Código para compras Ao aderir ao Comitê de Aquisições e Fusões, companhias poderão anular “cláusulas pétreas” A primeira versão do código do Comitê de Aquisições e Fusões (CAF) entregue à BM&FBovespa traz uma boa notícia para os acionistas minoritários. Um dos princípios que as companhias aderentes à cartilha terão de seguir é o de que cabe ao acionista a decisão final sobre a conveniência de uma oferta pública de aquisição de ações (OPA) ou reorganização societária. Isso significa que os administradores das companhias não podem adotar nenhum mecanismo que restrinja o poder dos acionistas de deliberar sobre o assunto. Dessa maneira, as chamadas “cláusulas pétreas” associadas às poison pills perderão seu efeito. É o que afirma o advogado Nelson Eizirik, contratado pela Bolsa para desenvolver o projeto do CAF, órgão de autorregulação similar ao britânico Takeover Panel, cuja missão é fiscalizar operações de aquisição e reorganização societária. As cláusulas pétreas acompanham os dispositivos que obrigam investidores que atingem determinada participação acionária a realizar uma OPA, apelidados de poison pill. Elas determinam que quem vota, em assembleia, a favor da exclusão desse tipo de dispositivo deve fazer a oferta pública. Por mais que seja considerada ilegal pela maioria dos advogados — por restringir o direito de voto elementar do acionista —, a cláusula pétrea poderia virar alvo de litígio se não fosse cumprida, temem alguns. Contudo, o princípio da soberania do acionista vai prevalecer nas companhias que se submeterem ao código da CAF, salienta Eizirik. A adesão ao comitê será voluntária. As regras detalhadas ainda vão passar pelo crivo de diversas instituições do mercado, provavelmente ao longo deste primeiro semestre. Mas os princípios gerais não devem sofrer alterações. Dentre eles, está o de que titulares de ações de mesma classe não podem receber tratamento distinto nas ofertas públicas de aquisição ou processos de incorporação. Segundo o código, o conselho de administração de uma companhia-alvo de oferta também terá de expressar seu entendimento sobre a atratividade da operação. Essa norma estava prevista na reforma da Instrução 361 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), mas acabou ficando fora da versão final. “A CVM se deu conta de que não tinha poderes para fazer essa exigência aos administradores”, diz Eizirik. (Danilo Gregório) O ano da moda Em 2010, empresas do setor têxtil fugiram da média do mercado e garantiram excelentes retornos O ano de 2010 não poderia ter sido melhor para as companhias têxteis listadas em bolsa. Além da Cia. Hering, destaque da Lente de Aumento desta edição (leia na pág. 46), várias outras representantes do setor apareceram mensalmente dentre as primeiras em valorização na lista elaborada pela Economática para a CAPITAL ABERTO. Uma das surpresas da temporada foram os papéis da microcap Teka, que chegaram a 21 de dezembro valendo 161,8% mais que no início do ano. Lojas Marisa, Alpargatas, Lojas Renner e Guararapes (controladora da rede varejista Riachuelo) também se saíram bem no período, com retornos de 139,1%, 72,2%, 48% e 9,9%, respectivamente. A boa fase da indústria têxtil se deve, principalmente, à recuperação da economia do País, que possibilitou ao consumidor recobrar a confiança e seu poder de compra. “A maior presença das classes D e E no mercado consumidor e o aumento da possibilidade de compras com condições facilitadas de crédito também são fatores importantes”, ressalta o analista Marcelo Varejão, da corretora Socopa. A Lojas Marisa, por exemplo, alcançou receita líquida de R$ 388,9 milhões, 18,5% maior que a do terceiro trimestre de 2009, e o lucro líquido, de R$ 41,6 milhões, foi 57,9% superior. (Camilla Ginesi) ERRATA Diferentemente do publicado na matéria Turma visionária (ed. 88, novembro de 2010) foi a OSX, e não a OGX, a companhia do grupo EBX a abrir o capital em 2010. Além disso, depois de encerrada a oferta, a HRT Participações tomou o lugar da OSX de maior IPO do ano. 54 CAPITAL ABERTO Janeiro 2011 em pauta Supervisão versus opinião Fundo da Rio Bravo propõe modelo de governança baseado na instalação de comitê de compliance A estrutura de governança dos fundos de private equity começa a mudar. Prova disso é o Brasil Energia I, gerido pela Rio Bravo, que investirá este ano R$ 300 milhões — já comprometidos por investidores — em oportunidades do setor elétrico. Em seu regulamento, o fundo prevê o direito de os representantes de 12% das cotas (sozinhos ou em grupo) indicarem membros para o comitê de compliance. O órgão será composto de até oito pessoas e se reunirá logo após os encontros do comitê de investimentos. Inédito na história da Rio Bravo, o comitê de compliance tem a função de supervisionar se a política de investimento do fundo está sendo cumprida e de indicar a firma que auditará a carteira. Mas não possui poder de veto sobre as decisões de alocação. Com essa novidade, as 20 fundações previdenciárias que investem no Brasil Energia I aceitaram abrir mão de participar do comitê de investimentos. Dentre os cotistas estão Fundação Itaipu Brasil, Chesf e Eletros. Os maiores fundos de pensão, no entanto, ficaram de fora. “Quem não está aberto (à estrutura de governança) preferiu não participar”, conta Paulo Silvestri, diretor de private equity da Rio Bravo. O comitê de compliance vai ao encontro das preferências dos investidores estrangeiros, avessos à ideia de terceirizar a gestão dos recursos e, mesmo assim, participar das decisões de investimento. O código de boas práticas do setor contempla essa figura, à qual atribui o nome de comitê de supervisão. Elaborado pela Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCap) em parceria com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), o documento criou três categorias de fundos, definidas a partir da estrutura de governança escolhida. Os de tipo 1 são os que aceitam representantes de cotistas no comitê de investimentos; os de tipo 2, os que permitem apenas integrantes da administração ou da gestão à frente das decisões de investimento; e os de tipo 3, os que não preveem instalação ou funcionamento de um comitê de investimentos. Para o segundo tipo, o código exige a instalação de um comitê de supervisão. (Yuki Yokoi) RI com governança Sodali e Better Governance querem ampliar a comunicação entre companhias e acionistas Quando se fala em relacionamento com investidores (RI) no Brasil, o que vem à mente é divulgação de resultados, teleconferência, website, relatório anual e eventos para apresentação de números e perspectivas. Anunciada em dezembro, a parceria da europeia Sodali com a brasileira Better Governance, dirigida pela especialista em governança Sandra Guerra, pretende ampliar esse conceito. A proposta é oferecer serviços às companhias para que elas se comuniquem com seus acionistas de modo a gerenciar expectativas dos dois lados e alcançar resultados mais favoráveis nas assembleias-gerais. Uma parte desse trabalho é o que a Sodali faz na Europa: pesquisar como os investidores da companhia costumam votar, qual a percepção sobre as práticas de governança da empresa e dos seus pares e o que os acionistas esperam dela. Esse estudo pode também ser sucedido por um trabalho corpo a corpo com os acionistas, no sentido de alinhar expectativas sobre os assuntos a serem discutidos nas próximas assembleiasgerais. O objetivo é evitar que a companhia surpreenda os acionistas ao propor uma mudança e depois tenha problemas para obter o número de votos necessários à sua aprovação. A outra parte do trabalho será a preparação dos conselhos de administração e das estruturas de governança da companhia para essa nova forma de comunicação. Esse é o componente que virá da experiência de Sandra na área. John Wilcox, ex-dirigente do fundo TIAA-Cref e chairman da Sodali, sabe que posturas mais ativistas em relação às assembleias não são costumeiras no Brasil, nem do lado dos investidores e muito menos das companhias. Mas ele acredita que a tendência de dispersão do capital sinalizada nos últimos anos vai mudar isso. “Vocês não têm noção de como o Brasil está diferente hoje”, diz ele. A Sodali Better Governance (SBG) espera oferecer também serviços pré e pós-IPO, preparando as empresas para a abertura de capital e acompanhando-as até a sua primeira assembleia-geral. A SBG já tem um cliente: a concessionária Ecorodovias, que a contratou para fazer uma pesquisa sobre como os investidores avaliam a estratégia e os negócios da companhia, o trabalho de RI, o acesso aos diretores e a governança. Será feito também um estudo sobre as práticas adotadas e o que pode ser melhorado ou atualizado. “Temos apenas oito meses como companhia aberta e precisamos entender melhor os nossos investidores”, afirma Roberto Nakagome, diretor de RI. (Simone Azevedo) Janeiro 2011 CAPITAL ABERTO 55