VI SEMANA DE MATEMÁTICA DA UESC Introdução à Cadeias de Markov: Processos Markovianos de parâmetro discreto Autores: Msc. Cláudia Ribeiro Santana Phd. Enio G. Jelihovschi Msc. Pedro Carlos Elias Ribeiro Junior Ilhéus - BA Outubro de 2007 Resumo Uma grande quantidade de processos estudados na atualidade, são resultados que são medidos ao longo do tempo. Dentro destes um grande número tem resultados aleatórios, ou seja, são resultados imprevisı́veis. Estes processos são chamados de processos estocásticos e são estudados usando a teoria das probabilidades. Como exemplos temos: 1) a variação de tráfego em um certo cruzamento que envolvem a formação e a dissipação de congestionamentos de veı́culos. 2) Quantidade de pessoas que chegam ao longo do dia para fazer transações bancárias nos caixas eletrônicos dentro de um banco e um problema seria de como encontrar o número de caixas eletrônicos para que os clientes passem menos tempo nas filas e não haja muitos caixas ociosos durante o dia. 3) Ruı́na do jogador; um jogador joga uma seqüência de jogos independentes contra um oponente, qual será a probabilidade de um dos jogadores se arruinar se iniciar com um capital N? 4) Mutações genéticas; qual é a probabilidade de uma mutação desaparecer, continuar numa pequena proporção da população, ou tomar conta de toda a população depois de um certo perı́odo de tempo? Um dos modelos que melhor explica uma quantidade importante destes processos, é chamado de Cadeias de Markov, que são processos aleatórios cujo resultado no estágio n depende somente do que aconteceu no estágio n − 1 e não dos resultados anteriores a n − 1, ou seja, um Processo Markoviano de parâmetro discreto será uma seqüência aleatória que satisfaz a identidade: Pr(jk | j0 , j2 ,..., jk−1 ) = Pr[Xk = jk | Xk−1 = jk−1 ] = p( jk | jk−1 ) para cada k e para cada seqüência j0 , j2 ,..., jk de estados, onde Xk são variáveis aleatórias que definem o resultado do processo no estágio k. Sabe-se que uma cadeia aperiódica, irredutı́vel, finita de Markov se estaciona, ou seja, entra em um estado permanente e o vetor limite é o único vetor de probabilidade estacionária do processo. Na verdade este vetor é um autovetor associado à matriz (regular) de probabilidades de transição do processo, daı́, o problema iniciado recai na álgebra linear onde teremos que utilizar as ferramentas desta área da matemática para encontrar tal autovetor. Capı́tulo 1 Definições Este capı́tulo se dedica a definir alguns conceitos que são necessários para o restante do estudo desejado. Muitas das situações investigadas no nosso estudo diz respeito à uma experiência aleatótia que não conduz a uma única variável aletaória, mas a toda uma seqência de variáveis aleatórias. Sequência de variáveis aleatórias tem uma ampla aplicação em diversos casos, a saber: pedidos comerciais, avarias de máquinas, tempo de vida útil de um componente eletrônico, sistemas de comunicação, cintagem de partı́culas subatômicas, epidimias, sistemas genéticos, e outros. Qualquer sistema que varie de forma aleatória com o tempo e seja observado em determinadas sequências de tempos segue este padrão. Definição 1.1. Uma sequência de variáveis aleatórias definidas no mesmo espaço amostral é denominada uma Sequência Aleatória ou um Processo Aleatório de Parâmetro Discreto. Observação 1.1. O termo Parâmetro Discreto se refere ao ı́ndice i na sequência Xi com i = 1, 2, . . . , n, . . . Os contradomı́nios das variáveis alatórias podem ser conjuntos contı́nuos ou discretos. Nosso caso é aquele em que o contradomı́nio é um conjunto discreto, que tem grande vairedade de aplicações. Definição 1.2. Dizemos que as variáveis aleatórias na sequência {X1 , X2 , . . . , Xn , . . .} sejam Discretas se seus contradomı́nios consistem de conjuntos de elementos Inteiros. Nesta caso pode-se afirmar que a j-ésima variável aleatória tem valor m, ou seja Xj = m, ou então, diz-se que o sistema está no estado m no j-ésimo estágio, e também, o sistema está no estado m no tempo j. 1 O problema consiste em responder alguns questionamentos sobre a função densidade da probabilidade conjunta ou da função distribuição de X1 , X2 , . . . , Xn , ou seja, quanto à p(i1 , i2 , . . . , in ) = P r[X1 = i1 ; X2 = i2 ; . . . ; Xn = in ] ou F (x1 , x2 , . . . , xn ) = P r[X1 ≤ x1 ; X2 ≤ x2 ; . . . ; Xn ≤ xn ] quando n é um número suficientemente grande, ou investigar sobre tais questões no caso do limite emq ue n tende ao infinito. Uma forma de de se conhecer tais probabilidades e através do emprego repetido da fórmula para a probabilidade da intersecção p(A ∩ B) = p(A) · p(B|A), obtendo que (1) p(i1 , i2 , . . . , in ) = pX1 , X2 , ..., Xn−1 (i1 , i2 , . . . , in−1 )p(in |i1 , i2 , . . . , in−1 ) = ... .. . p(i1 , i2 , . . . , in ) = pi1 p(i2 |i1 )p(i3 |i1 , i2 ) . . . p(in |i1 , i2 , . . . , in−1 ), (1) (1) onde pi1 é a função densidade de X1 , ou seja, pi1 = P r[X1 = i1 ], e o significado de cada uma das outras probabilidades condicionais é natural. Desta forma a equação anterior se torna P r[X1 = i1 ; X2 = i2 ; . . . ; Xn = in ] = P r[X1 = i1 ]P r[X2 = i2 |X1 = i1] . . . P r[Xn = in |X1 = i1 ; X2 = i2 ; . . . ; Xn−1 = in−1 ] EXEMPLOS 1. Existem três marcas de automóveis disponı́veis no mercado: o Jacaré, o Piranha e o Urubu. O termo aij da matriz A abaixo é a propabilidade de que um dono de carro da linha i mude para o carro da coluna j, quando comprar um carro novo. Os termos da diagonal de A = carro novo da marca. A2 = 59 100 11 25 12 25 7 25 39 100 9 25 13 100 17 100 4 25 J 0, 7 0, 3 0, 4 J P U De 7 10 3 10 4 10 P ara P 0, 2 0, 5 0, 4 2 10 5 10 4 10 1 10 2 10 2 10 U 0, 1 0, 2 0, 2 dão a probabilidade aii de se comprar um . Os termos de A2 , aij , significam mudar da marca i para a marca j depois de duas compras: De fato: a11 = probabilidade de tendo inicialmente um carro da marca J mudar para um outro carro desta mesma marca, ou seja, J, depois de duas compras. J Daı́, a11 = 7 10 → 7 10 · 7 10 7 10 J + → 2 10 · 3 10 J + 1 10 2 10 J · 4 10 → = P 3 10 → J J 1 10 → U 4 10 → J 59 . 100 a12 = probabilidade de tendo inicialmente um carro da marca J mudar para um outro carro da marca P depois de duas compras. J 7 10 → J 2 10 → P J 2 10 → P 5 10 → P J 1 10 → U 4 10 → P Daı́, a12 = 7 10 · 2 10 + 2 10 · 5 10 + 1 10 · 4 10 = 28 . 100 a13 = probabilidade de tendo inicialmente um carro da marca J mudar para um outro carro da marca U depois de duas compras. J Daı́, a13 = 7 10 → 7 10 · 1 10 J 1 10 + → 2 10 · 2 10 U + 1 10 2 10 J · 4 10 → = P 2 10 → U J 1 10 → U 2 10 → U 13 . 100 a21 = probabilidade de tendo inicialmente um carro da marca P mudar para um outro carro da marca J depois de duas compras. P Daı́, a21 = 3 10 → 3 10 · 7 10 J 7 10 + → 5 10 · 3 10 J + 2 10 5 10 P · 4 10 → = P 3 10 → J P 2 10 → U 4 10 → J 44 . 100 a22 = probabilidade de tendo inicialmente um carro da marca P mudar para um outro carro desta mesma marca, ou seja, P , depois de duas compras. P Daı́, a22 = 3 10 → 3 10 · 2 10 J 2 10 + → 5 10 · 5 10 P + 5 10 P 2 10 · 4 10 → = P 5 10 → P P 2 10 → U 4 10 → P 39 . 100 a23 = probabilidade de tendo inicialmente um carro da marca P mudar para um outro carro da marca U depois de duas compras. P Daı́, a23 = 3 10 → 7 10 · 1 10 J 2 10 + → 2 10 · 5 10 U + 5 10 P 1 10 · 4 10 → = P 2 10 → U P 2 10 → U 2 10 → U 16 . 100 a31 = probabilidade de tendo inicialmente um carro da marca U mudar para um outro carro da marca J depois de duas compras. U Daı́, a31 = 4 10 → 4 10 · 7 10 J 7 10 + → 4 10 · 3 10 J + 2 10 4 10 U · 4 10 → = P 3 10 → J U 2 10 → U 4 10 → J 48 . 100 a32 = probabilidade de tendo inicialmente um carro da marca U mudar para um outro carro da marca P depois de duas compras. U Daı́, a32 = 4 10 → 4 10 · 2 10 J 2 10 + → 4 10 · 5 10 P + 4 10 U 2 10 · 4 10 → = P 5 10 → P U 2 10 → U 4 10 → P 36 . 100 a33 = probabilidade de tendo inicialmente um carro da marca U mudar para um outro carro da marca U depois de duas compras. U Daı́, a33 = 4 10 → 4 10 · 1 10 J 1 10 + → 4 10 · 2 10 U + 4 10 U 2 10 · 2 10 → = 16 . 100 P 2 10 → U U 2 10 → U 2 10 → U 2. Seja {XN } uma cadeia de Markov com espaço dos estados {0, 1, 2}, vetor de probabilidade inicial p(0) = ( 14 , 12 , 41 ) e matriz de transição de 1 passo P : P = 1 4 1 3 3 4 1 3 1 4 0 0 1 3 3 4 (a) Calcule p(0, 1, 1) = P r[X0 = 0, X1 = 1, X2 = 1]. (b) Mostre que P [X1 = 1 e X2 = 1|X0 = 0] = p01 p11 . (2) (3) (c) Calcule p01 , pij para i, j = 0, 1, 2. RESPOSTAS: (a) p(0, 1, 1) = P r[X0 = 0, X1 = 1, X2 = 1] = = P r[X0 = 0] · [X1 = 1|X0 = 0] · P r[X2 = 1|X1 = 1, X0 = 0] = = P r[X0 = 0] · [X1 = 1|X0 = 0] · P r[X2 = 1|X1 = 1] = 1 4 · 34 · 1 3 = 1 . 16 (b) 1 4 0 → 1 3 4 → 1 Ou seja, P [X1 = 1 e X2 = 1|X0 = 0] = p01 p11 . (2) (c) Calcule p01 = a probabilidade de passar do estado 0 ao estado 1 depois de 2 passos. 0 (2) Daı́, p01 = 1 4 → 1 4 0 3 4 → 1 · 34 + 43 · 13 + 0 · 3 4 0 1 4 = → 1 1 3 → 1 0 0 → 2 1 4 → 1 7 . 16 O mesmo resultado pode ser obtido calculando o elemento a12 da 2a potência da matriz de transição: 1 3 5 7 1 1 3 0 0 4 4 4 4 16 16 4 1 1 1 · 1 1 1 = 7 4 13 3 3 3 3 3 3 36 9 36 1 13 31 0 14 34 0 14 34 12 48 48 P (3) = (3) 43 192 85 432 1 9 85 192 83 216 181 576 1 3 181 432 331 576 Os termos pij são as entradas da 3a potência da matriz de transição P . 3. Um sistema de comunicação tem uma probabilidade tal que, se um sı́mbolo é transmitido corretamente, a probabilidade de que o sı́mbolo seguinte seja correto é de 0,9. Se, no entanto, um sı́mbolo for transmitido incorretamente, a probabilidade de o próximo também o seja é de 0,5. A trasmissão pode ser modelada pela seqüência markoviana dependente, {X1 , X2 , · · · } onde Xi = 1 se o i-ésimo sı́mbolo for transmitido corretamente, Xi = 0 se o i-ésimo sı́mbolo for incorreto. Suponha que a probabilidade de que o primeiro sı́mbolo seja transmitido corretamente seja de 0,7. (a) Calcule as probabilidades de transmissão p(in , in−1 ). (b) Calcule p(i1 , i2 , · · · , in ). (c) Calcule P r[X3 = 1]. (d) Se o k-ésimo sı́mbolo for correto, Xk = 1, qual a probabilidade de que (k + 2)-ésimo sı́mbolo seja correto, isto é, Xk+2 = 1 RESPOSTAS (a) as probabilidades de transmissão p(in , in−1 ) são as entradas da seguinte matriz (de transição) : 9 10 5 10 1 10 5 10 43 50 7 10 7 50 3 10 A= 2 A = (b) p(i1 , i2 , · · · , in ) = p(i1 ) · p(i2 , i1 ) · · · p(in , in−1 ). (c) P r[X3 = 1] = 7 10 · p11 · p11 + 7 10 · p12 · p21 + 3 10 · p21 · p11 + 3 10 · p22 · p21 . (d) Se o k-ésimo sı́mbolo for correto, Xk = 1, a probabilidade de que (k + 2)-ésimo (2) sı́mbolo seja correto, isto é, Xk+2 = 1 é p11 = 43 . 50 Definição 1.3. Uma sequência X1 , X2 , . . . , Xn é dita uma Sequência de Variáveis Aleatórias Independentes se (n) p(in |i1 , i2 , . . . , in−1 ) = pin e (1) (2) (n) p(i1 , i2 , . . . , in ) = pi1 pi2 . . . pin Se, além disto, todas as variáveis aleatórias tem a mesma função distribuição, ou seja, (j) pi = pi , para cada j, a sequência é dita Sequência de Variáveis Aleatórias Independentes com Mesma Distribuição. EXEMPLO 4. Arremessa-se uma moeda 50 vezes e seja Xn = −1 se uma cara aparecer e Xn = +1 se uma coroa aparecer. Definição 1.4. A sequência aleatória {X1 , X2 , . . . , Xn } é dita Serquência Dependente de Markov, ou um Processo de Markov caso a probabilidade condicional p(in |i1 , i2 , . . . , in−1 ) = P r[Xn = in |X1 = i1 , X2 = i2 , . . . , Xn−1 = in−1 ]. Isto significa que p(in |i1 , i2 , . . . , in−1 ) = p(in |in−1 ) ou P r(Xn = in |X1 = i1 , X2 = i2 , . . . , Xin−1 = in−1 ) = P r[Xn = in |Xn−1 = in−1 ]. Exemplo 1.1. Considere uma seuqência independente {X1 , X2 , . . . , Xm , . . .}, onde cada Xi = +1 ou Xi = −1, com probabilidade p e q, respectivamente. Agora defina a sequência Yn = X1 + X2 + . . . + Xn , para n = 1, 2, . . . , e considere a sequência {Y1 , Y2 , . . . , Ym , . . .}, Se a sequência X representa uma sequência independentede passos da unidade de +1 ou −1no eixo real, então Yn representa a posição depois de n passos. Por esta razão a sequência {Y1 , Y2 , . . . , Ym , . . .} é chamado de caminho aleatório. sta sequência aleatória especı́fica é extremamente importante, tnato teoricamente, como em estudos de ordem prática. O estudo de suas propriedades, e determinadas generalizações ocupa grande parte da teoria de probabilidade. Aqui só se destaca o fato de que a sequência {Y1 , Y2 , . . . , Ym , . . .} náo é uma sequência independente, a despeito do fato de ser proveniente de uma sequência independente {X1 , X2 , . . . , Xm , . . .}. Note que Yn − Yn−1 = Xn =⇒ Yn = Yn−1 + Xn Assim, se Yn−1 for dado, Yn dependerá somente de Xn , que é independente de qualquer X ‘ e e Y ‘ s anteriores. Desta forma p(in |in−1 ) = = = = P r[Yn = in |Yn−1 = in−1 ] P r[Yn−1 + Xn = in |Yn−1 = in−1 ] P r[in−1 + Xn |Yn−1 = in−1 ] P r[Xn = in − in−1 ] Uma vez que Xn é independente de X1 , X2 , . . . , Xn−1 e, consequentemente de Yn−1 , seque que p, se in = in−1 + 1 q, se in = in−1 − 1 p(in |in−1 ) = 0, para qualquer outro valor Assim, observa-se que a sequência tem probabilidade de transição estacionária p, se j = in−1 + 1 q, se j = in−1 − 1 pij = 0, para qualquer outro valor para i, j = 0, ±1, ±2, . . . EXERCÍCIOS PROPOSTOS (a) Seja {X1 , X2 , · · · } uma seqüência aleatória independente onde cada Xi , assume somente os valores 1 e 0 com probabilidades p e q, p + q = 1. Mostre que P X1 , X2 , · · · , Xn tem densidade conjunta p(i1 , i2 , · · · , ik ) = pt q n−t onde t = nk=1 ik . Considere Sk = Pk i=1 Xi para k = 1, 2, · · · i. Mostre que a seqüência {S1 , S2 , · · · } é uma seqüência dependente de Markov. ii. Mostre que as probabilidades de transição são dadas a seguir onde α = in −in−1 : p(in , in−1 ) = pα q 1−α para α = 0 ou 1 0 (b) Seja {X1 , X2 , · · · } uma seqüência de variáveis aleatórias discretas independentes. Seja Sk = k X Xi para k = 1, 2, · · · i=1 Mostre que {S1 , S2 , · · · } é uma seqüência markoviana dependente. RUÍNA DO JOGADOR EXERCÍCIOS PROPOSTOS (a) Um jogador joga um ”jogo limpo”na qual as chances são 2 contra 1. Em outras palavras em cada jogo ele tem 1 3 de probabilidade de ganhar e 2 3 de perder. Se gan- har, ganhará R$2,00. Se perder, perderá R$1,00. Suponha que os recursos totais em dólar do jogador e do seu oponente sejam N dólares. Se o capital de qualquer um dos jogadores cair abaixo do ponto em que eles pudessem pagar caso perdessem o jogo seguinte, o jogo termina. Que Xn representa o caapital do primeiro jogador após n jogadas. i. Determine a matriz de transição de 1 passo da cadeia de Markov {Xn }. ii. Suponha que os dois jogadores concordem em que se o capital de qualquer um dos dois cair para R$1,00, eles farão o próximo jogo com chances iguais - ganharão ou perderão com igual probabilidade. Determine a matriz de transição de 1 passo para esse caso. Obs: Considere o seguinte experimento: Arremessa-se uma moeda 50 vezes e seja Xn = −1 se uma cara aparecer e Xn = +1 se uma coroa aparecer. Seja {X1 , X2 , · · · } uma seqüência de variáveis aleatórias discretas independentes. Seja Sk = k X Xi para k = 1, 2, · · · i=1 {S1 , S2 , · · · } é uma seqüência markoviana dependente que pode modelar um problema de ruı́na de Jogador Clássico onde se ganha R$1,00 e perde R$1,00. (b) Arremessa-se uma moeda 50 vezes e seja Xn = −1 se uma cara aparecer e Xn = +1 se uma coroa aparecer. Defina uma nova seqüência {Yn }, onde a seqüência {Xn }, da seguinte maneira: Y1 = X1 , X1 + X2 Y2 = , 2 .. . X1 + X2 + · · · + Xn Yn = n . (c) Identifique a seqüência {Yn }. Trata-se de uma seqüência independente? Uma seqüência de Markov? Um problema da Ruı́na de Jogador? EXEMPLOS DE MODELOS NÃO-MARKOVIANOS (a) Arremessa-se uma moeda 50 vezes e seja Xn = −1 se uma cara aparecer e Xn = +1 se uma coroa aparecer. Defina uma nova seqüência {Zn }, da seguinte maneira: Z1 = X1 , X1 + X2 Z2 = , 2 .. . Xn + Xn+1 Zn+1 = 2 . Com n=1, · · · , 49. (b) Explique porque {Zn } dada acima não é um modelo Markoviano? (c) Numa ilha maravilhosa verificou-se que a cor azul ocorre em borboletas de genótipo aa, e não ocorre em Aa e AA. Suponha que a proporção de borboletas azuis seja 1 . 4 Depois de algumas gerações, qual será a porcentagem das borboletas não azuis, mas capazes de ter filhotes azuis? RESPOSTA: Denotando por d, dominante, r, recessivo e h, hı́brido, e os repectivos cruzamentos por d × d, d × r, d × h, colocando as probabilidaddes em colunas, podemos montar a seguinte matriz de transição: d h r d×d 1 0 0 r×r 0 0 1 d×r 0 1 0 d×h 0,5 0,5 0 r×h 0 0,5 0,5 (2) pd (2) ph (2) pr 1 0 0 0, 5 0 0, 25 = 0 0 1 0, 5 0, 5 0, 5 · 0 1 0 0 0, 5 0, 25 1 0 0 0, 5 0 0, 25 = 0 0 1 0, 5 0, 5 0, 5 · 0 1 0 0 0, 5 0, 25 h×h 0,25 0,5 0,25 (1) (1) pd · pd (1) (1) pr · pr (1) (1) 2 · pd · pr (1) (1) 2 · pd · ph (1) (1) 2 · pr · ph (1) (1) ph · ph 0, 25 · 0, 25 0, 25 · 0, 25 2 · 0, 25 · 0, 25 2 · 0, 25 · 0, 5 2 · 0, 25 · 0, 5 0, 5 · 0, 5 = 0, 25 = 0, 5 0, 25 (1) pd : porcentagem de indivı́duos dominantes. (1) ph : porcentagem de indivı́duos hibridos. (1) pr : porcentagem de indivı́duos recessivos. (3) (2) (3) (2) (3) Obs: pd = pd , ph = ph , pr (2) = pr . Isto não é casualidade. Existe uma ”lei em genética”muito conhecida, que estabelece sob condições ideais que depois da segunda geração, a distribuição entre os genótipos permanece a mesma. APLICAÇÕES DA ÁLGEBRA LINEAR EM CADEIAS DE MARKOV Frequêntemente se deseja estudar a cadeia de Markov que tenha estado em funcionamento há alguma tempo, ou seja, investigar sobre o comportamento das probabilidades de estado n, com n bem grande, isto é, (n) vj = lim pj n→∞ Neste caso vj recebe o nome de Probabilidade de Estado Permanente. Em termos razoáveis pode-se esperar que, ao longo de um grande perı́odo de tempo, a influência do estado inicial no qual o processo começou pode esmorecer e, assim, as probabilidades limites vj podem não depender do estado inicial. Se for este o caso, então vj também pode ser (n) interpretado como limite das probabilidades de transição de n passos pij , vj = lim pij , n→∞ (n) já que pij é a probabilidade do porcesso estar no estado j após n passos, dado que inicialmente estava no estado i. Se realmente cada vj não depende do estado inicial, a (n) matriz P(n) = (pij ), convergirá para uma matriz V conforme n → ∞, e cada linha será identica ao vetor v, com componetes vj , P(n) → V = v v .. . , v quando n → ∞, onde v = (v0 , v1 , . . . , vj , . . .) Deve-se estar atento ás algumas perguntas, tais como: os limites que definen vj existem? P Se existitrem, formam uma distribuição de probabilidade? Isto é, somam 1, vj = 1? Como se pode calcular os vj ? (n) se os limites vj = lim pij existem e não dependem do estado inicial, então, fazendo n→∞ n → ∞ na identidade (n) pj = X (n−1) pk pkj k obtem-se vj = X k ou, equivalentemente, vk pkj , com j = 0, 1, 2, . . ., v =v·P Qualquer vetor x = (x0 , x1 , x2 , . . .), com xi ≥ 0 tal que xj = X P xi = 1, que satisfaça xk pkj , com j = 0, 1, 2, . . . ou x = x · P k é chamado de Vetor de Probabilidade Estacionária. (n) Teorema 1.1. Em qualquer cadeia aperiódica de Markov todos os limites vj = lim pj n→∞ existem. (n) Teorema 1.2. Em qualquer cadeia aperiódica de Markov todos os limites vj = lim pj n→∞ (n) = lim pij n→∞ não dependem da distribuição inicial. Teorema 1.3. Em qualquer cadeia aperiódica irredutı́vel e finita de Markov, o vetor limite v = (v0 , v1 , v2 , . . .) é o único vetor da probabilidade estacionária do processo. Este último teorema implica que, para ca cadeia aperiódica, irredutı́vel e finita de Markov, (n) a matriz P(n) = (pij ) tende à uma matriz que tem todas sua linhas iguais, sendo cada uma delas id entica ao vetor estacionário, ou seja, lim P(n) = n→∞ v v .. . = v v0 v0 .. . v1 v1 .. . v2 v2 .. . ... ... .. . v0 v1 v2 ... Exemplo 1.2. Suponha que um equipamento tanto possa estar ocupado como inoperante, e que, se estiver inoperante, possa estar parado para reparos, como aguardando mais trabalho. Indiqueos estados ocupado, em reparo, e aguardando mais trabalho por 0, 1 e 2. Observe o estado do sistema em uma sequência de dias sucessivos, e suponha que haja suficiente falta de memóriano sistema, de forma que possa ser aproximado por uma cadeia de Markov com matriz de transição de 1 passo p00 P = p10 p20 p01 p11 p21 p02 0, 8 p12 = 0, 1 p22 0, 6 0, 1 0, 1 0, 6 0, 2 0 0, 4 Assim, por exemplo, p01 = 0, 1significa que a probabilidade de que uma máquina ocupada quebre é de 0, 1, p11 = 0, 6 significa que a probabilidade de que uma máquina em reparo hoje ainda esteja em reparo amanhã é de 0, 6, p21 = 0 significa que uma máquina inoperente não se quebra. Se estiver interessado nas proporções de tmepo à longo prazo que o equipamento gasta em três estados, a distribuição limite deverá ser calculada. O sistema é, claramente, irredutı́vel (cada estado por ser alcaçado partindo de cada outro estado, embora não necessariamente em um único passo, pois leva-se, ao menos, 2 passos para ir do estado 2 para o estado 1). É também finito e aperiódico. De acordo com o teorema 1.3 só se precisa encontrar o único vetor de probabilidade estacionária, resolvendo-se x = xP, com P xi = 1. Assim, x0 x1 x2 = (0, 8)x0 = (0, 1)x0 = (0, 1)x0 + (0, 2)x1 + (0, 6)x1 + (0, 2)x1 + (0, 6)x2 + (0, 4)x2 ou (0, 2)x0 −(0, 1)x0 −(0, 1)x0 − (0, 2)x1 + (0, 4)x1 − (0, 2)x1 − (0, 6)x2 + (0, 6)x2 = 0 = 0 = 0 Já que a terceira equação pode ser obtida somando as duas primeiras e multiplicando por −1, a terceira não oferece nenhuma informação adicional, podendo ser eliminada. As P duas primeiras equações aliadas ao fato de que xi = 1, determinarão a única solução, que será do sistema (0, 2)x0 −(0, 1)x0 x0 − (0, 2)x1 + (0, 4)x1 + x1 − (0, 6)x2 + x2 = 0 = 0 = 1 1 1 Das duas primeiras equações do sistemas, verifica-se que x1 = x0 , x2 = x0 , e substi4 4 tuindo na última equação, obtem-se 1 1 x2 = 6 6 2 1 1 , , , e isso oferece as proporções de Assim, o vetor da probabilidade limite é v = 3 6 6 tempo, a longo prazo, que o sistema gasta nestes estados. x0 = 2 3 x1 = EXERCÍCIOS RESOLVIDOS (a) É observado que as probabilidades de um time de futebol ganhar, perder e empatar uma partida depois de conseguir uma vitória são 21 , 15 e de ser derrotado são 3 3 , 10 10 3 10 respectivamente; e depois e 25 , respectivamente; e depois de empatar são 51 , 25 e 52 , respectivamente. Se o time não melhorar nem piorar, conseguirá mais vitórias que derrotas a longo prazo? RESPOSTA: G P E G 0,5 0,2 0,3 P 0,3 0,3 0,4 E 0,2 0,4 0,4 Como a matriz das probabilidades é regular, podemos aplicar o teorema (1.5.4)[1]: pG 0, 5 0, 3 0, 2 pG −0, 5pG + 0, 3pP + 0, 2pE = 0 0, 2 0, 3 0, 4 pP = pP ⇔ 0, 2pG − 0, 7pP + 0, 4pE = 0 0, 3pG + 0, 4pP − 0, 6pE = 0 pE 0, 3 0, 4 0, 4 pE . Além disso, sabemos que pG + pP + pE = 1. Daı́, pG = 26 , 79 pP = 24 79 e pE = 29 . 79 (b) Numa cidade industrial, os dados sobre a qualidade do ar são classificados como satisfatório (S) e insatisfatório (I). Assuma que, se um dia é registrado S, a probabilidade de se ter S no dia seguinte é 2 5 e que, uma vez registrado I, tem-se 1 5 de probabilidade de ocorrer S no dia seguinte. i. Qual é a probabilidade do quarto dia ser S, se o primeiro dia é I? ii. O que se pode dizer a longo prazo sobre a probabilidade de termos S ou I? S 0,4 0,6 RESPOSTA: S I I 0,2 0,8 Para o item b)Como a matriz das probabilidades é regular, podemos aplicar o teorema (1.5.4)[1]: 0, 4 0, 2 0, 6 0, 8 pS pI pS pI = ⇔ −0, 6pS + 0, 2pI = 0 0, 6pS − 0, 2pI = 0 . 1 4 Além disso, pS + pI = 1. Daı́, pS = Para o item a) I 4 5 I 4 5 I 1 5 S 1 5 S → I → I → I → e pI = 43 . 4 5 I 1 5 S 3 5 I 2 5 S → → → → 1 5 S 2 5 S 1 5 S 2 5 S → → → → Portanto, a probabilidade de ocorrer S no quarto dia tendo ocorrido I no primeiro dia é igual a 16 125 + 8 125 + 3 125 + 4 125 = 31 . 125 O mesmo resultado pode ser obtido calculando o elemento a12 da 3a potência da matriz de transição: 0, 4 0, 2 0, 4 0, 2 0, 4 0, 2 · · = 0, 6 0, 8 0, 6 0, 8 0, 6 0, 8 32 125 93 125 31 125 94 125 (c) Considere duas companhias de comidas prontas, M e N. Cada ano, a companhia M conserva 13 de seus fregueses, enquanto que 23 se transferem para N. Cada ano, N conserva 1 2 1 2 de seus fregueses, enquanto transferem-se para M. Suponha que a distribuição inicial do mercado é dada por 1 3 2 3 X0 = i. Ache a distribuição do mercado após 1 ano. Um ano mais tarde, a distribuição do mercado é M 1 1 2 1 2 3 2 3 A = X1 = AX0 = N 1 3 2 3 M N 1 2 1 2 1 3 2 3 De fato, suponhamos que o mercado inicial consiste em k pessoas, e que este número não varia com o tempo. Ao fim do primeiro ano, M mantém 13 de seus fregueses e ganha tem 2 3 · ( 13 k) + 12 · 1 de N, ou seja, M tem 13 2 ( 23 k) = 59 k fregueses. · ( 31 k) + 12 · ( 23 k) = 49 k fregueses e S ii. Ache a distribuição estável do mercado. Como a matriz A é regular, segue pelo teorema da Cadeia de Markov que as probabilidades pM e pN a longo prazo satisfazem o seguinte sistema linear: 1 3 2 3 1 2 1 2 pM pN = pM pN ⇔ −4pM + 3pN = 0 4pM − 3pN = 0 Além disso, temos que pM + pN = 1. Daı́, podemos concluir que pM = pN = 4 . 7 3 7 e (d) Suponha que somente duas companhias rivais, R e S, manufaturam um certo produto. Cada ano, a companhia R retém 13 dos seus fregueses, enquanto que 32 passam 3 5 a ser fregueses de S. Cada ano, S mantém se seus fregueses, enquanto que 2 5 se transfere para R. Estas informações podem ser mostradas sob a forma matricial como R1 S 2 5 3 5 3 2 3 A = Ao se iniciar a manufatura, R tem 2 3 R S do mercado (o mercado é composto pelo 1 3 número total de fregueses), enquanto que S tem distribuição inicial do mercado por X0 = 2 3 1 3 do mercado. Representamos a Um ano mais tarde, a distribuição do mercado é X1 = AX0 = 1 3 2 3 2 5 3 5 2 3 1 3 De fato, suponhamos que o mercado inicial consiste em k pessoas, e que este número não varia com o tempo. Ao fim do primeiro ano, R mantém ses e ganha 25 de S, ou seja, R tem 2 29 · ( 32 k) + 35 · ( 31 k) = 45 k fregueses. 3 1 3 · ( 23 k) + 2 5 · ( 31 k) = 16 k 45 1 3 de seus fregue- fregueses e S tem Como a matriz A é regular, segue pelo teorema da Cadeia de Markov que as probabilidades pR e pS a longo prazo satisfazem o seguinte sistema linear: 1 3 2 3 2 5 3 5 pR pS = pR pS ⇔ −5pR + 3pS = 0 5pR − 3pS = 0 . Além disso, temos que pR + pS = 1. Daı́, podemos concluir que pR = 3 8 e pS = 58 . BIBLIOGRAFIA (a) BOLDRINE, José Luiz. COSTA, Suelli I. Rodrigues. FIGUEREDO, Vera Lúcia. WETZLER, Henry G. Álgebra Linear. 3a edição. Editora: HARBRA ltda. (b) CLARKE, A. Bruce. Disney, Ralph L. Traduzido por: Gildásio Amado Filho. Probabilidade e Processos Estocásticos. -Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Cientı́ficos, 1979. (c) FERNANDEZ, Pedro Jesus. Introdução à Teoria das Probabilidades. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Cientı́ficos; Brası́lia, Ed. Universidade de Brası́lia, 1973. (d) KOLMAN, Bernard. Traduzido por: João Pitombeira de Carvalho. Álgebra Linear. 3a edição. Editora: Guanabara.