ANANIAS PEREIRA DE SOUSA
Ananias Pereira de Sousa nasceu em Acaj uciba, dist rit o de Esplanada,
Bahia, em 1943. Filho de pais agricult ores, freqüent ou, som ent e por um
ano, um a escola não oficial, que funcionava na casa da professora, saindo
para auxiliar os pais na lavoura. Veio j ovem para São Paulo, onde
completou o Primário na Alfabetização de Adultos do SESI. Cursou o Ginásio
na Escola Rom ão Puiggari e fez o Colegial na Escola Com ercial Barão de
Mauá. Depois de t rabalhar na área de cont abilidade, volt ou à Rom ão com o
I nspet or de Alunos. Cursa Faculdade de Mat em át ica e sonha ser professor
nessa m esm a escola. É cant ador, at ividade que realiza com as crianças da
escola durante os recreios.
Identificação do depoente
Meu nom e é Ananias Pereira de Sousa. Nasci dia 16 de dezem bro de 1943,
num a cidadezinha que o nom e é Acaj uciba, m unicípio de Esplanada, no Est ado
da Bahia, e vim pra São Paulo. Saí de casa no dia 20 de m arço de 61, e est ou
em São Paulo esse tempo todo aqui há 40 anos.
Infância do depoente
Era um a cidadezinha m uit o pequena, m as m uit o pequena m esm o, nem cidade
era. Não t inha aut onom ia polít ica, era com arca de Esplanada, ent ão os casos
que acont eciam t inham que ser resolvidos em Esplanada. Agora hoj e j á est á
bem desenvolvida.
Eu brincava de tanta brincadeira, corre, pega-pega, esconde-esconde, bandido,
caçar passarinho, corria a cavalo, brincadeira de roda no t erreiro, em pinar
balão, pipa. Gangorra, balanço, bola de gude, cavalo de pau, a m inha
brincadeira predileta, da qual eu era especialista, era jogar pião.
Eu j ogava pião at é cair no chão, aparava na m ão. At é na unha m eu pião
rodava, m inha unha era at é furada do prego do pião. Pegava, j ogava o pião,
aparava na m ão, depois j ogava na unha, na copa do chapéu. Acho que nem
m e lem bro de t odas essas brincadeiras que eu brinquei. Foi um a infância,
porém, de menino pobre, mas uma infância de uma certa forma feliz.
Então, eu nasci num ambiente propriamente poeta, poético. Porque o povo lá é
poet a at é na m ort e. Lá o sapo cant a, o grilo cant a, a cigarra cant a, os
passarinhos cant am , o galo cant a, os galos adorm ecem o povo à noit e com o
seu cant ar, né? E... o povo t am bém t udo é poet a, t udo o que se faz é
cant ando. Tem aqueles m ut irões para t rabalhar na roça, na lavoura, é
cant ando. A farinhada* se faz cant ando, andando pelas est radas cant ando,
aquela coisa, ent ão, m e criei assim , criei nessa vont ade de cant ar, cant ar por
prazer. Aí, quando a gent e vai em bora assim fazer aquelas farinhadas ou
pescaria, vai cantando pelo caminho.
Naquela época, da geração do m eu pai, exist iam na nossa vizinhança quat ro
pessoas que sabiam ler e escrever: um a era m inha professora, a out ra era o
m eu t io em quem m e inspirei, porque ele cort ava o cabelo aos sábados e
dom ingos. Aquele povo t odo ia pra lá cort ar cabelo e, depois de cort ar cabelo
ele lia. Ele t inha um a caixa cheia de livros de lit erat ura de cordel e ele lia
aqueles livros, de lit erat ura de cordel* , aquelas hist órias de príncipe
encant ado, m ais ou m enos um film e de “ caubói” , aquelas coisas. O espírit o é o
m esm o e aquele povo t udo boquiabert o. Meu t io era vist o com o um hom em
let rado. Aí eu pensei: “ Quando eu crescer t enho que ser sabido igual ao m eu
t io” . Aí m e inspirei no m eu t io, essa vont ade de est udar para ser igual a ele,
sabido. Ent ão, t inha m ais dois vizinhos lá. Eram só quat ro pessoas, ali na
nossa vizinhança, da geração do meu pai, que sabiam ler e escrever.
E foi em 1954, quando com eçaram a vir os prim eiros conhecidos para São
Paulo, pois a safra foi ruim , não choveu, não t inha o que fazer. Eles vinham
para São Paulo procurar m eio de vida. Est ando em São Paulo, m andavam
t odos os m eses um a cart a para os pais, que iam para m inha casa pra eu ler as
cart as. Ler as cart as e escrever a respost a pros filhos. Eu lia as cart as,
algum as davam t rabalho, encont rava cert a dificuldade eh... a m aneira com o
escrevia, sabe, que eu não vou falar, cost um a dizer... garrancho, né? aquela
dificuldade t oda, sem pont uação, sem nada, let ra, sei lá, m as eu com o
conhecia a linguagem , né? Com o eu conhecia a linguagem , ent ão eu ent endia,
um a vez at é por int uição eu ent endia o que é que era, t al, lia prim eiro só para
m im , t al, depois dava um j eit o e lia as cart as, depois escrevia as respost as.
Alguns m e davam uns t roquinhos para eu com er doce ( risos) , out ros não
davam nada...
Meus pais t rabalhavam na roça, na lavoura. Plant avam feij ão, m ilho,
am endoim e fum o. A principal, a lavoura m ais rendosa era fum o, inclusive
quando eu vim pra São Paulo foi um a saca de fum o que eu fiz. Com 17 anos
eu plant ei um a erva de fum o, um a saca de fum o e fiz 10 arrobas, vendi a um
cont o de réis, naquele t em po um cont o de reis era m il cruzeiros. Com isso daí
eu fiz 10 mil cruzeiros e com esse dinheiro eu vim pra São Paulo.
Formação: Escola Rural
A escola da cidade eu não sei com o que era porque eu não freqüent ei. Eu
aprendi a ler num a escolinha na roça, que a professora não era form ada. Não
era escola oficial, ela sabia ler, escrever, fazia um as cont inhas, e ela ensinava
pra quem quisesse aprender. Meu pai com eçou pagando no ano que eu est ive
na escola 5 m il réis por m ês. Dona Elisinha. Elisa Alves de Carvalho. Morreu
com 100 anos o ano passado.
A gent e ia cedo pra escola e volt ava t arde, ent ão era o dia int eiro. Chegava às
7 e meia, 8 horas, e saía às 5, 6 da tarde. A escola era na casa da professora.
Escola Primária: Relação Professor-Aluno
Dona Elisinha era boa gent e, era boa pessoa, era m eia brava com os alunos
indisciplinados, e com o t odos os alunos apront avam ... Um a cert a vez nós
saím os na hora do recreio, depois que fazia a refeição a gent e t inha um a hora
de int ervalo, aí a gent e saiu pra t om ar banho no rio. O t em po foi passando,
nós t om ando banho, o t em po foi passando, quando nós chegam os, as m eninas
j á est avam t odas est udando, porque os m eninos foram t odos. Aí, ent ão, cada
um ganhou meia dúzia de bolos, aquela palmatória dessa grossura feita de ipê,
que até hoje eu lembro.
A palm at ória era um a roda de m adeira, com a espessura m ais ou m enos de
um dedo. Redonda e com um suport e que prendia, era feit a de um pau
int eiriço. Fazia um a espécie de circunferência com um cabo e aquele cabo era
pra professora segurar e pegar na m ão pra aplicar o bolo na m ão do aluno
indisciplinado. Doía m uit o. Tinha um orifício do lado que fazia o im pact o na
palm a da m ão, e aquilo ali quando bat ia a pressão chupava o couro da m ão e
aquilo ali ficava por um bom tempo vermelho. Aquela poça de sangue no lugar.
A professora usava só nos casos m uit o graves. Fiquei um ano na escola, só
levei essa meia dúzia de bolos uma vez só.
Escola Primária: organização, currículo e métodos de ensino
Para aprender a ler, o m ét odo era assim , prim eiro aprendia o ABC, ent ão t inha
um ABC com t odas as let ras, m aiúsculas, m inúsculas. Prim eiro ensinava a
falar. A, B, C, D, E, Fe, Gue, H, I , Ji, Le, Me, Ne, O, P, Q, Re, Si, T, U, V, X, Z.
Por isso que Luiz Gonzaga* fez a m úsica “ No m eu sert ão pro caboclo ler ele
t em que aprender um out ro ABC, o G é Gue, o N é Ne, o L é Le, o J é Ji” .
Ent ão aprendi, depois de cant ar m uit o t em po isso daí, cant ava e ia
m ent alizando. Depois de um cert o t em po, a professora pegava um papel, fazia
um orifício e cobria um a let ra. Aí pergunt ava: “ Que let ra é essa?” Quando a
gent e j á conhecia as let ras t odas, ent ão com eçava a j unt ar as let ras. Aí ela
dizia que chamava "assuletrar": B A ba, B E be, B I bi, B O bo, B U bu, Le A la,
Le E le, Le I li, Le O Lo, Le u Lu, e aí fazia isso cant ando. Depois que a gent e
sabia juntar letra, então agora começava a juntar as sílabas, B A ba, não é bá?
Baba. Be A ba, ta, bata, B A ba, T a ta, ta, batata. B O bo, B O bo, bobo, então
esse era o m ét odo. Depois o próxim o passo seria é m inúsculas, depois as
escrit as à m ão, porque at é ent ão era let ra de form a. Depois que você dom ina
t udo isso, ent ão agora vam os aprender, vam os aprender a escrever. Bom ,
ent ão agora vam os cobrir let ra. Ela escrevia a lápis e a gent e com a pena.
Depois que t inha t odo esse dom ínio, agora poderia escrever, agora nós vam os
escrever.
Tam bém aprendi a fazer cont as. Cont ar, fazer cont as, t abuada. Tabuada
prim eiro com eçava com o m ais, um m ais um dois, dois m ais um t rês, um m ais
t rês quat ro, at é dez. Depois de vezes, e a gent e ent oava, quem passava na
est rada ouvia “ duas vezes um dois, duas vezes dois quat ro, duas vezes t rês
seis, duas vezes quat ro oit o, duas vezes cinco dez, noves fora um , duas vezes
seis doze, noves fora t rês, duas...” at é dez. Ent ão a gent e sabia o result ado, o
produt o da m ult iplicação, e os noves fora, por que do dez pra lá a gent e ia
falando, se fosse dez noves fora um , onze noves fora dois, doze noves fora
t rês, t reze noves fora quat ro, e por aí vai. Dia de sext a- feira exist ia um a coisa
cham ada argum ent ação, espécie de sabat ina. Ant igam ent e exist ia sabat ina,
que é um a recordação daquilo que se est udava durant e a sem ana. Ent ão no
sábado se fazia um a avaliação, cham ava sabat ina porque era no sábado, daí o
nom e sabat ina. A professora Elisa Alves de Carvalho sent ava num a cadeira ou
num t am boret e, bancozinho, a palm at ória ali do lado e os alunos t odos em
círculo. Cham ava- se argum ent ação. “ Vam os ver agora quem é quem , vam os
ver quem é e quem não é” . Ent ão ela ia pergunt ando: “ Oit o vezes oit o?” Tinha
que responder ao pé- da- let ra, t inha que ser rápido: “ É sessent a e quat ro,
noves fora um ” . Porque seis m ais quat ro dez, noves fora, m enos nove t ira os
nove fora dá um . “ Nove vezes nove oit ent a e um . Oit o vezes seis, oit o vezes
set e, cinqüent a e seis, set e vezes nove sessent a e t rês...” Porque se não
respondesse e com eçasse t it ubear e a esgot ar seu t em po pra dar respost a, ela
pergunt ava pro out ro, se o out ro respondesse, palm at ória. Se um est ivesse
com bronca do out ro que acont ecesse isso aí, coit ado! Ent ão era assim , eu
aprendi com Dona Elisa Alves de Carvalho foi ler um pouco, escrever e fazer
cont as. Ela não sabia t am bém m ais do que isso pra nos ensinar, m as graças a
Deus serviu m uit o, Deus que a t enha, m e serviu de guia pela est rada da vida
pra ir pra São Paulo. Se t ivesse chegado aqui naquele t em po e não soubesse o
pouco que ela me ensinou, não sei como eu teria me virado.
Tinha menino e menina na escola, só que as meninas sentavam separadas.
Escola Primária: Material Escolar
Para cobrir let ra, a professora escrevia a lápis, e o aluno cobria com pena de
metal com tinta. Molhava a pena num tinteiro e molhava também as roupas da
gent e, as m esas, era t udo suj o de t int a. Aquilo ali cai m esm o. E não t inha esse
negócio de cart eira, t inha um a m esa grande, que ela colocava no cent ro da
casa, e os bancos, e a gent e t udo sent ava em volt a. Pra lim par a gent e dava
um jeito. Enxugava no papel, uma coisa assim. Não tinha mata-borrão.
Não tinha quadro também. Existia um quadro pra gente escrever, fazer contas,
cont inhas, um a coisinha pequenininha, a gent e cham ava de pedra, que era um
quadrinho pequeno. E tinha lápis de pedra que riscava esse quadrinho. A pedra
também era preta. Só que o que a gente escrevia saía branco. Era assim.
Vinda para São Paulo
Eu vim para São Paulo porque esses vizinhos que t inham vindo ant es
começaram a voltar contando as grandezas de São Paulo, contando as belezas,
as coisas deslum brant es que aqui exist iam , dinheirão que corria, que se
j unt ava dinheiro com rodo. Eu lia t am bém m uit o de lit erat ura de cordel* , as
belezas das cidades, os príncipes encant ados, o rei. Eu com ecei, na qualidade
m enino sonhador, a sonhar t am bém com a cidade, um a vida diferent e, um a
vida ilum inada, cheia de beleza, de fut ebol. Aí com ecei a criar no m eu coração
o desej o t am bém de crescer para vir para São Paulo. Depois, quando cheguei
aos 15, 16 anos, com ecei a ficar rapaz, precisava sonhar um a vida m elhor,
diferent e. Com o nós não t ínham os recursos, a gent e se m at ava t udo, e não
conseguia nada porque não t ínham os t erras suficient es, não t ínham os
m aquinaria, não t ínham os dinheiro para invest ir, ent ão era difícil. Eu ent endi
que lá em São Paulo a vida seria bem m elhor para m im , e t am bém a vont ade
de est udar e aprender algum a coisa, ser algum a coisa. Ent ão, com esse sonho
foi a razão pela qual eu vim para São Paulo.
A visão na chegada não foi nada boa. Desci no Brás, no Largo da Concórdia.
Est ava fazendo frio, eu não t rouxe roupa de frio, não t rouxe dinheiro, não
t rouxe endereço de ninguém , não vim para a casa de ninguém . Quando desci
só vi casa est ranha, não vej o, não encont ro um só am igo, um a pessoa am iga.
Eu vi que era um a coisa fabulosa, Nossa Senhora! Quando o cam inhão
est ancou ali em Guarulhos, eu vi aquele m undaréu de cidade; eu j á t inha ido a
Salvador, m as São Paulo era aquela coisa que a gent e t inha na cabeça, um
m undo im aginário, um a coisa encant ada, aquela ansiedade para se deparar
com São Paulo. Então, primeira coisa que eu vi em São Paulo.
Naquela noite eu dormi na rua. Com o dinheiro que eu tinha, noventa cruzeiros
no bolso, eu com i um prat o feit o com cinqüent a, fiquei com quarent a. Aí fiquei
pela rua. No out ro dia, aí por m uit a sort e encont rei com um conhecido. Ele m e
levou para a casa dele, aí com eçou a m elhorar, pelo m enos agora j á não
est ava sozinho. E j á não vou ficar na rua. Ele m e deu um a força e t al, e eu fui
aj eit ando a vida. Dificuldade daqui, dali, fui t irar docum ent os, aí eu vinha para
a cidade t irar os docum ent os e eu não conhecia nada. Fui m orar na Vila Maria.
Aí precisava vir at é a cidade t irar o docum ent o, rua Barão de Paranapiacaba,
Praça da Sé, “ eu vou saber onde é isso?” Aí a pessoa lá m e inform ou com o
t om ava ônibus, o pont o final na Sé, m as eu não t inha ninguém para vir
com igo, e t am bém não t inha dinheiro para est ar andando de ônibus pra lá e
pra cá. Naquele t em po exist ia bonde, exist ia um bonde fechado, igual ao
ônibus. Tinha que ent rar, passar pela cat raca e pagar a passagem . E t inha um
out ro ônibus que era abert o. As pessoas viaj avam de pingent e. E t inha um
cobrador que recebia, um cobrador que se cham ava m ot orneiro. Quem
conduzia o bonde era o condut or. Quem cobrava era o m oço que cham ava
m ot orneiro. E ele, conform e ia recebendo, ia bat endo um a sinet a para m arcar
a passagem que ele recebia. É claro que ele não devia m arcar t odas, não era
t ão bobo assim . Bom , só que era abert o e ele vinha lá e com eçava a cobrar de
lá, da part e diant eira do bonde, e vinha vindo. O que é que eu fazia? Para não
pagar a passagem , eu t om ava o bonde longe de onde ele est ava. Pegava e
ficava no pingent e lá na t raseira do bonde. Conform e ele vinha vindo, vinha
vindo, vinha vindo, quando ele ia chegando pert o de m im eu descia... Bom ,
esperava out ro at é chegar na Praça da Sé. Aí pergunt ava aqui, ali, sabia ler, ia
perguntando, perguntava aqui, ali, até chegar onde pretendia.
Formação: Alfabetização de Adultos
Eu j á t inha aquele desej o de est udar. Porque eu queria conhecer, saber das
coisas. Queria ser algum a coisa. Queria fazer o curso de t orneiro m ecânico e
t rabalhar para m im . Eu t rabalhava num a padaria. Trabalhava sábado,
dom ingo, feriado, não t inha t em po para lazer nenhum . Era aquela vida m uit o
cat iva, m uit o sacrificada. E eu queria um a vida m elhor, que eu ganhasse,
mesmo que eu não ganhasse lá muito, mas pelo menos que eu tivesse sábado,
dom ingo livre para poder passear, j ogar bola, nam orar. Aí eu fui fazer o curso
de t orneiro m ecânico no SENAC* . Mas precisava t er o diplom a do grupo. Aí eu
procurei um a escola que eu pudesse fazer o Curso Prim ário para conseguir
diplom a de quart o ano. Aí foi quando encont rei a dona Maria Apparecida
Guim arães, que hoj e é diret ora da escola onde eu t rabalho, Rom ão Puiggari. Aí
contei a minha história. Ela falou: “Você não vai acompanhar a quarta série, eu
vou lhe pôr na t erceira” . Eu falei: “ Preciso fazer a quart a porque eu quero o
diplom a para fazer o curso t orneiro m ecânico” . Ela falou: “ Ent ão eu vou lhe
m at ricular na quart a, se você não acom panhar eu lhe volt o para a t erceira, se
precisar at é para prim eira” . Aí eu ent rei na quart a, acom panhei e foi um a
beleza.
Leituras
Ant es eu lia. Mas não conhecia a pont uação. “ Olha, essa é a vírgula, você t em
que fazer um a pausa; se t iver um pont o de exclam ação, você t em que
exclamar; se tiver uma interrogação, você tem que interrogar”.
Ah... sem pre, sem pre gost ei de ler. Gost ava da lit erat ura de cordel* , rom ance,
polít ica. Um a obra que m e m arcou foi Palavras Cínicas, de Albino Forj az* . Esse
livro me marcou muito. Até hoje não me sai da cabeça.
Era um curso de alfabet ização de adult os. Ficava na rua Maraj ó, no Brás, ali
próxim o da est ação de m et rô, t erm inal Bresser. A dona Guim arães passava
m at éria lá na lousa. A gent e copiava, aí depois ela explicava. Os dit ados, ela ia
dit ando e a gent e ia escrevendo. Tinha t am bém cópias de livros. Quando
aparecia assunt os em j ornais, ela fazia com ent ário, assunt os de j ornais,
acont ecim ent os, um episódio com o o de 11 de set em bro, Est ados Unidos. Aí
ela ia fazer um com ent ário. Na part e da Mat em át ica, ela dava os problem as na
lousa. Depois resolvia. Se a gent e não conseguisse resolver, ela resolvia,
explicava vários caminhos.
Quando chegou o m eio do ano, época de fazer inscrição para o exam e de
adm issão* . Havia necessidade de fazer exam e de adm issão para ent rar no
Ginásio. Quem não t ivesse acabado o quart o ano precisava de um a declaração
para poder fazer a inscrição. Aí eu falei: “ Eu não quero est udar porque est ou
velho. Preciso fazer só a quart a série para fazer o curso de t orneiro m ecânico” .
Aí a dona Guim arães falou: “ Que nada, você é um rapaz j ovem , com essa
int eligência t oda, essa vont ade, cheio de vida, que velho o quê! ” . E os out ros
companheiros começaram também a me incentivar. Aí ela me deu a declaração
que eu est ava t erm inando a quart a série e eu fui naquela escola m esm o onde
eu t rabalho hoj e, Rom ão Puiggari, fiz a inscrição para prest ar exam e de
adm issão. Prest ei e passei, com 9,3 de m édia. Em 1970 com ecei a fazer o
ginásio.
Prédio da Romão
Puiggari, quando
denominava-se
Primeiro Grupo
Escolar do Braz.
Fonte da foto: 3a.
Conferência
Nacional de
Educação: 7 de
Setembro de 1929.
Estado de São
Paulo: Edifícios
Escolares. São
Paulo: Governo do
Estado de São
Paulo, 1929.
Formação: Ginásio
Na Romão Puiggari era um nível de ensino forte. O prédio é aquele mesmo, só
que ele era t odo det eriorado, velho. Agora ele foi reform ado, t á t odo bonit o,
mas naquele tempo era todo velho, todo caindo, todo pichado.
A Rom ão fica num bairro que t em um corredor e m uit as ram ificações. Ent ão
est udavam pessoas de várias localidades, das vilas, um a com unidade
het erogênea. Às vezes a pessoa m ora em Mogi das Cruzes, m as t rabalha aqui.
Ent ão, o que ele faz? Vem t rabalhar e t raz o filho, porque aí j á deixa o filho,
quando sai j á pega o filho e vai em bora para casa. Est udavam pessoas que
moravam nas vilas, em Pinheiros, Cambuci e outros bairros.
Tinha moças e rapazes.
Ginásio: organização, currículo e métodos de ensino
Tinha Port uguês, Mat em át ica, Geografia, Hist ória, Francês, Educação Musical,
Desenho, Desenho Geom ét rico e Prát ica de Com ércio, era isso. O que eu m ais
gost ava era Mat em át ica, quem dava era a professora Leonor, na prim eira e
segunda série. Na t erceira e na quart a série, professor Sílvio de Alvarenga
Galdino. Geralm ent e a dona Leonor era m ais aula m inist rada, agora o
professor Galdino era m ais est udo dirigido. Ele só fazia um esboço, explicava o
pont o, dava as ferram ent as com o se t rabalhar e depois ele form ava grupos e
m andava est udar em grupos. Adot ava livro didát ico de Scipione di Piero Net o,
Mat em át ica na Escola Renovada, e escalava os exercícios que queria que
fizessem . E ele dizia: “ Se aprende Mat em át ica fazendo Mat em át ica. Ninguém
aprende a nadar no seco. Ent ão nada adiant a eu chegar aqui, resolver os
exercícios, e vocês só copiarem . E t em aqueles que nem copiam , esperam o
colega copiar e depois pega o do colega em prest ado para copiar. Não, vocês
vão t er que fazer. Depois nós vam os corrigir. Aqueles que vocês não
conseguirem fazer, aí eu vou resolver para vocês, m as eu quero que façam ” .
Então, exigia que se entregasse o exercício, dava ponto. De vez em quando ele
passava exercício na lousa e falava: “ Quem fizer isso daqui cert o, eu dou m eio
pont o” . Ent ão, se a gent e acert asse, fosse na lousa, explicasse direit inho, ele
dava meio ponto.
Se t rabalhava com livros didát icos, às vezes líam os j ornais, quando apareciam
esses assunt os que t inham a ver com a gent e. Um aluno lia, os out ros
comentavam. Aí ficava ouvindo um e outro, discutia. Era assim.
Formação: Colegial
Eu t erm inei o Ginásio e eu pret endia fazer o Colegial. Mas quando concluí o
Ginásio, em 1970, o senhor Jarbas Passarinho, que era o Ministro da Educação,
baixou um decret o que quem fosse m aior de 15 anos não poderia fazer o
Colégio de Est ado. E quem fosse m aior de 20 anos, não podia t am bém fazer o
Colegial, que era o Segundo Grau* de hoj e, em colégio do Est ado. Aí, eu
procurei um a escola. Falei: “ Já que eu vou t er que pagar, eu vou fazer um
curso profissionalizant e” . Aí eu fui fazer t écnico em cont abilidade. Foi no
Colégio Comercial Barão de Mauá.
Eu gost ava de cont abilidade t am bém . Não est ou exercendo, m as gost o porque
é um a vocação que eu t inha. Naquele t em po, cont ador cham ava guarda- livros.
Fiz o t écnico em cont abilidade e depois t rabalhei em escrit ório de cont abilidade
por um bom tempo.
Trabalhar como Inspetor de Alunos
O t em po passou e eu com ecei a sent ir a necessidade de seguir um a carreira,
t rabalhar num a inst it uição pública, porque os cam pos com eçaram a se
est reit ar. Para as pessoas assim de um a cert a idade com eçou a ficar difícil, aí
eu precisei arrum ar um t rabalho público. Aí falei: “ Trabalhar de inspet or de
alunos é m uit o pouco para m im , eu sonhei com m uit o m ais” . Mas apareceu
esse concurso para I nspet or de Alunos e eu prest ei. Prest ei, passei com um a
cert a facilidade e j á que eu m oro aqui vou t rabalhar no Rom ão, porque foi
onde eu estudei.
Pensei: “ Eu vou sent ir assim um a cert a sensação, um reencont ro. Morei aqui
de 1962 at é 1965, m inha m ocidade foi aqui. Eu vou t rabalhar no Rom ão, é um
reencont ro com o passado. Na m esm a sala onde eu est udei, vou ent rar para
conversar com os alunos e se Deus quiser um dia ainda vou dar aula ali
t am bém na m esm a sala onde eu fui aluno. Tenho que ser professor” . Eu ent rei
no dia 3 de set em bro de 1992. Volt ar foi um a quest ão de honra, quest ão de
emoção.
Eu era I nspet or de Alunos* . Agora eu sou Agent e de Organização Escolar* .
Não t em diferença nenhum a, só o nom e. Nas m inhas at ribuições devo
cont rolar a ent rada dos alunos na escola, t rat ar da disciplina, auxiliar os
professores, auxiliar a adm inist ração onde for possível, prest ar prim eiros
socorros no caso de aluno que se m achuca, acom panhar ao hospit al quando
for o caso. De um a form a geral, é colaborar com a adm inist ração e com a
direção da escola.
Os alunos de hoj e são diferent es dos do m eu t em po. Porque no m eu t em po
eles queriam ver o diabo e não queriam ver o I nspet or de Alunos* , t inham
m edo. Com professor t am bém , professor ent rava na sala de aula, t odo m undo
se levant ava, era o cum prim ent o ao professor. Aí, quando o professor
m andava, t odo m undo sent ava. Se a diret ora ent rasse na escola, m eu Deus! E
hoj e eles não est ão nem aí. São m uit o rebeldes. Não é que eles são rebeldes,
o m undo que nós vivem os é que os faz rebeldes. O pai t rabalha, a m ãe
t rabalha, não t êm t em po para conversar com os filhos, dificuldade daqui, eles
ficam falando o que eles vêem na t elevisão, aquilo eu não via. Eles vêem
crim e, ent ão criança desprovida de ent endim ent o procura im it ar, fazer o que
vê os adult os fazer. Eu digo: “ Eu fiz t udo que vocês fazem , só não fiz um a
dessas coisas de agredir, de brigar, faltar com o respeito”.
Eu desenvolvo um cert o t rabalho que eles sent em saudades de m im . Eles não
t êm m edo de m im . Quando eu chego na escola eles vêm e m e encont ram : “ O
senhor não veio por quê?”
Os professores t am bém m udaram . Às vezes eu fico falando: “ Puxa vida,
quant o valor se dava às professoras de ant igam ent e” . Professor t inha um
valor, at é hoj e em algum as part es do m undo, por exem plo, no Japão, o
im perador só t ira o chapéu para duas classes de pessoas: os est adist as e
diplomatas estrangeiros e para os professores. Então, no tempo que eu estudei
quando você via um a pessoa bem arrum ada, t oda chique, j óias e t udo, dizia:
“ É professora pública” . E a escola pública era escola boa. Quem não
conseguisse, se repet isse dois anos consecut ivos a m esm a série era j ubilado,
não podia m ais est udar em escola pública. Aí t inha que procurar um a escola
onde pudesse est udar. Aí com eçou a aparecer esses cursos de m adureza* , o
suplet ivo de hoj e, t inha um curso de m adureza m uit o fam oso cham ado Sant a
I nês. Ent ão a pessoa que est udava na escola part icular não era vist o com bons
olhos. Ou era m au elem ent o, ou era incom pet ent e, ou t inha dificuldade.
Porque não conseguiu est udar na escola pública. Hoj e é o cont rário. A
part icular é que é a boa, pelo m enos é vist a com o a boa, e a pública é só para
quem não pode, não t em out ro j eit o m esm o. O professor naquele t em po
t rabalhava t odo chique, m esm o que t rabalhasse à noit e, t inha que usar
uniform e, um avent al branco, e os professores t am bém , um avent al escrit o o
nom e e a disciplina. Hoj e os professores vão de qualquer j eit o, ninguém
diferencia quem é professor, quem não é. Quant o à m udança na dedicação,
quanto ao zelo pela profissão, o amor, o comprometimento, não sei.
Escolha Profissional
Quero ser professor na m esm a sala onde fui aluno. Est ou t ent ando, vam os ver
se eu consigo chegar. Quero ser professor porque acho um a coisa sublim e
ensinar. Eu acho que ensinar é sublim e, orient ar é divino e conviver com
alunos é gratificante.
A gent e convive com eles, t em brigas, grit a, orient a, dá conselho. Você
orient ar alguém para o bem preenche o ego, causa aquela sat isfação, com o
causa satisfação quando a gente faz um favor para alguém. A gente vê alguém
num a sit uação difícil, vai lá e am eniza, orient a e resolve. Depois um dia eles
vão embora, vão para outra escola ou vão cuidar da vida e um belo dia a gente
encontra eles na rua, agora homens: “Vamos tomar um café, um pouquinho de
cervej a” . Aquilo ali preenche o ego da gent e. E depois o prazer de ensinar
Mat em át ica, para m im , quando eu est ou em frent e a um a lousa, ensinando
Mat em át ica para alguém , é a m esm a coisa que est ar no céu. Um prazer, um
prazer supremo.
Futuro da Escola
A escola serve para form ar o cidadão. Não sei com palavras próprias, m as se
eu usasse aquela filosofia de Pit ágoras* , diria: “ Quando souberm os educar os
m eninos, não vai ser preciso punir nem cast igar os hom ens...” Só que não sei
se nós est am os t ão em penhados assim , a hum anidade est á t ão em penhada
para educar os m eninos. Os hom ens se preocupam , sim , em criar leis, para
depois punir os hom ens. Mas educar os m eninos, não sei, se eu t ivesse o
poder na mão, o poder absoluto, eu saberia como educar os meninos.
Criaria um a escola onde para o aluno, a criança, fosse um m undo encant ado.
Que ele sent isse feliz em est ar na escola. Um a escola equipada não só de
professor, lousa, giz, lápis, caderno, m as um a escola que t em quase de t udo o
que a criança precisa, que nem só de pão vive o hom em , falou Jesus. Mais do
que out ra palavra, saiu da boca de Deus. Ent ão eu acho que o aluno não vive
só de aula, de grito, de repreensão, de caderno, precisa ter o lazer.
E nas escolas públicas de hoje se encontra pouca coisa em matéria de lazer. Eu
fico às vezes pensando, se eu pudesse assim fazer um negócio, t em que t er
carrossel, balanço, escorregador. Depois do lanche, brincar m esm o, ext ravasar
as energias e volt ar para a aula com a cabeça leve, para poder, nas férias,
sentir saudade da escola.
O j uízo de valor diz com o a vida deve ser e o j uízo de realidade diz com o ela
realm ent e é. I nfelizm ent e, a vida é assim . Enquant o a senhora vê indivíduos
ganhando 2 m ilhões de dólares para j ogar bola e haver além da vida de rei o
endeusam ent o, out ros não podem desenvolver suas capacidades int elect uais
por falt a de algum as m íseras, de alguns m íseros reais. E um professor que
espalha riqueza. O progresso da nação est á na m ão dos professores, a
form ação dos cidadãos, e o professor ganha aí m il reais, quando ganha m il
reais. Um m édico, que salva vidas, ganha dois m il reais. Um engenheiro, um
agrônomo, que enche os pratos da nação de arroz e feijão e outras substâncias
indispensáveis à vida, é doído, isso é doído. Ent ão, eu t rouxe esse
const rangim ent o j á na infância, porque com o eu j á falei, est udei na escolinha
que não era oficial, e com onze anos, quando fui para a escola, em 1964, eu
t ive que fazer o prim eiro ano. Quando eu est udei um ano m eu pai m e t irou da
escola. Com eçava a t rabalhar na roça para aj udar a criar os m ais novos,
porque eu era o m ais velho, o braço direit o dos m eus pais. E eu via, quer
dizer, exist ia a escola oficial, m as num a cidadezinha. E eu via aquelas crianças
lá t udo fardada, uniform izadas, a professora t oda de branco lá, conversando
com eles, cant ando os hinos pát rios, o Hino Nacional, o Hino da Bandeira. Ás
vezes em dias fest ivos, dias cívicos, 7 de set em bro, 21 de abril e assim por
diant e, desfilando pela cidade e t al, e eu ficava pergunt ando: “ Por que é que
eu não t enho isso aí?” Ent ão eu com eçava a m e sent ir que não fazia part e
daquele mundo, aquele mundo ali era outro. E eu não tinha entendimento para
saber por que é que era. Porque os m eus pais, naquele t em po, o que eles
explicavam para a gent e era ist o: que pobre era diferent e do rico. O m undo do
rico era um e o m undo do pobre era out ro. E isso m e causou um cert o
const rangim ent o, depois é que eu vim ent ender o porquê, não é? Agora não
t enho m ais esse const rangim ent o quant o àquilo, m as só depois a gent e
com eça a crescer, com eça a ent ender o porquê é que exist e t udo isso que
separa uns dos out ros, m as que é doído, é. Se a pessoa não t iver um
equilíbrio, por isso que acont ece essas coisas no m undo: t errorism o. Eu não
sou a favor do t errorism o, j am ais, m as é um a form a para a pessoa prot est ar.
As coisas, as inj ust iças sociais que exist em no m undo. Mesm o porque se quem
pagasse por essas coisas fosse realm ent e os culpados, o pior é que quem não
tem nada a ver com o peixe paga o pato.
A m udança do m undo, a civilização de um povo, o progresso de um povo
depende da escola. Um a pessoa deixar de est udar porque falt a, porque não
pode cust ear, o Est ado não dá condições, é pior, na m inha visão, do que se
uma enxurrada carregasse todo o ouro existente no banco da nação.
Cantos e Poemas do depoente
“Meu violão é meu amigo. Nada nos separou.
Hoje eu amarro contigo a saudade que ela deixou.
Fiquei entre a cruz e a espada,
quando ela desesperada obrigou-me a escolher,
e agora meu dilema persiste.
Viver sem ela é tão triste, sem ti não posso viver”.
Na m inha t erra é assim , sabe? Durant e a noit e o povo vai t udo para aquela
casa ali.
“ Mariazinha debruçou- se sobre a j anela” . I sso m e dá um a saudade, sabe?
Lem brança da t erra, com o t odo m undo quando deixa sua t erra querida, seu
berço, por um bom t em po fica sonhando, com igo não foi diferent e. As coisas
que deixou, as raízes, o pé de caj ueiro, a font e onde pegava água, t om ava
banho, o m at o, a capoeira, a florest a, a caat inga onde se caçava passarinho,
armava arapuca, o rio onde tomava banho.
Tudo isso, a escola onde se est udou, as prim eiras nam oradas da escola, não
m e sai da m inha cabeça. Aí um dia eu est ava em casa dorm indo, sonhei,
sonhei t udo aquilo. Acordei, esquent ei o bule de café, peguei o caderno,
com ecei a escrever. Pedi perm issão a Deus, prim eiram ent e, com ecei a
escrever. Começou a vir na cabeça, eu fui escrevendo.
“Santo Deus onipotente... no momento em que o sol ia a terra abandonando”.
Abandonando não, porque o sol não abandona a t erra, o sol ia m orrendo no
horizont e, né? Mas aí a gent e fala que vai abandonando, o sol ia se pondo,
como se fala, né? Então ia morrendo no horizonte: “Parei, fiquei olhando...”
Ent ão, aí com o vocês sabem , cheguei em ocionado no Rom ão Puiggari,
alguma coisa sobre a escola, sobre a fundação da escola.
Formação: Faculdade
Com ecei a fazer esse curso de Mat em át ica, j á int errom pi ele por t rês vezes e
eu não sei se eu vou concluir. Pelo m enos esse sem est re eu vou concluir. O
ano que vem eu não sei o que vai ser, por dificuldade financeira. I sso aí causa
const rangim ent o. A cabeça hum ana, eu com paro a cabeça hum ana a um a
cachoeira, um a queda- d’água, que fica ali aquela energia m ecânica que é
t ransform ada em energia elét rica e que podia gerar t ant a riqueza quant o
progresso. No entanto, se não for construída uma usina ali, começar a rodar as
com port as e t ransform ar aquela energia da água em energia m ecânica,
energia elét rica, vai ficar ali um a energia podre. Acont eceu no Nordest e, j á
pensou? O Nordest e, ant es da const rução de Paulo Afonso, era um a região
m uit o pobre, naquele t em po, ent ão, eu t inha pena, eu t inha dó, ver aquele
povo, aquele povo sofrido. Com t udo que foi const ruído, a barragem , a
cachoeira de Paulo Afonso, o Nordest e com eçou a se desenvolver. Ent ão, hoj e
quem viu o Nordeste há cinqüenta anos atrás, e chega hoje lá, diz: “Não é este
lugar aqui” . Ent ão, com a cabeça acont ece a m esm a coisa. Cheio de cabeças
pensant es, de riqueza int elect ual desperdiçada por falt a de m eios, esse Brasil
est á cheio. O Brasil é t erra de gent e m ais t alent osa do m undo, inclusive t enho
m uit o orgulho de ser brasileiro. Não t em condição de m uit os ficarem com essa
energia perdida por causa de algum as, por falt a de algum as m íseras cent enas
de reais. I sso m e causa um cert o const rangim ent o. Eu encaro a vida do j eit o
que ela é, e não com o deveria ser, quer dizer, o j uízo de valor e o j uízo de
realidade, separo uma coisa da outra.
Glossário
Albino Maria Pereira Forjaz de Sampaio
Nasceu em Lisboa, a 19 de j aneiro de 1884. Com eçou sua carreira lit erária
com o j ornalist a no periódico “ A Luct a” , sob o pat ronat o de Fialho de Alm eida e
Brito Camacho.
Seu percurso lit erário t eve duas fases dist int as: no início, seu est ilo era
aproxim ado ao j ornalism o, incorporando a respost a rápida, o falar da rua, do
subm undo de Lisboa; na segunda fase de sua carreira, procurou legit im ar
essas caract eríst icas com form as arcaicas e coloquialism os de origem erudit a,
que foi encontrar em suas investigações sobre o antigo teatro popular.
O escrit or desenvolveu um a linguagem própria, invent ando inúm eros
neologism os e passando para o papel um a série de vocábulos coloquiais, que
muito contribuíram na construção do humor que os seus escritos patenteavam.
Autor de várias obras, publica Palavras Cínicas em 1905, aos 21 anos de idade.
Palavras Cínicas é um livro com post o por oit o cart as enviadas a um am igo.
Cada cart a const it ui um capít ulo, no qual são abordados vários t em as, desde
os pecados capitais até uma crítica à crença em Deus.
Um a descrença t ot al em relação à vida e à hum anidade perm eia o livro, e não
exist e ali nenhum a frase que enalt eça o ser hum ano; pelo cont rário, a cada
parágrafo o conselho dado pelo autor aos seus leitores é que sejam canalhas.
Com sent enças fort es e palavras agressivas, Forj az avent ura- se a falar sobre
obscuridades da alm a hum ana, t alvez conhecidas por t odos m as ocult as pela
hipocrisia social ou pela falta de consciência.
Esse t alvez sej a um dos m ais odiados livros j á escrit os, j ust am ent e por
apont ar de form a crua e clara, com t odas as palavras, as deform idades do
espírito humano.
Fonte:
• www.geocites.com/hugo_xavier/albino_forjaz_sampaio
Curso de Madureza
Surgiu em 1945, com a “ Cam panha Nacional da Educação de Adult os” , pelo
Governo Federal, preocupada com a população adult a sem escolaridade ou
dela excluída. Eram cursos populares not urnos, que funcionavam nos Grupos
Escolares e regidos por professores t reinados e volunt ários, que at endiam
alunos a part ir dos 16 anos “ Madureza Ginasial” e 19 anos “ Madureza
Colegial” . Em 1969, passaram a ser organizados pelo sist em a est adual, que
realizava exames duas vezes no decorrer do ano.
Devido ao crescim ent o da dem anda por cursos de prim eira à quart a série, a
Secret aria de Educação do Est ado de São Paulo criou o serviço de Educação
Suplet iva, subordinado à Divisão de Orient ação Técnica do Depart am ent o de
Ensino Básico, que t inha um a Equipe Técnica encarregada da planificação,
coodernação e supervisão dos exam es unificados. Post eriorm ent e, em 1976,
foi criado o Serviço de Ensino Suplet ivo e o Serviço de Exam es Suplet ivos. O
prim eiro com a finalidade de orient ar cursos suplet ivos, ficou ligado à
Coordenadoria de Est udos e Norm as Pedagógicas ( CENP) da SEE, e o segundo,
responsável pela organização de exam es suplet ivos de educação geral e
profissionalizante, ficou ligado ao Departamento de Recursos Humanos (DRHU)
da mesma Secretária.
Fontes:
•
•
•
Conselho Estadual de Educação
www.life.fae.unicamp.br
Exame de Madureza: Relátorio 1969 – 1970. Brasília: MEC, 1970
Exame de admissão
Os exam es de adm issão, dest inado a t est ar se o aluno est ava apt o a passar
para o próxim o nível, eram largam ent e em pregados na época em que o ensino
fundam ent al de 1 ª a 8 ª série era dividido em prim ário ( 1 ª a 4 ª ) e ginásio ( 5 ª a
8 ª ) . Era aplicado ao aluno que havia concluído a 4 ª série prim ária, a fim de
verificar se estava apto a prosseguir na 5ª série, ou primeira do ginásio.
Fonte:
•
AZANHA, José Mário Pires. Educação:
Companhia Editora Nacional, 1987.
alguns
escrit os.
São
Paulo,
Farinhada
Processo m anual de produção da farinha, que ut ilizava predom inant em ent e a
mão-de-obra familiar, incluindo o trabalho infantil.
As fam ílias se reuniam na “ casa da farinha” e, enquant o realizavam o t rabalho,
conversavam , brincavam e cant avam , a fim de t orná- lo m enos cansat ivo,
transformando essa prática numa espécie de confraternização.
Vínculos de am izade eram criados, surgiam nam oros, noivados e casam ent os,
j á que esse era o único m om ent o em que os pais deixavam as m oças se
aproxim arem dos rapazes sem a cost um eira vigilância. Além de ser um
cont ext o de t rabalho, a farinhada era um a ocasião em que as fam ílias
envolvidas no processo de fabricação da farinha se socializavam.
A m ecanização da produção alt erou essas prát icas t radicionais, afast ando as
fam ílias desse t ipo de t rabalho e m inando esse rit o de confrat ernização dos
grupos rurais.
Fontes:
•
•
Michaelis: m oderno dicionário da língua port uguesa. São Paulo,
Melhoramentos, 1998.
http://www.seol.com.br/caico/farinha.htm
–
Farinhada:
Tem po
de
Trabalho, Tem po de Diversão. I n: Seridó Ant igo: Hist ória e Cot idiano –
Casas de Farinha: Persistência de uma tradição?
Inspetor de alunos ou Agente de Organização Escolar
Funcionário que at ua com o auxiliar de disciplina nas escolas, m ant endo a
organização nas dependências da inst it uição. At ualm ent e, na rede oficial de
ensino do Est ado de São Paulo, esse cargo é denom inado de Agent e de
Organização Escolar.
Fontes:
•
•
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva, 2001.
VI LLELA, Heloisa de O. S. “ O m est re- escola e a professora” . I n: 500 Anos
de Educação no Brasil. Belo Horizonte, Autêntica, 2000.
Literatura de Cordel
Rom anceiro popular, com post o na m aioria das vezes em versos, esse t ipo de
lit erat ura é im presso em folhet os freqüent em ent e ilust rados com xilogravuras.
Tom ando com o t em a um a grande variedade de assunt os, a lit erat ura de cordel
era originalm ent e guardada e t ransm it ida oralm ent e por cant adores,
acom panhada de cant o e m úsica inst rum ent al, e em linguagem popular. O seu
am bient e m ais fort e é o Nordest e brasileiro, em bora a m igração dos
nordestinos tenha produzido a difusão do cordel para outras partes do Brasil.
A lit erat ura de cordel é assim cham ada por causa da form a com o são vendidos
os folhet os, pendurados em fios de algodão ( os cham ados cordéis) , nas feiras,
m ercados, praças e bancas de j ornal, principalm ent e nas cidades do int erior e
nos subúrbios das grandes cidades. Essa denom inação foi dada pelos
int elect uais e é com o esse gênero aparece em alguns dicionários. O povo, no
ent ant o, a quem esses t ext os são dirigidos, refere- se à lit erat ura de cordel
apenas como folheto.
Essa lit erat ura não exist e apenas no Brasil m as t am bém na I t ália, Espanha,
México e Port ugal. Na Espanha, é cham ada de pliego de cordel e pliegos
sueltos ( folhas solt as) . A t radição dessas publicações populares rem ont a à
Europa do século XVI I I . Nessa época, difundiu- se ent re os port ugueses a
expressão literatura de cego, por causa da lei prom ulgada por Dom João V, em
1789, que perm it ia à I rm andade dos Hom ens Cegos de Lisboa negociar com
esse tipo de publicação.
A lit erat ura de cordel foi int roduzida no Brasil pelos port ugueses. No início,
m uit os aut ores desses folhet os eram t am bém cant adores, que im provisavam
versos, viaj ando pelas fazendas, vilarej os e cidades pequenas do sert ão. Com
a criação de im prensas part iculares em casas e barracas de poet as, m udou o
sist em a de divulgação: o aut or do folhet o podia ficar num m esm o lugar a
m aior part e do t em po, porque suas obras eram vendidas por folhet eiros ou
revendedores empregados por ele.
Não há lim it e na escolha dos t em as para a criação de um folhet o, que pode
narrar feit os de personagens regionais, hist órias de am or ou acont ecim ent os
importantes de interesse público.
Segundo Ariano Suassuna, a lit erat ura popular em versos do Nordest e
brasileiro pode ser dividida em cinco ciclos, conform e a t em át ica: o heróico, o
maravilhoso, o religioso ou moral, o satírico e o histórico.
Durant e m uit os anos, a lit erat ura de cordel foi a principal form a de veiculação
de inform ações no Nordest e brasileiro. A m ort e de Get úlio Vargas, por
exemplo, vendeu 70.000 folhetos em quarenta e oito horas.
Hoj e, os folhet os podem ser encont rados em alguns m ercados públicos, com o
o Mercado de São José, no Recife; em feiras, com o a de Caruaru; e em sebos
de livros usados. Há um a coleção de folhet os de cordel, disponível para
consulta, no acervo da Biblioteca Central Blanche Knopf e no Museu do Homem
do Nordeste, da Fundação Joaquim Nabuco.
Fontes:
•
•
•
www.fundaj.gov.br (Fundação Joaquim Nabuco)
Larousse Cult ural – Brasil Tem át ico ( verbet e: cordel. I n: Art e, Cult ura e
Educação). São Paulo, Nova Cultural,1995.
Enciclopédia de Lit erat ura Brasileira – vol. 1 ( verbet e: cordel) . Rio de
Janeiro, Minist ério da Educação: Fundação de Assist ência ao Est udant e,
1990.
Luís Gonzaga
Luís Gonzaga do Nascim ent o, cant or, com posit or e inst rum ent ist a
pernam bucano, nasceu em 13 de dezem bro de 1912 e faleceu em 2 de agost o
de 1989. Filho de um lavrador e sanfoneiro, adquiriu o gost o pela m úsica
ouvindo seu pai tocar em feiras e festas religiosas, e foi também com o pai que
aprendeu a tocar.
Serviu o exércit o durant e a Revolução de 30, e foi at ravés dele que chegou ao
Rio de Janeiro em 1939, onde iniciou sua vida art íst ica, t ocando em bares,
cabarés, fest as e at é m esm o na rua. Part icipou do concurso de calouros do
program a de rádio de Ary Barroso, em 1941, t ornou- se conhecido, e foi
contratado pela Rádio Nacional.
Grande com posit or popular, foi o m aior responsável pela divulgação da m úsica
nordest ina em t odo o país. Ao perceber nos m igrant es nordest inos a carência
de cont at o com sua própria cult ura, passa a com por m úsicas com a t em át ica
sert anej a, com o seus grandes sucessos “ Asa Branca” , “ Xot e das Meninas” ,
“ Cint ura Fina” , “ ABC do Sert ão” , ent re t ant os out ros. Ficou conhecido com o o
“ rei do baião” , por t er sido o invent or e o m aior represent ant e desse est ilo
musical.
Fontes:
•
•
•
www.na-cp.rnp.br/~Murgel/MPBNet
www.cliquemusic.com.br
Enciclopédia da Música Brasileira: Popular, Erudit a e Folclórica ( verbet e:
Gonzaga, Luís). São Paulo, Publifolha, 1998.
Pitágoras
Filósofo e m at em át ico grego, t eria nascido na I lha de Sam os, na Ásia Menor,
durant e o século VI a.C., e m orrido em 504 a.C. Filho de ricos com erciant es,
deixou sua região nat al m ovido por aversão ao sist em a polít ico vigent e, a
t irania, e por volt a de 530 a.C. fixou- se em Crot ona, cidade da Magna Grécia,
onde fundou um a com unidade religiosa de inclinação arist ocrát ica baseada na
aut odisciplina, no silêncio e na observância de prát icas com o a proibição de
ingerir carne e sem ent es. Ensinou a dout rina da m et em psicose ou ciclo da
reencarnação, supondo a lembrança de vidas anteriores, e foi, juntamente com
seus partidários, alvo de perseguições.
Devem - se a Pit ágoras descobert as nos cam pos da Arit m ét ica, da Geom et ria e
da Ast ronom ia, a t ábua de m ult iplicação e o t eorem a que leva seu nom e.
At ribui- se t am bém a esse filósofo a descobert a da base acúst ica e das
proporções num éricas que suport am a escala m usical e que deram início à
int erpret ação arit m ét ica da nat ureza. Esses experim ent os inspiraram a
concepção de que todo o cosmo pode ser explicado através dos números.
Fontes:
•
•
•
Enciclopédia Didática de Informação e Pesquisa Educacional.
Dicionário Oxford de Filosofia.
Enciclopédia Mirador Internacional.
Segundo Grau / Ensino Médio
Et apa final da educação básica, com duração m ínim a de t rês anos, t em com o
finalidade consolidar e aprofundar os conhecim ent os adquiridos no ensino
fundam ent al, possibilit ando a cont inuidade dos est udos. Trat a- se da
preparação básica para o t rabalho e a cidadania, aprim orando o indivíduo pela
form ação ét ica e desenvolvim ent o da aut onom ia int elect ual. Além disso,
enfat iza a com preensão dos fundam ent os cient íficos e t ecnológicos dos
processos produt ivos, devendo relacionar a t eoria com a prát ica no ensino de
cada disciplina.
Fonte:
•
http://meu.brtree.com.br/~pedagogiadedestaq.html
SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial)
Na década de 1940, a econom ia brasileira passou por um a grande crise,
decorrent e das sérias rest rições im post as pela econom ia de guerra durant e a
Segunda Guerra Mundial. Uma nova fase de expansão da indústria, baseada na
subst it uição das im port ações, exigia que algum as m edidas fossem t om adas
quanto à preparação da mão-de-obra industrial.
As Leis Orgânicas do Ensino Técnico, aprovadas em 1942, criaram o SENAI
(Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), em convênio com as indústrias,
no int uit o de que esse órgão prom ovesse a form ação rápida e prát ica do
operariado, atendendo às exigências dos industriais.
Quat ro anos m ais t arde, em 10 de j aneiro de 1946, o governo, em parceria
com a Confederação Nacional do Com ércio, cria o SENAC, t am bém com o
objetivo de oferecer educação profissionalizante à população, porém voltada ao
set or de com ércio e serviços. O SENAC é um a inst it uição privada e sem fins
lucrat ivos, m ant ida e adm inist rada pela Confederação Nacional do Com ércio.
Possui unidades em t odo o t errit ório nacional e oferece um a grande variedade
de cursos profissionalizantes.
Fontes:
•
•
•
•
•
www.senac.br
www.cnc.com.br
www.crmariocovas.sp.gov.br/exp_a.php?t=004
CD-ROM “Memória em Multimídia”, do SENAC de São Paulo
ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da educação no Brasil (19301973). Petrópolis, Vozes, 1984.
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ananias pereira de sousa - CRE Mario Covas