Universidade Federal de Ouro Preto Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental Mestrado em Engenharia Ambiental Maria Aparecida Galvão AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA DA DESCONTAMINAÇÃO DE RESÍDUOS BIOLÓGICOS DO SUBGRUPO A1 POR TRATAMENTO TÉRMICO EM AUTOCLAVE A VAPOR: UM ESTUDO DE CASO Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Engenharia Ambiental, Universidade Federal de Ouro Preto, como parte dos requisitos necessários para obtenção do título: “Mestre em Engenharia Ambiental” Área de Concentração _ Tecnologias Ambientais Orientadora: Profa. Dr a. Mônica Cristina Teixeira Ouro Preto, MG 2012 G182a Galvão, Maria Aparecida. Avaliação da eficácia da descontaminação de resíduos biológicos do subgrupo A1 por tratamento térmico em autoclave a vapor [manuscrito] : um estudo de caso / Maria Aparecida Galvão – 2012. xii, 85 f. : il., color.; graf.; tabs. Orientadora: Profª Drª Mônica Cristina Teixeira. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Instituto de Ciências Exatas e Biológicas. Núcleo de Pesquisas e Pós-Graduação em Recursos Hídricos. Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental. Área de concentração: Tecnologias Ambientais. 1. Resíduos - Teses. 2. Autoclaves - Teses. 3. Tratamento térmico Teses. 4. Gestão ambiental - Teses. I. Universidade Federal de Ouro Preto. II. Título. CDU: 628.4:621.78 Catalogação: [email protected] CDU: 669.162.16 ii iii AGRADECIMENTOS A DEUS, pelo dom da vida. Aos meus pais pelas lições de vida e a indicação do caminho. Aos meus filhos pelo testemunho de persistência diante dos desafios da vida. Aos colegas e amigos da FUNED e da UFOP pelo companheirismo, contribuição e incentivo. Aos professores da banca examinadora por terem aceitado o convite. Aos professores do mestrado por partilharem o conhecimento. À FUNED pela oportunidade. À professora Mônica Cristina Teixeira pela maestria e tempo disponibilizados na orientação deste trabalho. iv RESUMO O tratamento térmico dos resíduos infectantes do subgrupo A1 é indispensável para garantir uma disposição final ambientalmente correta e segura para os funcionários que os manipulam, tendo em vista que, alguns micro-organismos patogênicos podem permanecer viáveis, inclusive no solo, por períodos de até 180 dias. Este trabalho objetivou verificar a eficácia da descontaminação dos resíduos infectantes gerados em laboratórios de microbiologia que realiza diagnóstico e monitoramento das doenças de interesse a saúde pública, após tratamento prévio pelo método de autoclavação. Visou ainda observar o gerenciamento destes resíduos na instituição. Para alcançar os objetivos propostos realizou-se uma pesquisa de campo alicerçada em dois estudos de caso, ambos realizados no Laboratório Central de Saúde Pública de Minas Gerais, que tem descrito e aprovado em seu Plano de Gerenciamento dos Resíduos Serviços de Saúde o tratamento preliminar dos resíduos do subgrupo A1 por autoclavação. Os resíduos foram submetidos ao processo de autoclavação a 121ºC por 40 minutos e 127ºC por 30 minutos. Para investigar a eficácia da descontaminação utilizou-se um bioindicador termorresistente (suspensão de esporos de Bacillus stearotermophilus - ATCC 7953) que, quando utilizado de forma adequada, permite uma análise qualitativa e quantitativa da eficiência do processo de autoclavação. No primeiro estudo avaliou-se a descontaminação dos resíduos do subgrupo A1 acondicionados em sacos plásticos resistentes às altas temperaturas de todos os laboratórios. Posteriormente investigou-se exclusivamente os resíduos contendo o micro-organismo patogênico Mycobacterium tuberculosis, acondicionados em caixas metálicas de aço inox. Os principais resultados obtidos no primeiro estudo de caso indicam que 62,5% dos resíduos infecciosos submetidos ao tratamento não foram devidamente descontaminados como consequência do volume de resíduos acondicionado por saco. No segundo estudo, no qual, os resíduos eram dispostos em caixas metálicas, observou-se 100% de eficiência no tratamento. Constatou-se também que durante etapas chaves do gerenciamento dos resíduos há pontos de fragilidade como a segregação inadequada na totalidade dos sacos plásticos inspecionados e no acondicionamento inadequado em 38,7% destes. Quanto ao manuseio interno, há uma inobservância ao estabelecido dentro da instituição. Esses fatores podem ter contribuído negativamente para a eficácia do tratamento. Para melhoria dos resultados foram propostas algumas intervenções no manuseio, incentivo à minimização na geração de resíduos, educação continuada sobre o tema e, principalmente, a capacitação dos servidores para a correta execução das etapas do gerenciamento dos resíduos infectantes dentro da instituição. v ABSTRACT The thermal treatment of infectious waste is essential to ensure an environmentally correct disposal and security for employees that handle it, considering that some pathogenic micro-organisms can remain viable in the soil even for periods of up to 180 days. This work presented here aims to determine the effectiveness of decontamination of infectious waste generated in public health laboratory responsible for diagnostic and monitoring of reportable diseases, after pretreatment by autoclaving method. This work also aims to observe the management of these wastes within the institution. To achieve the proposed objectives a field research was conducted based on the analysis of two case studies. Those studies were conducted at the Central Laboratory of Public Health of Minas Gerais, which has described and approved a Plan for the Management of Health Services Wastes (PGRSS) that obligates that the preliminary treatment of infectious residues should be achieved by autoclaving. The residues were subjected to the autoclave at 121°C for 40 minutes and 127°C for 30 minutes. To investigate the effectiveness of decontamination we used a bioindicator – a Bacillus stearotermophilus ATCC 7953 spore suspension - a heat resistant microorganism that, if correctly used, permits a quantitative and qualitative analysis of the efficiency of the decontamination process. In the first study we evaluated the decontamination of infectious waste (subgroup A1) of all microbiology laboratories packed in plastic bags resistant to high temperatures. Subsequently we investigated only wastes containing the pathogenic microorganism Mycobacterium tuberculosis (subgroup A1) put up in stainless steel containers. The main results obtained in the first case studies indicate that 62.5% of infectious wastes had not been properly decontaminated and that this fact was associated with the volume of waste packaged in the bags. In the second study, in which the residues were placed in metal boxes, there was 100% efficiency. It was also found that during key stages of the management of the health solid waste there are points of weakness such as inadequate segregation for all the plastic bags checked and packaging (38.7%). As regards to the internal management of hazardous wastes there is a failure in accomplishing PGRSS standards established by the institution. These factors may have contributed negatively to the effectiveness of treatment. In order to improve waste management process performance some policies have been proposed: handling modifications, incentive to minimize waste generation, continuing education of technical staff. vi SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 1 2. OBJETIVOS ...................................................................................................................... 5 2.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................................... 5 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...................................................................................... 5 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ......................................................................................... 6 3.1 RESIDUOS SÓLIDOS ................................................................................................ 6 3.2 RESÍDUOS DE SERVIÇO DE SAÚDE (RSS) .......................................................... 7 3.2.1 PERICULOSIDADE DOS RESIDUOS SERVIÇOS DE SAÚDE ................... 11 3.3 LEGISLAÇÕES ........................................................................................................ 17 3.4 GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE .................... 21 3.5. TRATAMENTO PRÉVIO DOS RESIDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE .......... 30 3.5. AUTOCLAVAÇÃO ................................................................................................. 30 3.5.2. CONTROLE DE QUALIDADE DE ESTERILIZAÇÃO ................................ 36 3.5.3 CAUSAS DE INEFICIÊNCIA NO PROCESSO DE ESTERILIZAÇÃO PELO CALOR ÚMIDO EM AUTOCLAVES ...................................................................... 38 4. O LABORATÓRIO CENTRAL DE SAÚDE PÚBLICA – MG .................................... 40 5. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................. 45 5.1 PRIMEIRO ESTUDO DE CASO: ............................................................................ 46 5.2 SEGUNDO ESTUDO DE CASO ............................................................................. 48 5.3 MONITORAMENTO BIOLÓGICO DA EFICÁCIA DO PROCESSO DE AUTOCLAVAÇÃO ........................................................................................................ 48 5.3 MONITORAMENTO BIOLÓGICO DA EFICÁCIA DO PROCESSO DE AUTOCLAVAÇÃO ........................................................................................................ 49 6. RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................................... 50 6.1 CARACTERIZAÇÃO DOS RESÍDUOS BIOLÓGICOS ........................................ 50 6.2. ACONDICIONAMENTO DOS RESÍDUOS DE SERVIÇO DE SAÚDE ............. 55 6.3 COLETA E TRANSPORTE INTERNO DOS RESSÍDUOS DE SERVIÇO DE SAÚDE ............................................................................................................................ 56 6.4 MONITORAMENTO MICROBIOLÓGICO DO TRATAMENTO TÉRMICO POR AUTOCLAVAÇÃO ........................................................................................................ 57 vii 6.5 VERIFICAÇÃO DA EFICÁCIA DO TRATAMENTO TÉRMICO POR AUTOCLAVAÇÃO DOS RESÍDOS DO LABORATÓRIO DE TUBERCULOSE ..... 64 7. CONCLUSÕES…………………………………………………………………………66 8.CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 66 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 70 APÊNDICE I ....................................................................................................................... 73 APÊNDICE II ...................................................................................................................... 85 viii LISTA DE FIGURAS Figura 3.1 Frasco de indicador biológico após incubação (48 horas a 57,5º ± 2,5ºC). Coloração amarela é indicativa de crescimento microbiano 38 Figura 5.1 Fluxograma do primeiro estudo de caso 47 Figura 5.2 Fluxograma do segundo estudo de caso 48 Figura 6.1 Resíduos acondicionados sem segregação 53 Figura 6.2 Evolução dos quantitativos de RSS gerados diariamente pelos laboratórios do LACEN/MG no período entre 2006 e 2012. 54 Figura 6.3 Modelos de etiquetas RSS 56 Figura 6.4 Condições inadequadas de transporte de RSS 57 Resultado dos Indicadores Biológicos utilizados no monitoramento dos ciclos de descontaminação dos resíduos do subgrupo A1 (4 frascos positivos no Ciclo 1, e 3 frascos positivos nos ciclos 2 e 3). 59 Figura 6.5 Figura 6.6 Caixas Inox com tubos positivos para M. tuberculosis. 64 Figura 6.7 Carga de resíduos infectantes para descontaminação 65 ix LISTA DE TABELAS Tabela 3.1 Métodos de tratamento prévio dos Resíduos Sólidos de Saúde – vantagens e desvantagens. 27 Tabela 3.2 Níveis de inativação microbiana. 35 Tabela 6.1 Quantidade de resíduos gerados diariamente pelos 13 Laboratórios de Microbiologia do LACEN/MG no período de 24/05/2010 a 02/06/2010. 50 52 Tabela 6.2 Caracterização qualitativa dos resíduos acondicionados em sacos autoclaváveis enviados para descontaminação no período entre 24 de maio a 02 de junho de 2010. Tabela 6.3 Quantidade dos resíduos gerados diariamente pelos 13 Laboratórios de Microbiologia do Lacen-MG, no período de 11/06/2012 a 19/06/2012, após treinamento. 54 Tabela 6.4 Resultado do Monitoramento Biológico (IB) dos 18 sacos submetidos à descontaminação por autoclavação em função do peso dos resíduos e do volume de resíduos acondicionados nos sacos. 60 x LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária ATCC American Type Culture Collection CEPIS Centro Panamericano de Ingenieria Sanitaria y Ciencias del Ambiente CGLAB CDC Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública Centers for Disease Control and Prevention CNEN Comissão Nacional de Energia Nuclear CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente CPPI Comissão Permanente de Apoio ao Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde. Centro de Produção e Pesquisa de Imunobiologia CR/88 Constituição da República de 1988 DECD Divisão de Epidemiologia e Controle de Doenças DIOM Diretoria do Instituto Octavio Magalhães COPAGRESS DIVISA Divisão de Vigilância Sanitária DPGQ Divisão de Planejamento e Gestão da Qualidade FEAM Fundação Estadual do Meio Ambiente FUNED Fundação Ezequiel Dias HC Houve Crescimento IB Indicador Biológico IBGE INTRANET Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Rede interna de informação ISO International Organization for Standardization Kg Kilograma LACEN Laboratório Central de Saúde Pública MG Minas Gerais MS Ministério da Saúde NBR Norma Brasileira Regulamentadora NHC Não Houve Crescimento OMS Organização Mundial da Saúde OPAS Organização Panamericana da Saúde xi PEAD Polietileno de Alta Densidade PGRSS Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos RDC Resolução da Diretoria Colegiada RSS Resíduo de Serviço de Saúde SES Secretaria Estadual de Saúde UFC Unidade Formadora de Colônias UFOP Universidade Federal de Ouro Preto UHPMC Unidade de Higienização e Preparo de Meios de Cultura USEPA United States Environmental Protection Agency xii 1. INTRODUÇÃO O tema Resíduo de Serviço de Saúde (RSS) é polêmico e amplamente discutido devido à estreita relação existente entre meio ambiente, comunidade e qualidade de vida do homem. Atualmente a questão dos resíduos sólidos se apresenta como um problema de saneamento ambiental na maioria dos municípios brasileiros, principalmente na etapa de disposição final. Segundo as estatísticas nacionais realizadas em 2008 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 60% dos resíduos sólidos urbanos que são gerados no Brasil são dispostos em lixões a céu aberto e não possuem um gerenciamento adequado. O mau gerenciamento dos resíduos de serviço de saúde, particularmente no que se refere ao tratamento e disposição final, tem sido ainda um problema de difícil solução para a maioria das cidades brasileiras. Dessa maneira, a produção de resíduos constitui-se em um enorme desafio a ser enfrentado pelos órgãos públicos bem como pelos grandes centros urbanos. O gerenciamento inadequado de resíduos, principalmente na etapa da disposição final, tem provocado problemas ambientais capazes de colocar em risco e comprometer os recursos naturais e a qualidade de vida das atuais e futuras gerações (ANVISA, 2006). Os Resíduos de Serviços de Saúde fazem parte desta problemática e vem assumindo grande importância nos últimos anos. Eles são parte do total de resíduos urbanos, não necessariamente pela quantidade gerada, mas pelo potencial de risco que representam à saúde e ao meio ambiente. Estes desafios têm gerado políticas e legislações específicas, tendo como eixo de orientação a sustentabilidade do meio ambiente e a preservação da saúde (ANVISA, 2006). Vários estudos de caso relatam que a maioria dos RSS poderia ser considerada como resíduos comuns e, ser desta forma, aproveitada, caso houvesse segregação e acondicionamento correto no momento da geração de cada classe de resíduo, diminuindo assim, em grande quantidade os volumes de resíduos infectantes e os custos com tratamento. De acordo com a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 306/04 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) os RSS são classificados em cinco grandes grupos, a saber: grupo A, são os que apresentam riscos biológicos; grupo B são os resíduos com riscos químicos; grupo C são os resíduos com risco radiológico; grupo D são os resíduos comuns e; grupo E, que são os resíduos perfurocortantes. 1 Considerando que só uma pequena parte dos resíduos derivados da atenção à saúde necessita de cuidados especiais, uma adequada segregação diminui significativamente a quantidade de RSS infectantes, impedindo a contaminação da massa total dos resíduos gerados. Um sistema de gestão de resíduos sólidos só atinge a plena adequação mediante a execução de cada uma de suas etapas com regularidade e legalidade. A grande polêmica sobre os resíduos sólidos principalmente os RSS envolve preocupações com a segregação, acondicionamento, coleta, transporte e disposição final, cujas ações necessitam da participação de todos os envolvidos no estabelecimento de saúde (ANVISA, 2006). Para Schneider et al. (2004) o gerenciamento dos RSS encontra sérios problemas em todas as suas etapas. Tais problemas podem ser atribuídos a fatores como: escassez de conhecimentos específicos, carência de normas e leis efetivas, negligência dos responsáveis, não exigência dos planos de gerenciamento pelos órgãos competentes, fiscalização inadequada ou ausente e carência de programas de prevenção à poluição objetivando a minimização da geração de resíduos. Para propiciar o adequado gerenciamento dos RSS no âmbito interno e externo dos estabelecimentos de saúde, é preciso ter conhecimento da problemática desses resíduos, bem como das legislações e dos riscos que envolvem este tema. Desta forma, torna-se imprescindível conhecer a classificação dos RSS com base na composição e características biológicas, físicas e químicas uma vez que essas características estão intimamente ligadas à sua composição e fonte geradora (ANVISA, 2006). Objetivando diminuir os problemas decorrentes do mau gerenciamento dos RSS as legislações brasileiras têm procurado ser rigorosas na tentativa de exigir que os estabelecimentos de saúde atendam às disposições estabelecidas. Para atender a estas necessidades, foram publicadas a Resolução do Conselho Nacional Meio Ambiente (CONAMA) nº 358/05 e a RDC nº 306/04, da ANVISA, que tratam do gerenciamento dos RSS em todas as etapas e determinam as responsabilidades. As legislações Brasileiras que norteiam o gerenciamento dos RSS definem que os resíduos infecciosos dos subgrupos A1, A2 e A5 devem ser tratados previamente de forma eficiente para reduzir o seu potencial patogênico. O tratamento consiste no método, técnica ou processo que modifique as características dos riscos inerentes a estes resíduos, reduzindo ou eliminando o risco de contaminação, de acidentes ocupacionais ou de dano ao meio ambiente. Conforme o tipo do resíduo, o tratamento deve ser aplicado no próprio estabelecimento gerador ou pode ser aplicado em outro estabelecimento, observadas as 2 condições de segurança para o transporte entre o estabelecimento gerador e o local do tratamento (CONAMA nº358/05). Os processos mais utilizados para o tratamento dos resíduos são as desinfecções químicas ou térmicas (autoclavação, incineração e micro-ondas). A descontaminação por autoclavação consiste em manter o material em contato com o vapor de água, em temperaturas elevadas de 121 a 132ºC, por tempo entre 15 a 40 minutos e, desta forma, os agentes patogênicos são destruídos por termo-coagulação das proteínas citoplasmáticas. A autoclavação para tratamento de resíduos infectantes é bastante utilizado no ambiente hospitalar e laboratorial, de forma a possibilitar o manuseio do resíduo com segurança (BRASIL, 2002). A disposição final dos RSS encerra a etapa do gerenciamento e não deve ser considerada como menos importante, pelo contrário, deve se atentar a correta execução para que não haja comprometimento de todos os envolvidos. A disposição final merece especial atenção pelos riscos ao ser humano e ao meio ambiente. Os meios utilizados para dispor os RSS são: aterro sanitário, aterro de resíduos perigosos e valas sépticas impermeabilizadas. A disposição nos chamados lixões ou vazadouros, infelizmente bastante frequentes no Brasil, são ilegais, sendo o mais correto a disposição em aterros sanitários, onde os resíduos são compactados em camadas sob o solo, devidamente impermeabilizados e com técnicas de captação dos líquidos e gases gerados (BRASIL, 2002). A falta de infra-estrutura dos laboratórios de pesquisa e prestação de serviço, a falta de conhecimento em conceitos como biossegurança, qualidade, microbiologia básica, manutenção preventiva dos equipamentos, bem como a correta configuração e validação das cargas dentro das autoclaves, dentre outros fatores importantes para garantir a eficácia do tratamento prévio dos RSS, contribuem para o insucesso do gerenciamento dos RSS nas instituições de saúde (NIEHUES, 2004). Todos os fatores supracitados podem influenciar na efetividade do tratamento antimicrobiano do RSS, principalmente quando associados ao número e as características dos micro-organismos presentes nestes resíduos. Portanto, o Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS) deve integrar ações de planejamento, monitoramento e fiscalização para minimizar as não conformidades que possam vir a ocorrer durante a execução de suas etapas nos estabelecimentos de saúde. 3 Sendo assim, o presente estudo visa avaliar a eficácia do tratamento térmico por autoclavação dos resíduos sólidos infectantes do subgrupo A1 acondicionados em sacos plásticos e caixas metálicas de aço inox, gerados nos laboratórios de microbiologia do Laboratório Central de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais (LACEN-MG). Conforme os resultados obtidos, o trabalho poderá ter os seguintes impactos: diminuir os custos envolvidos na aquisição de tecnologia desnecessária ou não apropriados para o tratamento dos RSS; minimizar o impacto ambiental a partir do momento que forem corrigidas todas as não conformidades evidenciadas no trabalho; diminuir os riscos potenciais de contaminação dos trabalhadores, meio ambiente e da população próxima aos locais onde ocorre a disposição final dos resíduos infectantes. 4 2. OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Avaliar a eficácia da descontaminação de resíduos biológicos do subgrupo A1 por tratamento térmico em autoclave a vapor. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Observar e descrever as etapas do gerenciamento dos RSS praticadas no LACEN-MG, visando ao conhecimento da sua realidade; Verificar a eficiência da autoclavação de resíduos do subgrupo A1 de laboratórios de microbiologia. Verificar a eficiência da autoclavação de resíduos contendo somente culturas positivas de Micobacterium tuberculosis. Propor, se necessário, melhorias das formas de gerenciamento do resíduos infectante. 5 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1 RESIDUOS SÓLIDOS A norma brasileira NBR 10.004 – Resíduos Sólidos – Classificação, de 31 de maio de 2004, define resíduos sólidos como: “Resíduos nos estados sólidos e semi-sólidos, que resultam de atividades de origem industrial, domestica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível.” (NBR 10.004, 2004, p.1) As legislações brasileiras como RDC nº 306/04 e CONAMA nº 358/05 classificam os resíduos sólidos em função dos riscos potenciais ao meio ambiente e a saúde pública, de acordo com a natureza e a origem, como também com relação à responsabilidade pelo gerenciamento. Com relação aos riscos potenciais a Norma Brasileira nº NBR 10.004/2004, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), classifica os resíduos sólidos em duas classes: Classe I e Classe II. Os resíduos classe I, denominados perigosos, são aqueles que, em função de suas propriedades físicas, químicas ou biológicas, podem apresentar risco à saúde e ao meio ambiente. São caracterizados por possuírem uma ou mais das seguintes propriedades inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade. Os Resíduos de classe II, denominados não perigosos, são subdivididos em duas classes: classe II-A e classe II-B. Os resíduos classe II-A ou não Inertes: são aqueles que apresentam propriedades tais como combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade em água; Os resíduos de classe II-B ou Inerte: aqueles que submetidos a um contato 6 estático e dinâmico com a água não tenha nenhum de seus componentes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de potabilidade da água. Com relação à origem e a natureza, a ANVISA (2006) classifica os resíduos em domiciliar, comercial, varrição e feiras livres, serviço de saúde, portos, aeroportos e terminais rodoviários e ferroviários, industriais, agrícolas e resíduos da construção civil. Com relação à responsabilidade pelo gerenciamento dos resíduos sólidos são separados em dois grandes grupos: o primeiro refere-se aos resíduos sólidos urbanos (resíduos domésticos ou residenciais, resíduos comerciais e resíduos públicos) e o segundo grupo dos resíduos de fontes especiais (resíduos industriais, resíduos de construção civil, rejeitos radioativos, resíduos de portos, aeroportos e terminais rodoferroviários, resíduos agrícolas e resíduos de serviços de saúde). 3.2 RESÍDUOS DE SERVIÇO DE SAÚDE (RSS) De acordo com a RDC nº 306/04 da ANVISA e a Resolução CONAMA nº 358/05, são definidos como geradores de RSS todos os serviços relacionados com o atendimento à saúde humana ou animal, inclusive os serviços de assistência domiciliar e de trabalhos de campo, laboratórios analíticos de produtos para a saúde, necrotérios, funerárias e serviços onde se realizem atividades de embalsamamento, serviços de medicina legal, drogarias e farmácias, inclusive as de manipulação, estabelecimento de ensino e pesquisa na área da saúde, centro de controle de zoonoses, distribuidores de produtos farmacêuticos, importadores, distribuidores, produtores e controles para diagnósticos in vitro, unidades móveis de atendimento à saúde, serviços de acupuntura, serviços de tatuagem, dentre outros similares. Os RSS gerados em estabelecimentos de saúde são classificados de acordo com a RDC nº 306/2004 e a Resolução CONAMA nº 358/2005, em cinco grupos (A, B, C, D e E) de acordo com suas características de periculosidade. Ambas as resoluções dispõem de classificação idêntica, para favorecer o gerenciamento desses resíduos. O GRUPO A, corresponde aos resíduos com possível presença de agentes biológicos que, por suas características de maior virulência ou concentração, podem apresentar risco de infecção. Este grupo é subdividido em A1, A2, A3, A4 e A5 de acordo com o diferente grau de risco de infecção. 7 A1: Culturas e estoque de micro-organismos; resíduos de fabricação de produtos biológicos, exceto os hemoderivados; meio de cultura e instrumentos para transferência, inoculação ou misturas; resíduo de laboratório de manipulação genética. Resíduos resultantes de atividades de vacinação com micro-organismos vivos ou atenuados, incluindo frascos de vacinas com expiração do prazo de validade, com conteúdo inutilizado, vazios ou restos de produto, agulhas e seringas. Resíduos resultantes da atenção à saúde de indivíduos ou animais, com suspeita ou certeza de contaminação biológica por agentes classe 4 (condição de uma agente biológico representar grande ameaça para o ser humano e para os animais, elevado risco individual e elevado risco para a comunidade), micro-organismo com relevância epidemiológica e risco de disseminação ou causador de doença emergente que se torne epidemiologicamente importante ou cujo mecanismo de transmissão seja desconhecido. Bolsas transfusionais contendo sangue ou hemocomponentes rejeitadas por contaminação ou por má conservação, ou com prazo de validade vencido, e aquelas oriundas de coleta incompleta; sobras de amostras de laboratório contendo sangue ou líquidos corpóreos, recipientes e materiais resultantes do processo de assistência à saúde, contendo sangue ou líquidos corpóreos na forma livre. Estes resíduos devem ser submetidos a tratamento físico ou outros processos que vierem a ser validados para obtenção de redução ou eliminação da carga microbiana, em equipamento compatível com Nível III de Inativação Microbiana. A2: Carcaças, peças anatômicas, vísceras e outros resíduos provenientes de animais submetidos a processo de experimentação com inoculação de micro-organismos, bem como suas forrações, e os cadáveres de animais suspeitos de serem portadores de microorganismos de relevância epidemiológica e com risco de disseminação, que foram submetidos ou não a estudo anatomopatológico ou confirmação diagnóstica. Devem ser submetidos a mesmo tratamento dedicado ao subgrupo A1. A3: Peças anatômicas do ser humano; produto de fecundação sem sinais vitais, com peso menor que 500g ou estatura menor que 25 cm ou idade gestacional menor que 20 8 semanas, que não tenha valor científico ou legal e não tenha havido requisição pelos pacientes ou familiares. Devem ser submetidos a sepultamento, incineração ou cremação em equipamento devidamente licenciado para esse fim. A4: Kits de linhas arteriais, endovenosas e dialisadores, quando descartados; Filtros de ar e gases aspirados de área contaminada; membrana filtrante de equipamento médico-hospitalar e de pesquisa, entre outros similares; Sobras de amostras de laboratório e seus recipientes contendo fezes, urina e secreções, provenientes de pacientes que não contenham e nem sejam suspeitos de conter agentes Classe de Risco 4, e nem apresentem relevância epidemiológica e risco de disseminação, ou micro-organismo causador de doença emergente que se torne epidemiologicamente importante ou cujo mecanismo de transmissão seja desconhecido ou com suspeita de contaminação com príons _ estrutura protéica alterada relacionada como agente etiológico das diversas formas de encefalite espongiforme. Resíduo de tecido adiposo proveniente de lipoaspiração, lipoescultura ou outro procedimento de cirurgia plástica que gere este tipo de resíduo; Recipiente e materiais resultantes dos processos de assistência à saúde, que não contenham sangue ou liquido corpóreo na forma livre; Peças anatômicas (órgãos e tecidos) e outros resíduos provenientes de procedimentos cirúrgicos ou de estudos anatomopatológicos ou de confirmação diagnóstica; Carcaças, peças anatômicas, vísceras e outros resíduos provenientes de animais não submetidos a processos de experimentação com inoculação de micro-organismos, bem como suas forrações; cadáveres de animais provenientes de serviços de assistência; Bolsa transfusional vazia ou com volume residual pós-transfusão. Estes resíduos podem ser dispostos sem tratamento prévio em local devidamente licenciado para disposição de RSS. A5: Órgãos, tecidos, fluidos orgânicos, materiais perfurocortantes ou escarificantes e demais materiais resultantes da atenção à saúde de indivíduos ou animais, com suspeita 9 ou certeza de contaminação com príons. Devem ser submetidos à incineração antes da disposição final. O GRUPO B corresponde aos resíduos contendo substâncias químicas que podem apresentar risco a saúde pública ou ao meio ambiente, dependendo de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade tais como resíduos desinfetantes, efluentes de processadores de imagem, efluentes dos equipamentos automatizados utilizados em análises clínicas, produtos hormonais e antimicrobianos, dentre outros resíduos perigosos. O GRUPO C representa os materiais resultantes de atividades humanas que contenham radionuclideos em quantidades superiores aos limites de eliminação especificados nas normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e para os quais a reutilização é imprópria ou não-prevista. Enquadram-se neste grupo os rejeitos radioativos ou contaminados com radionuclideos, provenientes de laboratórios de análises clínicas, serviços de medicina nuclear e radioterapia, segundo a resolução CNEN-6.05, de dezembro de 1985. O GRUPO D representa os resíduos que não apresentam risco biológico, químico ou radiológico à saúde ou ao meio ambiente, podendo ser comparado aos resíduos domiciliares, tais como: papel de uso sanitário e fralda, absorventes higiênicos, peças descartáveis de vestuário, resto alimentar de paciente, material utilizado em anti-sepsia, equipo de soro, resíduos provenientes das áreas administrativas, resíduos de varrição, flores, podas e jardins e resíduos de gesso proveniente de assistência a saúde. O GRUPO E contempla os materiais perfurocortantes ou escarificantes, como laminas de barbear, agulhas, escalpes, ampolas de vidro, brocas, limas endodônticas, pontas diamantadas, laminas de bisturi, lancetas; tubos capilares; micropipetas; laminas e lamínulas; espátulas; e todos os utensílios de vidros quebrados no laboratório (pipetas, tubo de coleta sanguínea e placas de petri) ou similares. Devem ser submetidos a mesmo tratamento dedicado aos grupos A1 e A2. 10 3.2.1 PERICULOSIDADE DOS RESIDUOS SERVIÇOS DE SAÚDE “Uma infecção é a invasão ou colonização do corpo por micro-organismos patogênicos; a doença ocorre quando a infecção resulta em qualquer alteração de um estado de saúde. A doença é um estado anormal em que parte do corpo ou todo ele não estão harmonizados corretamente ou são incapazes de realizar suas funções normais. Para que uma doença infecciosa ocorra, deve haver uma fonte continua de organismos da doença. Esta fonte pode ser um organismo vivo ou um objeto inanimado que fornece ao patógeno condições adequadas para sobreviver e se multiplicar, e uma oportunidade de transmissão. Como exemplo de reservatório inanimado temos o solo e a água” (TORTORA et al, 2000). A Organização Mundial de Saúde divulgou em 1996, um alerta dizendo que “nenhum país está livre das doenças infecciosas”. No seu relatório aponta as principais razões pelas quais algumas doenças infecciosas não são controladas ou erradicadas: Disseminação da pobreza; Crescimento populacional desordenado; Aumento das concentrações urbanas; Degradação ambiental (desmatamento, mudanças ecológicas, exposição do ser humano a um contato maior com agentes transmissores); Globalização das economias; Viagens internacionais; Resistência a antibióticos. De acordo com a ANVISA (2006) os resíduos biológicos podem ser considerados infectantes por sua característica de maior virulência, infectividade e concentração de patógenos, apresentam risco potencial adicional à saúde pública. O potencial de risco para a saúde humana e ambiental atribuído aos resíduos infectantes constitui-se em uma grande discussão. SILVA et al. (2002), salientam que diferentes micro-organismos patogênicos presentes na massa destes resíduos infectantes apresentam capacidade de persistência ambiental, pois, nesse ambiente, as condições são ótimas para seu desenvolvimento, já que, suas exigências vitais de abrigo, alimentação e água são plenamente atendidas. Entre eles encontram-se o Mycobacterium tuberculosis, o Staphylococcus aureus, a Escherichia coli, os vírus da hepatite A e B dentre outros. 11 A periculosidade destes resíduos é atribuída essencialmente pela toxicidade e patogenicidade inerente a este material. Os RSS são considerados perigosos tanto pela legislação brasileira quanto pela legislação internacional. No Brasil, a Lei nº 12.305, de 02 de agosto de 2010, a qual institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), define os resíduos sólidos como material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semisólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d'água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível. De acordo com esta Lei, os resíduos sólidos são classificados quanto à origem e periculosidade. Quanto à origem, destacam-se os resíduos de serviço de saúde, que são gerados nos serviços de saúde, já os resíduos perigosos são classificados quanto à periculosidade, em razão de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade, e apresentam significativo risco à saúde pública ou à qualidade ambiental. A Resolução CONAMA nº 358/05 define os resíduos de serviços de saúde como todos aqueles resultantes de atividades exercidas nos serviços definidos no art. 1º desta Resolução [serviços relacionados com o atendimento à saúde humana ou animal, inclusive os serviços de assistência domiciliar e de trabalhos de campo; laboratórios analíticos de produtos para saúde; necrotérios, funerárias e serviços onde se realizem atividades de embalsamamento; serviços de medicina legal; drogarias e farmácias inclusive as de manipulação; estabelecimentos de ensino e pesquisa na área de saúde; centros de controle de zoonoses; distribuidores de produtos farmacêuticos; importadores, distribuidores e produtores de materiais e controles para diagnóstico in vitro; unidades móveis de atendimento à saúde; 12 serviços de acupuntura; serviços de tatuagem, entre outros similares] que, por suas características, necessitam de processos diferenciados em seu manejo, exigindo ou não tratamento prévio à sua disposição final. Esta resolução inclui os resíduos com risco biológicos no grupo A, o qual compreende os resíduos com possível presença de agentes biológicos que, por suas características de maior virulência ou concentração, podem apresentar risco de infecção. A United States Enviromental Protection Agency (USEPA, 1986) define os resíduos perigosos como resíduos sólidos ou a combinação deles, que devido a sua quantidade, concentração, características físicas, químicas ou infecciosas, podem causar ou contribuir significativamente para o aumento da mortalidade ou aumento das doenças graves irreversíveis ou de incapacitação temporária, representando um risco real e potencial à saúde humana e ao meio ambiente, quando inadequadamente tratado, armazenado, transportado e disposto ou manejado. A USEPA considera os resíduos infecciosos: excrementos, exsudados ou restos de materiais provenientes de salas de isolamento de pacientes com doenças altamente transmissíveis. Segundo ainda a legislação americana, de acordo com o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) os resíduos patológicos humanos podem ser definidos como: tecidos, órgãos e partes do corpo (exceto os dentes e as estruturas adjacentes do osso e gengiva), fluidos corporais que são removidos durante a cirurgia, necropsia, ou outros procedimentos médicos, ou amostras de fluidos corporais e seus recipientes, e material descartado saturados com fluidos corporais, que não o de urina, desde que o Comissário, devidamente promulgado pelo regulamento, poderá excluir material descartado como fluidos corporais a partir desta definição, se o Comissário considera que não representa um risco significativo para a saúde pública. 13 Resíduos não devem incluir urina ou materiais fecais enviados para diagnóstico de diferentes doenças infecciosas. Para Pruss et al. (1999), os resíduos infectantes se caracterizam como aqueles suspeitos de conter agentes patológicos como bactéria, fungos, parasitas ou vírus em concentrações suficientes para causarem doenças em hospedeiros suscetíveis. Esta categoria inclui: culturas e estoques de agentes infecciosos de trabalho em laboratório; resíduos de cirurgias e autópsias em pacientes com doenças infecciosas; resíduos provenientes de pacientes infectados em enfermarias de isolamento; resíduos que tenham estado em contato com doentes infectados submetidos à hemodiálise; e quaisquer outros instrumentos ou materiais que tenham estado em contato com pessoas ou animais doentes. Diante das diversas definições destaca-se a importância de uma rigorosa padronização das práticas de gerenciamento dos RSS, tendo em vista que práticas impróprias de gestão e gerenciamento destes resíduos podem causar impactos diretos ou indiretos para a saúde coletiva e à qualidade do meio ambiente. Doenças como hepatites infecciosas, o cólera, disenterias agudas, infecções cutâneas, salmoneloses, tuberculose, dentre outras, podem se espalhar de maneira epidêmica (COKER, et al., 2009). A falta de uma política eficiente de gestão de resíduos no Brasil pode acarretar em diversos problemas que afetam a saúde da população, ocorridos pela contaminação da água, do solo, da atmosfera, proliferação de vetores e riscos à saúde. Segundo o Ministério da Saúde (2005), a notificação compulsória tem sido a principal fonte da vigilância epidemiológica, a partir da qual, na maioria das vezes, se desencadeia o processo informação decisão-ação. A listagem das doenças de notificação nacional é estabelecida pelo Ministério da Saúde (MS) entre as consideradas de maior relevância sanitária para o país. Dentre as doenças que fazem parte da lista de notificação compulsória encontra-se a tuberculose que é uma doença infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis. Esta bactéria é relativamente resistente aos procedimentos convencionais de coloração, sendo considerada álcool-ácido resistente. Esta característica está associada à composição incomum da parede celular, que contém grande quantidade de lipídeos, e que pode ser responsável pela resistência aos estresses ambientais, como o ressecamento e aos agentes antimicrobianos químicos usados como anti-sépticos e desinfetantes. As espécies de interesse em patologia humana entre as micobactérias incluem a Mycobacterium tuberculosis, Mycobacterium bovis, Mycobacterium africanum e Mycobacterium microti. 14 A Mycobacterium tuberculosis é a de maior importância sanitária por ser o principal agente etiológico da tuberculose pulmonar. Essas espécies podem ser isoladas também do solo e água (BRASIL, 2008). Como o Mycobacterium tuberculosis pode estar presente no meio ambiente e persistir no mesmo por um período de tempo suficiente para entrar em contato com um hospedeiro susceptível é imprescindível que se tenham medidas de biossegurança para manipular os resíduos de serviço de saúde que são gerados nos Laboratórios de Tuberculose. Os técnicos que realizam as análises laboratoriais devem ter treinamentos específicos e os laboratórios devem ter um plano de gerenciamento de resíduos compatível com suas atividades. Este plano deve integrar-se ao processo de gerenciamento ambiental baseado nos princípios da não geração e na minimização da geração dos resíduos, que podem ser sólidos ou líquidos, de risco biológico ou não, químicos e aerossóis. Essas práticas laboratoriais podem evitar que os resíduos destes laboratórios sejam dispostos no meio ambiente inadequadamente ocasionando em contaminação do meio ambiente com o Mycobacterium tuberculosis, colocando a população em risco eminente (BRASIL, 2008). Os resíduos produzidos pelos Laboratórios de Tuberculose podem ser classificados como pertencentes aos grupos A e B, segundo as principais legislações Brasileiras da ANVISA e do CONAMA, pois apresentam risco potencial à saúde pública e ao meio ambiente devido à presença de agentes biológicos e produtos químicos (BRASIL, 2008). Na pesquisa de Silva et al. (2002), o Mycobacterium tuberculosis apresentou um tempo de persistência ambiental de até 180 dias na massa de resíduos sólidos. Os mesmos autores demonstram que o Mycobacterium tuberculosis representa o principal indicador na contaminação do ambiente físico-ar, sendo destacado pela importância na saúde ocupacional. Outro aspecto que deve ser considerado na avaliação deste micro-organismo, está no seu risco potencial de contaminação aerógena, mecanismo de transmissão utilizado pelo agente e penetração no novo hospedeiro, tendo a inalação como a forma principal de veiculação desse agente. Destacando a utilização do Mycobacterium tuberculosis como indicador de contaminação, Johnson et al. (2000) relataram no Estado de Washington, a contaminação, por este bacilo por 03 pacientes com tuberculose pulmonar. Todos trabalhavam em uma estação de tratamento de RSS. Este relato epidemiológico demonstra a relevância da transmissão de agentes infecciosos considerando o estágio ambiental. 15 Para o Ministério da Saúde, risco é a probabilidade de ocorrer um evento bem definido no espaço e no tempo, que causa dano à saúde, as unidades operacionais, ou dano econômico/financeiro. Na presença de um perigo não existe risco zero, porém existe a possibilidade de minimizá-lo ou alterá-lo para níveis considerados aceitáveis (BRASIL, 2002). Os fatores que determinam o risco dizem respeito ao tipo de agente gerador e a potencialidade da exposição ao mesmo. As populações expostas aos RSS infecciosos são os trabalhadores formais e informais que os manuseiam, a população não servida pela coleta, àqueles que residem em área próxima aos centros de tratamentos (quando realizado por empresas terceirizadas de incineração e autoclavação) e dos aterros controlados e aterros sanitários, valas sépticas e lixões (formas de disposição final), os catadores e suas famílias, a população em geral através da contaminação do corpo d’água, do solo, consumo de carne de animais criados em lixões e da exposição aos resíduos de risco (SCHNEIDER et al, 2004). Segundo o Ministério da Saúde (2005), a saúde não depende da ausência de microorganismos (esterilidade), mas do estado de equilíbrio entre a população microbiana e os mecanismos de resistência anti-infecciosa do hospedeiro. Para que uma infecção aconteça a partir do contato com resíduos que não sejam perfurocortantes há necessidade da presença do patógeno viável (agente infeccioso) para o ser humano. O indivíduo deve ter contato direto com o resíduo contaminado, deve-se ter uma porta de entrada para o patógeno no hospedeiro e, por último, um número suficiente do agente infeccioso para causar ou não uma doença. Para diminuir a probabilidade de ocorrer um dano deve-se ter cuidado no sentido de evitar o contado direto com os micro-organismos presentes nos resíduos, especialmente naquelas situações que favorecem a penetração deles no organismo. Basicamente, a maneira mais eficaz de se evitar tais riscos é através da prevenção. A adoção de condutas seguras no manuseio dos resíduos e o tratamento adequado reduzem, em muito, os riscos ocupacionais e o comprometimento do meio ambiente. Dessa forma, fica evidenciada a necessidade de uma atuação efetiva no controle prévio dos impactos ambientais. Pelas legislações vigentes sobre o tema, os RSS devem ter coleta especial. Quanto à disposição final, os municípios, devem construir valas sépticas com mantas recobertas de impermeabilização, conforme preconizado na Resolução CONAMA nº 16 358/05 e, também, recomendação da Fundação Estadual do Meio Ambiente – FEAM, sempre que estes não possuírem aterro sanitário para tal finalidade. Os cultivos, bem como todos os materiais utilizados em laboratórios de microbiologia geram resíduos infectantes considerados perigosos e, por esta característica, eles devem obrigatoriamente ser tratados previamente por equipamento que promova redução de carga microbiana compatível com nível III de inativação microbiana e posteriormente devem ser dispostos em aterros sanitários (CONAMA nº 358/05). Neste trabalho serão realizados estudos relativos ao gerenciamento dos resíduos do grupo A com foco na etapa do tratamento prévio antes da disposição final. Este procedimento é importante uma vez que as culturas das bactérias são de alta periculosidade por conterem grandes quantidades de isolados bacterianos do M. tuberculosis dentre outros patógenos, que representam risco individual e risco para a saúde pública. 3.3 LEGISLAÇÕES Segundo a Constituição da República (CR), 1988, para que a dignidade da pessoa humana possa se efetivar concretamente no seio da sociedade brasileira nas questões relacionadas à qualidade de vida da coletividade, o Estado deve agir de modo mais contundente no envolvimento dos cidadãos neste processo. O objetivo disto é promover a proteção ao meio ambiente e o combate à poluição em todas as suas formas (art. 23, VI, CR/88), uma vez que a responsabilidade pela qualidade de vida/meio ambiente é de competência comum à União, Estados, Distrito Federal e Municípios (art. 23, caput, CR/88). O artigo 225 da CR/88 estabelece que todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações e para assegurar a efetividade deste direito; é também incumbência do Poder Público: promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente. Esta constituição teve um caráter inovador atribuído à matéria ambiental, não contemplada nas edições anteriores. 17 Na década de 90, os RSS passaram a ser discutidos pelos órgãos públicos e várias resoluções foram aprovadas desde então com o objetivo de tentar um entendimento sobre a melhor maneira de lidar com os mesmos e evitar riscos à população, aos trabalhadores e ao meio ambiente. Em 1991 a Resolução CONAMA nº 006 foi aprovada e liberou os estabelecimentos de saúde e os terminais de transporte, da obrigação da incineração ou qualquer outro tratamento de queima dos resíduos sólidos por eles gerados. Esta resolução proporcionou aos órgãos estaduais e ambientais liberdade para estabelecerem normas e procedimentos referentes à coleta, acondicionamento, transporte e disposição final nos Estados que não optaram pela incineração. Em 1993, outra Resolução foi aprovada pelo CONAMA a de nº 005, que definiu a obrigatoriedade dos serviços de saúde de elaborar o programa de gerenciamento de seus resíduos, desde a sua geração até seu destino final. Esta resolução sofreu algumas atualizações e alterações, originando a Resolução CONAMA nº 283 de 12/07/2001, que dispõe especificamente sobre o tratamento e da destinação final dos RSS, definindo os procedimentos gerais para o manejo dos resíduos a serem adotados na ocasião da elaboração do plano o que, desde então, não havia sido contemplado em outras normas, e não mais reunindo os resíduos provenientes de portos e aeroportos. O termo “Programa de Gerenciamento de Resíduos de Saúde” é alterado nesta resolução para “Plano de Gerenciamento dos Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS)”, e torna-se obrigatório para todos os estabelecimentos de saúde. Em 2003, foi publicado a RDC nº 33 pela ANVISA que regulamentou o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde, levando em consideração os riscos aos trabalhadores, à saúde e ao meio ambiente. Esta resolução gerou discordância com as instruções estabelecidas pela Resolução CONAMA nº 283/01. Tal contradição levou os dois órgãos a buscarem a harmonização das duas regulamentações. A RDC nº 33/03 da ANVISA foi revogada e nova resolução (RDC nº 306) foi publicada em dezembro de 2004. Em maio de 2005, foi também publicado a Resolução CONAMA nº 358 definindo regras equânimes para os RSS. A RDC nº 306/04 da ANVISA determina ainda que os RSS sejam gerenciados em todo território nacional, na área pública ou privada e pontua as diretrizes gerais para o correto gerenciamento, desde o manejo, passando pela segregação, acondicionamento, identificação, transporte interno, armazenamento temporário, tratamento, armazenamento externo, coleta e transporte externo até a disposição final. 18 Além disso, estabelece procedimentos operacionais em função dos riscos e concentra seu controle na inspeção dos serviços de saúde. O artigo 1º da RDC nº 306/04 aprova o Regulamento Técnico para o gerenciamento de RSS, a ser observado em todo território nacional e, o artigo 4º define que a inobservância deste Regulamento configura infração sanitária e sujeitará o infrator as penalidades previstas na Lei nº 6.437, de 20 de agosto de 1977. O Regulamento Técnico define o Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS) como o documento onde devem estar descritos as ações relativas ao manejo dos resíduos sólidos, observadas suas características e riscos, no âmbito dos estabelecimentos, contemplando todas as etapas intra e extra-estabelecimento, bem como as ações de proteção à saúde pública e ao meio ambiente. A Resolução nº 358/05 dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos RSS e, portanto, aplica-se a todos os serviços relacionados com o atendimento a saúde humana ou animal. Preocupa-se com a preservação dos recursos naturais e do meio ambiente. Mais recentemente, destaca-se a aprovação, em 2010 da Lei nº 12.305 intitulada Política Nacional de Resíduos Sólidos, como mecanismo de estímulo à sustentabilidade ambiental no que diz respeito aos resíduos e rejeitos gerados pela produção e consumo na sociedade. A Lei atribui aos seus produtores, de forma solidária, a responsabilidade pelo descarte adequado dos mesmos, norteando a política de saneamento a ser adotada pelo poder público. Outras legislações federais, estaduais e normas técnicas de interesse estão resumidas a seguir: 19 Legislações Federais: Resolução CONAMA nº 316, outubro de 2002 “Dispõe sobre o tratamento e critérios para o funcionamento de sistemas de tratamento térmico de resíduos” Resolução nº 308, julho de 2002 “Licenciamento Ambiental de Sistemas de Disposição Final dos Resíduos Sólidos Urbanos gerados em município de pequeno porte”. Lei nº 9.605, fevereiro de 1998, regulamentada por meio do decreto Federal nº 3.179, de setembro de 1999 “Lei de Crimes Ambientais”. Lei que prevê punições administrativas, civis e penais para as pessoas físicas ou jurídicas que, de qualquer forma, praticarem atividades lesivas ao meio ambiente. Legislações Estaduais: Lei nº 7.772, setembro de 1990 “Dispõe sobre as medidas de proteção, conservação e melhoria do meio ambiente no Estado de Minas Gerais”. Lei nº 13.317, setembro de 1999 “Dispõe sobre o Código de Saúde de Minas Gerais” Deliberação Normativa COPAM nº 97, abril 2006 “Estabelece Diretrizes para a Disposição Final adequada dos RSS no estado de Minas Gerais e dá outras providencias”. Normas Técnicas (Associação Brasileira de Normas Técnicas) NBR 12.807, janeiro de 1993 Terminologia dos RSS NBR 12.808, janeiro de 1993 Classificação dos RSS NBR 12810, janeiro de 1993 Procedimento de coleta de resíduos de serviço de saúde NBR 12.809, fevereiro de 1993 Procedimento de manuseio dos resíduos serviços de saúde NBR 15051, 2004 Gerenciamento de resíduos de laboratórios clínicos 20 3.4 GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE Além das normas estaduais e federais, o Brasil já conta com leis, decretos, portarias, enfim uma legislação que, embora ampla, não tem conseguido solucionar a problemática ambiental referente aos resíduos de serviço de saúde. O fracasso devido não apenas à grande diversidade do país, dada à sua extensão geográfica e variado nível econômico da população, mas também à necessidade de criação de políticas públicas específicas às necessidades de cada serviço de saúde e que sejam compatíveis com a realidade econômica de cada região (MENDONÇA, 1997). Para minimizar os riscos causados pelos RSS é fundamental estabelecer um Plano de Gerenciamento dos Resíduos de Serviço de Saúde (PGRSS) que deve contemplar critérios técnicos de segregação, acondicionamento, identificação, coleta interna, armazenamento temporário, tratamento preliminar, armazenamento externo, coleta externa, tratamento externo e disposição final de todos os resíduos gerados pelos estabelecimentos de saúde. O PGRSS constitui-se num conjunto de procedimento de gestão, planejados e implementados a partir de bases cientificas normativas e legais com os objetivos de minimizar a produção de resíduos e proporcionar aos resíduos gerados um encaminhamento seguro de forma eficiente visando à proteção dos trabalhadores e a prevenção da qualidade do meio ambiente (RDC nº 306/04). A Lei nº 12.305 (2010), a qual institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), define gerenciamento de resíduo sólido como: Conjunto de ações exercidas, direta ou indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, de acordo com plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos ou com plano de gerenciamento de resíduos sólidos, exigidos na forma desta Lei. A RDC nº 306 (2004) define gerenciamento dos RSS como: Conjunto de procedimentos de gestão, planejados e implementados a partir de bases cientificas e técnicas, normativas e legais, com o objetivo de minimizar a produção de resíduos e proporcionar aos resíduos gerados, um encaminhamento seguro, de 21 forma eficiente, visando à proteção dos trabalhadores, a preservação da saúde pública, dos recursos naturais e dos meios ambiente. Dentre os princípios da PNRS destaca-se a prevenção e a precaução. Os objetivos desta política ressaltam também a importância da proteção da saúde pública e da qualidade ambiental e redução do volume e da periculosidade dos resíduos perigosos, especialmente no que diz respeito à diminuição do risco aos profissionais da saúde. Para gerenciar de forma correta os RSS, é imprescindível conhecer o estabelecimento de saúde, caracterizar e identificar quais os resíduos são gerados, avaliar os riscos relacionados a eles, conhecer as legislações sobre o tema, a infra-estrutura utilizada no seu manejo, bem como o impacto ambiental envolvido. O PGRSS quando bem elaborado e implantado de forma eficiente torna-se uma ferramenta poderosa que proporciona redução dos riscos e dos impactos ambientais devidos as seguintes principais razões: redução do número de acidentes de trabalho, redução dos custos de manejo dos resíduos, redução do número de infecções hospitalares e incremento da reciclagem (BRASIL, 2002). Caberá ao responsável legal dos estabelecimentos a responsabilidade pelo gerenciamento de seus resíduos desde a geração até a disposição final, de forma a atender aos requisitos ambientais e de saúde pública (RDC nº 306/04). Para a elaboração do PGRSS as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT servem como balizadoras, no entanto, por serem elaboradas por uma instituição privada, só dispõem de valor legal se forem ratificadas por legislação federal, estadual ou municipal, pois em caso de discordância entre a norma técnica e a lei, esta prevalece. O gerenciamento dos RSS engloba duas fases distintas, uma fase intraestabelecimento de saúde que refere-se às etapas executadas desde o ponto de geração até a disposição dos resíduos para coleta externa; e outra, a fase extra-estabelecimento, que se refere às ações executadas pela equipe da coleta externa até a disposição final. De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), 1997 dentre os problemas técnicos identificados na América Latina e no caribe, relacionados ao manejo dos RSS, a segregação inadequada dos resíduos perigosos no ponto de origem, faz com que estes resíduos representem 10 a 40% do total dos resíduos, em lugar de ser inferior a 10%. 22 Segundo a RDC nº 306/04, todos os profissionais que trabalham nos estabelecimentos de saúde, mesmo os que atuam temporariamente, que estejam diretamente envolvidos nas atividades de gerenciamento de resíduos, devem conhecer o sistema adotado para o gerenciamento dos RSS, a prática de segregação de resíduos, reconhecer os símbolos, expressões, padrões de cores adotados, conhecer a localização dos abrigos de resíduos, entre outros fatores indispensáveis à completa integração ao PGRSS. Com relação à segregação, Schneider et al (2004) diz que a descartabilidade é responsável pelo aumento cada vez maior do volume de resíduos nos estabelecimentos de serviço de saúde, sendo necessário implementar ações no sentido de haver uma segregação ainda junto as unidade, particularmente entre os resíduos que entram em contato com pacientes e/ou amostras biológicas contaminadas com micro-organismos patógenos do qual resulta o risco potencial de infectividade dos resíduos, para os quais não se aconselha a prática da reciclagem. De acordo com a RDC nº 306/04 a segregação: “consiste na separação dos resíduos no momento e local de sua geração de acordo com as características físicas, químicas, biológicas ou seu estado físico e os riscos envolvidos”. Esta é uma etapa primordial no gerenciamento dos resíduos, devendo os mesmos ser descartados em recipientes apropriados de acordo com sua origem. Para a ANVISA (2006), os resíduos comuns, quando misturados aos resíduos infectantes, aumentam o volume de resíduos perigosos que devem ser tratados. Fica óbvio que a segregação correta, no local de geração, permite redução do volume de resíduos que necessitam de um manejo especial, diminuindo também os custos com tratamentos desnecessários e aumento da eficácia da reciclagem. Para gerenciar os RSS é necessário considerar todas as etapas envolvidas no manejo. A caracterização é o principal passo para orientar o planejamento, a definição dos procedimentos e dos equipamentos para o correto manejo desses resíduos (ANVISA, 2006). Segundo a Resolução RDC nº 306/04, baseado nas características e no volume dos RSS gerados (caracterização), deve ser elaborado um Plano de gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde – PGRSS, estabelecendo as diretrizes de manejo dos RSS. A OPAS (1997) relata três vantagens em se realizar a segregação: reduzir riscos a saúde, diminuir custos com tratamento e possibilidade de reciclar os resíduos inertes. 23 Outra etapa importante é o acondicionamento dos RSS em recipientes adequados a cada classe. Os RSS já segregados devem ser acondicionados em sacos ou recipientes que evitem vazamentos, perfurações e rupturas. A RDC nº 306/04 define o termo acondicionamento como o “ato de embalar os resíduos em sacos ou recipientes que evitem vazamentos e resistam às ações de punctura e ruptura”. A capacidade dos recipientes de acondicionamento deve ser compatível com a geração diária de cada tipo de resíduo. Concomitante ao acondicionamento o resíduo deve ser identificado corretamente, para que haja um reconhecimento imediato do tipo de resíduo acondicionado. A identificação deve estar aposta nos sacos de acondicionamento, nos recipientes de coleta interna e externa, nos recipientes de transporte interno e externo, e nos locais de armazenamento, em local de fácil visualização, de forma indelével, utilizando-se símbolos, cores e frases atendendo aos parâmetros referenciados na norma NBR 7500 da ABNT, além de outras exigências, relacionadas à identificação do conteúdo e aos riscos específicos de cada grupo de resíduos (RDC nº 306/04). Os resíduos do grupo A, objeto deste trabalho, devem ser identificados pelo símbolo de substância infectante constante na NBR – 7500 da ABNT, com rótulo de fundo branco, desenho e contornos pretos. De acordo com a RDC nº 306/04, “As embalagens secundárias que não entraram em contato com o produto, devem ser fisicamente descaracterizadas e acondicionadas como resíduo do grupo D. Devem ser preferencialmente encaminhadas para processo de reciclagem”. Os resíduos perfurocortantes devem ser acondicionados em recipientes resistentes a punctura, que devem trazer o símbolo universal de infectante além da inscrição “resíduo perfurocortante” para indicar o risco. Os resíduos infectantes devem ser acondicionados em sacos plásticos, cor branca leitosa, com símbolo de risco biológico e descrição de “resíduo infectante”. Os resíduos comuns que são gerados nos estabelecimentos de saúde devem também ser contemplados durante o gerenciamento interno. Estes resíduos não necessitam de tratamento especial como as demais classes e tipos devendo ser encaminhados a reciclagem. O acondicionamento dos resíduos considerados comuns pode ser efetuado em sacos de qualquer cor de acordo para serem coletados pelo serviço público de limpeza e os resíduos recicláveis devem ser encaminhados sempre que possível para uma associação ou cooperativa. 24 A coleta interna é o procedimento que consiste em coletar os RSS que são gerados nos pontos de geração e encaminhados até um local de armazenamento temporário ou para um local onde os RSS possam ser tratados até que seja realizada a coleta externa. A RDC nº 306 (2004) estabelece que o armazenamento temporário “consiste na guarda temporária dos recipientes contendo os resíduos já acondicionados em local próximo aos pontos de geração, visando agilizar a coleta dentro do estabelecimento e otimizar o deslocamento entre os pontos geradores e o ponto destinado a apresentação para a coleta externa”. Não poderá ser feito o armazenamento temporário com disposição direta sobre o piso, sendo obrigatória a conservação dos sacos em recipientes de acondicionamento. O armazenamento externo de acordo com a RDC nº 306/04, “consiste na guarda dos recipientes de resíduos até a realização da etapa da coleta externa, em ambiente exclusivo com acesso facilitado para os veículos coletores”. O transporte interno deve ser realizado de forma segura e eficaz sendo necessário que a instituição geradora estabeleça um horário que seja compatível com as rotinas internas. O tratamento preliminar consiste na aplicação de processo, dentro do estabelecimento gerador, que reduza a carga microbiana ou a inativação dos agentes nocivos a saúde humana ou ao meio ambiente, a determinados resíduos de serviço de saúde dos Grupos A ou B permitindo que sejam coletados e transportados com segurança até o local de tratamento final e/ou de sua disposição final visando à minimização do risco a saúde pública, a preservação da qualidade do meio ambiente, a segurança e a saúde do trabalhador. (CONAMA nº 358/05). Os métodos utilizados nos tratamentos preliminares variam de acordo com o tipo de resíduo, seu potencial de risco e dos recursos disponíveis na instituição, podendo ser incineração, autoclavação, desinfecção química, desinfecção a gás, esterilização por radiação, por plasma, por micro-ondas e inativação térmica. Outros métodos existem apenas para a redução de volume, como a compactação e a trituração. Todas as tecnologias apresentam vantagens e desvantagens, não somente no que se refere à diminuição ou não do volume, mas também a segurança das instalações e da saúde ocupacional e pública (ANVISA, 2006). 25 Os métodos comumente utilizados para tratamento dos RSS nas instituições são a autoclavação, a incineração e desinfecção por micro-ondas e suas vantagens e desvantagens são descritas na tabela 3.1 (BRASIL, 2002). 26 Tabela 3.1. Métodos de tratamento prévio dos Resíduos Sólidos de Saúde – Vantagens e Desvantagens. Tratamento Autoclavação Conceito Desinfecção por meio de exposição ao vapor d’água com temperatura elevada, sob determinadas condições de pressão. Recursos Água; energia elétrica; esgoto sanitário. Incineração Processo de oxidação a altas temperaturas com decomposição dos resíduos transformando-os em cinzas e efluentes gasosos. Água, energia elétrica, esgoto sanitário. Desinfecção do Desinfecção por Micro- material por ação do calor produzido ondas pelos geradores de radiação eletromagnética de alta frequência. Água, energia elétrica, esgoto sanitário. Parâmetros Carga. Controle de tempo (10 -60 min), pressão (1527 psi) e temperatura (121-132ºC). Controle de eficiência – uso de indicadores físicos, químicos e biológicos. Controle dos efluentes. Controle de tempo e temperatura (800 a 1000ºC); controle da turbulência, controle dos gases, controle atividades de partida, parada e carga, limpeza de rejeito e cinzas. Vantagens Baixo custo operacional. Instalação e manutenção fáceis, simples e de baixo custo. Facilidade de operação. Desvantagens Mão de obra qualificada e treinada; Não reduz volume; Alto custo dos indicadores biológicos. Alta eficiência na destruição dos RSS, redução do volume dos RSS (80- 95%), descaracterização dos RSS. Alto custo instalação e operação; manutenção rigorosa e de alto custo; mão de obra extremamente qualificada e treinada; risco elevado de contaminação do ar; custo elevado do monitoramento das emissões gasosas; instalação em local restrito e longe da comunidade; demanda inspeção constante. Custo operacional alto; capacidade de operação limitada; risco de emissão de aerossóis, vapores tóxicos e radiação; requer pessoal especializado e monitoramento do próprio processo. Controle de temperatura Operação contínua; (95-100 ºC); controle de descaracterização e tempo (20 minutos) redução de volume dos RS (se associada à trituração); melhor capacidade de penetração da radiação e uniformidade da condução da energia térmica; (Fonte: Adaptado BRASIL, 2002) 27 Não existe uma tecnologia que ofereça somente aspectos vantajosos quando a questão é o tratamento de RSS. A definição de uma tecnologia parte de um processo de gestão, fundamentado em dados e informações capazes de informar qual é a real necessidade da instituição. De acordo com BRASIL (2002), para a seleção do tipo de tratamento mais adequado dos RSS, convêm avaliar os seguintes fatores: Impacto ambiental; Custos de instalação e manutenção; Capacidade do equipamento; Fatores de segurança. O equipamento deve ter capacidade de tratamento de acordo com a quantidade de resíduos gerados no estabelecimento, sem exceder seus limites nem subutilizá-los. Qualquer sistema de tratamento deve observar os requisitos legais e ser devidamente licenciado pelo órgão ambiental local. A escolha do tratamento adequado dos RSS do grupo A é extremamente importante para garantir que os micro-organismos sejam inativados para serem dispostos no meio ambiente com segurança. Segundo Tortora et al.(2000) quando as populações microbianas são aquecidas elas normalmente morrem em uma taxa constante, ou seja, não morrem todos ao mesmo tempo, mas de uma forma progressiva. O ponto térmico de morte característico de qualquer espécie de micro-organismo é a menor temperatura que eliminar todos os organismos numa cultura pura padronizada, dentro de um período determinado. O tempo de morte térmica é o espaço de tempo necessário para esterilizar uma cultura pura numa temperatura específica. Vários fatores interferem na efetividade dos tratamentos antimicrobianos, dentre eles: O número de micro-organismos: quanto maior a carga microbiana existente no início do processo, maior o tempo gasto para eliminar a população; As características microbianas: os endosporos são difíceis de inativar, e mesmo os micróbios vegetativos exibem uma variação considerável em suas sensibilidades aos controles físico-químicos; 28 Influência ambiental: a presença de matéria orgânica como sangue, saliva, fezes, alimentos, culturas de laboratórios, dentre outros, frequentemente inibe a ação dos antimicrobianos químicos. Isto também é verdadeiro para o tratamento utilizando o calor. Um meio de suspensão que contem gorduras ou proteínas tende a proteger as bactérias, que terão uma maior taxa de sobrevivência. Além disso, o pH pode ser um fator importante. O calor é mensuravelmente mais eficiente quando os micro-organismos encontram-se em meio ácido. Tempo de exposição: em tratamentos com calor, uma exposição mais longa compensa uma temperatura inferior. Igualmente a outros fatores, os efeitos da irradiação são muito dependentes do tempo. Os antimicrobianos químicos requerem exposição prolongada para que os micróbios ou endósporos mais resistentes sejam afetados (TORTORA et al., 2000). A disposição final é a última etapa do sistema de gerenciamento dos RSS e mesmo empregando sistemas de tratamento, é importante considerar que sempre restará certa quantidade de resíduos a ser encaminhada para uma unidade de disposição final. A disposição final dos RSS, segundo a Resolução CONAMA nº 358/05, é definida como a prática de dispor os resíduos sólidos no solo previamente preparado para recebêlos, de acordo com critérios técnico-construtivos e operacionais adequados, em consonância com as exigências dos órgãos ambientais competentes. A disposição final merece atenção especial pelos riscos aos seres humanos e ao meio ambiente. O lançamento em “lixões” é ainda muito comum nos municípios e na maioria das vezes, os resíduos de risco são dispostos junto com o lixo comum. No aterro controlado os resíduos são cobertos com terra, reduzindo os problemas de poluição visual, sem reduzir a poluição do solo, da água e atmosférica; não considera a formação de líquidos e gases sendo, portanto, uma variação do lixão (ANVISA, 2006). Segundo a NBR 8.419 (1992), o aterro sanitário é uma técnica de disposição final de resíduos sólidos urbanos no solo, sem causar danos à saúde pública e à sua segurança, minimizando os impactos ambientais, método este que utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos à menor área possível e reduzi-los ao menor volume permissível, cobrindo-os com uma camada de terra na conclusão de cada jornada de trabalho, ou intervalos menores, se necessário. Quando bem operados evita impactos ambientais indesejáveis como o aparecimento de roedores, insetos e urubus, espalhamento 29 do lixo e emanação de odores por ação do vento, a criação de animais, a presença de catadores e a poluição das águas subterrâneas e superficiais, bem como poluição visual. O método mais adequado para disposição dos resíduos, incluindo o de serviços de saúde, é o aterro sanitário que utiliza princípios de engenharia para confinar resíduos sólidos à menor área possível e reduzi-los ao menor volume possível, cobrindo-os com uma camada de terra na conclusão da jornada de trabalho ou a intervalos menores, se necessário. Os gases produzidos pela decomposição do resíduo no solo são queimados e os percolados são captados para tratamento (ANVISA, 2006). Todas as etapas do gerenciamento de RSS envolvem custos e investimentos em maior ou menor grau, sendo o tratamento e a disposição final os que mais sofrem com a falta de recursos. 3.5. TRATAMENTO PRÉVIO DOS RESIDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE Segundo Castro (2003), os RSS contem na sua composição micro-organismos com capacidade de transmissão de doenças infecto-contagiosas no caso de meios de cultura inoculados e vacinas de microrganismos vivos ou atenuados, secreções, excreções e outros fluidos orgânicos quando coletados considerando somente a parte destinada a análise, bolsa de sangue, sangue e hemocomponentes, materiais descartáveis que tenham entrado em contato com quaisquer fluidos orgânicos como algodão, gaze, ataduras, luvas dentre outros resíduos. E, portanto devem, obrigatoriamente, ser submetidos ao tratamento preliminar. Em estabelecimentos de saúde, de forma geral, o termo tratamento está associado aos resíduos com risco biológico (grupo A). Existem dificuldades para estabelecer critérios para definir o melhor tratamento. Neste trabalho será discutido e investigado exclusivamente o tratamento térmico por autoclavação. 3.5.1 AUTOCLAVAÇÃO As autoclaves, sejam verticais ou horizontais, são utilizadas visando-se obter descontaminação ou esterilização dos mais diversos materiais, residuais ou não. A esterilização caracteriza-se pela completa eliminação ou destruição de todas as formas de vida microbiana viáveis, podendo ser realizada por meio de processos físicos ou químicos (ANVISA, 2006). As formas de vida consideradas mais resistentes a processos físicos e químicos de tratamento e que podem ser manuseadas em laboratório são os esporos 30 bacterianos. Portanto, os esporos são utilizados para estabelecer parâmetros para os processos de esterilização. Um dos processos físicos de esterilização mais utilizados é a esterilização a vapor, sendo considerado eficiente na morte térmica das bactérias, podendo ser efetuada por autoclave. Os métodos de esterilização podem ser classificados, de acordo com o agente esterilizante, em calor seco e úmido, gases como óxido de etileno, formaldeído e peróxido, radiação gama cobalto e ultravioleta e ainda vários agentes químicos (NBR 9804, 1987). De todos os métodos citados, a esterilização pelo calor é a que maior quantidade de materiais processa, tanto na indústria farmacêutica quanto na área hospitalar. A esterilização pelo calor é, sem dúvida, o método mais conveniente para ser aplicado, por ser o mais eficiente, seguro e conhecido, além de ser o mais estudado e dispor hoje de equipamentos adequados (TORTORA et al., 2000). O calor é uma forma de energia capaz de transferir-se de um sistema a outro desde que exista uma diferença de temperatura entre eles. O “calor úmido” é um caso interessante de transmissão de calor, amplamente reconhecido e utilizado. Este se baseia na utilização do vapor de água a temperaturas elevadas, como meio de transmissão de calor. Outra vantagem da água como meio de transmissão de calor é sua capacidade de dilatar-se ao passar à fase de vapor e contrair-se ao voltar à fase líquida. Isso faz com que a penetração do meio nas entranhas do objeto a ser processado seja boa, produzindo um efeito de “bomba de vácuo”. Ao condensar o vapor, cria-se um vácuo parcial que tende a ser ocupado por mais vapor, que, por sua vez, traz mais energia. Dessa maneira, cumpre-se um ciclo. De acordo com Baumer (2002), o mecanismo geral pelo qual o vapor atua sobre um ser vivo pode ser assim resumido: Na parede celular do micro-organismo há aquecimento por transferência de calor (principalmente por convecção). Ao ceder sua energia, o vapor aquece o material e produz umidade na parede celular do micro-organismo a ser destruído (isto é essencial para a eficiência do processo). Nestas condições há uma grande contração de volume (865 vezes seu volume original). Com isso produz-se vácuo e ativa-se a penetração de mais vapor. 31 Com a repetição desses pequenos ciclos, atinge-se o equilíbrio térmico, o qual será obtido com temperaturas maiores que + 100ºC (normalmente + 121ºC com 1,09 Kgf/cm2 de pressão de vapor saturado e seco). A proposta da esterilização é inativar os contaminantes microbiológicos e, por meio disto, transformar os produtos não estéreis em produtos estéreis. A cinética de inativação de uma cultura pura de micro-organismo por agentes físicos e/ou químicos usados para esterilizar geralmente pode ser melhor descrita por uma relação exponencial entre o número de micro-organismos sobreviventes e o tempo de exposição com o agente esterilizante. Inevitavelmente, isto significa que existe sempre uma probabilidade finita para que um micro-organismo possa sobreviver independentemente da extensão do tratamento aplicado. Para um dado tratamento, a probabilidade de sobrevivência é determinada pelo número de resistência de microorganismos e pelo ambiente o qual o micro-organismo permanece durante o tratamento. Isto significa que a esterilidade de alguns produtos um processo de esterilização não pode ser garantida e a esterilidade dos produtos processados é definida nos termos da probabilidade de haver um micro-organismo viável presente em algum produto (NBR/ISO 17665-1, 2010). A ABNT NBR/ISO 17665-1 (2010), descreve requisitos que, se cumpridos, fornecerão um processo de esterilização por vapor pretendido para esterilizar produtos para saúde com atividade microbicida apropriada. Além disso, a conformidade com os requisitos garante que esta atividade seja segura e reprodutível e que prognósticos sejam feitos com razoável confiabilidade e que após a esterilização possa haver baixa probabilidade de presença de um micro-organismo viável no produto. Segundo NBR/ISO 17665-1 (2010), “probabilidade de sobrevivência”, define parâmetros de ciclos baseados num número de micro-organismo presente normalmente nas cargas a serem processadas e na resistência térmica destes. A resistência térmica e o número de micro-organismo combinados determinam a quantidade de calor necessário para reduzir o número inicial destes na quantidade especificada. Vale lembrar que o conceito de esterilidade é estatístico e, em geral (pelo menos, assim fazem algumas farmacopéias), considera-se que o processo obteve sucesso caso exista uma probabilidade de sobrevivência ao ciclo de apenas 10 esporos. Em outras palavras, aceita-se que haja uma redução da população inicial de 1.000.000 unidades de 32 esporos ou células viáveis para 1 unidade de micro-organismo, após o ciclo (BAUMER, 2001). As bactérias no seu estado ativo podem ser facilmente destruídas por agentes químicos e físicos, os quais podem atuar eliminando totalmente os micro-organismos ou impedindo o seu crescimento, criando condições nas quais eles não possam se reproduzir. A esporulação é um mecanismo protetor através do qual algumas bactérias são capazes de permanecer em estado de latência por um grande período de tempo. O esporo bacteriano é a forma microbiana mais resistente aos agentes esterilizantes, sendo utilizada como parâmetro para o estudo microbiológico do processo de autoclavação. Um microorganismo é considerado morto se não formar colônias em nenhum meio de cultura (COSTA, 1980). Segundo Costa (1990), o processo de esterilização visa à incapacidade de reprodução de todos os organismos presentes no material a ser autoclavado, causando a morte microbiana até que a probabilidade de sobrevivência do agente contaminante seja menor que 1:1.000.000, quando um objeto pode então, ser considerado estéril. Um dos avanços na prática da esterilização é a compreensão de que os micro-organismos submetidos à maioria dos processos de esterilização não morrem todos ao mesmo tempo, mas de uma forma progressiva. Segundo Tortora et al. (2000), quando as populações bacterianas são aquecidas ou tratadas, elas morrem em uma taxa constante. Por exemplo, se uma população de um milhão de micro-organismos foi tratada por um minuto e 90% da população morreu, permanecendo cerca de 100.000 micro-organismos. Se a população é tratada por mais um minuto, 90% daqueles micro-organismos morrem, permanecendo agora 10.000 sobreviventes. Em outras palavras, para cada minuto que o tratamento é aplicado, 90% da população restante é morta. Se a curva de mortalidade é plotada logaritmicamente, observa-se que a taxa de morte é constante. Para que a esterilidade seja um processo absoluto é necessário conhecer o ciclo de vida das bactérias e as condições necessárias à sua destruição, bem com de seus esporos. Segundo Niehues (2004), os dois fatores de esterilização que devem ser medidos quando do uso de vapor como agente esterilizante são a temperatura e o tempo de exposição. Para que a destruição dos micro-organismos seja absoluta, o processo de esterilização a vapor deve permitir o controle do calor, umidade e temperatura. O calor pode matar prontamente 33 as bactérias, mas, além disso, é necessário que o vapor circule por convecção, de forma a penetrar nos objetos porosos. A esterilidade ou nível de segurança é a incapacidade de desenvolvimento das formas sobreviventes ao processo de esterilização, durante a conservação e utilização de um produto. Portanto, um resíduo é considerado tratado quando os micro-organismos nele presentes forem inativados a níveis possíveis de serem manipulados, ou seja, quando ocorrer inativação microbiana decorrente dos efeitos do processo químico ou físico em que os mesmos foram submetidos tornando os micro-organismos presentes na massa dos resíduos incapazes de multiplicarem, mesmo em condições adequadas para tal. A OPAS (1997) descreve dois tipos de tratamento para os resíduos: Tratamento imediato ou primário: este tratamento é realizado imediatamente após a geração dos resíduos e deve acontecer na mesma área em que foram produzidos. Tratamento centralizado ou secundário interno – executado dentro da instituição de saúde, quando esta possui um sistema de tratamento que cumpre com as especificações técnicas adequadas; ou externo - executado fora da instituição de saúde. A RDC nº 306/04 apresenta uma tabela com níveis de inativação microbiana extraída do documento Technical Assistance Manual: State Regulatory Oversight of Medical Waste Treatment Technology, da EPA, Os níveis de inativação microbiana recomendados estão descritos na tabela 3.2. 34 Tabela 3.2 - Níveis de inativação microbiana. Fonte: RDC nº 306/04 Nível 1 Nível 3 Nível 3 Nível 4 Inativação de bactérias vegetativas, fungos e vírus lipofílicos com redução igual ou maior que 6Log10 Inativação de bactérias vegetativas, fungos, vírus lipofílicos e hidrofílicos, parasitas e micobactérias com redução igual ou maior que 6Log10 Inativação de bactérias vegetativas, fungos, vírus lipofílicos e hidrofílicos, parasitas e micobactérias com redução igual ou maior que 6Log10, e inativação de esporos do B. stearothermophilus ou de esporos do B. subtilis com redução igual ou maior que 4Log10. Inativação de bactérias vegetativas, fungos, vírus lipofílicos e hidrofílicos, parasitas e micobactérias, e inativação de esporos do B. stearothermophilus com redução igual ou maior que 4Log10. Para o tratamento dos RSS é necessário que as tecnologias atinjam pelo menos o Nível 3 de inativação após o tratamento. Para tecnologias de tratamento que dependem da inativação térmica dos micro-organismos como a autoclavação, esporos de Bacillus subtilis podem ser utilizados para verificar o Nível 3 de inativação e Bacillus stearothermoplhilus podem ser utilizados para verificar o Nível 4 de inativação microbiana. Segundo Baumer (2002), o tratamento térmico por autoclave tem sua eficiência baseada no contato direto do vapor com o material, ou seja, se uma bactéria estiver dentro do frasco, o vapor precisará aquecer o frasco, até que atinja uma temperatura suficiente para destruí-la. A eliminação se dará pelo aquecimento do meio em que este se encontra e não pelo contato direto com o vapor. O tratamento dos resíduos infectantes objetiva fazer uso de técnicas e processos que venham modificar as características, principalmente as patogênicas antes que ocorra a disposição final dos mesmos. Os métodos de tratamento deverão permitir a desinfecção e/ou esterilização dos RSS para torná-los inertes do ponto de vista patogênico. Atualmente os processos térmicos são os mais utilizados quando se deseja destruir micro-organismos patogênicos. A autoclavação é um destes processos que utiliza de vapor superaquecido sob condições controladas que, quando em contato com os resíduos infectantes, promovem a desinfecção. A autoclavação pode ser efetuada empregando-se autoclave vertical ou horizontal. Nas autoclaves verticais o ar é removido por gravidade, assim que o vapor entra na câmara, o ar presente no interior desta é mais frio (mais denso), sai por uma válvula na superfície inferior da câmara. Caso ocorra permanência de ar residual neste processo, a esterilização fica comprometida principalmente para os materiais densos ou porosos. Estas autoclaves 35 não são adequadas, pois dificultam a circulação do vapor, a drenagem do ar e a penetração do vapor devido à distribuição dos materiais a serem descontaminados, que ficam sobrepostos. Nas autoclaves verticais o processo de autoclavação é lento e favorece a presença e permanência do ar residual (NIEHUES, 2004). As autoclaves horizontais possuem elevado custo em relação às autoclaves verticais, contudo seu ciclo de esterilização dispensa a intervenção do operador, atendendo aos requisitos mínimos para um tratamento térmico eficiente dos RSS. Nestas o ar é removido pela formação de vácuo, sendo a penetração do vapor no material a ser tratado imediata. Este tipo de autoclave possui paredes duplas, separadas por um espaço por onde circula o vapor, mantendo constante o calor na câmara interna. Estas autoclaves operam com temperaturas de 121ºC para 1 KPa e 127ºC para 1,5 KPa. O alto-vácuo reduz o tempo necessário para o processamento e há penetração mais rápida do vapor nos materiais a ser descontaminado tornando mais eficiente o processo de descontaminação dos materiais. 3.5.2. CONTROLE DE QUALIDADE DE ESTERILIZAÇÃO As técnicas corretas de esterilização são essenciais para destruição de microorganismos e esporos bacterianos. A padronização de rotinas técnicas é necessária para permitir a uniformização das atividades de esterilização. A existência de rotina e procedimentos escritos para a prática de descontaminação e esterilização, e relatórios de performance das atividades da autoclavação devem atender os principais requisitos de controle (APECIH, 1998). Para ser eficiente, o vapor deve penetrar por toda a massa de resíduos e testes de validação para assegurar a reprodutibilidade e confiabilidade do processo devem ser realizados periodicamente e, desta forma, garantir resultados satisfatórios e seguros. A validação verifica a eficácia do equipamento ou do processo, ou seja, se o equipamento cumpre as especificações para ele exigidas. Diferentes tipos de testes devem ser realizados na verificação da eficiência do processo de esterilização. Recomenda-se que esterilizadores a vapor e ar quente devem ser testados com indicadores biológicos semanalmente e devem ser utilizados indicadores químicos em cada pacote a ser esterilizado (NBR 9804, 1987). Os indicadores químicos são sistemas químicos aplicados a um substrato, sendo normalmente tiras de papel, cuja coloração ou estado físico mudam quando submetidos às condições de autoclavação. Sua função é indicar se os parâmetros de esterilização foram atingidos durante o ciclo de autoclavação. Estes indicadores são sensíveis a cada um dos 36 três parâmetros necessários para garantir a eficácia da autoclavação (tempo, temperatura e presença de vapor). O indicador biológico (IB) consiste de um preparado de micro-organismos específicos resistente a um determinado processo de esterilização. É utilizado para qualificação de uma operação física da autoclave, no desenvolvimento e estabelecimento de processo de esterilização validado para um artigo específico, e na esterilização de equipamento, material e embalagens para processamento asséptico. É utilizado também para monitorar um ciclo de esterilização uma vez estabelecido (PINTO, 2000). O bioindicador é o parâmetro escolhido para certificar-se de que o nível de esterilidade estabelecido para o produto é alcançado, conferindo a certeza de esterilidade frente à margem de segurança mínima definida de apenas 1 unidade contaminada em 106 unidades do produto processado (VESSONI, 1994). Os testes semanais com bioindicadores são recomendados pelas normas NBR ISO 17.665-1 (2010) e NBR 9804 (1987). A principal vantagem é seu alto nível de confiabilidade. Os esporos de Bacillus stearothermophilus são os indicadores mais comumente utilizados para o teste de esterilizadores a vapor. Estes IB são preconizados pelas normas técnicas devido a sua resistência ao calor, que os torna resistentes à destruição. Assim, se o ciclo de tratamento for satisfatório, não haverá crescimento (NHC) da bactéria após incubação em condições de cultivo ideais. O frasco contendo o IB permanecerá inalterado, mantendo a sua coloração violeta, indicando que todos os microorganismos patogênicos ali presentes foram destruídos. Em caso contrário, se o ciclo de tratamento for insatisfatório, haverá crescimento (HC) da bactéria após incubação levando a uma alteração de cor no frasco. A coloração inicialmente violeta passa a amarela, indicando que nem todas as células microbianas ali presentes foram destruídas (figura 3.1) e que parte significativa delas permaneceu viável após o processo (TORTORA et al, 2000). Assim, pode-se inferir que resíduos tratados de forma inadequada permanecem potencialmente infectantes. 37 Figura 3.1. Frasco de indicador biológico após incubação (48 horas, 57,5º ± 2,5ºC). Coloração amarela é indicativa de crescimento microbiano. Fonte: CPPI 3.5.3 CAUSAS DE INEFICIÊNCIA NO PROCESSO DE ESTERILIZAÇÃO PELO CALOR ÚMIDO EM AUTOCLAVES A eficácia da autoclavação pode ser afetada pela capacidade de penetração do agente esterilizante por meio tanto da embalagem quanto das estruturas dos artigos, bem como pelo desempenho do equipamento. Os principais fatores de autoclavação que devem ser verificados são a temperatura do vapor e o tempo de exposição. Quanto maior é a temperatura de exposição, menor o tempo do ciclo de autoclavação. De acordo com a norma NBR 9804 (1987) a temperatura do vapor na câmara da autoclave deve corresponder a 121ºC, para 110 KPa e a 127ºC, para 150 KPa. De acordo com Niehues (2004), as causas de falha na esterilização são decorrentes de eventuais problemas no funcionamento do esterilizador ou presença de erro na técnica de esterilização. A investigação das falhas requer um exame detalhado em todas as partes do esterilizador, dos procedimentos de acondicionamento, carga ou técnicas utilizadas. Alguns dos problemas mais comuns contemplam: carga incorreta do esterilizador como pacotes empilhados, excesso de volume nos recipientes e ainda excesso de pacotes dentro da câmara. Presença de ar na câmara interna do esterilizador também compromete a eficácia do processo tendo em vista que o ar retarda a penetração do vapor na carga, sendo a mistura resultante de ar e vapor menos efetiva como agente esterilizante. Outras causas de insucesso na esterilização em autoclave são: uso de carga maior que 80% da capacidade da autoclave; volume de água em excesso que provoca umidade nas embalagens, ou escassez de água que causa danos (queima) nas embalagens; abertura das autoclaves antes da eliminação da pressão, favorecendo a condensação de vapor d’água que umedece as embalagens; despressurização da autoclave pelo acionamento da válvula de escape (autoclave vertical) favorecendo a condensação de vapor; rompimento das 38 embalagens durante o acondicionamento ou retirada da autoclave; queda de energia durante o ciclo de autoclavação; falta de limpeza e manutenção do aparelho; não realização de testes biológicos de monitoramento; embalagens inadequadas, acondicionamento em recipientes inadequados (NIEHUES, 2004). 39 4. O LABORATÓRIO CENTRAL DE SAÚDE PÚBLICA – MG O sistema nacional de laboratórios de Saúde Pública foi instituído pela Portaria do Ministério da Saúde nº 2031, de 23 de setembro de 2004, nacionais de laboratórios, organizadas em sub-redes por agravos ou programas de forma hierarquizada com o objetivo de atender com maior eficácia às ações de vigilância. O sistema prevê um conjunto de redes por grau de complexidade das análises relacionadas à vigilância epidemiológica, vigilância ambiental em saúde, vigilância sanitária e assistência médica de alta complexidade. A Rede Nacional de Laboratórios de Saúde Pública está dividida em quatro redes macros: Rede Nacional de Laboratórios de Vigilância Epidemiológica; Rede Nacional de Laboratórios de Vigilância em Saúde Ambiental, Rede Nacional de Laboratórios de Vigilância Sanitária e Rede Nacional de Laboratório de Assistência Médica de Alta Complexidade (PORTARIA GM/MS nº 2031, 2004). As redes de laboratórios de vigilância epidemiológica e de saúde ambiental são coordenadas pela Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública (CGLAB) da Secretaria de Vigilância em Saúde, sendo suas diretrizes: o diagnóstico de doenças de notificação compulsória; vigilância de doenças transmissíveis e não transmissíveis; monitoramento de resistência antimicrobiana; definição da padronização dos Kits diagnósticos a serem utilizados na rede; vigilância da qualidade da água para consumo humano; vigilância da qualidade do ar; vigilância da qualidade do solo; vigilância de fatores ambientais físicos e químicos; vigilância de fatores ambientais biológicos (vetores, hospedeiros, reservatórios e animais peçonhentos); e monitoramento de populações humanas expostas aos fatores ambientais biológicos, químicos e físicos. A base deste sistema está fortemente apoiada na Rede de Laboratórios Estaduais de Saúde Pública, os LACENS. Cada um desses, por sua vez, é o coordenador da Rede Estadual de Laboratório tendo como atribuições, além da realização de exames de média e alta complexidade, capacitar, supervisionar e avaliar a qualidade técnica dos exames produzidos na Rede Estadual de Laboratórios. Em Minas Gerais, a Fundação Ezequiel Dias (Funed), instituição pública ligada à Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES/MG) representa este papel. A instituição foi Fundada há mais de um século e hoje é referência nacional no monitoramento das ações de Vigilância Epidemiológica, Ambiental e Sanitária, na 40 produção de soros e medicamentos essenciais e imunobiológicos e na realização de pesquisas científicas na área da saúde. Esse século de vida foi marcado por várias transformações e nos últimos cinco anos a Fundação Ezequiel Dias passou de centro de pesquisa e fábrica de medicamentos de pequeno porte para uma das instituições mais importantes do Brasil, com ações voltadas para a proteção e promoção da saúde pública (CORREA, 2008). A Funed está estruturada com um conselho curador, uma presidência, um vicepresidente, duas assessorias (jurídica e comunicação), uma auditoria seccional e quatro diretorias (Diretoria Industrial, Diretoria do Instituto Octávio Magalhães, Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento e Diretoria de Planejamento, Gestão e Finanças). A Diretoria do Instituto Octávio Magalhães (DIOM), incluindo o Laboratório Central de Saúde Pública de Minas Gerais (LACEN-MG), integra a Rede Nacional de Laboratório de Saúde Pública. O Instituto Octávio Magalhães é constituído por três divisões e uma unidade: Divisão de Epidemiologia e Controle de Doenças (DECD): responsável pelo controle e diagnóstico de doenças como Doença de Chagas e leishmanioses (referência nacional), DST/AIDS, dengue, febre amarela, hepatite, febre maculosa, sarampo, meningite, coqueluche, difteria, cólera (referência regional), tuberculose e outras. Divisão de Vigilância Sanitária (DIVISA): responsável pelas análises de alimentos, medicamentos, saneantes, cosméticos, sangue, água, saúde do trabalhador e outros produtos sujeitos à análise fiscal e à vigilância sanitária. Suas atividades estão direcionadas para o atendimento aos órgãos públicos de vigilância em saúde no âmbito nacional, estadual e municipal. Divisão de Planejamento e Gestão da Qualidade (DPGQ): responsável pelo planejamento e gestão da qualidade e biossegurança nos laboratórios analíticos da Funed. Tem como atribuições implementar e difundir os programas da qualidade e biossegurança; promover a consultoria interna aos laboratórios; elaborar, revisar e aprovar o manual da qualidade e demais documentos do sistema de gestão; realizar auditorias internas; promover capacitação do pessoal; e administrar medidas preventivas e corretivas quanto às instalações, equipamentos e requisitos legais em biossegurança e qualidade. Unidade de Higienização e Produção de Meios de Cultura (UHPMC): área de apoio às Divisões de Vigilância Sanitária e de Epidemiologia e Controle de Doenças e aos 41 demais laboratórios da Funed, atendendo-os na produção de meios de cultura e tratamento de seus Resíduos de Serviço de Saúde (RSS), subsidiando-os na execução dos procedimentos de pesquisa laboratorial. A Diretoria do Instituto Octávio Magalhães, Laboratório Central de Saúde Pública de Minas Gerais, é considerada pelo Ministério da Saúde. Como modelo entre os Laboratórios Centrais de Saúde Pública do País, para atender às demandas dos sistemas de vigilância epidemiológica, ambiental e sanitária. Sua capacidade operacional abrange: vigilância, prevenção e controle de doenças; gerenciamento integrado de dados; testes especializados e de referência; proteção e saúde ambiental; segurança de alimentos; aperfeiçoamento e regulamentação laboratorial. Além disto, responde às emergências de risco à saúde, realiza pesquisas relacionadas à saúde pública e desenvolve a capacitação e a educação continuada dos seus servidores, bem como dos servidores das redes em que é referência regional e nacional (CORREA, 2008). O trabalho experimental aqui descrito foi realizado nas dependências desta instituição, segundo PGRSS aprovado em 2007 pelos órgãos municipais de saúde, meio ambiente e de limpeza. Os principais aspectos de manuseio dos resíduos preconizados são: A segregação dos RSS deve ocorrer no momento da geração pelos próprios responsáveis pela realização das análises laboratoriais; A segregação deve ocorrer conforme a classificação por Grupos e de modo a evitar a contaminação dos resíduos comuns; Os resíduos químicos (Grupo B) deverão ser classificados e identificados em: Líquidos Inorgânicos; Líquidos orgânicos halogenados; Líquidos orgânicos não-halogenados; Sólidos e Metais Pesados. Os recipientes destinados para acondicionar cada Grupo de resíduo recebem identificação de acordo com os parâmetros estabelecidos na NBR 7500 da ABNT, bem como as lixeiras, contenedores, veículos de transporte internos. Os resíduos químicos e perfurocortantes serão recolhidos pelo Serviço de Gestão Ambiental e encaminhados para o abrigo de resíduos químicos; Os resíduos biológicos (A1, A2 e A4) deverão ser encaminhados para a Unidade de Higienização e Preparo de Meios de Cultura (UHPMC) para descontaminação térmica por autoclavação e posterior armazenamento no 42 abrigo temporário e no aguardo do recolhimento pelo Serviço de Limpeza Urbana. O resíduo do Grupo A, subgrupo A1, e A2 antes do tratamento devem ser acondicionados no SACO DE AUTOCLAVE; após o tratamento, havendo descaracterização física, reacondicionar em SACO COR AZUL (passa a ser resíduos comum); não havendo descaracterização física, reacondicionar em SACO BRANCO ( passa a ser resíduo A4). Bolsas transfusionais – acondicionar em SACO VERMELHO; Resíduo grupo A4 acondicionar em SACO BRANCO. Resíduo químico líquido deve ser acondicionado em bombonas de Polietileno de Alta Densidade (PEAD) e o sólido em SACO VERDE; Resíduo comum (grupo D) – acondicionar em SACO AZUL CLARO; Resíduo perfurocortante (Grupo E) – recipiente rígido, resistente, impermeável e identificado com simbologia de resíduo infectante; A disposição final dos resíduos infectantes e químicos ocorre no solo, após tratamento prévio, em aterro sanitário localizado na BR 040 licenciado pela FEAM; De acordo com o PGRSS da instituição, os resíduos infectantes do subgrupo A1 que são descartáveis devem ser acondicionados em sacos de autoclave para serem submetidos à descontaminação térmica. Já os resíduos do subgrupo A1, como vidrarias e materiais de laboratório contaminados com micro-organismos devido à utilização dos mesmos nas análises microbiológicas e que serão reutilizados nos laboratórios, devem ser acondicionados em caixas inox para serem submetidos ao processo de descontaminação térmica por autoclavação. Nesta categoria estão incluídos os resíduos gerados pelo Laboratório de diagnóstico e monitoramento das doenças bacterianas e fúngicas do Instituto Otávio Magalhães da Funed, durante a confirmação do diagnóstico da tuberculose. Tratam-se, portanto, de resíduos potencialmente contaminados com Mycobacterium tuberculosis. Este micro-organismo foi selecionado para ser contemplado neste estudo, entre os demais, pelo fato de ser classificado como risco de biossegurança de nível 03 e devido à sua persistência ambiental. Quando materiais contaminados com este micro-organismo não 43 são tratados de forma eficiente estes podem permanecer viáveis por um período de 150180 dias no solo e assim comprometer o meio ambiente e a saúde coletiva, tendo em vista que, de modo geral e particularmente no Estado de Minas Gerais, os resíduos infectantes não são em sua totalidade dispostos em aterros sanitários. 44 5. MATERIAL E MÉTODOS A metodologia adotada para a realização deste trabalho está alicerçada na pesquisa de campo tendo sido realizados dois estudos de caso. Inicialmente realizou-se pesquisa documental envolvendo levantamento das principais legislações vigentes e normas definidas pelos órgãos ambientais e da saúde, informações sobre manejo de Resíduos de Serviços de Saúde nas formas de tratamento. Esta etapa teve como premissa conhecer melhor o tema para contextualizar e apresentar os principais conceitos que foram discutidos na dissertação. Os dois estudos de casos foram realizados no Laboratório Central de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais que gera resíduos infectantes em consequência da prática de cultivo de diversos micro-organismos causadores de doença de notificação compulsória com o objetivo de monitorar e diagnosticar doenças de interesse epidemiológico. Os resíduos infectantes foram gerados por 13 laboratórios do Lacen-MG, a saber: (1) Laboratório de virologia e riquetisiose; (2) Laboratório de diagnóstico e monitoramento das doenças bacterianas e fúngicas; (3) Laboratório de biologia molecular; (4) Laboratório de doenças parasitárias; (5) Laboratório de microbiologia de alimentos e água; (6) Laboratório de microbiologia de medicamentos, saneantes e cosméticos; (7) Laboratório de controle de microbiologia dos meios de cultura; (8) Laboratório de microscopia; (9) Laboratório de controle microbiológico de medicamentos; (10) Laboratório de gerenciamento de amostras biológicas; (11) Laboratório de recursos vegetais; (12) Laboratório de análise e pesquisa do sangue e (13) Laboratório de Tuberculose. Para melhor alcançar o objetivo proposto a pesquisa foi dividida em dois estudos de caso, a saber: a) Eficiência da autoclavação de resíduos do subgrupo A1 de laboratórios de microbiologia e, b) Eficiência da autoclavação de resíduos contendo somente culturas positivas de Micobacterium tuberculosis 45 5.1 PRIMEIRO ESTUDO DE CASO: Neste estudo de caso o objetivo foi caracterizar os RSS do subgrupo A1 por um período de sete dias úteis e desta forma observar as etapas do gerenciamento destes resíduos desde a sua geração até a sua disposição final para obter uma visão geral do fluxo do resíduo e do cumprimento do PGRSS aprovado para a instituição. Os resíduos foram acondicionados em sacos plásticos fabricados em polietileno de alta densidade (PEAD) especial para autoclave, tendo 35 ou 65 cm de comprimento para os sacos com capacidade de 20 litros e 60 litros, respectivamente. Os resíduos foram coletados e posteriormente caracterizados qualitativamente quanto à sua composição e quantitativamente, considerando-se o peso e o volume do material coletado. Foram avaliados os seguintes parâmetros: Ocorrência de mistura dos resíduos (falha na segregação), Acondicionamento; Composição dos resíduos e, Quantidade e volume (altura) por saco. A determinação das quantidades de resíduos infectantes gerados no período foi feita por meio de pesagem diária dos sacos de autoclave nos quais os mesmos estavam acondicionados. O trabalho experimental foi realizado com os RSS gerados nos 13 laboratórios do LACEN supracitados e foi subdividido em duas etapas. Primeiramente foi realizada uma caracterização do fluxo dos resíduos sendo eles pesados, medidos e classificados quanto a sua origem, nesta etapa foi possível observar as práticas laboratoriais que envolvem a geração destes nos laboratórios e o seu manuseio (segregação, acondicionamento, identificação, coleta e transporte interno). Previamente à pesagem, os sacos foram identificados com o nome do laboratório de origem, data, hora. Tais sacos foram numerados em ordem crescente de acordo com a ordem de chegada e análise. A aferição do peso foi feita empregando-se balança mecânica da marca Filizola, (peso máximo 200 Kg, peso mínimo 200g, variação 1,93 Kg). Após vistoria visual os foram pesados e os volumes foram medidos (altura) com trena e os dados registrados em uma planilha. 46 Posteriormente, os resíduos foram descontaminados em autoclave e a eficiência do processo foi monitorada biologicamente com o uso de indicador biológico (IB). Como critério de escolha para configuração das cargas, foi selecionado apenas os resíduos infectantes acondicionados em sacos de 60 litros escolhidos aleatoriamente. Após a seleção dos sacos um frasco de IB foi amarrado a um fio e introduzido na massa do resíduo infectante. A autoclave foi configurada com uma carga de seis sacos (60 litros cada, 360 litros no total) sendo os mesmos submetidos a uma temperatura de 121ºC por 40 minutos (figura 5.1). Figura 5.1 – Fluxograma do primeiro estudo de caso 47 5.2 SEGUNDO ESTUDO DE CASO No segundo estudo de caso o objetivo principal foi verificar se os resíduos infectantes gerados, especificamente no Laboratório de Tuberculose, foram inativados durante o processo de autoclavação, ou seja, se os bacilos da tuberculose cultivados em tubos de ensaio no Laboratório de Tuberculose foram destruídos pelo tratamento térmico por autoclavação. Por se tratarem de resíduos infectantes contendo culturas positivas do M. tuberculosis em tubos de ensaio, os resíduos foram acondicionados em caixas metálicas de aço inox. Os períodos de coleta e horários ocorreram de acordo com o fluxo de atividades do estabelecimento, com base na demanda de serviços e na geração de resíduos. Durante três meses (setembro a novembro de 2011) os funcionários do Laboratório de Tuberculose foram instruídos a colocar no fundo das caixas de coleta de material contaminados um frasco do IB antes de preenchê-las com cerca de 250 tubos de ensaio contendo culturas positivas do bacilo da tuberculose a ser descartados. O peso e volume médios das caixas eram de 12 kg e 30L, respectivamente, sendo a autoclave configurada com uma carga de 08 caixas de aço inox, submetidas a uma temperatura de 127ºC por 30 minutos (figura 5.12). Figura 5.2 – Fluxograma do segundo estudo de caso 48 5.3 MONITORAMENTO BIOLOGICO DA EFICÁCIA DO PROCESSO DE AUTOCLAVAÇÃO Para os teste de monitoramento biológico da descontaminação dos RSS foi utilizada uma autoclave horizontal de fronteira da marca Baumer de capacidade aproximada de 700 litros qualificada para tal procedimento segundo a norma NBR ISO 17.665-1, 2010. O IB utilizado neste trabalho é constituído de uma mistura de esporos de um microorganismo termoresistente, o Bacillus sterothermophilus ATCC 7953 sendo estes esporos viáveis na concentração de 106 UFC/frasco. O indicador cujo nome comercial é Esteriteste é fabricado pela Secretaria de Estado da Saúde do Paraná – Centro de Produção e Pesquisa de Imunobiológicos (CPPI) e é distribuído aos Laboratórios de Saúde Publica em todo o Brasil pelo Ministério da Saúde. Segundo recomendação do CPPI após o ciclo de autoclavação, os bioindicadores devem ser removidos de dentro da autoclave e deve-se aguardar seu resfriamento até, pelo menos, a temperatura recomendada para sua incubação. Em seguida os frascos devem ser incubados em estufa bacteriológica a 57,5º ± 2,5ºC por 48 horas. Deve-se ainda incubar um frasco de IB que não tenha sido submetido ao processo de autoclavação como controle positivo de crescimento microbiano, permitindo assim avaliar a viabilidade dos esporos, a qualidade do meio de recuperação e a temperatura da estufa bacteriológica. O resultado do teste com IB é satisfatório quando a cor do frasco mantém-se inalterada e insatisfatório quando a cor do frasco, inicialmente violeta, se altera para amarelo, conforme mencionado no item 3.5.2. .Os frascos IB, após os ciclos de descontaminação nos dois estudos, foram removidos dos sacos ou caixas metálicas manualmente e incubados em estufa bacteriológica para verificação da eficácia da descontaminação. 49 6. RESULTADOS E DISCUSSÕES 6.1 CARACTERIZAÇÃO DOS RESÍDUOS BIOLÓGICOS Durante 07 dias úteis de caracterização foram gerados e inspecionados 111 sacos de RSS, com capacidade de 20 litros (66 sacos) e 60 litros (34 sacos) sendo a quantidade total de aproximadamente, 240 Kg, descontando-se a variação da balança (1,93 Kg), com uma média de geração de 48 Kg/dia (tabela 6.1). Tabela 6.1. Quantidade de resíduos gerados diariamente pelos 13 Laboratórios de Microbiologia do LACEN/MG no período de 24/05/2010 a 02/06/2010 DATA SACOS PESO (un) (Kg) 24/05/10 09 19,03 25/05/10 26 58,42 26/05/10 16 39,02 27/05/10 14 23,38 28/05/10 17 33,79 01/06/10 07 29,19 02/06/10 22 35,85 TOTAL 111 238,85 Um estudo semelhante havia sido feito no ano de 2006, visando subsidiar a implantação do PGRSS da instituição e, naquela ocasião, os dados apontaram uma produção de 172,1 Kg no mesmo período de tempo (04/04/2006 à 12/04/2006). Comparando-se os dois dados pode-se perceber que a média de geração de resíduos por dia, inicialmente de 24,59 Kg em 2006, sofreu um incremento de 23,41 Kg/dia em quatro anos, passando aos 48 Kg/dia observados em 2010, portanto um aumento de aproximadamente 95% em relação aos dados anteriores. Ainda que se considerem as alterações sazonais, este valor não pode ser desprezado. Este aumento pode ser indicativo da falta de investimento por parte dos responsáveis técnicos na efetiva implantação do PGRSS, falta de vistorias regulares para avaliar a qualidade do gerenciamento, bem como de segregação inadequada no ponto de geração destes resíduos. 50 A avaliação visual dos sacos plásticos permitiu identificar os tipos de resíduos e os volumes (alturas) acondicionados dentro dos sacos, tendo em vista se tratarem de embalagens transparentes, confeccionadas em polietileno de alta densidade (PEAD). Os dados relacionados na Tabela 6.2 referem-se à análise qualitativa dos resíduos contidos nos sacos plásticos de autoclave, encaminhados pelos geradores para tratamento térmico, e servem como exemplo da diversidade de materiais descartados. 51 Tabela 6.2 – Caracterização qualitativa dos resíduos acondicionados em sacos autoclaváveis enviados para descontaminação no período entre 24 de maio a 02 de junho de 2010. Carga: 240 kg (111 sacos) Tipo de Resíduo Grupo E (Perfurocortante) Composição Ponteiras, pipetas descartáveis, tubos de hemólise e microtubos. Grupo D Materiais de embalagem como blísteres de plástico, caixas vazias de luvas, caixa de papelão, caixa plástica, caneta, isopor, papel alumínio, papel crepado, papel toalha, papel ofício, saco plástico e frascos de álcool. Biológico A1 Cultura de micro-organismos patógenos (bacterioteca), frascos com amostras biológicas, placas de Petri com meios de cultura, placas de Petri com isolados de micro-organismos patógenos, sacos plásticos contendo líquidos, tubo cônico tipo Falcon contendo inóculo de micobactéria. Biológico A4 Alça bacteriológica descartável, algodão, avental descartável, filtros descartáveis, frascos plásticos diversos, gaze, luvas cirúrgicas, máscara descartável e swab (zaragatoa). Alimentos Arroz, carne, frango, fubá, lasanha, leite em embalagem tetrapack, leite em pó, morango, pacote de chá, pão, pão de queijo, pó de café, queijo e resto de alimento. Esta avaliação visual demonstra que não está ocorrendo a correta segregação na fonte geradora dentro da instituição. A etapa de segregação não atende ao preconizado pela legislação RDC nº 306/04 que estabelece que esta deve ocorrer no local e momento de geração e de acordo com a classificação dos resíduos de forma a garantir a redução da geração. Constatou-se que é preciso que haja medidas de envolvimento coletivo dentro da instituição onde todos os serviços tenham bem definidos e institucionalizados as responsabilidades e obrigações de cada um em relação aos riscos, decorrentes à falta de comprometimento e inobservância no atendimento ao estabelecido no PGRSS. A figura 6.1 mostra os resíduos acondicionados sem segregação na fonte de geração, o que caracteriza não conformidade com a classificação adotada no PGRSS. Os resíduos infectantes misturados aos resíduos comuns passíveis de reciclagem inviabilizam esta prática. Percebe-se, inclusive a presença de material pontiagudo, colocando em risco a integridade e saúde do pessoal que faz a coleta interna. 52 Figura 6.1 – Resíduos acondicionados sem segregação. Fonte: Lacen-MG Após identificação dessa não conformidade foram realizados treinamentos na instituição com todos os laboratórios. As informações repassadas surtiram efeito, tendo sido possível melhorar a segregação e o acondicionamento dos resíduos do subgrupo A1, reduzindo, consequentemente, a sua geração e os custos para tratamento dos mesmos. Novo ciclo de pesagem foi realizado no período de 11/06/2012 a 19/06/2012 e os dados comprovam que houve uma redução significativa nos volumes de resíduos gerados, passando-se a uma produção de 12,91 Kg/dia. A redução efetiva na produção de resíduos de serviço de saúde no LACEN foi de 47,5% e 73,1% em comparação aos dados obtidos na primeira (2006) e na segunda (2010) quantificação, respectivamente (tabela 6.3 e Figura 6.2). 53 Tabela 6.3. Quantidade dos resíduos gerados diariamente pelos 13 Laboratórios de Microbiologia do Lacen-MG, no período de 11/06/2012 a 19/06/2012, após treinamento. DATA Unidades PESO (sacos) (Kg) 11/06/12 07 22,0 12/06/12 03 6,4 13/06/12 05 10,2 14/06/12 04 5,8 15/06/12 11 20,2 18/06/12 06 14,0 19/06/12 03 11,8 TOTAL 39 90,4 50 Peso (kg/dia) 40 30 20 10 0 2006 2008 2010 2012 Ano Figura 6.2 Evolução dos quantitativos de RSS gerados diariamente pelos laboratórios do LACEN/MG no período entre 2006 e 2012. Fonte: UHPMC/Lacen-MG 54 6.2. ACONDICIONAMENTO DOS RSS Sendo o acondicionamento o ato de embalar os resíduos segregados em sacos ou recipientes, a capacidade dos recipientes de acondicionamento deve ser compatível com a geração diária de cada tipo de resíduo. Na instituição, condições ideais seriam que os RSS fossem acondicionados nos sacos sem exceder a altura de 20 cm para os sacos com capacidade 20 litros e 40 cm para aqueles com capacidade de 60 litros, ou seja, o preenchimento não deve ser acima de 2/3 do volume (altura) dos sacos. Após realização da medição dos sacos com trena verificou-se que dos 111 sacos inspecionados, 43 apresentaram alturas de preenchimento (volumes) acima de 2/3 da capacidade total dos sacos, correspondendo a 38,7% de acondicionamento praticado incorretamente; Foi observado que, nenhum dos 111 sacos inspecionados possuía identificação que permitisse o reconhecimento dos resíduos contidos nos sacos de forma a fornecer informações ao correto manejo dos RSS. Sem esta identificação o manejo adequado fica comprometido e os riscos durante o processamento dos RSS aumentam consideravelmente. Como os sacos de autoclave não possuem identificação (símbolo de risco biológico), os laboratórios, ao promoverem o acondicionamento, deveriam preencher uma etiqueta padrão já existente e disponível na rede interna de comunicações da instituição (INTRANET) a fim de identificá-los corretamente. Durante a inspeção dos sacos os servidores foram questionados quanto às causas que levaram a esta omissão na identificação das embalagens. A totalidade das pessoas abordadas (100%) não soube responder, afirmando desconhecer a existência do modelo de etiquetas para identificação existente na instituição (figura 6.3). 55 Figura 6.3 – Modelos de etiquetas RSS Fonte: Lacen/MG A instituição, à época do estudo de caso, não possuía um programa de educação continuada conforme previsto na RDC nº 306/04, que visa orientar, motivar, conscientizar e informar permanentemente a todos os envolvidos sobre os riscos e procedimentos adequados de manejo. Não houve, portanto, uma participação consciente e uma cooperação de todo o pessoal envolvido no processo. Tal resultado reforça que é imprescindível a implantação efetiva da educação continuada na instituição. 6.3 COLETA E TRANSPORTE INTERNO DOS RSS A coleta e o transporte interno são realizados de forma inadequada dentro da instituição. Não há uma equipe responsável pela coleta dos RSS, não é supervisionada por profissionais qualificados, não existem carros de coleta adequados para transportar os sacos até a área de tratamento e/ou até o abrigo interno. Os resíduos de maior risco, acondicionados em caixa de inox, são transportados do ponto de geração até o local de tratamento em carrinho metálico de inox, aberto, pelos corredores e ruas da instituição ou manualmente (Figura 6.4). Não existe rota e horário previamente definido para a realização da coleta/transporte interno dos RSS. Pôde-se 56 observar que os resíduos infectantes do subgrupo A1 eram coletados e transportados em horários onde o trânsito de pessoas era intenso. Figura 6.4. Condições inadequadas de transporte de RSS. Fonte: Lacen-MG 6.4 MONITORAMENTO MICROBIOLÓGICO DO TRATAMENTO TÉRMICO POR AUTOCLAVAÇÃO O tratamento dos resíduos infectantes no Laboratório Central de Saúde Pública de Minas Gerais está definido no PGRSS da seguinte forma: As caixas contendo perfurocortantes contaminados e os sacos de autoclave contendo resíduo do subgrupo A1 são tratadas previamente por autoclavação, transformando-se em resíduos do subgrupo A4 antes da disposição final; As caixas inox contendo as vidrarias e/ou material de laboratório são tratadas previamente por autoclavação antes de serem submetidos à higienização e esterilização; Os sacos da cor vermelha são coletados por empresa terceirizada para serem incinerados. Os resíduos do subgrupo A1 acondicionados nos sacos para autoclave foram utilizados para verificar a eficácia do tratamento térmico por autoclavação. Para se garantir a eficácia na descontaminação e/ou desinfecção dos resíduos deve-se atingir, após a finalização do ciclo de autoclavação dos resíduos infectantes, um nível III de inativação microbiana compatível para este tipo de equipamento. Dos 34 sacos com capacidade de 60 litros, foram selecionados aleatoriamente 18 sacos (cerca de 80 kg) para serem monitorados conforme descrito no item 5.1. 57 Como a autoclave utilizada no estudo estava qualificada para uma carga configurada em 06 sacos, no máximo, por ciclo, foi necessário realizar 03 ciclos de autoclavação. Após a autoclavação e incubação observou-se que houve crescimento dos IB (resultado insatisfatório) evidenciado pela coloração amarela em 10 dos sacos verificados totalizando cerca de 50 kg. Nos oito sacos restantes, cerca de 30 Kg, não houve crescimento dos IB evidenciado pela manutenção da coloração violeta após incubação, sendo este resultado considerado satisfatório (figura 6.5). Assim, os resultados evidenciam ineficiência da descontaminação dos resíduos infecciosos. Não houve tratamento adequado dos mesmos comprometendo o seu encaminhamento para descarte final já que cerca de 62,5% dos resíduos monitorados apresentaram resultados insatisfatórios. Vários fatores podem ter contribuído para a ineficácia do processo de tratamento térmico por autoclavação nestes resíduos, tais como: a segregação e o acondicionamento realizados de forma inadequada, descumprimento ou falta de conhecimento do PGRSS e dos procedimento operacional padrão aprovados na instituição sobre o tema, falta de conscientização dos servidores envolvidos nas etapas de gerenciamento dos resíduos, tendo em vista que o equipamento estava qualificado e calibrado na época dos testes, e, portanto em condições ideais para utilização. 58 Com o intuito de identificar quais fatores contribuíram para o insucesso do tratamento, os dados referentes a quantidade e ocupação do volume livre nos sacos (altura do saco) foram comparados com os resultados do IB (tabela 6.4). Ciclos de Autoclavação Resultados IB Figura 6.5 – Resultado dos Indicadores Biológicos utilizados no monitoramento dos ciclos de descontaminação dos resíduos do subgrupo A1 (4 frascos positivos no Ciclo 1, e 3 frascos positivos nos ciclos 2 e 3). Fonte: Lacen-MG 59 Tabela 6.4 – Resultado do Monitoramento Biológico (IB) dos 18 sacos submetidos à descontaminação por autoclavação em função do peso dos resíduos e do volume de resíduos acondicionados nos sacos. Saco (60 L) Laboratório Conteúdo 38 Laboratório de meningite 40 Laboratório Tuberculose 42 Laboratório Controle microbiológico Placa meio de cultura com isolados bacterianos, luvas de procedimento, gazes, máscara. Tubo falcon, luvas de procedimento, papel, gazes, caixa vazias de luva, frascos diversos de plástico, papel toalha. Placas de meios de cultura contendo isolados bacterianos e fúngicos, luvas de procedimento, alças bacteriológicas descartáveis. Peso (Kg) Altura do resíduo Resultado (cm) 3,04 45* HC 4,87 57* HC 7,37 43* HC 3,97 41* HC 52 Laboratório Diagnóstico HIV Luvas de procedimento, papel toalha, frascos diversos de plástico, criotubos, ponteiras, pipetas de Pasteur descartáveis. 54 Laboratório Tuberculose Papel toalha, papel de bala, luvas de procedimento, papel, máscaras, pipetas descartáveis. 2,14 45* HC 60 Laboratório HIV Tubos de hemólise, ponteiras, gazes, pipetas pasteur, máscaras 4,24 46* HC 64 Laboratório monitoramento de Alimentos Placas de meios de cultura com isolados bacterianos, frascos diversos de plástico, frascos com meios de cultura 6,01 54* HC 83 Laboratório de doenças Parasitárias Ponteiras, Luva de procedimento, tubos de hemólise de plástico. 5,87 37 HC 87 Laboratório Controle microbiológico Placas de meios de cultura com isolados bacterianos e fúngicos, luvas de procedimento, gazes, alças bacteriológicas descartáveis 5,77 30 HC 89 Laboratório de doenças Parasitárias Ponteiras, luvas de procedimento, papel toalha, aventais descartáveis 6,07 48* HC 37 Laboratório Tuberculose Luvas de procedimento, gazes, máscaras, tubo de falcon 3,27 36 NHC 60 45 Laboratório de controle Medicamentos Placas de meios de cultura contendo isolados bacterianos. 0,94 32 NHC 48 Laboratório monitoramento de Alimentos Alimentos (arroz, frango, lasanha), luvas de procedimentos, saco plástico com líquido. 9,34 27 NHC 53 Laboratório HIV Papel toalha, luvas de procedimento, ponteiras, caixas de papelão. 2,17 40 NHC 57 Laboratório de doenças Enterais. Papel toalha, luvas de procedimento, placas de meios de cultura contendo isolados bacterianos. 2,44 39 NHC 84 Laboratório de Dengue Papel toalha, caixas de papelão, ponteiras, gazes e luvas de procedimento. 3,87 33 NHC 86 Laboratório de Meningite Papel toalha, luvas de procedimento, máscaras, gazes, frascos variados de plástico. 2,74 28 NHC 88 Laboratório de doenças Parasitárias Microtubos, papel craft, sacos de plástico diversos. 4,87 29 NHC * Altura superior a 40 cm; NHC- Não Houve Crescimento; HC – Houve Crescimento 61 Os dados demonstram que os testes com resultados insatisfatórios apresentaram quantidades maiores de resíduos e alturas de preenchimento do saco acima do ideal (40 cm). Quando se confronta os pesos e a altura ocupada pelos resíduos nos testes considerados insatisfatórios verifica-se que a altura influencia mais que o peso na eficácia do tratamento. Certamente a quantidade de resíduos dentro dos sacos pode interferir na distribuição do vapor entre os resíduos, pois, para que possa ocorrer à inativação dos micro-organismos, patogênicos ou não, é necessário que o vapor entre em contato com todo o conteúdo dentro do saco. A eficácia da descontaminação pode ser afetada pela capacidade de penetração do agente esterilizante no meio, decorrente tanto da embalagem, quanto da natureza dos materiais, bem como pelo desempenho do equipamento. Para que a destruição dos micro-organismos seja completa, o processo de esterilização a vapor deve permitir o controle do calor, umidade e temperatura. O calor pode sim eliminar bactérias e outros organismos, mas, para isso, é necessário que o vapor circule por convecção, de forma a penetrar nos objetos. Provavelmente a discussão mais importante refere-se à segurança e garantia de destruição efetiva dos micro-organismos patogênicos, pois por melhor que sejam as autoclaves utilizadas na descontaminação dos resíduos estes não alteram as propriedades dos resíduos, proporcionando chances para que os micro-organismos patogênicos sobrevivam ao processo se os resíduos não forem devidamente condicionados e se o equipamento não for bem operado. Foi observado que a quantidade de resíduos acondicionados nos sacos plásticos, que servem de invólucro ao material contaminado, pode ter sido responsável pela falha no processo de autoclavação. Quanto maior o volume e a massa dos resíduos, maior será a probabilidade de sobrevida desses micro-organismos, pois os materiais dispostos principalmente no centro do saco plástico estão mais isolados do calor aplicado no processo. Para confirmar os resultados descritos acima, novos estudos foram realizados. Durante esta segunda avaliação buscou-se verificar se a segregação correta dos materiais e seu acondicionamento respeitando-se o limite de 2/3 da capacidade total dos sacos garantiriam a eficiência do processo de descontaminação. Foram realizados novos 3 ciclos 62 de autoclavação, simulando as condições ideais, sendo as configurações das cargas estabelecidas da seguinte forma: 1ª) Carga com 06 sacos de RSS segregados corretamente e altura acima de 2/3 da capacidade total do saco contendo um frasco de IB em cada saco; não foi respeitada a carga máxima do saco de acondicionamento; Resultado insatisfatório (houve crescimento de micro-organismo em todos os 06 IB) – Ciclo Reprovado. 2ª) Carga com 06 sacos de RSS não segregados e acondicionados corretamente (altura máxima de 2/3 da capacidade do saco) contendo um frasco de IB em cada saco. Resultado insatisfatório (houve crescimento em 01 IB) _ Ciclo Reprovado. 3ª) Carga com 06 sacos de RSS segregados e acondicionados corretamente, contendo um frasco de IB em cada saco. Resultado satisfatório (não houve crescimento de micro-organismo em nenhum dos 06 IB) _ Ciclo Aprovado. Neste primeiro estudo de caso fica evidente a necessidade de capacitar os geradores dentro da instituição, para garantir um bom gerenciamento dos resíduos de serviço de saúde por eles gerados tendo como princípio a segregação e o acondicionamento correto na fonte de geração e desta forma garantir a eficácia do tratamento. O ideal é que o gerenciamento dos RSS seja pensado como um processo contínuo devendo se expandir a todos os tipos de resíduos progressivamente, tendo em vista a segurança, a possibilidade de reaproveitamento e redução de custo no tratamento ou reprocessamento dos mesmos. Como proposta de melhoria, sugere-se que seja feita uma revisão do PGRSS para definir melhor as etapas do correto gerenciamento dos resíduos gerados nos laboratórios e ainda criar um plano de educação continuada. A implantação e a execução do PGRSS devem envolver uma equipe multifuncional composta pelos geradores (laboratórios), os setores de higienização e limpeza, a Comissão de Qualidade e de Biossegurança, os Serviços de Engenharia de Segurança e Medicina no Trabalho, a unidade de tratamento de resíduos infectantes, o serviço de gestão ambiental e por fim representantes de toda a comunidade do estabelecimento em consonância com as legislações de saúde e ambiental vigentes. Instituir programas de capacitação continuada com o objetivo de sensibilizar e motivar a todos nos assuntos relativos aos RSS, enfatizando sobre a importância das etapas de segregação, e acondicionamento dos resíduos dos laboratórios a fim de proporcionar um trabalho seguro e uma redução de custos no tratamento desses resíduos. 63 6.5 VERIFICAÇÃO DA EFICÁCIA DO TRATAMENTO TÉRMICO POR AUTOCLAVAÇÃO DOS RSS TUBERCULOSE Na segunda etapa deste estudo verificou-se a eficácia do processo de descontaminação dos resíduos infectantes acondicionados em caixa de aço inox contendo culturas positivas para a presença de M. tuberculosis. O estudo foi conduzido entre os dias 29/06/2011 e 30/12/2011, e neste período foram inspecionadas e monitoradas 20 caixas que corresponderam a, aproximadamente, 5000 tubos de cultura positiva para Tuberculose (Figura 6.6). Figura 6.6: Caixas Inox com tubos positivos para M. tuberculosis. Fonte: Lacen-MG Os resultados dos IB foram SATISFATÓRIOS para todas as 20 caixas analisadas uma vez que 100% dos resíduos contaminados com o agente etiológico da Tuberculose foram tratados com eficácia. Após o processo de tratamento os tubos foram colocados em caixas de papelão tipo “descarpack,” próprias para perfurocortantes, e acondicionadas em sacos brancos com símbolo de risco biológico, sendo enviadas para o abrigo externo para serem recolhidas pela empresa terceirizada e dispostas em aterro sanitário. Estes resultados estão em conformidade com as legislações RDC nº 306/04 da ANVISA e a resolução nº 358/05 do CONAMA que estabelecem que o tratamento deva ser um método, técnica ou processo que modifique as características dos riscos inerentes aos resíduos, reduzindo ou eliminando o risco de contaminação, de acidentes ocupacionais ou de dano ao meio ambiente. De acordo com a RDC nº 306/04, existem níveis diferenciados de inativação microbiana e é necessário que a metodologia utilizada atinja no mínimo o Nível 3 de tratamento, que indica a morte das formas de vida microbiana pela inativação de pelo 64 menos 104 esporos indicadores, os quais têm curvas de morte similares aos esporos patogênicos humanos. Para a metodologia utilizada neste estudo verificou-se que o tratamento foi alcançado com um nível 4 de inativação microbiana que indica a morte das formas de vida microbiana como evidenciado pela inativação de 106 esporos indicadores, reconhecidos como os mais resistentes ao processo de inativação por tratamento térmico utilizando-se calor úmido, esporos de B. stearothermophilus. O sucesso da inativação dos micro-organismos presentes nos resíduos infectantes acondicionados na caixa inox está relacionado com uma série de fatores positivos: a. Os tubos foram acondicionados dentro das caixas respeitando-se o limite de 2/3 da capacidade total das mesmas; b. A disposição das caixas dentro da autoclave foi realizada corretamente e as caixas permaneceram destampadas dentro da autoclave (Figura 6.7) e, como consequência, o vapor percorreu livremente os espaços existentes entre os tubos, atingindo com total segurança a ampola do IB que se encontrava no fundo da caixa inox. Figura 6.7: Carga de resíduos infectantes para descontaminação. Fonte: Lacen-MG 65 7. CONCLUSÕES 1. A metodologia utilizada mostrou-se adequada para o alcance dos objetivos propostos, sendo possível conhecer a realidade da rotina de gerenciamento dos RSS do Laboratório Central de Saúde Pública de Minas Gerais. 2. Os registros fotográficos possibilitaram ilustrar as situações inadequadas, objeto de observação deste trabalho, constituindo uma importante ferramenta para apontar melhorias no gerenciamento dos RSS. 3. A análise da descontaminação dos resíduos no primeiro estudo onde os resíduos estavam acondicionados em sacos de autoclave demonstrou que os mesmos não estavam sendo adequadamente tratados devido ao preenchimento acima de dois terços da capacidade total dos sacos. Por outro lado, os resíduos provenientes do Laboratório de Tuberculose e que estavam acondicionados em caixas metálicas, foram devidamente tratados. 4. O primeiro estudo de caso demonstra a importância do preenchimento dos sacos em ate dois terços antes da descontaminação para garantir a eficácia do tratamento dos resíduos biológicos infectantes. 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS Foi possível constatar pontos de fragilidade relacionados às condições do gerenciamento dos RSS, acondicionados em sacos de autoclave, no LACEN, relacionados aos fatores humanos e técnicos descritos abaixo: Fatores humanos: Observa-se falta de cumprimento na correta execução do gerenciamento por inobservância ou desconhecimento do PGRSS, procedimentos internos do serviço de gestão ambiental e do serviço de tratamento dos RSS; Descumprimento das Resoluções do CONAMA nº 358/2005 e da ANVISA RDC nº 306/2004 no tocante a execução do PGRSS; 66 Falta de uma equipe multifuncional na implantação e fiscalização do cumprimento do PGRSS. Falta de comprometimento e envolvimento do corpo técnico e gerencial nas questões relativas ao gerenciamento intra-estabelecimento correto dos RSS; Falta de padronização de algumas práticas de trabalho e um grande desconhecimento dos atores envolvidos sobre o que já está normatizado dentro da instituição. Falta de educação continuada dos servidores envolvidos nas etapas do gerenciamento. Fatores Técnicos Segregação inadequada em 100% dos sacos de autoclave inspecionados somada ao acondicionamento inadequado de 38,7% dos RSS. Falta de identificação correta em 100% dos sacos inspecionados. Coleta e transporte interno dos RSS feitos em desacordo ao preconizado pela legislação, que visa garantir a segurança aos profissionais. Tratamento prévio inadequado de 62,47% dos resíduos infectantes do subgrupo A1 devido às falhas existentes nas etapas de segregação e acondicionamento. Após conclusão deste estudo, os resultados foram apresentados para o Serviço de Gestão Ambiental da instituição e medidas corretivas imediatas foram implantadas, dentre elas podem-se citar: Encaminhamento de todos os resíduos do grupo A1 para incineração até que a segregação e o acondicionamento destes sejam realizados de forma adequada; Reuniões com os geradores (laboratórios) para apresentar os resultados da pesquisa objetivando aguçar a sensibilidade dos mesmos para um maior comprometimento de todos na execução correta das etapas do gerenciamento; Exclusão dos restos de alimentos nos sacos de autoclave que eram misturados aos resíduos infectantes aumentando, assim, a quantidade de resíduo infectante que era tratada; 67 Treinamentos focados na segregação e acondicionamento corretos nos diversos tipos de recipientes (sacos, caixas para perfurocortantes e caixas metálica de aço inox); Elaboração de procedimento operacional padrão para o setor de tratamento dos resíduos, estabelecendo critérios de segregação e acondicionamento dos resíduos do subgrupo A1 que devem ser observados antes da realização do tratamento. Esta medida visa garantir um tratamento térmico eficaz e eficiente, eliminando os fatores de insucesso que são a segregação e o acondicionamento inadequados. Quanto à coleta e o transporte interno, a instituição vem desde então se esforçando para adquirir carros coletores em quantidade suficiente e compatíveis com a geração dos resíduos e também estabelecer uma equipe especializada para realizar estas atividades. O LACEN necessita implantar o PGRSS em vigor na instituição e, como proposta de melhoria sugere-se: Institucionalizar metodologias para educação continuada direcionadas ao gerenciamento dos RSS e que tais programas se utilizem estratégias capazes de promover a sensibilização e conscientização na busca de uma mudança de comportamento de todo o corpo técnico e gerencial; Implantar metas para reduzir a geração de resíduos na sua fonte; Realizar auditoria ambiental dentro da instituição visando à fiscalização e monitoramento das etapas do gerenciamento dos RSS utilizando ferramenta do Apêndice I (Auditoria Ambiental). Realizar análise de risco no manejo dos RSS; Realizar análise dos custos dos RSS gerados antes e após a implantação do PGRSS para avaliar os benefícios econômicos e os gerados a saúde ocupacional e ambiental; Institucionalizar uma equipe multifuncional para atuar nas etapas do gerenciamento de RSS bem como no programa de educação continuada; Dar publicidade às ações de melhoria na gestão ambiental praticada dentro da instituição pelas diversas áreas e atores utilizando ferramentas visuais como 68 quadros de gestão a vista espalhados pela instituição, o jornal e a intranet, como forma de reconhecer o esforço de todos; Adquirir carro coletor fechado para transportar os resíduos acondicionados em sacos de autoclave e nas caixas de inox. Monitorar o recebimento dos resíduos infectantes (subgrupo A1) utilizando Formulário de Oportunidade de Melhoria (Apêndice II) Desta forma, ao responder os objetivos específicos estabelecidos neste estudo foi possível alcançar o objetivo principal e contribuir, de forma efetiva, com a geração de dados que podem auxiliar os gestores na tomadas de decisões voltadas para a melhoria do gerenciamento dos resíduos infectantes. É possível perceber que a instituição objeto deste estudo, mesmo apresentando PGRSS aprovado, necessita desenvolver uma política administrativa mais eficaz no que tange às suas questões técnicas e físicas no cumprimento efetivo de seu plano de gerenciamento de resíduos de serviço de saúde e das principais legislações vigentes hoje no país. Conclui-se que a instituição encontra-se distante de sua perfeita operacionalização e que a observância às normas, o incentivo a não geração e à minimização, a educação continuada como ferramenta de conscientização, e a inclusão de políticas publicas não estão sendo realizadas de forma satisfatória. Cabe ressaltar que estas são imprescindíveis para que haja um gerenciamento dos RSS intra-estabelecimento correto a fim de garantir que os resíduos infectantes sejam tratados adequadamente bem como reduzir o volume dos resíduos perigosos. É importante ressaltar que a institucionalização de estratégias preventivas nos estabelecimentos de saúde pode proporcionar garantias de qualidade ambiental e de segurança à saúde da população e do trabalhador. A mudança de atitude deve partir de cada indivíduo. Deve-se ter consciência de que o meio ambiente, bem como a saúde pública e ocupacional, pode sofrer danos irreparáveis e que é preciso educar para obter novos valores e com isso, reduzir a geração de resíduos e gerenciar efetivamente seu manejo. 69 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANVISA – Agencia Nacional Vigilância Sanitária. Manual de Gerenciamento dos resíduos de serviço de saúde/ Ministério da Saúde. Brasília. Ministério da Saúde, 2006. 182 p. APECIH - ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE ESTUDOS E CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR. Esterilização de artigos em unidades de saúde. São Paulo: APECIH, 1998. 89p. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10.004: Resíduos Sólidos: Classificação. Rio de Janeiro, 2004. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 17665-1: Esterilização de Produtos para a Saúde – Vapor. Parte 1: Requisitos para o desenvolvimento, validação e controle de rotina nos processos de esterilização de produtos para saúde. Rio de Janeiro, 2010. 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Auditores Nome: Cargo: Auditados Nome: Cargo: OBSERVAÇÕES: SIGLAS NA PGRSS RSS RDC CONAMA Não Aplicável Plano de Gerenciamento Resíduo de Serviço de Saúde Resíduos de serviço de saúde Resolução Diretoria Colegiada Conselho Nacional Meio Ambiente 73 ITEM 1 - REQUISITOS GERAIS 1.1 O PGRSS elaborado na instituição visa Conforme Não Conforme orientar sobre o gerenciamento adequado dos resíduos? Existem procedimentos Evidência objetiva: elaborados a partir do PGRSS? Estes documentos são conhecidos por todos? NA Você sabe acessar rapidamente cópia dos Observações: procedimentos ou PGRSS, seja em papel, seja em meio eletrônico? O que evidenciar: Se os servidores conhecem os procedimentos e o PGRSS ou sabem onde encontrá-los. 1.2 A área possui procedimentos específicos Conforme Não Conforme sobre gerenciamento de resíduos? Foram elaborados com base no PGRSS? Você sabe Evidência objetiva: acessar rapidamente as cópias dos procedimentos, seja em papel, seja em meio eletrônico? Observações: O que evidenciar: Solicitar um procedimento. Conforme Não Conforme 1.3 Os servidores responsáveis pelo manejo dos RSS são treinados? Evidência objetiva: NA NA O que evidenciar: Existência de um documento que comprove os treinamentos (declarações, certificados, Observações: pasta funcional etc). Conforme Não Conforme NA Não Conforme NA 1.4 Os servidores que atuam no manejo dos RSS são vacinados? Evidência objetiva: O que evidenciar: Cartão de vacina Observações: 1.5 As etapas do manejo são monitoradas e/ou fiscalizadas? Conforme Evidência objetiva: O que evidenciar: Existência de formulários ou qualquer outro documento. Observações: 74 ITEM 2 - SEGREGAÇÃO E ACONDICIONAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS E LÍQUIDOS 2.1 Os RSS sólidos (comuns, químicos, Conforme NA Não Conforme perfurocortantes e biológicos) estão segregados e acondicionados de forma Evidência objetiva: adequada? O que evidenciar: Correta segregação e acondicionamento: Observações: - Azul: comum não reciclável; - Verde: químico (com simbologia); - Branco: Biológico (baixo nível de contaminação); - Vermelho: Biológico (alto nível de contaminação); - Autoclavável: Biológico (alto nível de contaminação); - Lixeiras coloridas: Resíduo comum reciclável; - Resíduo perfurocortante – Coletor próprio. O servidor deve ser capaz de explicar o acondicionamento de acordo com o grupo do RSS – Classificação e a cor dos sacos; 2.2 Como são acondicionados os resíduos Conforme Não Conforme biológicos como soro e sangue? Evidência objetiva: O que evidenciar: A segregação e acondicionamento corretos de resíduos com alto potencial de contaminação biológica. Observações: Conforme Não Conforme 2.3 O coletor para perfurocortante esta em suporte suspenso? (não pode estar no chão e Evidência objetiva: nem em bancadas). Observações: O que evidenciar: NA NA A existência de suporte na área. Conforme Não Conforme 2.4 Os sacos, caixa inox e coletores para perfurocortante estão com resíduos dentro Evidência objetiva: do limite de 2/3 da capacidade total do recipiente? Os sacos estão sem ar e fechados corretamente? Observações: O que evidenciar: Verificar se os recipientes estão com NA 75 volumes adequados (limite de até 2/3) e se os sacos estão fechados corretamente. Conforme Não Conforme 2.5 Os recipientes são trocados a cada 24 horas ou quando atingem o limite de 2/3 do Evidência objetiva: volume? NA O que evidenciar: Verificar se os servidores são capazes de Observações: responder corretamente sobre os prazos de troca dos recipientes. Substituição correta dos sacos plásticos, Evidência objetiva: evitando risco de acidentes aos funcionários que executam a coleta (ver procedimentos da área e lixeiras usadas no local) Observações: 2.6 Como são segregados e dispostos os Conforme Não Conforme resíduos químicos contendo restos de Evidência objetiva: material biológico? NA O que evidenciar: Observações: Os critérios de segregação adotados pelo laboratório. 2.7 Os resíduos líquidos estão segregados e acondicionados de forma correta? Conforme Não Conforme Evidência objetiva: O que evidenciar: O uso dos recipientes específicos para o acondicionamento dos resíduos líquidos gerados conforme compatibilidade química Observações: e identificação dos mesmos. Verificar bombonas e recipientes utilizados na área. 2.8 Quais critérios são usados para a Conforme Não Conforme segregação dos resíduos líquidos? Possuem controle desta segregação? Evidência objetiva: NA NA O que evidenciar: Uso de formulários internos. Observações: Etiquetas para identificação dos resíduos. Consulta às tabelas de incompatibilidade química. 76 ITEM 3 – IDENTIFICAÇÃO RSS 3.1 Os recipientes utilizados para Conforme Não Conforme acondicionar os RSS estão identificados corretamente com símbolos, cores e frases Evidência objetiva: (ABNT 7500)? NA O que evidenciar: As lixeiras estão com sacos corretos para Observações: cada tipo de resíduo. (branco com símbolo infectante – resíduo biológico grupo A com baixo potencial infectante; vermelho – resíduo biológico grupo A com alto potencial infectante; azul – resíduo comum; saco autoclave – resíduo biológico subgrupo A1, com alto potencial infectante; verde – resíduo químico); Verificar se os resíduos perfurocortantes estão identificados corretamente; 3.2 Os sacos para autoclave estão identificados com etiquetas biológicas? Conforme Não Conforme NA Evidência objetiva: O que evidenciar: Se o modelo da etiqueta utilizada possui todas as informações necessárias para Observações: garantir a correta identificação dos resíduos infectantes. 3.3 As informações que são fornecidas nas etiquetas de identificação são adequadas para a correta identificação do resíduo? Conforme Não Conforme NA O que evidenciar: Se constam a descrição Observações: dos resíduos, local, responsável e telefone. 3.4 As lixeiras, os carros de transporte e os abrigos para resíduos estão sinalizados corretamente com simbologia do grupo do resíduo (biológico, químico, comum etc)? Conforme Não Conforme NA Não Conforme NA Observações: O que evidenciar: Verificar os símbolos nos locais. 3.5 As bombonas e/ou frascos contendo Conforme 77 resíduos químicos sólidos e líquido estão identificados? Observações: O que evidenciar: Verificar as etiquetas das bobonas e/ou frascos contendo resíduos líquidos. ITEM 4 - RECOLHIMENTO DOS RESÍDUOS E TRANSPORTE INTERNO 4.1 A instituição de saúde possui uma Conforme NA Não Conforme equipe treinada para realizar a coleta e o transporte interno? Evidência objetiva: O que evidenciar: Verificar pasta funcional dos servidores que compõem a equipe. Verificar Observações: treinamentos e vacinações. 4.2 O transporte interno está ocorrendo Conforme Não Conforme de forma correta? Existem rotas e horários definidos? Evidência objetiva: NA O que evidenciar: Verificar se os carros de transporte são adequados e onde estão descritas as rotas Observações: e horários (ver procedimentos e registros). ITEM 5 - TRATAMENTOS PRÉVIOS 5.1. Os resíduos (infectantes e químicos) Conforme Não Conforme passam por algum tratamento prévio no local de geração? Evidência objetiva: O que evidenciar: Percepção da necessidade de tratamento prévio, antes do lançamento na rede coletora, Observações: tratamento final e/ou disposição final. (ver procedimentos e registros de encaminhamento/tratamento prévio dos resíduos) 5.2. Como o hipoclorito utilizado é Conforme Não Conforme descartado? Evidência objetiva: NA NA O que evidenciar: Ver procedimentos de descarte deste resíduo. Observações: 78 5.3. Os resíduos químicos líquidos são Conforme Não Conforme neutralizados? Existe registro de neutralização ou outros procedimentos? Evidência objetiva: NA O que evidenciar: Registros de tratamento/neutralização de Observações: resíduos químicos no local de geração. 5.4. São descartados na rede de esgotos Conforme Não Conforme resíduos líquidos (químico e ou biológicos) sem tratamento prévio? Evidência objetiva: NA O que evidenciar: Se há lançamento de resíduos líquidos na rede coletora da COPASA (avaliar casos de inadequação), Observações: ver procedimento. Verificar se há monitoramento do efluente. 5.5 Os resíduos químicos são encaminhados para incineração? Conforme Não Conforme NA Evidência objetiva: O que evidenciar: Verificar documentação onde constam os Observações: registros. Verificar monitoramento da Empresa prestadora do serviço. . 5.6 Os resíduos biológicos (subgrupo A1 e Conforme Não Conforme A2) são tratados antes da disposição final? Evidência objetiva: NA O que evidenciar: Verificar qual metodologia está descrita em procedimentos e registros. Observações: 5.7 Os resíduos biológicos (subgrupo A1 e Conforme Não Conforme A2) são autoclavados (descontaminação térmica)? Evidência objetiva: O que evidenciar: Verificar registros, manutenção NA e 79 qualificação do equipamento, bem como o Observações: monitoramento microbiológico com Bacillus stearothermophillus ITEM 6 - BOLSA DE PRODUTOS RESIDUAIS 6.1 A instituição possui bolsa de produtos Conforme Não Conforme residuais? Qual o procedimento adotado no caso de reagentes vencidos ou fora de uso, Evidência objetiva: bem como demais resíduos passíveis de reaproveitamento (vidrarias)? O que evidenciar: Conhecimento sobre a Bolsa de Produtos Observações: Residuais e registros. 6.2. Quais critérios são utilizados para a Conforme Não Conforme definição da possibilidade de reutilização dos produtos residuais encaminhados para a Evidência objetiva: Bolsa? NA NA O que evidenciar: Observações: Análise crítica dos funcionários em relação aos reagentes. Se existe procedimento para definição de possibilidade de reutilização dos reagentes doados. 6.3 Quais procedimentos são realizados para Conforme Não Conforme o encaminhamento ou solicitação de reagentes e/ou vidrarias da bolsa? Quais são Evidência objetiva: os formulários utilizados? NA O que evidenciar: Uso efetivo da Bolsa de Produtos Residuais Observações: (conferir registros e procedimentos) 6.4. Os produtos controlados pela Polícia Federal são monitorados? Conforme Não Conforme NA Evidência objetiva: O que evidenciar: Verificar registros. Observações: 6.5. A instituição tem uma planilha Conforme Não Conforme disponibilizada com a relação dos produtos residuais para que as áreas possam consultar? Evidência objetiva: NA O que evidenciar: 80 Divulgação da lista de reagentes da Bolsa de Observações: Produtos Residuais dentro da instituição. ITEM 7 - DESCARACTERIZAÇÃO DE DOCUMENTOS E MATERIAIS COM IDENTIFICAÇÃO DA INSTITUIÇÃO 7.1 Qual o procedimento adotado antes do Conforme NA Não Conforme descarte de documentos confidenciais e demais materiais com identificação da Evidência objetiva: instituição que são passíveis de encaminhamento para reciclagem? O que evidenciar: Observações: Descaracterização dos documentos pelo setor gerador. 7.2 A instituição possui coleta seletiva? Os Conforme Não Conforme materiais recicláveis são segregados e pesados (unidades produtivas)? São Evidência objetiva: depositados nos coletores de coleta seletiva ou são recolhidos para doação? O que evidenciar: Segregação e correta recicláveis. NA Observações: destinação dos 7.3 Existem formulários que comprovem a Conforme Não Conforme quantificação/pesagem dos resíduos pelo setor, quando realizada? Evidência objetiva: O que evidenciar: Controle da geração de recicláveis no setor. NA Observações: ITEM 8 - RESÍDUOS RECICLÁVEIS 8.1. Como é realizada a segregação dos Conforme Não Conforme resíduos recicláveis e não recicláveis gerados no setor? Evidência objetiva: NA O que evidenciar: Se a segregação está sendo feita de forma Observações: correta. 8.2 Os resíduos recicláveis são segregados armazenados em um local definido? Conforme Não Conforme NA Evidência objetiva: 81 O que evidenciar: Segregação dos resíduos com potencial de reciclagem, identificando as lixeiras Observações: apropriadas e a qualidade da separação dos resíduos. 8.3 Os frascos e vidrarias sem contaminação são encaminhados para reciclagem? Conforme Não Conforme NA Evidência objetiva: O que evidenciar: Verificar registros de encaminhamento para a coleta seletiva e o critério utilizado pelo gerador ao garantir que não há Observações: contaminação no resíduo (ver procedimentos). ITEM 9 - SOLICITAÇÕES DE SERVIÇO 9.1 Dentro da instituição existe uma área Conforme Não Conforme específica para prestação de serviço ambiental? Como é feito o recolhimento de Evidência objetiva: resíduos? O que evidenciar: Identificar o responsável técnico e qual Observações: instrumento de solicitação existe dentro da instituição para que a prestação de serviço ambiental ocorra. 9.2 O laboratório faz solicitação de serviço, Conforme Não Conforme para o recolhimento dos resíduos químicos, infectantes (A2), perfurocortantes e/ou Evidência objetiva: recicláveis? NA NA O que evidenciar: Verificar se o laboratório conhece o sistema Observações: de gerenciamento de resíduos da instituição. Verificar registros da demanda, local para recolhimento, descrição dos resíduos a serem coletados, quantidade/volume Evidência objetiva: (quando possível), tipos de recipientes onde estão acondicionados. Observações: ITEM 10 - CAPACITAÇÃO 10.1 A instituição possui um programa de educação continuada? Conforme Não Conforme NA Evidência objetiva: 82 O que evidenciar: Verificar o programa (registro). Verificar avaliação da eficácia capacitação. Observações: da ITEM 11 - RECLAMAÇÕES E SUGESTÕES 11.1 O laboratório/setor envia reclamações Conforme Não Conforme e/ou sugestões à área responsável pela gestão ambiental? Evidência objetiva: NA O que evidenciar: Observações: Se laboratório/setor conhece os meios de envio de reclamações e/ou sugestões disponibilizados dentro da instituição. 11.2 Como é reclamação/solicitação? realizada a Conforme Não Conforme NA Evidência objetiva: O que evidenciar: Verificar registros. 11.3. As reclamações/sugestões enviadas à gestão ambiental são respondidas? Observações: Conforme Não Conforme NA Evidência objetiva: O que evidenciar: Verificar registros. Observações: 83 Descrição das Não-Conformidades, Análise e Disposição Assinatura do Auditor: Assinatura do Responsável pelo Setor/Serviço/Laboratório: Retorno da Auditoria Ações Corretivas Eficazes. Ações Corretivas Não Eficazes. Auditor Responsável pelo Retorno: Data: Observações realizadas: Adaptado Gestão Ambiental Funed (2012) 84 APÊNDICE II Título: FORMULÁRIO DE OPORTUNIDADE DE MELHORIA NO GERENCIAMENTO RSS OCORRÊNCIA Nº DATA DA OCORRÊNCIA: HORA: LABORATÓRIO: Não conformidades ao PGRSS Contêner de inox com volume superior a 2/3 da capacidade total. Contêner de inox com tipos de resíduos misturados (Segregação inadequada). Contêner de inox com vidrarias misturadas (Tubos / Frascos; Pipetas / Tubos). Contêner de inox sem identificação do laboratório gerador. Contêner de inox com vidrarias quebradas. Contêner de inox com pipetas graduadas sem tratamento prévio. Saco de autoclave com volume superior a 2/3 da capacidade total. Saco de autoclave inadequado (rasgado, furado, vazando e aberto). Saco de autoclave sem identificação do laboratório gerador. Saco de autoclave com tipos de resíduos misturados (Segregação Inadequada). Saco de autoclave com presença de líquido. Saco de autoclave com presença de ar. Preenchimento inadequado do formulário (sem carimbo; com campos em branco; rasuras inadequadas e contagem incorreta das vidrarias). Outra não conformidade __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ OBSERVAÇÃO: __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________ Fonte: Galvão, 2012. 85