ANATOMIA CLÍNICA: ASFIXIA PERINATAL GRAVE HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA CONGÊNITA Apresentação:Marina Barbosa, Interna / ESCS Coordenação: Paulo R. Margotto Brasília, 21/2/2011 – www.paulomargotto.com.br Anatomia Patológica e Citologia do HRAS 1980 Dra. Maria Ophelia Araujo (Chefe) Dr. Paulo R. Margotto (R2) 2011 Dr.Paulo R. Margotto Dda Marina Barbosa 23:37 34 anos, G2P1A0, IG 38+2 (eco 18sem) Dor em baixo ventre e perda de líquido transvaginal. Nega sangramento. Pré-natal: 6 consultas realizadas Última ecografia: (há 10 dias): IG 35+2; não há alterações relatadas Ao exame, AFU 31cm, MF +, BCF 144 bpm DU 3/10’/30” Toque: Colo 90% apagado, 4 cm de dilatação, cefálico, feto alto, bolsa rota com líquido amniótico claro HD: Trabalho de parto CD: Internação 2:00 MF +, BCF 150 bpm, DU 4/10’ Toque: colo longo, posterior, 90% apagado, 4-5cm dilatação, cefálico, bolsa rota CD: observação 5:35 Contrações dolorosas e perda de líquido claro BCF 142 bpm, DU 2/10’/30”, tônus uterino normal CTB sem desacelerações Toque: Colo centrado, 90% apagado, 5 cm dilatado, cefálico, -2 De Lee, bolsa rota CD: Monitorização fetal contínua Acompanhamento do trabalho de parto 6:00 Paciente com dilatação total, BCF 134 bpm RN único, vivo, masculino, sem circular de cordão, sem vícios ou malformações aparentes, choro fraco ao nascer, hipotônico 2850g, PC 34cm Apgar 3/1 Relato neonatologista Nasceu hipotônico, cianótico, com movimentos respiratórios irregulares e FC em torno de 100 bpm O2 sob máscara após aspiração de pouca secreção clara das VAS, sem melhora O2 com CFR com melhora discreta da cianose e manutenção da FC Intubado com TOT nº 3,0, após aspiração improdutiva, sem melhora Trocado TOT para nº 3,5, devido escape CFR Feito adrenalina no TOT, pois FC 80 bpm mesmo com massagem cardíaca Sem nenhuma melhora clínica Cateterismo umbilical e infusão SF 0,9% 50 mL Como não melhorava FC, feito mais 2 doses de Adrenalina(endovenoso) Sem resposta, queda da FC Óbito às 7h05 Durante toda a reanimação Hepatomegalia 2cm, até chegar à região infraumbilical Bulhas abafadas e mais audíveis hemitórax D HD: RNT, AIG Asfixia perinatal grave Cardiopatia congênita? Hipóteses diagnósticas? Dificuldade Respiratória Perinatal Mecânicas • MACC • Hérnia diafragmática • Atresia de esôfago • Enfisema lobar congênito Cardiovasculares • ICC Neuromusculares • Hipertensão intracraniana • Síndrome hipóxico-isquêmica • Werding-Hoffmann Metabólicas • Hipoglicemia • Hipocalcemia • Erros inatos do metabolismo Pulmonares • Doença da membrana hialina • Taquipnéia transitória do RN • Síndrome da aspiração meconial • Displasia broncopulmonar www.paulomargotto.com.br Autópsia: Realizada pela Dra. Raquel C. Almeida Cavidade torácica Diafragma Abertura anormal do diafragma Pulmão esquerdo Coração Pulmão E Fígado lobo E Coração desviado para hemitórax D Pulmão D Pulmão E Coração Hérnia Diafragmática Congênita Hérnia Diafragmática Congênita Herniação do conteúdo abdominal para a cavidade torácida através de abertura anormal no diafragma 1:1200-12000 Masc 1,5:1 Revista AMRIGS, Porto Alegre, 48 (4): 265-267, out.-dez. 2004 Embriologia Defeito no desenvolvimento do diafragma: 3ª - 8ª semana Herança multifatorial Fusão dos 4 componentes embrionários Septo transverso Membranas pleuroperitoneais Mesentério dorsal do esôfago Camada muscular www.paulomargotto.com.br Classificação Morgani (anterior): raro Bochdalek (póstero-lateral): 85-90% E: 80% D: 15% Bilateral: 2% www.paulomargotto.com.br Fisiopatologia Hipoplasia pulmonar Compressão pulmonar Redução brônquios e bronquíolos Alvéolos: 20 milhões para 1-2 milhões Menos severa com 34 semanas do que com 40 semanas (Bargy F et al)) Crescimento do pulmão fetal na hérnia diafragmática congênita Bargy F, Beaudoin S, Barbet P (França) Clicar aqui! www.paulomargotto.com.br www.fundacioclinic.org Fisiopatologia Imaturidade pulmonar Redução dos pneumócitos tipo II Hipertensão pulmonar Diminuição número de arteríolas Hipertrofia camada muscular Hiperreatividade estímulos -- vasoconstrição www.paulomargotto.com.br www.hap-info.com.pt Fisiopatologia Hipoplasia pulmonar Complacência pulmonar Insuficiência respiratória Hipertensão pulmonar Hipoxemia Hipercapnia Acidose Persistência shunt cardíaco D-E www.paulomargotto.com.br Fisiopatologia 44-66%: outras malformações Cromossômicas SNC Geniturinárias Cardíacas www.paulomargotto.com.br Diagnóstico Ecografia morfológica Diagnostica 60% dos casos Vísceras abdominais na cavidade torácica Desvio do mediastino Polidrâmnio Desvantagens Posição fetal inadequada Obesidade materna Operador-dependente Radiol Bras. 2008;41(1):1–6 Rev Assoc Med Bras 2009; 55(4): 363-81 Diagnóstico Ressonância nuclear magnética Diagnóstico preciso Grau da lesão diafragmática Vísceras herniadas Grau de maturidade pulmonar Radiol Bras. 2008;41(1):1–6 www.celulamater.com.br Diagnóstico Radiol Bras. 2008;41(1):1–6 Diagnóstico Radiol Bras. 2008;41(1):1–6 Diagnóstico Radiol Bras. 2008;41(1):1–6 Diagnóstico Pós-natal Abdome escavado Insuficiência respiratória RHA no tórax Bulhas cardíacas deslocadas www.paulomargotto.com.br Diagnóstico Radiografia Alças intestinais no tórax Desvio do mediastino Abdome sem gás www.paulomargotto.com.br Radiol Bras. 2006, vol.39, n.1, p. 69-73 Diagnóstico Radiol Bras. 2006, vol.39, n.1, p. 69-73 Conduta Intubação imediata Ventilação por pressão positiva a 100% Sat 85% PaCO2: 60-85 mmHg Não ventilar com máscara Hiperventilação contra-indicada Decúbito lateral Lado afetado Sonda orogástrica Descompressão estômago e alças intestinais www.paulomargotto.com.br Conduta Monitorização da PA Manter a PAM de acordo com o peso 30-35: < 1000g 35-40: 1000-1200g 45-50: > 2000g Dopamina, dobutamina Cateterismo umbilical PaO2 do sangue pós-ductal www.paulomargotto.com.br Conduta Analgesia/sedação Fentanil, Midazolam Manipulação mínima Labilidade respiratória Agitação/manipulação Estímulos para aumentar shunt cardíaco D-E Piora da hipoxemia www.paulomargotto.com.br Conduta ECMO Oxigenação extra-corpórea por membrana Indicações A doença é passível de cura e reversão Ausência de resposta à terapia convencional máxima IG > 33 semanas Mortalidade estimada em pelo menos 80% http://perfline.com/ecmo/files/ecmo_ecls.html ECMO www.realhopeforcdh.com Conduta Óxido nítrico inalado (NOi) Vasodilatação arteríolas pulmonares Queda na pressão da artéria pulmonar = melhora da PaO2 Estimula angiogênese (após uma semana) Disfunção VE: não usar Vasodilatação pulmonar = aumento pré-carga Risco de EAP Surfactante Sem benefícios www.paulomargotto.com.br Tratamento cirúrgico Diagnóstico outras possíveis anomalias Estabilização pulmonar Mortalidade 66,7% cirurgia precoce 18,2% pós estabilização www.paulomargotto.com.br Tratamento intra-útero Abandonados: Correção Elevada do defeito diafragmático morbidade materna Obstrução Lesão da traqueia por clampeamento nervo laríngeo, traqueia www.paulomargotto.com.br Tratamento intra-útero Obstrução da traqueia por balão Retençaõ de secreção pulmonar Aumento da pressão broncoalveolar Expansão pulmonar Sobrevida 57% Função pulmonar inadequada www.cpdt.com.br Radiol Bras. 2008;41(1):1–6 Rev Assoc Med Bras 2009; 55(4): 363-81 Prognóstico Mortalidade 50-65% 90% (outras anomalias) Diagnóstico até a 25a semana: 100% www.paulomargotto.com.br Prognóstico Jornal de Pediatria - Vol. 79, Nº1, 2003 Seguimento Acompanhamento multidisciplinar Herniação recorrente, DRGE Doença pulmonar crônica Atraso do crescimento Deformidades músculo-esqueléticas: escoliose Surdez www.paulomargotto.com.br Malformação Adenomatoide Congênita Cística do Pulmão (MACC) Malformação Adenomatoide Congênita Cística do Pulmão (MACC) Crescimento excessivo dos bronquíolos terminais Formação de cistos de diversos tamanhos Deficiência de alvéolos Expansão contínua Excesso de tecido elástico Inspiração: Deficiência expansão de cartilagem Expiração: colapso da comunicação traqueobrônquica = acúmulo de ar Arquivos Catarinenses de Medicina V. 32. n 4, 2003 MACC 1: 10.000 a 25.000 Sem predileção por gênero ou hemitórax 25% das malformações pulmonares Arquivos Catarinenses de Medicina V. 32. n 4, 2003 Fisiopatologia Comprometimento do mesoderma durante desenvolvimento (7a-19a semana) Mecanismo exato desconhecido Dilatação anormal e proliferação dos bronquíolos distais Comunicação dos cistos entre si e com bronquíolos Suprimento vascular pulmonar J Pneumol 24(5) – set-out de 1998 Arquivos Catarinenses de Medicina V. 32. n 4, 2003 Complicações Pneumonia Pneumotórax Hemotórax Abscesso pulmonar Malignidades: carcinomas, blastomas Hidropsia fetal Compressão veia cava inferior: ICC www.paulomargotto.com.br Classificação Stocker 1. Grandes cistos (>2 cm) Mais frequente: 60-70% Cercados por pequenos cistos Possibilidade de recuperação total 2. De origem brônquica Múltiplos cistos de 15mm 15-20% Malformações graves associadas 3. De origem bronquiolar-alveolar Múltiplos cistos de 5-15mm, parede fina Prognóstico grave: volumoso Rev. Bras. Ginecol. Obstet. 2005, vol.27, n.6, p. 353-356 Diagnóstico Pré-natal: US 18-20a semana de gestação Lesões císticas Polidrâmnio Sao Paulo Med. J. 2008, vol.126, n.4, p. 239-241 Arquivos Catarinenses de Medicina V. 32. n 4, 2003 Diagnóstico Clínico Desconforto respiratório ao nascimento Hipertensão pulmonar Hipoplasia pulmonar: compressão pelos cistos www.paulomargotto.com.br Diagnóstico Radiografia Hipertransparência Ausência de trama vascular Tomografia computadorizada Melhor visualização das lesões Radiol Bras. 2006, vol.39, n.1, p. 69-73 Diagnóstico Pediatria (São Paulo) 2009;31:128-136 Diagnóstico Radiol Bras. 2006, vol.39, n.1, p. 69-73 Conduta Cirurgia fetal até 32a sem Hidropsia fetal antes da maturidade pulmonar completa Punções seriadas do cisto Dreno cístico-amniótico Am J Obstet Gynecol. 2002 Oct;187(4):950-4 Sao Paulo Med. J. 2008, vol.126, n.4, p. 239-241 Rev. Bras. Ginecol. Obstet.. 2005, vol.27, n.6, pp. 353-356 Tratamento cirúrgico Estabilização respiratória Sintomático TC Ressecção do lobo pulmonar acometido Assintomático TC 4-6meses Ressecção entre 6-12 meses Crescimento pulmonar compensatório www.paulomargotto.com.br Arquivos Catarinenses de Medicina V. 32. no 4, 2003 Tratamento cirúrgico www.paulomargotto.com.b r (cedidas por Dra Jaisa Moura) Prognóstico Depende da precocidade do diagnóstico e tratamento Fatores de pior prognóstico Tamanho Tipo: microcístico Bilateral Desvio do eixo cardíaco Hidropsia Associação com outras anomalias Am J Obstet Gynecol. 2002 Oct;187(4):950-4 Consultem: Hérnia diafragmática congênita Autor(es): Paulo R. Margotto, Martha G. Dias, Samiro Assreuy, Evely Mirela F. França Dr. Paulo R. Margotto/Dda Marina Barbosa