ÉTICA NA PROFISSÃO CONTÁBIL: UM ESTUDO SOBRE A PERCEPÇÃO DOS ALUNOS SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA DISCIPLINA “ÉTICA E LEGISLAÇÃO PROFISSIONAL” PARA A FORMAÇÃO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS Suzana A. de Souza P. Campos, (G), UNESPAR/FECILCAM, [email protected]. Mário de Lima, (OR), UNESPAR/FECILCAM, [email protected]. INTRODUÇÃO A ética profissional é um assunto de relevada importância, pois corrobora para o correto desempenho da atuação de um profissional dentro de sua classe. O profissional deve estar atento às responsabilidades de sua profissão. Agir segundo os princípios éticos e morais estabelecidos no código de ética conduzem o profissional a obter uma postura que lhe garanta credibilidade e respeito perante a sociedade. A valorização da ética tem sido cada vez mais forte, tornando-se uma tendência mundial, e vem sendo exigida nas empresas como um dos pontos fundamentais para a condução do desenvolvimento profissional, a capacitação, preparação e comprometimento devem estar presentes não só para os profissionais em contabilidade, mas também em todas as categorias e na vida de cada individuo. Neste sentido o Código de Ética do Contador foi criado para nortear os profissionais no que diz respeito aos procedimentos corretos no exercício da profissão e contem os princípios éticos aplicáveis a sua conduta. A observância do código de ética deve ser tida pelo profissional como uma premissa, base de sua carreira. Para tanto faz-se importante observar como esse tema é abordado durante a graduação deste profissional, a contribuição para sua formação e a percepção dos alunos sobre sua importância. O sujeito ético precisa ter uma consciência moral que se manifesta na capacidade de decisão e análise feita pelo indivíduo em dada situação bem como, a responsabilidade no que diz respeito às consequências de suas escolhas. Não existe um agrupamento humano que não siga normas morais, porém, em geral o contexto de cada sociedade se difere de uma para outra. No entanto, uma coletividade pode tomar para si diferentes normas morais tanto para serem usadas dentro como fora desta. De acordo com o contexto em que os agentes estão envolvidos o termo “ética” pode ter significados diferentes. Ética nos negócios, por exemplo, pode ser entendida como o estudo da forma pela qual as normas morais pessoais se aplicam as atividades e aos objetivos da empresa comercial. Não se trata de um padrão de moral separado, mas de todo contexto do negócio empreendido. Pode-se dizer ainda que seja ético tudo o que está em conformidade com os princípios de conduta humana, isto é, honestidade, justiça, moralidade, ser correto, bom. Termos que podem ser utilizados como sinônimos de ética (LISBOA, 1997). Tendo em vista a importância da ética na profissão contábil para o bom desempenho do profissional da área, apresenta-se o seguinte problema de pesquisa: qual a percepção que os alunos do curso de Ciências Contábeis da Unespar do campus de Campo Mourão têm sobre a contribuição da disciplina “Ética e Legislação Profissional” para sua formação profissional? Levando-se em consideração os conceitos apresentados, a pesquisa se justifica pelo fato de que a percepção dos alunos com relação à importância da disciplina “Ética e Legislação Profissional contribui relevantemente com os gestores do curso de Ciências Contábeis”. Os resultados obtidos trazem informações que viabilizam uma melhor avaliação no processo de ensino, possibilitando novos direcionamentos tanto no aspecto teórico como sua aplicação prática. REFERENCIAL TEÓRICO Disciplina Ética e Legislação Profissional De acordo com o Projeto Político Pedagógico do Curso de Ciências Contábeis da UNESPAR/Fecilcam (2009) a disciplina Ética e Legislação Profissional é ministrada na 4ª serie. Possui uma carga horária teórica de 72 h/a. O objetivo geral da disciplina é analisar os aspectos teóricos, legais e profissionais do contador, propiciando conhecimento da legislação da profissão contábil quanto à habilitação, às prerrogativas e à fiscalização profissional; desenvolver a consciência ética mediante o conhecimento dos direitos, deveres e proibições estabelecidos no Código de Ética; estimular a participação política, a responsabilidade e a valorização do profissional no mercado de trabalho diante das novas tendências. Aborda na sua Ementa os seguintes temas: Conceitos, Ética Geral, Empresarial e Profissional; Código de Ética do Contador; Processos, Infrações e Penalidades; Responsabilidade Civil, Criminal, Fiscal e Social; Legislação do Exercício Profissional. Tem como referência bibliográfica básica o Código de Ética Profissional do Contador, além de outras referências correlatas. Ética Geral, Empresarial E Profissional Para Vásquez (1989), “a ética não é a moral”, porém, ambas se relacionam enquanto ciência no que diz respeito ao seu objeto. (...) Certamente, moral vem do latim mos ou mores, “costumes”, no sentido de conjunto de normas ou regras adquiridas por hábito. A moral se refere, assim, ao comportamento adquirido ou modo de ser conquistado pelo homem. Ética vem do grego ethos, que significa analogamente, “modo de ser” ou “caráter” enquanto forma de vida também adquirida ou conquistada pelo homem (VÁSQUEZ, 1989, p. 14). Segundo o autor, o comportamento moral é uma forma do comportamento humano como um fato explicado pela ética, tendo a prática moral da humanidade como base. Entende-se então que a ética como teoria vem explicar e não descrever o que foi ou o que é de fato. A ética é indispensável ao profissional porque, na ação humana “o fazer” e “o agir” estão interligados. O fazer refere-se à competência, à eficiência que todo profissional deve possuir para exercer bem a sua profissão. O agir está relacionado à conduta do profissional, ao conjunto de atitudes que este deve assumir no pleno desempenho de sua profissão (VIEIRA, 2006). As discussões em torno da diferença entre Ética e Moral são cada vez mais constantes. De certa forma, a palavra Ética tem sido usada com frequência em lugar de Moral uma vez que esta última adquiriu para muitos um sentido pejorativo, ligado a “moralidade” e “moralismo”. Respeitadas as opiniões divergentes podemos estabelecer numa síntese razoável e simples, as principais diferenças entre elas. O quadro abaixo mostra não só essas diferenças, mas também relação entre ambas: Tabela 01 Relação entre Ética e Moral Ética Moral Princípios Costumes Adquirida pela reflexão Adquirida no meio em que vive Imutável (ou mais resistente à mudança) Mutável (ou mais aberta a mudanças) Valores Práticas Imposta pelo individuo a si mesmo Imposta pela sociedade Mais abrangente que a moral Decorrente da ética Universal Cultural Fonte: Senado Federal. Ética e Administração Pública, 2012. A consciência moral além de conhecer estas diferenças, também pode julgar o valor dos atos e das condutas e de agir de acordo com valores morais. Deste modo, ser responsável por suas ações, sentimentos e consequências do que faz e sente. Uma vida ética se caracteriza pela consciência e responsabilidade. A moral é a capacidade de analisar e pesar as motivações pessoais, as exigências dadas pela situação vivida pelo indivíduo, as consequências de suas escolhas tanto para si como para os outros, a concordância entre meios e fins, ou seja, não existe a possibilidade de se alcançar fins morais, se os meios não o forem, a obrigação de respeitar o estabelecido ou de transgredi-lo, no caso de o estabelecido não ser moral nem justo. Para tanto existe a vontade, que não pode estar submetida a fatores como: os instintos, o outro, às paixões. Isto é, esta vontade deve ser livre, e para isso o indivíduo deve ter controle sobre esses fatores (CHAUÍ, 2003). Nash (2000) afirma que as disposições morais pessoais devem ser aplicadas também nos negócios, na empresa onde o indivíduo trabalha, pois não se trata de padrões separados de moral, o que diferencia é o contexto de cada negócio, bem como as peculiaridades de cada um. Porém, muitas vezes, dentro das empresas os indivíduos agem conforme seus interesses, transformando em função destes interesses, as prioridades de seu “sistema” moral. Na visão de Robert Henry Srour (2000, p. 30): (...) a ética como teoria, estuda as morais na plenitude de sua natureza histórica. Somente quando especialistas se debruçam sobre as morais e produzem um estudo delas, pode-se falar de ética do protestantismo ou de ética do socialismo. Assim, a referência à ética empresarial ou à ética dos negócios significa estudar e tornar inteligível a moral vigente nas empresas capitalistas contemporâneas e, em particular, a moral predominante em empresas de uma nacionalidade especifica. Se existem os conflitos de interesse, consequentemente surgirão problemas morais. E quanto a esses problemas morais o autor levanta a questão: “a quem devemos lealdade?” e indaga sobre suas hipóteses. O fato é que, como afirma Srour (2000), o indivíduo não pode ser leal com tudo e com todos ao mesmo tempo, pois não existe neutralidade no campo da moral. E toda relação moral implica escolhas, então este mesmo indivíduo deve se posicionar diante desta ou daquela situação. Na prática esta escolha beneficiará uns em detrimento de outros, pois afeta a cada um de forma diferente. No caso da contabilidade, por exemplo, onde o profissional é detentor de todas as informações das empresas administrando seus recursos, pode-se dizer que existe o conflito de interesses entre a necessidade do cliente e a prática correta de suas atividades no que diz respeito às normas de sua profissão. Segundo Vieira (2006) os escritórios de contabilidades atuam num ambiente de constante transformação caracterizada por mudanças socioeconômicas, de mercado, tecnológicas entre outras. O mercado competitivo tem sido o apontamento central para as tomadas de decisões e por isso os contadores são levados a fazer escolhas que norteiem essas decisões que refletem consequências para os indivíduos. O cenário em que uma consultoria especializada é de extrema importância para a sobrevivência de uma empresa está crescendo cada vez mais. Por este motivo o profissional deve estar atento às necessidades de seus clientes com a devida qualidade e capacitação, porque estes veem no contador um “operador de milagres”. Neste sentido é preciso que o profissional esteja sempre atualizado. A informação contábil deve atender as necessidades dos usuários, porém, deve ser expressa à luz da verdade, não deve conter erros e nem ser tendenciosa. Uma contabilidade malfeita, apesar de fazer a prestação de contas, não apresenta soluções, oportunidades e satisfação. Quanto ao profissional, Jimenez (1997, p. 51) afirma que: Freqüentemente o profissional ocupa postos de responsabilidade, nos quais, tem que administras diversos bens e dirigir pessoal subordinado. Isso implica a necessidade de uma formação moral, que o torne consciente de suas responsabilidades e da dimensão humana e social de seu trabalho. Pode-se entender então que na visão do autor, é preciso que um profissional, no exercício de suas atividades tenha um senso moral bem desenvolvido, que lhe dê condições de atuar de forma sensata e correta, segundo expectativas da sociedade que se vê forçada a confiar significativamente no seu trabalho. Deste modo, é importante destacar a relevância da vocação e aptidão profissional como condicionantes do bom desempenho laboral. Ética na Profissão Contábil O contador por meio de sua formação pode atuar em atividades/áreas direta ou indiretamente ligadas com a contabilidade de acordo com suas capacidades e conhecimentos, assim como qualquer outro profissional. Deste modo, Lisboa (1997) afirma que o profissional de contabilidade habitualmente coloca em teste seus valores éticos, pois, trabalha com informações que pertencem a terceiros (clientes) e que são de grande importância para a economia. Além disso, este profissional geralmente trabalha na companhia de outras pessoas tanto como líder ou liderado e nessa relação deve prevalecer o comportamento ético. Outro ponto importante que requer condicionamento ético são os recursos disponíveis para a execução das atividades, que podem ser próprios ou de terceiros. O profissional contábil é de fundamental importância para a tomada de decisões por ser o responsável pela geração de informações das empresas. Gerar informações a partir de dados obtidos das empresas não é uma tarefa tão simples, está relacionada às peculiares e aos propósitos de cada usuário. “Esses usuários são pessoas ou entidades que necessita de alguma informação contábil para tomarem decisões” (FAVERO, 2009, p. 2). No tocante à informação contábil, existem duas classificações de usuários, a saber: os usuários internos que atuam nas empresas ocupando cargos que necessitam de tomada de decisão, e de acordo com suas necessidades, precisa de informações direcionadas; os usuários externos que são agentes que atuam indiretamente com a empresa e por este motivo também necessitam de informações para a tomada de decisões, que neste caso recebem informações padronizadas. “Assim como as demais áreas de conhecimento, a Contabilidade desenvolveu-se buscando responder aos anseios da sociedade, tendo como objetivo gerar informações para o controle e tomada de decisões” (FAVERO, 2009, p. 01). Segundo Lisboa (1997), existem vários problemas éticos que são comuns a qualquer área de conhecimento, sejam eles, as crises de valores, os conflitos de interesses, o desvio de conduta, a imperícia. O relacionamento político e social se constitui em outro problema ético. Fatores que influenciam diretamente na atuação do profissional. No que diz respeito ao valor social da profissão, Lopes De Sá (2001, p. 131) afirma que “a contabilidade destaca-se por seu papel de proteção à vida da riqueza nas células sociais e pela capacidade de produzir informes qualificados sobre o comportamento patrimonial”. Pela responsabilidade da atuação profissional Lopes de Sá (2001) afirma que a negligência, ao contrário de zelo, pode ser fatal em algumas situações, como por exemplo, ruínas nas empresas e até mesmo sua falência devido a erros cometidos pelos profissionais que às vezes são irreparáveis. A observância da qualidade do serviço contábil é fundamental, que a princípio se caracteriza pela existência de dois fatores. O primeiro está relacionado com o aumento do número de profissionais e de organizações contábeis atuando no mercado, levando os usuários a terem de escolher por aquele que melhor atenda suas necessidades. O segundo diz respeito à necessidade que as empresas e os profissionais têm de se adequar serviços de qualidade por meio da utilização de recursos também de qualidade a fim de não perder para a concorrência. Desta forma, possibilita fornecer ao cliente informações precisas e confiáveis, que condizem com a realidade econômica das empresas, auxiliando no processo de tomada de decisões (VIEIRA, 2006). Código de Ética De modo geral, um código de ética serve para indicar padrões de conduta na vida profissional de cada um. E nele estão contidos os princípios éticos aplicáveis à profissão tanto para o que é permitido quanto para o que não é. De acordo com Lisboa (1997, p. 61) “Um código de ética deve conter preceitos que versem sobre obrigações do grupo organizado em, no mínimo, quatro áreas: competência, sigilo, integridade e objetividade”. O Conselho Federal de Contabilidade, órgão de representação maior da categoria, criou o Código de Ética Profissional do Contabilista – CEPC através da Resolução nº 803/96, de 10/10/1996 e tem por objetivo “fixar a forma pela qual se deve conduzir os Profissionais da Contabilidade, quando no exercício profissional e nos assuntos relacionados à profissão e à classe.” (redação alterada pela Resolução 1307/10). Esta Resolução passou por alterações ao longo dos anos tais como: a Resolução 819/97 de 13/01/1997 que restabelece o instituto do recurso “Ex. Offício” na área do processo ético. Altera o § 2º, do art. 13, do CEPC. Revoga a Resolução nº 677/90 (que extingue o recurso “ex offício” ético) e dá outras providencias. A Resolução 942/02 de 04/09/2002 altera o Código de Ética do Contabilista e dá outras providencias. A Resolução 950/02 de 16/12/2002 que altera o art. 13 do Código de Ética Profissional do Contabilista, aprovado pela Resolução CFC nº 803/96, e o art. 3º da Resolução CFC nº 819/97, e dá outras providencias. E por ultimo a Resolução 1307/10 de 14/12/2010 que altera dispositivos da Resolução CFC n° 803/96, que aprova o Código de Ética do Contabilista, que a partir desta resolução passa a se chamar Código de Ética Profissional do Contador – CEPC. O Código de Ética Profissional do Contador, em seu capitulo primeiro versa sobre os objetivos; o segundo, sobre os deveres e as obrigações; o terceiro, sobre o valor dos serviços profissionais; o quarto, sobre os deveres em relação aos colegas e à classe; o quinto, sobre as penalidades; e o sexto, sobre as disposições gerais. Segundo Lisboa (1997), o código de ética profissional do contador contém os princípios éticos aplicáveis a sua categoria profissional que dizem respeito a sua responsabilidade diante da sociedade e deveres da profissão, lealdade com relação ao cliente, e preservação da imagem profissional se mantendo sempre atualizado quanto às inovações da área, considerando também as normas de conduta profissional e ainda observando o respeito aos colegas da classe. Em decorrência da globalização dos mercados cada vez mais desenvolvida, o desafio maior enfrentado pelo profissional de contabilidade consiste em saber distinguir os limites de lealdade e dignidade de seus atos. Deve ter a clareza dos princípios morais que orientam sua conduta. Ao defender os valores éticos aplicáveis a sua profissão, o contador produz uma imagem verdadeira e transmite confiança e credibilidade. Desta forma Lisboa (1997, p. 62) afirma que: “Os princípios éticos aplicáveis a profissão de contador representam a essência das intenções da profissão para viver e atuar dentro da ética”. De acordo com Lisboa (1997), muitas vezes esse profissional no exercício de suas atividades se depara com dois extremos, duas questões basilares, a saber: a questão ética, que diz respeito à formulação de um problema, e a questão do dilema ético, que implica a maneira que se dará a solução desse problema que não acontece de forma transparente, pois envolvem alternativas conflitantes. Porém, o contador sempre estará condicionado a esses dilemas, sua postura de profissional independente deve estar acima de qualquer fator. METODOLOGIA DE PESQUISA Tipos de Pesquisa Quanto ao objetivo, a pesquisa pode ser classificada como exploratória. Segundo Triviños (2006, p. 109) “os estudos exploratórios permitem ao investigador aumentar sua experiência em torno de determinado problema”. Mais a frente o autor diz ainda que a pesquisa exploratória depende da necessidade do pesquisador, ou seja, pode ser usada também quando este “deseja delimitar ou manejar com maior segurança uma teoria cujo enunciado resulta demasiado amplo para os objetivos da pesquisa que tem em mente realizar” (TRIVIÑOS 2006, p. 109). Para a realização da pesquisa será utilizado o método de pesquisa quantitativa que de acordo com Beuren (2006, p. 92) “caracteriza-se pelo emprego de instrumentos estatísticos, tanto na coleta como no tratamento dos dados”. Instrumentos de Coleta de Dados A coleta de dados foi realizada por meio de questionários fechados distribuídos aos alunos do curso de Ciências Contábeis desde a 1ª até a 4ª série, no ano de 2013. Porque de acordo com Cervo e Bervian (1983, p. 159) “é a forma mais usada para coleta de dados, pois possibilita medir com melhor exatidão o que se deseja. Em geral, a palavra ‘questionário’ refere-se a um meio de obter respostas às questões por uma fórmula que o próprio informante preenche”. Beuren (2006, p. 130) afirma que “o questionário é um instrumento de coleta de dados constituído por uma série de perguntas que devem ser respondidas por escrito, pelo informante, sem a presença do pesquisador”. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS A análise dos dados foi desenvolvida com base na coleta de dados sobre percepção dos alunos de 1ª a 4ª séries/anos do curso de Ciências Contábeis da UNESPAR/Fecilcam através de técnicas estatística descritiva simples por meio de planilhas do Excel e na sequência, fez-se a interpretação com o objetivo de responder o problema abordado pela pesquisa. A coleta de dados foi realizada entre os dias 29 e 31 de julho do ano de 2013 por meio de questionário estruturado com os alunos de 1º a 4º séries/ano do curso de Ciências Contábeis da Unespar/Fecilcam. Foram entrevistados 169 alunos, o que representa uma amostra de 53,48% dos alunos matriculados no curso para o referido ano cujo total chega a 316 alunos. Do total de alunos entrevistados 23% representam os alunos do 1º ano; 25% do 2º ano; 31% do 3º ano; e 21% do 4º ano de acordo com o gráfico abaixo. Gráfico 1 – Série dos Alunos Entrevistados ALUNOS ENTREVISTADOS 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% alunos 1º ano alunos 2º ano alunos 3º ano alunos 4º ano Fonte: Elaborado pela autora (2013). Dentre os alunos entrevistados, 38% estão na faixa etária entre 17 e 20 anos enquanto que 12% correspondem aos que estão acima de 29 anos de idade. A maior parte é do sexo feminino com 59% contra 41% dos alunos do sexo masculino. Isso demonstra que o interesse das mulheres para a área de contabilidade vem aumentando cada vez mais. Uma vez que é mais comum se falar de profissionais homens atuando nesta área. Destes alunos, 53% residem na cidade de Campo Mourão-Pr. Já em relação à escolha pelo curso de Ciências contábeis, 38% dos entrevistados afirmaram que entre as opções de cursos foi a que melhor se identificaram; 34% afirmaram ser por iniciativa própria; 17% pela necessidade de qualificação profissional; e 11% escolheram o curso por alguma indicação. Constatou-se também certo equilíbrio entre os acadêmicos sobre a atuação na área de contabilidade, onde 52% afirmaram não atuar na área contra 48% que atuam. O Código de Ética Profissional do Contador - CEPC contempla de forma geral os preceitos indispensáveis à boa condução do exercício profissional do contador não só com relação aos direitos e obrigações, mas também quanto às penalidades que estes estão sujeitos no caso de transgredirem os preceitos do código. Neste sentido foram coletados algumas informações com relação ao CEPC junto aos alunos onde pode-se perceber que apenas 28% dos alunos entrevistados afirmam conhecer o CEPC e 72% disseram não conhecê-lo. O art. 2º § I do CEPC estabelece como um dos deveres do profissional contabilista exercer a profissão com zelo, diligência e honestidade, observada a legislação vigente e resguardados os interesses de seus clientes e/ou empregadores, sem prejuízo da dignidade e independência profissionais. Na opinião dos alunos para esta questão 47% afirmaram que os profissionais exercem este dever de forma regular; 24% de forma boa; 21% de forma satisfatória; e 4% de forma ruim e excelente. Em relação aos critérios que os profissionais contadores utilizam na hora de fixar o valor dos serviços por ele prestados os alunos opinaram da seguinte forma: 14% disseram que os trabalhos são mensurados pelos profissionais a partir da qualidade do trabalho desenvolvido; 22% acreditam que o critério mais utilizado é o da concorrência; 41% optaram pela relevância, complexidade e quantidade dos serviços a serem executados; 21% acham que o critério mais utilizado é o tipo de empresa/cliente; e 2% optaram pela localização como critério de mensuração do valor do serviço prestado. De acordo com o demonstrado no gráfico a seguir. Gráfico 2 – Critério de Valoração dos Serviços Prestados Fonte: Elaborado pela autora (2013). Porém, observa-se que a concorrência não está entre os elementos que compõem segundo o CEPC os critérios de mensuração de valor para os serviços profissionais. Fato que pode ser considerado como desleal se analisado do ponto de vista dos deveres em relação aos colegas e à classe, e também, relevante se for analisado do ponto de vista do mercado onde estes profissionais estão inseridos, mas, o que se espera, contudo é que a qualidade do serviço não seja prejudicada. O CEPC dispõe também sobre o espírito de solidariedade que deve existir entre os profissionais, porém, que isso não justifica ou deve ser confundido com a conivência aos erros praticados por um ou outro profissional. Com relação a essa questão, 94% dos alunos acreditam que às vezes existe sim essa conivência de erros entre os profissionais, o que pode abalar os postulados de harmonia da classe. Quando questionado aos alunos se eles conheciam algum caso de profissional que tenha sido penalizado por ter transgredido algum preceito do CEPC, 91% afirmaram não conhecer. Sobre os alunos se considerarem profissionais que seguem rigorosamente o CEPC, 34% afirmaram que sim; já 20% afirmaram que não; e 46% preferiram não opinar. Por outro lado, 63% dos alunos acreditam que é possível seguir rigorosamente o CEPC, 14% afirmaram que não e 23% preferiram não opinar. Com relação à importância da disciplina “Ética e Legislação Profissional”, 96% concordam que à mesma é importante para o curso de Ciências Contábeis. Sobre a contribuição da disciplina para a consciência do pleno exercício profissional os alunos opinaram da seguinte forma: 46% acreditam que a disciplina tem uma boa contribuição, já 27% afirmaram que essa contribuição acontece de maneira satisfatória, 16% opinaram que essa contribuição acontece de forma regular e 11% preferiram não responder. Este percentual pode ser melhor visualizado na figura abaixo. Gráfico 3 – Contribuição da Disciplina em Questão na Visão dos Alunos para o Curso Contribuição da Disciplina para o curso 12% 17% Regular 22% Bom 49% Satisfatória Preferiu não opinar Fonte: Elaborado pela autora (2013). Outro questionamento para com os alunos foi o conteúdo do CEPC abordado pela disciplina, os resultados obtidos foram: 22% acreditam que esta abordagem se dá de forma regular; 41% entendem que há uma boa abordagem; 21% acham que esta abordagem acontece de forma satisfatória; e 16% preferiram não opinar. De acordo com a grade curricular do curso de ciências contábeis a disciplina “Ética e Legislação profissional” é ministrada no 4º ano do curso. Na opinião dos entrevistados 26% disseram que a mesma deveria ser aplicada no 1º ano; 16% que deveria ser aplicada no 2º ano; 11% acham que deveria ser aplicada no 3% ano; enquanto que 39% acreditam que a mesma deva ser aplicada no 4º ano mesmo; e outros 8% preferiram não opinar. Informações estas, demonstradas no gráfico a seguir. Gráfico 4 – Série em que a Disciplina Deveria ser Ministrada na Visão dos Alunos 45% 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% 1º ano 2º ano 3º ano 4º ano Preferiram não opinar Fonte: Elaborado pela autora (2013). Analisando o Plano de Ensino da disciplina “Ética e Legislação Profissional”, é possível perceber que o objetivo da disciplina contempla de forma geral as características necessárias que contribuem para uma formação consciente dos alunos no que diz respeito aos princípios éticos da categoria. Conforme já foi dito anteriormente, o Código de Ética Profissional do Contador, em seu capítulo primeiro dispõe sobre os objetivos; o segundo, sobre os deveres e as obrigações; o terceiro, sobre o valor dos serviços profissionais; o quarto, sobre os deveres em relação aos colegas e à classe; o quinto, sobre as penalidades; e o sexto, sobre as disposições gerais. Portanto, o Código de Ética Profissional do Contador contém princípios que abordam questões pertinentes à profissão contábil, tais como a competência, sigilo, integridade e objetividade (LISBOA, 1997). Diante do que foi exposto até então, percebe-se que na visão dos alunos, a disciplina “Ética e Legislação Profissional” contribui satisfatoriamente quanto aos objetivos por ela propostos sobre a consciência do pleno exercício profissional e que os mesmos percebem a importância da disciplina na graduação. CONSIDERAÇÕES FINAIS Cada sociedade de acordo com sua cultura estabelece critérios éticos a serem seguidos pelas pessoas que nela estão inseridas, partindo deste ponto temos dentro de cada sociedade grupos que se formam e por sua vez criam para si o que chamam de valores éticos sempre tendo como base os valores já estabelecidos pela sociedade de modo geral. Essa vivencia em sociedade ou em grupos sociais sempre estará amparada por regras e normas de conduta inerentes ao indivíduo. No campo profissional seja qual for a área de atuação, faz-se cada vez mais necessário pessoas comprometidas com os valores éticos, posturas éticas que lhe garantam confiabilidade no trabalho a ser desempenhado. Na profissão contábil, portanto, isso não é diferente. Podendo o profissional contador exercer diversas atividades, estando estas direta ou indiretamente ligadas à contabilidade, o mesmo está sujeito a várias situações, e, por trabalhar com informações que pertencem a terceiros este profissional coloca em teste seus valores éticos. Contudo é importante observar os alicerces deste profissional desde sua formação, considerando também experiências de sua vida em sociedade. Diante da importância da ética para o íntegro desempenho do exercício profissional pode-se chegar ao problema de pesquisa que foi investigar a contribuição que a disciplina “Ética e Legislação Profissional” têm na formação em Ciências Contábeis a partir da percepção dos alunos de 1ª a 4ª série do curso de Ciências Contábeis no ano de 2013, da UNESPAR – Universidade estadual do Paraná do campus de Campo Mourão. De acordo com os dados coletados e analisados, pode-se concluir que existe relação entre a disciplina “Ética e Legislação Profissional” e o Código de Ética Profissional do Contador e que os alunos reconhecem a importância da disciplina durante a graduação para sua formação profissional tendo em vista a relevância da conduta ética do contador para o correto desempenho de suas atividades. Porém, um fator limitante desta pesquisa foi que esta percepção ficou mais evidente com relação aos alunos das 3ª e 4ª series do curso, os primeiros pelo fato de estarem de alguma forma familiarizados com a ética em disciplina que trata do assunto tal como a “Auditoria e Perícia Contábil”, mesmo que de maneira introdutória, e os outros por estarem vivenciando a disciplina de fato. O questionário foi elaborado de forma bem simples, sem grau de dificuldade e de fácil entendimento para com os entrevistados. O que se espera é que a presente pesquisa tenha colaborado de alguma forma com a comunidade acadêmica e fica a sugestão para que os coordenadores do curso avaliem na possibilidade de a disciplina ser ministrada nas series iniciais do curso e que sejam realizados futuros trabalhos na área em instituições de ensino superior onde a disciplina é ministrada nas series inicias do curso a fim de se obter dados que visem a melhoria e o aperfeiçoamento do processo de ensino aprendizagem. 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