A CONTABILIDADE COMO FATOR DE HONESTIDADE
Salézio Dagostim
Professor do Unilasalle
Presidente do Sindicato dos Contadores do Estado do Rio Grande do Sul
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Costuma-se dizer que a contabilidade é, para os políticos desonestos, o mesmo que a
cruz é para o diabo: algo terrível. Tudo isso porque a contabilidade revela confidências:
imprevisões, imprudências, riscos, ilícitos, ganância. Se ela é a responsável pelo registro,
pela divulgação de todas as operações de uma pessoa jurídica e pelo estudo dessas
informações, uma pergunta fica no ar: por que a contabilidade não é estruturada nos
organismos públicos e partidos políticos como órgão independente? O contador deveria
receber as informações, analisá-las, registrá-las e prestar contas ao Tribunal de Contas e ao
Tribunal Eleitoral. Sem ter a ingerência do presidente do órgão executivo das entidades
para as quais trabalha. Dessa forma, as irregularidades seriam apontadas pelo contador ao
Tribunal, que passaria a exercer somente a função de julgar.
Deveríamos, também, fazer cumprir o artigo 15 do Decreto-lei 9.295/46, que
estabelece que, para um contador ser o responsável pela contabilidade de uma pessoa
jurídica, é necessário que o Estado autorize esse fato, não bastando a mera vontade dos
contratantes e contratados. Isso para dar autonomia funcional ao contador. Esse dispositivo
legal foi estabelecido para que o contador não seja obrigado a fazer aquilo que o patrão
quer apenas para não perder o emprego. Infelizmente, essa norma legal não se fez cumprir
pelos Conselhos de Contabilidade.
Devido à situação de desproteção em que o contador tem que exercer suas funções,
passa-se a afirmar agora que é da contabilidade a culpa pela corrupção envolvendo os
partidos políticos, deputados, senadores, compra de votos, mensalão, caixa dois, campanhas
milionárias e, sobretudo, o dinheiro do povo... Tudo se torna culpa da contabilidade mal
elaborada, dos registros defeituosos, etc.
Na verdade, tudo isso só ocorre porque o contador ainda não aprendeu a se
defender. É sempre muito fácil colocar a culpa em outra pessoa, principalmente quando
essa pessoa não tem a quem recorrer, e as leis que lhe assegurariam proteção não são
aplicadas. É por isso que se diz que a contabilidade é a principal culpada por tudo que
acontece de errado. Ela é o bode expiatório que nos redime de todos os pecados.
Quem sabe, depois de todas essas atrocidades praticadas com os recursos públicos,
os políticos começarão a pensar em dar proteção e independência à contabilidade para que
ela possa cumprir o seu papel de protetora da riqueza nacional.
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