Área: Bioquímica VALOR NUTRICIONAL DE DIFERENTES GENÓTIPOS DE FEIJÃO-CAUPI Renalison Farias Pereira1; Jackeline Lima de Medeiros2; Tiago de Lavor Gama3; Ana Fontenele Urano Carvalho4 1 Mestrando em Bioquímica, Estudante, Universidade Federal do Ceará, Av. Humberto Monte S/N, Fortaleza, CE. E-mail: [email protected]. 2 Mestre em Bioquímica, Nutricionista, Universidade Federal do Ceará, Av. Humberto Monte S/N, Fortaleza, CE. 3 Graduando em Nutrição, Estudante, Universidade Estadual do Ceará, Av. Paranjana 375, Fortaleza, CE. 4 Doutora em Bioquímica, Professora, Universidade Federal do Ceará, Av. Humberto Monte S/N, Fortaleza, CE. Resumo – O feijão-caupi (Vigna unguiculata L. Walp.) é um alimento muito consumido em regiões do Brasil pelo valor nutritivo. Desta forma, é necessário que a composição proximal de genótipos obtidos por melhoramento genético convencional seja analisada para identificação de possíveis parentais, que é o objetivo deste trabalho. A composição proximal foi obtida através de metodologias oficiais para proteínas, lipídios, cinzas, fibras e carboidratos por diferença. Dentre os genótipos analisados foi verificado que a média para proteínas totais foi de 22,95%, lipídios totais, 1,60%, fração mineral, 3,84%, fibras dietética totais, 17,80% e carboidratos digeríveis, 53,79%. Portanto, o feijão- caupi se afirma como uma fonte proteica e de fibras, onde o genótipo com maior valor total de proteínas e fibras, consecutivamente, foi o BRS-JURUÁ e MNC03-761F-1, sendo os possíveis parentais para o melhoramento genético. Palavras-chave: Vigna unguiculata, composição proximal, alimento. Introdução O feijão-caupi (Vigna unguiculata L. Walp.), é um alimento consumido em diversos países como exemplos: os Estados Unidos da América, Reino Unido, Nigéria, e o Brasil, onde na região Norte e Nordeste, esse é um alimento de primeira necessidade para essas populações, tanto pelo seu valor nutricional quanto às questões socioeconômicas (XAVIER et al., 2007; FREIRE FILHO et al., 2011). A partir de uma preocupação mundial de aprimorar a produção de alimentos para a população, considerando além das necessidades dos agricultores, empresários e exportadores, o melhoramento genético do feijão-caupi desenvolvidos pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) busca desenvolver cultivares com maior qualidade nutricional para a população brasileira consumidora desse alimento (SANDS, 2009; FREIRE FILHO et al., 2011). Deste modo, há uma indispensabilidade de identificar entre os novos genótipos de feijão-caupi os de maior qualidade nutricional para posterior propagação e distribuição destas cultivares para os agricultores. Portanto, o objetivo deste trabalho é obter a composição proximal de trinta e três novos genótipos de feijão-caupi, produzidos pela EMBRAPA através de melhoramento genético, e identificar os possíveis parentais para continuidade desse programa de melhoramento. 1 Material e Métodos Sementes de feijão-caupi (V. unguiculata) de genótipos diferentes foram obtidas pela EMBRAPA MeioNorte (Teresina - Piauí) foram moídas em moedor elétrico de café (CADENCE ®, Modelo MDR301), peneirada (40 mesh – 0,42 µm) e seca em estufa (QUIMIS®, Modelo Q314M242 ou FANEM®, Modelo 515) a 40 ºC por 24 h. As farinhas de sementes foram então acondicionadas à temperatura ambiente em potes plásticos hermeticamente fechados até a realização das análises. A composição proximal foi feita por metodologias oficiais (AOAC INTERNATIONAL, 2000) para análises em triplicatas de fração mineral, lipídica, proteica e de fibras. O teor de carboidratos foi mensurado por diferença das frações analisadas. Cinzas: Para determinação gravimétrica de cinzas (fração mineral) cada genótipo foi incinerado em cadinhos de porcelana à temperatura de 550 °C por 4 h em forno mufla (QUIMIS®, Modelo Q318M24). O valor de cinzas totais foi calculado pela diferença entre os pesos inicial e final dos cadinhos. Lipídios: A fração lipídica através de extrator de Soxhlet, onde a extração lipídica foi realizada com hexano (1:5 p/v) foi constante por 8 h e a coleta final permaneceu em béqueres. Após a coleta, o solvente foi evaporado do extrato lipídico em capela de exaustão noite adentro e em estufa de secagem por mínimo 30 min. O teor de lipídios totais foi calculado pela diferença entre o peso inicial e final dos béqueres. Proteínas: O método Microkjeldahl foi utilizado para determinação do teor proteico das sementes de feijão-caupi. O material mineralizado foi submetido ao ensaio fotocolorimétrico (BAETHGEN; ALLEY, 1989) em espectrofotômetro. A medição da concentração total de nitrogênio (N) foi determinada em comparação à curva padrão obtida com diferentes concentrações de sulfato de amônio ((NH4)2SO4) (VETEC®) utilizando como fator de conversão de nitrogênio para proteína 6,25. Fibra Dietética Total: Para a determinação da concentração de fibra alimentar total o método enzimáticogravimétrico 985.29 (AOAC INTERNATIONAL, 2000) foi realizado, onde após a digestão enzimática o teor de fibra das amostras foi calculado subtraindo do peso do resíduo da amostra a proteína e cinzas. Resultados e Discussão De acordo com a tabela 1, a média dos resultados para os genótipos de feijão-caupi para proteínas totais foi de 22,95 ± 1,84%, lipídios totais, 1,60 ± 0,16%, fração mineral, 3,84 ± 0,25%, fibras dietética totais, 17,80 ± 1,80% e carboidratos digeríveis, 53,79 ± 2,40%. Valores de proteínas, cinzas e lipídios foram semelhantes a outros genótipos originados por melhoramento genético convencional pela EMBRAPA ou cultivares locais (CARVALHO et al., 2012). E também semelhantes aos de “feijão fradinho cru” divulgado pela Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM ALIMENTAÇÃO, 2011), onde os seguintes valores nutricionais (modificados para % e com base em peso seco) são para proteínas, 23,13%, lipídios, 2,74%, cinzas, 4,00%, carboidratos totais, 70,10%, e fibras, 23,60%. Levando em consideração a recomendação de ingestão diária (U.S. FOOD AND DRUG ADMINISTRATION, 2011) o feijão-caupi é um alimento rico em proteínas com o valor médio aproximado de 23 g em 100 g de sementes. Porém as proteínas tem seu valor nutritivo dependente de vários fatores, como 2 digestibilidade, aminoácidos essenciais, fatores antinutricionais e processamento (DAMODARAN; PARKIN; FENNEMA, 2010). Além de ser uma fonte proteica, o feijão-caupi é uma fonte de fibra dietética (carboidratos não digeríveis) composta geralmente de celulose, polissacarídeos não amiláceos e lignina com valor médio aproximadode 18 g em 100 g de sementes. Essa característica torna o feijão-caupi um alimento funcional onde as fibras, nutricionalmente importantes, auxiliam o trato gastrintestinal, além de poderem reduzir índices de colesterol sanguíneo e moderar a resposta glicêmica dependendo do tipo de fibra presente no alimento (DAMODARAN; PARKIN; FENNEMA, 2010). Estes fatores e especificidades relevantes para a qualidade proteica e função das fibras dietéticas juntamente com a funcionalidade devem ser estudados para a melhor inserção no mercado agrícola de genótipos de feijão-caupi que atendam a demanda de mercado de forma satisfatória. Tabela 1. Composição proximal de trinta e três diferentes genótipos de feijão-caupi (Vigna unguiculata). GENÓTIPO PROTEÍNAS LIPÍDIOS CINZAS FIBRAS CARBOIDRATOS BRS-ARACÊ (AR) 26,18 ± 0,44 1,88 ± 0,07 3,60 ± 0,05 17,97 ± 0,77 50,37 BRS-ITAIM (IT) 21,60 ± 0,39 1,89 ± 0,08 3,52 ± 0,02 15,26 ± 0,16 57,73 BRS-JURUÁ (JU) 27,34 ± 0,43 1,84 ± 0,07 3,94 ± 0,05 19,28 ± 0,52 47,60 MNC01-649F-1-3 (AB) 22,61 ± 0,35 1,72 ± 0,04 4,31 ± 0,07 18,36 ± 0,41 53,00 MNC01-649F-2-1 (BC) 24,25 ± 0,15 1,70 ± 0,03 4,08 ± 0,06 18,25 ± 0,32 51,72 MNC01-649F-2-11 (CD) 22,92 ± 0,35 1,64 ± 0,04 4,32 ± 0,06 19,48 ± 0,96 51,64 MNC02-675-4-9 (DE) 21,03 ± 0,57 1,67 ± 0,04 4,15 ± 0,09 19,58 ± 0,22 53,57 MNC02-675F-4-2 (QR) 23,44 ± 0,27 1,48 ± 0,03 3,55 ± 0,03 19,05 ± 0,52 52,48 MNC02-675F-4-9 (PQ) 24,07 ± 2,00 1,49 ± 0,02 3,63 ± 0,04 18,46 ± 0,28 52,01 MNC02-675F-9-2 (RS) 21,23 ± 0,06 1,46 ± 0,04 4,01 ± 0,08 18,89 ± 0,50 54,41 MNC02-675F-9-3 (ST) 20,38 ± 0,83 1,47 ± 0,08 3,90 ± 0,03 17,48 ± 0,56 56,77 MNC02-675F-9-5 (EF) 19,58 ± 0,50 1,51 ± 0,03 3,86 ± 0,06 18,36 ± 0,13 56,69 MNC02-676F-1 (FG) 20,61 ± 0,39 1,60 ± 0,02 4,06 ± 0,04 20,41 ± 0,33 53,32 MNC02-676F-3 (UV) 23,39 ± 0,49 1,47 ± 0,03 4,06 ± 0,02 19,31 ± 0,45 51,77 MNC02-677F-2 (GH) 20,80 ± 1,37 1,39 ± 0,09 3,53 ± 0,03 19,29 ± 0,28 54,99 MNC02-677F-5 (HI) 20,89 ± 1,35 1,85 ± 0,03 3,75 ± 0,08 18,58 ± 0,41 54,93 MNC02-680F-1-2 (IJ) 21,68 ± 0,81 1,54 ± 0,02 3,81 ± 0,05 18,66 ± 0,81 54,31 MNC02-682F-2-6 (VX) 25,26 ± 0,22 1,31 ± 0,05 4,14 ± 0,01 19,50 ± 0,83 49,79 MNC02-683F-1 (XZ) 24,62 ± 0,72 2,00 ± 0,01 3,87 ± 0,08 14,06 ± 0,33 55,45 3 MNC02-684F-5-6 (AC) 22,87 ± 0,37 1,53 ± 0,03 3,72 ± 0,03 15,69 ± 0,23 56,19 MNC02-689-2-8 (JK) 24,90 ± 0,10 1,57 ± 0,03 3,89 ± 0,02 19,32 ± 0,46 50,32 MNC02-701F-2 (KL) 21,43 ± 0,36 1,80 ± 0,02 3,94 ± 0,06 16,18 ± 0,87 56,65 MNC03-725F-3 (BD) 24,94 ± 0,60 1,57 ± 0,08 4,01 ± 0,11 18,99 ± 0,96 50,49 MNC03-736F-2 (LM) 23,02 ± 0,06 1,48 ± 0,02 4,02 ± 0,02 16,82 ± 0,62 54,66 MNC03-736F-6 (NO) 23,18 ± 0,13 1,63 ± 0,11 4,07 ± 0,03 16,07 ± 0,75 55,05 MNC03-736F-7 (CE) 23,84 ± 2,15 1,60 ± 0,04 3,77 ± 0,06 15,97 ± 0,09 54,82 MNC03-737F-11 (LO) 24,48 ± 0,18 1,52 ± 0,00 3,55 ± 0,04 16,75 ± 0,07 53,70 MNC03-737F-5-1 (DF) 24,31 ± 2,56 1,44 ± 0,09 3,41 ± 0,08 14,58 ± 0,12 56,26 MNC03-737F-5-10 (GI) 22,34 ± 0,17 1,55 ± 0,03 3,87 ± 0,07 18,42 ± 0,73 53,82 MNC03-737F-5-11 (HJ) 24,41 ± 0,53 1,58 ± 0,00 3,50 ± 0,05 14,95 ± 0,52 55,56 MNC03-737F-5-4 (EG) 23,22 ± 0,11 1,62 ± 0,02 3,36 ± 0,11 15,25 ± 0,41 56,55 MNC03-737F-5-9 (FH) 22,10 ± 0,32 1,57 ± 0,06 3,61 ± 0,04 17,07 ± 0,08 55,65 MNC03-761F-1 (OP) 20,55 ± 1,39 1,38 ± 0,03 3,93 ± 0,03 21,11 ± 0,22 53,03 FEIJÕES (MÉDIA) 22,95 ± 1,84 1,60 ± 0,16 3,84 ± 0,25 17,80 ± 1,80 53,79 ± 2,40 50 (g/dia) 65 (g/dia) - 25 (g/dia) 300 (g/dia) RID Todos os valores em % com base no peso seco da amostra. Média ± desvio padrão (n=3). RID = Recomendação de Ingestão Diária (U.S. FOOD AND DRUG ADMINISTRATION, 2011). Assim como genótipos cultivados na Nigéria, onde os valores para proteína variaram de 22,9 a 32,5%, 2,9 a 3,9% de cinzas, 1,4 a 2,7% de lipídios e 59,7 a 71,6% de carboidratos totais (NIELSEN; BRANDT; SINGH, 1993) os genótipos brasileiros, objetos deste estudo, tiveram uma variação de com valores aproximadamente semelhantes. Logo, para as análises da concentração de proteína nos genótipos estudados mostraram que o genótipo com o menor valor proteico foi o MNC02-675F-9-3 (ST) com média 20,38% e o BRS-JURUÁ (JU) o que tem maior teor de proteínas com 27,34%. Para as análises do teor de fibra dietética total mostram que o MNC02683F-1 (XZ) tem a menor concentração com 14,06% e MNC03-761F-1 (OP) sendo o genótipo que tem o maior valor com 21,11%. Portanto, considerando a relevância nutricional de proteínas e fibras os possíveis genótipos parentais para melhoramento genético seriam o que possui maior teor proteico, BRS-JURUÁ, e maior teor de fibras, MNC03-761F-1. Conclusões 4 O feijão-caupi (V. unguiculata) tem um potencial para ser explorado com um alimento funcional rico em proteínas e fibras tendo uma variação de seus nutrientes entre os genótipos obtidos por melhoramento genético convencional. Desta forma, o genótipo BRS-JURUÁ pelo seu maior valor proteico e o MNC03-761F-1 por ter quantidade maior de fibras dietética total seriam os mais promissores para utilização como parentais e posterior propagação de feijão-caupi que atenda às necessidades da população. Agradecimentos À EMBRAPA Meio-Norte (Projeto: “Desenvolvimento de cultivares para o agronegócio do feijãocaupi no Brasil”); À Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Projeto: “Inclusão de novos genótipos de feijão-caupi e de outras leguminosas de elevado valor nutricional e funcional na alimentação da população do semi-árido”); Ao Laboratório de Bioprospecção de Recursos Regionais (Bioprospec) do Departamento de Biologia da Universidade Federal do Ceará, onde o trabalho foi desenvolvido. Referências AOAC INTERNATIONAL. Official Methods of Analyses. 17. ed. Washington, DC: AOAC International. 2000. BAETHGEN, W. E.; ALLEY, M. M. A manual colorimetric procedure for measuring ammonium nitrogen in soil and plant Kjeldahl digests. Communications in Soil Science and Plant Analysis, [New York], v. 20, n. 910, p. 961-969, 1989. CARVALHO, A. F. F. U et al. Nutritional ranking of 30 Brazilian genotypes of cowpeas including determination of antioxidant capacity and vitamins. Journal of Food Composition and Analysis. v. 26, n.1-2, p. 81-88. May-June, 2012. DAMODARAN, S.; PARKIN, K.L.; FENNEMA, O. R. Química de Alimentos de Fennema. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010. 900 p. FREIRE FILHO, F. R. et al. Feijão-caupi no Brasil: produção, melhoramento genético, avanços e desafios. Teresina: Embrapa Meio-Norte, 2011. 84 p. NIELSEN, S.S.; BRANDT, W.E.; SINGH, B.B. Genetic Variability for Nutritional Composition and Cooking Time of Improved Cowpea Lines. Crop Science. v. 33, n. 3, p. 469-472. May, 1993. NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM ALIMENTAÇÃO (Universidade Estadual de Campinas). Tabela Brasileira de Composição de Alimentos. 4. ed. rev. e ampl. Campinas: NEPA-UNICAMP. 2011. 161 p. SANDS, D. C. et al. Elevating optimal human nutrition to a central goal of plant breeding and production of plant-based foods. Plant Science, v. 177, n. 5, p. 377–389, Nov. 2009. U.S. FOOD AND DRUG ADMINISTRATION. Calculate the Percent Daily Value for the Appropriate Nutrients. 2011. Disponível em: <http://www.fda.gov/Food/GuidanceComplianceRegulatoryInformation/GuidanceDocuments/FoodLabelingNutr ition/FoodLabelingGuide/ucm064928.htm>. Acesso em 20 Ago. 2012. XAVIER, T. F. et al. Ontogenia da nodulação em dois cultivares de feijão-caupi. Ciência Rural. v. 37, n. 2, p. 561-564, 2007. 5