VIII EPEA - Encontro Pesquisa em Educação Ambiental
Rio de Janeiro, 19 a 22 de Julho de 2015
UM OLHAR CRÍTICO SOBRE AS TENDÊNCIAS EM EDUCAÇÃO
AMBIENTAL FRENTE À CRISE DO CAPITAL
Jeniffer de Souza Faria - UFJF
Elaine Coelho Cristóvão - UFJF
Resumo
O objetivo do trabalho é apresentar e refletir sobre as diferentes concepções de
Educação Ambiental, as quais são fortemente influenciadas, principalmente, por
perspectivas política e econômica para enfrentar a crise do capital. Ao considerar a
questão ambiental como um tema caro na sociedade contemporânea, acreditamos ser
pertinente o conhecimento sobre as tendências em EA de forma crítica para
compreender até que ponto estão voltadas para a sustentabilidade. Para isso, realizamos
um estudo comparativo entre as principais tendências e as perspectivas políticas levando
em consideração o contexto histórico. Frente ao exposto, percebemos que é preciso ficar
atento sobre qual Educação Ambiental estamos falando e para que, se verdadeiramente
quisermos avençar em prol da sustentabilidade.
Palavras-chave: Educação Ambiental. Capitalismo. Sustentabilidade.
Abstract
The objective is to present and reflect on the different conceptions of environmental
education, which are strongly influenced mainly by political and economic perspectives
to face the crisis of capital. When considering the environmental issue as a central
theme in contemporary society, we believe to be relevant knowledge on trends in EA
critically to understand to what extent are focused on sustainability. For this, we
conducted a comparative study of the main trends and policy perspectives taking into
account the historical context. Based on these, we realize that we must be careful about
what we are talking about environmental education and that, if we truly want advancer
for sustainability.
Keywords: Environmental Education. Capitalism. Sustainability.
1
Realização: Unirio, UFRRJ e UFRJ
Introdução
A questão ambiental é um tema caro na sociedade contemporânea frente ao
modelo econômico desenvolvimentista insustentável adotado, baseado na primazia do
mercado, exploração do trabalho, consumo exacerbado, produção de mercadorias
obsoletas, individualismo, e apropriação ilimitada dos recursos naturais, o qual tem
provocado problemas ambientais que colocam em risco o futuro do planeta e da própria
humanidade.
Imersos em um cenário de crise (do capital) deflagrada nos anos 60, a Educação
Ambiental emerge com diferentes perspectivas teóricas e com o objetivo de apontar
caminhos para minimizar os impactos ambientais. Todavia, percebe-se que tais
perspectivas são fortemente influenciadas por aspectos econômicos criando e
implementando ações educativas em Educação Ambiental ditas sustentáveis.
Frente a isso, de acordo com uma concepção crítica de Educação Ambiental,
este texto tem por objetivo apresentar e refletir sobre como perspectivas políticas vem
influenciando as ações em Educação Ambiental, demonstrando que não é possível ter
sustentabilidade a partir do atual modelo econômico.
A partir deste trabalho reafirmamos que muitas vezes as práticas educativas são
maquiadas com concepções participativas, eficiente, justa, etc. e que “o fracasso da
promessa desenvolvimentista na solução de problemas globais fez emergir, portanto, a
discussão sobre a crise ambiental e os modelos de desenvolvimento”. (PINTO, 2002,
p.22).
Para apresentar as discussões propostas, este texto se divide em três partes, além
desta introdução. A seguir buscamos apresentar algumas características das perspectivas
em Educação Ambiental que corroboraram com os pressupostos das teorias políticas e
econômicas para amenizar e/ou solucionar os problemas ambientais em um contexto de
crise. Posteriormente, enfatizamos o que vem acontecendo na última década, no que diz
respeito às influencias de uma tendência política que tende a humanizar o capital na
tentativa de buscar por soluções e/ou superação da crise socioambiental, mas na verdade
alicerça-se numa “ideologia” voltada para os interesses do desenvolvimento capitalista
imbricados em ações e conceitos no âmbito da Educação Ambiental. Finalmente
tecemos algumas considerações sobre o todo.
Caminhos da Educação Ambiental em um contexto de crise
Carvalho (2011) brevemente discorre sobre os caminhos da Educação Ambiental
no Brasil, apontando que ela surgiu, a partir de um movimento social ecológico, frente a
preocupação “com o futuro da vida e com a qualidade da existência das presentes e
futuras gerações”. (p.51)
Concebida como uma prática capaz de conscientizar e chamar a atenção para a
crise que estava emergindo, o atributo ambiental constitui um traço identitário da
Educação, que propõe discutir os problemas ambientais por meio de práticas
educativas/formação dos indivíduos. A consolidação do termo Educação Ambiental
correu em 1972, durante a Conferência de Estocolmo, marcando sua origem num
2
contexto histórico determinado, de efervescência dos movimentos ambientalistas em
prol de uma educação para o ambiente.1
Portanto, com suas raízes no movimento ambientalista, que pauta suas ações em
diferentes concepções, a EA foi ganhando espaço nas discussões de políticas públicas,
bem como no campo educacional, sendo pensada e praticada de diferentes formas.
Alguns autores consideram apenas duas grandes tendências em Educação
Ambiental, outros demarcam mais, no entanto, neste trabalho consideramos pertinente
abordar as que Layrargues e Lima (2011) apresentam, pois entendemos que tais
concepções incitam três momentos históricos, influenciados pelas mudanças no campo
econômico. Assim, a seguir, apresentamos as vertentes conservadora2, pragmática e a
crítica.
Diante do importante fato de a EA ter se deflagrado em um contexto de crise 3,
nas décadas finais do século XX (anos 60/90), - entendida aqui como uma crise do
capital, também chamada por Guimarães (2004) de crise civilizatória4 - as ações em prol
dessa temática, primeiramente, foram respaldadas na vertente conservadora, as quais
impulsionaram mudanças no comportamento humano, de forma individual, que fossem
capazes de minimizar os impactos ambientais e buscar resolver os problemas. Nesse
contexto, esta vertente concebia a Educação Ambiental como um saber e uma prática
fundamentalmente conservacionistas, ou seja, uma prática educativa que tinha como
horizonte o despertar de uma nova sensibilidade humana para com a natureza,
desenvolvendo-se a lógica do “conhecer para amar, amar para preservar”, orientada pela
conscientização “ecológica” e tendo por base a ciência ecológica. (LAYRARGUES;
LIMA, 2011, p.5)
Apesar de esta vertente ter imperado até o início dos anos 90, de acordo com
Layrargues e Lima (2011), ela possuía um potencial limitado, pois não considerava as
“dinâmicas sociais e políticas e seus respectivos conflitos de interesses e poder” (idem
p. 8). Foi então que, a partir da insatisfação com os rumos que essa perspectiva de
Educação Ambiental vinha tomando e, também, com a tomada de consciência sobre o
seu papel diante da crise pelos educadores ambientais, surgiram outras correntes na
tentativa de enfrentar os problemas. Dessa forma, há um desvio que institui uma
“derivação da vertente conservadora, à medida que é sua adaptação ao novo contexto
social, econômico e tecnológico” (LAYRARGUES; LIMA, 2011, p. 10-11), e outra que
rompe.
A nova roupagem da vertente conservadora institui-se na vertente pragmática.
Esta se limita a práticas educativas conteudistas, ahistóricas, apolíticas, instrumentais e
normativas, “reduzindo os humanos à condição de causadores e vítimas da crise
1
Nesse ínterim vale ressaltar que há autores que consideram dispensável o adjetivo ambiental do
substantivo educação, visto que toda educação é ambiental, pois não é possível uma educação fora do
ambiente.
2
As correntes filosóficas que expressavam essa vertente eram representadas pela conservacionista,
comportamentalista, Alfabetização Ecológica e do autoconhecimento. (LAYRARGUES; LIMA, 2011).
3
Para alguns autores, a constatação dessa crise foi apenas no âmbito ambiental, frente ao modelo
desenvolvimentista insustentável adotado que se apropria de forma ilimitada dos recursos naturais,
passando a provocar problemas ambientais.
4
A concepção de crise civilizatória articula-se à concepção de crise socioambiental citada por Guimarães
(2004), à medida que defende a necessidade de compreender que as questões ambientais (capacidade de
se relacionar do um com o mundo) e sociais (capacidade de relacionar-se do um com o outro) estão
entrelaçadas no interior da crise.
3
ambiental, desconsiderando qualquer recorte social” (LAYRARGUES; LIMA, 2011,
p.7)
Noutras palavras, essa perspectiva percebe o meio ambiente destituído de
componentes humanos, como uma mera coleção de recursos naturais em processo de
esgotamento, aludindo-se, então, ao combate ao desperdício e à revisão do paradigma
do lixo que passa a ser concebido como resíduo, ou seja, que pode ser reinserido no
metabolismo industrial. Nesse sentido, essa vertente representa uma forma romântica de
ajustamento ao contexto neoliberal que “apela ao bom-senso dos indivíduos para que
sacrifiquem um pouco do seu padrão de conforto e convoca a responsabilidade das
empresas para que renunciem a uma fração de seus benefícios em nome da
governabilidade geral.” (LAYRARGUES; LIMA, 2011, p.10). Assim, o principal foco
da vertente pragmática pauta-se no uso racional ou sustentável dos recursos naturais.
Contra essa concepção, estrutura-se a outra tendência, alternativa, denominada
crítica, a qual rompe com os pressupostos apresentados anteriormente pelas duas
vertentes. Sobretudo antes de avançarmos vale ressaltar e reiterar, de acordo com
Layrargues e Lima (2011), que as tendências pragmática e crítica foram obrigadas a se
atualizar e refinar premida pelas transformações e desafios do mundo contemporâneo
tais como o processo de globalização multidimencional, a revolução tecnológica, a
falência do socialismo real, a redução do papel regulador do Estado e o avanço de
ideologias e políticas pragmáticas identificadas com a lógica do mercado e com a
filosofia do neoliberalismo. (p. 12)
No entanto, Guimarães (2004) diz que essa adaptação, no que tange à concepção
de Educação Ambiental Crítica, não significa a ressignificação de algo anterior ou
aperfeiçoamento metodológico, mas sim a contraposição de algo já existente, como
forma de superação ou solução para problemas ambientais que se colocam diante da
grave crise socioambiental.
Portanto, a Educação Ambiental Crítica vem contrapor-se à concepção
conservadora e pragmática, tentando superar a “visão social de mundo” (LÖWY, 1994,
apud GUIMARÃES, 2004, p. 26) desintegrada, fragmentada, reduzida, individualista,
comportamentalista, simplista, unilateral, ou seja, que desconsidera a diversidade
existente na relação entre homem e natureza e a complexidade do cotidiano.
Nesse contexto, a perspectiva Crítica, a partir de um novo referencial teórico
embasado principalmente nas premissas de Paulo Freire, passa a subsidiar uma leitura
problematizadora e contextualizada do real, “mais complexa e instrumentalizada para
uma intervenção que contribua no processo de transformação da realidade
socioambiental” (GUIMARÃES, 2004, p.27). Eis a essência dessa linha, negada pelas
demais. Desvelar os embates (conflitos e problemas ambientais) presentes nas relações
de poder para que, numa compreensão complexa do real, instrumentalize os atores
sociais para intervir na realidade, permitindo ir além e, a partir da reflexão, construir
uma nova compreensão de mundo.
Para isso, esta vertente apoia-se “na revisão crítica dos fundamentos que
proporcionam a dominação do ser humano e dos mecanismos de acumulação do
Capital, buscando o enfrentamento político das desigualdades e da injustiça
socioambiental” (LAYRARGUES; LIMA, 2011, p.11). Dessa forma, procura
contextualizar e politizar o debate ambiental, incorporando questões culturais,
individuais, identitárias e subjetivas que emergem com as transformações das
sociedades contemporâneas, a ressignificação da noção de política, a politização da vida
4
cotidiana e da esfera privada, expressas nos novos movimentos sociais e na gênese do
próprio ambientalismo.
Seus objetivos, portanto, são: “promover ambientes educativos de mobilização
destes processos de intervenção sobre a realidade e seus problemas socioambientais,
para que seja possível, nestes ambientes, superar as armadilhas paradigmáticas e
propiciar um processo educativo” (GUIMARÃES, 2004, p. 30).
Com isso, é possível perceber que esta concepção luta por uma nova forma de
organização da sociedade, no sentido de ela se relacionar com o meio numa perspectiva
crítica, emancipatória, transformadora, popular, frente à necessidade de conceber os
problemas ambientais associados aos conflitos sociais. Afinal, de acordo com
Layrargues e Lima (2011, p. 8) “as causas constituintes dos problemas ambientais [têm]
origem nas relações sociais, nos modelos de sociedade e de desenvolvimento
prevalecentes”.
A partir da exposição sobre as diferentes concepções em EA o objetivo passa a
ser pela tentativa de estabelecer uma ampliação sobre as práticas pautadas em tais
perspectivas de forma crítica, para que possamos perceber em que medida elas
realmente se voltam para o enfrentamento da crise do capital.
O cenário da última década: a influência do capital humano
Entrelaçada aos movimentos apresentados anteriormente podemos dizer que
diferentes perspectivas teóricas políticas buscaram incessantemente empregar uma
sustentabilidade na lógica desenvolvimentista, ou seja, implementar um processo mais
efetivo de “humanização do capital”. Este movimento, por sua vez, refletiu seus ideais
no âmbito da Educação Ambiental, a qual, conforme já vimos também possui diferentes
correntes, sendo a Crítica apontada como algo novo, que contrapõe todas as relações
existentes até o momento.
De acordo com Silva e Lenardão (s/d) a Teoria do Capital Humano se constitui
numa ferramenta para a adaptação e dominação dos cidadãos, que tem por objetivos
servir aos interesses do capital, “formando a mão de obra útil e necessária com os
valores e atitudes que fomentam e ajudam o capitalismo em sua perpetuação” mantendo
a estrutura existente e aumentando as mazelas sociais. (p.515)
Nas palavras de Frigotto (s/d)
trata-se de uma noção que os intelectuais da burguesia mundial produziram
para explicar o fenômeno da desigualdade entre as nações e entre indivíduos
ou grupos sociais, sem desvendar os fundamentos reais que produzem esta
desigualdade: a propriedade privada dos meios e instrumentos de produção
pela burguesia ou classe capitalista e a compra, numa relação desigual, da
única mercadoria que os trabalhadores possuem para proverem os meios de
vida seus e de seus filhos – a venda de sua força de trabalho. (FRIGOTTO,
s/d. grifo no original)
O significado de “humanização do capitalismo”, portanto, se insere no contexto
contemporâneo, por meio de medidas que maquiam a perversidade da economia de
mercado, incorporando a ela sentidos de justiça social. As contradições inerentes dessa
concepção política refletem, por exemplo, na elaboração/implementação de Políticas
5
Públicas, as quais não instigam a cultura participativa, mas sim ações individuais e
hierarquizadas, voltadas para um público com demandas específicas – políticas
focalizadas de alívio à pobreza – e ainda responsabilizando-os pela sua condição social.
A Educação Ambiental nesse ideário passa então a ter também seu papel e
função deturpados. Nela é depositada a função de implementar práticas educativas que
corroborem com a lógica capitalista. Conforme vimos anteriormente, essas ações estão
imbricadas em mudanças comportamentais superficiais e individuais, como formas
eficazes e únicas de superar a crise. A máxima predominante diz que “se cada um fizer
a sua parte, conseguiremos...”. A questão que fica é compreender onde exatamente se
chega, pois a produção não diminui, por conseguinte, o uso, e muito menos o descarte.
Nesse contexto a Educação Ambiental, muitas vezes se resume a prática dos três
Rs – Reutilizar, Reaproveitar e Reciclar – apesar de importante e necessária, cabe
ressaltar que exige dos cidadãos uma postura crítica sobre como esta via de ação
educativa nos é colocada. Tais ações são apenas uma forma de colaborar e não são o
suficiente frente ao que efetivamente precisa ser feito para superar uma crise.
Corroborando com esse entrave prega-se o consumo consciente.5
As reflexões anteriores e a seguir exprimem que os objetivos do Capital Humano
estão imbricados de forma mascarada no cotidiano. No âmbito social, por exemplo,
podemos refletir sobre as "entre linhas" da parceria entre público/privado,
público/Organizações não governamentais e voluntariado.
Os movimentos empreendidos nas parcerias tem por finalidade a busca pela
eficácia na prestação de serviços, ou seja, trata-se da diminuição de gastos e do aumento
de resultados, este princípio aparentemente inocente, ou até mesmo positivo faz parte da
lógica mercadológica a qual incentiva a reforma da aparelhagem Estatal e novas
organizações capazes de resolver os problemas sociais. Isto pode ser traduzido pelo
desejo de desresponsabilização do Estado com as questões sociais, incentivando o
compartilhamento do poder, fazendo da configuração do Estado como algo necessário,
ou seja, em regime de colaboração. No entanto, defendemos que cabe ao Estado assumir
seu papel regulador. É para este fim que deve se estabelecer numa sociedade em que
busca soluções para uma crise.
No âmbito da EA podemos citar sobre as influencias políticas no conceito de
Desenvolvimento Sustentável. De acordo com Pinto (2002) o conceito de
desenvolvimento sustentável foi aplicado nos anos 90, depois da conferência Rio+20,
como resultado de um debate técnico-científico e ideológico, o qual em sua essência
exige uma revisão do modelo desenvolvimentista baseado no uso ilimitado
dos recursos naturais para a manutenção das necessidades colocadas pela
sociedade industrial de consumo: crescimento econômico mantido a qualquer
custo, criação constante de falsas necessidades para o aumento da produção e
do consumo.” (PINTO, 2002, p.23).
Na perspectiva neoliberal o conceito de desenvolvimento sustentável assume um
falso discurso, utilizando a noção de sustentabilidade para implementar ações
insustentáveis, sendo muitas vezes atrelado “como um rótulo empresarial, como uma
5
Sobre este tema vale a pena assistir ao documentário disponível no site do You Tube, “A história das
coisas”, que vai direto ao ponto: como colaboramos diariamente pra destruir o planeta. O vídeo mostra
passo a passo a cadeia de eventos que vai da exploração dos recursos naturais, passando pelo produto
manufaturado, a compra e o descarte.
6
estratégia de marketing, como uma panaceia que legitima desmandos e atrocidades”
(PINTO, 2002, p. 23) do mercado no mundo capitalista e globalizado. Sendo assim, é
necessário um olhar crítico que ultrapasse a aparência, e busque a essência do discurso
que se implementa no âmbito da educação ambiental “para desvendar para quais
interesses se voltam” (idem).
Por conta disso, “há de se analisar o famigerado conceito de sustentabilidade que
prega um desenvolvimento economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente
correto” (BOFF, 2012, p.43), mas que na essência é contraditório, pois sustentabilidade
e desenvolvimento, na conjuntura capitalista, apresentam lógicas distintas e que auto se
negam, ou seja, coletividade x individualismo, cooperação x competição, entre outros.
Leff (2010) vai mais a fundo nesta questão ao entrar no mérito da economia, que
não reviu seus paradigmas, ou seja, o crescimento econômico ainda se assenta no
consumo destrutivo da natureza, na criação de riqueza e do bem comum, a partir do
egoísmo individual e da iniciativa privada.
Numa conjuntura neoliberal, de enfraquecimento do papel do Estado, o mercado
tem o papel de regular a economia, a crise ambiental e ativar o processo de crescimento
sustentado, porém
o resultado de mais de duas décadas de inserção dos governos neoliberais na
América Latina na globalização econômica não foi um maior equilíbrio
ecológico e equidade social. Ao contrário, incrementou-se a pobreza,
ampliou-se a desigualdade social e aprofundou-se a insustentabilidade.
(LEFF, 2012, p. 27)
Nesse sentido, o mercado, que transforma a natureza e o homem e dita falsos
equilíbrios, não é capaz de assimilar e promover a verdadeira sustentabilidade, que está
limitada a um discurso falacioso que não se estabelece na prática.
Cabe reiterarmos que frente a falta de homogeneização do conceito de
sustentabilidade, todas as teorias políticas citadas anteriormente reconhecem a
contribuição da educação em direção à sustentabilidade, no entanto, cada uma delas
implica em diferentes projetos de educação ambiental. De acordo com Zacarias (2002)
apesar da leitura de sustentabilidade ligada a primeira [e segunda] corrente
[conservadora e pragmática], a educação ambiental se limita a internalizar
valores de conservação da natureza, ou seja, vai ser reduzida a um processo
geral de conscientização, à incorporação de conceitos ecológicos, não
ultrapassando as fronteiras da educação conservacionista, tendo como
compromisso principal apenas uma mudança de comportamento.
(ZACARIAS, 2002, p. 93-94).
A ideia apresentada pela autora corrobora com o que citamos acima sobre
consumo consciente empregado como responsabilidade individual, forçando a acreditar
que a sociedade é a única culpada pela crise, e, na medida em que não cumprimos nossa
parte ou assumimos nossas responsabilidades para com o meio ambiente
permaneceremos imersos nesse contexto. A verdadeira intencionalidade do discurso
com base no capital humano é mascarada, e a crise por sua vez perpetua
concomitantemente ao crescimento econômico.
7
Nesse ínterim, Filho (2010) coloca que tal “crise ambiental vem questionar a
racionalidade desse modelo”, e alerta para necessária “reflexão crítica sobre a forma
como a sociedade se relaciona com a natureza”, procurando outra forma radical de
“racionalidade, que considere as complexas interações que envolvem a dinâmica
sensível da natureza, [e] que, ao mesmo tempo, também contemple as necessidades
materiais indispensáveis à sociedade.” (p.84). Noutras palavras, é preciso impedir que a
exploração dos recursos naturais continue sendo desenvolvida na lógica exploracionista,
a qual não se preocupa com o esgotamento, nem mesmo com a qualidade do meio
ambiente, tendo como princípio máximo o progresso e a modernização.
A corrida, portanto, vai além do combate ao desperdício, a poluição, a
obsolescência dos produtos, ao incentivo do consumo, escassez dos recursos naturais,
dentre outros, é preciso buscar por uma essência de sustentabilidade que rompa com a
lógica desenvolvimentista, a qual de acordo com Filho (2010), pelo menos ainda, não se
sabe ser possível conciliar preservação e crescimento no contexto capitalista.
Algumas considerações
O conhecimento sobre as perspectivas teóricas de Educação Ambiental e
política, a partir de uma perspectiva crítica, nos permite compreender que a crise
socioambiental é reflexo de um modelo de desenvolvimento econômico adotado pela
sociedade na qual é diretamente, e principalmente, influenciada pelos interesses do
mercado voltado para incentivar o consumo, o individualismo, a apropriação ilimitada
dos recursos naturais, acumulação de capital, maximização do lucro, alta produtividade
em curto prazo, dentre outros. Tudo isso está imbricado no projeto de humanização do
capital, ou seja, em um projeto capitalista de desenvolvimento que precisa conviver com
as pressões sociais, e assim o faz mascarando suas ações para manter um modelo
insustentável que coloca em risco o planeta e a humanidade.
A partir dessas considerações, torna-se imprescindível ter clareza sobre o que se
entende e faz em termos de Educação Ambiental, pois ao tomar conhecimento das
especificidades de cada vertente torna-se possível, num primeiro plano, desmistificar o
conceito de Educação Ambiental por trás de determinadas ações, práticas pedagógicas e
sociais, estratégias de marketing e, até mesmo de visão de mundo. Além disso, é útil e
necessário para (re)pensarmos e/ou nos posicionarmos de outra maneira, frente ao que
nos é posto em diferentes práticas, contextos, a fim de corroborarmos a essência plural
da Educação Ambiental.
Por fim, ao considerarmos como papel oficial da Educação Ambiental a busca
pela sustentabilidade, a teoria política neoliberal coloca vários impedimentos no seu
avanço. Nesse processo, a conclusão que podemos chegar é a de que nossa postura deve
ser de criticidade para com as ações educativas, principalmente no âmbito ambiental,
para que ela não se torne um instrumento a serviço da burguesia para perpetuação do
modelo político e econômico que vigora.
8
Referências
BOFF, L. Sustentabilidade. O que é – o que não é. Petrópolis-RJ: Editoria Vozes,
2012.
CARVALHO, Isabel C. de M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico.
5ª ed. São Paulo: Cortez, 2011.
FILHO, Gerson Romero de O. A crise ambiental sob a ótica do modelo de
desenvolvimento capitalista brasileiro. CES Revista, v. 24, p.121-132, 2010.
FRIGOTTO, Gaudêncio. Capital Humano. Dicionário da Educação Profissional em
Saúde. Disponível em: <http://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/caphum.html>.
Acesso em 25 out. 2012.
GUIMARÃES, Mauro. Educação Ambiental Crítica. In: Identidades da Educação
Ambiental Brasileira. Philippe Pomier Layrargues (coord.). Brasília: MMA, 2004.
Disponível em: <http://nuredam.kinghost.net/files/documentos_mec/Identidadesda
EducacaoAmbientalBrasileira.pdf#page=27> Acesso em 26 set. 2012.
LAYRARGUES, Philippe Pomier. LIMA, Gustavo Ferreira da Costa. Mapeando as
macro-tendências político-pedagógicas da Educação Ambiental contemporânea no
Brasil. In: VI Encontro Pesquisa e Educação Ambiental – EPEA. Ribeirão Preto:
EPEA, set. 2011.
LEFF, E. Discursos sustentáveis. São Paulo: Cortez, 2010.
PINTO, Vicente Paulo dos S. Ecodesenvolvimento, Desenvolvimento Sustentável e as
Diferentes propostas de Sustentabilidade para a Amazônia Brasileira. In: ZACARIAS,
Rachel; PINTO, Vicente Paulo (org.). Educação ambiental em perspectiva. Juiz de
Fora: FEME, 2002. p.21-37.
SILVA, Edilaine Cristina da. LENARDÃO, Edmilson. Teoria do capital humano e a
relação
educação
e
capitalismo.
Disponível
em:
http://www.uel.br/eventos/sepech/sumarios/temas/teoria_do_capital_humano_e_a_relac
ao_educacao_e_capitalismo.pdf> Acesso em: 25 out. 2012.
ZACARIAS, Rachel. Memórias e Histórias da Educação Ambiental. In: In: ______;
PINTO, Vicente Paulo (org). Educação ambiental em perspectiva. Juiz de Fora:
FEME, 2002. p.87-98.
9
Download

UM OLHAR CRÍTICO SOBRE AS TENDÊNCIAS EM