Imprimir () 25/05/2015 05:00 Brasil é terceiro colocado entre países com mais exigência de conteúdo local, diz OCDE Por Assis Moreira O Brasil é globalmente o terceiro país com maior número de medidas de exigências de conteúdo local, que favorecem a compra de produtos e serviços produzidos no país em detrimento de importações, revela estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Economico (OCDE). De 138 medidas adotadas desde a crise financeira iniciada em 2008, os Estados Unidos lideram a imposição com 23 medidas, seguidos pela Indonésia, com 18, e o Brasil, com 17. Mas o estudo conclui que o impacto negativo é mais generalizado na economia brasileira que em outros países. Ao estudar as exigências de conteúdo local sobre os fluxos comerciais (e não sobre investimentos) em dois dos 17 setores atingidos automotivo e telecomunicações no Brasil, a entidade conclui que o custo se propaga para todos os setores não alvejados, como agricultura e manufaturas, resultando em menos disponibilidade de insumos e menos produção. Calcula que o total importado pelo Brasil caiu 0,56% somente como resultado do requerimento de conteúdo local nos setores automotivo e de telecomunicações. Mas o impacto foi maior na importação de componentes intermediários, com queda de 1,12%. Conforme o relatório, também as exportações brasileiras caíram 0,57%, resultando em perda de fatia de mercado para produtos brasileiros no exterior. A perda de competitividade internacional normalmente ocorre nesses casos, assim como menor participação nas cadeias globais de valor. Outros estudos da OCDE apontam forte vinculo entre importação de insumos intermediários e produtividade. "Isso implica um potencial declínio na produtividade na economia brasileira", avalia a autora do relatório, Susan Stone. Normalmente, parte das exigencias de uso de conteúdo local se inserem no âmbito de compras governamentais. Outra parte, que provoca mais tensões entre parceiros comerciais, é condicionada a concessões de subsídios para regular investimentos visando promover um setor específico da produção nacional. O estudo da OCDE rompe com a percepção convencional de que a exigência de conteúdo local é imposta basicamente por economias fechadas. Os EUA são a quarta economia mais fácil para se fazer negócios, mas tem bom número de exigências de conteúdo local em compras governamentais. No entanto, a composição setorial das medidas é apontada como fator mais determinante dos efeitos de conteúdo local do que o tamanho da economia. Assim, a Venezuela, com peso econômico menor, sofre maior efeito comercial com suas medidas (sobre setores de petróleo, gás, automotivo) do que os EUA, mas menos que a Indonésia. O documento conclui com uma série de alternativas para exigência de conteúdo local. Para Susan Stone, "as causas subjacentes de desenvolvimento lento ou estagnação, como política tributária, questão da educação e acesso a financiamento devem ser identificados e políticas apropriadas adotadas para resolver essas deficiências do mercado". O relatório da OCDE coincide com a aproximação do Brasil junto a essa entidade que é considerada uma espécie de clube de países ricos. Depois de anos martelando na importância de manter um perfil mais próximo dos países em desenvolvimento, o governo brasileiro liderado pelo PT assinou recentemente um acordo que pode pavimentar o terreno para maior participação brasileira na OCDE. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, participará em junho de atividades na entidade, retomando uma presença mais importante da delegação brasileira. O futuro embaixador brasileiro em Paris, que representará o país na OCDE, Paulo Cesar de Oliveira, não discorda de quem prevê que o Brasil poderá aderir à entidade até o final do atual governo.