Apostila I / Filosofia – 2° ano – Matutino
Professor Lázaro Ferreira Alves
Elementos básicos de lógica
A mente humana face à realidade
A Declaração Universal dos Direitos Humanos consagra a mais elementar verdade quando diz que “todos
os homens são dotados de razão e consciência”. Trata-se do óbvio. Todo ser humano possui uma inteligência com
capacidade dinâmica para pensar. Ou seja, é próprio e inerente a todo homem o ato de pensar, refletir, raciocinar e
conhecer o conteúdo e significado de seus próprios pensamentos. Graças à sua inteligência o homem é o animal
que sabe que sabe...
Convém ainda lembrar que o ato de pensar se identifica com o do conhecimento através do qual a
inteligência busca a evidência e clareza dos fatos que proporciona ao homem a segurança no viver. Na medida
que existe esta evidência que pode decorrer de uma simples lógica natural, em que as coisas, os fatos, os
elementos e os acontecimentos se encadeiam numa sequência e ordem naturais, o ser humano os aceita
pacificamente, sem questionamento. É o chamado estado irrefletido ou irreflexivo em que a inteligência repousa,
descansa e dispensa explicações para justificar aquilo que é óbvio ou que se manifesta por si mesmo. Neste caso
o pensamento é, de certa forma, automatizado ou mecanizado, e os atos que dele decorrem se processam de
modo quase que imperceptível.
Exemplificando o que ficou dito: ninguém questiona porque faz calor quando se está exposto ao sol ou
perto de uma fogueira; que, ao se ter sede, procura-se algo líquido para beber; que, quando fica escuro dentro de
casa, liga-se o botão do interruptor ou chave elétrica para se obter luza e claridade, etc. Tais atos dispensam
qualquer esforço de pensar ou de procurar saber porque ou como tais fenômenos acontecem. E isso, inclusive, é
importante para que nossa vida existencial cotidiana se desenvolva sem maiores problemas dentro de um clima
normal, seguro e tranquilo. Do contrário, se tivéssemos que parar para pensar a sequência de todos os nossos
atos, nossa vida seria uma loucura completa.
Contudo, não é supérfluo ressaltar que se este estado irrefletido é algo normal e até mesmo necessário para
nossa vida, deve-se estar precavido e estar alerta a respeito de uma possível imposição desta situação,
enfraquecendo a capacidade reflexiva do ser humano. É que, atualmente, face aos meios de difusão, de
comunicação de massa e da disseminação do consumismo, existe uma tendência cada vez maior de fazer com que
se estenda mais e mais a aceitação passiva e pacífica de tudo o que é apresentado ou proposto como ótimo ,
necessário e indispensável ao bem-estar das pessoas. E isso acontece, inclusive, em termos de “ideologia” e de
estratégia para todos os problemas do cotidiano, quer sociais, quer econômicos, quer políticos, familiares,
desportivos. Na era do “já vem pronto é só usar”, há quem não só dispensa comentários, discussões ou sugestões,
mas até mesmo chega a recusar como incômodos aqueles que desejam saber o “porquê” e as razões daquilo que
vem sendo imposto...
Em nossa vida, no entanto, nem tudo é óbvio, claro, simples e evidente. Há muita coisa obscura,
desconhecida e problemática que exige esclarecimento ou explicação. Em tais situações, nossa mente funciona
questionando, perguntando, desejando obter razões que expliquem ou justifiquem tais fatos, tais coisas e suas
consequências. E isto pode ocorrer de duas formas: quer pela simples curiosidade do saber – inerente ao ser
humano desde seus primeiros contatos com seu mundo exterior (as crianças adoram perguntar “porque”), quer
pelo surgimento de algum problema que exige uma solução racional.
Quando se procura conhecer alguma coisa, exercita-se a mente ou inteligência e com isso pensa-se, refletese ou se raciocina, desencadeando todo ato mental que tem como produto e resultado, o conceito ou ideia –
representação mental da realidade. A reflexão caracteriza-se pelo encadeamento de ideias expressas de modo
ordenado por meio de frases ou proposições em torno de um tema ou assunto. Já o raciocínio – tal como
analisado pela Lógica – é constituído por uma sequência de pensamentos de tal forma ordenados que uma parte
deles serve de explicações ou fornece razões a respeito de alguma coisa não suficientemente clara, conduzindo
sempre a uma conclusão como outra parte que decorre da primeira, de modo necessário ou ao menos provável.
A importância da Lógica como ciência
A Lógica como estudo e ciência trata do pensamento enquanto pensado e de suas formas e leis. Mostra o
mecanismo da inteligência, não dentro de uma análise psicológica – o que convém à Psicologia e Pedagogia –
mas enquanto capacidade que conhece e transmite objetivamente ideias por meio da comunicação escrita ou
falada.
Sobre a importância da Lógica, uma pergunta simples pode ser feita: será necessário estudar Lógica para
se pensar e raciocinar corretamente? Ou então: é possível pensar sem possuir conhecimento das leis formuladas
pela Lógica e estudadas em manuais ou em aulas?
Evidentemente, pensa-se ou raciocina-se independente de ter-se ou não estudado Lógica. E nem poderia
ser de outra forma. O pensamento é um ato vital imanente, próprio a todo ser humano. A inteligência, enquanto
faculdade mental funciona de modo análogo aos órgãos do corpo humano. Pensa-se como se respira. Faz parte do
contexto vital. Há muita gente que raciocina com muita clareza e segurança sem jamais ter tido qualquer contato
teórico como o estudo da Lógica. Mas é igualmente verdade que se o conhecimento dos elementos básicos da
Lógica é útil a qualquer pessoa para um desenvolvimento correto dos seus pensamentos, ele se torna
imprescindível àqueles que se preparam para a árdua tarefa da transmissão de ideias pela comunicação falada ou
escrita. Um professor e um advogado devem saber organizar de modo conveniente e adequado suas ideias, bem
como transmiti-las de modo claro, seguro e conveniente. E hoje, mais do que nunca, quando se estimula por
demais a memorização, é sumamente importante que se desperte o interesse pela capacidade reflexiva, o que
pode ser obtido e atingido pelo estudo da Lógica exercitada enquanto “práxis”.
Segundo Keynes, a Lógica é “a ciência que estuda os princípios gerais do pensamento válido. O seu
projeto consiste em discutir as características dos juízos, considerando não com fenômenos psicológicos, mas
como exprimindo conhecimentos e crenças...Podemos, pois, chamar-lhe uma ciência normativa ou regulativa”
São Tomás de Aquino, em seu brilhante comentário às obras de Aristóteles, organizador e sistematizador
da Lógica, define-a como sendo “a arte diretiva do próprio ato da razão que permite chegar com ordem,
facilmente e sem erro, ao próprio ato da razão”
Daí a origem etimológica da palavra “Lógica”, como a ciência da razão (em grego: LOGIKÉ EPISTÉME).
Já a linguagem comum identifica como “lógico” aquilo que é “razoável”, “natural”, “claro”, “evidente”,
“óbvio”, “seguro”, “que tem nexo”, “coerente”. Isto demonstra como a razão procura seguir a ordem, a sequência
e a coerência encontradas e manifestadas pela própria natureza.
A Lógica e as demais ciências
A Lógica constitui-se, desde Aristóteles que a sistematizou, como uma ciência formal, por quanto
estabelece leis e normas e apresenta formas segundo as quais o pensamento pode se manifestar de modo correto e
objetivamente válido.
Mais do que o conhecimento teórico a respeito de suas formas conceituais, proposicionais e
argumentativas, a Lógica manifesta-se, sobretudo, como uma “práxis” - uma verdadeira prática ou exercitação
sobre tais formas dentro do contexto vivencial de cada indivíduo pensante.
Por isso mesmo, a Lógica serve de instrumental para todas as ciências, indistintamente.
A disciplina denominada Metodologia Científica nada mais é do que parte integrante da chamada “Lógica
Material ou Maior”. Atualmente, apresenta aspectos do conhecimento humano e dos métodos lógicos de trabalho
e pesquisas científicas, bem como técnicas de aprendizado de leitura, fichamento e elaboração de trabalhos
científicos.
Um professor de Geografia ou de Química (e de qualquer outra disciplina), quando faz explanações a
respeito de temas de suas disciplinas, deve trabalhar dentro da Lógica. Todos operam com conceitos ( e às vezes
de ordem ideal e abstrata). E para que sua comunicação se faça de modo compreensivo, tais conceitos devem ser
organizados em forma de juízos – através de proposições em que afirmam ou negam as realidades concernentes
ao seu campo de trabalho. E, finalmente, na defesa de seus pontos de vista – que devem ser compreendidos e
assimilados e não apenas decorados mecanicamente – tais conceitos devem ser organizados e manifestados sob a
forma de argumentos. Argumenta-se em Geografia, Química e Física ou em qualquer outra disciplina. E os
argumentos se tornam convincentes na medida em que o professor ou autor de uma obra científica sabe ordenálos de modo correto e seguro. E, ao fazê-lo, estará demonstrando que sabe ou não aplicar conhecimentos
Lógicos...
Quanto ao Direito, importa considerá-lo não apenas como ciência das leis, mas, sobretudo, como ciência
argumentativa e interpretativa. E aqui convêm lembrar que todo advogado, promotor ou juiz jamais deve perder
de vista os princípios básicos da Lógica. Ganha-se uma ação na justiça na medida em que se sabe argumentar
corretamente, bem como se consegue contra-argumentar, desmascarando os sofismas apresentados na defesa de
uma causa...
PINTO, Mario. Elementos Básicos de Lógica, Ed. Belo Horizonte, PUC-MG/FUMARC, 1984.
Exercício / Atividades
1) De acordo com o texto, qual é a importância da Lógica para o nosso dia a dia?
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2) Vamos pensar um pouco! Cite alguns exemplos de nosso cotidiano em que utilizamos a lógica.
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3) Com suas palavras, procure explicar o que é a Lógica?
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4) De acordo com o texto, como a Lógica se relaciona com as outras ciências?
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5) Procure formular alguns pequenos argumentos, corrigindo-os e mostrando o que há de correto e
incorreto nos mesmos.
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6) ( UFRJ/2009) É comum, entre filósofos, admitir-se que toda tese filosófica deve estar apoiada em
razões que a justifiquem, e que justificar uma tese é apresentar argumentos. Tais argumentos consistiriam
em um discurso no qual, a partir de alguns itens supostos, outros itens resultam. Os itens supostos são
chamados de premissas do argumento, e o que resulta é denominado sua conclusão. Alguns argumentos
são chamados de argumentos dedutivos. Nesse tipo de argumento, dada a verdade das premissas, a
conclusão necessariamente é verdadeira. Outros são chamados de argumentos indutivos. Nesses, dada a
verdade das premissas, a conclusão provavelmente é verdadeira.
Considere então os seguintes argumentos:
[A]
Todo animal é mortal
Todo homem é animal
Logo, todo homem é mortal
[B]
Todos os cisnes até hoje observados são brancos
Jojô é um cisne
Logo, Jojô é branco
Com base na explicação dada, identifique qual dos dois argumentos, A ou B, é um argumento dedutivo.
Justifique sua resposta.
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Os sofistas eram grandes intelectuais, mestres de oratória e discurso. Julgue os itens de acordo com as
características desses intelectuais.
1. ( C ) ( E ) A sofística destruía os fundamentos de todo conhecimento, já que tudo seria relativo e os valores
seriam subjetivos.
2. ( C ) ( E ) Sofisma é uma forma de ensinar às pessoas verdades sobre as coisas e promover o bem da
sociedade.
3. ( C ) ( E ) Para os sofistas, tudo deveria ser avaliado segundo os interesses e desejos de cada um.
4. ( C ) ( E ) Para os sofistas as regras morais, as posições políticas e os relacionamentos sociais deveriam ser
guiados conforme a conveniência individual.
5. ( C ) ( E ) Os sofistas utilizavam-se de simplificados jogos de palavras, trocadilhos, raciocínios, todos os
recursos do discurso para demonstrar verdades absolutas e que valeriam para todas as pessoas – promovendo
o bem social.
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