OPINIÃO 4 — QUINTA-FEIRA, 22 de março de 2007 CORREIO DO POVO Idade mental EMPRESA JORNALÍSTICA CALDAS JÚNIOR Flávio Alcaraz Gomes eus amigos da The Associated Press com quem trabalhei além-mar costumavam dizer que cada palavra que escrevíamos ou pronunciávamos devia ser minuciosamente pesada e apalpada. É que, ao divulgá-la, não estávamos nos dirigindo a colegas, mas a uma multidão de cultura sumamente diversa. Mais: que nos Estados Unidos a idade do público era de 12 anos. Além disso, os que dirigem os meios de comunicação devem saber distinguir opinião pública de opinião popular. É preciso levar em conta que, às vezes, jornalistas em busca de platéia vêem-se cativos das emoções da massa, e não de necessidades genuínas do público. A propósito, o editor do Daily Mail de Londres colocou em seu escritório a mística palavra de ordem “It is ten” (É dez), indicando a idade mental dos leitores do seu jornal. Se nos Estados Unidos é 12 e na Inglaterra, 10, qual será a nossa no Brasil? M [email protected] Salvo-conduto Luiz Tadeu Viapiana uitos dos argumentos expostos no debate sobre a redução da idade penal seriam motivo de piada caso não estivessem relacionados a um tema tão grave como a criminalidade juvenil. A começar pelo próprio presidente, ao dizer que “se aceitarmos a diminuição da idade para 16 anos, depois será 15, e quem sabe alguém queira punir o feto”. Um senador quer nos fazer acreditar que o importante não é a idade biológica, mas a idade mental, como se as duas não estivessem, em regra, correlacionadas. Conclusão: um jovem de 16 anos tem idade mental para votar em Lula, mas não para responder por seus crimes. Um tal Conselho Nacional da Juventude argumenta que reduzir a maioridade penal é “expor os jovens aos mecanismos reprodutores da violência”. Já que as prisões são muito ruins mesmo, é melhor deixar os bandidos serem violentos nas ruas, afinal, nas ruas as vítimas somos nós, não eles. Um eminente representante da OAB paulista afirmou que, se diminuísse a idade penal, a criminalidade não iria baixar. Mero palpite e, ainda por cima, equivocado. No livro “Economia do crime”, cito vários estudos sérios que comprovam o efeito negativo da punição sobre as taxas de crimes. Um professor universitário diz que reduzir a idade penal é inócuo porque não ataca as causas sociais da violência. Se o indivíduo é um mero produto das estruturas e das relações sociais, como podemos puni-lo? Não podemos socializar a culpa e acreditar que os criminosos somos todos nós. O culpado pelo crime é aquele que o comete, e não você ou eu, que não aderimos à cartilha do determinismo social. Há, ainda, quem defenda a idéia de que não se deve “votar leis com base na emoção”, como se a emoção não fosse algo inerente à condição humana e, no caso, inteiramente justificável. Afinal, quem não se comove diante de um crime hediondo como a morte do menino João Hélio? A redução da idade penal vem conquistando crescente apoio porque a sociedade quer a punição dos criminosos e reclama uma reparação aos danos cada vez mais graves impostos pelos delinqüentes. Há algo de errado nisso? Aliás, não é essa a essência da Justiça? René Girard dizia que o poder Judiciário surgiu para substituir a vingança individual pela vingança social. Além disso, a sociedade sabe que, presos, os bandidos estarão incapacitados de cometer novos crimes. Não punir severamente adolescentes infratores é como dar-lhes um salvo-conduto para cometer outros delitos e dizer-lhes: “Continuem, a gente não está nem aí com o que vocês estão fazendo”. M Presidente: Renato Bastos Ribeiro Diretor Comercial: Aluizio Merlin Ribeiro Diretor Adjunto: Rogério Merlin Ribeiro Diretor Administrativo: Carlos Alberto Bastos Ribeiro Diretor Industrial: Élbio Marcellus da Luz Diretor de Circulação: Selvino Mariano Ziliotto Diretor de Redação: Telmo Ricardo Borges Flor REDAÇÃO: Rua Caldas Júnior, 219 - Porto Alegre, RS – CEP 90019-900 Fone (51) 3215.6111 – FAX (51) 3224.4130 Internet: www.correiodopovo.com.br [email protected] COMERCIAL: Rua dos Andradas 972, esquina rua Caldas Júnior Fone (51) 3215.6111 Ramais 6172 e 6173 – FAX (51) 3224.1862 Atendimento às Agências – Fone (51) 3215.6170 Anúncios Fonados – Fone (51) 3215.6110 [email protected] CLASSIFICADOS: Rua dos Andradas 972, esquina rua Caldas Júnior Fone (51) 3216.1610 – FAX (51) 3216.1611 Atendimento às Agências – Fone (51) 3216.1622 Anúncios Fonados Classificados – Fone (51) 32.16.16.16 [email protected] FUNDADO EM 1O DE OUTUBRO DE 1895 Definição de crime organizado de Constituição e Justiça do Senado aprovou o projeto A Comissão de lei que define crime organizado, disciplina a investigação crimi- nal e estabelece pena para os envolvidos. O relator do processo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), assegura que o projeto contribuirá para preencher uma lacuna jurídica que dificulta a atuação para o combate ao crime organizado. Pelo texto aprovado, organização criminosa é a associação de três ou mais pessoas, caracterizada pela divisão de tarefas para obter vantagem, mediante a prática de crimes como tráfico de drogas, terrorismo, contrabando de armas ou crimes contra a administração pública. Estabelece, ainda, penas que podem variar de cinco a dez anos de reclusão. E prevê perda de função, emprego ou mandato eletivo para funcionário condenado por integrar organização criminosa. O projeto seguirá para a Câmara, que deverá votá-lo. Aperfeiçoar a legislação penal para que o Estado possa combater com maior eficiência essa praga que é a proliferação de organizações ASSINATURA MENSAL criminosas tem sido uma exigência da sociedade organizada que soCAPITAL R$ 19,00 INTERIOR R$ 22,00 fre os efeitos da impunidade, fator que estimula a onda de violência ASSINATURAS E ATENDIMENTO AO ASSINANTE: que se registra em todo o país, nas cidades e nas áreas rurais, com Rua Caldas Júnior, 219 – Fone (51) 3216.1600 intensidade avassaladora. Muito precisamos avançar – tarefa do [email protected] der Legislativo – na revisão da legislação para que a Justiça, na apliFiliado INSTITUTO ASSOCIAÇÃO cação de suas sentenças, possa impor o rigor na penalidade para VERIFICADOR NACIONAL DE CIRCULAÇÃO DE JORNAIS condenados por delitos enquadrados na definição de crime organizado. Esse parece ser o sentido do projeto agora aprovado pela [email protected] são de Constituição e Justiça do Senado ao definir, de forma explíci- DO LEITOR ta, o crime organizado. Cortes de energia Dispondo de leis que possam embasar sentenças aplicadas pela Não tenho visto nenhuma reclamação sobre falta de luz prática de crimes que em sua execução foi necessária a associação de em relação à vila Mapa, na Lomba do Pinheiro. Será porque os cortes ocorrem na madrugada, quando todos dortrês ou mais pessoas, talvez a Justiça venha ainda a contar com a mem e não conseguem saber quantas vezes a energia é possibilidade de impedir que criminosos contumazes sejam beneficia- interrompida? Em uma única noite, ocorreram três cortes dos, por exemplo, com a permissão de serviço externo. A sociedade de energia. Não há como reclamar nem em caso de queide eletrodomésticos, pois só temos conhecimento recebe com indignação notícias de que condenados, como no caso de ma quando os nossos relógios amanhecem piscando e não assaltantes de bancos, possam desfrutar de liberdade antes do cum- despertam, atrasando-nos para o trabalho. Dagoberto Valteman, Porto Alegre primento integral da pena. Abrigo Estou inconformado com a situação do abrigo para usuários de ônibus na avenida João Pessoa, frente ao prédio da Ufrgs. Virou ponto-de-venda, cujas bancas ali se instalaram. Os usuários ficam expostos ao sol ou à chuva, enquanto as bancas permanecem sob a cobertura. Manoel G. de Oliveira Barcellos, Porto Alegre AMORIM Lixo Há falta de lixeiras na avenida Assis Brasil, nas proximidades da avenida Grécia. Há muito lixo na rua. Fabiana S. da Silva, Porto Alegre Sinalização Em atenção a Luiz Augusto G. de Souza (CP 3/3), a EPTC informa que, de acordo com estudo detalhado, houve necessidade de reforço em sinalização, com semáforo apenas na Pedro Ivo com a Mariland. Estamos monitorando o cruzamento com a Pedro Chaves Barcelos para estudar a necessidade de sinaleira ou reforço de sinalização. Cláudio Furtado/EPTC, Porto Alegre Os artigos publicados com assinatura nesta página não traduzem necessariamente a opinião do jornal e são de inteira responsabilidade de seus autores. As cartas para o Correio do Leitor, com assinatura, endereço, número da identidade e telefone de contato para confirmação deverão ser enviadas para a Diretoria de Redação do Correio do Povo, na Rua Caldas Júnior, 219, CEP 90019-900. Por razões de clareza ou espaço, as cartas poderão ser publicadas resumidamente. economista PANORAMA POLÍTICO / Armando Burd Tempo joga contra Boa margem O apagão aéreo atinge os níveis mais intoleráveis que se poderia imaginar. Ao mesmo tempo, deixar os familiares das vítimas do acidente com o Boeing seis meses sem explicações agride todos os princípios. O parlamento, a quem cabe fiscalizar, decidiu finalmente intervir. Mesmo que a criação da CPI fosse aprovada, sabe-se que o resultado costuma demorar em média um semestre. Deputados federais agiriam com muito mais inteligência se criassem de imediato comissão externa para cobrar dos responsáveis. Com pretendida divulgação, não devem se preocupar. Seriam acompanhados por repórteres no dia-a-dia da peregrinação e teriam espaço equivalente à CPI. Sairia relatório diário denunciando quem se omite criando o caos nos ares. Osmar Terra foi eleito ontem para a presidência do Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Obteve 17 votos do total de 27, derrotando José Sola, da Bahia. Agora, Terra vai representar os estados na luta contra o subfinanciamento do SUS e pela indispensável regulamentação dos medicamentos de alto custo. No fundo do poço Dois pesos Com a queda da receita, a partir de janeiro, não era difícil prever conseqüências, entre elas o atraso nos salários. Fornecedores e prestadores de serviço ao Estado conhecem esse drama há muito tempo. Em choque: um dia após o presidente Lula dizer que usineiros são “heróis”, a Câmara dos Deputados anuncia investigação sobre denúncias do uso de mão-de-obra escrava em fazendas de cana-de-açúcar. Busca de palanque — Reunião de hoje na Comissão de Serviços Públicos da Assembléia está montada para servir de palanque para exercício verborrágico. Até agora, não há contribuição da frente comandada pelo deputado Francisco Áppio para solução dos problemas de infra-estrutura rodoviária do Estado. Falar em pedágio comunitário significa seguir dependendo de recursos suplementares que o Tesouro nunca tem para dar. Veto em veto Continuando restrições a indicados do PMDB para o Ministério da Agricultura, pode ocorrer W.O., abreviatura de walk over. O termo é usado quando há vitória de um dos competidores por desistência do outro. Neste caso, o PP pode emplacar. Sem vacilar O PPS lançará amanhã José Fogaça à reeleição. Demora do PMDB e posterior prejuízo na definição de candidato do PMDB ao Piratini, em 2006, paira como grande fantasma. Para criar clima Durante as administrações do PT, o assessor de plenário na Câmara Municipal era figura infalível. Por isso, passou a ser chamado de quebra-galho e criador de clima para favorecer votações de interesse do Executivo. O prefeito José Fogaça decidiu agora seguir mesmo caminho, escolhendo Antônio Giroto. Assessorou Antonio Hohlfeldt quando foi vereador e vice-governador. Hoje, nem pia Notícia do Correio do Povo de 22 de março de 2005: “O presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, ameaçou ontem romper com o governo Lula se o deputado federal Ciro Nogueira não for nomeado ministro das Comunicações”. Não pedia. Gritava e mandava. Foguetinho Ildes Maria R. Teixeira: “Estado rico, governo pobre. Até quando?”. Apartes PMDB acha que merece fatia gorda do governo estadual. Grande engano. Explosões emocionais em meio à crise do governo estadual devem ser consideradas atos de sabotagem. Controladores de vôos fora do ar. Os do dinheiro público igualmente. Líderes de PT e PP recebem com naturalidade aliança em Gravataí. Já não fazem política como antes... Ex-ministro Cloraldino Severo foi visto ontem saindo bastante cabisbaixo de um gabinete do 7O andar do Centro Administrativo do Estado. Desvios de recursos públicos pela ONGs nem precisa de CPI. Está tudo claro. É só requerer as prisões. Para o ministro do Turismo, Mares Guia, apagão aéreo não existe. Tem vocação nata para ser um ilusionista. Deu no jornal: “Governo usa trator para barrar CPI”. Engata 5a marcha para descer rápido a ladeira. Outra: “Bancada ruralista pressiona contra Stephanes na Agricultura”. Planta para colher o seu preferido. [email protected]