
O atendimento segundo as classes sociais ou o que se deliberou para as crianças..................................125
Definição de gênero..................................................................................................................................128
A co-educação nas aulas de Educação Física...........................................................................................129
Sugestões e orientações para a elaboração de programas ou atividades destinadas às crianças..............134
A Educação Física e a interdisciplinaridade.........................................................................137
A visão legal acerca do componente curricular Educação Física.............................................................137
O movimento é o início de tudo...............................................................................................................137
A questão do movimento e a sua relação com a construção dos conceitos .............................................138
As sensações, a motricidade e a formação de conceitos...........................................................................139
Dos primeiros passinhos ao jogo e ao esporte .........................................................................................140
O significado do movimento para os idosos: uma prática cuja idéia se inicia na escola..........................140
Movimento e cultura.................................................................................................................................141
A nova Educação Física: participante do Projeto Escolar........................................................................141
Avaliação: definição, importância, interfaces e outras considerações..................................147
Ação docente e a avaliação.......................................................................................................................148
Abordagens ou correntes pedagógicas aplicáveis às aulas de Educação Física ......................................148
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Apresentação
Oi, amigos e colegas!
H
oje, iniciamos uma nova caminhada. Nossa meta é a compreensão do desenvolvimento motor
infantil e do modo como ele contribui para o desenvolvimento integral da criança. Vamos
estudar conceitos, realizar atividades e agregar nossas experiências de magistério para que
juntos possamos explorar o universo da criança e do movimento.
A cada passo de nosso percurso, aprofundaremos o tema por meio de textos específicos e
­práticas em grupo. Também vamos abordar alguns assuntos relacionados à educação escolar na infância. Estaremos sempre buscando entender que a sala de aula transcende o educar e representa
um ­prolongamento do lar das ­crianças, sendo uma experiência decisiva para o desenvolvimento de
­meninos e meninas.
Como educadores, precisamos ter em mente que a aprendizagem está fundamentada em um
processo de troca no qual todos os agentes da Educação (professores, alunos, funcionários, pais e
comunidade) devem compartilhar seus conhecimentos sem preconceitos, nem pré-conceitos, estabelecendo uma “avenida de duas mãos”, destacada por Paulo Freire como a essência do ato de educar.
Assim, aprendemos e ensinamos ao mesmo tempo.
Portanto, vamos compartilhar nossos saberes e nos entregar à aventura de uma educação interativa,
que promove a integração, o conhecimento, o brincar e a alegria em todos os cantos da sala de aula.
Procurem aproveitar o máximo as experiências proporcionadas por nossa disciplina, pois elas
­representam uma grande oportunidade para vocês construírem novos conhecimentos. Como diz Edgar Morin, o aprender constante é um meio de percebermos os problemas do complexo mundo em
que vivemos.
Ana Cristina Arantes
Max Gunther Haetinger
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Psicomotricidade
Max Gunther Haetinger*
Entendendo a Psicomotricidade
N
esta disciplina, visamos a um entendimento mais amplo do corpo e do movimento. A aprendizagem humana é influenciada por aspectos motores,
cognitivos, expressivos, afetivos e ambientais. E por isso não poderíamos
deixar de falar da Psicomo­tricidade.
A Psicomotricidade estuda as habilidades motoras relacionadas aos fatores psicológicos e ambientais. Esse objeto de estudo passou a ser pesquisado na década de
1960, mas popularizou-se no universo ­científico e acadêmico ao longo dos anos 1970
e 1980. Antes disso, o movimento humano era analisado pelos pesquisadores apenas
nos âmbitos físico e motor.
O desenvolvimento corporal e motor faz parte do desenvolvimento global da
criança. ­Justamente por isso, a Psicomotricidade passou a integrar o movimento aos
aspectos psíquicos e sociais dos ­indivíduos, dando um caráter holístico a sua abordagem e proporcionando novas descobertas para o tratamento das dificuldades de
aprendizagem. Assim, a Psicomotricidade e as práticas psicomotoras passaram a ser
valorizadas mundialmente.
A Psicomotricidade não prioriza ações motoras descontextualizadas, pois
considera as habilidades e expres­sões corporais associadas às vivências do ­sujeito
em determinado ambiente. Relaciona os gestos, as atitudes, as atividades, os
­comportamentos e as posturas da criança.
A educação psicomotora tem grande relevância para a aprendizagem e a socialização. E também facilita a aquisição da leitura e da escrita e o ­desenvolvimento do
pensamento lógico-matemático. Nos primeiros anos de vida, é ainda mais ­importante,
pois nessa fase da vida podemos perceber desvios nas capacidades motoras da criança
e evitar futuras dificuldades de aprendizagem.
A prática psicomotora respeita, então, as potencialidades de cada indivíduo e seu direito de
ter um lugar na sociedade. De acordo com esse marco, a criança pode se expressar por meio
de uma grande variedade de canais de comunicação, expressão e criação, entre os quais a
motricidade é o principal. (SÁNCHEZ; MARTINEZ; PEÑALVER, 2003, p. 14)
Imagem corporal
A imagem do corpo é um aspecto de destaque na relação do ser com o seu
desenvolvimento completo. É a partir da imagem corporal que reconhecemos ­nossa
movimentação no tempo e no espaço, e aprendemos a lidar com objetos e pessoas
que nos cercam, com o meio em que vivemos.
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*
Com a colaboração
de Daniela Haetinger
e Luis Lucini
Educação, Corpo e Movimento
As relações psicomotoras contribuem para o esquema corporal, pois valorizam
a percepção do corpo, o equilíbrio, a lateralidade, a independência dos membros em
sua relação com o tronco e entre si, o controle muscular e o controle da respiração.
No momento em que o indivíduo compreende e controla seu ­corpo, sua consciência
corporal se estrutura e ele passa a ampliar as possibilidades de relação com o meio.
Todas as experiências da criança (o prazer e a dor, o sucesso e o fracasso) são sempre vividas
corporalmente. Se acrescentarmos valores sociais que o meio dá ao corpo e a certas partes,
este corpo termina por ser investido de significações, sentimentos e de valores muito particulares e absolutamente pessoais. (VAYER apud ALVES, 2003, p. 48).
O esquema corporal advém do desenvolvimento psicomotor na infância.
Wallon destaca-o como o “resultado e a condição da justa relação entre o ­indivíduo e
o próprio ambiente” (apud ALVES, 2003, p. 47). Por meio de seu corpo e de suas interações, a criança descobre o mundo, experimenta diferentes sensações e ­situações
e acaba ­conhecendo a si mesma e aos objetos e pessoas que fazem parte de sua realidade.
Segundo Le Boulch (1988), um dos principais objetivos da educação psicomotora é ajudar a criança a reconhecer seu corpo como um instrumento que serve para
ela se relacionar com seus semelhantes e com seu ambiente.
Fases do desenvolvimento psicomotor
O desenvolvimento psicomotor não deve ser analisado apenas em função da
maturação cronológica do ser, mas também como um processo relacional e ­complexo.
Na infância, podemos caracterizar quatro grandes fases psicomotoras.
Primeira fase – ao nascer, o bebê já possui condições anatômicas e ­fisiológicas
de reflexos (modalidades assimiladoras), mas para manifestá-los ele precisa
de um meio estimulador que provoque suas reações. Nessa fase, destaca-se
a organização da estrutura motora e da percepção.
Segunda fase – este é um período de aperfeiçoamento das relações ­espaciais
e temporais. O ser desenvolve novas possibilidades de movimentação
­espacial, conhe­cimento e relacionamento social. A principal característica
dessa fase é a ­organização do plano motor.
Terceira fase – o desenvolvimento motor fica mais evidente, pois a ­criança
começa a automatizar suas aquisições motoras e seus movimentos tornamse mais fluentes.
Quarta fase – esta é uma etapa de transição no desenvolvimento psicomotor,
passando de um estágio global para um estágio de diferenciação e análise. É
­quando se aperfeiçoam as habilidades motoras. A criança chega a essa fase
aproximadamente com cinco anos.
O desenvolvimento psicomotor revela a relação da criança com seu corpo e o
mundo a sua volta, não apenas o mundo físico, mas também o universo das sensações e significações, ampliando progressivamente sua percepção do ambiente, dos
objetos e dos seres com os quais interage.
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Psicomotricidade
No âmbito educacional, o trabalho psicomotor assume funções ­específicas.
Vitor da Fonseca (2003, p. 12) define algumas finalidades da Psicomotri­ci­dade na
­Educação:
mobilizar e reorganizar as funções psíquicas emocionais e relacionais do
indivíduo em toda a sua dimensão experiencial, desde bebê até a velhice;
aperfeiçoar a conduta consciente e o ato mental (input, elaboração e output)
em que emerge a elaboração e a execução do ato motor;
elevar as sensações e as percepções a níveis de conscientização, simbolização e conceitualização (da ação aos símbolos e vice-versa, passando pela
verbalização);
harmonizar e maximizar o potencial motor, afetivo-relacional e cognitivo,
ou seja, o desenvolvimento global da personalidade, a capacidade de adaptação social e a modificação estrutural do processamento da informação do
indivíduo;
fazer do corpo uma síntese integradora da personalidade, reformulando a
harmonia e o equilíbrio das relações entre a esfera do psíquico e a ­esfera do
motor, por meio do qual a consciência, aqui encarada como dado imediato e
intuitivo do corpo, edifica-se e manifesta-se, com a finalidade de promover
a adaptação a novas situações.
Transcrevemos um texto da professora Fátima Alves, que ressalta os pensamentos de Arnold
Gesell sobre o desenvolvimento perceptivo e motor da criança, desde seu nascimento.
O trecho aqui apresentado foi extraído de Psicomotricidade: corpo, ação e emoção (Wak
­Editora, 2003, p. 27-30).
Desenvolvimento perceptivo e motor
segundo Arnold Gesell
(ALVES, 2003, p. 27-30)
Até a quarta semana
Durante a vigília, o bebê apresenta uma atitude denominada de reflexo tônico-cervical, que
se caracteriza por extensão do braço para onde está voltada a cabeça e flexão do outro braço.
Às vezes, o bebê apresenta reações bruscas levantando momentaneamente a cabeça. Algumas ­vezes, pode mover os braços, mais ou menos simetricamente, porém a atitude assimétrica do
reflexo tônico-cervical é a base da maior parte de sua postura.
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Educação, Corpo e Movimento
Visão – Permanece com a vista imóvel durante longos períodos. É capaz de acompanhar um
estímulo ­colocado em seu campo visual com um movimento combinado de olhos e cabeça. A
apreensão ocular precede a preensão manual.
Atividade manual – A preensão manual pode ser observada pelo toque da mão com um
objeto; a atividade do b­ raço aumenta e a mão se fecha e se abre.
Até 16 semanas
A reação tônico-cervical começa a perder sua preponderância. A cabeça ocupa com maior
freqüência a linha média. A musculatura do tronco vai se organizando; senta-se com apoio e
­levanta a cabeça.
Visão – O desenvolvimento crescente de redes neuronais permite uma maior atuação da musculatura ocular. É capaz de olhar um objeto colocado em seu redor; olha preferencialmente para as
suas mãos como, t­ ambém, para as do adulto.
Atividade manual – É capaz de tocar o objeto. Ante o estímulo visual, sua mão livre se aproxima do objeto como se esti­vesse também envolvida na manipulação.
Até 28 semanas
Aperfeiçoamento da posição sentada. Somente necessita de um pequeno apoio dos braços da
cadeira ou do adulto.
Visão – A acomodação ocular é mais avançada que a manual. Segura uma bolinha que rola,
mas quando a quer apanhar coloca a mão levemente sobre ela e não consegue pegá-la. Olhos e
mãos funcionam em estreita relação, reforçando-se e guiando-se mutuamente.
Atividade manual – A criança inclina-se para o objeto, segurando-o com um movimento de
preensão de toda a mão, com o lado radial, que prepara a oposição do polegar.
Até 40 semanas
As pernas já sustentam o peso do corpo, mas ainda necessita de apoio. Domina o equilíbrio
na posição sentada.
Visão – Manifesta grande interesse tátil e visual pelos detalhes.
Atividade manual – É capaz de pegar uma bolinha em movimento de pinça, de tipo inferior.
Com um ano
Engatinha com grande agilidade, podendo fazê-lo de joelhos ou na planta dos pés. Pode
erguer-se e parar sem ajuda, mas ainda é falho o seu equilíbrio estático.
Com 18 meses
Caminha com maior facilidade e desenvoltura. Sobe uma cadeira, sobe escada com auxílio,
para descer o faz só, engatinhando ou sentando-se a cada degrau. Pode caminhar arrastando um
brinquedo de rodas (coordenação entre as condutas posturais e manuais).
Percepção – Alguns comportamentos já demonstram uma discriminação de espaço e forma.
Sonda a terceira dimensão com o dedo indicador ou um objeto, isto é, introduzindo objetos em
espaços. O sentido da vertica­lidade é presente, já empilha dois ou três cubos.
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Psicomotricidade
Preensão – Seu “soltar” é exagerado, o que dificulta a manipulação de elementos consecutivos. É capaz de arremessar uma bola. O cotovelo é mais livre, o que permite virar folhas de um
livro, de duas a três de uma só vez.
Com dois anos
Maior flexibilidade dos joelhos e calcanhar permite um equilíbrio superior. Pode andar mais
rapidamente sem perder o equilíbrio, mas não pode correr, efetuar voltas rápidas ou parar bruscamente.
Percepção – Pode-se, nesta ocasião, observar a estreita interdependência entre o desenvolvimento mental e o motor. A criança parece pensar com seus músculos. Interpreta motoramente o
que vê e ouve.
Preensão – Vira as páginas de um livro uma a uma. Constrói torre de seis cubos, corta com
a tesoura, enfia contas com uma agulha.
Com três anos
Gosta de atividade motora ampla, mas pode permanecer em uma brincadeira sentada por um
­período maior. Demonstra uma maior capacidade de inibir e delimitar movimentos. Pode construir torres de até dez cubos.
Maior domínio da direção vertical, mas ainda grande inabilidade nos planos oblíquos.
Pode ­dobrar um papel ao largo e ao comprido, mas não o faz na diagonal, mesmo com
molde.
Maior coordenação na marcha e corrida, aumentando ou diminuindo a velocidade, dando
voltas ou parando, com maior facilidade.
Sobe escadas, alternando os pés; salta do último degrau com os dois pés. Salta com os
dois pés de uma altura de 30 centímetros. Pedala velocípede.
Com quatro anos
Pode manter-se sobre um pé durante segundos e aos seis é capaz de saltar em um só pé.
Percebe-se uma maior independência da musculatura das pernas e dos membros superiores. A
criança já abotoa roupas sozinha, dá laços em cordões de sapatos, além de outras atividades simples e habituais.
A dimensão multidisciplinar
da Psicomotricidade
A Psicomotricidade está diretamente ligada ao desenvolvimento integral do ser, pois estuda o
movimento humano associado ao ambiente, à cognição, à emoção e às significações. Enfim, relaciona
cada movimento com o seu contexto. Por isso é uma área de estudo multidisciplinar.
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Educação, Corpo e Movimento
Quando pensamos em mediar as experiências de nossos educandos, devemos
observar as múltiplas dimensões existentes em cada expressão, gesto, ato, movimento,
em cada interação social, assim abarcando o indivíduo de modo global:
Corpo + Mente + Movimento + Expressão + Afetividade
Essas múltiplas dimensões devem ser valorizadas nos ambientes escolares.
Cabe ao educador infantil promover a educação psicomotora (voltada ao movimento
contex­tualizado) para colaborar no desenvolvimento integral de seus alunos. Um
bom trabalho nesse sentido facilitará futuramente a aquisição das habilidades de
leitura, escrita e ­raciocínio lógico-matemático, e a formação de adultos socialmente
integrados, com boa auto-estima e boa auto-imagem.
A aquisição da escrita, por exemplo, começa quando a criança tem ­suficiente
­domínio motor para segurar o lápis, coordenar a relação visomotora entre o lápis, o
papel e as linhas e controlar as relações de força e velocidade. Ou seja, a escrita é um
aprendizado motor.
A percepção espacial e a representação mental necessárias à escrita e à leitura
estão associadas à Psicomotricidade. Esses aspectos são responsáveis pela visualização e a fixação de formas. As letras e os números escritos correspondem a formas
(ou símbolos) que visualizamos (imagem dos caracteres) e aos quais atribuímos significações (oriundas do plano social e individual).
A lateralidade também influencia a aquisição da leitura. Nas línguas ocidentais, por exemplo, lemos as palavras e frases da esquerda para a direita. O texto pode
ser visualizado de cima para baixo e vice-versa. Em função disso, o desenvolvimento
motor é muito importante na fluência da leitura.
A respeito das habilidades lógico-matemáticas, sabemos que desde cedo a
criança reproduz e cria imagens por meio de seus desenhos ou com o próprio corpo,
seja ­imitando animais e pessoas ou desenhando formas geométricas básicas. Sua
noção espacial (adquirida em virtude de seus movimentos e pela manipulação de
objetos) aprimora sua percepção. As relações psicomotoras infantis favorecem a passagem da percepção para a representação (sendo esta mais complexa, pois abrange
noções espaciais e temporais).
Todo educador infantil deve promover o desenvolvimento psicomotor de
seus educandos. Isso significa estabelecer uma prática escolar voltada para o movimento, os jogos e brincadeiras, a socialização e a afetividade, sempre adequada
às ­necessidades específicas de cada aluno para que ele sinta a segurança ­emocional
necessária ao seu desenvolvimento.
Para que a escola possa criar esse clima, principalmente na etapa da educação infantil, é necessário (e queremos insistir nisso) que os profissionais que nela trabalham sejam receptivos
ao momento maturativo e psicoafetivo da criança. Essa capacidade de acolhida requer uma
formação que contemple a observação, a reflexão e a compreensão das necessidades afetivas
e dos comportamentos emocionais dos alunos, fundamentados nos princípios que sustentam a
formação de adultos na prática psicomotora. A criança descobrirá no educador formado nessa
prática um adulto com disponibilidade para escutar e acolher suas manifestações emocionais, aceitando-as, contendo-as e fazendo-as evoluir através de sua tecnicidade. (SÁNCHEZ;
MARTINEZ; PEÑALVER, 2003, p. 13)
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Psicomotricidade
Sedentarismo e incapacidade motora
Quando falamos em Psicomotricidade, outra questão que vem à tona é a incapacidade motora, ou seja, a negação ou impossibilidade de movimento. O movimento
faz parte da natureza humana. Andar, correr, pular, mexer os braços, as pernas, manipular objetos, escrever – enfim, atuar com o corpo é uma ação cotidiana.
Inclusive, o movimento vai muito além de nossas ações externas. A respiração,
o batimento cardíaco e o fluxo sangüíneo também envolvem movimento e ritmo. Do
ponto de vista holístico, podemos considerar esses aspectos como o ritmo vital do
ser (o biorritmo).
Para se desenvolver integralmente, o homem precisa trabalhar com seu corpo,
usá-lo como um instrumento de experimentação, vivência, descoberta, percepção e
relação com o mundo. A atividade motora deve estar presente ao longo de toda a vida,
desde a infância e a juventude, quando estamos cheios de energia, até a terceira idade.
Entender a importância do movimento é também ter consciência dos ­problemas
causados pela negação ou incapacidade motora. Quando não nos ­movimentamos,
estamos contribuindo para a ocorrência de doenças ou sintomas como obesidade,
­sensações de preguiça, apatia, estresse e tristeza. Quem opta pelo exercício das
­habilidades motoras se torna uma pessoa mais disposta e ativa.
As atividades físicas e desportivas sistemáticas são de grande importância para
desenvolver as relações do homem com seu corpo e seus movimentos. Por meio delas,
ele constrói sua consciência corporal, isto é, a forma como visualiza seu corpo e,
conseqüentemente, o modo como percebe suas habilidades e limitações.
O atual avanço tecnológico gera um modelo de vida sedentária. Controles
r­ emotos, computadores, carros e máquinas automatizadas, entre tantos outros objetos, favorecem as posturas corporais estáticas. Muitas vezes, as pessoas preferem ficar
sentadas a praticar esportes, jogar, correr e caminhar. Acostumadas ao conforto, até
mesmo as caminhadas curtas (uma ou duas quadras) tornaram-se saídas de carro.
Nesse contexto, o sedentarismo parece um mal comportamental, mas assume
proporções complicadoras para a saúde dos indivíduos. Os maiores problemas ­causados
nesse sentido surgem pela associação entre sedentarismo e hábitos alimentares desregulados e pouco saudáveis (refeições não balanceadas).
Diferente do sedentarismo, a incapacidade motora é definida por patologias ou
limitações físicas que causam a impossibilidade de vivências específicas. Em algumas pessoas, essas limitações não se referem apenas aos aspectos físicos, mas também propiciam desânimo, rancor, irritabilidade e inveja, entre outros sentimentos. Já
em outros indivíduos, a incapacidade motora leva-os a uma superação extrema na
busca de uma auto-imagem positiva. Com tal esforço, eles conseguem ter um lugar
em uma sociedade que muito exclui essas pessoas.
A auto-estima está relacionada com as habilidades motoras. Ao se movimentar,
o homem conhece melhor a si mesmo, transgride seus limites, estipula e alcança objetivos e obtém prazer. Nossa sociedade tende a aceitar os indivíduos que se movimentam e se exercitam, pois isso demonstra que eles podem ser socialmente produtivos.
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Educação, Corpo e Movimento
Todos os aspectos aqui abordados servem para refletirmos sobre a função da ­escola na promoção de um desenvolvimento integral dos educandos, ­abrangendo os fatores físicos, motores, cognitivos e afetivos. Formar pessoas com auto-estima ­positiva e saudáveis em todos os sentidos é também
um dever dos ­educadores infantis. Sendo assim, sempre procure desenvolver práticas pedagógicas
que ­trabalhem a Psicomo­tricidade e, além disso, incluam noções de saúde preventiva, alimentação
­saudável, hábitos de higiene e práticas físicas.
Apresentamos agora um escrito do educador e psicólogo Eduardo Simonini Lopes, que demonstra
grande interesse e preocupação com a construção de um ambiente escolar que valorize a diversidade.
Este trecho foi extraído da apostila do curso A vez do mestre a distância, de Simonini, pela
­Universidade Cândido Mendes, Rio de Janeiro, 1999.
Ah! A cada passo uma incerteza. A cada momento um medo, uma confusão.
Mas que cada um construa sua própria embarcação.
O mar é sempre igual aos olhos dos que comungam a mesma percepção.
Mas ele é muito mais amplo, profundo e surpreendente do que se pode imaginar...
A percepção do oceano é mutante para quem se atreve a navegar.
Mas use modelos apenas como referência para o seu barco...
Mas construa sua própria nau sem medo de ela não ser igual...
Igual à estética das outras embarcações.
A diferença tem todo o direito de navegar.
Cada um de nós tem amplo direito de possuir seu próprio meio de expressar.
O barco da diferença corta o oceano...
Podendo reinventar o próprio mar.
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Psicomotricidade
Desta vez, teremos um trabalho em grupo bem lúdico e agradável. Para realizar a tarefa, reúnam-se em grupos de cinco ou seis integrantes e discutam as questões abaixo.
1.
Como estamos trabalhando nosso próprio corpo no dia-a-dia?
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49
Educação, Corpo e Movimento
2.
Como temos colaborado para o desenvolvimento psicomotor de nossos alunos?
Depois de conversar sobre essas questões, façam um cartaz (com papel kraft ou cartolina e giz
de cera) sintetizando as idéias levantadas. Explorem sua criatividade – incluam desenhos, figuras e
outros ­elementos que lhes pareçam interessantes!
A seguir, todos os grupos apresentarão seus cartazes e suas idéias aos demais colegas.
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Educação, Corpo e Movimento