Escolhendo um bom Coach A cada dia que passa mais citações a respeito de Coaching são encontradas nas mais diversas publicações e na internet. Algumas apenas fazendo menção ao uso deste poderoso instrumento de desenvolvimento individual, outras envolvendo o Coaching em uma aura de modismo e promessas de duvidoso cumprimento. Outras, principalmente na internet, com conteúdos realmente úteis. Coaching não é modismo, e também não é uma novidade. É uma prática quase tão antiga quanto a própria humanidade, e que ao longo do tempo, vem se desenvolvendo à luz do conhecimento, da observação sistemática e pela aplicação de teorias e conceitos de várias áreas do conhecimento. Em países mais desenvolvidos é uma prática quase que institucionalizada, até mesmo arraigada em algumas culturas. Algo que pessoas mais experientes e mais preparadas faziam com outras pessoas a quem esta experiência e preparo pudesse resultar em crescimento pessoal e profissional. Uma prática acima de tudo, solidária. Uma prática que acabava fazendo com que aqueles que viriam a ser, tivessem a oportunidade de ser um pouco melhores do que aqueles que foram, aproveitando destes a experiência, o conhecimento, e aquilo que mesmo empiricamente, puderam compreender a respeito da interação com o seu próprio eu e com suas circunstâncias. Atualmente, profissionais das mais diversas áreas dedicam-se à prática de Coaching como atividade remunerada, que não pode ser chamada de profissão por não ser fruto de uma formação específica, regulamentada e reconhecida, o que não elimina a nobreza de seus propósitos. Quem sabe um dia o Coaching venha a se tornar um tipo de especialização de várias das profissões regulamentadas. Mas ainda não o é. E não sendo uma profissão ou mesmo uma especialização, a atividade dá margem ao surgimento de um fenômeno conhecido como banalização, com o surgimento de cursos de formação, franquias e entidades de certificação em sua grande maioria de qualidade e seriedade duvidosas. Tal fenômeno, não é uma exclusividade brasileira. Ocorre também nos Estados Unidos, onde alguns autores afirmam que a atividade banalizada de formação de Coaches movimenta mais dinheiro do que a própria prática da atividade em si. Mesmo assim, o Coaching é objeto de estudo e pesquisa em grandes centros do conhecimento mundial, e apesar da banalização, cada vez mais conhecimento e literatura de boa qualidade estão disponíveis aos interessados em desenvolver a atividade, com a necessária compreensão dos conceitos e campos de conhecimento necessários à prática como atividade remunerada relevante e reconhecida por profissionais e executivos em todos os níveis organizacionais. No Brasil até o momento, uma única entidade representativa de categoria profissional, o Conselho Regional de Administração de São Paulo, vem desenvolvendo diversas atividades e etapas no sentido de tornar o Coaching uma atividade, que, quando exercida por Administradores, se sujeite às orientações do Perfil do Administrador no Exercício da Atividade de Coaching, assim como ao Código de Conduta e Melhores Práticas do Administrador no Exercício da Atividade de Coaching, além de desenvolver conteúdos e conceitos de suporte à atividade, seguindo uma tendência cada vez mais observada de aprofundamento, estudo e pesquisa a respeito de Coaching em grandes centros do conhecimento mundial. Assim podemos dizer que hoje há muita gente praticando Coaching, mas há pouca gente que verdadeiramente é Coach. A diferença entre uns e outros é que os primeiros aplicam um conjunto de técnicas ou métodos que aprenderam em algum curso ou em algum lugar. Os segundos apresentam um conjunto bastante claro e evidente de atributos e habilidades, e a despeito de dominarem ou não técnicas ou métodos descritos, conseguem efetivamente contribuir significativamente para o desenvolvimento de seus clientes. Possuem um bem precioso – a combinação feliz de maturidade com conteúdo. Como identificá-los? Em primeiro lugar, é preciso saber que a capacidade de um indivíduo ser um bom Coach é diretamente relacionada ao grau de conhecimento e clareza a respeito de si próprio, seus valores e suas intenções. Ninguém pode proporcionar a outros, aquilo que não possui em si próprio. Ao buscar um bom Coach, é preciso ter em mente que este já deverá ter vivenciado o estágio profissional em que seu futuro cliente está, pois de outra forma dificilmente poderá ajudar este cliente em aspectos que forem essenciais para atender as razões que o levaram a buscar a ajuda de um Coach. Os melhores Coaches são aqueles que já percorreram uma carreira profissional longa e bem sucedida, que tenham ocupado os mais altos postos, e que possuindo uma visão mais ampla, podem ajudar seus clientes de modo também mais amplo. Além disso, demonstram um interesse genuíno em ajudá-lo, pois os bons Coaches possuem um interesse muito forte e verdadeiro, e demonstram isso, em ver seus clientes evoluir e crescer. Bons Coaches gostam de pessoas. Eles nunca se colocarão acima do cliente, e não tentarão dirigi-lo. Colocar-se-ão sempre a seu lado. Terão claramente as características da maturidade: autopercepção, autocontrole, automotivação e serenidade. Um bom Coach nunca citará espontaneamente nomes de clientes anteriores. Porém, caso o cliente prospectivo pedir alguns nomes para colher referências, este, certamente, indicará alguns clientes anteriores, aos quais terá solicitado autorização prévia para tanto. As pessoas que recebem bons serviços, sempre gostam de dar informações bastante completas, e estarão interessadas em ajudar outra pessoa a fazer uma boa escolha. E aqueles que recebem serviços ruins, também costumam ser bastante sinceros a este respeito. Deve-se dar grande importância à compatibilidade (ou “química”) que se estabelece entre o Coach e o prospectivo cliente desde o primeiro momento, a qual será base do relacionamento de confiança mútua desde o início, e sem a qual o processo de Coaching não será bem sucedido. Por outro lado é preciso estar atento à possibilidade desta compatibilidade ser apenas uma impressão inicial, mas se for verdadeira, irá se consolidar no decorrer do processo. Além da compatibilidade, outro aspecto de grande importância é a credibilidade e a postura ética que o Coach transmite. Credibilidade é algo que se transmite com naturalidade. É a imagem externa da integridade. Se houver esforço evidente para que este processo ocorra, esta credibilidade estará comprometida. Vale lembrar que a integridade é percebida através da consistência entre valores, princípios, métodos, expectativas e resultados das ações de uma determinada pessoa. A ética se manifesta pelo senso intuitivo que se cria a respeito da honestidade, propósito e compromisso com a verdade. Em Coaching, um dos mais fundamentais princípios éticos diz respeito à absoluta confidencialidade a respeito daquilo que é tratado entre o Coach e seu cliente, mesmo quando o contratante dos serviços do Coach for a entidade na qual o Cliente trabalha. Há vários princípios éticos que decorrem naturalmente da boa prática de Coaching. Um deles diz respeito ao porquê e para quê se contrata um Coach. O cliente percebe um desconforto ou dificuldade comportamental em certas circunstâncias, e os relaciona com alguma limitação que o incomoda. Em algumas ocasiões, esta percepção não existe por parte do cliente, mas sim por parte de um superior ou de um profissional de RH que tomam a decisão de contratar o Coach. Em outras ocasiões, o embrião desta contratação é a percepção de que há que se buscar uma mudança, mudança esta não totalmente clara, e as formas de consegui-las, ainda menos claras. Contrata-se um Coach para ajudar o cliente a compreender estas restrições e para ajudá-lo a superá-las (o para quê). Havendo um porquê e um para quê, haverá também o por quanto tempo. Um bom Coach buscará estabelecer com o cliente, objetivos a serem alcançados, uma vez compreendidos seus motivos e circunstâncias, e um número aproximado de encontros em que espera poder ajudá-lo a realizar a tarefa. E dará ao cliente a liberdade de interromper o processo a qualquer tempo, caso o cliente não estiver satisfeito, sem qualquer tipo de penalidade ou multa. Desde o início do processo, o Coach fará muitas perguntas, mas procurará ouvir muito mais do que fala. O Coach é um indivíduo que sabe ouvir e sabe analisar, sintetizar e contextualizar o que ouve e percebe. E acima de tudo, sabe usar estas habilidades em benefício do seu cliente. Buscará sempre no próprio cliente os recursos necessários para atingir os objetivos desejados. Em certos momentos, a intervenção do processo de Coaching poderá exigir que o Coach atue como mentor do cliente, ajudando-o a adquirir conhecimentos, ou usando seus próprios conhecimentos para ajudar o cliente em um processo de ampliação perspectiva indispensável ao seu desenvolvimento pessoal, e como profissional, para enfrentar as inevitáveis mudanças, necessidades de adaptação a uma nova posição ou a novas exigências. Em outros, atuará como conselheiro, ajudando o cliente na solução de situações específicas e pontuais para as quais o conhecimento do Coach possa ser instrumental. Mas deve-se lembrar sempre que o processo de Coaching é voltado para o desenvolvimento de habilidades, e embora por vezes o Coach tenha que atuar como mentor ou conselheiro, estas tarefas não são a essência de seu trabalho, mas tão somente meios que pontualmente podem ser necessários, úteis ou complementares ao processo de Coaching. Havendo um porquê, o para quê e um prazo estimado para se atingir objetivos, resta saber o como este objetivo será alcançado. Os bons Coaches saberão deixar bastante claro aos clientes que possuem uma estratégia para realizar seu trabalho. Aliás, no caso dos melhores Coaches esta estratégia logo fica evidente. Mesmo assim, ao escolher um Coach, fazer perguntas a respeito do “como”, dará ao Cliente uma perspectiva de processo, além de propiciar a oportunidade de intuir através das respostas e da interação, se vai se sentir confortável e seguro em discutir com esta pessoa suas fragilidades, seus receios, seus anseios, suas necessidades e percepções de mudanças comportamentais que possam ser necessárias. Ao conduzir uma conversa com um Coach prospectivo seguindo um roteiro baseado nos parágrafos anteriores, é bom estar preparado para ser surpreendido. Bons Coaches irão surpreender o Cliente com perguntas e observações quase sempre inesperadas, mas muito apropriadas ao contexto. Talvez o cliente não tenha uma boa resposta para todas elas, mas se forem consistentes, é um sinal de que está diante de um bom Coach. Finalmente, deve-se lembrar que os resultados que forem alcançados, quando o forem, serão detectados muito mais pelas pessoas com quem o Cliente se relaciona, e por ele através dos feedbacks que recebe das pessoas como derivados de suas ações e das mudanças que se materializam. Se a atuação do Coach proporcionar ao cliente o foco e a geração de uma atitude em função deste foco, seu trabalho terá sido bem sucedido. Cabe ao cliente criar a relação causal entre o foco e a atitude e os resultados práticos que almeja. Fazer isto significa identificar e reconhecer os recursos de que necessita, e saber utilizá-los. O Coaching não cria relação direta de causa e efeito, ele estimula o pensamento sistêmico. Ajuda as pessoas a serem melhores para si mesmas e para com aquelas com quem se relaciona. Luis Eduardo Rezende Caracik Engenheiro, Executivo em Operações Industriais, Conselheiro de Administração, e Membro Fundador do Grupo de Excelência em Coaching do CRA-SP.