Força conservativa Já vimos que a energia gravitacional entre duas partículas de massas m1 e m2 , com vetores posição em r1 e r2 , respectivamente, é dada por = − U12 Gm1 m2 . |r2 − r1 | Vimos também que o trabalho da força gravitacional em um caminho fechado é sempre nulo, em qualquer caminho fechado, mesmo um que não possa ser percorrido sempre no mesmo plano. Quando uma força qualquer tem trabalho nulo em qualquer caminho fechado, dizemos que é uma força conservativa, pois é sempre possível definirmos uma energia potencial para essa força. Para vermos isso, consideremos uma força conservativa. Então, ˛ F · dr = 0, C para qualquer caminho fechado C. Tomemos dois pontos de um caminho fechado, A e B. Então, o caminho fecha do C pode ser escrito como a união de dois outros caminhos, C1 e C2 , ambos abertos, como mostra a figura abaixo. Logo, ˛ ˆ F · dr C ˆ B A F · dr + = A F · dr = 0. B C1 1 C2 Como toda integral de Riemann, as de caminho também obedecem certas propriedades comuns; por exemplo, temos ˆ A ˆ B F · dr = − F · dr B A C2 C2 e, portanto, ˆ ˆ B F · dr ˆ A = − A B F · dr = B F · dr. A C2 C1 C2 Ora, como a curva C é completamente arbitrária, os caminhos do ponto A até o ponto B, C1 e C2 , também são completamente arbitrários. O que a igualdade acima, ˆ B ˆ B F · dr, F · dr = A A C2 C1 nos diz é que, quando a força é conservativa, o trabalho para ir do ponto A até o ponto B não depende do caminho. Se o trabalho não depende do caminho, então do que depende? Ora, depende dos pontos inicial e final. Por exemplo, tomemos os pontos A e B dos caminhos C1 e C2 acima. Podemos tomar um terceiro ponto, Q, como referência e escrever: ˆ B ˆ Q ˆ B F · dr = F · dr + F · dr, A A Q onde nem mesmo precisamos especificar o caminho, já que essas integrais independem de caminhos. Mas, ˆ Q ˆ A F · dr = − F · dr A Q e, assim, ˆ ˆ B F · dr = A ˆ A − B F · dr + Q F · dr. Q Fixando o ponto de referência, Q, podemos definir a função U do ponto P qualquer como ˆ P U (P ) = − F · dr Q e, finalmente, vemos que o trabalho da força conservativa é a diferença entre a mesma função calculada nos pontos inicial e final do caminho: W (A → B) = U (A) − U (B) . 2 Essa função U, cuja diferença entre dois pontos dá o trabalho da força por qualquer caminho entre esses mesmos pontos, é batizada de energia potencial e a razão para esse nome está ilustrada no caso da força gravitacional. Podemos também definir uma função de r, para cada ponto A do espaço, como segue: ˆ r fA (r) = F (r0 ) · dr0 , A por qualquer caminho que escolhamos, já que o resultado dessa integral independe dessa escolha. Calculemos, então, o gradiente de fA (r): ˆ r ˆ r ˆ r ∂ ∂ ∂ 0 0 0 0 F (r ) · dr + ŷ F (r ) · dr + ẑ F (r0 ) · dr0 . ∇fA (r) = x̂ ∂x A ∂y A ∂z A Calculemos, primeiramente, a derivada parcial com relação a x: ˆ r ˆ (xA ,y,z) ˆ (x,y,z) ∂ ∂ ∂ 0 0 0 0 0 F (r ) · dr = F (xA , y , z ) · dr + F (x0 , y, z) · dr0 , ∂x A ∂x (xA ,yA ,zA ) ∂x (xA ,y,z) pois a força F é uma função dos pontos do espaço: F = F (r) = F (x, y, z) = x̂Fx (x, y, z) + ŷFy (x, y, z) + ẑFz (x, y, z) , já que r = x̂x + ŷy + ẑz. Tomamos o caminho de integração para a integral acima como ilustra a figura abaixo. 3 Note que, como a integral não depende do caminho, podemos escolhê-lo convenientemente. Observe também que os caminhos de integração convenientes para os cálculos das outras derivadas parciais, com relação a y e a z, serão outros e não o da figura. Na equação ∂ ∂x ˆ r F (r0 ) · dr0 A = ∂ ∂x ˆ (xA ,y,z) F (xA , y 0 , z 0 ) · dr0 + (xA ,yA ,zA ) ∂ ∂x ˆ (x,y,z) F (x0 , y, z) · dr0 , (xA ,y,z) a primeira integral do membro direito é calculada mantendo a coordenada xA , do ponto A, fixa e terminando em um ponto com as coordenadas y e z do ponto r. A derivada parcial com relação a x dessa integral é, portanto, nula, pois essa integral não depende de x. A segunda integral do segundo membro da equação acima é calculada sobre uma reta paralela ao eixo x, mantendo as coordenadas y e z do ponto r fixas. Assim, temos: ˆ r ˆ x ∂ ∂ F (r0 ) · dr0 = Fx (x0 , y, z) dx0 ∂x A ∂x xA = Fx (x, y, z) . Repetindo raciocínios análogos para as derivadas parciais com relação a y e z, usando caminhos de integração diferentes do anterior, mas que não alteram o valor da integral do membro esquerdo, obtemos também: ˆ r ∂ F (r0 ) · dr0 = Fy (x, y, z) , ∂y A ˆ r ∂ F (r0 ) · dr0 = Fz (x, y, z) . ∂z A Assim, finalmente: ∇fA (r) = x̂Fx (x, y, z) + ŷFy (x, y, z) + ẑFz (x, y, z) = F (x, y, z) = F, independentemente da escolha do ponto A. Logo, se a força é conservativa, sempre existe uma função cujo gradiente dá a força. Qual a interpretação física da função fA (r)? Ora, por definição, essa função é o trabalho da força F desde o ponto A até o ponto com vetor posição r. Mas nós vimos que esse trabalho é a diferença entre as energias pontenciais nesses pontos; mais precisamente, fA (r) = W (A → r) = U (A) − U (r) . Logo, fA (r) = −U (r) + U (A) e, portanto, F = ∇fA (r) = −∇U (r) + ∇U (A) . 4 Como o ponto A é fixo e não depende das coordenadas do ponto de vetor posição r, segue que ∇U (A) = 0. Assim, F = −∇U (r) . Com isso, provamos que a força será sempre igual ao negativo do gradiente da energia potencial quando for uma força conservativa. 5