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Parceria Cidadã: relato de uma experiência
Karla Rodrigues Scaramussa
Faculdade São Camilo-FAFI-ES
Ana Rita Louzada Coelho
Faculdade São Camilo-FAFI-ES
Breve histórico da parceria: Faculdade São Camilo-FAFI-ES e Programa Alfabetização
Solidária
A Faculdade São Camilo-FAFI-ES, situada no município de Cachoeiro de Itapemirim,
estado do Espírito Santo, estabeleceu, em 1999, uma parceria com o Programa Alfabetização
Solidária. Nesta parceria, foram, de imediato, indicados os municípios de Viseu e Cachoeira
do Piriá, no Estado do Pará, Região Norte do Brasil, para que a Instituição implantasse e
desenvolvesse uma “Proposta Cidadã de Alfabetização”1.
Em 2001, a São Camilo-FAFI-ES ampliou esta parceria, adotando mais dois municípios:
Águia Branca e Boa Esperança, situados no Norte do Estado do Espírito Santo, Região
Sudeste do Brasil.
Em 2002, por solicitação do Programa Alfabetização Solidária, os municípios de Viseu e
Cachoeira do Piriá – PA foram repassados à Universidade do Estado do Pará. No mesmo
período, atendendo às novas diretrizes do Programa, a atuação da São Camilo-FAFI-ES
restringiu-se ao Estado do Espírito Santo, com os municípios de Águia Branca e Boa
Esperança.
A partir daí, a atuação da Instituição estendeu-se aos municípios de Viana, Colatina,
Sooretama e Linhares, todos do Estado do Espírito Santo.
Dando continuidade à parceria estabelecida anteriormente, a orientação pedagógica
oferecida pela Faculdade São Camilo-FAFI-ES, atinge, atualmente, os municípios de
Cariacica, Conceição da Barra, Ibitirama, Presidente Kennedy, no Estado do Espírito Santo, e
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Proposta Pedagógica de Alfabetização de Adultos da Faculdade São Camilo-FAFI-ES – Documento
Institucional.
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Aimorés, em Minas Gerais, devido à sua localização geográfica, limítrofe com o nosso
Estado.
Diretrizes Metodológicas da Proposta Cidadã de Alfabetização – Faculdade São CamiloFAFI-ES
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Língua Portuguesa (MEC,
1998: p. 22), “pode-se considerar o ensino e a aprendizagem de Língua, como prática
pedagógica, resultantes da articulação de três variáveis: o aluno, os conhecimentos com os
quais se opera nas práticas de linguagem e a mediação do professor”.
Como principal elemento dessa tríade está o aluno: primeiro e maior ponto de
referência e foco de trabalho do professor, pois ele é o sujeito da ação de aprender os
conhecimentos lingüístico-textuais e discursivos das práticas sociais de linguagem. Tal
conhecimento dar-se-á, justamente, pela ação do terceiro elemento dessa tríade: o professor –
tematizador dos aspectos prioritários em função das necessidades dos alunos e de suas
possibilidades de aprendizagem, intermediando a reflexão do aluno sobre o objeto de
conhecimento nas diversas áreas. Dessa forma, objetivando garantir uma aprendizagem
efetiva, caberá ao professor planejar, implementar e dirigir as atividades didáticas.
Ciente da grandeza de seu fazer pedagógico, todo o encaminhamento metodológico da
Proposta Cidadã de Alfabetização assume um imensurável compromisso: desenvolver a
competência discursiva do alfabetizando, concomitantemente com a construção do exercício
da cidadania, que se faz necessário, em cada aula.
Ora, e de que forma tais possibilidades se consolidariam no âmbito escolar?
Dialogando, simultaneamente, com a função social da aquisição das práticas leitoras, lógicomatemáticas, ambientais e sociais é que, em primeiro lugar, a Pedagogia de Projetos
consagra-se como a prática pedagógica que alavancará todo o processo de alfabetização de
jovens e adultos, pois está aberta à experimentação e à participação de todo o grupo,
logicamente por permitir a articulação das diferentes áreas e análise dos problemas e desafios
impostos pela vida social.
Dessa forma, esta Pedagogia adquire relevância, pois propiciará vivências que possam
contribuir para a busca de concretas soluções para tais problemas e desafios considerando a
realização de um trabalho interdisciplinar.
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Neste sentido, adquire significação efetiva um ensino que rompa com a imposição da
mera transmissão conteudista, compartimentada, existente nos currículos da pedagogia
tradicional e racionalista. É a Pedagogia de Projetos direcionando a operacionalização da
Alfabetização Cidadã, pautada na interdisciplinaridade, pois, dessa forma, atenderá à
diversidade do público a que se destina, compatibilizando necessidades sociais, prioridades
individuais e saberes formais.
Cabe ao professor, portanto, reconhecer o caráter de totalidade que a prática
pedagógica requer, pois fragmentar os conteúdos não corresponde ao processo de construção
dos conhecimentos dos alunos. A especificidade das áreas do conhecimento não pode ser
confundida com a fragmentação do pensamento social e científico paralelo à aquisição das
competências lingüísticas e lógico-matemáticas. Que se proclame, assim como defendeu
FREIRE,(1983: p. 17), um fazer pedagógico engajado com a leitura da “palavramundo”,
descartando a memorização mecânica dos ba-be-bi-bo-bu e dos la-le-li-lo-lu.
Nesse aspecto, a Pedagogia de Projetos redimensionará o processo ensino e
aprendizagem, pois os conteúdos específicos se colocarão a serviço da proposta metodológica
que se definirá a partir de temas oriundos das ações e interações do grupo, durante as
problematizações pedagógicas em sala de aula, apresentando um fio condutor condizente com
o contexto sócio-cultural-histórico e econômico do grupo trabalhado. Em vez de mero
“dador” de aula, destaca-se nesta proposta o professor problematizador e mediador na relação
do aluno com o conhecimento.
A Pedagogia de Projetos apresenta vantagens inigualáveis porque, segundo GANGIN
(2001: p 14), “possibilita o estudo de temas vitais no horizonte político-pedagógico da
comunidade e, ao mesmo tempo, no interesse dos alunos; permite a participação de todos,
porque é essencial ao projeto levar as pessoas ao fazer, além de abrir expectativas para a
construção do conhecimento, a partir de questões reais, transformando a insegurança do
processo num exercício do pensar – agir – pensar.
Por outro lado e também com total significância, surge para consolidar a Proposta
Cidadã de Alfabetização, subsidiando a Pedagogia de Projetos e a interdisciplinaridade a
aquisição dos múltiplos saberes por meio de análises e produções de textos. Tal
fundamentação sustenta-se no objetivo maior do processo de letramento: produzir um
leitor/escritor competente.
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Essa dimensão de alfabetização não consiste no simples grafar de letras e sílabas e
leitura de “pedaços” de palavras consagrados pelas cartilhas seculares, pois seu objetivo é o
registro gráfico do discurso, com possibilidades e facilidades que os demais códigos escritos
não contêm. Deste modo, apenas conhecer o valor fonético das letras e saber traçá-las resulta
um saber inútil, posto que incapaz de produzir uma unidade discursiva ou texto. A capacidade
de produção de um texto escrito de qualidade é o objetivo do ensino da língua escrita e,
portanto, também do processo de alfabetização.
Além de tais norteadores pedagógicos, faz-se necessário, ainda, conciliar a aquisição
dos saberes formais através dos textos e do enfoque interdisciplinar com o jogo – recurso
ideal no processo de alfabetização de jovens e adultos na medida em que desperta o interesse
dos alunos, desenvolvendo níveis de sua experiência pessoal e social e construindo novas
descobertas.
Articulação Teoria x Prática
A São Camilo-FAFI-ES exerce responsabilidade científica e social na medida em que
é parte integrante de um contexto global e, por isso, colabora para os diferentes processos de
desenvolvimento e participa destes, cabendo-lhe, como espaço de construção do saber,
posicionar-se, permanentemente, quanto ao seu papel, a fim de legitimar sua existência por
meio de um desempenho educacional e social consciente, tendo como referência a sua
Missão, entendendo-a como: “ Integralizar2 a formação do ser humano com ética e
compromisso social para interagir com a sociedade”3.
Neste sentido, a atuação contínua nas comunidades pertencentes aos municípios parceiros
possibilita ampliar ações que contribuam para o atendimento das necessidades sociais dos
alfabetizandos do Programa Alfabetização Solidária.
Entende-se que esse processo contribui para a participação contínua dos alfabetizandos na
sociedade, como sujeitos que vivem no mundo urbano, escolarizado, industrializado,
burocratizado, que não têm domínio da palavra escrita e que estão, naturalmente, alijados da
construção plena de seu projeto de cidadania.
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Integralizar – Incorporar novos conhecimentos às operações mentais já estruturadas, integrando-as a uma rede
de competências.
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In: PLANO DE DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL – PDI 2002/2007 – São Camilo/ES, 2001-2007:1
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Em conformidade com essa filosofia pedagógica, deu-se a implementação e a execução do
Projeto “Educação e Cidadania”, no município de Colatina -ES, em Outubro de 2003,
contemplando diferentes ações nas áreas da educação, cultura e saúde, desenvolvidas em sala
de aula e na comunidade, por meio da Ação Comunitária para a Cidadania.
O Projeto Pedagógico desenvolvido nas salas do Programa Alfabetização Solidária,
sob a mediação dos alfabetizadores, pressupôs a realização de trabalhos interdisciplinares no
período de 02 de junho a 24 de outubro de 2003, visando aproximar a escola da vida dos
alfabetizandos, pois, segundo LOUZADA (1999, p.11) “faz -se necessário que as vivências na
sala de aula partam de uma situação problema, onde as atividades propostas devam gerar a
liberdade de ação de forma que o professor possa atuar enquanto estimulador”.
Nessa perspectiva, a organização dos projetos de ação pedagógica ocorreu por meio de
temas destacados pelos alfabetizadores, durante o planejamento com a Coordenação
Pedagógica da IES. Os temas foram escolhidos de acordo com a necessidade da comunidade
local e adaptados à realidade de cada turma.
Durante a execução dos projetos propostos em sala de aula, os alfabetizadores
estiveram atentos para questões primordiais, como a mobilização dos alfabetizandos em torno
do assunto abordado. A busca e seleção das fontes de informações foram efetivadas pelos
alfabetizandos e pelo alfabetizador, e todo conhecimento adquirido a partir das pesquisas e ou
palestras ministradas por profissionais da área foi exposto para a comunidade local por meio
de cartazes e campanhas de sensibilização. Vale ressaltar que as palestras eram abertas ao
público da comunidade atendida.
As atividades realizadas durante a execução do projeto, como escrita de textos sobre o
tema gerador, cartazes e ou folhetos de propaganda, foram produzidas visando à o “Dia da
Ação Comunitária para a Cidadania”. Era o momento de o alfabetizando expor sua
criatividade, suas idéias, sua escrita e de o alfabetizador atuar como mediador, atendendo às
individualidades de cada aluno ou grupo de trabalho.
A avaliação das atividades inerentes ao “Projeto Educação e Cidadania” aconteceu de
forma processual, dadas às características e perfil do grupo de alfabetizandos.
“Um programa de educação de adultos não pode ser avaliado apenas
pelo seu rigor metodológico, mas pelo impacto gerado na qualidade
de vida da população atingida. A educação de adultos está
condicionada às possibilidades de uma transformação real das
condições de vida do aluno-trabalhador.” (Gadotti,1995)
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Foram considerados como instrumentos de avaliação a participação na elaboração dos
trabalhos, o debate e a discussão de aula, produção de textos e a elaboração de materiais
ilustrativos referentes ao “Projeto Educação e Cidadania”.
O resultado deste processo de aprendizagem e produção de novos conhecimentos foi
divulgado para a comunidade local, no dia 25 de outubro de 2003 – Dia da Ação Comunitária
para a Cidadania.
A Ação Comunitária teve a participação direta dos alfabetizadores, alunos dos Cursos
de Graduação da São Camilo-FAFI-ES, da Coordenação do Programa Alfabetização Solidária
da Instituição e dos alunos alfabetizandos.
A ação comunitária contemplou:
1. Exposição de trabalhos manuais, realizados pelos alfabetizandos, tais como:
bordados, crochês, pinturas em tecidos, peças artesanais em madeira, entre outros.
2. Exposição de cartazes contendo os trabalhos pedagógicos realizados pelos
alfabetizandos em sala de aula, envolvendo temáticas como:
a) Saúde Coletiva e Programas de Saúde: Dengue, Higiene Bucal, Higiene
Corporal, Hipertensão, Diabetes, Reeducação Alimentar e utilização de Plantas Medicinais;
b) Educação Ambiental: Preservação do meio ambiente;
c) Educação e Cidadania: Direitos e deveres do trabalhador e Direitos e
deveres do consumidor.
3. Apresentação de teatro pelo Grupo de Teatro São Camilo e;
4. Orientação para melhoria da qualidade de vida x saúde preventiva, realizada pelos
alunos do curso de Enfermagem da IES.
Em conformidade com a proposta pedagógica apresentada, a dinamização do fazer em
sala de aula, no município de Colatina-ES, alargou os saberes sócio-políticos, pedagógicos e
cidadãos dos alunos, agora alfabetizados, do Programa Alfabetização Solidária.
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Bibliografia
BRASIL. MEC/SEF – Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Brasília,
1998.
FREIRE, P. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 5. ed., São
Paulo: Cortez, 1983.
GANGIN, A. B. Metodologia de Projetos na Sala de Aula: Relatos de uma experiência. 2.
ed. São Paulo: Edições Loyola. 2001.
LOUZADA, A.M. Pedagogia de Projetos: Aspectos Teóricos e Contexto Prático. 1. ed.
Vila Velha: CAEPE, 1999.
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1 Parceria Cidadã: relato de uma experiência Karla Rodrigues