HISTÓRIA DAS CIÊNCIAS: UMA ABORDAGEM LÚDICA PARA SE TRABALHAR NO ENSINO DE QUÍMICA Fernanda Cristina da Silva Rangel – [email protected] Instituto Federal Fluminense campus Campos-Centro Campos dos Goytacazes – Rio de Janeiro Manoela Barros Guimarães – [email protected] Rodrigo Maciel Lima – [email protected] Valéria de Souza Marcelino – [email protected] Resumo: Este trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa realizada com futuros professores de Química da região norte do estado do Rio de Janeiro, com o objetivo de investigar se a utilização de jogos como intervenção em uma aula cujo conteúdo abordava a História das Ciências foi eficaz e contribuiu para que seja adotado na futura prática das licenciandas. Para tal, foi solicitado as licenciandas do penúltimo período da licenciatura em Química, que opinassem em relação a aula aplicada. Essas opiniões foram anotadas em um caderno de campo e foram analisadas seguindo a metodologia de Análise Textual Discursiva (Moraes e Galiazzi, 2007). As análises mostraram que o uso do jogo nesta aula foi eficaz e estimulou as discentes do sétimo período do curso de Licenciatura em Química a utilizarem esta abordagem em sua futura prática docente. Palavras-chave: História das Ciências, Análise Textual Discursiva, Jogos. 1 INTRODUÇÃO As universidades existentes no Brasil podem ser consideradas novas se comparadas com as européias, porém tem utilizado com grande frequência os meios culturais e científicos para se firmar. Na década de sessenta estas universidades começaram a receber faculdades voltadas para a área da educação, este foi o estopim para o início dos estudos em relação à formação de professores, embora os cursos de licenciatura já existirem desde a década de trinta (PEREIRA, 1999). A maioria dos cursos de licenciatura em Química ainda não superaram o modelo 3 + 1 estabelecido em 1962. Este é interpretado como três anos de formação técnica em que o foco central dos estudos era baseado no conteúdo específico da área de atuação e mais um ano com disciplinas pedagógicas, abrangendo também as práticas de ensino e os estágios supervisionados (OSTERMANN, 2001; SCHNETZLER & SILVA, 2001). Este modelo orienta-se pelo paradigma taylorista, que concebe ao trabalho dos professores a característica das alienadas repetições, ou seja, um caráter extremamente pautado no tradicionalismo (NÓVOA, 1997; SANTOMÉ, 1998). Nos últimos vinte anos o modelo que contempla práticas voltadas para o pragmatismo e a mecânica vem sendo contestado, pois, está sendo observado que os currículos de formação dos docentes voltados para o modelo tradicionalista tem se tornado desapropriado para a realidade dos educadores (ECHEVERRÍA et. al., 2006). Segundo Bakhtin (1981), o docente necessita se libertar dos autoritarismos impostos, ele precisa ganhar voz. Os educadores sempre são apontados como aqueles que inserem a má qualidade no ensino, no entanto, foram raros os momentos em que estes puderam opinar sobre sua prática pedagógica. Conforme Shulmam (1986) existem três aspectos importantes que o professor deve conhecer para obter uma boa formação, estes são: o conhecimento do conteúdo, o conhecimento pedagógico do conteúdo e o conhecimento curricular. O conhecimento do conteúdo é aquele específico da área de atuação do docente, por exemplo, a Química. Para Shulman a diferença entre um químico e um professor de Química é a forma como o conteúdo é demonstrado e neste momento se caracteriza o conhecimento pedagógico do conteúdo (SHULMAN, 1986). O segundo conhecimento é o que concede ao educador a capacidade de captar e compreender as dificuldades que os discentes apresentam e quais as relações que o educando precisa obter do conteúdo com sua realidade. Adquirir esse conhecimento tem por significado a compreensão do professor de que aprender a ciência é algo que requer a atribuição de múltiplos significados a “linguagem da cultura científica” (DRIVER et. al., 1999). O conhecimento curricular está voltado para os conteúdos abordados, a relação existente entre eles e os objetivos de seu ensinamento (SHULMAN, 1986). Outros aspectos devem ser apontados quando o assunto é formação de professores. Os conhecimentos que Shulman considerou são exemplos que devem existir na prática pedagógica. Esses conhecimentos devem ser abordados na formação inicial do licenciando, por esse motivo “o rompimento com o modelo que prioriza a teoria em detrimento da prática não pode significar um currículo de supervalorização da prática em detrimento da formação teórica”. No que se refere aos cursos de Química, as diretrizes curriculares demonstradas no Parecer 1303/2008 afirmam a importância da História da Química para a formação de licenciandos, capazes de “questionar situações, sistematizar problemas e buscar criativamente soluções” (BARRET, 2001). Esta disciplina apresenta os conteúdos de Química de uma maneira histórico-educacional e aborda epistemologicamente a História da Química analisando seus valores pedagógicos, geralmente esta é trabalhada no último período do curso. Sendo assim os futuros professores não conseguem aliar os conteúdos científicos com sua construção histórica, e sim os apresentam de uma forma que leva os seus alunos a um entendimento de que a ciência não é fruto de um processo e que não sofre nenhuma influência do contexto onde se desenvolveu. Mantendo o mito de que a ciência é neutra e superior (MORTIMER & SANTOS). Dessa forma surge uma importante questão: como pode ser inserida a História da Ciência no ensino de Química com o auxílio de um jogo didático? Desse modo a proposta desse trabalho consistiu em aplicar uma aula aos graduandos do penúltimo período do curso de Licenciatura em Química com o intuito de exemplificar como poderiam introduzir a História da Ciência nas suas futuras aulas de Química com o auxílio de um jogo pedagógico. 1.1 Intervenções pedagógicas no ensino de Química No que diz respeito à História da Ciência (HC) destacam-se autores como Matthews (1994) e Briccia e Carvalho (2011) que argumentam que a HC pode contribuir como uma alternativa de intervenção pedagógica no ensino de ciências almejando enfrentar as dificuldades presentes nessa área. Matthews defende que o uso da HC proporciona uma aula mais atrativa e reflexiva, possibilitando uma melhor compreensão dos conteúdos científicos e contribui para um aperfeiçoamento na formação dos professores. Ademais, Matthews sintetiza alguns pontos favoráveis à inclusão da HC no currículo de ciências. Ele argumenta que a HC promove um melhor entendimento dos conceitos e métodos científicos e favorece uma conexão do pensamento desenvolvido individualmente com o desenvolvimento das ideias científicas e uma melhor visão da natureza da ciência (MATTHEWS, 1994). Oliveira e Silva (2013, p. 320) afirmam que diversos autores apontam a inclusão da História das Ciências como uma estratégia pedagógica eficiente para esclarecer aspectos da natureza da ciência, os quais proporcionariam aos alunos uma visão adequada sobre a ciência. Ainda lembram que quando os conteúdos são apresentados já elaborados, os alunos são levados a adquirirem uma visão de ciência não muito diferente da maioria da população, acreditando que a construção do conhecimento científico se dá pelo método universal. De acordo com Briccia e Carvalho, a exposição da HC aos alunos providencia um reconhecimento de que os conhecimentos da ciência estão sujeitos a mudanças e reformulações, rompendo, desse modo, com a ideia de que o conhecimento científico é um modelo único irrefutável (BRICCIA & CARVALHO, 2011). Outra estratégia facilitadora do ensino e da aprendizagem é o uso de jogos didáticos. Estes são recursos pedagógicos conhecidos no mundo acadêmico, no entanto, ainda é pouco compreendido e utilizado pelos docentes. De acordo com Arouca, o jogo é uma ferramenta pedagógica viável de ser aplicada como uma proposta de ensino (AROUCA, 1996). Desse modo, é válido incentivar o uso de jogos no ensino de iências, devido possibilitarem uma motivação ao aluno e permitirem sua participação ativa durante o processo de ensinoaprendizagem. 2 METODOLOGIA Essa pesquisa foi realizada com licenciandas que cursaram o penúltimo período do curso de Ciências da Natureza - Licenciatura em Química no ano de 2014. O último ano foi selecionado devido as graduandas, neste estágio, já terem cursado a maior parte das disciplinas presentes na matriz curricular do curso e ter cumprido todo o estágio supervisionado, tendo a capacidade de opinarem em relação ao trabalho apresentado. Portanto, a pesquisa foi realizada com duas licenciandas de uma instituição de nível superior. Esse número pequeno de alunas se dá devido à grande evasão no curso citado anteriormente. Foi aplicada uma aula no penúltimo período do curso abordando a História da Ciência, a disciplina que aborda esse conteúdo é ministrada somente ao final do curso. Devido às graduandas terem acesso a essa disciplina somente após terem contato com diversos conteúdos específicos, notou-se um olhar diferenciado por parte das mesmas em relação a esta matéria. Reconhecendo esse fato, foi abordada em aula uma parte do conteúdo da História da Ciência, com a finalidade de mostrar as licenciandas a viabilidade desta abordagem em sua futura prática docente, utilizando uma ferramenta diferenciada para estimulá-las a conhecer a história de muitas descobertas que hoje são utilizadas no próprio curso. A ferramenta escolhida para auxiliar a abordagem da História da Ciência foi o jogo da memória (Figura 1) com o intuito de realizar uma analogia com a proposta, uma vez que essa modalidade de jogo requer do jogador uma ativação da memória capaz de construir as associações corretas de cartas e, ao mesmo tempo, o jogador é estimulado a conhecer ou relembrar os cientistas que contribuíram para as descobertas científicas ocorridas em períodos desde a pré – história até o século XXI. As cartas do jogo foram divididas em cinco fases sendo representadas por cores diferenciadas. Cada fase era composta de seis pares de cartas, sendo formado de 30 pares ao total. Os pares de cada fase continham uma carta com o ano da descoberta e uma representação e uma segunda carta contendo informações sucintas acompanhadas do ano que foi feita a descoberta científica. As regras do jogo foram semelhantes à de um jogo da memória tradicional. Neste, as cartas estavam dispostas e misturadas sobre a mesa com as faces voltadas para baixo, com intuito de não serem visualizadas. Cada discente, na sua vez, deveria escolher duas peças e permitir que todos os participantes do jogo as visualizassem. Caso fosse selecionado o par correto, o jogador deveria recolher consigo esse par e jogar novamente, no entanto, na retirada dos pares errados, deveriam ser retornadas as cartas à mesa e a vez na jogada seria do próximo participante. Durante a jogada, a cada par correto formado era realizada uma explicação, com o auxílio de slides, sobre o momento histórico evidenciado. Esse fato visava esclarecer de maneira mais próxima como ocorreu a construção do conhecimento científico. Figura 1: Jogo da memória Fonte: Próprias autoras A primeira fase escolhida (Figura 2) foi o período pré-histórico e alguns anos a.C. que relatavam descobertas importantes que deram o pontapé inicial para a História da Química como o descobrimento do fogo, dos metais nobres e ferro, de pães e vinho, do mercúrio e da liga de metal- carbono. Figura 2: Representação das cartas da primeira fase do jogo da memória. Fonte: Próprias autoras A segunda fase (Figura 3) foi composta pelas descobertas ocorridas durante o século III até XVIII. Procurou-se dar ênfase a descobertas de substâncias mais conhecidas pelos discentes no dia a dia, como o ácido acético, o ácido sulfúrico, o etanol, permanganato de potássio, gás hidrogênio e gás oxigênio. Figura 3: Representação das cartas da segunda fase do jogo da memória. Fonte: Próprias autoras Na terceira fase (Figura 4) foram selecionadas descobertas de diversos ramos da Química ocorridas entre o final do século XVII até meados do século XIX, como o processo de galvanoplastia que está englobado no tema de eletrólise, sobre as leis enunciadas por Gay Lussac e Dalton que dão um suporte no estudo dos gases, em relação a um dos modelos atômicos, a bola de bilhar proposto por Dalton, sobre a teoria da valência publicada por Edward Frankland, a comprovação da tetravalência do carbono e a previsão da estrutura do benzeno, por August Kekulé. Figura 4: Representação das cartas terceira fase do jogo da memória. Fonte: Próprias autora A quarta fase (Figura 5) foi formada pelas descobertas feitas entre o século XIX e XX. Nessa destacaram-se cientistas renomeados e conhecidos pelas suas contribuições na Química como Alfred Nobel, com a invenção da dinamite; Louis Le Chatelier, que estabeleceu o princípio do equilíbrio químico; J.J. Thompson, pela descoberta do elétron; Fritz Haber, por ser pioneiro na síntese da amônia; Mari Curie, pela descoberta de substâncias radioativas como o rádio e o polônio e Ernest Rutherford, pela descoberta do próton. Figura 5: Representação das cartas da quarta fase do jogo da memória. Fonte: Próprias autoras Na quinta fase (Figura 6) foram selecionados os ganhadores do prêmio Nobel de Química entre o século XX até XXI, que colaboraram para o avanço científico e tecnológico na sociedade com seus estudos. Destacaram-se a descoberta da existência dos isótopos, a contribuição da entropia para o ensino de termodinâmica, os estudos sobre orbitais de fronteira, o mecanismo de reações proposto de transferência de elétrons, a descoberta dos fulerenos e dos quasecristais. Figura 6: Representação das cartas da quinta fase do jogo da memória Fonte: Próprias autoras 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES Essa pesquisa é de caráter qualitativo e se valerá de uma análise textual, a Análise Textual Discursiva - ATD, (MORAES & GALIAZZI, 2007), a fim de analisarmos os dados coletados por meio das opiniões das alunas, que foram registrados em um caderno de campo. Como afirmam Moraes e Galiazzi (2007) a pesquisa qualitativa visa a aprofundar a compreensão dos fenômenos que investiga a partir de uma análise rigorosa e criteriosa, esta pode partir de textos existentes ou de textos produzidos especificamente para a pesquisa em questão, esses textos são chamados corpus. O corpus deste trabalho são as opiniões das licenciandas. Ainda segundo os mesmos autores, esse tipo de pesquisa não tem a pretensão de testar hipóteses, mas tem como objetivo a compreensão. A ATD propõe-se a "descrever e interpretar alguns dos sentidos que a leitura de um conjunto de textos pode suscitar" (MORAES & GALIAZZI, 2007, p. 14). Tendo em vista que “toda leitura já é uma interpretação; não existe uma leitura única e objetiva. Diferentes sentidos podem ser lidos em um mesmo texto” (MORAES, 2003, p. 192), e todo olhar já acontece impregnado de teoria. Dessa forma, temos a possibilidade de outra análise, com diferentes visões e categorias, a partir de referenciais e posturas teóricas distintas. A ATD se estrutura a partir de três etapas, que compõem um processo cíclico: a) Desmontagem dos textos ou unitarização: segundo Moraes e Galiazzi (2007) esta primeira etapa “implica examinar os textos em seus detalhes, fragmentando-os no sentido de atingir unidades constituintes, enunciados referentes aos fenômenos estudados” (MORAES & GALIAZZI, 207, p. 11), tendo o cuidado de se manter o contexto de onde o fragmento foi retirado. Nesta etapa deve-se dar atenção aos detalhes e nas partes dos componentes dos textos, uma fase de decomposição necessária a toda análise. É o próprio pesquisador quem decide em que medida fragmentará seus textos. Dessa desconstrução dos textos surgem as unidades de análise, também chamadas de unidades de significado ou sentido. (MORAES & GALIAZZI, 2007, p. 18). Essas unidades podem ser empíricas, coletadas para a pesquisa, e teóricas, provenientes dos autores utilizados para embasar o tema pesquisado. b) Estabelecimento de relações ou categorização: consiste na construção de relações entre as unidades de análise, tanto as empíricas, quanto as teóricas. Fazemos isso num processo recursivo de leitura e comparação entre as mesmas, resultando em conjuntos que apresentam elementos semelhantes, daí surgem às categorias. Segundo Moraes e Galiazzi (2007), o processo de categorização na ATD é longo e exige do pesquisador uma impregnação aprofundada nas informações e, ao mesmo tempo, a eliminação do excesso de informações, apresentando o fenômeno de modo sintético e ordenado. Podemos afirmar que a categorização é um processo de criação, ordenamento, organização e síntese. Constitui, ao mesmo tempo, processo de construção de compreensão de fenômenos investigados, aliada à comunicação dessa compreensão por meio de uma estrutura de categorias (MORAES & GALIAZZI, 2007, p. 78). Importante ressaltar que diante das múltiplas leituras de um texto, uma mesma unidade pode ser lida de diferentes perspectivas, resultando em diferentes sentidos, sendo aceito dessa forma que uma mesma unidade possa ser aceita em mais de uma categoria. Os autores afirmam que "isso representa um movimento positivo no sentido da superação da fragmentação" (MORAES & GALIAZZI, 2007, p. 27). c) Comunicação ou produção de metatextos: nessa etapa, percebe-se uma nova compreensão do todo, possibilitada pelo intenso envolvimento nas etapas anteriores. O objetivo agora será elaborar um texto descritivo e interpretativo, o qual denomina-se metatexto, a partir das categorias. Segundo Moraes e Galliazzi (2007) saber empregar as categorias construídas na análise para organizar a produção escrita é uma forma de atingir descrições e interpretações válidas dos fenômenos investigados. Afirmam ainda que "a qualidade dos textos resultantes das análises não depende apenas de sua validade e confiabilidade, mas é, também, consequência do fato de o pesquisador assumir-se autor de seus argumentos" (MORAES & GALIAZZI, 2007, p.32). Desse modo, a ATD pode ser compreendida "como um processo auto-organizado de construção de novos significados em relação a determinado objetos de estudo, a partir de materiais textuais referentes a esses fenômenos." (MORAES & GALIAZZI, 2007, p.45). A partir das opiniões das alunas em relação à aula aplicada foi realizada uma Análise Textual Discursiva, a qual originou duas categorias e destas emergiram dois metatextos apresentados a seguir. Por meio dos metatextos comunicamos os resultados desta análise. A fim de preservar a identidade das licenciandas atribuímos 1 e 2 para sua identificação. 3.1 Metatextos História da Ciência sendo trabalhada de maneira tradicional: mudanças necessárias A História das Ciências é um conteúdo que deveria ser abordado desde o início dos cursos de graduação, para que as licenciandas pudessem conhecer de fato a verdadeira ciência estudada durante tantos anos e constatar seu caráter provisório e não neutro. Todavia, grande parte das Instituições de ensino superior ministra essa disciplina no último ano do curso o que não traz uma visão satisfatória para o licenciando. Estes acreditam “que seja importante explicar para o graduando como surgiu a ciência que eles vêem em aula e como essa sofreu modificações ao longo dos anos, assim o aluno pode entender o porquê de estar estudando determinado assunto e ver que aquilo não surgiu do nada”, afirma a licencianda 1. Entretanto, modificar a grade de um curso ou alterar o seu currículo é algo difícil, já que necessita de novas ações por parte dos professores. Matthews (1995, p. 164) afirma que “Converter projeto de currículos em realidade de sala de aula requer novas orientações para a prática e a avaliação, novos materiais didáticos e, acima de tudo, a inclusão de cursos adequados sobre a HFS no treinamento de professores.” Oliveira e Silva (2013, p. 320) concordam com esses escritos, quando demonstram que inclusão da História das Ciências é uma estratégia pedagógica interessante para esclarecer aspectos da natureza da Ciência, os quais proporcionariam aos aprendizes uma visão adequada sobre a ciência. Contudo, essa nova realidade citada por Matthews (1995) não esta inserida nos verdadeiros acontecimentos de uma Instituição superior e os conteúdos continuam sendo abordados de maneira tradicionalista levando o graduando a um estado de passividade. Newerla (2000) afirma que “ainda que submetida à crítica por muitos filósofos, historiadores, sociólogos da ciência, a visão tradicional resiste no âmbito da educação em ciências, mantendo-se nos materiais didáticos produzidos e, principalmente, na prática dos professores.” Esse fato certifica as dificuldades enfrentadas pelos graduandos, principalmente quando se trata de uma matéria muito teórica. A licencianda 1 demonstra que a “História da Ciência é um assunto bem denso e se for tratado só de forma tradicional, pode fazer com que o aluno ache cansativo e não consiga assimilar o conteúdo direito.” Por intermédio dessa análise pode-se perceber que a prática docente precisa ser reformulada, partindo do pressuposto de que as próprias licenciandas, ou seja, futuras professoras apresentam pensamentos de mudança, pensamentos que reprimem o método tradicional e é esperado que todo o processo acadêmico seja reformulado (Garcia Pérez, 2000). Utilização de jogos como intervenção no ensino da História da Ciência O emprego de jogos e brincadeiras como recurso de ensino, tem o intuito de conciliar a diversão e a aprendizagem (CRESPO et. al., 2011, s.p.). Na visão de Cunha (2012) o jogo tem um papel crucial quando utilizado como recurso didático na aprendizagem de conceitos. Se tratando da História das Ciências o jogo pode ser uma ferramenta que auxilie positivamente na aprendizagem do conteúdo. A licencianda 2 relata que “a utilização do jogo na aula de História da Ciência, foi excelente, pois proporcionou um entendimento bom da matéria que por ser muito teórica às vezes se torna chata, já nesse método melhorou.” Zabala afirma que: [...] o jogo como instrumento pedagógico contribui para a aprendizagem ao permitir o desenvolvimento afetivo, cognitivo e social. Com sua utilização, a aprendizagem ocorre de maneira significativa devido à satisfação e ao êxito que proporciona ao aluno. Isso resulta na participação dos alunos nas atividades de aprendizagem com maior motivação, que constituem o ponto de partida para poder estabelecer o vínculo entre os novos conteúdos e os conteúdos prévios (ZABALA, 1998). Atividades lúdicas como jogos, são intervenções que possibilitam ao ensino da História das Ciências uma maior atenção e interesse por parte dos graduandos. “O jogo da memória trabalhou bem o assunto, pois o aluno ficava atento para poder fazer as duplas e com isso prestava atenção em tudo que estava escrito, aprendendo assim sobre o conteúdo.” (Aluna 1), e por meio dessa ação os graduandos buscaram seu próprio conhecimento. Rogado demonstra por meio de seus escritos que: [...] torna-se fundamental que o professor, através da interação entre os conhecimentos trazidos pelos alunos e o conhecimento científico que vai ensinar, consiga criar uma intervenção de modo adequado para que os alunos comparem, questionem e então modifiquem seus esquemas de conhecimento e seus significados (ROGADO, 2007). Desse modo, torna-se notório que toda atividade tenha um “dinamismo, uma dinâmica, que se define por dois conceitos: o de energia e de direção. No campo da psicologia esse dinamismo tem sua origem nas motivações que os sujeitos podem ter” (NOT, 1993). E esse dinamismo também foi notado na fala das alunas “achei a ideia que tiveram bastante interessante e dinâmica.” Logo, pode-se entender que a utilização de diferentes ferramentas, como o jogo, para auxiliar a disciplina da História das Ciências ajudou muito as licenciandas, já que estas apresentaram por meio de seus relatos que aprenderam melhor o conteúdo. 4 CONCLUSÃO A presente pesquisa teve com principal objetivo intervir com o uso de jogos no conteúdo, da História das Ciências, que é trabalhado na maioria dos casos de maneira tradicional, num curso de formação de professores, visando assim, a contribuir com melhorias em sua futura prática docente. Por intermédio da ATD, foram analisadas as opiniões das licenciandas, anotadas em um caderno de campo, sobre a aula aplicada. A fim de obter informações se a estratégia utilizada em aula, o jogo da memória, permitiu uma melhor compreensão do conteúdo abordado sobre a História da Ciência e se o entendimento de que a ciência é fruto de um processo coletivo e não de um método científico universal. Ao final da análise textual chegou-se a conclusão de que a História das Ciências é um conteúdo muito denso para ser trabalhada de forma tradicional, essa maneira de abordar o conteúdo só traz malefícios ao aprendiz como: desinteresse e desmotivação tendo por consequência a memorização do conteúdo já que este não apresenta nenhum significado para o discente, além de manter uma visão errada da ciência. Ao acrescentar o jogo da memória na aula as concepções das licenciandas em relação à História da Ciência, que era um conteúdo muito teórico e maçante, foram modificadas. As graduandas passaram a visualizar a Histórias das Ciências sob uma perspectiva diferente, demonstrando um maior interesse e conseguindo por fim entender como a ciência estudada em sala de aula teve início e como se desenvolveu, esse fato gerou uma aprendizagem próxima do desejável, para as licenciandas, e as levou a pensar em como incluir estas abordagens em suas futuras aulas de Química, a fim de que seus futuros alunos possam desenvolver uma visão mais adequada da ciência. 5 REFERÊNCIAS AROUCA, M. C. Papel dos jogos e simuladores como instrumento educacional. Banco de artigos da Casa da Ciência/UFRJ. Projeto educação em bytes. Rio de Janeiro, 1996. BAKHTIN, M. M., The dialogic imagination (C. Emerson, M. Holquis, trad.) Austin TX. University of Texas Press, 1981. BARRET, Fransisco César de Sá, “Parecer CNE/CES 1303/2001, 06 de novembro de 2001. 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HISTORY OF SCIENCE: A PLAYFUL APPROACH TO DEVELOP THE CHEMISTRY TEACHING Abstract: This paper presents the results of a survey of future chemistry teachers in the northern region of the state of Rio de Janeiro, aiming to investigate whether the use of games as an intervention in a class exposing the history of science was effective and contributed to be adopted in the future practice of graduating students. To this goal, we asked the students of the penultimate period of the chemistry course to express their opinion regarding the class applied. There views were recorded on a notebook and analyzed following the methodology of Textual Discourse Analysis (Galiazzi and Moraes, 2007). The analyzes showed that the use of the game in this class was effective and encouraged the students of the seventh semester of the Degree in Chemistry to use this approach in their future teaching practice. Key-words: History of Science, Analysis Textual Discourse, Games.