OPINIÃO 4 — SEGUNDA-FEIRA, 7 de fevereiro de 2005 CORREIO DO POVO Fim da aventura Flávio Alcaraz Gomes iário de bordo da nau Aventura, velejando pela Lagoa dos Patos. Epílogo. * 5a-feira, 9 de fevereiro, Largo da Praia do Sítio. 6 horas da manhã. Já tomamos café, lavamos a louça e começamos a voltar para casa. Ontem pegamos calmaria quase toda a tarde. Ao entardecer, sopra o Sul e içamos cinco velas simultâneas, desde a spinnaker (tipo balão), a genoa, a rabeca, a mezena e a vela grande. Noite fechada quando chegamos ao farol de Itapoã. Um barco enorme, todo iluminado, passa por nós e nos saúda com apitos. Passa depois, em sentido contrário, o Cruzeiro, levando passageiros para o Rio Grande. Fez sol e bom tempo todo o dia. Agora, a noite está cravejada de estrelas e ficamos todos a conversar junto ao cockpit. Hoje completamos 13 dias de navegação a bordo do Aventura, numa aventura fascinante, sem problemas, sem preocupação. Algum dia viveremos em outro mundo assim? EMPRESA JORNALÍSTICA CALDAS JÚNIOR D E-mail: [email protected] Equívocos históricos Francisco Turra sociedade brasileira questiona cada vez mais os motivos de os juros serem tão elevados, os tributos excessivos, a burocracia sem trégua. Questionamentos que se agigantam na medida em que a economia mundial registra euforia. São equívocos nacionais históricos que se somam e, se não contidos, levam à miséria. Apesar de o governo insistir que não há elevada carga tributária, a verdade dos números mostra o contrário. Descontada a inflação, os impostos federais devem encerrar 2004 com aumento real superior a 10%. Em contraposição, é impossível não reparar a grande inflação de buracos nas estradas, a precarização da saúde pública e, pasmem, a piora do nível educacional. Não há como negar que no decorrer do ano passado pagamos mais ao Estado para receber muito menos em contrapartida. Mas o que é feito desse dinheiro? Os técnicos do governo falam em pagar dívidas e reduzir juros, porém, o que se verifica é que as duas importantes frentes de estabilização da economia se fragilizam. O que significa que os nossos recursos, obtidos às custas do suor do trabalho e tristemente desapropriados de forma crescente, servem para pagar despesas de uma máquina estatal que se agiganta em tamanho e em improdutividade. Para piorar, ainda existe o constrangimento de sermos obrigados a discutir no Congresso a medida provisória 232, que aumenta a carga tributária de vários segmentos empresariais, incluindo os produtores rurais. A MP é discriminação contra, por exemplo, o setor de serviços, abrangendo 4 milhões de empresas e responsável pelo emprego de 5 milhões de trabalhadores. A medida contém exigências descabidas. Em um país que precisa se desburocratizar, a MP, em seu artigo sétimo, também aumenta a burocracia e provoca uma ginástica contábil para consultores e contadores. O fato é que o brasileiro está tirando alimento da mesa da sua família para dar a um governo que não mostra serviço. O que mais me surpreende é que a maior parte das lideranças e entidades de defesa dos interesses da população permanece no mais absoluto silêncio. Será que já não basta de tanto absurdo? É preciso racionalizar os gastos públicos. O resultado será a ampliação da pirâmide social, que permitirá às pessoas terem condições de se adequar a patamares a partir dos quais se sentirão mais cidadãs por pagarem impostos. Uma contabilidade que promoverá mais investimentos na área social e na educação e trará necessário bem-estar à população. A Presidente: Renato Bastos Ribeiro Vice-Presidente: Cleonice A. Merlin Ribeiro Diretor Comercial: Aluizio Merlin Ribeiro Diretor Adjunto: Rogério Merlin Ribeiro Diretor Administrativo: Carlos Alberto Bastos Ribeiro Diretor Industrial: Élbio Marcellus da Luz Diretor de Circulação: Selvino Mariano Ziliotto Diretor de Redação: Telmo Ricardo Borges Flor REDAÇÃO: Rua Caldas Júnior, 219 - Porto Alegre, RS – CEP 90019-900 Fone (51) 3215.6111 – FAX (51) 3224.4130 Internet: http://www.correiodopovo.com.br E-mail: [email protected] COMERCIAL: Rua dos Andradas 972, esquina rua Caldas Júnior Fone (51) 3215.6111 Ramais 6172 e 6173 – FAX (51) 3224.1862 Atendimento às Agências – Fone (51) 3215.6170 Anúncios Fonados – Fone (51) 3215.6110 E-mail: [email protected] CLASSIFICADOS: Rua dos Andradas 972, esquina rua Caldas Júnior Fone (51) 3216.1610 – FAX (51) 3216.1611 Atendimento às Agências – Fone (51) 3216.1622 Anúncios Fonados Classificados – Fone (51) 32.16.16.16 E-mail: [email protected] ASSINATURAS E ATENDIMENTO AO ASSINANTE: Rua Caldas Júnior, 219 – Fone (51) 3216.1600 E-mail: [email protected] Filiado Mercosul e Europa urante a 5a Conferência Anual do Fórum Empresarial Mercosul–União Européia, em Luxemburgo, os 200 empresários presentes fizeram um apelo para a retomada das negociações que visam à criação de uma área de livre comércio entre os dois blocos econômicos. Para o grupo empresarial que mantém reuniões anuais desde 1999, a demora nas discussões representa perda de oportunidades comerciais. Entendem, assim, que um acordo entre a União Européia e o Mercosul é importante para dar novo dinamismo às trocas comerciais entre as duas regiões. No encontro, foi apresentado um estudo realizado pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris no qual fica demonstrado que a ausência de uma liberação completa nas trocas comerciais entre os dois blocos teria um custo estipulado em 5 bilhões de dólares por ano. No documento firmado pelos presentes à reunião, ao qual deu-se o título de Declaração de Luxemburgo, os empresários pedem aos governos envolvidos que procurem, corajosamente, soluções para os desafios das negociações. E manifestam a esperança de que as negociações cheguem a bom termo até o final deste ano. A rigor, segundo os empresários de países dos dois blocos, 90% dessa verdadeira maratona de negociações já foi percorrido. Os 10% que faltam, reconhecem os envolvidos, são os mais difíceis. O problema mais sério a ser resolvido para a criação de uma área de livre comércio entre os dois blocos está nas ofertas da Europa em termos de acesso aos mercados agrícolas, consideradas insuficientes pelo Mercosul. Além disso, os países europeus reivindicam do bloco sul-americano maior abertura para o setor de produtos industriais. Em Davos, recentemente, nos bastidores da reunião econômica mundial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o alemão Karl Falkenberg, negociador-chefe da União Européia, trataram da questão e manifestaram que, de ambas as partes, embora as reconhecidas dificuldades, há vontade política para que se chegue a uma solução do impasse. Em nível ministerial, as negociações serão retomadas em março ou abril deste ano. D AMORIM INSTITUTO VERIFICADOR DE CIRCULAÇÃO ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE JORNAIS DO LEITOR E-mail: [email protected] Reciclagem de motoristas O curso que será obrigatório para a renovação das carteiras de habilitação anteriores a 1O de julho de 1997 deveria ter critérios mais claros e não partir do princípio de que todos os motoristas são desorientados e mal informados sobre as leis de trânsito e segurança. Deveria valer apenas para os condutores de veículos que tiveram multa ou acidente de trânsito com danos corporais nesse período. Nesse caso, o curso serviria de reciclagem e teria algum benefício para a sociedade e para os motoristas. Luiz Gustavo Silveira, Porto Alegre Novas tarifas Em atenção à carta de Francisco Camillo (CP 23/01), informamos que, em dezembro de 2000, houve o último reajuste tarifário da Trensurb. Desde então, enquanto a inflação no período chegou a 52,21% (INPC-IBGE) e os ônibus interurbanos da região Metropolitana tiveram alta de 77,27%, a tarifa do metrô foi reajustada em 46,67%. Os custos com energia elétrica de alta-tensão (utilizada para a tração dos trens) foram reajustados em 131,52%, as tarifas de utilidade pública (luz, água, telefone), em 126,48%, e os serviços terceirizados, 129,74%. A decisão se fez necessária para restabelecer níveis compatíveis de receita em relação aos custos operacionais da empresa. Nazur Garcia/Trensurb, Porto Alegre Abuso Considero falta de respeito com quem viaja o alto custo dos pedágios nas estradas do Estado. O governo deveria impor limites aos aumentos de taxas. As rodovias estão razoavelmente conservadas, mas isso não é justificativa suficiente para o abuso considerável no preço dos pedágios. Acabamos pagando pela irresponsabilidade e pela falta de ética de alguns administradores públicos. Hermes José Novakoski, Porto Alegre Os artigos publicados com assinatura nesta página não traduzem necessariamente a opinião do jornal e são de inteira responsabilidade de seus autores. As cartas para o Correio do Leitor, com assinatura, endereço, número da identidade e telefone de contato para confirmação deverão ser enviadas para a Diretoria de Redação do Correio do Povo, na Rua Caldas Júnior, 219, CEP 90019-900. Por razões de clareza ou espaço, as cartas poderão ser publicadas resumidamente. deputado federal e ex-ministro da Agricultura PANORAMA POLÍTICO / Armando Burd Com o dedo na moleira Novo status Chapéu na mão Apartes 1) O Congresso pára quando o senador Pedro Simon sobe à tribuna. Suas entrevistas seguem a mesma característica. A publicada na página 2 desta edição se inscreve entre os pronunciamentos mais fortes de avaliação do governo Lula. Simon foi um dos líderes da ânsia democrática nos anos da repressão. Tem razão ao reclamar do “antro de safadez” em que se transformou Brasília. Foi para isso que houve reconquista dos ideais de liberdade? 2) A bancada do PT quer anular as votações da Câmara Municipal durante a convocação extraordinária. Por isso recorreu à Justiça, que não concedeu a liminar solicitada. Foi a arrancada na oposição depois de 16 anos arrebanhando votos de partidos adversários aparentes da Frente Popular. A ex-senadora Emília Fernandes foi contratada para ser consultora da Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura). Tem Brasília como base e logo começará a visitar os estados. O governador Germano Rigotto, em artigo na Folha de São Paulo, ontem, sob o título “A estranha Federação brasileira”, provoca eco a sua tese: “Precisamos de regras claras e estáveis que eliminem a obrigação imposta aos membros da Federação de buscar em Brasília, como obséquio, o que lhes é devido de direito”. O choro, por enquanto, é livre. Congresso só tem uma unanimidade sobre reforma política: o financiamento público das campanhas. Do jeito que anda crise do PT em Brasília, nem precisa de oposição. Setor da bancada estadual do PP quer botar água no chope do Piratini. Fim para as falsificações: carteira de motorista nos EUA terá tarja eletrônica. Boa saída para o Brasil. No Senado e na Câmara dos Deputados, foram em torno de 4 mil discursos no ano passado e quase todos os problemas do país resolvidos. Quase... Nem Turra nem Covatti para evitar conflito na eleição à presidência regional do PP. Surgirá 3O nome. Deu no jornal: “Lula chama empresários para discutir impostos”. Exemplo para o governador Rigotto. Mais uma: “Palocci diz que FMI fará o que Brasil precisar”. Depois acertará tudo na cobrança de juros. Outra: “PT faz último apelo para que Virgílio desista de concorrer a presidente da Câmara”. Agora ou nunca. Duas perguntas É assim 1) A presidência da Câmara dos Deputados é cargo do Executivo ou do Legislativo?; 2) imagine-se o Piratini se imiscuindo na escolha do presidente da Assembléia. O que diria o PT sobre esse pé na porta? Troca de partidos lembra poeminha danado: “Eu finjo que me filio; tu dizes que me conheces; ele acha tudo normal; nós compartilhamos benesses; vós não vos manifestais; eles que se danem com o prejuízo”. Registro do que viu — 1) O senador Pedro Simon prepara livro sobre o governo Itamar Franco, que para ele foi o melhor dos últimos tempos, apesar das excentricidades; 2) o prefeito de Barra do Quaraí, Maher Jaber, do PT, inovará: uma vez por mês, vai levar a equipe de governo a praça pública para apresentar em um telão o balanço de todas as atividades. A iniciativa já recebeu nome: domingo da transparência. Estréia será no dia 13. Modelo exportação A Secretaria de Relações Internacionais do PT tentará ajudar o Haiti, onde o Brasil cumpre missão de paz, a criar um partido de esquerda unificado. Lá, existem 67. No Brasil, entre os que têm registro definitivo e provisório, são 41. Conclui-se: quanto maior a confusão no país, maior número de partidos políticos. Blocos Secretários estaduais e ministros mapeados para cair poderiam se unir, desfilando no bloco Daqui Não Saio, Daqui Ninguém me Tira. Na Câmara dos Deputados, o nome que se pode sugerir é Falta de Quórum. Para conferir O Correio do Povo de 7 de fevereiro de 2004 publicou duas notícias que merecem ser conferidas. Na 1a página: “Lula diz que não fará aventuras na economia”. Na página 2: “Lula tranqüiliza Rigotto sobre falta de verbas”. Passado um ano, a primeira foi plenamente cumprida. Quanto à segunda, ficou devendo. Foguetinho Léa I. Borges: “Ao completar 25 anos, vê-se que outro PT é possível”. E-mail: [email protected]