Sequestros e suicídios: notícias que muitos jornais preferem não publicar Questões éticas Humanitárias Culturais Livro Silvia Ramos e Anabela Paiva Sequestro: uma decisão de risco Noticiar o sequestro envolve: Noticiar sequestros em andamento é uma decisão complexa - envolve a vida de pessoas em situação de cárcere e risco. Em geral, os criminosos exigem que a família da vítima mantenha a polícia e os jornais distantes do caso. Duas posições principais: divulgação pode atrapalhar as negociações com os sequestradores e comprometer a integridade física das vítimas. Grupo Folha.Prefere noticiar o caso após a conclusão. A favor da divulgação Outros veículos acreditam que a omissão favorece a ação criminosa. Organizações Globo. “Adotamos a norma de divulgar por uma série de razões: é um crime público, e a sociedade tem o direito de saber; somente com a denúncia dos seqüestros as autoridades tomam providências”. Luis Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação. Regras para divulgar Não mencionar o valor do resgate pago ou solicitado; Não divulgar informações sobre situação econômica da vítima. Podem incentivar novos crimes e atrapalhar as investigações. Silêncio será uma boa idéia Sequestro do publicitário Washington Olivetto. 54 dias em cativeiro. Dezembro de 2001. Época divulgou. Como resposta,os sequestradores enviaram à família de Olivetto uma ameaçadora caixa que continha a capa da revista e pedaços de carne. Reação A agência W/Brasil rompeu o contrato que tinha com a revista e divulgou nota em que definia a titude da Época como um "esforço rasteiro" para aumentar as vendas. ÉPOCA considera que a imprensa existe, acima de tudo, para informar os cidadãos sobre fatos relevantes da vida social. Pela freqüência, os seqüestros já ameaçam tornar-se uma tragédia banal. Será o silêncio uma boa idéia? (...) Uma cobertura desastrosa Wellington José Camargo, dezembro de 1998. o apresentador Ratinho propôs em seu programa a criação de uma linha 0900 para levantar o dinheiro do resgate. No dia seguinte os seqüestradores enviaram uma caixa à retransmissora do SBT em Goiânia, emissora do apresentador, com um pedaço da orelha de Wellington, acompanhado de um bilhete da vítima pedindo agilidade nas negociações. Após o episódio, Ratinho se desculpou e se afastou do caso. Abuso na divulgação Em 2001, a Rede Globo divulgou o sequestro do filho do empresário Luiz André Matarazzo. Gonçalo Lara Campos Matarazzo, na época com 12 anos. O noticiário da emissora divulgou o nome e ainda frisou que o seqüestrado tinha entre seus parentes um senador e um ministro. Empresa foi condenada a pagar indenização Reflexo do silêncio em outras reportagens: Seqüestro de Marina Souza, mãe do jogador de futebol Robinho, na época atleta do Santos (2004). A decisão de silenciar sobre o crime durante os 41 dias em que ela ficou em poder dos seqüestradores dificultou a cobertura de esportes. “O Robinho não jogava e agente não podia falar a razão”, diz César Camasão, do Agora São Paulo Personalidades ilustres? Prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel, em janeiro de 2002. a notoriedade da vítima contribuiu p/ a decisão de publicar o desaparecimento. Explicar para a população porque o prefeito havia sumido. obteve autorização da família. Imprensa como aliada Ivandel Godinho, dono de uma empresa de assessoria de imprensa, foi seqüestrado em outubro de 2003, em São Paulo, a primeira exigência feita pelos seqüestradores foi a de que a notícia não fosse publicada nos jornais. Um mês após o resgate ter sido pago, sem notícias de Ivandel, a família recorreu novamente aos veículos de comunicação. Dessa vez, não para pedir sigilo, mas para solicitar a divulgação do caso. Programa linha direta. Dois anos após o sequestro o corpo foi encontrado Contribuições e sugestões Não há uma recomendação única a fazer em relação à cobertura de sequestros. imprensa deve colocar o bem estar da vítima acima dos interesses jornalísticos, procurando avaliar, através do contato com a polícia e a família, que atitude tomar. Opiniões: Fernando Moraes, delegado titular da Divisão Anti-Seqüestro (DAS) do Rio de Janeiro- a divulgação atrapalha o trabalho da polícia e coloca a vítima em uma situação de risco. “Acho que a mídia deveria se preocupar mais em ajudar nesses casos do que em divulgar em nome de algum princípio maior. O que é mais importante? A vítima que está em cativeiro, ou o leitor que precisa saber logo daquela informação?”, questiona Hugo Godinho. Já o ex-secretário Nacional de Segurança Pública, coronel José Vicente da Silva,defende a cobertura da imprensa: a divulgação de seqüestros pela imprensa é mais útil do que prejudicial à vítima, além de impor a sensação de risco que tende a pressionar os criminosos a uma negociação mais rápida e segura. A mídia é prejudicial quando transforma o crime em entretenimento, constrangendo familiares da vítima, perturbando as ações policiais com repórteres travestidos de investigadores ou exibindo elaboradas reconstituições que são estimulantes aulas a jovens delinqüentes. O jornalista Alberto Dines, coordenador do site e do programa de TV Observatório da Imprensa, defende uma espécie de "terceira via": noticiar o essencial, sem alarde, e então aguardar a conclusão do caso. Em Mato Grosso