O GRUPO DE ANÁLISE NARRATIVA: COMPREENSÕES POSSÍVEIS PARA SUA CONSTITUIÇÃO ISAIA, Silvia Maria de Aguiar1 - UFSM/UNIFRA FOLETTO, Denize da Silveira2 - UFSM Grupo de Trabalho - Formação de Professores e Profissionalização Docente Agência Financiadora: CNPq Resumo O contexto deste artigo é uma pesquisa intitulada “Os movimentos da docência superior: especificidades nas diferentes áreas de conhecimento e sua influência na atuação docente”, aprovada pelo CNPq, chamada PQ-2012, voltada para o desenvolvimento profissional docente e que investiga a relação entre as áreas do conhecimento e o que denominamos de movimentos da docência superior (MDS). A temática da investigação a qual este texto se debruça é a construção de um novo aporte metodológico para a análise das narrativas das entrevistas com sessenta professores de diferentes áreas do conhecimento. O caminho escolhido para a análise e interpretação dos achados abarca o corpo de pesquisadores do Grupo de Pesquisa Trajetórias de Formação (GTFORMA). Para tanto, emergiu a necessidade em construir fundamentos metodológicos a partir de teóricos da área que subsidiem tal proposição (KURT LEWIN, 1965; PICHON-RIVIÈRE, 1994; GASKELL; BAUER, 2004; OLIVEIRA; FREITAS, 1998; MORGAN, 1988; KRUEGER, 1994). No presente texto, nossa preocupação incidiu em explicitar como aprofundamos nossos conhecimentos acerca do grupal, com o intuito de construir de forma compartilhada um novo aporte metodológico, partindo do estudo de algumas dimensões conceituais e metodológicas que consideramos fundamentais para se levar a efeito o trabalho de pesquisa. A partir do estudo dos autores mencionados, compreendemos que grupos se compõem por pessoas integradas que partilham de um objetivo em comum, que se relacionam entre si e tentam motivar. Além desse objetivo grupal, cada sujeito possui suas individualidades, o que estimula a ação grupal. Assim, ao tentarmos construir teórica e metodológica para a análise coletiva das narrativas de pesquisa, chegamos ao Grupo de Análise Narrativa, que irá se utilizar dos quadros de análise com os recortes das narrativas para a emergência de categorias que responderão sobre a influência do conhecimento específico na pedagogia universitária, constituindo o que denominamos de análise narrativa grupal. 1 Doutora em Educação: Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSM. Professora adjunta do Centro Universitário Franciscano - UNIFRA. Pesquisadora Produtividade em Pesquisa CNPq. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Trajetórias de Formação (GTFORMA). E-mail: [email protected] 2 Mestre em Educação pela UFSM. Professora da Rede Pública Estadual. Membro do Grupo de Pesquisa Trajetórias de Formação (GTFORMA). E-mail: [email protected] 10837 Palavras-chave: Desenvolvimento Profissional Docente. Docência Superior. Grupo de Análise Discursiva. Análise grupal narrativa. Introdução O contexto deste artigo é a pesquisa Os movimentos da docência superior: especificidades nas diferentes áreas do conhecimento e sua influência na atuação docente3, e consequentemente, voltada para o desenvolvimento profissional docente. A referida pesquisa pretende investigar se as áreas específicas de conhecimento dos professores de uma IES pública podem influir nos movimentos da docência universitária. Quando falamos em áreas específicas de conhecimento é importante sinalizar que estamos considerando também os saberes acadêmicos delas decorrentes, que são trabalhados no processo da docência. Estes são entendidos de acordo com Gamboa (2009) como produtos que não exigem sua relação imediata com o processo pergunta/resposta, inerente ao conhecimento científico. Na investigação anterior4 iniciamos o estudo das repercussões destes movimentos em relação às áreas específicas de conhecimento. Avançando na investigação, nos propomos a determinar quais as especificidades destes movimentos e sua influência no modo como os professores atuam na docência superior. Acreditamos que a compreensão dos movimentos da docência superior tendo em conta as especificidades das áreas de conhecimento, representará avanço necessário à pedagogia universitária, uma vez que possibilitará identificar a influência do conhecimento específico na atuação do professor. A temática da investigação a qual este texto se debruça é a construção de um novo aporte metodológico para a análise das narrativas das entrevistas com 60 professores de diferentes áreas de conhecimento, sujeitos da investigação. Além da originalidade da proposta na construção de aportes teóricos para a pedagogia universitária, a pesquisa impõe o desafio da constituição de um novo olhar sobre as narrativas dos participantes do estudo. O caminho escolhido para a análise e interpretação dos achados abarca o corpo de pesquisadores do GTFORMA5. Para tanto, emerge a necessidade em 3 Projeto de Pesquisa aprovado pelo CNPq. 2012-2015. Projeto de Pesquisa aprovado pelo CNPq. 2010- 2012. 5 O Grupo de Pesquisa Trajetórias de Formação - CNPq decorre de uma preocupação comum voltada para trajetórias formativas (pessoais e profissionais) percorridas por docentes universitários, desdobrando-se em duas linhas de pesquisa: Desenvolvimento Profissional e Redes de Conhecimento. 4 10838 construir fundamentos metodológicos a partir de teóricos da área que subsidiem tal proposição. O GTFORMA é um grupo de pesquisa formado por professores doutores, professores mestres, bolsistas de iniciação científica e de apoio técnico, envolvendo, a partir de uma dinâmica interativa em termos afetivos e intelectuais, o que denominamos de geração pedagógica6. A coluna dorsal do grupo é formada por atividades de investigação e de formação no cenário da pós-graduação de uma universidade pública. No atual momento está engajado em pensar, aprender e interpretar para cunhar uma metodologia que ampare a investigação em curso. No presente texto, nossa preocupação incidirá em explicitar como aprofundamos nossos conhecimentos acerca do grupal, com o intuito de construir de forma compartilhada um novo aporte metodológico, partindo do estudo de algumas dimensões conceituais e metodológicas que consideramos fundamentais para se levar a efeito o trabalho de pesquisa. Sendo assim, partimos para o estudo de alguns autores, (KURT LEWIN, 1965; PICHON-RIVIÈRE, 1994; GASKELL; BAUER, 2004; OLIVEIRA; FREITAS, 1998; MORGAN, 1988; e KRUEGER, 1994) aos quais consideramos próximos para o preparo prévio à execução da construção de uma nova metodologia que vai embasar a análise das entrevistas dos sessenta professores já entrevistados. A ideia é conhecer e discutir diferentes conceitos que os autores nos trazem, na dimensão de grupo, para assim esboçar uma trama teórica que fundamente a abordagem a ser adotada para a análise interpretativa das entrevistas. Para tanto, este texto se organiza a partir da discussão dos teóricos elencados pelo GTFORMA como possibilidade de contribuição para o caminho a ser percorrido. Também apresenta as reflexões realizadas a partir dos estudos alcançados, tendo como cerne o trabalho grupal. O Grupo de Análise Narrativa – a (re)emergência de um aporte metodológico de investigação qualitativa Iniciando esta conversa, podemos dizer que muito se tem escrito sobre grupos, ou seja, suas vantagens e desvantagens, a seleção dos participantes, a função do moderador dentre 6 Constitui-se no contexto da educação superior, compreendendo uma multiplicidade de gerações pedagógicas que não só se sucedem, mas se entrelaçam em um mesmo percurso histórico, possuindo, contudo, modos diferenciados de participação, interação e compreensão na trajetória formativa a ser empreendida pelos no caso um grupo de pesquisa. 10839 outros. Assim, essas discussões trazem a necessidade de revisões conceituais aprofundadas que nos situem quanto às abordagens grupais e as técnicas utilizadas por autores considerados precursores da dinâmica grupal entremeados com autores contemporâneos que abordam em suas pesquisas técnicas grupais. Dentre esses se destacam a Teoria de Campo de Kurt Lewin (1965; 1948); o Grupo Operativo de Pichon-Rivière (1994); e o Grupo Focal (abordado a partir de Bauer e Gaskell, 2002; Oliveira e Freitas, 1998; Morgan, 1988; e Krueger, 1994). Acreditamos que o estudo e a compreensão da vida em grupo perpassa por Kurt Lewin, psicólogo que nasceu na Prússia, e quando professor universitário nos Estados Unidos, constituiu-se como precursor do estudo com grupos. Kurt Lewin foi fundador e diretor do centro de pesquisa para dinâmica de grupo. As principais contribuições dele foram a criação da teoria de campo e da pesquisa-ação. Essa por justamente juntar a pesquisa e fazer a relação com o grupo. Assim, preferiu trabalhar a pesquisa em grupos menores, pois quanto menos pessoas mais informações se obtinha. O estudo dos pequenos grupos constituiu para Lewin uma opção estratégica que permitiria, em um futuro ainda imprevisível, esclarecer e tornar inteligível a psicologia dos macros fenômenos sociais (MAILHIOT, 1977). Os estudos de Lewin sobre grupos destacam os “campos de força” que vão se estabelecendo. Esses campos de forças são instituídos pela própria vida em grupo, ou seja, é constituído pelo próprio grupo, pelo mundo interno da pessoa, tendo em conta o meio no qual está inserida. Um influencia a outra, ou seja, tanto as forças internas do indivíduo influenciam o grupo como o grupo influencia nas forças internas do indivíduo. Para Lewin, o grupo é “um campo de forças, cuja dinâmica resulta da interação dos componentes em um campo (ou espaço) psicossocial. O grupo não é uma somatória de indivíduos e, portanto, não é o resultado apenas das psicologias individuais e, sim, um conjunto de relações, em constante movimento” (AFONSO, 2006, p. 11). Para o autor, a formação de grupo é fundamentada na ideia de consenso nas relações interpessoais, concordando que os objetivos, a totalidade de grupo, o consenso e a concordância, não são questões individuais. Para ele o grupo não se analisa a partir da visão de uma pessoa, e sim do grupo como um todo. O grupo para Lewin é campo de força, que resulta na interação dos sujeitos. Esta inter-relação é de ordem psicossocial, confirmando assim que não se trata de uma questão individual e sim, de relações entre as pessoas. Não é uma somatória de indivíduos, mas sim um conjunto de constantes mudanças. O estado de vida é o que de principal o autor traz, pois quando se fala em grupo, é o estado de vida do grupo como um todo, e isso tudo acontece através da inter-relação com os indivíduos. 10840 A partir das contribuições de Lewin considera-se que a proposta do GTFORMA aponta para convergências com o autor na medida em que no grupo coexistem forças de tensão estabelecidas pelas constantes e distintas interpretações oriundas do espaço de vida de cada membro no mundo grupal. O campo de forças constitui-se das inter-relações dos espaços de vida psicológico do grupo ao pensar, comunicar e criar coletivamente, objetivo maior que atrai e mantém os membros no grupo. Lewin (1948) contribui, dizendo que existem forças de coesão e de dispersão presentes nos grupos; forças essas que podem, dependendo de sua intensidade, atrair ou impelir os elementos para o grupo ou até mesmo afastar, repelir. A exemplo do exposto, o autor coloca, como elementos atrativos ao grupo, os próprios integrantes, os objetivos a que o grupo se propõe ou simplesmente a preferência pela solidão. Assim, as forças que afetam e afastam os participantes do grupo são as mesmas quando adquirem aspectos negativos ou quando há perda de sentido de seus objetivos para os participantes. O autor afirma que as forças positivas precisam ser mais intensas para que o grupo se sustente, desenvolva-se e expresse as necessidades e satisfações individuais do espaço de vida de cada um. O espaço vital psicológico ou espaço de vida do indivíduo é um conceito criado por Kurt Lewin, e é definido como “a totalidade de fatos que determinam o comportamento de um indivíduo num certo momento” (LEWIN, 1965, p. 28). Em outras palavras, é um espaço onde se constrói com o que se tem e o que se sabe, ou seja, temos um espaço de vida que está todo inter-relacionado e essa relação mútua acontece a partir do grupo em que estamos. Nesses espaços há também as forças internas, uma vez que todos no grupo carregam suas histórias de vida, suas vivências e seus pressupostos. Contudo, acreditamos que é a partir dos distintos olhares e dos diferentes espaços vitais que o grupo emerge como grupo. Trata-se de um processo que envolve a mudança de conhecimento, crenças, valores e padrões, de ligação cognitiva e emocional, interdependentes, que envolvem a mudança de conduta cotidiana que não ocorre aos poucos, mas na dimensão de um projeto de vida irrestrito da pessoa (LEWIN, 1948). Nessa abordagem, Lewin afirma que há certa interdependência, pois o espaço de vida inclui todos os fatos que têm existência para o grupo e para a pessoa e que nessa fase mesclam-se o que já existia e o que surge de novo, como preconiza o desenvolvimento do trabalho do GTFORMA. 10841 Kurt Lewin aborda ainda a questão topológica que é considerada um marco em suas obras. A topologia é um conceito oriundo da área da geografia, que situa de acordo de como a pessoa se encontra no ambiente, considerando o psicológico da pessoa. É sempre focado na ideia de que o grupo muda na pessoa e o que a pessoa muda no grupo. Reportando para o GTFORMA, podemos salientar que a integração do grupo acontece com a afetividade, com a comunicação aberta que existe, mantendo-os nesse espaço. Lewin (1948) menciona ainda que toda ação do ser humano possui uma atmosfera específica e por esta é determinada, ou seja, a tenacidade das ações e a clareza das atitudes humanas dependem em grande medida da constância desse “terreno”. Assim, circunstâncias em que emergem múltiplas percepções, críticas, julgamentos, incompreensão e conflitos, como é a ocorrência dos grupos, tornam-se impossíveis na ausência de atmosfera capaz de estabelecer o sentido de cada fato. Quer dizer, o sentido dos fatos depende diretamente da natureza da ambiência que o gerou. Acreditamos que essa atmosfera do grupo determina o sentimento que temos e como nos sentimos no grupo, ou seja, um sentimento de pertencimento, em que o grupo necessita criar um espaço inter-relacional em que as forças de coesão devem ser maiores do que as forças de dispersão. Para Lewin, o grupo é para o indivíduo um instrumento que ele utiliza consciente ou inconscientemente para satisfação de necessidades psíquicas ou aspirações sociais. Nesse sentido, o autor em estudo, aproxima-se da proposta do GTFORMA enquanto grupo uma vez que o mesmo já possui vínculos e afetos que determinam sua dinâmica de funcionamento, tendo o espaço individual de cada membro reconhecido e acolhido no coletivo. Assim, cada integrante obtém seu lugar, participando dos trabalhos de acordo com seu momento e sua história. Em linha convergente a Kurt Lewin, Pichon-Rivière também estudou a dinâmica de grupos. Enrique Pichon- Rivière (1994), médico psiquiatra, sistematizou a dinâmica de grupos operativos, em meados de 1940. Para Pichon-Rivière (1994) “o grupo operativo é constituído de pessoas reunidas com um objetivo comum, chamado de "grupo centrado na tarefa” que tem por finalidade aprender a pensar em termos de resolução das dificuldades criadas e manifestadas no campo grupal". O pensamento do autor nos faz refletir qual é a nossa aprendizagem como grupo. Grupos Operativos fazem trocas intersubjetivas e interpessoais à medida que vão se 10842 envolvendo em determinada tarefa. Para o Grupo de Pesquisa Trajetórias de Formação, um grupo visando uma mudança, é um grupo mais aberto e que funciona de acordo com o seu tempo. O autor desenvolve toda uma teoria em que explicita sua forma de pensar no sujeito, na sua "relação objeto" e no grupo, tendo como base a estrutura vincular modelando a sua intervenção em grupo, atribuindo à técnica um caráter dinâmico e interdisciplinar, empregado na educação (grupos de ensino) e na terapia (grupoterapia). A psicologia social de Pichon-Rivière está voltada ao estudo do homem como um ser social, que se relaciona com o outro em grupo. Visualiza o homem com necessidades internas que mobilizam ações diante do mundo externo, dando-se um interjogo dialético entre mundo interno/externo. Para compreensão da técnica elaborada por Pichon-Rivière, denominada grupo operativo, faz-se necessário comentar sobre o ECRO – Esquema Conceitual, Referencial e Operativo, definido "como um conjunto organizado de conceitos gerais, teóricos, referentes a um setor real, a um determinado universo de discurso, que permite uma aproximação instrumental do objeto particular (conceito)". Por meio do ECRO há a apreensão da realidade que se propõe estudar (LEMA, 1997). Segundo Bernstein (1989, p. 108-132), Os níveis articulares no grupo relacionados à inserção da pessoa são: verticalidade referente à vida pessoal de cada membro e horizontalidade que é a história grupal, compartilhada entre os integrantes, que surge com base na existência do grupo até o momento presente. Estes níveis representam as histórias do indivíduo e do grupo que se fundem, conjugando o papel a ser desempenhado. As características peculiares da técnica são: a) o grupo centrado na tarefa. A mobilização dos elementos do grupo em direção ao objetivo contratado, mediante a clareza do porquê, para que se reunirem e interagirem. b) porta-voz, bode expiatório, líder e sabotador: papéis a serem aclarados. O grupo operativo estrutura-se no interjogo de assunção e atribuição de papéis que são funcionais e rotativos. c) coordenador e observador: uma visão pichoniana. Estes papéis têm função assimétrica em relação aos elementos que compõem o grupo, e interliga-se na análise do trabalho grupal. d) os vetores que constituem a escala de avaliação do processo grupal: seus indicadores. Permite analisar a relação entre conteúdos explícitos e implícitos do grupo, no decorrer de seu desenvolvimento, representados por um cone invertido. 10843 Quando o grupo aprende a problematizar as dificuldades que emergem, entra em tarefa, pois a elaboração de um projeto em comum já é possível e este grupo passa a operar um projeto de mudanças. No caso do GTFORMA, o mesmo está centrado na tarefa de analisar as entrevistas dos sessenta professores entrevistados. O grupo apresenta esse objetivo comum que terá a incumbência de descobrir que categorias serão utilizadas a partir das análises dos resultados. O autor criou a técnica a partir dos aportes teóricos psicanalíticos de Melanie Klein e da dinâmica de grupos de Kurt Lewin. Para ele, o objeto de formação do profissional necessita instrumentar o sujeito para uma prática de transformação de si, dos outros e do contexto em que estão inseridos. Assim, o objetivo do Grupo Operativo é promover um processo de aprendizagem, mobilizando uma mudança. Nesse contexto, os estudos do autor contribuem significativamente para o GTFORMA, pois aprender em grupo significa realizar uma leitura crítica da realidade, uma atitude investigadora, uma abertura para as dúvidas e para as inquietações. Dessa forma, fica claro que para haver aprendizagem, é necessário haver mudança. A discussão da abordagem grupal tem continuidade em nossos estudos a partir de Bauer e Gaskell, 2002; Oliveira e Freitas, 1998; Morgan, 1988; e Krueger, 1994 sobre Grupos Focais. O grupo focal teve sua origem nas ciências sociais em meados de 1941. Hoje, é amplamente utilizado na área de marketing e também tem crescido em popularidade em outros campos de ação. Dentro da ciência social, foi Robert Merton quem publicou o primeiro trabalho utilizando o Grupo Focal. Paul Lazarsfeld e outros, mais tarde, introduziram essa técnica também na área de marketing (MORGAN, 1988). De acordo com Oliveira e Freitas (1998, p. 83), O Focus Group é um tipo de entrevista em profundidade realizada em grupo, cujas reuniões apresentam características definidas quanto à proposta, tamanho, composição e procedimentos de condução. O foco ou o objetivo de análise é a interação dentro do grupo. Os participantes influenciam uns aos outros pelas respostas às idéias e colocações durante a discussão, estimulados por comentários ou questões fornecidos pelo moderador (pesquisador ou outra pessoa). Os dados fundamentais produzidos por essa técnica são transcritos das discussões do grupo, acrescidos das anotações e reflexões do moderador e de outro(s) observador(es), caso exista(m). 10844 As características gerais do Focus Group são o envolvimento de pessoas, as reuniões em série, a homogeneidade dos participantes quanto aos aspectos de interesse da pesquisa, a geração de dados, a natureza qualitativa e a discussão focada em um tópico que é determinado pelo propósito da pesquisa (KRUEGER, 1994). Ainda segundo Oliveira e Freitas (ibid), a principal característica do Grupo Focal é a interação entre os participantes da pesquisa. É uma metodologia que mantêm interações e objetiva obter informações, sentimentos, experiências, representações de pequenos grupos acerca de um determinado tema. Nesse sentido, a técnica do grupo focal colabora com o GTFORMA no momento em que pode propiciar momentos de profunda reflexão, possibilitando reviver situações acadêmicas e profissionais. A técnica é rica como instrumento para melhorar as relações interpessoais, vindo ao encontro da pesquisa qualitativa quando essa trabalha com o universo dos significados e das atitudes, correspondendo a um espaço mais profundo das relações. Oliveira e Freitas (ibid), enfatizam que o Grupo Focal é recomendado para orientar e dar referencial à investigação ou à ação em novos campos, gerar hipóteses baseadas na percepção dos informantes, avaliar diferentes situações de pesquisa ou populações de estudo, desenvolver planos de entrevistas e questionários, fornecer interpretações dos resultados dos participantes a partir de estudos iniciais, e gerar informações adicionais a um estudo em larga escala. Contudo, existem algumas situações em que o seu uso como método de pesquisa não é recomendável: por exemplo, quando o assunto é constrangedor para os participantes; quando o pesquisador não tem controle sobre quais são os aspectos críticos do estudo; quando são necessárias projeções estatísticas; quando outro método pode produzir resultados com melhor qualidade ou mais economicamente; ou quando o pesquisador não pode garantir a confidencialidade da informação. Os autores supracitados dizem ainda, que o uso do Focus Group é particularmente apropriado quando o objetivo é explicar como as pessoas consideram uma experiência ou uma ideia, visto que a discussão durante as reuniões é efetiva em fornecer informações sobre o que as pessoas pensam ou sentem ou, ainda, sobre a forma como agem. Trazendo para o GTFORMA, podemos dizer que o Grupo Focal se aproxima neste sentido, pois a grande maioria dos integrantes tem interesse e conhecimento no tema a ser discutido. Isso propicia riqueza na troca de informações e facilidade nas interações e relações. Assim, o Grupo Focal é um método de pesquisa qualitativa, que tem no moderador um guia que conduz grupos de discussões com diferentes temas a fim de compreender a visão dos 10845 entrevistados. Os grupos a serem utilizados são formados por pessoas com características semelhantes que, ao longo da entrevista, são incentivados a discutir a partir de temas escolhidos pelo entrevistador. No caso do GTFORMA o tema em questão é encontrar uma abordagem metodológica para as análises a serem realizadas, tendo também como orientação, quadros de análise já realizados na investigação anterior. O papel do entrevistador é de suma importância dentro do grupo focal, pois é ele que guiará o grupo fazendo com que não haja dispersão do tema e a participação de todos os participantes. O uso desse método pode ser utilizado em todas as etapas de uma investigação. De acordo com Oliveira e Freitas (ibid), cabe ao moderador flexibilizar o roteiro para atender o movimento do grupo e ter flexibilidade para mudar as perguntas, os temas propostos e até mesmo para introduzir novos assuntos, de acordo com os participantes. Por isso, o moderador deve estar sempre atento para aproveitar as falas dos participantes quando desejar mudar de assunto. O moderador é aquele que conduz a reunião e atua como facilitador da conversa. Um bom moderador é aquele que não induz às respostas e consegue fazer com que a maioria dos participantes se envolva ativamente na conversa e interaja com os outros sujeitos do grupo. Deve ter conhecimento geral do tema que vai ser alvo da pesquisa, noção dos principais conceitos e clareza dos objetivos. O moderador é fundamental para encorajar os participantes a falar e a responder aos questionamentos e comentários dos demais (BAUER E GASKELL, 2002). Segundo Weller (2006, p. 243) “os grupos focais se apresentam como um ‘método quase naturalista’ de geração de representações sociais mediante a simulação de discursos”. O grupo focal visa estimular os participantes a falar e a reagir àquilo que outras pessoas no grupo dizem. Segundo Bauer e Gaskell (2002), o grupo focal é um ambiente mais natural e holístico. Nesse contexto, a fala de cada participante proporciona a compreensão das diferenças e divergências dentro do grupo. Ao GTFORMA, essa compreensão acrescenta grande significado, pois o grupo adquire forças ao perceber que a contradição, a diversidade de ideias é a mola propulsora para o entendimento e crescimento do grupal. Considerações finais A partir do estudo dos autores relacionados, compreendemos que grupos se compõem por pessoas integradas que partilham de um objetivo em comum, que se relacionam entre si e 10846 tentam motivar. Além desse objetivo grupal, cada sujeito possui suas individualidades, o que estimula a ação grupal. Assim, o grupo GTFORMA aproxima-se dos constructos discutidos sobre o grupal, constituindo-se à semelhança do que Pichon-Rivière (1994) denomina de Grupo Operativo. Este é formado por pessoas (equipe de pesquisa do GTFORMA) reunidas com um objetivo comum. No presente caso, o grupo está engajado na análise coletiva das narrativas de professores universitários que constituem o corpus da pesquisa em andamento (ISAIA, 20122015). Por meio das discussões já realizadas pelo grupo, chegamos ao consenso de nos denominar Grupo de Análise Narrativa. Caberá a ele, partindo de quadros de análise, relativos à pesquisa anterior (ISAIA, 2010-2012), construir categorias de análise que responderão sobre a influência do conhecimento específico na pedagogia universitária. Acreditamos que a participação em um grupo, assim constituído, pode se caracterizar como uma aprendizagem compartilhada, denominada de acordo com Isaia (2008, p. 628) como: [...] é uma rede de relações envolvendo professores e estudantes, e que possibilite ação e reflexão conjuntas, bem como a negociação de conflitos e demandas específicas a cada um, de acordo com o seu processo formativo, levando-os ao aprender a aprender conjunto. Consideramos que trabalhar em grupo é um desafio uma vez que é necessária a articulação das pessoas no desempenho de uma ação em conjunto. Três fatores são evidentes na prática dos professores/pesquisadores, o que nos leva a visualizar desafios na ação conjunta. O primeiro proveniente do tipo de projeto, que é um projeto em comum, envolvendo diferentes gerações pedagógicas. Esse poderá levar à ansiedade, ao medo, ao fechamento ou à abertura. Isto porque o grupo irá se deparar em diversos momentos com a expectativa de verificar até onde consegue chegar. O grupo terá que aprender a lidar com os desafios encontrados neste trabalho que apresenta características interdisciplinares. O segundo desafio está relacionado à análise da pesquisa que teremos que fazer. Ou seja, a dificuldade em chegar a um objetivo comum, um resultado sobre as análises feitas, pois muitas vezes as discussões, interpretações irão se transformar de uma maneira que por certos momentos, a partir das leituras realizadas, cada um terá sua interpretação, sua assimilação em que o participante poderá discordar ou não do que está sendo discutido. Contudo, o grupal precisa tomar uma posição, uma interpretação própria dele, mesmo havendo resistências. Por último, o desafio de integrar um conjunto de pessoas, que não é um grupo rígido, mas flexível e que, 10847 ao mesmo tempo, precisa ser coeso e centrado num trabalho com interesses comuns, e que nem sempre estão preparadas para assim proceder. Por outro lado, estima-se que a construção solidária e o pensamento grupal, características do GTFORMA, facilitarão o andamento do grupo, que culminará com uma análise interpretativa adequada que denominamos de análise narrativa grupal. REFERÊNCIAS AFONSO, M. L. M. (org.). Oficinas em dinâmica de grupo: um método de intervenção psicossocial. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006. BAUER, M. W; GASKELL, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis: Vozes, 2002. BERNSTEIN M. Contribuição de Pichon-Rivière à psicoterapia de grupo. In: Osório LC, organizador. Grupoterapia hoje. Porto Alegre: Artes Médicas; 1989. p. 108-32. BOLZAN, D. P. V.; ISAIA, S. M. A. Pedagogia Universitária e Aprendizagem Docente: relações e novos sentidos da professoralidade. Revista Diálogo Educativo, Curitiba, v. 10, n. 29, p. 13-26, jan./abr. 2010. GAMBOA, S. Práxis Educativa. Ponta Grossa, v.4, n.1, p.9-19, jan.-jun. 2009. 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