VI Encontro Nacional da Anppas 18 a 21 de setembro de 2012 Belém – PA – Brasil O discurso empresarial e o desenvolvimento sustentável: limites e contradições Mario Sergio Cunha Alencastro(Universidade Tuitui do Paraná e Facinter) Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento. Professor universitário e pesquisador. [email protected] Franciane Souza(Universidade Tuiuti do Paraná) Administradora e Especialista em Gestão Ambiental. [email protected] Tema Empresas / Desenvolvimento Sustentável Introdução O presente artigo é uma síntese de algumas discussões desenvolvidas no projeto de pesquisa “Fundamentos teóricos para o desenvolvimento sustentável: uma abordagem sistêmica e transdisciplinar” da linha “Gestão socioambiental estratégica” – Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Trata-se de uma reflexão crítica sobre as contradições presentes no discurso empresarial sobre o desenvolvimento sustentável num contexto de uma modernidade que ainda se caracteriza pela insustentabilidade dos padrões de produção e consumo. A principal motivação da pesquisa foi analisar as promessas da chamada “modernização ecológica” cujo foco está na sinergia entre a performance econômica, social e ambiental das organizações, situação na qual os atores econômicos privados e os mecanismos de mercado passam a exercer um papel cada vez mais relevante nos processos de reestruturação ambiental. Dois questionamentos nortearam o trabalho: (1) Estaria a “modernização ecológica” apta para responder aos desafios da insustentabilidade ambiental num mercado que preconiza o consumo? (2) As empresas estão preparadas para por em prática a “reponsabilidade socioambiental” o que exigira delas um posicionamento mais altruísta, contrariando a lógica capitalista do lucro? Objetivos Discutir os alcances e limites das ações empresariais no âmbito ambiental, tal como preconizado pela “modernização ecológica” e chamar a atenção para as contradições conceituais presentes no discurso da “sustentabilidade” empresarial. Metodologia e informações utilizadas VI Encontro Nacional da Anppas 18 a 21 de setembro de 2012 Belém – PA – Brasil Trata-se de uma pesquisa bibliográfica de cunho exploratório. Acselrad (2004), Layrargues (1998), Montibeller (2004), Leff (2001 e 2009), Altvater (1995), Bauman (2008), Sponville (2005) e Foladori (2001) compõem o principal marco teórico. Resultados Atualmente, empresas e governos estão atuando de forma a promover ações que visem evitar os desperdícios de matéria e energia e reduzir a geração de resíduos. Uma nova abordagem empresarial, aderente aos princípios do desenvolvimento sustentável, conhecida por “modernização ecológica” atribui ao mercado a capacidade de resolver a degradação do ambiente, a partir do uso racional dos recursos naturais e abrindo mercado para as chamadas tecnologias limpas. Trata-se de uma perspectiva que defende a capacidade do mercado em superar a crise ambiental, sem abandonar o progresso tecnológico e, de modo geral, sem alterar o sistema de produção capitalista (ACSELRAD, 2004). Tais medidas, embora plenamente incorporadas no discurso empresarial, estão longe de atingir seus objetivos, pois, em seu cerne o modelo econômico vigente ainda é voltado para a produção e o consumo em massa. O modo de vida contemporâneo é nitidamente insustentável, pois se vive numa sociedade cada vez mais consumista e incentivada por um marketing excessivo. Excesso de consumo também significa geração excessiva de resíduos. Neste sentido, Elmar Altvater (1995, p. 244) descreve “o homem da sociedade industrial fordista é um ser produtor de lixo em massa, este é seu estilo de vida”. A VI Encontro Nacional da Anppas 18 a 21 de setembro de 2012 Belém – PA – Brasil lucros. A equidade entre as gerações atuais e futuras, por exemplo, não faz parte da contabilidade das empresas. A questão da sustentabilidade supera em muito a lógica empresarial, pois exige um novo paradigma produtivo, no qual os valores da diversidade biológica, produtividade ecológica, heterogeneidade cultural, pluralidade política e democracia participativa seriam seus principais alicerces. Nunca é demais lembrar que a busca pelo crescimento ilimitado do PIB e a expansão da população mundial ocasiona uma implacável corrida por cada vez mais energia e recursos naturais, recursos estes de natureza limitada. Numa visão mais refinada, Leff (2001) propõe que a crise ambiental é uma crise de civilização e que não poderia encontrar uma solução apenas por meio da racionalidade instrumental predominante, da incerteza de um mundo economizado e arrastado por um processo incontrolável de produção e consumo. Conclusões Considerando o papel hegemônico que as grandes corporações desempenham no mundo atual, tornase óbvio que elas fazem parte dos problemas e das soluções da crise ambiental. Uma mudança de postura do mundo empresarial repercutiria diretamente nestas questões. Trata-se da incorporação de uma nova responsabilidade para com a melhoria da qualidade ambiental por meio de uma profunda reestruturação dos valores que sustentam o modus operandi de produção e consumo (LAYRARGUES, 1998). Para que isso aconteça, seria necessária uma nova mentalidade empresarial que implicaria em superar uma racionalidade exclusivamente econômica e incorporar – de fato – as questões ambientais nas decisões corporativas. A grande dificuldade para que isso aconteça reside no fato de que uma empresa é uma entidade econômica voltada para a produção de bens e serviços. Stricto sensu, a racionalidade econômica tende a prevalecer sobre qualquer outra e seus compromissos éticos tornam-se difusos. Principais referências bibliográficas ALTVATER, Elmar. O preço da riqueza. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1995. ACSELRAD, Henri. Movimento de justicia ambiental: estratégia argumentativa y fuerza simbólica. In: RIECHMANN, Jorge (coord.). Ética ecológica: propuestas para uma reorientación. Montevideo: Editorial Nordan-Comunidad, 2004. LAYRARGUES, Philippe Pomier. A cortina de fumaça: o discurso empresarial verde e a ideologia da racionalidade econômica. São Paulo: Annablume, 1998. VI Encontro Nacional da Anppas 18 a 21 de setembro de 2012 Belém – PA – Brasil LEFF, Enrique. Epistemologia ambiental. São Paulo: Cortez, 2001 MONTIBELLER FILHO, Gilberto. O mito do desenvolvimento sustentável: meio ambiente e custos sociais no moderno sistema produtor de mercadorias. Florianopolis: Ed. UFSC, 2004.