2º Dia de Campo Integração Lavoura-Pecuária-Floresta do Noroeste Paulista “Mais e melhor leite e carne em Integração Lavoura-Pecuária-Floresta” “Manejo de pastagens com ênfase em gado leiteiro” Flávia Maria de Andrade Gimenes1 1 Pesquisadora Científica do Instituto de Zootecnia, Nova Odessa, SP – Produção animal em sistemas de pastagens – [email protected] Os sistemas de produção animal baseados no uso de pastagens reduzem o custo de produção, pois são alimentos mais baratos onde o próprio animal faz a colheita da forragem, evitando custos com maquinário de colheita, transporte e armazenamento. Por muito tempo pensou-se que pastos formados por gramíneas tropicais, como dos gêneros Pennisetum (capim-elefante), Panicum (capins colonião, mombaça, tanzânia) e Brachiaria (capins marandu, decumbens, humidícola) não poderiam ser utilizados para vacas leiteiras em pastejo. Atualmente, os conceitos mudaram e as pesquisas já demonstraram que plantas forrageiras tropicais, se bem fertilizadas e manejadas, podem ter ótimos resultados elevando a produção de leite por unidade de área, como será mostrado mais a frente deste texto. O sistema de produção animal em pastagens deve encontrar um balanço entre crescimento da planta, consumo e desempenho animal de modo a manter estável seu nível de produtividade. Caso contrário, reduções em produtividade animal e crescimento das plantas forrageiras, bem como ocorrência de erosão e plantas invasoras, levarão as pastagens à degradação. Para tanto, os limites de utilização de cada planta forrageira devem ser respeitados, pois cada uma tem uma faixa ideal de utilização onde a produção de forragem é mantida, essa faixa pode ser determinada pela altura do pasto, massa de forragem, área foliar e outros parâmetros (Figura 1), pela facilidade de aplicação no campo utiliza-se mais freqüentemente a altura do pasto. Inserida nessa faixa, há ainda condições de pasto que maximizam a produção animal. O importante é que os parâmetros utilizados sejam características das plantas ou da comunidade de plantas da pastagem, e não baseados em tempo cronológico ou número de animais (taxa de lotação). 1 2º Dia de Campo Integração Lavoura-Pecuária-Floresta do Noroeste Paulista “Mais e melhor leite e carne em Integração Lavoura-Pecuária-Floresta” Figura 1 – Representação da faixa de utilização em pastos sob lotação contínua (Bircham e Hodgson, 1983). Para encontrar essas condições de pasto para cada planta forrageira, diversas pesquisas são desenvolvidas em Instituições que avaliam os resultados obtidos bem como suas causas e implicações na perenidade das pastagens. Isto significa, além de resultados (se houve produção maior ou menor de carne ou leite), são estudados e descritos os processos que levam as pastagens a esses resultados. Dessa forma, entendendo o que realmente é causa e efeito em sistemas de pastagens pode-se estabelecer critérios para intervir buscando aumentar a produtividade e sustentabilidade do sistema. O manejo dos pastos pode ser realizado de forma eficiente, independente do método de pastejo adotado: lotação contínua (quando os animais ficam permanentemente no pasto) ou lotação rotacionada (quando os animais permanecem nos piquetes durante um período de ocupação e depois saem do pasto para um período de descanso). Porém, tem ocorrido grande confusão entre o entendimento do que é um método de lotação contínua e o método sem qualquer estratégia de manejo ou fertilização dos pastos, adotado por muitos produtores. Na lotação contínua, a carga de animais (taxa de lotação) deve ser variável, onde se devem colocar mais animais quando o pasto está crescendo muito e ultrapassando a faixa de utilização recomendada para este pasto e tirar animais quando o crescimento do pasto não consegue mantê-lo dentro das metas de altura do pasto e massa de forragem estabelecidas pela pesquisa para aquele capim. Nesse método de pastejo, pastos grandes também devem ser piqueteados de forma a diminuir as distâncias a ser percorridas pelo animal 2 2º Dia de Campo Integração Lavoura-Pecuária-Floresta do Noroeste Paulista “Mais e melhor leite e carne em Integração Lavoura-Pecuária-Floresta” e evitar que áreas de forragem sejam sub-pastejadas ou super-pastejadas, além da necessidade de reposição de nutrientes no solo. Portanto, tanto o método de lotação contínua como rotacionada podem ser utilizadas para gado leiteiro, desde que bem implantadas e acompanhadas. No entanto, há uma maior facilidade em utilizar o capim respeitando seus limites em um método ou outro, normalmente capins de porte cespitoso (que formam touceiras) adaptamse melhor à lotação rotacionada, enquanto capins de hábito prostrado são mais facilmente manejados em pastos sob lotação contínua. O capim-marandu (Brachiaria brizantha cv. Marandu) ou “braquiarão” é a planta forrageira que ocupa maior área no Brasil, chegando a 60% das áreas destinadas à pastagens. No entanto, apesar da sua rusticidade, em várias regiões apresenta elevado grau de degradação, principalmente por falta de reposição de nutrientes e manejo do pastejo inadequado. Sob lotação contínua trabalhos de pesquisa realizados estabeleceram que sua faixa de utilização situa-se entre 20 e 40 cm de altura do pasto, sendo que em 20 cm o pasto suporta maior taxa de lotação com menor desempenho individual (produção de carne ou leite por animal), enquanto com 40 cm apresenta maior desempenho individual, porém com menor número de animais por área. Quando manejada com alturas abaixo desta faixa (ex:10 cm) sinais de degradação aparecem rapidamente. Já o capim-xaráes (Brachiaria brizantha cv. Xaraés), apesar de ser da mesma espécie do capim-marandu apresenta particularidades na forma e estrutura do pasto, com hábito de crescimento mais ereto e com maior formação de touceiras em relação ao capim-marandu. Isso explica porque deve ser manejado com alturas superiores ao primeiro. Sob lotação contínua não suporta pastejos muito baixos e sua faixa de utilização ideal está de 30 a 40 cm, tendo produção animal maximizada quando manejado a 40 cm de altura (Flores et al., 2008). Por outro lado, a Brachiaria decumbens (braquiarinha) tem sua forma diferenciada dos capins marandu e xaraés, com hábito de crescimento mais prostrado, praticamente sem a formação de touceiras. Para este capim a faixa ideal de altura situa-se em torno de 20 cm e se o pasto ficar mais alto que o recomendado (ex: 30-40 cm) haverá redução de valor nutritivo com conseqüente queda no desempenho animal. 3 2º Dia de Campo Integração Lavoura-Pecuária-Floresta do Noroeste Paulista “Mais e melhor leite e carne em Integração Lavoura-Pecuária-Floresta” Já sob lotação rotacionada, deve-se trabalhar com duas condições de pasto: momento da entrada dos animais (condição pré-pastejo) e saída dos animais (condição pós-pastejo). Para essa situação a pesquisa estabeleceu em capim-marandu que alturas menores de entrada dos animais, se comparadas ao que é praticado e pregado em todo Brasil, causam aumento do tamanho das touceiras de capim cobrindo melhor a área e evitando erosão e entrada de plantas daninhas, bem como maior freqüência de pastejo com maior renovação de plantas e tecidos. Com pastos mais densos há incremento do consumo animal e o desempenho individual e a produtividade animal por área é elevada, sem prejudicar a perenidade e sustentabilidade do sistema de pastagens. No Brasil a altura pré-pastejo recomenda para o capim-marandu era de 40 a 60 cm, porém dados de pesquisa mostram que entrada com 25 cm de altura e saída com 15 a 20 cm seria a melhor condição para este cultivar (Gimenes, 2010). Nas as áreas que já utilizam sistema rotacionado para este capim, a redução da altura de entrada deve ser feita gradualmente (em 2 ou 3 pastejos), depois disso haverá um período de adaptação do pasto a essa condição, com maior “fechamento” da área pelo capim. Para o capim-tanzânia (Panicum maximum cv. Tanzânia) Rodrigo Barbosa e colaboradores (Barbosa et al.,2007) estabeleceram altura de entrada de 70 cm e saída de 25 a 50 cm. Sila Carneiro da Silva e equipe (Da Silva et al.,2009) trabalhando com capim-mombaça sob lotação rotacionada demonstraram que a maior produtividade e valor nutritivo de forragem seria alcançada se os animais entrassem nos piquetes com o capim-mombaça a 90 cm de altura e saíssem com o capim de 30 a 50 cm de altura. Quando os animais entravam nos pastos com capim-mombaça muito maduro, “passado”, por volta de 110 cm a proporção de colmos em relação a folhas aumentava, e, conseqüentemente o valor nutritivo era reduzido e as perdas de pastejo aumentadas. Ou seja, 20 cm acima do recomendado para esse capim causavam redução na produtividade de forragem do sistema. Para comparar essas condições de pasto em relação à produção de leite, Elaine Hack e colaboradores (Hack et al. 2007) em Curitiba,PR, compararam dois tratamentos em capim-mombaça: Tratamento 1) Altura da pastagem baixa: altura de entrada 90 cm e altura de saída 40cm e Tratamento 2) Altura da pastagem alta: 4 2º Dia de Campo Integração Lavoura-Pecuária-Floresta do Noroeste Paulista “Mais e melhor leite e carne em Integração Lavoura-Pecuária-Floresta” altura de entrada com 140 cm e altura de saída 90 cm. Como resultados, as vacas da pastagem baixa produziram 14,0 kg/dia de leite enquanto as vacas da pastagem alta produziram 10,8 kg/dia. Esse resultado favorável para pastos mais baixos ocorreu decorrente à maior proporção de folhas, que possuem maior valor nutritivo, em relação aos colmos. Além disso, as características estruturais do pasto podem ter afetado o consumo, uma vez que nos pastos mais altos as folhas eram maiores o que aumentava o tempo de manipulação do capim no bocado, reduzindo o a ingestão de forragem. Voltolini (2006) também avaliou a produção de leite em experimento conduzido em Piracicaba, SP utilizando pastejo rotacionado de capim-elefante (Pennisetum purpureum cv. Cameroon) comparando dois períodos de descanso dos pastos: Tratamento 1) entrar com os animais quando o pasto apresentava 95% de interceptação de luz ( condição correspondente a 100 cm de altura), ou seja, conforme a condição do pasto e Tratamento 2) entrar a cada 27 dias (período de descanso fixo), conforme período cronológico. O período de ocupação pelos animais foi de 1 dia pela vacas em lactação e 1 dia com grupo de animais de repasse. O Tratamento 1, onde os períodos de descanso foram variáveis, apresentou média de 19,0 dias de descanso, contra 27 dias do outro tratamento. Como resultados obtidos, as vacas que pastejaram o Tratamento 1 produziram média de 16,72 kg/dia de leite enquanto as do Tratamento 2 produziram 14,09 kg/dia consumindo a mesma quantidade de concentrado, mostrando tendência de aumento da produção quando o pasto foi colhido pelas vacas na condição mais adequada. Considerações Finais Em sistemas de produção de leite em pastagens: 1. Plantas forrageiras tropicais são adequadas ao pastejo de bovinos de leite 2. O uso eficiente dos pastos reduz custos de produção 3. Respeito aos limites de utilização das plantas aumentam produtividade e sustentabilidade 4. Os métodos de pastejo contínuo e rotacionado podem ser utilizados com sucesso 5 2º Dia de Campo Integração Lavoura-Pecuária-Floresta do Noroeste Paulista “Mais e melhor leite e carne em Integração Lavoura-Pecuária-Floresta” 5. O manejo do pasto deve ser baseado nas condições do capim e não em tempo cronológico ou número de animais determinado 6. Altura dos pastos abaixo ou acima da condição recomendada é prejudicial Referências Bibliográficas BIRCHAM, J.S.; HODGSON, J. The influence of swards conditions on rates of herbage growth and senescence in mixed swards under continuous grazing management. Grass and Forage Science, v. 38, p. 323-331, 1983. Da SILVA, S.C.; BUENO, A.A.O.; CARNEVALLI, R.A.; UEBELE, M.C.; BUENO, F.O.; HODGSON, J.; MATTHEW, C.; ARNOLD, G.C..; MORAES, J.P. Sward structural characteristics and herbage accumulation of Panicum maximum cv. subject to rotational stocking management. Scientia Agricola, Piracicaba, v. 66, n. 3, p. 8-19, 2009. FLORES, R.S.; EUCLIDES, V.P.B.; ABRÃO, M.P.C.; GALBEIRO, S.; DIFANTE, G.S.; BARBOSA, R.A. Desempenho animal, produção de forragem e características estrututurais dos capins marandu e xaraés submetidos a intensidades de pastejo. Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, n.8,p.13551365, 2008. HACK, E.C.; BONA FILHO, A.; MORAES, A.; CARVALHO, P.C.F.; MARTINICHEN, D.; PEREIRA, T.N. 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