PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA: HEPATOLOGIA UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE PORTO ALEGRE TESTE DA CAMINHADA DOS SEIS MINUTOS, FORÇA MUSCULAR RESPIRATÓRIA E QUALIDADE DE VIDA EM PACIENTES CANDIDATOS AO TRANSPLANTE HEPÁTICO Lucas Homercher Galant Orientador: Prof. Dr.Cláudio Augusto Marroni Porto Alegre 2011 2 Lucas Homercher Galant TESTE DA CAMINHADA DOS SEIS MINUTOS, FORÇA MUSCULAR RESPIRATÓRIA E QUALIDADE DE VIDA EM PACIENTES CANDIDATOS AO TRANSPLANTE HEPÁTICO Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina: Hepatologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre. Orientador: Cláudio Augusto Marroni 2011 3 G146t Galant, Lucas Homercher Teste da caminhada dos seis minutos, força muscular respiratória e na Publicação qualidade de vida emCatalogação pacientes candidatos ao transplante hepático / Lucas Homercher Galant. – 2011. 46 f. : il., tabelas; 30 cm. Dissertação (mestrado) -- Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Programa de Pós-Graduação em Medicina: Hepatologia, 2011. “Orientador: Prof. Dr. Cláudio Augusto Marroni” 1. Doença hepática. 2. Transplante de fígado. 3. Teste da caminhada de seis minutos. 4. Força muscular respiratória. 5. Cirrose hepática alcoólica. 6. Qualidade de vida. I. Título. CDD 616.362 CDU 616.36 Bibliotecário Vladimir Luciano Pinto - CRB 10/1112 4 AGRADECIMENTOS A conclusão deste trabalho só foi possível com a colaboração de algumas pessoas e instituições que contribuíram nas diferentes etapas do mesmo. Sobre os seguintes, manifesto um agradecimento especial: Minha família, particularmente a minha mãe Sirlei Homercher Martins pelo apoio constante. Ao professor Dr. Cláudio Augusto Marroni, que orientou o desenvolvimento deste trabalho. Aos colegas e amigos, Luiz Alberto Forgiarini Junior, Mariane Borba Monteiro e Alexandre Simões Dias pela convivência e ensinamentos. Às secretárias da Pós-Graduação, em especial, Luciane Spencer, por ser tão paciente e competente nas questões práticas relacionadas a este mestrado. Aos Professores do Curso de Pós-Graduação em Medicina: Hepatologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, pelos conhecimentos e vivências transmitidos. 5 SUMÁRIO 1.0 Referencial teórico ...................................................................................................... 11 1.1 Aspectos Gerais .......................................................................................................... 11 1.2 Cirrose ......................................................................................................................... 12 1.3 Vírus da hepatite C ...................................................................................................... 14 1.4 Cirrose alcoólica .......................................................................................................... 15 1.5 Vírus da hepatite B ...................................................................................................... 17 1.6 MELD ......................................................................................................................... 18 1.7 Mensuração da qualidade de vida ............................................................................... 20 1.8 Mensuração da condição funcional ............................................................................. 22 1.9 Mensuração da força muscular respiratória ................................................................ 23 2.0 Alterações no metabolismo energético ........................................................................ 25 2.1 Alterações do metabolismo protéico ............................................................................ 26 3.0 Justificativa .................................................................................................................. 28 4.0 Objetivos ...................................................................................................................... 28 4.1 Objetivo geral .............................................................................................................. 28 4.2 Objetivos específicos ................................................................................................... 28 5.0 Discussão ...................................................................................................................... 29 6.0 Conclusão ...................................................................................................................... 33 7.0 Referências bibliográficas (referencial teórico) ............................................................ 34 8.0 Anexo1 ............................................................................................................................ 49 9.0 Artigo principal .............................................................................................................. 50 9.1 Estudo piloto publicado ................................................................................................. 69 9.2 Estudo piloto publicado ................................................................................................. 71 6 LISTA DE ABREVIATURAS Alanina Aminotransferase Albumina Aspartato Aminotransferase Atividades de Vida Diária Antígeno da Hepatite B Carcinoma hepatocelular Child-Turcotte-Pugh Child-Turcotte-Pugh A Child-Turcotte-Pugh B Child-Turcotte-Pugh C Chronic Liver Disease Questionnairie Cirrose Alcoólica Consumo máximo de Oxigênio ALT Alb AST AVDs AgHB CHC CTP CTP - A CTP - B CTP - C CLDQ CA VO2máx Creatinina Desnutrição Protéico- Calórica Diabetes Mellitus Tipo 2 Doença Hepática Alcoólica Domínio: Aspectos Sociais do SF-36 Creat DPC DM2 DHA SF-366 Domínio Capacidade Funcional do SF-36 SF-361 Domínio: Dor do SF-36 SF-363 Domínio: Estado Geral de Saúde do SF-36 SF-364 Domínio: Limitação por Aspectos Emocionais do SF-36 SF-368 Domínio: Limitação por Aspectos Físicos do SF-36 SF-362 Domínio: Saúde Mental do SF-36 SF-367 Domínio: Vitalidade do SF-36 SF-365 Escala de esforço modificada de Borg Fosfocreatina Frequência Respiratória Magnésio total Medical Outcome Study Form Questionaire Short Form -36 Metros Model for End Stage Liver Disease Organização Mundial da Saúde Pressão Expiratória Máxima Pressão Inspiratória Máxima Questionário de Qualidade de Vida Short-Form 36 Borg PCr FR Mg2+ SF36 m MELD OMS PEmáx PImáx SF-36 7 Relação Normalizada Internacional Saturação periférica de Oxigênio RNI SpO2 Teste da Caminhada dos Seis Minutos Transjugular Intrahepatic Portosystemic Shunt Transplante Hepático Trifosfato de Adenosina Vírus da Hepatite B Vírus da Hepatite C TC6min TIPS TxH ATP VHB VHC 8 LISTA DE FIGURAS Figura 1 (Referencial Teórico) - Circuito do Manovacuômetro digital MVD 24 300 da Globalmed®, para mensurações da Pressão Inspiratória máxima (PImáx) e Pressão Expiratória máxima (PEmáx). Figura 1 (Artigo)– Correlação entre o MELD e o Teste da Caminhada dos Seis Minutos. 66 Figura 2 (Artigo) – Correlação do MELD com a Pressão Inspiratória Máxima 67 (PImáx). Figura 3 (Artigo) - Correlação do Teste da Caminhada com a Pressão 68 Inspiratória Máxima (PImáx). LISTA DE TABELAS Tabela 1 (Artigo) –. Características antropométricas e clínicas dos pacientes. 63 Tabela 2 (Artigo) – Comparação entre os grupos das variáveis do Teste da Caminhada dos Seis Minutos e Força Muscular Respiratória. 64 Tabela 3 (Artigo) – Comparação da qualidade de vida entre os grupos. 65 9 RESUMO Introdução - As doenças hepáticas são responsáveis por alterações metabólicas, pelas perdas da massa e da função muscular, que interferem na condição funcional e na qualidade de vida desses pacientes. Objetivo - Comparar a condição funcional, força muscular respiratória e qualidade de vida (QV) nos pacientes cirróticos candidatos ao transplante de fígado, conforme as etiologias: Vírus da Hepatite C (VHC), Vírus da Hepatite B (VHB) e Cirrose por Álcool (CA) e correlacionar o teste da caminhada dos seis minutos (TC6min) e a força muscular respiratória com o escore de gravidade Model for End-stage Liver Disease (MELD). Métodos - Estudo transversal, composto por 86 pacientes, divididos em três grupos: VHC (n=40 pacientes), VHB (n=14 pacientes) e CA (n=32 pacientes). Resultados – O grupo CA apresentou menor distância no TC6min, quando comparado, respectivamente, aos grupos VHB e VHC; 373,50+50,48 (m), 464,16 + 32,00 (m) e 475,94 + 27,84 (m), p = 0,001. Nos domínios do SF-36, o grupo CA apresentou menores escores na capacidade funcional e limitações de aspectos físicos, quando comparado aos grupos, VHB e VHC, respectivamente (p= 0,001). Na comparação da força dos músculos respiratórios, o grupo CA apresentou menor PImáx, quando comparado com os grupos VHB e VHC; -65,54 + 11,28(cmH2O); 71,61+ 6,96 (cmH2O); - 82,44 + 13,71(cmH2O), respectivamente, p=0,001. Na comparação da PEmáx, o grupo CA obteve menores valores do que os grupos VHB e VHC; 65,13+ 10,74(cmH2O); 82,44+13,87(cmH2O); 83,44 + 12,20(cmH2O), respectivamente, p=0,001. Na correlação do MELD com o TC6min, houve moderada correlação inversa r= -0,74, p = 0,0001, MELD vs PImáx, r= - 0,55, p=0,0001. Conclusão – O grupo CA apresentou: pior condição funcional; força muscular respiratória e pior qualidade de vida que os pacientes com VHC e VHB, bem como, correlação inversa do TC6min e de força muscular inspiratória com escore de gravidade MELD de pacientes candidatos ao transplante hepático. Palavras-Chave: Transplante hepático; Condição Funcional e Qualidade de Vida. 10 ABSTRACT Abstract Background - liver diseases are responsible for metabolic disorders, loss of muscle mass and function, which, interferes functional status and quality of life on these patients. Objective to compare the functional status, respiratory muscle strength and quality of life (QOL) using the SF-36 in patients with liver transplant cirrhosis candidates with the following etiology: Hepatitis C virus (HCV), Hepatitis B Virus (HBV) and alcoholic cirrhosis (AC). Methods cross-sectional study comprising 86 patients divided into three groups: HCV (40 patients), HBV (14 patients) and AC (32 patients). Results - The AC group showed less distance in SixMinute Walk Test compared to HBV and HCV groups; 373.50 ± 50.48 (meters) 464.16 ± 32.00(m) and 475.94 ± 27.84 (m), respectively, p=0.001. The domains of the SF-36, AC group had lower scores on functional limitations and physical aspects compared to HBV and HCV groups, p=0.001. By comparing the strength of respiratory muscles AC group had lower MIP then HBV and HCV groups; -65.54 ± 11.28 (cmH2O) -71.61 ± 6.96 (cmH2O) - 82.44 ± 13.71 (cmH2O), respectively, p = 0.001. By comparing the MEP group AC had lower values than the groups HBV and HCV; 65.13 ± 10.74 (cmH2O), 82.44 ± 13.87 (cmH2O) 83.44 ± 12.20 (cmH2O) , respectively, p = 0.001. In correlation with the MELD and Six Minute Walk Test, moderate inverse correlation was r = -0.74, p = 0.0001, MELD vs. MIP, r = - 0.55, p = 0.0001. Conclusion - The AC group showed worse functional status, respiratory muscle strength and quality of life compared to patients HCV and HBV, as well as demonstrates the inverse correlation Six Minute Walk Test and MIP with MELD severity score of patients eligible for liver transplantation. Keywords: Liver transplantation, Functional status and Quality of life. 11 Referencial Teórico 1.1 Aspectos gerais O transplante hepático é o tratamento de eleição para doenças do fígado de evolução progressiva, irreversível e terminal que, com terapia conservadora, apresentam mortalidade de 70% ao ano1. Esse procedimento tem permitido a reintegração de 68% dos indivíduos às atividades habituais2. Atualmente, a melhora e a padronização das técnicas de preservação, preparo e implante dos enxertos, além do diagnóstico preciso, possibilitam atingir uma 3 sobrevida superior a 70 a 80% em cinco anos . Entre as indicações mais comuns de transplante hepático estão doenças hepáticas crônicas como as hepatite por vírus B e C, carcinoma hepatocelular, colangite esclerosante, 4 cirrose biliar primária e cirrose alcoólica . Os pacientes cirróticos desenvolvem no percurso da sua doença, independentemente da etiologia, uma evolução progressiva de piora, que pode ser estadiada por parâmetros clínicos e/ou matemáticos (Child-Turcotte Pugh ou Model for End Stage Liver Disease), que se correlacionam, de maneira linear, com os desfechos de morbi-mortalidade da doença5. Nas formas compensadas da cirrose, pode haver similaridade de condição funcional de cirróticos com indivíduos saudáveis, não se observando diferenças marcantes6. Nas formas evoluídas da doença, há comprometimento mais acentuado da capacidade funcional relacionada ao desempenho físico, cárdio-respiratório, muscular, nutricional e de bem estar individual e social, que modificam significativamente estes parâmetros em relação aos indivíduos saudáveis, o que torna os pacientes cirróticos incapazes de uma vida saudável e compromete o seu bem-estar e sua vida de relação7. Algumas das complicações causadas pelas doenças hepáticas avançadas são as alterações metabólicas associadas à desnutrição dos pacientes, já que os mesmos perdem grande quantidade de massa muscular e apresentam, assim, alterações na sua funcionalidade, o que propicia um quadro de inatividade física. A associação destes fatores causa influência negativa nas atividades de vida diária (AVD) e na qualidade de vida (QV) dessa população8. A avaliação da qualidade de vida tem significado importante na avaliação das doenças hepáticas crônicas. Estudos mencionam a diminuição da relação da qualidade de vida dos pacientes com hepatopatias irreversíveis, quando comparados com indivíduos 9 saudáveis . Estas mensurações são realizadas de forma específica, através do questionário 12 Chronic Liver Disease Questionnairie (CLDQ)10 ou por meio do instrumento genérico 11 Medical Outcome Study Form Questionnaire (SF-36) . A mensuração da capacidade cardiorrespiratória e músculo-esquelética ainda é pouco explorada nessa população. Suas alterações decorrem da limitação do parênquima hepático em sintetizar componentes metabólicos importantes que servem de substrato energético para a realização das AVDs12. Todavia, as Síndromes Hépato-Pulmonar e Porto-Pulmonar são complicações reconhecidas na evolução da cirrose, independente da sua etiologia, que ocorrem em percentuais variados, 15 a 20% na primeira e 1 a 2% na segunda, com gravidade diversa, a segunda mais grave que a primeira13. Ambas desencadeiam alterações da oxigenação e da capacidade funcional dos cirróticos, limitando-os no seu dia a dia. Os portadores dessas síndromes são sedentários, oxigenam mal e apresentam dispnéia que pode ser incapacitante aos exercícios, e o seu prognóstico de sobrevida é abreviado14. Uma possível explicação para a redução da condição funcional pode estar relacionada com a perda de massa muscular apresentada por este tipo de população, mas também pode ser em decorrência da diminuição na capacidade oxidativa mitocondrial e/ou no número de mitocôndrias presentes no tecido muscular. O índice de Adenosina Trifosfato (ATP), Fosfocreatina (PCr) e Magnésio total (Mg2+) está diminuído no músculo esquelético de pacientes cirróticos. Este conceito foi demonstrado por Jacobsen et al., pois as maiores taxas de PCr e ATP mitocondrial foram apresentadas pelos indivíduos classificados como ChildTurcotte-Pugh (CTP) A em comparação aos pacientes que apresentavam os escores CTP -B e CTP-C15. 1.2 Cirrose A cirrose caracteriza-se pela substituição difusa da estrutura hepática normal por nódulos de estrutura anormal circundados por fibrose, é o estádio final comum de uma série de processos patológicos hepáticos de diversas causas, sendo que a infecção crônica pelos Vírus da Hepatite B e C e o consumo do álcool são os agentes etiológicos mais prevalentes. Cirrose por álcool ou por VHC são as causas mais comuns no mundo ocidental, enquanto que VHB prevalece em muitas partes da Ásia e África 16. Considerada uma das principais causas de doença hepática, a cirrose é responsável por aproximadamente 1,1% das mortes anuais. Em 2001, foi considerada a 14ª causa de morte no mundo e, acredita-se que até 2020, alcançará a 12ª posição, entre as causas de óbito17. 13 Apesar de haver muitas pesquisas em relação ao desenvolvimento da fibrose hepática, o entendimento de sua etiopatogênese continua controverso. Vários estudos têm demonstrado que a célula-chave na produção da fibrose no fígado é a célula estrelada de Ito, situada no espaço de Disse. Essa é uma célula armazenadora de gordura e de vitamina A que, sob a ação de citocinas fibrogênicas, diferencia-se em miofibroblasto e fibroblasto, engajando-se na ativa síntese dos elementos da matriz (colágenos, elastina, proteoglicanos e proteínas de constituição). A deposição de colágeno no espaço de Disse interfere nas funções metabólicas dos hepatócitos, ocasionando disfunção e diminuição da atividade da síntese protéica18. As principais consequências clínicas da cirrose são insuficiência hepática, hipertensão portal (aumento da resistência intra-hepática) e o desenvolvimento de carcinoma hepatocelular (CHC). As alterações circulatórias, geralmente verificadas em casos de cirrose (vasodilatação esplâncnica, vasoconstrição extra-esplâncnica, hipoperfusão dos rins, retenção de água e sal, aumento do débito cardíaco), estão intimamente relacionadas com as alterações hepáticas e vasculares decorrentes da hipertensão portal 19. A cirrose apresenta-se sob a forma compensada ou descompensada, sendo que a mortalidade aumenta drasticamente quando os pacientes descompensam. A taxa anual de mortalidade dos pacientes compensados, geralmente assintomáticos, varia de 1 a 3,4%, já nos descompensados (presença de sangramento visceral, ascite, encefalopatia e síndrome hépatorenal) é de 20 a 57% 20. No Brasil, no ano de 2007, 1,75% dos registros de óbitos foram em decorrência de doença Hepática (doença alcoólica – 0,85% e cirrose – 0,90%) 21. No Rio Grande do Sul, em 2006, o percentual de óbitos foi de 1,6% (N= 1193). Na Região Metropolitana de Porto Alegre, no ano de 2006, 435 pessoas vieram a óbito em decorrência de doença alcoólica e cirrose 22. O prognóstico da cirrose depende da etiologia, da gravidade da hepatopatia, da presença de doenças associadas e outras complicações. Várias pesquisas têm sido feitas com o intuito de encontrar o melhor instrumento, não invasivo e de fácil utilização, para avaliar o grau de comprometimento hepático, bem como o prognóstico dos pacientes 23. Dentre os mais utilizados estão os escores CTP e Model for End-Stage Liver Disease (MELD) 24. O escore MELD resulta num valor numérico obtido através de uma fórmula logarítmica em que as variáveis são os níveis séricos de creatinina e bilirrubina e o valor do RNI (Relação Normalizada Internacional)25. É utilizado, atualmente, como um dos preditores de mortalidade em pacientes cirróticos, particularmente nos três primeiros meses, além de ser um marcador de prioridade para pacientes em lista de transplante hepático 26. 14 Os pacientes cirróticos poderão ter co-morbidades, mais ou menos acentuadas, relacionadas com a etiologia da sua doença. Assim, os pacientes com Vírus da Hepatite C (VHC) podem apresentar com maior frequência Diabetes Mellitus, insuficiência renal, doenças de pele e associação com hemoglobinopatias. Os dependentes do álcool, miocardiopatia, neuropatia central ou periférica e alterações musculares. Na sua evolução progressiva, os cirróticos poderão apresentar queixas clínicas mais ou menos acentuadas e frequentes, relacionadas com estas particularidades27. A capacidade de influência da gravidade da doença hepática em pacientes cirróticos interfere diretamente na sua condição funcional. A deficiência na síntese protéica e a diminuição da capacidade de sustentação hepática de substratos energéticos proporcionam um processo de caquexia persistente nesta população. Tais processos acabam limitando o trabalho de integridade fisiológica do sistema músculo-esquelético, ocasionando consequências prejudiciais na condição funcional, força muscular e na qualidade de vida desses pacientes28. Depleção da síntes e de glicogênio (Incapacidade da gliconeogênese) Diminuição da contratilidade musc ular Inati vação das enzimas oxidati vas Adaptaç ão da fibra musc ular (predomíni o do metabolis mo anaeróbi o) Acúmulo de l actato (futuramente ácido láctico Inati vidade muscular Diminuição da condição funcional e Ativi dades de Vi da diária Fluxograma demonstrando a conseqüência da doença hepática no mecanismo de adaptação muscular e repercussões na condição funcional. Galant, et al, 2011. 1.3 Vírus da Hepatite C (VHC) A infecção pelo VHC é, atualmente, uma das principais causas de doença hepática crônica no mundo 29,30 . Os dados disponíveis sugerem que a prevalência mundial da infecção 15 pelo VHC é de cerca de 2,2-3,0%, ou seja, 130 – 170 milhões de indivíduos infectados31. Estima-se que, anualmente, surjam, em âmbito mundial, de 3 a 4 milhões de novos casos32. No Brasil, ainda não existem estudos capazes de estabelecer sua real prevalência, estima-se que 1% a 2% da população em geral esteja infectada com o Vírus C 33 . Dados do Ministério da Saúde (2007) contabilizam 93.238 casos confirmados de hepatite C no Brasil, entre 1996 e 2006, com prevalência de distribuição de 52,5% na Região Sudeste, 31,9% na Região Sul, 6,5% na Região Centro-Oeste, 6,2% na Região Nordeste e 2,9% na Região Norte. A distribuição dos casos de hepatite C, segundo a faixa etária, apresenta uma concentração de casos em adultos com idade entre 40 a 59 anos. Essa distribuição pode ser explicada pela característica clínica da doença, que praticamente tem curso assintomático e padrão de evolução longo 34. Estudos sugerem que de 3 a 25% dos pacientes cronicamente infectados irão desenvolver cirrose num período de 20 anos e uma proporção significativa (0,2 a 2,5%) vai desenvolver hepatocarcinoma35,36. O VHC afeta principalmente o fígado, mas diversos tecidos podem estar envolvidos, resultando num amplo espectro de manifestações extra-hepáticas, entre elas alterações no metabolismo lipídico e Diabetes Mellitus Tipo 2 (DM2)37. Entre 20-40% dos pacientes cirróticos desenvolvem DM2, condição que agrega um aumento da mortalidade38. Alterações do tecido hepático, em decorrência da fibrose, vão proporcionar um déficit de substratos energéticos e conteúdo protéico para o tecido muscular. Os filamentos protéicos de actina e miosina irão sofrer processos adaptativos e perderão seus componentes contráteis, acarretando na hipotrofia muscular. Concomitantemente, ocorre a alteração no metabolismo lipídico. Acredita-se que o VHC possa influenciar na composição bioquímica das lipoproteínas e, em alguns casos, até mesmo modificar o metabolismo lipídico. Tais aspectos acabam limitando o funcionamento muscular, repercutindo negativamente na realização das atividades de vida diária dos pacientes cirróticos com VHC39. 1.4 Cirrose Alcoólica (CA) O consumo excessivo de bebidas alcoólicas representa um grave problema à saúde pública mundial, fato que tem despertado interesse de vários pesquisadores. A ingestão abusiva de álcool é uma das causas mais frequentes de cirrose nos países desenvolvidos40. Estudo realizado em 16 Países Europeus, durante 25 anos (1970 – 2006), evidenciou a associação entre o consumo de álcool e os índices de mortalidade por cirrose41. No Brasil, os dados publicados no Io Levantamento Nacional sobre padrões de consumo de álcool na 16 população brasileira (2007) constataram que a faixa etária entre 18-24 anos apresentou o maior percentual de dependência (15%), seguida pelas faixas 24-34 anos (9%), 35-44 anos (7%), 45-59 anos (7%) e 60 ou mais (3%)42. A Doença Hepática Alcoólica (DHA), ou seja, hepatopatia induzida pelo etanol e/ou seus metabólitos, pode ser dividida em três formas: esteatose, hepatite alcoólica e cirrose. Tais formas representam etapas evolutivas de um mesmo processo patogênico. Em fase inicial, o aspecto histológico característico é a esteatose (deposição excessiva de gorduras nas células hepáticas), depois predominam a necrose e a inflamação, com surgimento de fibrose, caracterizando a hepatite alcoólica. Com a progressão da fibrose, há a modificação da arquitetura normal do fígado, com formação nodular (cirrose) e com posterior desenvolvimento de hipertensão portal e insuficiência hepática 43. A hepatotoxicidade do etanol está intimamente relacionada com o seu metabolismo, que ocorre, principalmente, no fígado. A metabolização ocorre com o auxílio das enzimas álcool desidrogenase, aldeído desidrogenase e sistema microssômico de oxidação do etanol. A oxidação do etanol ocorre em duas fases: na primeira, ele é transformado em aldeído acético (substância vasoativa mais tóxica que o próprio etanol); na segunda, o aldeído acético é transformado em acetato. Em consequência da oxidação do etanol, ocorrem importantes modificações bioquímicas, especialmente o aumento da relação nicotinamida adenina dinucleotídio hidreto, além da formação de aldeído acético, proliferação microssômica, entre outras que integram o conjunto de mecanismos responsáveis pela lesão hepática 44. É difícil definir formalmente “um limiar tóxico” de consumo de álcool sobre o fígado. Credita-se que o risco de desenvolver cirrose existe para um consumo superior a 80g/dia de etanol para homens e 60g/dia para mulheres, após período médio de 5 a 10 anos. As mulheres são mais suscetíveis à lesão hepática alcoólica, quando comparadas aos homens. A maior suscetibilidade deve-se principalmente à reduzida atividade do álcool desidrogenase gástrica, o que leva a uma diminuição do metabolismo gástrico do etanol com posterior sobrecarga hepática 45. O mecanismo de ação direta do álcool e/ou seus metabólitos sobre o tecido muscular é atualmente conhecido e elucidado. Ekbom et al., foram os primeiros a chamar a atenção para uma síndrome muscular crônica, caracterizada por fraqueza e atrofia proximais que surgia como complicação do uso prolongado de etanol46. A partir de então, foram inúmeras as contribuições ao estudo da miopatia alcoólica crônica. Um significativo quadro histológico é visto no estádio crônico da miopatia alcoólica humana. Uma grande variação no diâmetro das fibras é observada, alguns fascículos são reduzidos e apresentam-se como fibras atrofiadas. 17 São verificados aumento no número dos núcleos subsarcolemais, aumento do tecido conjuntivo intersticial e substituição de fibras destruídas por tecido adiposo. Nas formas subclínicas da doença, o exame histológico mostra alterações muito modestas como aumento dos núcleos subsarcolemais e ocasional atrofia de fibras musculares. A principal alteração histológica observada é a necrose maciça das fibras musculares, com frequentes imagens de degeneração na área de Zencker47. 1.5 Vírus da hepatite B (VHB) A hepatite B é uma doença infecciosa causada pelo vírus B. Representa um problema de saúde pública mundial, podendo ser prevenida com vacinação. Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde, mais de 2 bilhões de indivíduos encontram-se infectados pelo VHB, dos quais 350 milhões apresentam infecção crônica 48. Essa virose mostra-se amplamente distribuída em todos os continentes, predominando no Sudeste Asiático e na África subsaariana. A infecção traz, em longo prazo, a seus hospedeiros, graves consequências ao fígado, podendo levar à cirrose e ao carcinoma hepatocelular. Nos últimos anos, tem-se observado um avanço considerável no diagnóstico e tratamento dessa entidade49. Os principais grupos de risco para a infecção pelo VHB incluem recém-nascidos de mães infectadas, usuários de drogas ilícitas, pessoas com múltiplos parceiros sexuais, homens que fazem sexo com homens, hemodialisados, profissionais da saúde e indivíduos pertencentes às classes socioeconômicas menos favorecidas 50. Os genótipos do HBV (em número de 8, A-H), à semelhança dos genótipos do HCV, parecem ter uma importância crucial no manuseio da hepatite B, embora não estejam ainda disponíveis para uso clínico. No Brasil, predominam os genótipos A e F, no Sudeste Asiático; B e C, no Sul da Europa; o genótipo D e na América do Norte e na Europa Setentrional o A. As mutantes pré-core do HBV são mais comuns nos genótipos B, C e principalmente no D, o que explica o maior número desses doentes portadores dessas variantes no Sudeste Asiático e nos países mediterrâneos. O genótipo C está associado à doença hepática mais grave e maior frequência ao carcinoma hepatocelular do que o genótipo B; por outro lado, os genótipos A e B respondem melhor ao tratamento com intérferon, quando comparados aos C e D e o B mostra índice de soroconversão AgHb e anti-Hbe mais precoce que o C. Portanto, a 18 genotipagem do VHB parece ser útil no manuseio dos pacientes infectados pelo HBV e podendo ser incorporado à prática clínica diária 51. Após a infecção aguda, aproximadamente 3 a 5% dos adultos e até 95% das crianças se tornam portadoras crônicas do VHB. A hepatite B crônica é um processo dinâmico com uma fase replicativa precoce com doença hepática ativa e uma fase tardia com baixa replicação viral e remissão histológica da doença 52 . No entanto, em decorrência do processo de cronicidade do vírus no parênquima hepático, pode evoluir para cirrose e as consequentes alterações da síntese protéica e menor oferta de metabólitos energéticos que acabam limitando a capacidade funcional dos pacientes, acarretando em piora na realização das atividades de vida diária 52. 1.6 Escore MELD (Model for End-stage Liver Disease) O MELD foi descrito no ano 2.000 para predizer a sobrevida de pacientes cirróticos submetidos a anastomose portossistêmica intra-hepática transjugular ou TIPS (Transjugular Intrahepatic Portosystemic Shunt). O escore foi desenvolvido com base em informações de 231 pacientes submetidos de forma eletiva ao procedimento em diferentes centros dos Estados Unidos53. No seguimento destes pacientes, 110 deles morreram por doença hepática, 70 dos quais em até 3 meses depois do TIPS. Nesse estudo, utilizando o modelo de regressão de azares proporcionais de Cox, com dados clínicos e laboratoriais, foram identificadas quatro variáveis preditoras de sobrevida: RNI do tempo de protrombina, creatinina sérica, etiologia da doença hepática e bilirrubina total. Para minimizar a influência de valores extremos na análise estatística, as variáveis quantitativas foram transformadas em seus logaritmos naturais e foi atribuído um coeficiente de regressão a cada uma, refletindo seu valor prognóstico para mortalidade 54, 55. Para cada paciente, o escore foi calculado pela equação: 0,957 log (creatinina [mg/dl]) + 0,378 log (bilirrubina [mg/dl]) + 1,120 log (RNI) + 0,643 (causa da cirrose). A etiologia da cirrose recebeu a seguinte pontuação: zero se a origem da doença fosse álcool ou colestase e um para as demais causas. Pacientes com escores acima de 1,8 apresentaram alto risco de mortalidade, com mediana de sobrevida inferior a três meses. Pacientes com cirrose por álcool ou por doença colestática apresentavam discreta maior sobrevida comparados aos com doença secundária a vírus ou a outras etiologias. Como resultado, o escore MELD foi inicialmente designado para refletir esta diferença de mortalidade 56. 19 O MELD foi desenvolvido e testado em pacientes com cirrose avançada, assim, o próximo passo seria investigar sua utilidade em predizer a sobrevida de pacientes em lista de espera para TxH. A mortalidade em lista foi proporcional ao escore MELD, com mortalidade de 1,9% para pacientes com MELD < 9 e de 71% para pacientes com MELD > 40. A acurácia do MELD foi de 0,83 para prever mortalidade em 3 meses para pacientes em lista de espera para TxH, superior ao escore CTP (com acurácia de 0,76) 57. Na Santa Casa de Porto Alegre, um estudo avaliou 271 pacientes em lista de espera para TxH. No momento de inclusão em lista, a média de escores MELD foi de 14,8 e, aproximadamente, 61% dos pacientes eram CTP B. Também não foram observadas diferenças na acurácia dos escores MELD e CTP em predizer mortalidade em 3 meses: estatística–c 0,79 e 0,70, respectivamente (p=0,46) 58. Caracterizada a utilidade do MELD para predizer a mortalidade de pacientes com cirrose em lista de espera para TxH e sua maior reprodutibilidade em relação ao CTP nesta situação, por não incluir variáveis passíveis de classificação subjetiva, como ascite ou encefalopatia hepática, além de ser um escore contínuo que pode ser atualizado de acordo com a evolução do paciente e que enfatiza a prioridade de acordo com a necessidade clínica, de modo que o paciente com o maior escore MELD (portanto com o maior risco de morte) tem prioridade para a alocação do órgão59. O MELD também é criticado por limitações relacionadas às características do escore em si e ao seu uso como critério para alocação de órgãos 60,61 . O escore MELD em aproximadamente 15% a 20% dos pacientes apresenta limitação na sua acurácia 62. O modelo foi criado através de análise multivariada, a partir de variáveis escolhidas empiricamente. Embora as variáveis incluídas sejam objetivas, o que representa um avanço em relação a outros modelos, na prática, todas elas podem ser alteradas por intervenções terapêuticas ou por outras condições clínicas, como hemólise ou infecções. Os níveis séricos de creatinina são influenciados pela idade, pela massa corporal e pelo sexo, e seus resultados podem ser alterados em determinadas ocasiões e apresentar variações significativas, de acordo com o método de análise utilizado, capazes de influenciar alterações no MELD com relevância clínica63. Também é motivo de debate a utilização da RNI, que é uma versão normatizada do tempo de protrombina. A RNI foi desenvolvida para pacientes que recebiam antagonistas da vitamina K e não desenhada ou validada para doentes com hepatopatias. Um fato relevante e com possíveis repercussões clínicas é a variabilidade de resultados da RNI entre laboratórios 64,65 . Uma das opções seria modificar a equação para o cálculo do MELD, excluindo RNI. 20 Assim, foi criado e validado outro escore, o MELD-XI 66 . Sua acurácia como preditor de mortalidade, em curto prazo, de pacientes com cirrose seria comparável à do MELD. Contudo, o assunto ainda é motivo de estudos e está sendo revisado por um grupo de especialistas 67. Em relação à bilirrubina, especula-se que a fração direta possa ser um marcador mais adequado de doença hepática, sendo, então, seu uso mais indicado do que o da bilirrubina total, mas há uma carência de estudos que corroborem este achado 68 . Por outro lado, em pacientes com doenças colestáticas, os níveis séricos de bilirrubina representam mais o grau de comprometimento da árvore biliar do que o da gravidade da hepatopatia. Assim, o MELD pode superestimar o risco de morte de pacientes com doença colestática 69. 1.7 Mensuração da Qualidade de Vida A expressão qualidade de vida foi empregada pela primeira vez pelo presidente dos Estados Unidos, Lyndon Johnson, em 1964, ao declarar que “os objetivos não podem ser medidos através do balanço dos bancos. Eles só podem ser medidos através da qualidade de vida que proporcionam às pessoas” 70. O interesse em conceitos como “padrão de vida” e “qualidade de vida” foi inicialmente partilhado por cientistas sociais, filósofos e políticos. O crescente desenvolvimento tecnológico da Medicina e ciências afins trouxe, como uma consequência negativa, a sua progressiva desumanização. Assim, a preocupação com o conceito de “qualidade de vida” refere-se a um movimento dentro das ciências humanas e biológicas no sentido de valorizar parâmetros mais amplos que o controle de sintomas, a diminuição da mortalidade ou o aumento da expectativa de vida71. Assim, a avaliação da qualidade de vida foi acrescentada nos ensaios clínicos randomizados como a terceira dimensão a ser avaliada, além da eficácia (modificação da doença pelo efeito da droga) e da segurança (reação adversa a drogas)72. A oncologia foi a especialidade que, por excelência, viu-se confrontada com a necessidade de avaliar as condições de vida dos pacientes que tinham sua sobrevida aumentada com os tratamentos propostos, já que, muitas vezes, na busca de acrescentar “anos à vida”, era deixada de lado a necessidade de acrescentar “vida aos anos”73. 21 O conceito de qualidade de vida definido pela OMS é “a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” 74. No entanto, o termo qualidade de vida, como vem sendo aplicado na literatura médica, não parece ter um único significado. “Condições de saúde”, “funcionamento social” e “qualidade de vida” têm sido usados como sinônimos, e a própria definição de qualidade de vida não consta na maioria dos artigos que utilizam ou propõem instrumentos para sua avaliação75. Qualidade de vida relacionada com a saúde (“Health-related quality of life” ) e Estado subjetivo de saúde (“Subjective health status”) são conceitos afins, centrados na avaliação subjetiva do paciente, mas necessariamente ligados ao impacto do estado de saúde sobre a capacidade do indivíduo de viver plenamente76. Bullinger et al., consideram que o termo qualidade de vida é mais geral e inclui uma variedade potencial maior de condições que podem afetar a percepção do indivíduo, seus sentimentos e comportamentos relacionados com o seu funcionamento diário, incluindo, mas não se limitando, a sua condição de saúde e as intervenções médicas77. Houve, na última década, uma proliferação de instrumentos de avaliação de qualidade de vida e afins, a maioria desenvolvida nos Estados Unidos, com um crescente interesse em traduzi-los para aplicação em outras culturas. A aplicação transcultural através da tradução de qualquer instrumento de avaliação é um tema controverso. Alguns autores criticam a possibilidade de que o conceito de qualidade de vida possa não ser ligado à cultura. Por outro lado, em um nível abstrato, alguns autores têm considerado que existe um “universal cultural” de qualidade de vida, isto é, que, independente de nação, cultura ou época, é importante que as pessoas se sintam bem psicologicamente, possuam boas condições físicas e sintam-se socialmente integradas e funcionalmente competentes78. Um dos instrumentos utilizados para avaliar a qualidade de vida é o questionário genérico SF-36, que descreve e avalia o estado de saúde dos indivíduos através de vários domínios (capacidade funcional – SF-361; limitação por aspectos físicos - SF-362; dor - SF363; estado geral da saúde – SF-364; vitalidade - SF-365; aspectos sociais - SF-366; saúde mental - SF-367; limitação por aspectos emocionais - SF-368). Os escores em cada domínio são obtidos através da soma das respostas daquele item, transformando-se estes escores brutos em uma escala, em que 0 representa saúde deficitária e 100 bom estado de saúde79. Em relação aos pacientes com doenças hepáticas, a mensuração da qualidade de vida vem sendo utilizada para quantificar a eficácia dos tratamentos propostos, visto que os pacientes apresentam limitações importantes nas suas atividades da vida diária, associada a 22 um déficit motor global que proporciona redução dos níveis de aptidão física e limitação da condição funcional80. 1.8 Mensuração da Condição funcional A corrida de doze minutos foi inicialmente padronizada por Cooper, para avaliar a capacidade física em indivíduos saudáveis, e modificada para caminhada de doze minutos para avaliar a capacidade física de pacientes com bronquite crônica81. Posteriormente, Butland et al., exploraram com sucesso a utilização dos testes de caminhada com duração de dois, seis e doze minutos na aferição da capacidade física de portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica82. Desde então, os testes de caminhada vêm sendo utilizados de forma crescente, para avaliar a efetividade de diferentes modalidades de tratamento nas áreas clínica e cirúrgica83. Em 1976, McGavin et al., introduziram o TC6min como medida da capacidade funcional em portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica84. Recentemente, Troosters et al., mostraram a utilização desse teste ainda para esse fim85. A partir da década de 1980, houve um crescimento da utilização do TC6min na prática clínica, sobretudo na insuficiência cardíaca e nas doenças pulmonares crônicas86. No Studies Of Left Ventricular Dysfunction, a distância caminhada durante seis minutos foi identificada como variável independente indicadora de mortalidade e de morbidade, em pacientes com insuficiência cardíaca em classes funcionais II e III87. Foi sugerido que o tipo de esforço, durante o TC6min na insuficiência cardíaca, assemelhava-se à atividade diária, podendo ser considerado um exame submáximo. Carreira et al., concluíram que o TC6min determina importante estresse hemodinâmico e um elevado número de arritmias graves, apesar de refletir melhor as atividades cotidianas do que um teste de consumo máximo88. Recentemente, tem-se reconhecido que o TC6min pode ser um indicador da capacidade física global e da mobilidade em idosos e não apenas uma medida específica da capacidade cardiovascular89. Duncan et al., relataram que o desempenho no TC6min difere significativamente entre homens idosos com diferentes níveis de prejuízo à mobilidade, e Harada et al., relataram correlações moderadas entre o TC6min e as medidas de mobilidade, incluindo equilíbrio em pé, velocidade da marcha e força muscular de membros inferiores em pessoas de 65 anos ou mais, podendo ser usado como indicador de quedas90,91. O TC6min é realizado num corredor reto, plano, com trinta metros de comprimento, sem nenhum tipo de obstáculo. Antes de iniciar o teste, os pacientes são orientados pelo 23 avaliador, que o mesmo não corre nenhum risco na sua realização, e, durante o teste, é utilizado estímulo verbal padronizado a cada minuto de caminhada, e os pacientes são incentivados a percorrer a maior distância possível. No final do teste, é mensurada a distância percorrida. Os pacientes são monitorados através da frequência respiratória, frequência cardíaca e saturação periférica de oxigênio e a sensação de dispnéia e de fadiga nos membros inferiores através da escala de Borg modificada (escala 0-10). O teste é realizado de acordo com a American Thoracic Society (ATS) 92. No entanto, a análise funcional mensurada através do TC6min nos pacientes hepáticos ainda é pouco explorada, visto que os pacientes mais graves apresentam limitações importantes para a realização das atividades de vida diária em decorrência das manifestações sistêmicas das doenças hepáticas. Os fatores como ascite, encefalopatia hepática e a perda de massa muscular influenciam negativamente na condição funcional e afetam diretamente na qualidade de vida dos hepatopatas93. 1.9 Mensuração da Força Muscular Respiratória Em 1969, Black et al., introduziram uma forma simples de se medir pressões respiratórias máximas com um manômetro/manovacuômetro graduado em cmH2O, demonstrando que essa era uma medida quantitativa da função e da força dos músculos respiratórios94. Desde então, a força muscular respiratória é medida universalmente através da determinação das pressões respiratórias máximas. 24 Figura 2 – Circuito do Manovacuômetro digital MVD 300 da Globalmed®, para mensurações da Pressão Inspiratória máxima (PImáx) e Pressão Expiratória máxima (PEmáx). A força muscular respiratória é medida avaliando-se a pressão respiratória estática máxima que é gerada na boca após inspiração e expiração completas, caracterizando, respectivamente, a PImáx e a PEmáx, que indicam a força dos grupos musculares inspiratórios e expiratórios. De acordo com um estudo, a PImáx é uma medida da força muscular inspiratória, ao passo que a PEmáx mede a força dos músculos abdominais e intercostais. A determinação de PImáx e PEmáx é um método simples, prático e eficaz95. De acordo com a literatura revisada, Camelo Jr et al., em 1985, foram os primeiros a descrever valores de PImáx e PEmáx de uma amostra da população brasileira, na cidade de Ribeirão Preto, no estado de São Paulo96. Eles avaliaram 60 indivíduos saudáveis de ambos os sexos, com idade entre 20 e 49 anos. Neder et al., em 1999, avaliaram 100 indivíduos saudáveis de ambos os sexos, com idade entre 20 e 80 anos, no estado de São Paulo. Esses autores, por meio da análise de regressão múltipla, foram os primeiros a desenvolverem equações preditivas sexo e idade dependentes para PImáx e PEmáx, a partir de uma amostra da população brasileira. Os valores preditos de PImáx e PEmáx, pelas equações de Neder et al, estão descritos abaixo: PImáx - Mulheres: y= -0,49 (idade) + 110,4; erro-padrão da estimativa = 9,1 - Homens: y= -0,80 (idade) + 155,3; erro-padrão da estimativa = 17,3 PEmáx - Mulheres: y= -0,61 (idade) + 115,6; erropadrão da estimativa = 11,2 - Homens: y= -0,81 (idade) + 165,3; erro-padrão da estimativa = 15,6 Para avaliação da força muscular inspiratória (PImáx), é solicitado ao indivíduo que realize uma expiração máxima, até o volume residual, e após o posicionamento adequado do equipamento na boca do paciente e realizado uma inspiração forçada máxima. Para avaliação da força muscular expiratória (PEmáx), é solicitado ao indivíduo que inicia a manobra a partir da capacidade pulmonar total, que é seguida por uma expiração forçada máxima. Para a realização das manobras, o equipamento deve estar adequadamente posicionado na boca do 25 paciente para não existir falha no teste. Utiliza-se uma presilha nasal para evitar o escape aéreo. A manobra deve ser sustentada pelo menos um segundo, e um tempo total da mesma de no mínimo dois segundos, quando é verificada a pressão de pico. Os resultados são obtidos após a realização de cinco manobras, com intervalo de no mínimo um minuto entre elas, obtendo-se no mínimo três manobras aceitáveis, ou seja, os valores não diferiram entre si por mais de 10%. É registrada a pressão mais elevada em centímetros de água (cmH2O), e utilizado os valores de normalidade preconizados por Neder 97. A análise da força muscular respiratória é utilizada como preditor de mortalidade em diversas populações, como por exemplo, pacientes cardiopatas e pulmonares crônicos, no entanto em pacientes hepáticos ainda é pouco explorada. Sabe-se que os pacientes com doenças hepáticas apresentam limitações musculares importantes, relacionadas com a hipotrofia e perda de massa muscular. Por vez, acreditamos que a limitação do tecido músculo-esquelético também ocorra na musculatura respiratória, prejudicando dessa forma a mecânica do sistema respiratório dos pacientes hepatopatas98. 2.0 Alterações do metabolismo energético A doença hepática crônica resulta em grande impacto nutricional, independente de sua etiologia, pelo fato do fígado responsabilizar-se por inúmeras vias bioquímicas na produção, modificação e utilização de nutrientes e de outras substâncias metabolicamente importantes99. A presença do álcool constitui por si só agravante por promover desvios de vias metabólicas aumentando o consumo energético, a produção de Hidrogênio (H+) e das formas ativas do oxigênio100. Mesmo sem o álcool, a presença de desnutrição é elevada nessa doença e pode ter valor prognóstico 101. Pacientes com cirrose apresentam desnutrição protéico-calórica (DPC) caracterizada por depleção dos estoques de gordura e/ou massa muscular 102. Uma das causas da DPC pode ser o déficit de ingestão de substratos energéticos (carboidratos e gorduras), particularmente nos alcoolistas com hepatite grave 103 . Nesses pacientes, anorexia e náusea ocorrem com frequência de 87% e 55%, respectivamente104. A anorexia pode ocorrer em virtude da inibição do apetite pelo etanol, que chega a suprir 50% do total calórico ingerido105. Outros fatores seriam as possíveis deficiências de zinco e magnésio, provocando ageusia, ação hipotalâmica dos níveis elevados de serotonina e a elevação das citocinas, particularmente do fator de necrose tumoral e interleucina 1 106. 26 Apesar da ingestão dietética reduzida ser considerada o principal fator da DPC na doença hepática, de etiologia alcoólica ou não, há contribuição também da má digestão e má absorção, por enteropatia e deficiências pancreática e biliar 107. A má absorção foi descrita em 26% dos pacientes, em função do aumento na excreção de nitrogênio e gordura nas fezes 108. Os pacientes cirróticos parecem ter depleção de glicogênio hepático e muscular por apresentarem alteração na sua síntese. Desse modo, a oxidação de glicose está diminuída, o que aumenta a dependência à gordura como substrato energético, conforme pode ser evidenciado pelo quociente respiratório, normalmente reduzido nesses pacientes109. A falha desses mecanismos homeostáticos na doença hepática pode resultar em hipoglicemia ou intolerância à glicose. Em geral, a hipoglicemia é observada na doença hepática aguda e grave, e a intolerância à glicose mais tipicamente na doença hepática crônica e cirrose 110. O grau de intolerância à glicose na doença hepática crônica é variável de 57% a 80%(32, 39, 45), assim como a incidência de diabetes mellitus de 10 a 40% 111. Através disso, a associação de todos estes fatores acaba influenciando diretamente no mecanismo homeostático do tecido muscular, no qual repercutirá diretamente na condição funcional dos pacientes com cirrose112. 2.1 Alterações do metabolismo protéico Em função da participação do fígado no metabolismo das proteínas plasmáticas e de uma série de aminoácidos, a doença hepática resulta, invariavelmente, em desnutrição protéica, que ocorre em maior frequência que a desnutrição energética. A presença de desnutrição protéica pode ser confirmada, nesses pacientes, pelas depleções das proteínas estruturais plasmáticas, mudança no perfil dos aminoácidos e imunossupressão 113. A redução da massa protéica somática tem sido demonstrada por indicadores antropométricos e bioquímicos, tanto pela excreção urinária de 3-metilhistidina, como de creatinina. Apesar da existência de desnutrição protéica, há falta de consenso entre os pesquisadores quanto à presença de hipermetabolismo protéico nesses pacientes114. Nesse aspecto, há de se considerar a diversidade metodológica empregada, a intensidade da doença e o grau de “shunt” portossistêmico do paciente avaliado, o estado nutricional e a presença ou não do alcoolismo. Na ausência do álcool, os pacientes com insuficiência hepática leve ( CTP-A) são normometabólicos por unidade de peso corporal nas condições de jejum e alimentado, enquanto os pacientes com insuficiência hepática moderada e grave (CTP-B e C) apresentam comportamento hipermetabólico por unidade de massa 27 magra, na situação de jejum 115. Quanto à prevalência de depleção protéica visceral verificada pelos baixos níveis das proteínas plasmáticas, há unanimidade entre os autores, visto que o fígado é responsável pela síntese da maioria delas, incluindo albumina, transferrina, transtiretina (TTR), proteína ligadora do retinol (RBP), lipoproteínas e fatores de coagulação116. O agravamento da insuficiência hepática é caracterizado pela menor metabolização dos aminoácidos aromáticos e sulfurados, cujos produtos (neurotransmissores e mercaptanas) precipitariam os sintomas neurológicos da encefalopatia hepática. As mercaptanas são produtos da metabolização da metionina pelas bactérias intestinais, enquanto o acúmulo no cérebro de neurotransmissores verdadeiros (serotonina) ou falsos (tiramina e octopamina) é consequência da maior passagem de seus precursores (triptofano e fenilalanina) pela barreira hematoencefálica116. Contribui para esse transporte a diminuição dos níveis plasmáticos dos aminoácidos de cadeia ramificada (leucina, isoleucina e valina), provocada tanto pela subnutrição protéica, como pelo hiperinsulinismo, comum nos pacientes cirróticos, que promove maior captação dos aminoácidos de cadeia ramificada pelo músculo, reduzindo suas concentrações plasmáticas e limitando a capacidade de utilização protéica pelo sistema músculo-esquelético 117. 28 3.0 JUSTIFICATIVA Diante da realidade de transplantes hepáticos, Porto Alegre, em especial a Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre – Hospital Dom Vicente Sherer, tornou-se referência nesse ramo da saúde em âmbito nacional, com número médio de 60 transplantes realizados por ano. Na literatura, pouco se tem elucidado a respeito da relação da qualidade de vida, da condição funcional e de força muscular respiratória em pacientes candidatos ao transplante hepático, razão pela qual se torna relevante realizar pesquisa, para avaliar e comparar essas variáveis entre os pacientes cirróticos de diversas etiologias, candidatos ao transplante hepático. 4.0 OBJETIVOS 4.1 Objetivos Gerais 1) Comparar e avaliar a condição funcional em pacientes cirróticos de diferentes etiologias, candidatos ao transplante hepático. 2) Comparar e avaliar a força muscular respiratória em pacientes cirróticos de diferentes etiologias, candidatos ao transplante hepático. 3) Comparar e avaliar a qualidade de vida em pacientes cirróticos de diferentes etiologias, candidatos ao transplante hepático. 4.2 Objetivos Específicos 1) Correlacionar o escore de gravidade MELD com o desempenho no teste da caminhada dos seis minutos em pacientes cirróticos, candidatos ao transplante hepático. 2) Correlacionar o escore de gravidade MELD com a força muscular respiratória em pacientes cirróticos, candidatos ao transplante hepático. 3) Correlacionar o desempenho no teste da caminhada dos seis minutos com a força muscular inspiratória (PImáx) em pacientes cirróticos, candidatos ao transplante hepático. 29 5.0 DISCUSSÃO Este estudo é o pioneiro no Brasil na comparação da condição funcional, força muscular respiratória e a qualidade de vida em pacientes cirróticos, candidatos ao transplante hepático com diferentes etiologias. A mensuração da capacidade funcional dos pacientes cirróticos ainda é pouco explorada, visto que os pacientes mais graves apresentam um grau de limitação importante para a realização das atividades de vida diária, decorrentes das manifestações sistêmicas da cirrose como ascite, encefalopatia hepática e a perda de massa muscular que influenciam negativamente na condição funcional e afetam diretamente a qualidade de vida118. Em análise prévia realizada pelo nosso grupo, publicamos dois estudos piloto nos periódicos Transplantation Proccedings e Arquivos de Gastroenterologia, que correlacionaram a gravidade do paciente cirrótico com a capacidade funcional e com a força muscular respiratória, nos quais se demonstrou correlação inversa da gravidade da doença com as respectivas variáveis 119,120. As doenças hepáticas avançadas ocasionam limitação na síntese de substratos energéticos, visto que os hepatopatas perdem grande quantidade de massa muscular, a qual irá interferir na arquitetura fisiológica muscular e, consequentemente, propicia um quadro de descondicionamento físico decorrente da inatividade física. Todavia, a possível explicação para os aspectos prejudiciais apresentados pelos pacientes hepáticos crônicos é a desnutrição, que contribui para a disfunção muscular e interfere negativamente no funcionamento do sistema músculo-esquelético 121. Evidenciamos em nosso estudo que a distância percorrida no teste da caminhada dos seis minutos e a força muscular respiratória estão diminuídas no grupo Cirrose Alcoólica (CA), quando comparadas aos grupos Vírus Hepatite C (VHC) e Vírus da Hepatite B (VHB), sugerindo que exista uma possível deterioração do sistema músculo-esquelético em consequência da associação do processo patológico com o álcool. A capacidade de realização das atividades de vida diária dos pacientes com Cirrose Alcoólica apresenta limitações importantes relacionadas com a ineficiência de utilização do metabolismo aeróbio, como a rota energética associada à influência do álcool no tecido muscular. A possível explicação relaciona-se à adaptação que as fibras musculares do tipo I 30 podem sofrer ao se transformarem em fibras de contrações rápidas, em decorrência da inatividade física. Este mecanismo glicolítico tem como característica a não utilização das rotas metabólicas aeróbias para a formação do substrato energético, havendo o predomínio do metabolismo anaeróbio. O acúmulo de substratos desse metabolismo será responsável pela depleção das reservas de glicogênio das fibras musculares, interferindo nos aspectos anatomofuncionais do sistema muscular122. O mecanismo de ação direta do álcool e/ou seus metabólitos sobre os órgãos e sistemas é, atualmente, conhecido e elucidado. Uma grande variação no diâmetro das fibras musculares é observada, alguns fascículos são reduzidos e apresentam-se como fibras atrofiadas. São verificados o aumento no número dos núcleos subsarcolemais, aumento do tecido conjuntivo intersticial e substituição de fibras destruídas por tecido adiposo. A principal alteração histológica observada é a necrose maciça das fibras musculares, com frequentes imagens de degeneração na área de Zencker123. No entanto, após a realização do transplante hepático, os pacientes persistem com a limitação da sua condição funcional. De acordo com van den Berg-Emons al., a fadiga muscular pode permanecer pelo período de um ano após o TxH, podendo ser este o fator responsável pela diminuição da capacidade funcional dos pacientes transplantados 124. Aadahl et al., relatam que transplantados hepáticos, após a experiência da fadiga física, reduzem seus níveis de atividade física em conjunto com a fadiga mental, reduzindo a motivação e tornando-se sedentários 125. Em nosso estudo, o grupo CA apresentou os piores escores do questionário de qualidade de vida SF-36 em todos os domínios, no entanto, somente a condição funcional e as limitações por aspectos físicos diferiram estatísticamente do grupo VHC e VHB. Barcelos et al., avaliaram a qualidade de vida e a condição funcional dos pacientes pré-transplante e naqueles submetidos à alocação do enxerto. Os do pré-transplante apresentaram diminuição nos domínios capacidade funcional e saúde mental do questionário de qualidade de vida SF- 36, quando comparados com os do pós-transplante 126 . Telles et al., compararam a qualidade de vida dos pacientes submetidos ao transplante de fígado com indivíduos hígidos, através do questionário genérico SF-36, e constataram que o domínio capacidade funcional nos pacientes transplantados apresentou menor escore, quando comparados ao grupo controle 127. Apesar dos pacientes submetidos ao transplante hepático apresentarem melhora em seus aspectos sociais, a grande maioria não retorna à realização de suas tarefas sociais anteriormente realizadas. A condição social, na maioria das vezes, está diminuída em 31 consequência das alterações físicas e emocionais, sendo que poucos acabam retornando a sua função empregatícia128. A força muscular respiratória dos pacientes cirróticos por álcool encontra-se diminuída quando comparada a dos grupos VHC e VHB. O álcool age negativamente no tecido muscular, ocasionando perda do diâmetro das fibras musculares e determinando alterações no metabolismo protéico129. O acometimento ao tecido muscular, em decorrência do etanol, refere-se à falta de capacidade de funcionamento das fibras musculares tipo I (oxidativas/contração lenta) e tipo II a (anaeróbias/contração rápida). A alteração do metabolismo energético propicia a utilização de rotas anaeróbias que formará o lactato o qual, em excesso, deteriora a fibra muscular130. A limitação de substrato energético é acentuada pelo mecanismo lesivo do etanol no trato gastro-instestinal e pelas alterações no metabolismo dos carboidratos e dos lipídios. O dano oxidativo é um mecanismo exacerbado nos pacientes com cirrose alcoólica, e as fibras musculares do tipo II estão mais susceptíveis as ações oxidantes das enzimas hidroxil e a superóxido dismutase. Tais aspectos acabam contribuindo para a disfunção músculoesquelética nos pacientes com CA, influenciando dessa forma na arquitetura fisiológica muscular dos pacientes hepáticos131. A cardiomiopatia alcoólica é outro fator incapacitante para o tecido músculoesquelético dos cirróticos. A diminuição da capacidade ventricular esquerda de ejetar o sangue aos órgãos periféricos acaba limitando a oferta de oxigênio aos grandes músculos, e através disso, as rotas aeróbias são prejudicadas pela não utilização do Ciclo de Krebs como rota energética, influenciando diretamente na integridade do componente mitocondrial das fibras musculares132. No nosso estudo, a função pulmonar dos pacientes cirróticos não diferiu entre os grupos, o Volume Expiratório Forçado no primeiro segundo (VEF1) e a Capacidade Vital Forçada (CVF) apresentaram os seus valores dentro da normalidade, evidenciando que a diminuição da força muscular respiratória do CA não decorre da limitação da função pulmonar, mas provavelmente por fraqueza muscular periférica. Garcia et al., obteve no seu estudo valores normais nas provas de função pulmonar de cirróticos, o VEF1 e a CVF foram normais em sua média 133. No estudo de Carvalho et al., foi verificado que os pacientes com maior mortalidade na lista de espera para o transplante hepático apresentavam valores menores de PImáx do que os do grupo controle134. Estudo prévio, publicado pelo nosso grupo, os pacientes CTP - C 32 apresentaram uma redução da PImáx quando comparado ao grupo CTP-B, demonstrando que o avanço da doença hepática também compromete a musculatura respiratória, seja através da perda de massa muscular, seja através da interferência no comprimento-tensão do músculo135. A avaliação da relação da gravidade da doença hepática com o TC6min e com a força muscular inspiratória nunca tinha sido descrita na literatura. No estudo, encontramos forte correlação inversa entre o escore MELD e o TC6min, bem como moderada correlação inversa entre a gravidade da doença com a força muscular respiratória. Tais relações da análise funcional e da PImáx com o MELD estão relacionadas à evolução do processo patológico dos pacientes cirróticos. O método de quantificação do MELD utiliza parâmetros laboratoriais e não apresenta variáveis relacionadas com a condição funcional e a força muscular. Todavia, a mensuração dessas variáveis nos cirróticos, correlacionadas com a gravidade dos doentes hepáticos, poderá ser utilizada como dado complementar no transcorrer do tratamento médico. O nosso estudo foi o pioneiro em correlacionar a distância percorrida no TC6min e a força da musculatura inspiratória nos pacientes cirróticos. Em outras populações de pacientes, como na doença pulmonar crônica e na insuficiência cardíaca, as respectivas variáveis estão fortemente correlacionadas e são preditora de sobrevida no momento pré e pós-transplante pulmonar e cardíaco, respectivamente136. Programa multidisciplinar de reabilitação física pré-transplante pode ser uma alternativa relevante nestes pacientes, especificamente nos com cirrose alcoólica que apresentaram, no nosso estudo, maior deterioração da condição funcional, qualidade de vida e força muscular respiratória. É provável que outros aspectos (nutricionais e metabólicos), não avaliados no presente estudo, contribuam para a boa evolução do transplante hepático. Isto foi evidenciado através do estudo de Krasnoff et al., em que o grupo que realizou programa de exercício e acompanhamento da dieta, pelo período de 1 ano após o transplante, teve aumento no consumo de oxigênio e na qualidade de vida em geral, quando comparado ao grupo com tratamento usual137. O nosso estudo apresenta algumas limitações, pelo pequeno número amostral do grupo VHB (baixa prevalência em nossa região) que dificulta as comparações das variáveis entre os grupos. Outro aspecto limitante é a realização de um único teste da caminhada, pois é sabido que o fator aprendizado influencia no desempenho. A utilização para mensuração da QV pelo instrumento genérico SF-36 pode acabar limitando a influência da doença hepática sobre a qualidade de vida, visto que existem instrumentos validados e específicos para a doença hepática. 33 6.0 CONCLUSÃO Diante destas considerações, concluímos que: O grupo CA apresenta pior condição funcional quando comparado aos grupos VHC e VHB. Os pacientes do grupo CA apresentam menores valores de força muscular respiratória quando comparados aos dos grupos VHC e VHB. O grupo CA apresenta piores escores de qualidade de vida no questionário SF-36 quando comparado aos grupos VHC e VHB. O escore de gravidade MELD está inversamente correlacionado com o desempenho no teste da caminhada dos seis minutos em pacientes cirróticos de diferentes etiologias, candidatos ao transplante hepático. O escore de gravidade MELD está inversamente correlacionado com a força muscular inspiratória em pacientes cirróticos de diferentes etiologias, candidatos ao transplante hepático. O desempenho no TC6min e a força muscular inspiratória estão diretamente correlacionados em pacientes cirróticos de diferentes etiologias, candidatos ao transplante hepático. 34 7.0 Referência Bibliográfica (Referencial Teórico) 1. Devlin J, O`Grady JG. Indications for and Assessment in Adult Liver Transplatation: a Clinical Guideline. 1999;45(6):11-22. 2. Lucey MR, Brown KA, Everson GT, Et al. Minimal criteria for placement of adults on the liver transplant waiting list: report of national conference organised by the American Society of Transplant Physicans and the American Association for the Study of Liver Disease. Transplantation. 1998;66(7):956-62. 3. Carrithers RL, Liver Transplatation. Liver Transpl. 2000;6(1):122-35. 4. Robinson LR, Switala J, Tarter RE, Nicholas JJ. 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O mesmo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Santa Casa de Porto Alegre, protocolo 110-05. 50 9.0 Aceite da Revista Brasileira de Fisioterapia REVISTA BRASILEIRA DE FISIOTERAPIA/ BRAZILIAN JOURNAL OF PHYSICAL THERAPY Rod. Washington Luís, Km 235 • Caixa Postal 676 • CEP 13565-905 • São Carlos, SP - Brasil Telefone: +55 (16) 3351 8755 • E-mail: contato @rbf-bjpt.org.br • Site: www.rbf-bjpt.org.br São Carlos, 28 de Setembro de 2011. Prezados(as) Senhores(as) Informamos a Vossas Senhorias que o manuscrito nº Sci-1003 (072/2011), título “Condição funcional, força muscular respiratória e qualidade de vida em pacientes cirróticos”, de Lucas Homercher Galant,Luiz Alberto Forgiarini Júnior, Alexandre Simões Dias e Cláudio Augusto Marroni, foi aceito para publicação na Revista Brasileira de Fisioterapia em 27/09/2011. Atenciosamente Aparecida Maria Catai Revista Brasileira de Fisioterapia Editor 51 ARTIGO PRINCIPAL ACEITO PARA PUBLICAÇÃO NA REVISTA BRASILEIRA DE FISIOTERAPIA Condição Funcional, Força Muscular Respiratória e Qualidade de Vida em Pacientes Cirróticos Lucas Homercher Galant1, Luiz Alberto Forgiarini Junior2, Alexandre Simões Dias3, Cláudio Augusto Marroni4 1 – Fisioterapeuta. Aluno de mestrado do Programa de Pós-Graduação Medicina: Hepatologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. 2 – Fisioterapeuta. Professor adjunto do curso Fisioterapia do Centro Universitário Metodista IPA. 3 – Fisioterapeuta. Professor adjunto do curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 4 – Professor Associado de Gastroenterologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. Hepatologista do Grupo de Transplante Hepático da Irmandade Santa Casa de Porto Alegre. Correspondência para autor: Lucas Homercher Galant. – Avenida Osvaldo Aranha, 522/42 – Bom Fim – CEP: 90035-190, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. e-mail:[email protected] Título para as páginas do artigo: Condição Funcional, Força Muscular e Qualidade de Vida. Descritores: Transplante hepático, condição funcional e qualidade de vida. 52 Condição Funcional, Força Muscular Respiratória e Qualidade de Vida em Pacientes Cirróticos RESUMO Contextualização- As doenças hepáticas são responsáveis pelas alterações metabólicas, pela perda da massa e função muscular, nas quais interferem na condição funcional e na qualidade de vida desses pacientes. Objetivo - Comparar a condição funcional, força muscular respiratória e a qualidade de vida (QV) nos pacientes com cirrose hepática, candidatos ao transplante de fígado com as seguintes etilogias: Vírus Hepatite C (VHC), Vírus Hepatite B (VHB) e Cirrose Alcoólica (CA). Métodos - Estudo transversal, composto por 86 pacientes, divididos em três grupos: VHC (40 pacientes), VHB (14 pacientes) e CA (32 pacientes). Resultados – O grupo CA apresentou menor distância no Teste da Caminhada dos Seis Minutos, quando comparado aos grupos VHB e VHC; 373,50+50,48 (metros), 464,16 + 32,00 (metros) e 475,94 + 27,84 (metros), respectivamente, p = 0,001. Os domínios do SF-36, o grupo CA apresentou menores escores na capacidade funcional e limitações por aspectos físicos, quando comparado aos grupos VHB e VHC, p= 0,001. Na comparação da força dos músculos respiratórios, o grupo CA apresentou menor PImáx, quando comparado com os grupos VHB e VHC; -65,54 + 11,28(cmH2O); -71,61+ 6,96 (cmH2O); - 82,44 + 13,71(cmH2O), respectivamente, p=0,001. Na comparação da PEmáx, o grupo CA obteve menores valores do que os grupos VHB e VHC; 65,13+ 10,74(cmH2O); 82,44+13,87(cmH2O); 83,44 + 12,20(cmH2O), respectivamente, p=0,001. Conclusão – O grupo CA demonstrou pior condição funcional, força muscular respiratória e qualidade de vida do que os pacientes VHC e VHB. Descritores: Transplante hepático, condição funcional e qualidade de vida. 53 Functional Status, Respiratory Muscle Strength and Quality of Life in Cirrhotics Patients Abstract Background - liver diseases are responsible for metabolic disorders, loss of muscle mass and function, which interferes with functional status and quality of life on these patients. Objective - to compare the functional status, respiratory muscle strength and quality of life (QOL) in patients with liver transplant cirrhosis candidates with the following etiology: Hepatitis C virus (HCV), Hepatitis B Virus (HBV) and alcoholic cirrhosis (AC). Methods cross-sectional study comprising 86 patients divided into three groups: HCV (40 patients), HBV (14 patients) and AC (32 patients). Results - The AC group showed less distance in SixMinute Walk Test compared to HBV and HCV groups; 373.50 ± 50.48 (meters) 464.16 ± 32.00(m) and 475.94 ± 27.84 (m), respectively, p=0.001. The domains of the SF-36, AC group had lower scores on functional limitations and physical aspects compared to the HBV and HCV groups, p=0.001. By comparing the strength of respiratory muscles AC group had lower MIP then HBV and HCV groups; -65.54 ± 11.28 (cmH2O) -71.61 ± 6.96 (cmH2O) 82.44 ± 13.71 (cmH2O), respectively, p = 0.001. In comparing the MEP group AC had lower values than the HBV and HCV groups; 65.13 ± 10.74 (cmH2O), 82.44 ± 13.87 (cmH2O) 83.44 ± 12.20 (cmH2O) , respectively, p = 0.001. Conclusion - The AC group showed worse functional status, respiratory muscle strength and quality of life than HCV and HBV patients. Keywords: Cirrhosis, functional status and quality of life. 54 Introdução A cirrose é um distúrbio clínico patológico responsável por alterações sistêmicas e metabólicas nos indivíduos. Estudos clínicos demonstram diversas complicações relacionadas ao processo patológico, tais como o comprometimento da função pulmonar, ascite, encefalopatia hepática, icterícia, perda de massa e da função muscular, alterações da pressão na veia porta e alterações cardíacas com consequente redução na qualidade de vida 1,2. Uma das complicações causadas pelas hepatopatias são as alterações metabólicas associadas à desnutrição dos pacientes, já que os mesmos perdem grande quantidade de massa muscular apresentando repercussões negativas no sistema músculoesquelético3,4. Os pacientes hepáticos crônicos desenvolvem um quadro de desnutrição devido à diminuição na ingestão dos alimentos, déficit na absorção e no transporte de nutrientes e ao aumento do gasto energético em repouso 5,6 . De acordo com Merli 7., existe relação direta entre o grau de redução dos níveis de albumina e gravidade da doença hepática. Estudos sugerem que a fadiga muscular persistente proporciona um déficit da condição funcional e na qualidade de vida desses pacientes. A possível explicação para a persistência da fadiga muscular nesses indivíduos pode estar relacionada com a perda de massa muscular, mas também pela diminuição na capacidade oxidativa mitocondrial, à qual irá proporcionar um quadro persistente de descondicionamento físico e caquexia 8,9. Objetivamos avaliar e comparar a condição funcional, a força muscular respiratória e a qualidade de vida (QV) nos pacientes cirróticos, candidatos ao transplante ortotópico de fígado, apresentando as respectivas etiologias: Vírus Hepatite C (VHC), Vírus Hepatite B (VHB) e cirrose alcoólica (CA); bem como correlacionar o escore de gravidade Model for End Stage Liver Disease (MELD) com a distância percorrida no teste da caminhada dos seis minutos (TC6min) e com a força muscular inspiratória (PImáx) dos pacientes hepáticos crônicos. Materiais e Métodos Este estudo caracteriza-se por ser transversal com amostra de conveniência. A amostra analisada foi de 86 pacientes adultos com cirrose pelo vírus C, B e CA, conforme critérios médicos, e que estavam em acompanhamento com o Serviço de Transplante Hepático do Complexo Hospitalar Santa Casa de Porto Alegre (Rio Grande do Sul), no período de agosto de 2009 a dezembro de 2010. 55 Foram incluídos no estudo todos os pacientes que apresentavam condições clínicas para realizar os procedimentos propostos e que se encontravam no período pré-operatório para a realização do transplante hepático. Todos os pacientes tinham acompanhamento médico periódico e possuíam condições de realizar os testes preconizados, bem como não poderiam apresentar fatores que interferissem nas coletas dos dados (não colaboração, instabilidade hemodinâmica, dificuldade de locomoção, doença neuromuscular e os candidatos ao retransplante). Os 86 pacientes cirróticos foram divididos em três grupos distintos: 40 encontravamse no grupo VHC, 14 no grupo VHB e 32 no grupo CA. O termo de consentimento livre e esclarecido foi obtido de cada paciente, e o trabalho foi aprovado pelos Comitês de Ética da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e do Complexo Hospitalar Santa Casa de Porto Alegre. Os pacientes selecionados foram submetidos, em um único momento, aos seguintes procedimentos: aplicação do questionário de qualidade de vida auto-explicativo: “Short Form-36” (SF-36), manovacuometria e ao teste da caminhada dos seis minutos (TC6min). Anteriormente à realização dos testes, os dados referentes às características da amostra foram registrados em uma ficha de avaliação específica, e as mensurações foram realizadas sempre pelo mesmo avaliador. Para avaliar a capacidade funcional, ou seja, o nível funcional para as atividades físicas diárias dos pacientes, foi realizado o TC6min. Esse teste exige que o paciente percorra uma distância máxima, pelo tempo de seis minutos, caminhando o mais rápido possível. O teste foi realizado em um corredor sem obstáculos, reto, plano, com 30 m de comprimento. O paciente foi instruído previamente pelo avaliador, incentivando-o a percorrer maior distância possível e, no final, anotou-se o tempo gasto durante o teste (10). O paciente notificava a sensação de dispnéia e a fadiga de membros inferiores mensuradas através da escala de Borg modificada (escala 0-10), antes e após o teste. Nesses mesmos momentos, foram registradas as frequências cardíaca e respiratória e a saturação periférica de oxigênio (SpO2). A QV dos pacientes dos grupos foi avaliada através do questionário de qualidade de vida SF-36, que descreve e avalia o estado de saúde dos pacientes através de vários domínios (capacidade funcional – SF-361; limitação por aspectos físicos - SF-362; dor - SF-363; estado geral da saúde – SF-364; vitalidade - SF-365; aspectos sociais - SF-366; saúde mental - SF-367; limitação por aspectos emocionais - SF-368). Os escores em cada domínio são obtidos através 56 da soma das respostas daquele item, transformando-se esses escores brutos em uma escala, em que 0 representa saúde deficitária e 100 bom estado de saúde 11. Para mensurar a força dos músculos respiratórios, foi utilizado um manovacuometro digital MVD 300 da marca Globalmed® e, para avaliação da pressão inspiratória máxima (PImáx), foi solicitado ao paciente que realizasse uma expiração máxima até o volume residual, e, após o posicionamento adequado do equipamento na boca do paciente, foi realizada uma inspiração forçada até atingir a capacidade pulmonar total. Para avaliar a pressão expiratória máxima (PEmáx), foi solicitado ao paciente que iniciasse a manobra a partir da capacidade pulmonar total, que foi seguida por uma expiração forçada máxima. Para a realização das manobras, o equipamento deveria estar adequadamente posicionado na boca do paciente para não existir falha no teste. Os resultados foram obtidos após a realização de cinco manobras, obtendo-se no mínimo três aceitáveis, onde os valores não diferiram entre si por mais de 10% do maior valor. Foi registrada a pressão mais elevada em centímetros de água (cmH2O) e utilizados os valores de normalidade preconizados por Neder et al12. A função pulmonar (capacidade vital forçada – CVF; volume expiratório forçado no primeiro segundo - VEF ) foi mensurada através da espirometria (utilizou-se um 1 microespirômetro Micromedical/ Microplus), seguindo as Diretrizes para Testes de Função Pulmonar, descrita pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia . O teste de 13 espirometria foi realizado de maneira a se obter três manobras aceitáveis, sendo duas delas reprodutíveis. Os critérios de reprodutibilidade envolveram a diferença entre os dois maiores valores de VEF e CVF abaixo de 0,2 litros, o que significa que o valor máximo foi 1 provavelmente obtido13. Para mensurar a gravidade dos doentes hepáticos, utilizamos o escore de gravidade Model for End stage Liver Disease (MELD). O escore MELD foi calculado segundo a fórmula abaixo, disponível em: http://www.unos.org/resources/MELDPeldCalculator.asp {0,957 x log e [creatinina (mg/dL)] + 0,378 x log e [bilirrubina (mg/dL)] + 1,120 x log e (INR) + 0,643}. Para verificar a normalidade da amostra, foi realizado o teste de Kolmogorov-Smirnov. Para a comparação entre os grupos em relação ao desempenho do teste da caminhada de 6 minutos, força muscular respiratória e os escores do questionário de qualidade de vida SF-36, foi aplicada a análise de variância ANOVA (post-hoc de Tukey) e, para correlacionar o MELD com o TC6min, PImáx e PEmáx, foi utilizada a correlação de Pearson . Os dados foram analisados no programa estatístico SPSS versão 16.0. O nível de significância adotado foi de 5%, sendo considerado significativo p< 0,05. 57 Resultados As características antropométricas e clínicas da amostra estudada encontram-se dispostas na Tabela 1. Observaram-se resultados semelhantes nos grupos avaliados, não havendo diferenças estatísticas entre os participantes. Os principais diagnósticos de doença hepática foram: cirrose pelo vírus C, cirrose causada por vírus B, cirrose alcoólica. O escore de gravidade MELD não diferiu estatisticamente entre os grupos. Na comparação da condição funcional (Tabela 2), o grupo CA obteve pior desempenho no teste da caminhada dos seis minutos, quando comparado com o grupo VHB e VHC, respectivamente, 373,50+50,48 (metros), 464,16 + 32,00 (metros), 475,94 + 27,84 (metros), p = 0,001. A frequência cardíaca (FC), no final do teste da caminhada do grupo CA, apresentou maior variação, quando comparado ao VHC e VHB (p=0,03). A escala de fadiga Borg, no momento pós-teste de caminhada dos seis minutos, foi maior no grupo CA, quando comparado com o grupo HCV e HBV, p = 0,01. Na análise da força muscular respiratória (Tabela 2), o grupo CA obteve menor PI máx, quando comparado com o grupo VHB e VHC, -65,54 + 11,28; -71,61+ 6,96; - 82,44 + 13,71, respectivamente, p=0,001. Na comparação da PEmáx, o grupo CA obteve menores valores, quando comparado com o grupo VHB e VHC, respectivamente, 63,13+ 10,74; 82,44+13,87; 83,44 + 12,20, p=0,001. Em relação aos domínios do questionário de qualidade de vida SF-36 (Tabela 3), o grupo CA demonstrou menores escores em todos os domínios, quando comparado aos grupos VHB e VHC. No entanto, apresentou apenas diferença, estatisticamente significativa, nos domínios capacidade funcional, p = 0,001, e limitações por aspectos físicos, p = 0,001. Na análise da correlação do MELD com a distância no teste da caminhada dos seis minutos (Figura 1), houve moderada correlação negativa entre essas duas variáveis, r= -0,74, p = 0,001. No momento da correlação do MELD com a PImáx (Figura 2), houve correlação inversa de r = -0,55, p=0,001. Não houve correlação do MELD com a PE máx. Por vez, houve correlação inversa com a distância do teste da caminhada dos seis minutos com a PImáx (Figura 3), r= 0,57, p=0,001. Discussão 58 Este é o primeiro estudo que compara a condição funcional, força muscular respiratória e a qualidade de vida em pacientes brasileiros candidatos ao transplante hepático com diferentes etiologias. Quando mensuramos a distância percorrida no teste da caminhada dos seis minutos nos diferentes grupos, verificou-se a diminuição da condição funcional do grupo CA, quando comparado aos grupos VHC e VHB, evidenciando que existe uma possível deterioração do sistema músculo-esquelético em consequência da associação do processo patológico com o álcool. Para corroborar, no estudo realizado por Alameri et al 14 ., foi avaliada a condição funcional dos pacientes candidatos ao transplante hepático, onde se evidencia que os pacientes com cirrose Child-Pugh C apresentavam menor capacidade funcional e sobrevida, quando comparados com os pacientes Child-Pugh A e B, demonstrando que a gravidade da doença hepática interfere nos aspectos funcionais no momento do pré-transplante hepático. A existência da moderada associação negativa entre as variáveis MELD e a distância no teste da caminhada dos seis minutos já foi descrita anteriormente pelo nosso grupo 15. Os pacientes do grupo CA apresentam maior sensação de fadiga, quando comparados aos dos outros grupos, no final do teste da caminhada dos seis minutos. A possível explicação seria pelos aspectos de adaptação que as fibras musculares do tipo I (contrações lentas/ oxidativas) podem sofrer ao se transformarem em fibras de contrações rápidas (tipo IIA/glicolíticas), em decorrência da inatividade física16. Este mecanismo glicolítico tem como característica a não utilização das rotas metabólicas aeróbias para a formação do substrato energético, havendo o predomínio do metabolismo anaeróbio, que fisiologicamente forma o lactato. O acúmulo do ácido láctico é o responsável pela depleção das reservas de glicogênio das fibras musculares, interferindo, dessa forma, nos aspectos anatomofuncionais do sistema muscular, ocasionando a fadiga muscular, fator limitante das atividades de vida diária desses pacientes16. De acordo com este conceito, o índice de Adenosina Trifosfato (ATP), Fosfocreatina (PCr) e Magnésio total (Mg2+) estará diminuído no músculo esquelético de pacientes cirróticos. Esse conceito foi demonstrado por Jacobsen et al17., pois as maiores taxas de PCr e ATP mitocondrial foram apresentadas por indivíduos com melhores condições clínicas. Em decorrência das alterações vinculadas aos aspectos da capacidade funcional, esses pacientes apresentaram consequências negativas nos aspectos relacionados com a qualidade de vida. Em nosso estudo, os pacientes do grupo CA apresentaram piores escores do questionário de qualidade de vida SF-36 em todos os domínios, no entanto, somente a condição funcional e as limitações por aspectos físicos diferiram estatisticamente do grupo VHC e VHB. Tais resultados ficam limitados em relação à discussão, visto que existem 59 poucos estudos comparando a qualidade de vida entre os respectivos grupos. No entanto, Emons et al., compararam a qualidade de vida dos pacientes submetidos ao transplante de fígado com indivíduos hígidos e constataram que o domínio capacidade funcional nos pacientes transplantados apresentou menor escore, quando comparado ao grupo controle 18,19. Apesar dos pacientes submetidos ao transplante hepático apresentarem melhora em seus aspectos sociais, a grande maioria não retorna a realização de suas tarefas sociais anteriormente realizadas. A condição empregatícia, na maioria das vezes, está diminuída, em consequência das alterações físicas e emocionais. Segundo Ratcliffe et al., 45 % dos pacientes da sua amostra não retornaram a desempenhar suas funções empregatícias após o transplante, o que impacta diretamente nos aspectos sociais, podendo interferir na qualidade de vida 20. No entanto, o respectivo estudo apresenta algumas limitações, o pequeno número amostral do grupo VHB pode acabar limitando as comparações das variáveis entre os grupos, todavia tal fator ocorre pela baixa prevalência de VHB em nossa região. Outro aspecto limitante é a realização de um único teste da caminhada, pois se sabe que o fator aprendizado influencia no desempenho do mesmo. A utilização para mensuração da QV pelo instrumento genérico SF36 pode acabar limitando a influência da doença hepática sobre a qualidade de vida. Os nossos resultados permitem concluir que grupo CA demonstrou pior condição funcional, força muscular respiratória e qualidade de vida do que os pacientes VHC e VHB. Observamos correlação inversa entre o escore de gravidade MELD com a distância do TC6min e a PImáx, nos indivíduos que aguardam na lista de espera para o transplante hepático. No entanto, se faz necessário a realização de outros estudos avaliando a influência das respectivas variáveis nos diferentes grupos de cirróticos. 60 Referências (artigo) 1. Barcelos S, Dias AS, Forgiarini LA, Monteiro MB. Transplante hepático: repercussões na capacidade pulmonar, condição funcional e qualidade de vida. Arquivos de Gastroenterologia. 2008 45(3):186-91. 2. Carvalho EM, Isern MRM, Lima PA, Machado CS, Biagini AP, Massarolli PCB. Força muscular e mortalidade na lista de espera de transplante de fígado. Revista Brasileira de Fisioterapia. 2008;12(3): 235-40. 3. Younossi ZM, Guyatt. Quality-of-Life Assesments and Chronic Liver Disease. Am J Gastroenterol. 1998;93(7):1037-41. 4 .Younossi ZM. Chronic liver disease and health-related quality of life. Gastroenterology 2001;120(1):305-307. 5.Van den Plas SM, Hansen BE, de Boer JB. Generic and disease-specific health related quality of life in non-cirrhotic, cirrhotic and transplanted liver patients: a cross-sectional study. 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Características Idade (anos) Sexo – M/F Peso (Kg) Altura (m/cm) MELD Alb (g/dL ) ALT (U/L) AST (U/L) VHC (n=40) M/DP 56,3 + 8,1 30/10 67,34+ 8,62 1,67 + 0,83 16±2 4,3 ± 0,3 21,5± 4,6 25.1 ± 7.1 VHB (n=14) M/DP 52,3 + 6,4 14/4 69,23 + 10,62 1,69+ 0,73 17±3 4,1± 0,4 23,2± 0,4 22.3 ± 9.2 CA (n = 32) M/DP 54,3 + 9,7 20/8 71,00+ 8,50 1,70 + 0,91 19±3 4,0± 0,5 24± 8,9 27.5 ± 15.5 p 0,9 0,8 0,8 0,9 0,6 0,9 0,8 0,8 As variáveis idade, peso, altura estão descritas em média e desvio-padrão, respectivamente. M/F – masculino/ feminino. MELD- Model for End stage Liver Disease. VHC- Vírus Hepatite C. VHB – Vírus Hepatite B, CA Cirrose Alcoólica, Alb- Albumina, AST- Aspartato aminotransferase, ALT- Alanina aminotransferase. 64 Tabela 2. Comparação entre os grupos das variáveis do Teste da Caminhada dos Seis Minutos e Força Muscular Respiratória Características TC6min (m) FC (inicial) FC (fim) FR (inicial) FR (fim) SpO2 (inicial) SpO2 (fim) Borg (inicial) Borg (final) PImáx PEmáx Pred Dtc6min (m) Pred PI máx Pred PE máx CVF(%) VEF1 (%) VHC (n=40) M/DP 475,94 + 27,84* 72 + 16 87 + 22 * 16 + 2 23+ 2 97+ 2 96+ 4 1 + 0,5 2 + 1* - 82,44 + 13,71* 83,44 + 12,20* 703+ 95 -165+54 259+34 95,0 ±19,5 90,9 ± 16,9 VHB (n=14) M/DP 464,16 + 32,00* 77+ 11 91 + 15* 15+ 3 21 + 3 98 + 1 97 + 1 1 + 0,6 2 + 1* -71,61+ 6,96* 82,44+13,87* 654+101 -154+62 247+41 97,0 ± 17,4 88,7 ±18,0 CA (n = 32) M/DP 373,50+50,48* 74 + 13 102+ 20* 16 + 5 25+8 97 +3 95+2 2 + 0,4 4 + 1,5* -65,54 + 11,28* 63+ 10,74* 701+78 - 162+ 57 254+51 93,2 ±30,5 87,1 ±14 p 0,001 0,9 0,02 0,8 0,7 0,9 0,8 0,7 0,01 0,001 0,001 0,8 0,9 0,7 0,7 0,8 Dados descritos através de média e desvio-padrão. VHC- Vírus Hepatite C. VHB – Vírus Hepatite B, CA Cirrose Alcoólica, ns – ausência de significância estatística entre os grupos. TC6min (m) –Teste da caminhada dos seis minutos (metros); FC – Freqüência Cardíaca; SpO2 – Saturação periférica de Oxigênio. PImáx – força muscular inspiratória. PEmáx – força muscular expiratória. Pred Dtc6min (m) - Predito da distância do teste da caminhada dos seis minutos (metros). Pred PI máx - Predito da Pressão Inspiratória Máxima. Pred PE máxPredito da Pressão Expiratória Máxima. CVF- Capacidade Vital Forçada. VEF1 – Volume Expiratório Forçado no primeiro segundo. Anova (post-hoc de Tukey) * Diferença estatística entre o grupo CA vs VHB, CA vs VHC. p = nível de significância. 65 Tabela 3. Comparação da qualidade de vida entre os grupos. Variáveis SF-361 SF-362 SF-363 SF-364 SF-365 SF-366 SF-367 SF-368 VHC (n=40) M/DP 67,08±24,96 * 69,02±11,00 * 56,05±13,97 48,87±16,45 56,14±11,07 67,89±19,71 48,32±12,04 66,12±20,05 VHB (n=14) M/DP 64,60±22,22* 64,80±21,40* 61,44±25,58 51,96±17,50 63,20±26,45 71,04±25,40 51,61±15,12 68,08±16,07 CA (n = 32) M/DP 46,59±14,75 * 40,00±12,61* 52,66±19,13 47,00± 15,41 51,52±17,50 63,55±24,75 44,29±10,95 63,00±13,04 p 0,001 0,001 0,07 0,08 0,1 0,08 0,07 0,6 As variáveis estão descritas através de média (M) e desvio - padrão (DP). VHC- Vírus Hepatite C. VHB – Vírus Hepatite B, CA - Cirrose Alcoólica. SF-36 = Short Form 36. SF – 361= capacidade funcional; SF- 362 = limitação por aspecto físico; SF-363= dor; SF-364 = estado geral da saúde; SF-365 = vitalidade; SF-366 = aspectos sociais; SF-367 = saúde mental; SF-368 = limitação por aspectos emocionais; ns= não significativo.* Diferença significativa do grupo CA vs grupo VHB e grupo CA vs grupo VHC. A análise estatística utilizada foi o teste de ANOVA com o post-hoc de Tukey. ns= não significativo. 66 r = - 0,74 p= 0,001 Figura 1 - Correlação do MELD com o Teste da Caminhada dos Seis Minutos. 67 r = - 0,55 p= 0,001 Figura 2 – Correlação do MELD com a PImáx. 68 r = 0,57 p= 0.001 Figura 3 – Correlação do Teste da Caminhada dos Seis Minutos com a PImáx