EDITORIAL A revista Justiça & História tem registrado as colaborações de pesquisadores da área da História e do Direito de forma a dar publicidade e acesso ao pensamento contemporâneo acerca dessa matéria. Este número da revista inicia com o artigo de Patrícia Noll que faz uma abordagem sobre a evolução da cultura brasileira e sua relação com a irretroatividade das leis e a proteção do direito adquirido, em sua garantia de que os direitos do presente produzem efeitos no futuro. E, dentro de uma dimensão de relativismo cultural e complexidade dos fatos sociais e jurídicos, a segurança jurídica constitucionalmente outorgada, conforme discorre a autora em sua narrativa sobre a irretroatividade das leis e o direito adquirido na história e nas Constituições brasileiras, deve encontrar seu ponto de equilíbrio com o impulso renovador e as necessidades do mundo futuro. O fenômeno jurídico da antinomia e sua resolução é tratado no artigo de Bruno José Ricci Boaventura de maneira a construir uma consolidação como processo jurídico das normas vigentes e uma maior facilidade de acesso às disposições legais, dentro da responsabilidade do Estado de legislar. No terceiro artigo deste número, encontramos a exposição de Adriana Pereira Campos e Viviani Dal Piero Betzel sobre a Justiça e o Tribunal do Júri no Brasil oitocentista, particularmente na Província do Espírito Santo. Em um trabalho detalhado em autos criminais dos anos de 1850 e 1870, depositados no Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, em ofícios expedidos por Juízes de Direito, em comunicações entre autoridades da Província, jornais e outros documentos, com base em análise quantitativa e qualitativa, as autoras buscaram identificação da composição do Júri, em seu preparo jurídico ou leigo, classe social e mesmo se constituído por analfabetos, e da observância aos ritos processuais prescritos pela lei. O preconceito religioso é tratado por Priscila Formigheri Feldens, em seu artigo, no âmbito da tipificação penal de comportamento, abrangida pela liberdade religiosa prevista na Constituição Federal. Segundo a autora, este preconceito vem limitado pela legislação brasileira, de ampla previsão constitucional dos direitos fundamentais, com a criminalização do preconceito na esfera religiosa. Nesse passo, examina também a autora a relação entre a liberdade religiosa e a liberdade de expressão, e o conflito jurídico existente entre esses direitos fundamentais, dizendo que qualquer religião não pode ser constrangida por expressar suas idéias a respeito de outras religiões, com o intuito de divulgar e buscar mais adeptos. No quinto artigo, a revista traz uma interessante abordagem da Lei Feijó, de 7 de novembro de 1831, de abolição do tráfico de africanos, por Argemiro Eloy Gurgel. O autor faz o traçado dos antecedentes históricos da lei, das relações internacionais com a Coroa Britânica e de sua efetividade após 1850, e a repercussão como ameaça ao direito de propriedade de uma elite dominante. Em nova seção, os agradecimentos do Memorial do Judiciário do Rio Grande do Sul aos panelistas que abrilhantaram o evento Retratos do Judiciário – O Brasil vive um crise ética?, promovido no âmbito da 52ª Feira do Livro de Porto Alegre, que permitem a reflexão sobre as mudanças em perspectiva que permeiam a sociedade brasileira. Vasco Della Giustina e Ruy Rosado de Aguiar Júnior discorrem sobre a questão analisando de que forma os operadores do Direito poderiam colaborar para a realização dos princípios éticos no quotidiano da vida contemporânea. Em seguimento, três artigos, de Tupinambá Miguel Castro do Nascimento, Luciano Aronne de Abreu e de Eloísa Helena Capovilla da Luz Ramos, são resultados da interlocução propiciada pelo Painel Outros olhares sobre a Revolução Farroupilha, organizado pelo Memorial do Judiciário do RS, focalizam respectivamente a figura de Bento Manoel Ribeiro e sua intrigante participação no movimento revolucionário de 1835, uma análise desse período a partir de uma visão de 1935, relacionando as razões, motivações e circunstâncias sociais e políticas no País que levaram às intensas comemorações do centenário da Revolução Farroupilha, de exaltação dos heróis e das glórias do passado e dos progressos daquele presente, e uma leitura do quotidiano da mulher nesse período, dos papéis que ela desempenhou no desenrolar desse acontecimento. Por fim, o Memorial do Judiciário, dentro de seu objetivo de incentivar a produção intelectual acadêmica relacionada com a História do Judiciário gaúcho e nacional, realizou o Concurso de Artigos Acadêmicos do Memorial do Judiciário do Rio Grande do Sul, em comemoração aos seus 10 Anos de existência. A revista Justiça & História, como um de seus veículos de divulgação do pensamento na área da História e do Direito, publica o texto vencedor de Virgilina Edi Gularte dos S. Fidelis. Neste artigo a autora analisa a organização da justiça brasileira, no período colonial, na região sul do País, tendo como substrato a ideologia religiosa. Reflete sobre a influência da Igreja Católica na formatação demográfica, social, econômica, política e institucional da região, enfatizando a atuação eclesiástica na estruturação da Justiça desse período da História do Brasil.