UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS CURSO DE FARMÁCIA MILENA SOUZA SANTOS ANEMIA FALCIFORME: DA DOENÇA AO TRATAMENTO Anápolis 2011 MILENA SOUZA SANTOS ANEMIA FALCIFORME: DA DOENÇA AO TRATAMENTO Trabalho monográfico apresentado à Coordenação do Curso de Farmácia da Universidade Estadual de Goiás como requisito necessário à obtenção do título de Bacharel em Farmácia. Orientador: Prof. MsC Marc Alexandre Duarte Gigonzac Anápolis 2011 Dedico este trabalho a Deus, meu Pai e criador que zela por mim em todos os dias e me carrega nos braços em momentos de tribulação. Aos meus pais Marcelino José dos Santos e Aldaci de Souza Costa Santos, que sempre confiaram e acreditaram em mim. A minha tia Edileuza de Jesus Santos (em memória), que tanto lutou contra a anemia falciforme, e a todos meus familiares e amigos que contribuíram e ainda contribuem para o meu sucesso. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, pela força de cada dia, por cada suspiro e por cada amanhecer que ele me concedeu até hoje. Ao meu Pai e minha Mãe pelo apoio diário, que mesmo com distância não deixou de se manter presente no meu dia-a-dia, acreditando em mim e não permitindo que eu desanimasse. Aos meus irmãos Guilherme Souza Santos e Gabriel Souza Santos minhas alegrias quando eu estava triste. Aos meus Avos pela inesgotável dedicação, me auxiliando, elogiando e repreendendo quando necessário. A minha prima Camilly de Souza Magalhães e minha Tia Edileuza de Jesus Santos (em memória) minha fonte de inspiração para a execução deste trabalho. A todos meus familiares que acreditaram no meu potencial. Ao meu namorado Gabriel Jara Bigio por permanecer ao meu lado nos momentos difíceis e pela incansável paciência. Aos vários Anjos que entraram na minha vida, meus Amigos, aos que já foram em busca de novos horizontes e aos que permanecem comigo ao meu lado na minha trajetória de vida e conhecimento, me ensinando, orientando, enfim contribuindo para meu crescimento acadêmico e principalmente como ser humano. “A cada dia que vivo mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.” (Carlos Drummond de Andrade, poeta, contista e cronista brasileiro) RESUMO Anemia falciforme é a forma mais comum de um grupo de hemoglobinopatias genéticas na qual a hemoglobina humana normal (Hb A) é parcial ou completamente substituída por hemoglobina falciforme mutante (Hb S). A causa da Hb S é uma mutação puntiforme com uma única substituição de amino-ácidos na porção 6 da cadeia de b-globina. A hidroxiuréia, fármaco citotóxico, é a estratégia terapêutica disponível para o tratamento, e atua como fonte de óxido nítrico beneficiando pacientes por aumentar os níveis de hemoglobina fetal, uma hemoglobina geneticamente distinta que evita a polimerização de hemoglobina falciforme desoxigenada. Concentrações elevadas de hemoglobina fetal podem diminuir a gravidade da doença por inibir a polimerização da hemoglobina S. O mecanismo de ação da hidroxiuréia não é plenamente conhecido. Sabe-se que eleva os níveis de Hb F nos eritrócitos, diminui o número de neutrófilos e altera a adesividade das hemácias ao endotélio. Apesar de apresentar efeitos adversos ainda desconhecidos e questionáveis, o uso da hidroxiureia vem se tornando cada vez mais freqüente, pois o alto índice de adesão ao tratamento e a grande eficácia deste medicamento justificam o seu uso. Palavras-Chaves: Anemia Falciforme, Hidroxiuréia. ABSTRACT Sicle cell anemia is the most common form of group of genetic hemoglobinopathies in which normal human hemoglobin (Hb A) is partially or completely replaced by mutant sickle hemoglobin (HB S). The cause of Hb S is punctiform mutation with a single aminoacid substitution in the portion 6 of the β-globin chain. Hydroxyurea, cytotoxic drug, is available for the therapeutic treatment, and acts as a source of nitric oxide benefit patients by increasing the levels of fetal hemoglobin, hemoglobin genecally distinct that prevents the polymerization of deoxygenated sickle hemoglobin. High concentrations of fetal hemoglobin may decrease the severity of the disease by inhibiting polymerization of hemoglobin S. The mechanism of action of hydroxyurea is not fully known. It is known that raises the levels of HbF, decreases the number of neutrophils and alters the adhesion of erythrocytes to the endothelium. Despite showing adverse effects are still unknown and questionable use of hydroxyurea is becoming in creasingly frequent, because the highrate of adherence to treatment and the great affectveness of this drug justify its use. Key Words: Sickle Cell Disease, Hydroxyurea SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO............................................................................................................11 2. METODOLOGIA........................................................................................................12 3. HISTÓRICO DA ANEMIA FALCIFORME............................................................12 4. ANEMIA FALCIFORME: UM PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA..................16 5. A ANEMIA FALCIFORME NO CONTEXTO DA ‘ POLÍTICA RACIAL’........17 6. POLIMERIZAÇÃO DA HEMOGLOBINA S........................................................19 7. A HEMOGLOBINA FETAL NA ANEMIA FALIFORME....................................21 8. A ANEMIA FALCIFORME.......................................................................................22 8.1 OS HAPLÓTIPOS DA ANEMIA FALCIFORME................................................22 8.2 A ANEMIA FALCIFORME E A MALÁRIA.......................................................23 9. ACONSELHAMENTO GENÉTICO.........................................................................24 10. DIAGNÓSTICO...........................................................................................................26 10.1 TESTE DE SOLUBILIDADE..........................................................................27 10.2 ELETROFORESE DE HEMOGLOBINA........................................................28 11. QUADRO CLÍNICO....................................................................................................29 11.1 AS CRISES DE DOR........................................................................................30 11.2 FALENCIA DE MULTIPLOS ORGÃOS........................................................32 11.3 INFECÇÕES.....................................................................................................33 11.4 IMUNIZAÇÕES................................................................................................34 12. TRATAMENTOS.........................................................................................................35 13. HIDROXIURÉIA.........................................................................................................36 14. O USO DA HIDROXIURÉIA EM FALCÊMICOS.................................................37 14.1 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO..........................................................................38 14.1.1 CRITÉRIOS CLÍNICOS DE INCLUSÃO..................................................38 14.2 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO..........................................................................39 14.3 CUIDADOS E PRECAUÇÕES, SITUAÇÕES ESPECIAIS...........................39 15. EFICÁCIA DA HIDOXIURÉIA................................................................................39 16. TOXICIDADE DA HIDROXIURÉIA.......................................................................40 17. TRATAMENTOS FUTUROS PARA ANEMIA FALCIFORME..........................41 18. CONCLUSÃO..............................................................................................................43 REFERENCIA BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................44 1. INTRODUÇÃO A anemia falciforme (AF) é a doença hereditária monogênica mais comum no Brasil. A causa da doença é uma mutação de ponto (GAG->GTG) no gene da globina beta da hemoglobina, que origina uma hemoglobina anormal, denominada hemoglobina S (HbS), ao invés da hemoglobina normal, denominada hemoglobina A (HbA). Esta mutação leva à substituição de um ácido glutâmico por uma valina na posição 6 da cadeia beta, com conseqüente modificação físico-química na molécula da hemoglobina. Em determinadas situações, estas moléculas podem sofrer polimerização, com falcização das hemácias, ocasionando encurtamento da vida média dos glóbulos vermelhos, fenômenos de vasooclusão, episódios de dor e lesão de órgãos (CANÇADO, et al; 2009). As manifestações clínicas da anemia falciforme variam acentuadamente entre os genótipos da doença. Mesmo no genótipo mais grave é possível detectar casualmente pacientes assintomáticos, enquanto outros sofrem incapacitação em conseqüência das complicações da doença. A maioria dos sistemas orgânicos está sujeita ao processo de vasooclusão, resultando na falência multissistêmica característica, tanto aguda quanto crônica (PERIN, et al; 2000). A doença originou-se na África e foi trazida às Américas pela imigração forçada dos escravos. No Brasil, distribui-se heterogeneamente, sendo mais freqüente onde a proporção de antepassados negros da população é maior (nordeste). Além da África e Américas, é hoje encontrada em toda a Europa e em grandes regiões da Ásia. No Brasil, a doença é predominante entre negros e pardos, também ocorrendo entre brancos (PERIN, et al; 2000). A Anemia Falciforme foi descoberta em 1904, por um médico de Chicago. James Herrick observou um estudante universitário negro, de 20 anos de idade, que tinha sido admitido no hospital, por causa de febre e tosse. O exame mostrou que o paciente estava acentuadamente anêmico. O número de hemácias era metade do normal (PERIN, et al; 2000). A Hemoblobina Fetal (Hb F) é produzida pelos genes da globina γ e está restrita a um pequeno contingente de eritrócitos, cujo número é determinado geneticamente. Nos pacientes com AF contêm cerca de 20% de HbF e 80% de HbS, enquanto os outros eritrócitos contêm somente HbS. Sabe-se hoje que a presença de HbF pode alterar os sítios de contato entre as moléculas de HbS de tal maneira que a formação do polímero fica prejudicada, com conseqüente redução no processo de falcização (FIGUEIREDO; 2007). 11 Em 1994, foi iniciado nos Estados Unidos e Canadá um estudo multicêntrico, duplo cego, na tentativa de analisar a eficácia da Hidroxiuréia (HU) como agente terapêutico na AF. Charache em 1995 publicou resultados preliminares deste estudo, concluindo que a HU não só diminuiu a freqüência das crises de falcização, como também elevou os níveis de hemoglobina, hematócrito e HbF. O presente trabalho tem como objetivo enfatizar a necessidade de um diagnóstico precoce da doença para que se possa ter o manejo adequado da AF, mas principalmente um tratamento contínuo e cauteloso com a administração da HU para que se possa alcançar de fato uma melhor qualidade de vida para esses pacientes. 12 2. METODOLOGIA Realizou-se um trabalho de revisão bibliográfica abordando o tratamento com a HU e de outros aspectos que contribuem para a melhora na qualidade de vida dos falcêmicos. Para tanto, buscou-se dados de artigos indexados no Scielo, Bireme, além de publicações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, BRASIL) e Organização Mundial de Saúde (OMS), no período de 1993 à 2010. 3. HISTÓRICO DA ANEMIA FALCIFORME Em 1910, o médico James Herrick observou que um dos seus pacientes que era um jovem negro que havia emigrado para Chigado, apresentou um quadro de anemia severa seguida de icterícia, mas o pesquisador associou estes sinais e sintomas com o diagnóstico de anemia hemolítca, o fator que a diferenciava em seu relato era a alteração da forma dos eritrócitos (NAOUM, 2000). Em 1927, Hanh e Gillepsie descobriram que a falcização dos eritrócitos ocorria como conseqüência da exposição das células a uma baixa tensão de O2 (NETO, PITOMBEIRA; 2003). Em 1947, o estudante brasileiro de medicina Jessé Accioly descobriu o mecanismo de herança da AF, baseando-se nos mecanismos de herança descritos por Mendel (NETO, 2010). Com seus conhecimentos debruçou-se sobre as anotações da distribuição de casos dentro de famílias, e descreveu assim: “... ficamos a imaginar o que aconteceria a um indivíduo, filho de dois outros sickle cell trait, e que herdasse de ambos os progenitores o gen responsável pelo estigma falciforme, isso é, que fosse homozigoto. Daí nasceu uma hipótese que apresentei em nota prévia em uma das sessões realizadas por ocasião da inauguração do Instituto Brasileiro para Investigação da Tuberculose...” (NETO, p.p; 2010) Com essa hipótese em mente, Jessé Accioly esboçou um heredograma modelo de herança tipo autossômica recessiva (NETO, 2010). 13 Em 1949, Linus Pauling demonstrou que havia uma diferente migração eletroforética da hemoglobina de pacientes com anemia falciforme quando em comparação com a hemoglobina de indivíduos normais (NETO, PITOMBEIRA; 2003). A hemoglobina humana consiste de quatro cadeias polipeptídicas que se combinam tetramericamente. A ocorrência de mutações nos genes responsáveis pelo seqüenciamento e estrutura de cada tipo de cadeia provoca uma troca de aminoácidos resultando na formação de hemoglobinas anormais, das quais as hemoglobinas S e C são as mais comuns. Figura 1 (LIMA, et al; 2006) Figura 1: Cadeias polipeptídicas da hemoglobina humana As várias formas de apresentação clínica dos pacientes portadores de AF, em diferentes localidades do mundo, variando de formas leves, quase assintomáticas, a formas incapacitantes ou com alta taxa de mortalidade, têm sido fonte de inúmeras pesquisas ao longo tempo. A substituição da base nitrogenada timina (T) por adenina (A), ocasionando a substituição do aminoácido ácido glutâmico por valina, na posição 6 da cadeia β, é a mesma para todo paciente (Figura 2). A polimerização da HbS e a falcização das hemácias são extremamente bem conhecidas. As variações das condições climáticas, sociais, econômicas e de cuidados médicos contribuem para esta diversidade, mas não explicam todo o seu contexto (NETO, PITOMBEIRA; 2003). 14 Figura 2: Substituição da base nitrogenada O traço falciforme é umas das condições genéticas mais freqüentes nas populações brasileiras, afetando de 6 a 10% dos negróides e cerca de 1% na população geral. Esse caráter falciforme, resultante da heterozigose para o gen da Hb S, apresenta um gen normal (β A) e um afetado (βS) da cadeia beta e produz cerca de 60% de Hb A e 40% de Hb S. O fato da Hb A está presente em uma maior porcentagem justifica a ausência de sintomas no portador dessa anormalidade genética (LIMA, et al; 2006). A denominação “anemia falciforme” corresponde à homozigose para o gene βs (Hb SS), em geral resultante da herança de um gene anormal do pai e um da mãe. Corresponde à forma mais grave das síndromes falciformes (LIMA, et al; 2006). A introdução da Hb S no Brasil, responsável pela AF, deu-se através do tráfico de escravos de inúmeras tribos africanas, tráfico este iniciado em 1550 e suspenso oficialmente em 1850, a partir da abolição da escravatura. O fluxo migratório se expandiu para várias regiões do país e iniciou-se um processo de miscigenação racial, que hoje é uma característica do nosso país (RUIZ, 2007). Sendo assim, a anemia falciforme distribuiu-se de maneira heterogênea, sendo mais freqüente onde a proporção de antepassados negros é maior. Além da África e America, a AF é hoje encontrada em toda a Europa e em grandes regiões da Ásia (ANVISA, 2005). Atualmente, já foram descritas mais de 1.200 mutações nos genes das cadeias globínicas. No entanto, as mais freqüentes e clinicamente significantes são as variantes estruturais para hemoglobinas S e C (Hb S e Hb C) (SOMER, et al; 2006). Estima-se que hoje tenhamos de 20 a 30 mil brasileiros portadores da doença falciforme (CANÇADO, et al; 2009). 15 Como já foi dito, a denominação “anemia falciforme” é reservada para a forma da doença que ocorre nesses homozigotos SS, porém o gene da HbS pode combinar-se com outras anormalidades hereditárias das hemoglobinas, como hemoglobina C (HbC), hemoglobina D (HbD), beta-talassemia, entre outros, gerando combinações que também são sintomáticas, denominadas, respectivamente, hemoglobinopatia SC, hemoblobinopatia SD, S/beta-talassemia. No conjunto, todas essas formas sintomáticas do gene da HbS, em homozigose ou em combinação, são conhecidas como doenças falciformes (DF)(ANVISA,2002). A AF caracteriza como quadro hemolítico hereditário que evolui cronicamente, causando danos físicos e emocionais às pessoas acometidas. No mundo, cerca de 270 milhões de pessoas possuem genes que determinam hemoglobinas anormais, e 300 a 400 mil crianças nascidas vivas apresentam anemia falciforme ou alguma forma de talassemia grave (BANDEIRA; et al, 2008). A proteína S é uma proteína mutante, cuja principal característica é a de sofrer polimerização sob baixas tensões de oxigênio. A hemoglobina S, polimerizando-se dentro dos eritrócitos, deforma-os, fazendo com que os mesmos assumam forma de foice (ZANETTE, 2007). Os glóbulos vermelhos em forma de foice não circulam adequadamente na microcirculação, resultando tanto em obstrução do fluxo sangüíneo capilar como em sua própria destruição precoce. Este mecanismo fisiopatológico acarreta graves manifestações clínicas, com maior freqüência após os 3 meses de idade. Durante os 6 primeiros meses de vida, esses indivíduos são geralmente assintomáticos devido aos altos níveis de hemoglobina F (NUZZO, 2004). A AF, doença genética que levou ao conceito de doença molecular, é caracterizada por anemia hemolítica crônica e fenômenos vasooclusivos que levam a crises dolorosas agudas e à lesão tecidual e orgânica crônica e progressiva (ANVISA, 2002). No Brasil, a AF é questão de saúde pública, com importância epidemiológica em virtude da prevalência. Esta tem variado de 0,1% a 0,3%, dependendo do grupo e da região estudados e da morbimortalidade. Quanto ao traço falciforme, a prevalência tem variado de 2,7% a 6%. As regiões onde a condição tanto de portador quanto de doente é mais prevalente são Sudeste e Nordeste. A AF predomina na população negróide, com tendência a atingir parcela cada vez maior da população devido ao alto grau de miscigenação no Brasil (BANDEIRA; et al, 2008). 16 A atual expectativa de vida para a população americana com AF é de 42 anos para homens e 48 anos para mulheres, embora esteja muito superior aos 14,3 anos de 3 décadas atrás, esta ainda se encontra muito aquém da expectativa de vida para a população geral, o que evidencia a necessidade de maiores investimentos e progressos no tratamento desses pacientes (NUZZO, 2004). 4. ANEMIA FALCIFORME: UM PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), 270 milhões de pessoas carregam genes que determinam a presença de hemoglobinas anormais e estudos realizados em populações brasileiras revelaram a possibilidade de que existam hoje no Brasil aproximadamente 10 milhões de pessoas portadoras de hemoglobinas anormais, e que anualmente nasçam cerca de 3 mil pessoas com a forma homozigota. Desta forma, as hemoglobinopatias representam um problema de saúde pública no nosso país e como medida de prevenção e controle das hemoglobinopatias no Brasil, o ministério da Saúde instituiu a Portaria 822/01, de 06 de junho de 2001, que incluiu a triagem de hemoglobinopatias no Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN). Esse programa inclui o tratamento paliativo e preventivo, o encaminhamento de pacientes, o aconselhamento genético e a triagem de heterozigotos (GARANITO, 2008). A triagem neonatal é uma ação preventiva que permite fazer o diagnóstico de diversas doenças congênitas ou infecciosas, assintomáticas no período neonatal, a tempo de se interferir no curso da doença, permitindo, desta forma, a instituição do tratamento precoce específico e a diminuição ou eliminação das seqüelas associadas a cada doença (ANVISA, 2001). Embora tratáveis, as hemoglobinopatias ainda são incuráveis o tratamento precoce comprovadamente aumenta a sobrevivência dos afetados e melhora a sua qualidade de vida, mas não possibilita a sua cura clínica. Tais indivíduos deverão ser seguidos regularmente em um serviço especializado por toda a sua vida, com avaliações clínicas periódicas e internações hospitalares em situações de risco. Sem o acompanhamento clínico especializado, os benefícios obtidos pelo tratamento precoce não serão consolidados (RAMALHO, MAGNA, PAIVA; 2003) As hemoglobinopatias são anemias hemolíticas crônicas, dependentes, em grande parte, dos procedimentos especializados de hemoterapia. Por essa razão, muitas vezes a 17 triagem neonatal e o tratamento dos afetados não são feitos nas mesmas instituições. Torna-se necessária, portanto, a esquematização de um sistema ágil de encaminhamento de pacientes, para atenuar os eventuais efeitos nocivos da dicotomia local de diagnóstico/local de tratamento (RAMALHO, MAGDA, PAIVA; 2003). A importância do diagnóstico é o aconselhamento genético, pois do casamento ao acaso desses tipos de heterozigotos, podem nascer pacientes portadores de anemias hemolíticas crônicas, muitas vezes fatais na infância (GARANITO, 2008) O aconselhamento genético é um caso singular para a análise da composição de um campo como proposta na teoria social de Pierre Bourdieu. É por meio do aconselhamento genético que o avanço das descobertas no campo da genética, como é o caso do Projeto Genoma Humano, tem chegado ao alcance de um número cada vez maior de pessoas que são informadas sobre riscos de doenças ou mesmo cuidados a serem adotados com relação a uma doença ou traço genéticos identificados (SOUZA, 2006). A importância do programa de triagem neonatal é indiscutível e a correta interpretação do resultado do “teste do pezinho” é fundamental para o diagnóstico e a orientação inicial do paciente. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado reduzem expressivamente a morbidade e a mortalidade (GARANITO, 2008). 5. A ANEMIA FALCIFORME NO CONTEXTO DA POLÍTICA RACIAL As idéias de que a raça é primariamente uma categoria biológica e de que as diferenças na saúde são geneticamente determinadas continuam a exercer forte influência no pensamento epidemiológico e da saúde pública (LAGUARDIA, 2002). O antropólogo norte-americano Melbourne Tapper argumenta que desde a sua descoberta, a AF vem sendo tratada como uma doença específica do corpo negro. Contextualizando esta formulação, o autor se utiliza dos estudos do historiador David McBride, segundo o qual, na primeira métade do século XX a medicina era agenciada segundo um paradigma denominado sociomedical racialism, que se baseava na noção de que doenças e outras anormalidades poderiam ser entendidas em termos anatômicos e raciais. (PENA, 2008) Ao longo das décadas de 1950, 1960 e 1970, foi criado um discurso em torno da AF que foi enfatizado cada vez mais a questão da responsabilidade do individuo perante a síndrome. Com isso houve uma espécie de cuidados intensivos do self e, por extensão, da 18 raça. A partir disso, criou as condições para a formulação de políticas públicas, em particular, o National Sickle Cell Anemia Control Act, logo modificada para “National Sickle Cell Anemia Prevention Act” (FRY, 2005). Essa legislação relacionada à anemia falciforme teve como efeito a construção de uma ‘comunidade’ real e responsável. Por todo o país, negros se organizaram para passarem por testes e para encorajar os outros a se testarem também, buscando averiguar se seriam ou não portadores do gene (ZAGO, 2007). Em pouco tempo, alguns estados passaram a introduzir testes compulsórios para cidadãos negros e, em alguns casos, portadores do traço perderam a chance de emprego em algumas profissões (aeromoça, por exemplo) ou de ingressar em academias militares e da aeronáutica (PENA, 2009). No entanto a idéia de envolver a comunidade negra na responsabilidade social com a doença enfureceu alguns negros que viram a gestão da anemia falciforme como uma conspiração, uma forma insidiosa de discriminação, e até genocídio (NAOUM, 2000). Na década de 1970, a conexão entre a doença e a raça, foi adotada paradigmaticamente pelo movimento negro americano, em especial pelo cardiologista Richard Williams no seu livro Textbook of black-related disease (PENA, 2009). Em 1949 após a descoberta da lógica mendeliana da transmissão da doença, os pesquisadores podem supor que o discurso sobre a relação entre raça e a AF perdesse sua força. Era esperado que termos como raça, negro, pessoas de cor; tivessem se tornado sem sentido (FRY, 2005). A AF apresenta um importante papel na gênese do conceito de doença molecular e na evolução da medicina genômica. Mas é necessário questionar a conceituação da anemia falciforme como “doença racial” e apresentá-la como uma “doença geográfica”, sendo assim uma visão mais moderna e correta (PENA, 2009). A distribuição populacional da AF e especialmente a sua maior prevalência em indivíduos negros não tem nada a ver com raça, mas sim com geografia (NAOUM, 2000). O grande geneticista, bioquímico, fisiologista e ativista político inglês J.B.S. Haldane (1892-1964), é um dos pais da nova síntese evolucionária, que compatibilizou a teoria de Darwin e Mendel que ocorreu na primeira metade do século XX (PENA, 2009). Em 1949, Haldane proferiu uma conferência na Itália e realçou, aparentemente pela primeira vez, o fato de que as doenças infecciosas têm um papel evolucionário importantíssimo como agentes seletivos (PENA, 2009). 19 Em 1954, o médico inglês Anthony C. Allison publicou resultados de sua pesquisa sobre malária e anemia falciforme em Uganda. Ele observou que, em crianças pequenas com malária, as densidades do parasita Plasmodium falciparum no sangue eram quatro vezes menores em heterozigotos AS do que em homozigotos normais AA. Ele calculou que as crianças AS tenham uma chance 76% maior de sobreviver ao primeiro ataque de malária do que crianças AA (FRY, 2005). Por exemplo, o gene está ausente nas populações das regiões altas da Etiópia (Tigre, Falasha, Amhara e Galla), nos Masai, Kamba e Chaga do Quênia e da Tanzânia, nos bosquímanos e hotentotes da parte sul da África e nos Shona, uma população de língua banto do Zimbábue. Em outras palavras: a presença do gene não tem nada a ver com cor ou raça, mas com geografia (ORLANDO, et al; 2000). Por mais que a sociedade insiste em enfatizar a relação entre a doença e a população afro-descendente, as práticas de detecção, calçadas no discurso da ciência genética, tratam, felizmente, essa moléstia como uma doença que é potencialmente de todos (FRY, 2005). 6. POLIMERIZAÇÃO DA HEMOBLOBINA S A polimerização da Hb S ocorre sequencialmente em três níveis: molecular, celular e circulatório. No nível molecular o desenvolvimento do processo da falcização se dá a partir do momento em que a oxi-Hb S perde o oxigênio e se torna deoxi-Hb S. A deoxi-Hb S promove a formação de pontes de hidrogênio entre os aminoácidos valina da posição número 1 da globina beta S, que é normalmente sintetizada para esta posição, e a valina mutante que substituiu o ácido glutâmico na posição 6 da mesma globina. A formação dessas pontes de hidrogênio modifica a estrutura espacial da molécula de Hb S e promove contatos intermoleculares com outros aminoácidos da globina beta S que participam da formação do tetrâmero. Os principais aminoácidos envolvidos são a fenilalanina da posição 85 e a leucina da posição 88. Como consequência, formam-se agregados desses filamentos que se polimerizam e alteram a estrutura globular das moléculas de Hb S, modificando também a morfologia discóide do eritrócito para formas bizarras, das quais a mais conhecida é o afoiçamento (Figura 4). As variáveis que interferem na formação e na cinética da polimerização da Hb S são o oxigênio, a concentração da Hb S corpuscular média C[Hb S] CM, a temperatura e outras hemoglobinas normais e variantes. O oxigênio é o elemento mais 20 importante, pois somente a deoxi-Hb S se polimeriza, e qualquer fator que o estabilize (ex.: a queda do pH sanguíneo e o aumento da concentração do 2,3 di-fosfoglicerato) reduzirá a afinidade pelo oxigênio, perpetuando o estado desoxigenado da Hb S e a sua polimerização. A C[Hb S] CM é normalmente superior ao limite da solubilidade da Hb S em condições experimentais, fato que pode explicar sua facilidade em cristalizar-se e formar polímeros. A redução da temperatura desfaz a polimerização em condições experimentais. As hemoglobinas normais, principalmente a Hb A, seguida da Hb Fetal, tem um maior efeito inibidor da polimerização que outras hemoglobinas variantes. As Hb variantes que melhor se copolimerizam com a Hb S são as seguintes, em ordem decrescente: C, D, O Arábia e J (NAOUM, 2003). No nível celular, os homozigotos para Hb S (ou Hb SS) conservam seus eritrócitos com a forma bicôncava se o nível de saturação de oxigênio da Hb S estiver acima de 65%, porém acumulam-se gradativamente produtos de degradação celular provenientes da falência parcial das bombas de sódio, potássio, cálcio e ATPase. Com a perda de potássio e da água a C[Hb S] CM se eleva e favorece a polimerização, que se intensifica com a falência da bomba de cálcio/ ATPase, alterando a permeabilidade da membrana eritrocitária. Esse processo deletério é a principal causa dos eritrócitos que se tornam irreversivelmente falcizados. Figura 3. A membrana eritrocitária é muito afetada durante a falcização, caracterizada por desarranjos das proteínas espectrina-actina, diminuição das glicoproteinas, geração de radicais livres oxidantes e orientação anormal dos fosfolipídeos, apresentando deformações sob forma de escavações na membrana dos eritrócitos (NAOUM; 2003). No nível circulatório, a alteração da plasticidade normal dos eritrócitos desencadeada pelos efeitos polimerizantes da Hb S tornam os eritrócitos falcêmicos com maior possibilidade de aderirem ao endotélio vascular. Esta aderência decorre de interações entre as células endoteliais e os eritrócitos falcêmicos, com a participação de antígenos de superfície celular (CD36 e CD44) e integrinas, que independente do genótipo e de sua concentração, é suficiente para produzir a meta hemoglobinização desta hemoglobina. Figura 4 (ZAGO, PINTO; 2007) 21 Figura 3: Microscopia eletrônica de eritrócitos com oxiHb S Figura 4: Microscopia eletrônica da célula falciforme 7. A HEMOGLOBINA FETAL NA ANEMIA FALIFORME O número de Hb F de um indivíduo está sob controle genético, embora não se saiba se esse controle seja do tipo monogênico ou poligênico. Algumas alterações hereditárias fazem com que a Hb F permaneça em níveis mais elevados, é o que ocorre principalmente nas talassemias beta (RIBEIRO, 2008). A Hb F é formada por duas cadeias gama e duas cadeias alfa, característica do período fetal do desenvolvimento, tendo sua síntese diminuída no período pós-natal. Em algumas alterações hereditárias, a Hb F permanece aumentada, como nas delta-beta talassemia, beta talassemia, e a persistência hereditária de hemoglobina fetal (PHHF). A síntese da globina 22 gama, também pode ser estimulada por fatores externos como leucemias, transplantes de medula óssea, induções químicas, dentre outros (ZAMARO, 2002). Um dos principais interferentes na clínica da AF é a taxa da HbF presente no indivíduo com a doença. Aqui, torna-se importante ressaltar que os níveis de HbF variam entre pacientes com HbS (RIBEIRO, 2008). A HbF é produzida pelos genes da globina γ e está restrita a um pequeno contingente de eritrócitos, cujo número é determinado geneticamente. Nos pacientes com AF, as células F contêm cerca de 20% de HbF e 80% de HbS, enquanto os outros eritrócitos contêm somente HbS. Sabe-se hoje que a presença de HbF pode alterar os sítios de contato entre as moléculas de HbS de tal maneira que a formação do polímero fica prejudicada, consequente há uma redução no processo de falcização (FIGUEIREDO, 2007). O aumento dos níveis de HbF está associado à redução da morbidade e mortalidade da doença. Atualmente, diversos agentes citotóxicos (hidroxiureia e 5-azacitidina), fatores de crescimento hematopoético (eritropoetina) e ácidos graxos de cadeia curta (butirato e derivados) têm sido utilizados e amplamente estudados no tratamento da anemia falciforme, pois estimulam a síntese de HbF (SILVA, GONÇALVES, MARTINS; 2009). 8. A ANEMIA FALCIFORME 8.1 OS HAPLÓTIPOS DA ANEMIA FALCIFORME Os últimos fatores moduladores conhecidos atualmente são os haplótipos da Hb S, que podem ser descritos como sítios polimórficos de endonucleases de restrição, localizados no interior e ao redor do gene da cadeia beta mutante (PERIN, et al; 2000) Apesar de possuírem identificação numérica, eles são mais comumente designados de acordo com a área geográfica onde foram primeiramente identificados: Senegal, Benin, CAR ("Central Africa Republic" ou Bantu) e Asiático (Indu Arábico). Foi descrito também o haplótipo Cameroon, localizado apenas em um único grupo étnico na República dos Camarões (PERIN, et al; 2000) Desde os anos 50 muitos estudos têm sido realizados em diferentes partes do mundo com o objetivo, inicialmente de se conhecer a prevalência e medidas preventivas, e mais recentes para o conhecimento dos haplótipos (NAOUM, 2000). 23 Na América, os haplótipos mais comuns são: Senegal, Benin e CAR. No Brasil os haplótipos mais freqüentes encontrados foram Banto (77%), Benin (30%) e Senegal (3%) (PERIN, et al; 2000). Os haplótipos do tipo Senegal e Saudita estão comumente associados à níveis mais altos de hemoglobina fetal (acima de 15%) e a um curso clínico mais brando. No haplótipo do tipo Benin, os níveis de hemoglobina fetal são intermediários (de 5 a 15%) e os benefícios quanto ao curso clínico são menos marcantes. O haplótipo do tipo CAR, por sua vez, apresenta níveis mais baixos de hemoglobina fetal (abaixo de 5%) e o curso clínico mais grave (FLEURY, 2007). A concentração de HbF está aumentada nos haplótipos Senegal e asiático (árabe) e decresce nos haplótipos CAR e Benin, devido a uma taxa de translação no sentido 5’ → 3’ e à substituição da HbF por HbS mais lenta nos dois primeiros do que nos dois últimos haplótipos (NETO, PITOMBEIRA; 2007). A anemia falciforme, por ser uma doença genética de grande destaque no cenário epidemiológico brasileiro, tem recebido atenção especial de inúmeros especialistas, pesquisas, movimentos sociais e do governo (GUIMARÃES, COELHO; 2010). 8.2 A ANEMIA FALCIFORME E A MALÁRIA Em 1949, Haldane disse pela primeira vez que as doenças infecciosas têm um papel evolucionário importantíssimo como agentes seletivos e descreveu assim: “Provavelmente uma alteração bioquímica muito pequena pode conferir a uma espécie hospedeira um grau substancial de resistência a um parasito bem adaptado. Isto tem um importante efeito evolucionário. E significa que é vantajoso para o individuo possuir um fenótipo bioquímico raro.” (PENA, 2009). Em um artigo publicado por Giuseppe Montalenti em 1949, ele, informado da alta freqüência de heterozigotos da talassemia em regiões endêmicas de malária no sul da Itália, propôs que, como as hemácias dos heterozigotos para a talassemia eram menores, esse fato os tornariam mais resistentes à parasitose. Nascia assim a “hipótese da malária”, cuja primeira confirmação foi feita não em estudos de talassemia, mas da própria anemia falciforme (PENA 2007). 24 Alguns estudos demonstram que a AF surgiu como uma resposta da natureza para evitar que a malária destruísse a população da África. Em algum momento houve uma alteração genética que chamamos de mutação, alterando a informação que vem no gene (DNA). Com a alteração, essas pessoas passaram a produzir a hemoglobina S, em vez da hemoglobina. Assim, quem tivesse na hemácia a HbS não seria infectado pela malária. No Brasil, pelo fato de o país ter recebido uma grande população de escravos e por apresentar alto grau de mistura de raças, existem muitas pessoas portadoras da anemia falciforme, principalmente os afro descendentes (BANDEIRA, 2004). O parasita da malária utiliza moléculas presentes na superfície de células vermelhas não infectadas para a invasão das hemácias e a formação das células em roseta. A invasão das células vermelhas pelo P. falciparum depende de múltiplas interações moleculares entre os receptores eritrocitários e os receptores de membrana do parasita (TORRES, DOMINGOS, 2005). A célula infectada por Plasmodium falciparum, desenvolve saliências em sua superfície que provocam sua aderência ao endotélio de pequenos vasos sangüíneos. Nesta situação há menor quantidade de oxigênio, o que favorece o fenômeno do afoiçamento. Como resultado disto, haverá perfuração das membranas do parasita e depleção de potássio celular impedindo a multiplicação dos parasitas. Além disso, a destruição prematura dos eritrócitos parasitados com caráter falciforme e a nutrição deficiente dos parasitas pela HbS são fatores que impedem a sobrevivência destes parasitas (PENA, 2009). 9. ACONSELHAMENTO GENÉTICO A AF é a doença hereditária mais comum no mundo e no nosso país. Todas as características do nosso corpo são feitas por informações que recebemos dos nossos pais por meio dos genes, que vêm no espermatozóide do pai e no óvulo da mãe. Os genes determinam, nas pessoas, a cor dos olhos, dos cabelos, da pele, a altura. Com a hemoglobina não é diferente. Se uma pessoa receber, do pai, um alelo com mutação para produzir a hemoglobina S e, da mãe, outro alelo com a mesma característica, tal pessoa nascerá com um par de genes com a mutação e, assim, será portadora de AF (BANDEIRA, et al; 2008). O Brasil possui registros de programas de aconselhamento genético desde a década de 1950, mas são raras as análises bioéticas sobre essas experiências, sendo possível afirmar que 25 o aconselhamento genético no Brasil é ainda um universo desconhecido (DINIZ, GUEDES; 2003). A hereditariedade é a questão primordial dessa patologia, por isso o aconselhamento genético possui importância fundamental, pois tem o intuito de orientar os pacientes portadores do traço falciforme sobre a tomada de decisões em relação à reprodutividade e ajudar a compreender outros aspectos da doença, como o sofrimento, tratamento e prognóstico (GUIMARÃES, COELHO; 2010). No caso AF, para que o atendimento precoce ocorra, é preciso que as pessoas estejam informadas sobre a existência da doença e consigam identificá-la. Além da crescente difusão do aconselhamento genético, o governo federal empenhou-se também em políticas nacionais educativas e, nos anos 90, na formação de um grupo de trabalho para a elaboração do Programa Anemia Falciforme (PAF) (DINIZ, GUEDES; 2003). Os dois pais são portadores de hemoglobina A, portanto não apresentam o alelo com a mutação para produzir a hemoglobina S, sendo assim não apresentarão a doença. Os dois pais são portadores do alelo com a mutação para produzir a HbS, portanto seus descendentes terão AF. Caso uma pessoa receber somente um alelo com a mutação, seja do pai ou da mãe, e o outro alelo sem a mutação, ela nascerá somente com o traço falciforme. O portador de traço falciforme não tem doença e não precisa de tratamento especializado. Ele deve ser bem informado sobre isso e saber que, se tiver filho com outro portador de traço falciforme, poderá gerar uma criança com AF ou com traço ou sem nada. Figura 5 (ANVISA, 2002). Figura 5: 100% de Hb S Os dois pais são portadores de traço falciforme a probabilidade é que 25% de seus filhos nasçam com a doença, 50% com traço falciforme e 25% sem a doença. Figura 6. 26 Figura 6: 50% de traço falciforme, 25% de Hb A e 25% de Hb S A transferência dessas informações para o paciente apresenta vários aspectos que devem ser levados em consideração, incluindo-se a receptividade, tanto emocional quanto intelectual, dos indivíduos orientados (GUIMARÃES, COELHO; 2010). No caso da AF, para que o atendimento precoce ocorra, é preciso que as pessoas estejam informadas sobre a existência da doença e consigam identificá-la (DINIZ, GUEDES; 2003). Com tudo, fica claro que por meio do aconselhamento genético, o avanço das descobertas no campo da genética tem chegado ao alcance de um número cada vez maior de pessoas que são informadas sobre riscos de doenças ou mesmo cuidados a serem adotados com relação a uma doença ou traço genéticos identificados (SOUZA; 2006). 10. DIAGNÓSTICO O diagnóstico está estreitamente ligado ao aconselhamento genético, pois do casamento ao acaso desses tipos de heterozigotos, podem nascer pacientes portadores de anemias hemolíticas crônicas, muitas vezes fatais na infância (GARANITO; 2008). O diagnóstico da AF e das demais DF é feito através do diagnóstico laboratorial, que pode ser feito no período neonatal, no ato do nascimento pelo teste do pezinho ou após o sexto mês de vida (ANVISA, 2002) A detecção de HbS durante o período neonatal constitui um marcador para um grupo de risco genético. A triagem neonatal de hemoglobinopatias tem sido essencial ao diagnóstico precoce e à instituição de medidas preventivas e promotoras de saúde, principalmente à AF (BANDEIRA, ET AL; 2008). 27 O PNTN propõe o exame dos pais a partir da identificação de heterozigotos não sendo recomendando a ampliação da triagem para outros familiares (BANDEIRA, ET AL; 2008). O exame confirmatório da AF é conhecido como eletroforese de hemoglobina, que em 2005 passou a ser feito nos recém-nascidos durante o "teste do pezinho". Assim foi previsto pela portaria assinada em 16 de agosto de 2005 pelo ministro da Saúde, Saraiva Felipe (ANVISA, 2005). O diagnóstico laboratorial da AF ao nascimento deve ser feito, de preferência, por técnicas sensíveis de eletroforese de hemoglobinas devido à presença, nessa época da vida, de alta percentagem de hemoglobina fetal no sangue. No entanto, solução prática e econômica que vem sendo apontada, desde a década de 70, é a inclusão da pesquisa da hemoglobina S dentre os exames de rotina das gestantes brasileiras, o que pode ser feito por testes de solubilidade, que são exames simples que utilizam reagentes baratos e não exigem qualquer aparelhagem especializada. Dessa forma, o exame eletroforético do sangue do recém-nascido, que pode inclusive ser feito com amostra de sangue do cordão umbilical, ficará restringido aos filhos das heterozigotas (ANVISA, 2002). A detecção efetiva das diversas formas de DF requer diagnóstico preciso, baseado principalmente em técnicas eletroforéticas, hemograma e dosagens da Hb F. Nos casos de associação da HbS com variantes de hemoglobinas, como por exemplo, a Hb C, a associação de técnicas eletroforéticas alcalina e ácida é decisiva para o correto diagnóstico (ANVISA, 2002). A OMS recomenda a implantação de programas para prevenção e controle de hemoglobinopatias na América Latina, especialmente no Brasil. A organização de um programa preventivo requer suporte dos órgãos oficiais de saúde, treinamento de pessoal capacitado para diagnóstico, aconselhamento genético e clínico dos pacientes (ORLANDO, et al; 2000). Para o diagnóstico de DF é indicado os exames de eletroforese alcalina em acetato de celulose, eletroforese ácida em agar ou agarose, teste de solubilidade, focalização isoelétrica, dosagem de hemoglobina fetal, dosagem de hemoglobina A2, hemograma completo (ANVISA, 2005). 10.1 TESTE DE SOLUBILIDADE 28 O teste de solubilidade também conhecido como teste da mancha, tem como princípio reduzir a Hb S, que é relativamente insolúvel no tampão inorgânico, enquanto outras hemoglobinas são solúveis (PRUDENCIO, COVAS, DOMINGOS, 2000). Os testes de solubilidade são rápidos e fáceis de realizar, são usados como um rápido teste de triagem, em emergências ou como um teste confirmatório para Hb S após eletroforese em acetato de celulose. Esse teste é baseado na insolubilidade da desoxihemoglobina S. Teste positivo é indicado com turbidez da solução. Preparações comerciais desse tipo de teste (como por exemplo o teste Sickledex) são largamente difundidas entre os laboratórios clínicos e, como há grandes variações em especificidade e sensibilidade, considerações cuidadosas devem ser feitas na interpretação dos resultados. Figura 7 (PERIN, et al; 2000) Figura 7: Teste de solubilidade O teste de solubilidade não apresenta boa sensibilidade para detecção da presença de Hb S no período neonatal, especialmente nos RN prematuros, uma vez que neste período ainda não houve a transição de Hb F para hemoglobina do adulto. Nessa faixa etária até mais ou menos os seis meses de idade, um teste de solubilidade negativo deve ser interpretado com cautela, principalmente se feito por ocasião de uma situação de emergência (BANDEIRA, 2003). 10.2 ELETROFORESE DE HEMOGLOBINA A inclusão da eletroforese de hemoglobina nos testes de triagem neonatal aconteceu mediante a Portaria nº 822/01 do Ministério da Saúde, incluindo a triagem para as 29 hemoglobinopatias. Esse fato representou o reconhecimento da relevância das hemoglobinopatias como problema de saúde pública no Brasil (CANÇADO, 2007). Devido à necessidade de maior rapidez e manutenção da eficácia, os programas de triagem neonatal vêm utilizando eletroforese através da focalização isoelétrica (FIE) e cromatografia líquida de alta eficiencia (CLAE) (BANDEIRA; 2003). A hemoglobina é uma proteína carregada negativamente e a eletroforese de hemoglobina em pH alcalino parte desse princípio, uma vez que durante a corrida eletroforética essas proteínas migram para o pólo positivo. As hemoglobinas com defeitos estruturais causados por substituições de aminoácidos de diferentes pontos isoelétricos vão apresentar mudanças em suas cargas elétricas, resultando na ocorrência de diferentes mobilidades (BANDEIRA; 2003). O diagnóstico de HbS no período neonatal é dificultado pela presença de grande quantidade de hemoglobina fetal (Hb F) quando utilizada a eletroforese em pH alcalino. O emprego de eletroforese em pH ácido visa a reduzir esse problema, pois melhora a condição de separação das frações de hemoglobina, além de separar a fração S da D, e a C da E, que correm na mesma faixa na eletroforese em pH alcalino (BANDEIRA, 2003). 11. QUADRO CLÍNICO As manifestações clínicas da doença costumam ocorrer a partir dos primeiros seis meses e estendem-se durante toda a vida do paciente, apresentando grande variabilidade (RIBEIRO, et al; 2008). As manifestações clínicas das DF derivam diretamente da anormalidade molecular representada pela presença da HbS. As HbA e HbF, mesmo em concentrações elevadas, não formam estruturas organizadas dentro das hemácias, quer quando oxigenadas ou desoxigenadas. As moléculas de HbS, por outro lado, quando desoxigenadas, se organizam em longos polímeros de filamentos duplos, que por sua vez se associam em feixes com um duplo filamento central rodeado de seis filamentos duplos de polímeros (ZAGO, PINTO; 2007) A AF apresenta gravidade clínica variável, uma vez que está sujeita os moduladores de gravidade de origem genética e ambiental. Muitas vezes, no entanto, ela pode ser fatal na infância. As síndromes falciformes (SS, SC, ST), caracterizadas pelo fenômeno da falcização 30 das hemácias, são acompanhadas de fenômenos vasooclusivos, com isquemia, dor, infarto, hepatoesplenomegalia e necrose em vários órgãos. Tabela 1 (RAMALHO, MAGNA, PAIVA; 2003). Tabela 1: Manisfestações Clínicas da Anemia Falciforme Vasooclusão Necrose avascular da medula óssea Filtração esplênica alterada Fibrose esplênica progressiva. Osteomielite Síndrome torácica aguda Crise de aplasia induzida pelo parvovírus humano B19 Expansão da medula óssea Hiperbilirrubinemia, icterícia e pigmento biliar Anemia (Hb entre 6 e 9 g/100 ml) Hemólise Vasculopatia cutânea Seqüestro de glóbulos vermelhos Acometimento renal Acidente vascular encefálico Síndrome torácica aguda 11.1 AS CRISES DE DOR As características da dor aguda, ou da crise vasooclusiva, são de início súbito, sem explicação, intensidade variável duração de horas ou dias, caráter persistente ou recorrente e migração de um local para outro do corpo. Pacientes com crises freqüentes são candidatos ao uso de HU (ÂNGULO, 2003). Os eritrócitos falciformes expressam maior número de moléculas de adesão (PS, CD36, CD47, CD49d e BCAM/LU) na superfície externa da membrana celular do que eritrócitos normais. Essas moléculas favorecem a interação com o endotélio e com outras células, propagando o processo de vasooclusão (ZAGO, PINTO; 2007). 31 As crises vasooclusivas iniciam-se na microcirculação venular, com o aprisionamento das células falcêmicas. Os eventos primários cruciais para vaso-oclusão incluem adesão de eritrócitos (reticulócitos e células densas deformadas) ao endotélio venular. A adesão de leucócitos ao endotélio com formação de agregados heterocelulares também contribuem para a obstrução, resultando em hipóxia local, aumento da formação de polímeros de Hb S, e propagação da oclusão da vasculatura adjacente (SANTOS, 2007). Grande parte da dor gerada nos episódios agudos é nociceptiva e resulta de estímulos somáticos ou viscerais. A dor somática é mais comum, geralmente intensa, localizada e lancinante, envolve inicialmente estruturas profundas como periósteo, medula óssea, articulações, músculos, tendões, ligamentos e artérias. Esta modalidade de dor, que pode ser focal ou referida, é transmitida por meio de fibras nervosas mielinizadas de condução rápida, principalmente das fibras, as quais têm um limiar mais alto e por isso precisa de um estímulo forte, geralmente mecânico (NAOUM, 2006). A oclusão microvascular acarreta lesão tecidual, e esta, por sua vez, desencadeia uma resposta inflamatória com conseqüente liberação de citoquinas (interleucina-1) e outros mediadores inflamatórios. A interleucina-1 é um pirógeno endógeno com a capacidade de ativar o gene da ciclo-oxigenase para a produção de prostaglandina E 2 e I2, as quais sintetizam terminações nervosas e facilitam a transmissão do estímulo doloroso ao córtex cerebral através da medula espinhal e do tálamo. Outros mediadores como bradicinina, histamina, K+ e H+ ativam as fibras nervosas aferentes nociceptores provocando a resposta dolorosa. Além disso, os nociceptores ativados liberam substância P, que também facilita a propagação do estímulo doloroso e, juntamente com a bradicinina, causa vasodilatação e extravazamento de líquidos resultando em edema e dor local. Inibidores da dor como serotonina, encefalina, bendorfina e dinorfina também interferem na percepção do estímulo doloroso. Deste modo, a intensidade da dor que o paciente sente é dependente da extensão da lesão e do equilíbrio entre seus ativadores e inibidores. Figura 8 (NAOUM, 2008). 32 Figura 8: Fatores que causam as crises dolorosas 11.2 FALENCIA DE MULTIPLOS ORGÃOS Como já foi dito, os ertrócitos falciformes expressam maior número de moléculas de adesão, que futuramente irá gerar o processo de vasooclusão e com isso favorecem a interação com o endotélio e com outras células (NAOUM, 2008). O acidente vascular cerebral (AVC) é uma complicação catastrófica da DF, e uma das maiores causas de morte em crianças e adultos (NAOUM, 2008). Os pacientes com DF que apresentam um episódio de AVC têm um alto índice de recorrência, a qual pode ser diminuída, mas não abolida, com um programa de transfusão 33 crônica. Cerca de dois terços das crianças com AVC isquêmico (AVCI), que não são transfundidas, podem apresentar um novo episódio dentro de três anos (NAOUM, 2008). A AF é um dos mais importantes fatores de risco para AVC isquêmico agudo, com a taxa de incidência variando de acordo com a idade. A incidência é de 0,13% em bebês menores de 2 anos, aumentando para 1% de casos entre 2-5 anos e para 0,79% entre 6 e 9 anos (FILHO, CARVALHO; 2009). Nefropatia é complicação comum da AF e acomete 1/3 dos adolescentes e adultos jovens, sendo causa importante de mortalidade em adultos (MAGALHÃES; 2007). As alterações estruturais podem ser glomerulares e medulares. Dentre as alterações glomerulares observa-se, principalmente, a dilatação dos glomérulos com hipercelularidade e lobulação dos tufos glomerulares, semelhante ao observado nas glomerulonefrites proliferativas (ANVISA; 2002). As alterações funcionais como as disfunções hemodinâmicas, hipostenúria, proteinúria, e alteração da síntese dos hormônios renais (eritropoetina, renina e prostaglandina) são frequentemente observada na AF. As alterações hemodinâmicas se relacionam ao grau de anemia e variam com a idade. Em crianças e adultos jovens observa-se aumento da taxa de filtração glomerular (GFR) e dos fluxos sanguíneo e plasmático renais efetivos (ERBF, ERPF), mas a fração de filtração encontra-se reduzida. A anemia, assim como a produção aumentada de prostaglandinas pela medula renal, contribui para o aumento da GFR e ERPF. Com a idade, há redução progressiva da GFR, ERBF e ERPF. A falência renal é causa frequente de óbito em pacientes acima de 40 anos. Proteinúria ocorre em 30 a 50% dos pacientes, nunca abaixo dos 10 anos de idade (ANVISA; 2002). 11.3 INFECÇÕES As infecções são as complicações mais freqüentes nos indivíduos com anemia falciforme (NUZZO, FONSECA; 2004). As infecções estão entre as principais causas de morte em crianças falciformes; os agentes etiológicos envolvidos são patógenos habituais, porém causam infecções mais freqüentes e graves que na população geral (BRAGA, 2007). Os doentes falciforme são mais propensos à infecção, principalmente os menores de 5 anos. Estas crianças têm o baço, órgão responsável pelas nossas defesas, hipofuncionante pelos inúmeros infartos sofridos. Isto obriga as crianças, nos primeiros 5 anos, a fazer uso de 34 penicilina profilática e vacinas especiais (Anti hemophilus e antipneumocóccica). A febre em doente falciforme requer investigação médica minuciosa, podendo desenvolver infecção generalizada em menos de 24 horas. A infecção deve sempre ser investigada e acompanhada com muito zelo pela equipe de saúde, pois ela é responsável pela primeira causa de mortalidade nesta doença. Outros sinais de infecção sem febre, como diarréia, vômitos e tosse com secreção e falta de ar também são observados (BRASIL, 2001). Os pacientes falcêmicos são susceptíveis às infecções, uma vez que a função esplênica é perdida devido ao progressivo infarto no baço. Estudo realizado demonstrou que a proporção de crianças com anemia falciforme (HbSS) com asplenia funcional é de 14% aos 6 meses de idade, 28% no primeiro ano de vida, 58% aos 2 anos, 78% aos 3 anos e 94% aos 5 anos de idade, confirmando o elevado risco de sepsis fulminante no paciente falcêmico já nos primeiros anos de vida (BRAGA, 2007). Graças ao diagnóstico precoce realizado através do PNTN, é possível introduzir precocemente a profilaxia com a penicilina e essa é a mais importante intervenção no manejo da criança com doença falciforme para prevenção da infecção pneumocócica (ANVISA, 2005). Também pode ocorrer infecção viral nesses pacientes, alguns tipos de vírus estão associados à crise aplástica transitória em pacientes com AF com especial ênfase, o parvovírus que promove uma destruição das células eritróides imaturas, com conseqüente parada da produção de glóbulos vermelhos, levando a uma acentuação da anemia já existente, seu principal alvo é a célula eritróide imatura (NUZZO, FONSECA; 2004). 11.4 IMUNIZAÇÕES A imunização deve ser realizada como em qualquer outra criança, lembrando que septicemia por Pneumococo e H. influenzae tipo B são freqüentes na doença falciforme, com isso a imunização deve ser precoce (ANVISA, 2005). A criança com DF, além de receber todas as vacinas recomendadas no calendário de vacinação, requer outras adicionais, como a vacina contra o pneumococo, meningite e vírus influenza. As vacinas anti-hemófilus e hepatite B fazem parte do esquema vacinal habitual no primeiro ano de vida, devendo ser verificado através da consulta à carteira de vacinação, se a criança recebeu o esquema completo (BRAGA, 2007). 35 A vacina antipneumocócica, atualmente no mercado, não é imunogênica antes de dois anos de idade, pois não apresenta boa resposta com baixa produção de anticorpos, queda rápida dos níveis séricos e ausência de resposta imunológica (NUZZO, FONSECA; 2004). A profilaxia antipneumocócica é de suma importância contra processos infecciosos graves, pois quando iniciada precocemente, tem reduzido significativamente a incidência de bacteremia pelo pneumococo. Alguns estudos relatam 84% de redução de sepses pelo pneumococo em crianças que faziam correta profilaxia com penicilina (NUZZO, FONSECA; 2004). Para os pacientes portadores da AF existe um quadro de vacinação para essa determinada profilaxia. A Penicilina V deve ser administrada 125mg VO (2 vezes ao dia) para crianças até 3 anos de idade ou 15kg; 250mg VO (2 vezes ao dia) para crianças de 3 a 6anos de idade ou com 15 a 25kg; 500mg VO (2 vezes ao dia) para crianças com mais de 25 kg. A Penicilina benzatina deve ser administrar intra muscular a cada 21 dias, 300 000U para crianças até 10kg; 600 000U para crianças de 10 a 25kg; 1 200 000U para indivíduos com mais de 25kg. Em casos de alergia à penicilina, administrar 20mg/kg de eritromicina etilsuccinato via oral, 2 vezes ao dia (ANVISA; 2002). A vacina contra hepatite B pode ser realizada ao nascimento e deve ser administrada em 3 doses de 1 ml (20μg/dose) ao nascimento,1 mês e 6 meses de vida. Os reforços podem ser feitos a cada 5 anos após término do esquema ou quando os títulos estiverem abaixo do nível de proteção. A vacinação pode ser iniciada em qualquer idade, nos intervalos acima citados. Em adultos, administrar apenas nos indivíduos com anticorpos negativos para o vírus da hepatite B (ANVISA; 2002). Apesar de todo esse processo profilático, embora necessário, pode não ser suficiente para evitar a ocorrência de infecções graves conseqüentes à falta de adesão ao tratamento, então é importante orientar pacientes e mães da necessidade de procurar tratamento médico sempre que ocorrer febre persistente acima de 38,3ºC; dor torácica e dispnéia; dor abdominal, náuseas e vômito; cefaléia persistente, letargia ou alteração de comportamento; aumento súbito do volume do baço; priapismo (NUZZO, FONSECA; 2004). 12 TRATAMENTOS 36 A anemia falciforme é uma doença para a vida toda, mas é possível administrar os sintomas e complicações. Essa patologia deixa o paciente susceptível a diversas infecções, sendo assim, se torna necessário que a cada 21 dias seja administrado uma dose diária de penicilina. Os médicos também receitam suplementação de ácido fólico para ajudar na produção de sangue (NUZZO, FONSECA; 2004). Em se tratando de crises de dor, é possível aliviar a dor com medidas simples como compressas mornas. Analgésicos costumam ser usados, e o médico pode receitar medicamentos mais fortes (ZAGO, PINTO; 2007). A transfusão sanguínea é utilizada para maior fluidez do sangue e para controlar crises dolorosas persistentes. Apesar de todas essas medidas para se ter um bom controle dessa doença, nenhum medicamento foi tão eficaz como a HU, gerando resultados bastante animadores, no que se diz respeito a uma melhor qualidade de vida desses pacientes (FIGUEIREDO, 2007). 13 HIDROXIURÉIA A HU é o primeiro agente amplamente disponível e acessível, que parece ter um impacto real sobre o curso da doença falciforme. Seu mecanismo de ação exato é desconhecido, mas que provoca um aumento das concentrações Hb F na maioria dos indivíduos, que, fisicamente interfere com o processo de polimerização de deoxihemoglobina S (OLUJOHUNGBE, CINKOTAI, YARDUMIAN; 1998). A HU foi sintetizada, pela primeira vez, na Alemanha, por Dressler e Stein, em 1869 Somente um século depois, mais especificamente em 1967, este medicamento foi aprovado pelo FDA norte-americano para tratamento de doenças neoplásicas e, nos anos subsequentes, para o tratamento de pacientes com leucemia mieloide crônica, psoríase e policitemia severa (CANÇADO, et al;2009). A HU é o único medicamento que contribui para a melhora das manifestações clínicas da AF. Essa substância estimula a produção de óxido nítrico, aumentando os níveis de Hb F, uma proteína geneticamente distinta que diminui a incidência da hemoglobina S (HYDREA, 2010). A HU inibe a síntese de DNA, através de bloqueio da enzima ribonucleosideo redutase, sem interferir na síntese do ácido ribonucléico (RNA) ou da proteína (HYDREA, 2010). 37 O efeito terapêutico da HU provavelmente compreenda outros fenômenos, além do aumento de Hb F, como a modificação das moléculas de adesão de hemácias, granulócitos e plaquetas, e a redução da produção de granulócitos, participantes diretos dos fenômenos inflamatórios da doença, seu efeito elevando a HbF é muito consistente (ZAGO, 2007). A mielossupressão é o efeito colateral mais preocupante, onde neutropenia e anemia são capazes de interromper a terapia. O monitoramento deste efeito, nos dois primeiros meses, exige hemogramas quinzenais (BITTENCOURT, 2010). 14 O USO DA HIDROXIURÉIA EM FALCEMICOS A idéia de que o aumento da HbF teria um efeito protetor sobre as conseqüências adversas da AF foi sugerido em 1989 por Powars, sendo mais tarde confirmado por estudos bioquímicos e clínicos (FIGUEIREDO, 2004). O uso de HU promove a elevação dos níveis de hemoglobina fetal (HbF) em pacientes portadores de síndromes falciformes (SF). O medicamento vem sendo estudado em vários grupos de pacientes, incluindo adultos e crianças (BANDEIRA, 2004). Embora os estudos só tenham começado na década de 90, anos atrás já se viam relatos que demonstraram que a HbF possui a capacidade de inibir a polimerização da HbS e reduzir a falcização (DUARTE, 2002). No final da década de 70 foi evidenciado que pacientes com AF da Arábia Saudita apresentavam maiores níveis de HbF e manifestações clínicas mais brandas, a idéia de que o aumento da HbF teria um efeito protetor sobre as conseqüências adversas da AF foi sugerido em 1989, sendo mais tarde confirmado por estudos bioquímicos e clínicos (FIGUEIREDO, 2007). Em 1994, foi iniciado, nos Estados Unidos e Canadá, estudo multicêntrico, duplo cego, na tentativa de analisar a eficácia da HU como agente terapêutico na AF (BANDEIRA, 2004). O uso da HU nos protocolos de tratamento da AF começou primeiramente nos pacientes adultos, sendo o seu uso posteriormente autorizado em crianças. Ao longo dos anos, estudos em crianças têm demonstrado igual eficácia de HU sem grandes efeitos colaterais (BANDEIRA, et al, 2004). 38 No Brasil, a portaria de nº 872 do Ministério da Saúde, de 6 de novembro de 2002, aprovou o uso de HU para pacientes com DF. Nesta portaria, a dispensa desse medicamento passou a ser de incumbência das Secretarias de Saúde dos Estados da União e Distrito Federal (ANVISA, 2002). A HU está disponível em cápsulas de gel sólido contendo 500 mg do princípio ativo. Recomenda-se dose inicial de 15 mg/kg/dia, uma única vez ao dia, e monitoramento da contagem do número de leucócitos e plaquetas (hemograma completo) a cada duas semanas. Deve-se considerar o peso real ou ideal, o que for menor. Para crianças, recomenda-se dissolver a cápsula de 500 mg de HU em água destilada, obtendo a concentração de 50 mg/mL, o que facilita a administração da dose correta por kilograma de peso (ANVISA,2005). 14.1 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO Os parâmetros estabelecidos para o uso da HU baseiam-se no Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para uso de HU na anemia falciforme. Poderão ser incluídos no Protocolo de Tratamento pacientes que preencham todos os critérios abaixo: Diagnóstico laboratorial de doença falciforme (HbSS, S/ß Talassemia, HbSC, Hb SD); idade superior a 3 anos; condições de comparecer às consultas e realizar exames laboratoriais periódicos; teste de gravidez (ß-HCG sérico) negativo para mulheres sexualmente ativas, lembrando que a anticoncepção é obrigatória enquanto a paciente estiver fazendo uso da HU (ANVISA,2005). 14.1.1 CRITÉRIOS CLÍNICOS DE INCLUSÃO Segue abaixo os critérios clínicos para o uso da HU: • Três ou mais episódios de crises de dor com necessidade de atendimento médico hospitalar. • Síndrome torácica aguda (definida como dor torácica aguda com infiltrado pulmonar "novo", febre (temperatura > 38,5°C), taquipnéia, tosse, sibilos pulmonares): dois ou mais eventos (leve a moderado)/ano ou um evento grave. • Hipoxemia crônica: saturação de oxigênio persistentemente menor que 94%. • Déficit pôndero-estatural: peso e crescimento observados menores que 5% a 10% do esperado para a idade. 39 • Outras situações em que haja comprovação de lesão crônica de órgão (priapismo, necrose óssea, retinopatia proliferativa). 14.2 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO Não deverão ser incluídos no Protocolo de Tratamento pacientes com: hipersensibilidade à HU; presença de pelo menos um dos seguintes itens relacionados à disfunção da medula óssea: neutrófilos < 2.5 x 109/L, plaquetas < 95 x 109/L concentração de Hb < 4,5 g/dL ou contagem de reticulócitos < 95 x 109/L; gestação; e em indivíduos infectados pelo vírus HIV (ANVISA, 2005). 14.3 CUIDADOS E PRECAUÇÕES, SITUAÇÕES ESPECIAIS Devido aos possíveis efeitos adversos da droga, a relação entre risco e o benefício deve ser cuidadosamente avaliada nos seguintes casos: amamentação: sabe-se que o fármaco é excretado pelo leite. Não há estudos suficientes para determinar seus efeitos sobre o lactente. Seu uso deve ser evitado ou descontinuado durante a amamentação. Uricosúria: o uso de HU pode aumentar os níveis séricos de ácido úrico. Em pacientes com níveis basais acima do limite normal, estes valores devem ser monitorados mensalmente. Ácido fólico: o uso de HU produz macrocitose, que dificulta o reconhecimento da deficiência de ácido fólico. Desta forma, é recomendado o emprego profilático concomitante de 5 mg/dia de ácido fólico, três vezes por semana (ANVISA, 2005). É obrigatório que o paciente e/ou seu responsável legal estejam cientes dos potenciais riscos e efeitos colaterais relacionados ao uso da HU preconizado no Protocolo. Para tanto, o consentimento de participação do protocolo deverá ser formalizado por meio da assinatura do Termo de Consentimento Informado (ANVISA, 2002). 15 EFICÁCIA DA HIDROXIURÉIA A terapia tem garantido eficácia clínica durante alguns anos de tratamento em população pediátrica, reduzindo o número de internações e dias de hospitalização (SILVA, 40 SHIMAUTI; 2006). O Grupo Multicêntrico de Estudo da Hidroxiuréia na Anemia Falciforme, que analisaram durante nove anos o uso da HU em pacientes com AF, estimaram que a mortalidade foi reduzida em 40% nestes pacientes. Foi observado também, que a HU esteve associada ao aumento da HbF e redução na incidência de episódios de síndrome torácica aguda e de crises álgicas (FIGUEIREDO, 2007). Outra resposta favorável deste agente terapêutico tem sido a diminuição da expressão de moléculas de adesão, tais como fosfatidilserina da superfície eritrocitária e plaquetária, a anexina V, bem como a diminuição das proteínas receptoras localizadas em células endoteliais, contribuindo desse modo para a redução das crises vaso-oclusivas (SILVA, SHIMAUTI; 2006). Além da redução do número de crises vaso-oclusivas, o uso crônico de HU teve impacto positivo na qualidade de sobrevida dos pacientes com AF, com redução do número de ocorrência de síndrome torácica aguda e menor necessidade de transfusão de hemácias (CANÇADO, et al, 2009). 16 TOXICIDADE DA HIDROXIUREIA A introdução da HU no tratamento da anemia falciforme trouxe uma mudança significativa na evolução especialmente das crises vaso-oclusivas. Recentemente houve uma avaliação da eficácia da HU no tratamento da anemia falciforme que apontou para algumas situações que ainda requerem atenção especial, tendo em vista que a resposta ao tratamento com hidroxiureia é questionável (SIMOES, et al; 2010). As reações adversas causadas pela HU incluem mielossupressão, perturbação gastrointestinal, erupção cutânea, enxaqueca, potencial teratogênico e possível carcinogênese (SILVA, SHIMAUTI; 2006). Mielossupressão é o efeito colateral mais freqüente e conhecido. Dentre os efeitos cutâneos, foram observados: hiperpigmentação de unhas, palmas e planta dos pés, além de desenvolvimento de úlceras em membros inferiores em pacientes com síndromes mieloproliferativas. Náuseas e sintomas gastrointestinais têm sido associados ao uso de HU. Deve-se levar em consideração que a HU apresenta excreção renal, sendo assim, há necessidade de redução de dose em pacientes com insuficiência renal (FIGUEIREDO, 2007). 41 17 TRATAMENTOS FUTUROS PARA A ANEMIA FALCIFORME A AF há algum tempo vem despertando a curiosidade de pesquisadores na busca de novas substâncias que possa obter um tratamento mais eficaz e seguro. Um estudo desenvolvido pela UNICAMP abre perspectivas para novas formas de tratamento da anemia falciforme (NASCIMENTO, 2004). A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), identificou a existência de um mecanismo nos glóbulos vermelhos de pacientes falciformes que pode ser responsável pelo aumento da hemoglobina fetal, substância capaz de impedir a deformação das hemácias, fenômeno fundamental na fisiopatologia da doença (NASCIMENTO, 2004). A pesquisadora Nicola Conran Zorzetto comparou os níveis de uma molécula denominada GMP cíclico (guanosina monofosfato cíclica ou GMPc) nas células vermelhas de um grupo controle formado por três diferentes categorias de pessoas: 17 eram sadias, 22 pacientes falciformes e 11 doentes medicados com HU. Nos integrantes da segunda categoria ela encontrou níveis de GMPc cinco vezes superiores aos da primeira e maiores ainda entre aqueles que tomavam a droga. O aumento do nível de GMPc ocorre quando uma substância chamada óxido nítrico ativa a enzima guanilato ciclase (GC) no interior das células (NASCIMENTO, 2004). O aumento do nível de GMPc ocorre quando uma substância chamada óxido nítrico ativa a enzima guanilato ciclase (GC) no interior das células. Esse processo também poderia contribuir para a maior produção da hemoglobina fetal, conforme resultados de um estudo in vitro de linhagens de células divulgados em 2001 por um grupo de Boston (EUA) que apontavam para essa hipótese. Ela sugere que o aumento de níveis de GMPc nas células eritrócitas pode se constituir em um mecanismo para indução de hemoglobina fetal e representar um recurso terapêutico alternativo a hidroxiuréia para falcêmicos (NASCIMENTO, 2004). A bióloga molecular da Escola de Medicina e Pós-Graduação Dorothy YH Tuan, é a autora de mais um estudo promissor na busca de novos tratamento para a hidroxiureia. E pois de eliminar o modulador, ERV-9, em ratos de laboratório que expressam a hemoglobina humana, os pesquisadores descobriram que células vermelhas do sangue começaram a produzir mais a hemoglobina fetal, o que seria ideal para pacientes com anemia falciforme (TUAN, 2010). 42 É uma mudança dramática, perto de 100%, quando os pesquisadores tentam aumentar o nível de qualquer tipo de hemoglobina e o tipo de outro desce, que Tuan descreveu assim: "É sempre um ioiô. Devem estar competindo por alguma coisa.” (TUAN, 2010). Ela acredita que o concurso é para fatores de transcrição NF-Y e GATA-2, proteínas que se ligam e ativam os genes da globina fetal e adulta (TUAN, 2010). Tuan tem evidências de que ERV-9, atualmente visto como DNA lixo no corpo desempenha uma função crítica no sentido de garantir a produção de hemoglobina adulta. Sem ERV-9, o gene da hemoglobina do adulto não é tão competitivo para os fatores de transcrição NF-Y e GATA-2 que precisa ser altamente expressa. Se for possível aumentar a NF-Y e GATA-2, talvez ambos os genes beta e gama serão ativados sem suprimir um do outro (TUAN, 2010). 43 18 CONCLUSÃO As hemoglobinopatias são alterações genéticas com alta freqüência populacional e representam um problema de saúde pública em nosso país. Com isso o programa de triagem neonatal tem uma importância indiscutível e a correta interpretação do resultado do “teste do pezinho” é fundamental para o diagnóstico e a orientação inicial do paciente. Apesar de as alterações genéticas e dos mecanismos da biologia molecular da hemoglobina terem sido descobertos e elucidados há mais de 50 anos, essa doença continua com uma terapêutica limitada, só tendo a HU como um tratamento que pode levar a uma melhora considerável das manifestações clínicas da doença. O uso de HU em crianças e adultos portadores de AF parece ser seguro e eficaz e ainda pode promover a melhora na qualidade de vida destes pacientes, benefícios a seus familiares, principalmente em regiões como o Nordeste do Brasil, carente de leitos e de pessoal especializado para seguimento dos mesmos. Apesar de todos os benefícios comprovados com o uso da Hidroxiureia, o seu uso exige cautela e acompanhamento, pois o risco de toxicidade existe e por mais que o risco beneficio favoreça sua administração, o risco não deixa de existir. A HUcom toda sua eficácia não pode ser uma barreira para a busca de novos fármacos e sim uma porta de entrada para novas fontes de pesquisa em busca de um tratamento mais eficaz e mais segura para os pacientes com anemia falciforme. 44 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ÂNGULO, I.L. Crises Falciformes. Simpósio de Urgência e Emergência hematológicas, Ribeirão Preto, p.p 427-430, 2003. ANVISA, BRASIL. Manual de Doenças Falciformes, 2005. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/sangue/p_hemoglobinopatia/paciente.pdf >. Acesso em 29 jan. 2011. ANVISA, BRASIL. Portaria SAS/MS nº 872, de 6 de novembro de 2002. PROTOCOLO CLÍNICO E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS - DOENÇA DE FALCIFORME – Hidroxiuréia. Disponível em: http://www.saude.mt.gov.br/upload/legislacao/0055-%5B3328240310-SES-MT%5D.pdf. Acesso em: 17 jan. 2011. ANVISA, BRASIL. Portaria SAS/MS n°822, de 6 de junho de 2001. PROGRAMA NACIONAL DE TRIAGEM NEONATAL. 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