ALGORITMOS E MODELOS PARA A TECNOLOGIA DE GRUPO Ricardo Cézar Ferreira Sandra Malta Barbosa Universidade Estadual de Londrina, DMA, Londrina (PR) José Francisco Ferreira Ribeiro Cassilda Maria Ribeiro Universidade de São Paulo, SCE, São Carlos (SP) Abstract In this paper is presented an overview about some algorithms and models for group technology and cellular manufacturing design. The techniques analysed, studied and presented are : codification of parts, clustering of matrices 0/1, mathematical programming, graph theory, expert systems, data analysis and fuzzy set. Keywords : group technology; manufacturing cells; discrete systems 1. Introdução O emprego da Tecnologia de Grupo em sistemas de produção intermitente dedicados à fabricação sob encomenda ou em lotes de pequeno e médio porte, pode aportar a estes sistemas maior eficiência, produtividade e “just-in-time”. As similaridades de projeto e fabricação existentes entre as peças agrupadas em uma mesma célula de manufatura permite redução do tempo de preparação das máquinas ou “set up time”, padronização do ferramental utilizado, diminuição do tempo de transporte das peças devida à concentração da produção em células de porte reduzido, etc. A primeira tarefa que deve ser realizada para a introdução da Tecnologia de Grupo em uma indústria é o inventário e a codificação das peças manufaturadas, a realização de um estudo para a determinação dos roteiros de fabricação para as peças, a criação de bases de dados com o objetivo de auxiliar no projeto de uma nova peça ou roteiro de fabricação e, se possível, a aplicação de sistemas automatizados para o sequenciamento, a programação de operações e o CAD/CAM. Em seguida, a organização física da fábrica deve passar por uma reestruturação, passando a operar em sub-fábricas ou células de manufatura, mais fáceis de gerenciar que o sistema global de fabricação disponível inicialmente. Para tanto, as peças a fabricar são particionadas em famílias e as máquinas disponíveis em grupos, de tal modo que a cada família corresponde um único grupo e vice-versa. Os pares [famílias de peças - grupos de máquinas] constituem as células de manufatura. Deve-se ressaltar que o termo “células de máquinas” é um sinônimo igualmente utilizado para designar os grupos de máquinas. O problema do projeto das células de manufatura, necessárias à implantação da Tecnologia de Grupo em uma indústria, tem sido muito estudado nos últimos anos por autores que se utilizam das mais diferentes técnicas para a sua resolução. Trata-se de um problema NP-completo (Garey e Johnson, 1979) e, assim, não se dispõe até o presente momento, de um algoritmo “polinomial” ou eficiente para resolvê-lo. A regra geral consiste em se projetar as células de manufatura a partir de métodos heurísticos ou de combinação de métodos exatos e aproximados. Entre as técnicas que têm procurado contribuir para a evolução da pesquisa na área e que têm apresentado resultados de boa qualidade, destacamse os métodos de codificação e classificação, o rearranjo de matrizes 0/1 de modo a definir uma estrutura bloco-diagonal para as mesmas, as técnicas de programação matemática e mais especificamente aquelas de programação inteira combinadas ou não com heurísticas, a teoria dos grafos : particionamento e coloração, os sistemas especialistas, a análise de dados e os conjuntos nebulosos. O crescente interesse pela aplicação da Tecnologia de Grupo nas indústrias pode ser avaliado, por exemplo, através dos estudos realizados e descritos em Hyer e Wemmerlöw (1989) acerca de 32 companhias americanas que introduziram a Tecnologia de Grupo no chão de fábrica, Arruda e Vila Fo (1995) sobre o estágio atual da implantação da Tecnologia de Grupo em 33 indústrias paulistas e no levantamento de Ferreira e Resende (1995) em outras 3 indústrias. Nas seções deste artigo, apresentadas a seguir, é proposta uma revisão de algoritmos e modelos propostos nos últimos anos para auxiliar no projeto de células de manufatura e incrementar a implantação eficiente da Tecnologia de Grupo nas indústrias brasileiras. 2. Codificação e Classificação Os métodos de codificação e classificação agrupam as peças de acordo com características específicas, tais como : complexidade e forma geométrica, tipo do material, forma da matéria prima ou precisão do acabamento das peças. Usando um sistema de codificação, por exemplo : Opitz, Vuoso, Brisch, etc., as peças recebem um código numérico, alfabético ou alfanumérico. Cada dígito deste código representa uma característica da peça e as famílias são formadas realizando-se uma comparação entre os dígitos dos respectivos códigos. Um método que realiza o projeto de células de manufatura com base nesta técnica pode ser encontrada em Vila Fo (1982). 3. Rearranjo Matricial Na formulação matricial, uma matriz de incidência [aij] constituída de elementos 0/1 é utilizada para representar o sistema de fabricação : aij = 1 (0) indica que a máquina j é usada (não usada) para processar a peça i. Os algoritmos de rearranjo matricial alteram de posição as linhas e colunas de aij com o objetivo de dar uma estrutura bloco-diagonal à mesma e definir as células de manufatura. Dentre os métodos de rearranjo matricial disponíveis na literatura, podemos citar : ROC-Rank Order Clustering (King, 1980), DCADirect Clustering Algorithm (Chan e Milner, 1981), BEA-Bond Energy Algorithm (McCormick et al., 1972), CBM-Cost Based Method (Askin e Subramanian, 1987) e CIACluster Identification Algorithm (Kusiak e Chow, 1988). 4. Programação Matemática O modelo matemático mais utilizado para auxiliar no projeto de células de manufatura é um modelo de programação inteira, denominado modelo da “p-mediana”, quando dispõe-se de um único roteiro de fabricação para as peças e da “p-mediana generalizado”, quando se dispõe de mais de um roteiro (Kusiak, 1987b). Nestes modelos, procura-se minimizar a soma total das dissimilaridades entre as peças reunidas em uma mesma família e uma “peça-semente”, em torno do qual esta família está sendo formada. As restrições do problema asseguram que as peças serão atribuídas a uma única família, e especificam o número desejado de células. Um estudo detalhado acerca dos coeficientes de similaridade é apresentado em Witte (1980). Outros modelos matemáticos de programação inteira descritos na literatura e que podem auxiliar na obtenção das células de manufatura são os seguintes : o modelo de programação quadrática (Kusiak e Chow, 1988), o modelo de programação fracionária (Lashkari et al., 1987) e o modelo de programação fracionária via transformação de Glover e Woolsey (1974), igualmente proposto por Lashkari et al. (1987). 5. Teoria dos Grafos Os métodos baseados em teoria dos grafos para efetuar o projeto de células de manufatura são, via de regra, algoritmos iterativos de coloração dos nós de um grafo G(N,A), onde N é o conjunto de nós, ou peças, e A é o conjunto de arestas, determinadas a partir de uma dissimilaridade crítica estabelecida entre as peças que serão, em uma etapa ulterior, atribuídas a diferentes células. Os algoritmos de Ferreira Ribeiro e Ribeiro (1993), Ferreira Ribeiro e Alves (1994), Ferreira e Ferreira Ribeiro (1995), efetuam a coloração de G com o auxílio respectivo das seguintes técnicas : procedimento “greedy”, técnica de “ligações-contrações” e coloração de “árvores geradoras de peso máximo”. Lee et al. (1982) e Vanelli e Kumar (1986) efetuam a partição de um grafo representativo de um sistema de produção a partir de uma máquina definida como “máquina-gargalo”. Ronconi e Armentano (1993) utilizam o algoritmo de Gomory e Hu (1961) para particionar G e obter as células de manufatura. Barbosa e Ferreira Ribeiro (1994) propõem um procedimento heurístico iterativo de subdivisão cruzada de peças e máquinas, através da construção e avaliação de um grafo G, onde o critério de parada é a determinação de uma partição do sistema de manufatura com um número mínimo de movimentos inter-células. 6. Sistemas Especialistas A utilização de sistemas especialistas para se efetuar o projeto de células de manufatura é descrita, por exemplo, em Kusiak (1987a, c) e Kusiak e Chow (1988). Nestas implementações, considera-se roteiros de fabricação alternativos para as peças e a geração de cada solução parcial é realizada através de um algoritmo de partição selecionado automaticamente pelo procedimento. Em Kusiak (1987c), procura-se determinar as células de máquinas e as famílias de peças, bem como selecionar um AGV (transportador automático de material), com correspondente custo mínimo, levando-se em conta que o tempo de processamento disponível em cada máquina, que o limitante superior sobre a freqüência de viagens do AGV e que o número máximo de máquinas em cada célula, não podem ser excedidos. Por outro lado, pode-se trabalhar com outras hipóteses diferentes, tais como a necessidade de se incluir determinadas máquinas em uma mesms célula devido a necessidades tecnológicas. 7. Análise de Dados A matriz representativa aij = 0/1 [peças x máquinas] de um sistema de produção é suscetível de partição por meio de métodos estatísticos em geral e, em particular, pela técnica de partição em torno de centros móveis, tais como o método das “nuvens dinâmicas” (Diday, 1971). Este método parte de “peças-sementes” iniciais, uma para cada família de peças a ser formada, em torno das quais é induzida uma partição do sistema em células. Em seguida, escolhe-se como novas “peças-sementes” para induzir a formação de novas células, as peças que apresentam a menor soma de dissimilaridades em relação às outras peças atribuídas à família da qual ela faz parte. O procedimento é repetido até que duas iterações sucessivas conduzam à mesma partição ou até que o número de iterações atinja um número fixado previamente. O método proposto em Ferreira Ribeiro e Pradin (1993) para o projeto de células de manufatura faz uso do método das “nuvens dinâmicas”, inicializado por procedimentos específicos otimizados, uma vez que a convergência de tal método depende fortemente da solução inicial. 8. Conjuntos Nebulosos A maior parte dos trabalhos descritos na literatura para efetuar o projeto de células de manufatura faz uso de uma matriz de incidência binária aij = 0/1, ou seja : uma peça i utiliza uma máquina j e, neste caso aij = 1; caso contrário = 0. A técnica dos conjuntos nebulosos permite trabalhar-se com matrizes não-binárias e, por conseguinte, a introdução da incerteza usualmente encontrada na indústria quanto à máquina exata que vai realizar o processamento de uma determinada operação. Os trabalhos propostos por Montevechi (1995) e Montevechi e Gorgulho Jr. (1995) trabalham nesta linha de pesquisa. Em Montevechi (1995), trabalha-se com uma matriz não binária, adaptando-se o conceito de dominante e dominado, e utilizando-se um valor de pertinência representativo da adequabilidade mínima de uma máquina executar ou não uma determinada operação presente no roteiro de fabricação de uma peça. A grande vantagem de se utilizar uma matriz não binária consiste em poder-se incluir máquinas alternativas para o processamento de uma mesma operação. 9. Conclusão e Comentários A Tecnologia de Grupo é de grande relevância para a elevação dos índices de eficiência e implantação do “just-in-time” em indústrias caracterizadas essencialmente pela produção intermitente, que trabalham sob encomenda ou em lotes, com cadências variando de 1 a 50 peças por lançamento. O projeto de células de manufatura, condição necessária para a partição do sistema global de fabricação em sub-sistemas ou células, pode ser realizado por diferentes técnicas, como aquelas destacadas ao longo deste artigo, a saber : a) codificação e classificação, b) rearranjo matricial, c) programação matemática, d) teoria dos grafos, e) sistemas especialistas, f) análise de dados e g) conjuntos nebulosos, ou por um outro método qualquer, como o antigo método de “inspeção visual” do inventário. A escolha de uma técnica ou outra para se efetuar a seleção das células de manufatura depende acentuadamente do problema concreto que se pretende resolver e são inúmeros os fatores que podem influenciar nesta decisão. Entre estes fatores, dois são fundamentais : 1o) a dimensão do problema a resolver, ou seja, o número de peças e máquinas a particionar. Caso o problema seja de grande porte, a aplicação de técnicas de determinação da solução ótima via programação inteira fica inviabilizada, dado que estas técnicas têm um custo computacional altíssimo quando o número de variáveis a determinar apresenta mais de dois dígitos; 2o) a disponibilidade ou não de roteiros de fabricação alternativos para as peças, uma vez que se esta disponibilidade não existe, os métodos para os quais a matriz representativa dos sistemas de produção é estritamente binária, ou seja, aij = 0/1, são comprovadamente suficientes para a resolução do problema. Caso existam roteiros alternativos de fabricação, as opões de formulação matemática e algoritmos de resolução mais interessantes se concentram em modelos como o da “p-mediana generalizado”, a técnica dos sistemas especialistas ou dos conjuntos nebulosos. 10. Referências Bibliográficas Arruda, P. E. S., Vila Fo, E. 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