Sobre o que os Engenheiros Informáticos podem fazer e os que o não são não. Jorge Gustavo Rocha, Daniela Cruz [email protected], [email protected] Especificação e Processamento de Linguagens Departamento de Informática Universidade do Minho As pérolas da predição • “I think there is a world market for maybe five computers.” Thomas Watson, Chairman of IBM, 1943 • “Computers in the future may weigh no more than 1.5 tons.” Popular Mechanics Magazine, 1949 • “There is no reason anyone would want a computer in their home.” Ken Olson, Founder of DEC, 1977 • “640K should be enough for anybody.” Bill Gates, Founder of Microsoft, 1981 Tópicos • Nova mentalidade – Roturas: sintomas de uma nova mentalidade – Visionários: já vivem “noutro mundo” • Open source: consequência paradigmática desta nova mentalidade – Peering – Authoring • Modelos de negócio associados ao open source • Qualidade dos projectos open source Parte I Mentalidades Roturas #1 • “Let’s go crazy” • Em Fevereiro de 2007, Stephanie Lenz filma o seu filho na cozinha, que dança ao som de Prince, e faz o upload do mesmo para o youtube Roturas #2 • Grey Album • DJ Danger Mouse faz um remix com o rapper Jay-Z (Black Album) com o Album “The Beatles” (conhecido por White Album) Roturas #3 • “bricking” Sony PSP • Montes de protecções para detectar tentativas de ‘hacking’… que derivam na inutilização da PSP • Novos jogos obrigam a actualizar e a ter o firmware da marca • Compra, mas não mexe Roturas: moral da história? • As mães babadas de bebés de 13 meses que dançam são piratas, e são uma ameaça à fortuna do Pince a à paupérrima Universal • Os hip-hops (ou rappers) afinal são mesmo arruaceiros com raízes africanas, que não percebem nada de música • A utilização da PSP da Sony é limitada a quem souber ler as letrinhas pequeninas dos termos da licença. Se não ler a licença e não concordar, não pode jogar com a consola. Roturas: moral da história? (cont.) • Lidamos com conteúdos digitais (nunca antes a sociedade lidou com estes produtos) • É de borla copiar e distribuir cópias perfeitas de conteúdos digitais Visionários #1 • Lego • Licença para hacking do Mindstorms • Os melhores hackers foram envolvidos no desenvolvimento do Mindstorms NXT • Os 4 maiores hackers de Minstorms estiveram a trabalhar na empresa 11 meses Visionários #2 • Roomba: aspirador com uma interface para ser programado! • Em 2007 virou o robot iRobot Create Visionários #3 • IBM há 15 anos mantém a liderança no registo de patentes • Só em 2006 outras empresas conseguem > 2000 patentes (Samsung, Canon, Matsushita (Panasonic) e Hewlett-Packard) • Em 2007, a IBM lança o programa Peer to Patent: abre as suas patentes a um processo de peer review. Visionários #4 • Procter & Gamble http://pandg.com tem um departamento de I&D com 9000 cientistas • Descobriu que há outras boas ideias fora da empresa; só 10% da I&D resultavam em produtos • Criou um lema “proudly discovered elsewhere” – Insatisfeita com o desenvolvimento das Pringles Print, lançou um desafio no portal InnoCentive – Obteve a resposta de um professor universitário de Bolonha, que fez uma inkjet para a padaria que ele tinha – Ficou baratíssimo, o italiano ficou rico, e o produto saiu com 4 meses de avanço Visionários: moral da história? • Os consumidores já não só consumidores São co-criadores! – Lego - Desenvolve os seus melhores brinquedos com mão de obra à borla (e que ainda paga para ter o Mindstorms) – Romba - Fabricante de aspiradores passou a vender brinquedos aos “donos de casa” • “The world is your R&D department” – IBM – Insiste em envolver os melhores cérebros que não tem dentro de portas – P&G – Inusitado lema “proudly discovered elsewhere” Propriedade intelectual • No passado: – A inovação surgia de ‘génios’ isolados no seu laboratório. Toda a I&D é feita dentro de portas e muito bem guardada – O ideal era mesmo tornar a tecnologia desenvolvida num standard ‘de facto’ e viver desse monopólio • No presente: – A inovação surge num patamar superior aos das patentes; abrir mão das patentes e dinamizar o mercado; focar naquilo em que se tem know how; seguir continuadamente na frente – Qualquer um, em qualquer lugar – cliente, fornecedor, vizinho da lado, etc – é um potencial criador e colaborador – A inovação emerge de uma “arquitectura de participação” (Tim O’Reilly) Parte II Software aberto, peering e authorship Software aberto ou livre* • Dois nomes para a mesma coisa – FSF chama-lhe software livre – OSI chama-lhe software aberto • Para os mais fundamentalistas, ou é ‘software livre’ ou é um problema; • Para os mais liberais, as fronteiras não tão rígidas, e optam pela designação ‘software aberto’ • Em resumo, todo o ‘software livre’ é ‘software aberto’, mas nem todo o software aberto é livre *É fundamental discutir esta questão, quando não se tem mais nada para fazer Software aberto • ‘Aberto’ – Pressupõe duas propriedades fundamentais: acesso e poder de adequação • Tornar-se mais ‘aberto’ significa melhorar o acesso e o poder de adequação • Muitos produtos não são nem exclusivamente abertos ou fechados Software aberto • Mentalidade nova em relação ao conceitos de “propriedade intelectual” • Exige know how dentro de portas – Não se gasta nas licenças – Desenvolve-se o know how dentro de portas – Ganha-se em “poder de adequação “ • Nova forma de produzir: ‘peering’ Licenças • As licenças associadas ao software aberto é uma licença de copyright que garante o acesso, a alteração e a distribuição do código sem se ter que pagar por isso • Podem impor restrições adicionais, como manter o nome dos autores e a própria licença junto com o código • Mas até os ‘geeks’ criaram uma panóplia de licenças… Licenças creative commons • As licenças creative commons são mais adequados a conteúdos (músicas, livros, documentos, materiais didácticos, mapas, etc). • Na nossa área, é tão importante ter licenças de software aberto como licenças creative commons para conteúdos Peering • Comunidades de iguais, que se juntam voluntariamente para produzirem um bem ou serviço baseados numa organização definida pelo próprio grupo • Surge uma hierarquia, mas que deriva do mérito e do empenho dos participantes • Não é decididamente o modelo recorrente nas empresas, ou na administração local ou central, altamente hierarquizado Peering (cont.) • Este conceito é uma realidade! Muitos consideram mais os pares (os iguais) do que as chefias • Muitos colaboradores recorrem a pessoas externas à sua organização para resolver os seus problemas • Utilizadores preferem recorrer a fóruns e listas de discussão, mesmo que tenham direito a suporte técnico do fornecedor Peering (cont.) • Casos de sucesso (paradigmáticos) – Linux • “given enough eyes, all bugs are shallow” foi demostrado pelo Linux – Wikipedia • Comparável à enciclopédia britânica E muitos outros – SETI, Human Genome Project, Napster, Flickr, Digg, Second Life, InnoCentive, etc Parte III Modelos de negócio associados ao Open Source Mercado para o open source • • • • O open source é de borla? O open source tem enquadramento comercial? É possível ganhar dinheiro com open source? O modelo de negócio do sw baseia-se no produto e no seu suporte • O modelo open source baseia-se na utilização (no tirar partido de) Modelos de negócio • Vender serviços – É o modelo mais utilizado associado ao Linux, sendo a RedHat um caso concreto • Desenvolver o hardware – Vende-se a solução hardware + software open source • Componentes proprietárias – Parte da solução é open source mas funcionalidades adicionais ou complementares são vendidas Modelos de negócio • Duas licenças: open source e comercial – Determinados clientes querem utilizar o código para fazer algo não permitido pelas licenças GPL, por exemplo, e estão dispostos a receber o mesmo código numa licença que lhes dê mais liberdade • Publicidade – De alguma forma é incorporada no produto publicidade a serviços (ou o acesso preferencial a determinados serviços) que garante o suporte Negócios milionários • IBM investe cerca de 100 milhões de dólares no Linux, por ano • IBM poupa cerca de 1.000 milhões dólares por ano, em relação à opção de ter dentro de portas o desenvolvimento de um sistema operativo equivalente • A IBM ganha uma vantagem enorme em relação à concorrência Parte IV Qualidade Qualidade do sw • Normas isso centradas no processo de desenvolvimento • Nos projectos Open Source não controlamos o processo Apresentação Daniela Conclusões • Começamos por referir uma nova mentalidade emergente que é a que partilhamos • Acreditamos no software aberto, mas acima de tudo acreditamos no processo em que se baseia o software aberto: partilha, peering, direito a mexer e transformar, novas formas de fazer negócios não baseados em licenças Conclusões #2 • O que só os “engenheiros de software” podem fazer: – Participar activamente na arquitectura das soluções open source – Integrar e fazer pontes entre projectos open source (know how sobre o que existe e a interoperacionalidade de componentes de software) – Garantir a qualidade do software produzido (desde a apresentação de indicadores/métricas até à certificação)