CASO CLÍNICO Eventração Diafragmática Internato Pediatria Medicina - ESCS- HRAS Apresentação: Wilson Sandoval Junior e Thayse S. F. Sandoval Coordenação: Paulo R. Margotto www.paulomargotto.com.br Brasília, 27 de abril de 2011 Caso Clínico #Identificação: Filho de NLC, feminino, 2 dias de vida, natural e procedente do Guará-DF. #QP: “Cianose com 8 horas de vida” #HDA: No dia 10-03-11, deu entrada nesse serviço RN com aproximadamente 50 horas de vida, com quadro de desconforto respiratório e cianose desde a 8ª hora de vida. Veio encaminhado do HRG e foi trazido pelo SAMU. Nascido de parto normal, a termo, foi liberado para o ALCON e então desenvolveu taquipneia, cianose e gemencia ocasional. Foi realizado radiografia de tórax com imagem sugestiva de hernia – eventração diafragmática, razão pela qual foi transferido para esse serviço. Em uso de Ampicilina e Gentamicina, há 1 dia(Infecção inespecífica!). Caso Clínico #Antecedentes: Nascido de PN, Capurro 39s +5 d, Peso 3800g, AIG, Apgar 5-8, reanimado e colocado em O2 sob máscara. TS mãe A+ Mãe realizou 8 consultas no pré-natal. Sorologias maternas: HIV, VDRL, Hep B e Toxo não reagentes. #Antecedentes familiares, hábitos de vida e condições sócio-econômicas: sem dados no prontuário. #Exame físico (Chegada) Em Hood 100%, com “boa” saturação de O2, agitado, desconforto respiratório de leve a moderado, boa perfusão, sem cianose. AR- MV levemente diminuído em base direita. ACV- Não auscultado sopros. Fc- 144bpm ABD- Fígado no RCD Ext- Sem edema Caso Clínico #Radiografia de tórax (entrada): • Alças em topografia de tórax direito - eventração diafragmática. • Cardiomegalia • Imagem de opacificação em lobo médio. Caso Clínico Caso Clínico # Hemograma (entrada)- sem alterações #Solicitado ecocardiograma: • Conexões AV e VA concordantes • Câmaras cardíacas e valvas normais • Foramem oval patente com shunt E-D #Solicitado parecer da cirurgia pediátrica. Caso Clínico 11-03-11 (2DIH) Quadro estável, em dieta zero,sonda orogástrica, eliminações preservadas. Ao exame: Hidratada, corada, taquidispneica(+/4+), retrações intercostais (++/4+), acianótica, bem perfundida. AR- MVF, sem RA ACV- RCR em 2T, BNF, sem sopros ABD- plano, não escavado, depressível, sem megalias Ext- Bem perfundidas *Discutido caso com cirurgião pediátrico que questionou hérnia diafragmática . Programada cirurgia . Caso Clínico Relatório Cirúrgico (11-03-11) Operação: Correção cirúrgica de hérnia diafragmática à direita. 1- Toracotomia em 8 EID. 2- Identificação de fígado herniado em porção antero-medial do diafragma, recoberto por membrana peritoneal, defeito de aproximadamente 10cm de diâmetro. 3- Plicatura de diafragma com Prolene 4-0 4- Colocação de dreno de tórax. 5- Fechamento de toracotomia por planos. •Não era uma hérnia de Morgani ou Bochdaleck •Eventração diafragmática Caso Clínico Radiografia no pós - operatório Caso Clínico Caso Clínico 14-03-11 (3DPO) 08:30h: Evoluindo bem no pós-operatório, eliminações presentes. CD- Extubação , iniciado Hood 40% e NPT. 11:50h: Realizada radiografia de tórax: Ausência de pneumotórax. CD- Fechado dreno. 15-03-11 (4DPO) 15:30h: Realizado novo Rx de tórax que evidenciou presença de pneumotórax. CD- Reaberto dreno. Caso Clínico 19:45h: RN muito agitado, choro contínuo, sudoreico, acianotico. Fc: 200bpm Dreno de tórax aberto, porém sem escape aéreo. CD- Solicitado novo Rx de tórax para avaliar pneumotórax , após reabertura de dreno. Rx- Presença de lâmina de pneumotórax a D. Caso Clínico 16-03-11 (5DPO) 09:00h: RN evoluiu bem durante a noite e não apresentou novo episódio de agitação e taquidispneia. Ativo, reativo, corado, bem perfundido, dispnéia moderada. AR- MV rude bilateralmente #Ex. Complementares: • Hg: 12.6 , Hct: 36.1, Plaq: 266.000 • Leuc: 17.200 (TN:normal / relação I/T: normal/ Imaturos: ):leucograma normal Seg: 40, Bast: 4, Linf: 38, Mon: 8, Eos: 4, Baso: 7 CD- Devido piora clínica do dia anterior optou-se por trocar o antibiótico– Ampicilina e Gentamicina por Ampicilina e Sulbactam. Realizado novo Rx que evidenciou ausência de pneumotórax. Retirado dreno torácico e solicitado Rx de controle. Caso Clínico 22:30h: Piora súbita, apresentando agitação, dispnéia importante , cianose central e queda de saturação. AR- Broncoespasmo. CD- Feito NBZ com Adrenalina e aumentada FiO2. Intubado . •Evoluiu com melhora progressiva do quadro. •Radiografia de controle, pós- retirada de dreno: Volumoso pneumotórax a D . CD- Redrenagem torácica. Caso Clínico 17-03-11 (6DPO) Evoluindo sem intercorrências. Extubado e colocado em Hood 30%. 23-03-11 Melhora progressiva do padrão respiratório, em ar ambiente e progredindo dieta. Retirado dreno de tórax. Rx de controle: sem pneumotórax. 29-03-11 Após 17 dias na UTI Neo, foi transferido para o ALCON patológico. Finalizada antibioticoterapia e retirado cateter. • Evolui progressivamente com melhora do quadro • Recebe diagnóstico de conjuntivite 02-04-11 Recebe alta hospitalar em bom estado geral, em tratamento de conjuntivite (Tobramicina - colírio), com retorno ambulatorial agendado. Hérnia Diafragmática e Eventração Definição • Hérnia Diafragmática: Herniação do conteúdo abdominal para a cavidade torácida através de abertura anormal no diafragma • Eventração: Elevação unilateral completa ou parcial do diafragma Classificação • Causa de Distúrbios Respiratórios no RN causas mecânicas ou mecânica-cirúrgicas Hérnia diafragmática, Atresia de esôfago, Enfisema lobar congênito causas cardiovasculares ICC causas neuromusculares Hipertensão intracraniana, Síndrome hipóxico-isquêmica Werding-Hoffmann causas metabólicas Hipoglicemia, Hipocalcemia, Erros inatos do metabolismo causas pulmonares Doença da membrana hialina, Taquipnéia transitória do RN, Síndrome da aspiração meconial, Displasia broncopulmonar Classificação • HDC – 1 por 2.200 25 : 1 • Ausência de diafragma - rara • Morgagni (anterior): – 3 a 5 % - Hiato intercostal – Pouco sintomática (assintomática) – Tardia • Bochdalek (póstero-lateral): 85-90 % – E: 88 % - pleuroperitonial – D: 10 % – Bilateral: 2 % Fisiopatologia • Eventração adquirida: Paralisia do nervo frênico (trauma, infecções) • Eventração congênita: Anomalia do desenvolvimento diafragmático com falha no desenvolvimento muscular centrípeto Quadro brando X Quadro grave 2:1 E>D Fisiopatologia • Defeito no desenvolvimento do diafragma: entre 4ª e 8ª semana – Herança multifatorial • Falha na fusão dos 4 componentes embrionários – Septo transverso – (4ª) – Mesentério esofagiano (4ª) – Membranas pleuroperitoneais (5ª) – Musculatura parede torácica - periférica Fisiopatologia Hipoplasia pulmonar - Compressão pulmonar - Redução brônquios e bronquíolos (compromete ramificação e proliferação de VA) - Alvéolos: 20 milhões para 1-2 milhões - Imaturidade pulmonar com redução de pneumócitos tipo II Hipertensão pulmonar - Diminuição número de arteríolas - Hipertrofia camada muscular - Hiperreatividade estímulos vasoconstrição Fisiopatologia Hipoplasia pulmonar Hipertensão pulmonar Persistência shunt cardíaco D-E ↓ Complacência pulmonar Insuficiência respiratória Hipoxemia Hipercapnia Acidose Fisiopatologia • 44-66%: outras malformações – Cromossômicas (4 a 16%) – SNC – Geniturinárias – Cardíacas Diagnóstico • Ecografia morfológica (a partir da 15ª semana) – – – – Diagnostica 60% dos casos Vísceras abdominais na cavidade torácica Desvio do mediastino Polidrâmnio (3° trimestre) – Dificuldades • Posição fetal • Obesidade materna • Operador-dependente Diagnóstico • Ressonância nuclear magnética – Diagnóstico preciso – Grau da lesão diafragmática – Vísceras herniadas – Grau de maturidade pulmonar Diagnóstico • Pós-natal (Clínico) – Abdome escavado – Insuficiência respiratória – RHA no tórax – Bulhas cardíacas deslocadas • Radiografia – Alças intestinais no tórax – Desvio do mediastino – Abdome sem gás Conduta O tratamento consiste em 3 etapas: 1- Estabilização 2- Tratamento operatório 3- Suporte/Seguimento pos- operatório Estabilização 1 - Ao nascer, o RN deve ser prontamente intubado para ventilação e introduzida sonda orogástrica . • Intubação - Ventilação por pressão positiva a 100% - asfixia piora a hipertensão pulmonar. - Não ventilar com máscara - Hiperventilação contra-indicada : risco de barotrauma - Buscar FR :30-40/min. Tolerar a hipoxemia ( SatO2 de 85%) e certo grau de hipercapnia (PaC02 entre 45-55mmHg). • Sonda orogástrica - Aspirar o conteúdo gástrico e deixá-la aberta para descompressão do estômago e alças intestinais que estão na caixa torácica. 2 - Decúbito lateral - Lado afetado: facilita a expansão do lado normal. Estabilização 3 - Monitorização da PA . Hipert Pulm Forame oval patente+ Shunt DE clínico – Manter a PAM de acordo com o peso • 30-35mmHg: < 1000g • 35-40: 1000-1200g • 45-50: > 2000g – Caso hipotensão : Dopamina, dobutamina 4 - Cateterismo umbilical – PaO2 reflete a oxigenação do sangue pós-ductal – monitorização da PaO2 pré-ductal (oxímetro no MSD). Quadro Estabilização 5 - Surfactante pulmonar não está indicado - não traz benefícios, associado a maior mortalidade. 6 - Manipulação mínima e analgesia/sedação: Fentanil, Midazolam - Labilidade respiratória - Agitação/manipulação • Estímulos para aumentar shunt cardíaco D-E • Piora da hipoxemia Estabilização 7 - Óxido nítrico inalado (NOi) - Relaxamento da musculatura lisa vasodilatação arteríolas pulmonares, queda na pressão da artéria pulmonar e melhora da PaO2. - Hérnia diafragmática com hipoplasia pulmonar não tem efeitoNOi deve alcançar os alvéolos para produzir seus efeitos. - E defendido como estratégia para o paciente que será encaminhado à OECM. - Disfunção VE: não usar Vasodilatação pulmonar = aumento pré-carga Risco de edema agudo de pulmão Tratamento cirúrgicoPlicatura diafragmática • Inicialmente: estabilização clinica • Buscar outras possíveis anomalias “ RN não devem ser operados num esquema de emergência. A hérnia diafragmática é uma emergência fisiológica e não cirúrgica” • Mortalidade – 66,7% cirurgia precoce – 18,2% pós estabilização Tratamentos intra-útero- abandonados: • Elevada morbidade materna • Lesão nervo laríngeo, traqueia do feto Prognóstico • Mortalidade – 50-65% (graves) – 90% ( associadas outras anomalias) – Diagnóstico < a 25ª semana: até 100% Suporte/Seguimento • Acompanhamento multidisciplinar – Herniação recorrente, DRGE – Doença pulmonar crônica – Atraso do crescimento – Deformidades de coluna (escoliose) e da parede torácica (pectus excavatum) – Surdez Notas do Editor do site, Dr.Paulo R. Margotto • Drenagem pleural em Recém-nascido do sexo feminino: Rainer C et al relataram a deformidade da mama na adolescência como resultado da drenagem do pneumotórax (PTX) durante o período neonatal. Observem na Figura 2 e 3, meninas ex-prematuras internadas na UTI Neonatal que tiveram drenagem torácica. Garota de 16 anos que foi prematura com múltiplos Garota de 13 anos com deformidade bilateral do seio após tratamento de múltiplos PTX com drenagem de tórax. • Observe a extensão do tecido mamário em um cadáver de uma recém-nascida. Notem a extensão caudal da borda inferior da 6a costela Demarcação do tecido mamário em necropsia. • Vejam as recomendações dos autores: incisão na linha axilar anterior 5 cm abaixo do mamilo e a inserção do dreno de tórax deve ser feita através do 5º -6º espaço intercostal; observem que a inserção é feita bem fora do tecido mamário. Pneumotórax em prematuros Autor(es): Guilherme M Sant’Anna (Canadá). Realizado por Paulo R. Margotto Bibliografia • Vieira MG,Margotto PR, Assreuy S, Resende J, França EMF. Hérnia duiafragmática. In. Margotto PR. Assistência ao RecémNascido de Risco, ESCS, Brasília, 3ª Edição, no prelo 92011), • Sabiston tratado de cirurgia : as bases biológicas da prática cirúrgica moderna / editor-chefe, Courtney M. Townsend ; editores associados, R. Daniel Beauchamp, B. Mark Evers, Kenneth L. Mattox ,Edição 16. ed. Publicação Rio de Janeiro : Guanabara Koogan , 2003 . • Schwartz - Princípio de Cirurgia (Ed. Guanabara Koogan) 5ª edição Vol. II, Rio de Janeiro - 1991; Consultem também: Hérnia diafragmática congênita Autor(es): Paulo R. Margotto, Martha G. Dias, Samiro Assreuy, Evely Mirela F. França Sessão de Anatomia Clínica: Hérnia diafragmática Autor(es): Marina Barbosa, Raquel C. Almeida, Paulo R. Margotto Interpretação do leucograma no recém-nascido Autor(es): Manroe BL et al. Apresentação:Ana Carla Holanda, Candice C. Q. de Araújo, Flávia Gomes de Campos, Camila Amaral, Paulo R. Margotto OBRIGAD O! Dr.Paulo R. Margotto, Dda Thayse, Ddo Wilson