OCDE aconselha países a
repensarem políticas em torno da
saúde mental4/3/2015, 11:59
Os países têm sido "lentos" a reagir ao problema da saúde mental. A conclusão é da
OCDE, que lembra os custos destes problemas e alerta para a necessidade de uma
intervenção integrada e rápida.
Transtorno de humor e ansiedade são as doenças mentais mais comuns junto da
população
Getty Images
As pessoas com problemas de saúde mental são ajudadas tarde e, na grande
maioria das vezes, mal. Esta é a síntese dos trabalhos de análise da Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) à forma como os
vários estados-membros têm lidado com este problema de saúde, que tem um
elevado impacto na vida dos doentes, dos empregadores e da economia em
geral.
“Um dos maiores problemas em todos os países analisados é o descompasso
entre as necessidades das pessoas que sofrem de problemas de saúde mental e
os serviços que são prestados”, lê-se no relatório “Fit Mind, Fit Job:
From Evidence to Practice in Mental Health and Work”, apresentado esta
quarta-feira. É que, explicam os autores, muitos desses doentes precisam de
apoio tanto ao nível de cuidados de saúde como do próprio emprego, até porque
se a doença cria uma barreira à produtividade, a verdade é que o trabalho pode
ser um elemento importante na recuperação. E “geralmente apenas recebem um
ou outro, e às vezes nenhum dos dois”.
Como tal, avança a OCDE, são necessárias mudanças na política e na forma de
encarar estas doenças. A resposta a estes doentes tem de ser necessariamente
mais integrada e menos isolada. E a ajuda não pode chegar apenas das
autoridades de saúde competentes, mas sim de toda a gente que rodeia o doente
pois é quem se apercebe melhor do eventual problema.
Desde logo os professores. Diz a Organização que “mais de metade de todas as
doenças mentais têm o seu início na infância e adolescência”. Como tal, “os
sistemas de ensino têm, assim, um papel fundamental a desempenhar para
garantir os bons resultados escolares e o sucesso na transição para o mercado de
trabalho destas crianças com problemas de saúde mental”. Mas para isso seria
necessário que professores, bem como outros profissionais como os médicos de
clínica geral e familiar, tivessem por exemplo na sua formação um módulo sobre
como detetar e lidar com doenças do foro mental, aconselha a OCDE. Na Áustria
e no Reino Unido esta questão já está a ser discutida e outros como Austrália e
Dinamarca já investiram significativamente em cursos de formação em saúde
mental para os médicos de clínica geral.
Em resumo, a OCDE aconselha os estados-membros a intervirem
precocemente junto destes doentes. Logo na escola, ou quando o
problema se manifesta na idade adulta, antes que eles tenham abandonado o
trabalho. Depois da identificação do problema e dos doentes, as políticas de
saúde, emprego e educação devem trabalhar de forma articulada para obterem
melhores resultados e “o progresso não ocorrerá, se a questão for deixada
unicamente para profissionais de saúde mental especializados e instituições”. É
preciso que todos os outros principais intervenientes presentes na vida do
doente intervenham. Aos governos cabe ainda um papel de monitorização dos
cuidados e de introdução de penalizações para quem não cumpre com os
regulamentos.
Só para ter noção do impacto destas doenças, nos países da OCDE, os
problemas de saúde mental são responsáveis por entre um terço e
metade de todas as doenças a longo prazo e deficiência entre a
população em idade ativa. Cerca de 20% da população em idade ativa sofre
de uma doença mental a qualquer momento e uma em cada duas pessoas vai
sofrer um período de má saúde mental durante a vida. O mais comum é as
pessoas desenvolverem doenças mentais leves a moderadas como transtornos
de humor e ansiedade. O insucesso escolar nestas crianças e jovens é mais certo
e a taxa de desemprego destes doentes é duas vezes maior do que a de pessoas
com mente sã. Eles são também duas vezes mais propensos a viver em famílias
pobres.
De acordo com o relatório divulgado esta quarta-feira pela OCDE, em 2010, os
custos das doenças mentais para a economia portuguesa rondavam
os 3,4% do PIB, ficando Portugal, naquele ano, abaixo da média da
Europa (3,6%). Ainda no mesmo ano, mais de 65% dos trabalhadores com
baixa produtividade apresentavam problemas mentais, quatro vezes mais do
que a percentagem de trabalhadores com baixa produtividade mas sem
nenhuma doença mental associada. E em 2012, Portugal era dos países da
OCDE com maior consumo de antidepressivos. Só superado por
Austrália e Islândia.
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