PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC/SP Ana Lúcia Moura Novais INFLUÊNCIAS INSTITUCIONAIS, CULTURAIS E DE CUSTOS DE TRANSAÇÃO NA ESCOLHA DO MODO DE ENTRADA: UMA PROPOSTA PARA META-ANÁLISE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO São Paulo 2013 Ana Lúcia Moura Novais INFLUÊNCIAS INSTITUCIONAIS, CULTURAIS E DE CUSTOS DE TRANSAÇÃO NA ESCOLHA DO MODO DE ENTRADA: UMA PROPOSTA PARA META-ANÁLISE Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Administração, área de concentração: Estratégia e Inovação, sob a orientação do Professor Doutor Belmiro do Nascimento João. SÃO PAULO - SP 2013 Banca Examinadora: _______________________________________ _______________________________________ _______________________________________ Para Ignez Moura Novais, minha mãe, e em memória de José Aurio Guimarães Novais, meu pai. AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, meus agradecimentos ao Prof. Dr. Belmiro do Nascimento João, pelo compromisso, seriedade e apoio constantes na orientação desta dissertação de mestrado, assim como por participar ativamente nos trabalhos que elaboramos juntos. Não poderia deixar de mencionar aqui os professores das disciplinas obrigatórias, comuns e eletivas do Programa de Estudos Pós-Graduados em Administração da PUC: Prof. Dr. Francisco Antonio Serralvo, Prof. Dr. Arnaldo Mazzei Nogueira, Prof. Dr. Luciano Junqueira Prates, Prof. Dr. Onésimo de Oliveira Cardoso e Profa. Dra. Maria Cristina Sanches Amorim. Estendo agradecimentos especiais ao Prof. Dr. Leandro José Morilhas, pelas sugestões de periódicos e bases eletrônicas internacionais para a realização desta pesquisa. Neste sentido, aproveito a ocasião para destacar as contribuições valiosas para os procedimentos preliminares para o estudo de meta-análise de dois amigos muito especiais: Luiz Henrique Moreira Gullaci e Carlos Eduardo Lourenço. Também faço menção a todas as demais pessoas com quem compartilho minha jornada diária. Aproveito a ocasião para mencionar o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão de bolsa de estudos, no período de março de 2011 a fevereiro de 2013. Finalmente, não poderia deixar de incluir minha família nestes agradecimentos: Ignez Moura Novais, minha mãe, Maria Ignez Novais Ayala e Marcos Ayala, irmã e cunhado, pelo incentivo e apoio incondicional em todos os momentos da minha vida. Resumo NOVAIS, A. L. M. Influências Institucionais, Culturais e de Custos de Transação na Escolha do Modo de Entrada: Uma Proposta para Meta-Análise. Dissertação (Mestrado em Administração). Administração. 127 p., 2013. Esta pesquisa tem por referência o artigo de Brouthers que recebeu em 2012 o prêmio de melhor da década pelo periódico Journal of International Business Studies (JIBS). Um dos motivos que chama a atenção neste texto premiado de Brouthers é a articulação de influências institucionais, culturais e de custos de transação no processo de escolha do modo de entrada e meios para obter o melhor desempenho das empresas. Estabelece-se como objetivo geral desta dissertação investigar o estado atual da pesquisa acadêmica envolvendo a relação entre aspectos institucionais, culturais e custos de transação no modo de entrada em negócios internacionais. Como justificativa para a relevância da discussão do tema em meios acadêmicos e empresariais, pode-se destacar a ênfase que diferentes autores têm atribuído à teoria de custos de transação no decorrer do tempo. Como procedimento metodológico, obteve-se a seleção de artigos pela consulta às bases eletrônicas do ISI Web of Science e UMI-ProQuest. Escolheram-se as palavras-chave em inglês “transaction cost”, “entry mode”, “cultural aspects”, “institutional”. Optou-se por artigos publicados no período de 2002 a 2012. A partir daí, selecionaram-se alguns artigos já estruturados na metodologia de meta-análise com temas relacionados à teoria de custos de transação. Procedimento semelhante foi adotado com os demais artigos, com o intuito de averiguar como são analisados aspectos institucionais, culturais e/ou de custos de transação na escolha do modo de entrada em negócios internacionais. Os estudos selecionados constituem abordagens quantitativas sobre os assuntos propostos, condição essencial para se adotar futuramente a metodologia de metaanálise. Palavras-chave: negócios internacionais; modo de entrada; influências culturais; influências institucionais; teoria de custos de transação; meta-análise Abstract NOVAIS, A. L. M. Influências Institucionais, Culturais e de Custos de Transação na Escolha do Modo de Entrada: Uma Proposta pra Meta-Análise. Dissertação (Mestrado em Administração). Administração. 127 p., 2013. This research work adopts as reference the article by Brouthers awarded as the best of the decade by Journal of International Business Studies (JIBS). One of the aspects to be outlined in such text is the way Brouthers articulate a debate on institutional, cultural and transaction costs on entry mode choice by firms aiming the best performance in market. This thesis aims to investigate the actual research art involving the relationship among institutional, cultural and transaction costs aspects in international business. The discussion proposed here is justified as relevant in both academic and business environments, due to the way different authors have approached transaction costs’ subjects along the time. As methodological procedures, the articles were obtained in electronic databases, such as, ISI Web of Science and UMI-ProQuest. The key words were “transaction cost”, “entry mode”, “cultural aspects”, “institutional”. The selected articles were published in the period from 2002 to 2012. Articles structured in meta-analysis procedures were also selected in the referred database. All selected articles are quantitative approach, since it is an essential condition to adopt in the future metaanalytical procedures. Key words: international business; entry mode; cultural influences; institutional influences; transaction costs theory; meta-analysis Lista de Ilustrações Figura 1 - Instituições, organizações e escolhas estratégicas..................................................32 Figura 2 - Níveis de singularidade na programação mental.....................................................34 Figura 3 - Fontes de diferenças entre países e grupos..............................................................36 Figura 4 - Nuvem de palavras com frequência dos modelos estatísticos...............................101 Figura 5 - Nuvem de palavras das variáveis dos artigos selecionados..................................102 Figura 6 - Nuvem de palavras das variáveis “candidatas” para estudos futuros....................107 Lista de Tabelas Tabela 1 - Estatística descritiva de amostras meta-analíticas (ZHAO et al., 2004, p. 529)………....................................................................................................................46 Tabela 2 - Tamanhos de efeito combinados e teste zero (ZHAO et al., 2004, p. 530)……........................................................................................................................47 Tabela 3 - Resultados meta-analíticos para relacionamentos focais (GEYSKEINS et al., 2006, p. 528)………...............................................................................................................52 Tabela 4 - Matriz de Correlação Meta-Analítica (GEYSKENS et al., 2006, p. 529)..............53 Tabela 5 - Matriz de correlação para escolha do modo de entrada (BROUTHERS, 2002, p. 212)...............................................................................................................................61 Tabela 6 - Regressão Logística: escolha do modo de entrada (BROUTHERS, 2002, p. 213)...............................................................................................................................62 Tabela 7 - Análise de regressão (BROUTHERS, 2002, p. 214)..............................................63 Tabela 8 - Variáveis independentes (KUITTINEN et al., 2009, p. 315).................................80 Tabela 9 - Estatística descritiva e correlações (KUITTINEN et al., 2009, p. 316)...............................................................................................................................81 Tabela 10 - Resultados de regressão logística (KUITTINEN et al., 2009, p. 317)...............................................................................................................................81 Tabela 11 - Modelos estatísticos e número de ocorrências nos artigos.................................101 Tabela 12 - Variáveis e número de ocorrências nos artigos...................................................102 Tabela 13 - Variáveis “candidatas” para estudos futuros e número de ocorrências nos artigos..........................................................................................................................107 Lista de Quadros Quadro 1 - Análise preliminar de artigos selecionados..........................................................16 Quadro 2 - Síntese no contexto conceitual de procedimentos de pesquisa.............................20 Quadro 3 - Estrutura CAGE....................................................................................................42 Quadro 4 - Síntese da amostra, metodologia e resultados dos artigos selecionados...............91 Quadro 5 - Seleção de artigos a partir das variáveis e modelos estatísticos para estudos futuros....................................................................................................................104 Lista de Siglas AIB – Academy of International Business, Academia de Negócios Internacionais CAGE – Cultural distance, Administrative distance, Geographic distance, Economic distance, Distância Cultural, distância administrativa, distância geográfica, distância econômica CBA – Cross Border Acquisition, Aquisição Internacional CEO – Chief Executive Officer CD – Cultural Distance, distância cultural CR – Country Risk, Risco-País FDI – Foreign Direct Investment, investimento estrangeiro direto GLOBE – Global Leadership and Organization Behavior Effectiveness, Liderança Global e Eficácia de Comportamento Organizacional ICEX - Instituto Español de Comercio Exterior, Instituto Espanhol de Comércio Exterior IE – International Experience, experiência internacional IJV – International Joint Venture, joint venture internacional JIBS – Journal of International Business Studies MNC – Multinational Corporations¸ corporações multinacionais MNE – Multinational Enterprises, empresas multinacionais NIT – New Institutional Theory, nova teoria institucional OBE - Ownership-Based Entry Mode, modo de entrada baseado em meios próprios OLI - Ownership – Location – Internalization, propriedade – localização – internalização P&D – Pesquisa e desenvolvimento PDI – Power distance index – índice de distância de poder R&D – Research and development, pesquisa e desenvolvimento RBV- Resource-based View – visão baseada em recursos TCE – Transaction Costs Economics, teoria econômica de custos de transação TCT – Transaction Costs Theory, teoria de custos de transação WOS – Wholly Owned Subsidiaries, subsidiárias totalmente próprias WVS – World Values Survey – Pesquisa mundial sobre valores SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 11 1.1. Problema de Pesquisa ................................................................................................ 11 1.2. Objetivos da Pesquisa ................................................................................................ 14 1.2.1. Objetivo Geral .................................................................................................... 14 1.2.2. Objetivos Específicos ......................................................................................... 14 1.3. Justificativa .................................................................................................................... 14 1.4. Metodologia ................................................................................................................... 19 1.5. Estrutura da Dissertação ................................................................................................ 24 2. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................................. 25 2.1. Teoria de custos de transação na perspectiva de Coase (1937) e Williamson (1981) ... 25 2.2. Teoria institucional na perspectiva de North (1990) e Peng (2002) .............................. 29 2.3. Diversidade cultural na visão de Hofstede et al. (2010)................................................ 33 3. PANORAMA DOS ARTIGOS SELECIONADOS ............................................................. 43 3.1. Meta-análise em artigos sobre custos de transação e modo de entrada ......................... 43 3.1.1. Determinantes de custo de transação e modo de entrada com base em recursos próprios na visão de Zhao et al. (2004) ........................................................................... 44 3.1.2. Meta-análise de decisões organizacionais e teoria de custos de transação na perspectiva de Geyskens et al. (2006) .............................................................................. 50 3.1.3. Meta-análise de efeitos da distância cultural na escolha do modo de entrada, diversificação internacional e desempenho de multinacionais na visão de Tihanyi et al. (2005) ............................................................................................................................... 53 3.2. Modelo expandido de Brouthers (2002) ........................................................................ 56 3.2.1. Modo de entrada internacional: as vantagens dos métodos multiníveis segundo Arregle et al. (2006) ......................................................................................................... 69 3.2.2. Estratégias de escolha de modo de entrada e decisões na expansão em mercados internacionais na visão de Chen e Mujtaba (2007) .......................................................... 70 3.2.3. Escolha de modo por investimento direto estrangeiro (FDI): modos de entrada em economias de transição, segundo Dikova e Witteloostuijn (2007) .................................. 73 3.2.4. O impacto do risco-país e a distância cultural na decisão de modo de entrada, na discussão de Quer et al. (2007) ........................................................................................ 76 3.2.5. Modo de governança por cooperação: uma abordagem ampliada dos custos de transação, segundo Kuittinen et al. (2009) ....................................................................... 78 3.2.6. Orientação estratégica e escolha do modo de entrada no mercado internacional, segundo Liang et al. (2009) .............................................................................................. 83 3.2.7. Um modelo geral de TCE de instituições de negócios internacionais: falha do mercado e reciprocidade na visão de Chen. et al. (2010) ................................................. 84 3.2.8. Motivos que levam firmas fornecem mercadorias para o mercado externo usando combinação de meios de entrada, na visão de Pyo (2010) ............................................... 85 3.2.9. O impacto da distância agregada e diversidade cultural existente nos padrões de expansão internacional na visão de Hutzschenreuter et al. (2011)................................... 86 4. ANÁLISE ............................................................................................................................. 89 4.1. Teoria de custos de transação associada a outros fatores ............................................ 108 4.2. Institucionalização associada à confiança e decisão de modo de entrada por subsidiárias próprias (WOS) ou joint venture (JV) ............................................................ 108 4.3. Distância cultural e modos de entrada por subsidiárias próprias (WOS) ou por Joint Venture (JV) ....................................................................................................................... 110 5. CONCLUSÃO .................................................................................................................... 111 5.1. Limitações da pesquisa.................................................................................................... 113 5.2. Trabalhos Futuros .......................................................................................................... 114 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 116 11 1. INTRODUÇÃO Esta pesquisa tem por referência o artigo de Brouthers (2002), o qual recebera em 2012 o prêmio de melhor da década pelo periódico Journal of International Business Studies (JIBS). O JIBS Decade Award tem o patrocínio dos editores da Palgrave Macmillan e seleciona o artigo de maior influência a cada dez anos. O comitê de seleção inclui membros da Academy of International Business (AIB) assim como o editor-chefe do JIBS. Um dos motivos que chama a atenção neste texto premiado de Brouthers é a articulação de influências institucionais, culturais e de custos de transação no processo de escolha do modo de entrada e meios para obter o melhor desempenho das empresas. A ênfase dada à teoria de custos de transação e sua influência na decisão do modo de entrada em negócios internacionais já vem de muito tempo. Entretanto, dada a intensificação na busca de mercados e atuação de empresas no exterior, outros fatores tornam-se cruciais na decisão do modo de entrada, fazendo com que o modelo de custos de transação adquira outros contornos. Trata-se de um estudo voltado à análise de abordagens envolvendo modelos baseados em custos de transação, aspectos institucionais ou culturais na decisão de modo de entrada em negócios internacionais, as quais estão estruturadas em metodologia quantitativa, sendo parte dos artigos elaborados com meta-análise (procedimento a ser descrito com mais detalhes na parte dedicada à descrição da metodologia). Tendo em vista as perspectivas de um mundo globalizado, há intensa busca de atuação no exterior por empresas de tamanhos e portes distintos e os custos de transação não são os únicos fatores envolvidos nesse processo. Neste contexto, é importante averiguar o estado atual das questões centrais da teoria de custos de transação, dos contextos culturais e institucionais na escolha do modo de entrada, isto é, como este assunto tem sido discutido, no sentido de apontar fatores que se aliam no decorrer deste processo. Pressupõe-se que nesta última década tem-se analisado a combinação de variáveis que permitem constatar mudanças na decisão do modo de entrada e no desempenho de empresas no exterior. 1.1. Problema de Pesquisa Inicialmente, nesta seção introdutória, apresentam-se as considerações propostas por Rindfleisch et al. (2010) sobre oportunidades de pesquisa presentes na relação entre custos de 12 transação, oportunidades e governança. Analisam-se, neste artigo em questão, quais explicações para um comportamento em busca de oportunidades na entrada de negócios internacionais contêm características das parcerias e da forma em que a relação entre custos de transação e governança efetivamente influenciam o sucesso ou não do modo de entrada em determinado país. Tais características das empresas parceiras estão associadas ao grau de experiência, percepções e comportamento. Além disso, estudos de teoria de custos de transação (TCT) reconhecem que os custos de transação são fortemente influenciados pelas características da própria transação, tal como, o grau de especificidade dos ativos e de incerteza do ambiente (WILLIAMSON, 1981). Cabe destacar, entretanto, que abordagens tradicionais de TCT destacam a transação individual como unidade de análise (WILLIAMSON, 1981). Porém, estudos posteriores mostram que é preciso levar em consideração um contexto mais amplo de relações do que aspectos individuais da transação. É o que se argumenta nos estudos de Argyres e Liebeskind (1999) e, posteriormente, Wathne e Heide (2004). Rindfleisch et al. (2010) destacam também que a ampliação de um escopo na pesquisa envolvendo TCT gera benefícios em se desenvolver uma análise mais acurada de níveis diversificados de contexto, além de aspectos econômicos, especialmente em termos da ação das organizações e de sua intermediação junto a governos com seus modos específicos de estabelecer relações com empresas. No que se refere, especificamente, a aspectos culturais, pode-se mencionar aqui a proliferação de pesquisas sobre diferenças culturais nos processos de fusões e aquisições de empresas, o que vislumbra a necessidade de se realizar análises mais sistematizadas do impacto de fatores culturais na transferência de conhecimento, conforme demonstram os autores Sarala e Vaara (2010). As diferenças culturais da organização interferem significativamente na transferência de conhecimento quando ocorrem aquisições. Vantagens de métodos multiníveis em modos de entrada internacional são destacadas no estudo de Arregle et al. (2006), os quais argumentam acerca da evidente dimensão empírica, conceitual e multinível nas pesquisas de modo de entrada, além de enfatizarem que métodos quantitativos que não sejam multiníveis limitam o desenvolvimento da pesquisa e têm consequências estatísticas negativas que põem em risco a validade e robustez dos resultados. 13 Chen e Mujtaba (2007) tratam das estratégias de escolha do modo de entrada e as decisões para expansão no mercado internacional. Recorrem à teoria de custos de transação, além de desenvolverem uma reflexão sobre as diversas estruturas de governança nos modos de entrada em mercados estrangeiros, destacando-se os fatores-chave que permeiam os principais modos de entrada. A realização de uma proposta de modelo integrado para avaliar os determinantes da decisão do modo de entrada para pequenas e médias empresas em mercados internacionais é uma das grandes contribuições de Cheng (2008), que apresenta quatro visões teóricas (teoria de custos de transação, modelo proposto pela Escola de Uppsala, perspectiva de capacidades organizacionais e teoria do poder de barganha). Liang et al. (2009) situam como custos de transação, capacidade estratégica, perspectivas cognitivas estratégicas interferem nas escolhas das firmas ao entrarem em mercados estrangeiros. A descrição das implicações do modo de cooperação de governança, bem como os fatores que afetam joint venture e decisões contratuais é a proposta do estudo de Kuittinen et al. (2009). Liang et al. (2009) relacionam quatro fatores para tratar da natureza da cooperação em contraste com custos de governança e seus modos de benefício. Já Verbeke e Greidanus (2009) enfatizam que a teoria econômica moderna de custos de transação desenvolveu as bases do pensamento em pesquisa em negócios internacionais. Propõem um modelo baseado em laços de confiança no contexto do gerenciamento global de multinacionais. Hutzschenreuter et al. (2011) declaram que a pesquisa em estratégia internacional identificou um conjunto de padrões de expansão para as multinacionais. Algumas parecem expandir internacionalmente em um ritmo estável, enquanto outras oscilam nos ritmos de crescimento. Um dos motivos para essas variações bruscas é a distância cultural durante certo período, que pode afetar negativamente por conta de ajustes na dinâmica de custos. Além disso, sugere-se que gerenciar uma rede de subsidiárias operando em contextos com alta diversidade cultural aumenta a complexidade da governança interna e no ambiente. 14 Nesta descrição inicial dos principais assuntos apontados em periódicos acadêmicos, publicados no período de 2002 a 2012, observam-se outros elementos que norteiam o modelo de custos de transação e modos de entrada. Assim, a partir dos aspectos anunciados nos estudos referentes à teoria de custos e modos de entrada em negócios internacionais, estabelece-se a seguinte pergunta de pesquisa: A escolha do modo de entrada em negócios internacionais se faz pelo predomínio de influências institucionais, culturais ou de custos de transação? 1.2. Objetivos da Pesquisa 1.2.1. Objetivo Geral O objetivo geral desta dissertação é investigar o estado atual da pesquisa acadêmica sobre o predomínio da influência de aspectos institucionais, culturais ou de custos de transação na decisão do modo de entrada em negócios internacionais. 1.2.2. Objetivos Específicos A partir do objetivo geral exposto anteriormente, determinam-se os seguintes objetivos específicos desta dissertação: - Pesquisar os aspectos inerentes a fatores institucionais, culturais, custos de transação e modo de entrada em negócios internacionais no período de 2002 a 2012; - Realizar uma análise dos artigos selecionados, a fim de estabelecer os parâmetros para uma proposta futura de estudo meta-analítico. 1.3. Justificativa A teoria de custos de transação (TCT) de Williamson (1981) é frequentemente adotada como perspectiva de análise nas pesquisas sobre modo de entrada em negócios internacionais, uma vez que a base dos argumentos se estrutura nos fatores de TCT que influenciam a tomada 15 de decisão: especificidade de ativos e incerteza em relação a comportamentos internos da firma e especificidades de mercado. Apesar de Williamson (1981) concentrar sua discussão nos investimentos verticais, outros estudos sobre modo de entrada recorreram ao conceito de especificidade de ativos para explicar investimentos horizontais, quer dizer, investimentos realizados para explorar um conhecimento de mercado para entrada em outro mercado. O modelo de Williamson (1981) indica que a incerteza torna difícil determinar antecipadamente as contingências possíveis em um contrato, assim como a incerteza no interior da organização torna difícil constatar como será o desempenho futuro. Williamson (1981) deixa claro que a incerteza gera problemas quando associada à especificidade de ativos, ou em casos em que há significativa alteração dos custos. Estudos referentes à teoria institucional (NORTH, 1990; SCOTT, 1995) sugerem que aspectos institucionais afetam o processo de entrada de uma firma no mercado externo por se tratar de um ambiente em que há um conjunto de normas a serem seguidas para que as empresas atuem em um determinado mercado. Trata-se, essencialmente, de aspectos institucionais previstos pelo governo do país anfitrião, ou de diferenças entre o país de origem e os países anfitriões, o que certamente constitui um conjunto de influências na decisão do modo de entrada (ERRAMILLI, 1996). A chamada nova teoria institucional (NIT) estabelece que o ambiente institucional de um país se compõe das dimensões: regulatória, cognitiva e normativa (SCOTT, 1995). Essas três dimensões variam de acordo com o país e exercem influência nas decisões gerenciais, porque tais influências são conduzidas no contexto de determinado país. Uma vez que essas influências são relativamente uniformes no ambiente do país anfitrião, há um conjunto de pressões de modo a fazer com que os negócios sejam conduzidos de certa maneira e que as estruturas sejam aceitas. Firmas que tentam desafiar essas normas institucionais correm o risco de perder a legitimidade e, portanto, serem excluídas do mercado. Daí o fato de ser relevante incluir aspectos institucionais em estudos sobre decisão de modo de entrada. Além dos aspectos institucionais, há estudos que destacam o papel da distância cultural no modo de entrada. Yiu e Makino (2002) sugerem que a distância cultural pode refletir diferenças nas relações de confiança entre país de origem e países anfitriões, o que certamente afeta o modo de entrada. Estudos de Barkema e Vermeulen (1997) e de Shane (1993) tratam da questão de como componentes culturais específicos afetam o grau de 16 incerteza e, portanto, a decisão do modo de entrada. Cho e Padmanabhan (2005) refletem sobre a distância cultural no contexto institucional e o impacto na escolha do modo de entrada ocorre em função dos riscos de investimento e experiência na tomada de decisões específicas. Como se observa, os estudos sobre decisão de modo de entrada não se restringem apenas à teoria de custos de transação; há uma crescente tendência em associar aspectos de ordem institucional e relativos à questão cultural como fatores importantes na análise da decisão do modo de entrada. Além disso, no que tange à viabilidade da pesquisa, a partir do levantamento de artigos referentes à relação entre aspectos institucionais, culturais e custos de transação na decisão de modo de entrada em negócios internacionais, observam-se frentes de pesquisa abertas, principalmente no maior detalhamento de influências de natureza institucional e/ou cultural. O quadro 1 apresenta de maneira sistematizada o que diferentes autores apontaram em estudos relacionados ao assunto desta dissertação de mestrado. Quadro 1 – Análise preliminar de artigos selecionados Autores Aspectos Aspectos Institucionais Culturais Arregle et al. Não abordado Não abordado (2006) Brouthers (2002) Análise das restrições legais Risco de investimento Brouthers et al. (2003) Restrições legais Incerteza comportamental Principais Achados Contribuições Teste de um modelo em que se integram os custos de transação, teoria institucional e variáveis organizacionais e de aprendizagem para analisar a escolha entre joint venture ou subsidiária própria no modo de entrada Para testar as hipóteses e verificar o modelo expandido para custos de transação, o autor recorre à análise de regressão logística e preparou um teste de correlação para verificar multicolinearidade Teste comparativo entre modos de entrada no modelo expandido de custos de transação com outros baseados na tradicional teoria de custos de transação Aplicar a dimensão multinível de Bernoulli para comparar modos de entrada com joint venture internacional e subsidiárias próprias Proposta de um modelo expandido envolvendo custos de transação, aspectos institucionais e culturais na decisão do modo de entrada Aplicação de um modelo expandido envolvendo custos de transação que no teste das hipóteses revela melhor desempenho das empresas em relação a outros modos de entrada 17 Cont. Quadro 1 Chia-Chen (2004) Não abordado Comportamento oportunista Incerteza e complexidade nos acordos Estudo detecta problemas relativos a custos de transação e teoria da agência Chen e Mujtaba (2007) Risco-País Restrições governamentais Distância cultural Desenvolvimento de estrutura de previsores do impacto de fatores específicos da firma, do país, do mercado e das decisões de modo de entrada das multinacionais Cheng (2008) Não abordado Não abordado Gao (2004) Risco-País Instabilidade Política Reforma institucional Poder de barganha Risco-País Não abordado As quatro visões teóricas adotadas (teoria dos custos de transação, modelo de Uppsala, perspectiva de capacidade organizacional, teoria do poder de barganha) mostramse relevantes na decisão de modo de entrada de pequenas e médias empresas Mapeamento das circunstâncias que envolvem as decisões do modo de entrada Não abordado Distância cultural Diversidade Cultural Gatignon e Gatignon (2010) Hutzschenreuter et al. (2011) Distância sociocultural Detalhamento e síntese da teoria proposta por Anderson (1988) Detalhamento de como as diferenças culturais interferem na expansão internacional Proposta de um modelo conceitual que tenha por foco o impacto das escolhas das multinacionais no modo de entrada, nos limites da firma e da criação de valor, a partir das perspectivas de custos de transação e teoria da agência Uso de abordagens de custos de transação e de outras que não se baseiam em custos de transação para analisar o efeito nas estruturas de governança e explorar os fatoreschave que influenciam no modo de entrada Estudo propõe um modelo teórico robusto com base em quatro teorias (teoria dos custos de transação, modelo de Uppsala, perspectiva de capacidade organizacional, teoria do poder de barganha) Elaboração de um teorema sobre a contingência das decisões de modo de entrada Apresentação detalhada dos constructos envolvidos na Teoria de Custos de Transação Identificação de modelos de expansão de multinacionais a partir da teoria proposta por Penrose (1959) 18 Cont. Quadro 1 Kuittinen et al. (2009) Modo de governança cooperado Não abordado Análise de regressão logística sugere que os custos com governança dinâmica fornece dados adicionais à tradicional abordagem de teoria de custos de transação Adoção de três perspectivas teóricas (custos de transação, capacidade estratégica e cognição estratégica) para provar que as orientações estratégicas das firmas influenciam a escolha de novos mercados Coleta de dados empíricos para provar que o modo expandido de custos de transação afeta o modo de governança Liang et al. (2009) Não abordado Não abordado Rasheed (2005) Não abordado Não abordado Exportadoras apresentam taxas de crescimento mais elevadas quando a indústria doméstica tiveram crescimento elevado em períodos anteriores Não abordado Não abordado Ampliação da teoria da multinacional Sharma e Erramilli (2004) Não abordado Não abordado Tihanyi et al. (2005) Não abordado Distância cultural Verbeke (2003) Não abordado Diversidade cultural Verbeke e Greidanus (2009) Risco-País Distância cultural Teorias de modo de entrada comparadas a paradigmas de mercado, comportamental, queda de mercado Forte associação negativa entre distância cultural e decisão do modo de entrada Relação entre teoria de custos de transação e variáveis relativas ao aprendizado e competência Complementação de abordagens da teoria de custos de transação com a questão da confiança Ampliação da teoria de contingência de alinhamento estratégico para explicar o processo de internacionalização de pequenas e médias empresas Análise detalhada do processo de expansão das multinacionais Plataforma de teoria com base em recursos que oferece explicações sobre a decisão do modo de entrada Realização de metaanálise de distância cultural e decisão do modo de entrada Rugman e Verbeke (2003) Demonstração de como as estratégias de negócio já em vigor das empresas afetam a decisão de escolha de modo de entrada. Análise minuciosa sobre o processo de transferência de aprendizado ou de conhecimento Discussão sobre a importância dos laços de confiança para estabelecer a governança das multinacionais 19 Cont. Quadro 1 Zhao et al. (2004) País de origem Não abordado Integração de perspectivas teóricas de diferentes autores, visualizando linhas de abordagem predominantes em cada período Realização de metaanálise os determinantes do custo de transação e da opção por modo de entrada próprio Fonte: Elaboração própria (2013) A partir das considerações estabelecidas sobre o levantamento de artigos referentes ao contexto da decisão de modo de entrada e os aspectos que influenciam o processo da escolha, nota-se a importância da realização de um estudo voltado à análise das influências institucionais, culturais e de custos de transação na escolha do modo de entrada, porque há ainda possibilidades de investigações a serem realizadas. 1.4. Metodologia Obteve-se a procura, seleção de artigos relacionados ao tema proposto pela consulta às bases eletrônicas do ISI Web of Science e UMI-ProQuest. Utilizou-se como critério de busca as palavras-chave em inglês “transaction cost”, “entry mode”, “institutional”, “cultural aspects”. Optou-se pela escolha de artigos relacionados a esses assuntos no período de 2002 a 2012. Passou-se, então, a analisar os artigos separados por blocos temáticos por subtemas escolhidos para depois decidir-se pela seleção dos artigos que seriam discutidos na revisão da literatura, como procedimento inicial desta pesquisa. Realizada a seleção de artigos, escolheram-se alguns já estruturados na metodologia de meta-análise com temas relacionados à teoria de custos de transação, para proporcionar uma visão acerca da especificidade dos artigos estruturados nesse tipo de metodologia. Procedimento semelhante foi adotado com os artigos publicados posteriormente ao de Brouthers (2002), com o intuito de averiguar como têm sido tratadas na produção acadêmica as relações entre aspectos institucionais, culturais e/ou de custos de transação na escolha do modo de entrada em negócios internacionais. Os artigos selecionados constituem estudos quantitativos sobre os assuntos propostos, condição essencial para se pensar em utilizar, no futuro, a metodologia de meta-análise. Os artigos publicados no período de 2002 a 2012, selecionados a partir dos procedimentos descritos anteriormente, totalizam 86. 20 Meta-análise, também conhecida pelas denominações análise sistemática e revisão sistemática, é um procedimento que procura integrar as pesquisas empíricas com a finalidade de estabelecer generalizações. Entretanto, está implícita a noção de que generalizações envolvem a busca dos limites das generalizações. Também as revisões sistemáticas frequentemente se dedicam à observação das teorias relevantes, estabelecem uma análise crítica da pesquisa que tratam e buscam identificar questões para pesquisas futuras. Neste processo, sugerem-se procedimentos quantitativos, os quais por modelos estatísticos consistentes podem combinar o resultado de diferentes estudos e integrar os achados (COOPER et al., 2009). Trata-se de um processo que apresenta estágios para sua realização, os quais podem ser sinalizados pelo quadro 2: Quadro 2: Síntese no contexto conceitual de procedimentos de pesquisa CARACTERÍSTICAS DE CADA ESTÁGIO DA META-ANÁLISE PERGUNTA DE PESQUISA FUNÇÃO PRELIMINAR ESTÁGIO Definição do problema Qual evidência de pesquisa será importante para o problema ou hipóteses de interesse na síntese da pesquisa? Definir as variáveis e as relações de interesse de modo que os estudos possam ser identificados por sua relevância ou não. de Quais procedimentos deveriam ser utilizados para encontrar pesquisas relevantes? Avaliar a correspondência entre os métodos e implantação dos estudos e inferências das sínteses desejadas Quais das pesquisas obtidas deveriam ser incluídas ou excluídas com base na adequação dos métodos para o estudo dos problemas na implantação das pesquisas? Quais procedimentos deveriam ser utilizados para resumir e integrar os resultados da pesquisa? Identificar as fontes e termos adotados na busca para pesquisas relevantes e extrair informações importantes dos resumos ou descrições sumarizadas. Identificar e aplicar critérios de separação correspondente de resultados de pesquisa incomensuráveis. Coleta de pesquisa evidências Analisar (integrar) as evidências de estudos individuais Interpretar acumuladas as Identificar e aplicar os procedimentos para combinar resultados entre os estudos e testar as diferenças dos resultados entre os estudos. evidências Quais conclusões podem ser extraídas das evidências de pesquisa acumuladas? Sumarizar as evidências acumuladas de pesquisa com especial atenção à sua força, generalização e limitações. Apresentar os métodos sintetizados e resultados. Quais informações deveriam ser incluídas no relato da síntese? Identificar e aplicar guias editoriais e justificar a determinação de aspectos dos métodos e resultados. VARIAÇÃO DE PROCEDIMENTO Variações na amplitude conceitual e detalhamento das definições que podem levar a diferenças nas operações de pesquisa relevantes ou testadas por suas influências moderadoras. Variação nas fontes de busca e procedimentos de obtenção pode levar a diferenças sistemáticas na pesquisa, no que se conhece de cada estudo. Variação nos critérios de decisões de inserção de estudos pode levar a diferenças em quais estudos permeiam a síntese a ser obtida. Variação nos procedimentos usados para analisar os resultados de estudos individuais pode levar a diferenças nos resultados acumulados. Variações nos critérios para resultados rotulados podem ser importantes no detalhamento de estudos que levam a diferenças na interpretação dos achados. Variação nos relatos pode levar os leitores a confiar mais ou menos nos resultados das sínteses e influenciar outros sobre a habilidade de replicar tais resultados. Fonte: Adaptado de Cooper et al. (2009, p. 9). No que se refere, especificamente, a esta dissertação realizaram-se os dois primeiros estágios dos procedimentos de pesquisa propostos por Cooper et al. (2009). Primeiramente, a definição do problema, em que se indaga sobre as influências institucionais, culturais e de 21 custos de transação na decisão de modo de entrada e o predomínio de alguma dessas influências no decorrer do processo. A procura, seleção e escolha dos artigos se fez pela associação nos mecanismos de busca das bases de dados eletrônicas ISI Web of Science e UMI-ProQuest pelos termos correspondentes em inglês “institutional influences and entry mode choice”, “cultural influences and entry mode choice”, “transaction costs theory and entry mode choice”. Optou-se pelos artigos posteriores a 2002, porque a intenção era investigar o estado da pesquisa envolvendo os eixos influências institucionais e custos de transação, influências culturais e modo de entrada e teoria de custos de transação e modo de entrada após a publicação do artigo de Brouthers (2002). Esta opção corresponde à terceira coluna do quadro 2, denominada função preliminar, em que se almeja definir as variáveis e relações de interesse de modo a identificar a relevância dos estudos. A busca e seleção de artigos estruturados em meta-análise se fez pela inserção dos termos “meta-analysis and institutional aspects”, “meta-analysis and entry mode choice”, “meta-analysis and transaction cost theory”, “meta-analysis and international business”. A escolha destes artigos tem por base a intenção de analisar como se estruturam estas análises com vistas à melhor compreensão desta metodologia. Os demais quatro estágios do quadro 2 pressupõem a aplicação de procedimentos meta-analíticos, os quais não foram aplicados nesta dissertação de mestrado. Em termos de procedimento metodológico para averiguar o escopo da produção acadêmica referente à influência de aspectos relativos a custos de transação, fatores institucionais e/ou culturais na decisão de modo de entrada de negócios internacionais, opta-se pela elaboração de uma análise de conteúdo com vistas à realização de uma meta-análise no futuro, para mensurar e avaliar as relações e integrações dos diversos estudos. Em tempos de pleno acesso a informações, as revisões críticas da literatura adquirem uma função crucial. Neste sentido, a meta-análise é uma técnica de revisão importante, que viabiliza aos pesquisadores a possibilidade de analisar achados por meio da combinação nos diversos estudos, comparando-os de modo a identificar aspectos consistentes na metodologia do estudo e proporcionar abordagens teóricas a partir desses arranjos analíticos dos dados (COOPER et al., 2009). 22 Apesar de a meta-análise ter sido utilizada na literatura sobre marketing e gestão, o mesmo não se pode dizer na área de negócios internacionais. Isto se observou na busca de artigos para a presente pesquisa, havendo apenas poucos com uso desta metodologia. Daí a possibilidade de elaboração futura de uma meta-análise dos aspectos inerentes a avaliações de entrada em novos mercados, sejam eles norteados por aspectos institucionais, culturais ou decorrentes da teoria de custos de transação. De acordo com o universo da pesquisa e o tipo de abordagem dos estudos, o problema fundamental é assegurar que a amostra selecionada suporte as inferências ao universo. Parte do problema é garantir que os critérios de pesquisa sejam coerentes com a definição do universo e que uma amostra ampla dos estudos atenda aos critérios de forma representativa. Além disso, é primordial para a realização da meta-análise lidar com as diferenças entre os estudos por meio da combinação de tamanhos de efeito (effect sizes) dos diversos estudos. As correlações destes tamanhos de efeito podem ser de diversos tipos, mas ainda assim, a decisão do tipo de uso a ser adotado depende da precisão de como os dados foram obtidos pelos diversos autores, de modo a efetuar o percurso que eles fizeram e na comparação de tais percursos a fim de se estabelecer a comparação dos resultados e ver eventuais incidências, lacunas e daí propor outras investigações. Em relação aos tamanhos de efeito (effect sizes), Borenstein et al. (2009) destacam a diferença entre tamanhos de efeito e efeitos de tratamento (treatment effects); reforçam que na medicina os estudos meta-analíticos frequentemente se referem ao tamanho de efeito como o efeito do tratamento e este termo algumas vezes assume as diferenças de risco ou de resultados. De modo similar, meta-análise na área de ciências sociais aplicadas diz respeito simplesmente ao tamanho do efeito, o qual algumas vezes parece se referir a diferenças padronizadas ou a correlações. Borenstein et al. (2009) salientam que, de fato, a distinção dos termos tamanho de efeito e efeito de tratamento ocorre pela natureza do estudo. Tamanho de efeito é utilizado para quantificar a relação entre duas variáveis ou a diferença entre dois grupos. Por outro lado, o termo efeito de tratamento é adequado para quantificar o impacto de uma intervenção deliberada. Portanto, a diferença, por exemplo, entre homens e mulheres poderia ser denominada simplesmente de tamanho de efeito enquanto a diferença entre os grupos de controle ou os grupos tratados poderia ser chamada tanto de tamanho de efeito quanto efeito 23 de tratamento. Enquanto grande parte dos estudos meta-analíticos adotam por foco os relacionamentos entre as variáveis, alguns têm por objetivo estimar o significado ou o risco de um resultado em uma determinada população. Hunter e Schmidt (2004) atentam para a importância do desenvolvimento de uma teoria, entendida como uma das principais tarefas em todas as áreas da ciência. Em muitos casos, os teóricos têm disponíveis os resultados de diversos estudos anteriores sobre o assunto de interesse. Sua primeira tarefa é descobrir os relacionamentos empíricos revelados por tais estudos de modo que possam levar em consideração a construção da teoria. No processo de desenvolvimento da compreensão desses relacionamentos vale fazer uma revisão destes e construir uma tabela resumindo suas principais descobertas. A discussão proposta por Hunter e Schmidt (2004), que tem por finalidade não apenas a apresentação de procedimentos para realização de meta-análise, mas também a correção de erros e desvios de pesquisa, apresenta considerações sobre o fato de alguns pesquisadores acreditarem que o único problema relacionado com teste de significância esteja na identificação do baixo poder e que este problema poderia ser revolvido quando se obtém confiança no teste de significância. Hunter e Schimidt (2005) alegam que tais pesquisadores creem que o problema seria solucionado se fosse calculado o número de assuntos (number of subjects) necessários para a obtenção do “poder adequado” (em geral 0,80) e que então se utilizasse esta amostra. Entretanto, Hunter e Schmidt (2004) reforçam que esta exigência seria difícil de ser conseguida em grande parte dos estudos analisados. Há casos em que o tamanho de efeito se torna a diferença entre dois efeitos e aí os tamanhos de efeito são geralmente pequenos, e para se obter o “o poder adequado” de 0,80 seria preciso uma amostra relativamente grande, isto é, entre 1000 e 2000, o que torna inviável para muitos pesquisadores, pois dependendo do estudo ou dos recursos não há como obter uma amostra nesta proporção. O problema do poder estatístico em estudos individuais pode ser solucionado ao se optar pela descontinuidade do teste de significância. Oakes (1986) afirma que o poder estatístico é o conceito legitimado dentro de um determinado contexto de teste de significância. Se o teste de significância não for utilizado, o conceito de poder estatístico não se aplica e não é significativo. Isso mostra que não há, segundo Oakes (1986), necessidade de se preocupar com o poder estatístico quando os intervalos de confiança são utilizados para 24 analisar dados em estudos e a meta-análise é utilizada para integrar as descobertas destes estudos. Conforme se observa pelas observações de Cooper et al. (2009), Borenstein et al. (2009) e Hunter e Schmidt (2004) a realização de estudos meta-analíticos pressupõe a adoção de critérios específicos desde a definição do problema ser investigado, como a seleção de estudos, análise específica de seus conteúdos e critérios para se estabelecer a integralização das descobertas destes estudos, levando-se em consideração a especificidade do estudo a ser realizado. 1.5. Estrutura da Dissertação Esta dissertação divide-se em quatro partes além desta introdução. No capítulo 2, apresenta-se a revisão bibliográfica sobre teoria de custos de transação, na perspectiva de Coase (1937) e Williamson (1981), teoria institucional segundo North (1990) e Peng (2002) e aspectos referentes à distância e especificidades culturais, a partir de Hofstede et al. (2010). No capítulo 3 consta a apresentação de parte dos artigos selecionados para a pesquisa, a fim de se prover uma visão panorâmica dos assuntos por eles tratados. Inicialmente, estrutura-se uma discussão sobre as características de estudos meta-analíticos relacionados aos assuntos pertinentes a esta dissertação e, em seguida, a proposta de um modelo expandido das relações entre teoria de custos de transação e modo de entrada, a partir de Brouthers (2002) e artigos publicados após 2002. O capítulo 4 contém a análise dos artigos selecionados para esta pesquisa, ou seja, a reflexão sobre os resultados obtidos nos referidos estudos e descrição de suas implicações, além de sinalizações para realização futura de abordagem meta-analítica. A quinta parte contém a conclusão, as limitações da pesquisa e as sugestões para trabalhos futuros. 25 2. REFERENCIAL TEÓRICO Uma vez que a presente dissertação está estruturada na análise da produção acadêmica no período de 2002 a 2012 sobre influências institucionais, culturais e/ou de custos de transação na escolha do modo de entrada em negócios internacionais, considera-se essencial trazer a discussão sobre custos de transação, retomando-se os estudos de Coase (1937) e Williamson (1981); teoria institucional (NORTH, 1990; PENG, 2002) e a abordagem de Hofstede (2010) envolvendo a questão da cultura. 2.1. Teoria de custos de transação na perspectiva de Coase (1937) e Williamson (1981) O papel dos custos de transação em negócios internacionais vem sendo analisado há bastante tempo. Um dos estudos mais antigos relacionados a este assunto é o de Coase (1937), o qual descreve os aspectos inerentes à firma e à sua forma de atuação no mercado. A discussão se inicia com uma crítica à maneira como economistas haviam se posicionado em suas teorias no sentido de terem se omitido na análise das bases em que se ergue a teoria econômica. De acordo com Coase (1937), isto é essencial para que se evitem visões distorcidas ou falta de discernimento quanto ao uso preciso de determinados conceitos; cita, como exemplo, a necessidade de se utilizar o termo “firma” de modo distinto àquele adotado pelo “homem comum”, como se houvesse uma tendência de a teoria econômica descrever uma firma individualmente e não em sua atuação na indústria. Destaca-se a necessidade de se definir a firma de modo realista, isto é, quanto ao seu significado no “mundo real”. Um dos pontos de partida para delinear toda a análise proposta sobre a natureza da firma é a maneira como Coase (1937) estabelece a reflexão, inicialmente fazendo menção a Salter (1932) sobre o que envolve o sistema econômico, quanto ao fato de ser um sistema que funciona por si mesmo, isto é, não está submetido a um controle central, ou seja, como se ao longo da atividade humana, o suprimento se ajusta à demanda, a produção ao consumo, por um processo que é automático, elástico e que dá resposta. Neste sentido um economista pode pensar que o sistema econômico está sendo coordenado pelos mecanismos de preço e que a 26 sociedade não é uma organização e, sim, um organismo. Isso não significa que não haja planejamento por parte dos indivíduos. Esta teoria de Salter (1932) pressupõe que o destino dos recursos depende diretamente dos mecanismos de preço, o que é criticado por Coase (1937) porque, no contexto da firma, esta descrição não é suficiente; destaca também outros economistas como Marshall (1920), que situa a organização como o quarto fator da produção e Clark (1907) que enfatiza a importância da função do empresário. Isto revela que fora da firma, as oscilações de preço direcionam a produção, a qual é coordenada por uma série de transações no mercado. Dentro da firma estas transações de mercado são eliminadas e, no lugar da complexa estrutura de mercado com transações, entra o empresário como coordenador, o qual dirige a produção. Um dos pontos destacados por Coase (1937) é a razão principal que torna lucrativo estabelecer a firma em um contexto em que pareça que há um custo ao utilizar o mecanismo de preço. O mais evidente custo de organizar a produção em um mecanismo de preço é aquele que descobre quais são os preços relevantes. Este custo pode ser reduzido e não será eliminado com o surgimento de especialistas que venderiam esta informação. Haveria também custos de negociação e de concluir um contrato em separado para cada transação a serem levados em conta. Em certos mercados como transações relacionadas à produção, adota-se uma técnica para minimizar os custos de contratos, mas eles não são totalmente eliminados. É muito importante levar em consideração as características do contrato em que fatores de produção, por exemplo, estão empregados na firma. O contrato estabelece uma determinada remuneração (que pode ser fixa ou flutuante) e direções que uma empresa pode adotar até certos limites. A essência do contrato está em determinar os limites dos poderes da empresa. Dentro desses limites, a empresa pode dirigir diretamente nos fatores de produção. Coase (1937) ressalta também as desvantagens, ou melhor, os custos em se apoiar meramente nos mecanismos de preço. Pode-se pretender a realização de um contrato de longo prazo para o fornecimento de algum produto ou serviço. Isto pode ocorrer para se evitar uma série de pequenos contratos, o que reduziria os custos envolvidos em cada contrato. A base da discussão de Coase (1937) está na questão de que firmas e mercados constituem estruturas de governança que apresentam diferenças em seus custos de transação. Especificamente, este estudo propõe que em determinadas condições, os custos envolvidos nas transações econômicas em um mercado excedem os custos de organizar tal transação dentro da firma. Neste contexto, os custos de transação são os custos de gerenciar o sistema e 27 incluem os custos prévios como o de elaborar e negociar contratos, assim como custos futuros com o monitoramento e reforço a tais acordos. Em relação à análise de Coase (1937), Williamson (1981) fez uma contribuição ao identificar os tipos de trocas mais apropriadas nos processos de atuação internacional das empresas em determinado mercado. Ele também ampliou o modelo proposto por Coase (1937) ao sugerir que os custos de transação incluem tanto os custos diretos de gerenciar os relacionamentos e os custos de oportunidade de tomar decisões de governança inadequadas. O modelo estruturado por Williamson (1981) parte de dois grandes pressupostos de comportamento humano (por exemplo, a oscilação entre racionalidade e oportunismo) e duas dimensões-chave de transações (como especificidade de ativos e incerteza). Vejamos como Williamson (1981) realiza a abordagem de custos de transação. A racionalidade, na visão deste autor, apresenta situações em que se encontram dificuldades para processar as informações racionalmente, havendo a possibilidade de surgir um ambiente com incerteza, em que pode haver espaço para atitudes oportunistas, ou seja, em que uma das partes aja de maneira motivada a atender interesses próprios, sendo necessário elaborar contratos mais detalhados, o que elevam os custos de transação. A especificidade do ativo, considerada por Williamson (1981) uma das dimensõeschave de transação, pode ser descrita a partir dos seguintes tipos, conforme apresentação de Besanko et al (2006): - Especificidade de localização: diz respeito aos ativos que estejam localizados em proximidade para se obter economia com custos de transporte e estoques, ou para obter vantagem na eficiência de processamento. Como exemplo, pode-se citar a produção de aço, como especificidade de localização (proximidade dos fornos para fabricação do aço, unidades de fundição e usinagem proporcionam economia no custo de combustíveis, pois o ferro fundido, o aço derretido e o aço semi-acabado não precisam ser reaquecidos antes de serem movidos para a etapa seguinte no processo na cadeia de produção); - Especificidade de ativo físico: são ativos cujas propriedades físicas dos ativos ou de projeto são especificamente moldadas para um determinado tipo de transação. Por exemplo, produção de recipientes de vidro necessita de moldes elaborados para determinadas formas do recipiente e máquinas de fabricar vidros. A especificidade do ativo físico inibe os clientes de optar pela troca de fornecedores; 28 - Ativos Dedicados: trata-se de um investimento em uma fábrica ou equipamento para satisfazer um comprador em particular. Se não há a promessa do negócio por parte desse comprador, o investimento não será rentável, como exemplo, pode-se mencionar uma empresa que desenvolva uma linha de montagem específica para um determinado tipo de empresa do setor industrial; - Especificidade de ativo humano: casos em que profissionais tenham habilidades muito específicas, know-how e informações valiosas, que vão além de habilidades tangíveis, como perícia com o sistema operacional de um computador específico da organização. Inicialmente, Williamson (1981) retoma os estudos anteriores referentes à teoria de custos de transação, como do próprio Coase (1937) e também o de Hayek (1945), o qual observara que o problema econômico não é exatamente interessante exceto quando acontecimentos de ordem econômica estão em mudança, o que leva à necessidade de adaptações frente a tais mudanças. O que difere de uma economia de alto desempenho é a sua capacidade de se adaptar de maneira eficiente em ocasiões de incerteza. Embora Hayek (1945) não utilize termos específicos da teoria econômica de custos de transação, estes, segundo Williamson (1981), estão implícitos ao longo da análise. Destaca-se também que o eixo norteador da pesquisa sobre análise dos custos de transação se desenvolveu no Carnegie School com os autores March e Simon (1958) e Cyert e March (1963). Thompson (1967) salienta que a organização hierárquica e os controles a ela associados são delineados para os limites das capacidades humanas para lidar com situações de complexidade e de incerteza. A incerteza está relacionada à presença de um comportamento oportunista, o qual dificulta a previsão. A organização é vista na condição de encarar-problema e/ou resolver-problema. Williamson (1981) demarca o aumento expressivo de uma grande preocupação com questões relacionadas aos custos de transação no início dos anos 70, época em que se torna mais evidente o modo de se analisar as organizações como estruturas alternativas de governança, tanto no contexto interno das firmas e de suas relações com outras, assim como na atuação destas firmas no mercado, o que prescindia de mais atenção, uma vez que havia fortes diferenças nessas firmas e nessas transações. Williamson (1981) dedica boa parte de sua análise para questões comportamentais, em especial o que envolve contratos, ou seja, os custos presentes não apenas em sua elaboração, mas, sobretudo, em seu cumprimento. Observa-se, em tal discussão, a presença de fatores de decisão baseada em racionalidade ou em oportunismo. 29 A questão crucial, segundo Williamson (1981), é como ocorre a escolha entre estruturas de governança da firma ou do mercado. Decisões racionais sobre custos de transação são centrais para esta análise, mas também devem ser considerados os acordos baseados em economias de produção, em que se pressupõe que o mercado possa desfrutar de algumas vantagens, além de economias de custo de governança, nas quais as vantagens podem ser no âmbito interno da organização. Além desses pontos, Williamson (1981) destaca que outros pontos estão presentes como: especificidade da localização de ativos, gastos adicionais com produção, escolha baseada em especificidade de ativos, o que pressupõe demanda e consequentes custos de produção e, finalmente, custos de governança que variam com a especificidade de ativos e, portanto, devem ser inseridos na previsão dos cálculos. A escolha entre organização da firma e do mercado surge em meio a essas questões. Se os ativos não são específicos, os mercados desfrutam de vantagens tanto nos custos de produção quanto custos de governança, isto é, economias de escala podem ser exaustivas nas compras em vez da produção. Entretanto, se os ativos se tornarem mais específicos, os benefícios agregados dos mercados podem diminuir e a transação adquire características mais fortes por acordos bilaterais. Williamson (1981) sinaliza em suas considerações finais que a abordagem de teoria de custos de transação tem um caráter interdisciplinar, uma vez que o estudo das organizações engloba aspectos econômicos, de teoria organizacional e de legislação contratual. Daí a necessidade de se refletir sobre teoria de custos de transação tanto para empresas comerciais e não comerciais em função do conjunto diversificado de forças que atuam nas operações dessas empresas. 2.2. Teoria institucional na perspectiva de North (1990) e Peng (2002) North (1990) define instituições como sendo um conjunto de regras da sociedade que modulam as interações humanas. Como consequência, estas regras estruturam incentivos para as transações humanas, sejam elas de natureza política, social ou econômica. A mudança institucional dá formas à maneira como a sociedade atua no decorrer do tempo e proporciona meios para compreender como ocorrem mudanças históricas. Reforça-se que as instituições 30 afetam o desempenho das economias e também que economias com desempenho diferenciado estão associadas à maneira como as sociedades atuam. North (1990) tem por finalidade refletir sobre as implicações das mudanças sociais e as mudanças históricas, no sentido de avaliar a natureza das instituições e suas consequências no desempenho econômico. Defende também que a teoria institucional, dentro de uma perspectiva histórica, proporciona um melhor entendimento de como ocorrem alterações significativas no desempenho das economias no decorrer dos tempos. Conforme North (1990), as instituições reduzem a incerteza ao proporcionarem uma estrutura para a vida cotidiana. Trata-se do estabelecimento de guias norteadoras para interação humana, desde as atitudes rotineiras dos indivíduos em sociedade, até a caracterização da maneira como os países estabelecem transações de modo diferente. North (1990) ressalta, entretanto, a necessidade de se estabelecer a diferença entre instituições e organizações. Assim como as instituições, as organizações fornecem uma estrutura para interação humana. De fato, quando se examinam os custos que surgem de uma estrutura institucional, observa-se não apenas os resultados dessa estrutura, mas também das organizações que desenvolveram as consequências para tal estrutura. Essencialmente, em termos, conceituais, segundo North (1990), é preciso ter clara a diferença entre as regras e seus jogadores. Organizações incluem as estruturas: políticas (partidos políticos, congresso, senado, agências regulatórias), econômicas (firmas, empresas de comércio, cooperativas), sociais (igrejas, clubes, associações de atletismo) e educacionais (escolas, universidades, centros de treinamento vocacional). Trata-se de grupos de indivíduos unidos por propósitos comuns em alcançarem seus objetivos. As organizações moduladoras constituem a análise de estruturas de governança, as habilidades, como aprender a fazer, o que irá determinar o sucesso da organização no decorrer dos tempos. North (1990) ressalta que a ênfase em seu estudo está nas instituições como estabelecedora das normas, tendo por foco as organizações em seu papel como agentes da mudança institucional. Portanto, há uma interação entre instituições e organizações; as organizações são criadas com propósitos delineados em consequência de um conjunto de oportunidades resultantes de regulamentações, em meio às quais, procuram atingir seus objetivos em meio a todas as mudanças institucionais. North (1990) também salienta que as instituições afetam o desempenho da economia por terem efeitos nos custos de transação e de produção. Acrescentando-se a tecnologia, a determinação dos custos de transação e de produção formam os custos totais. North (1990) 31 afirma que a existência e a natureza das instituições especificam a maneira como elas estabelecem as funções de custo na economia. Além disso, comenta-se que o principal papel das instituições na sociedade é reduzir a incerteza pelo estabelecimento de uma estrutura estável de interação humana. Em linhas gerais, a análise de North (1990) articula-se em descrever as diferenças entre instituições e organizações, e de que maneira a interação entre elas modulam os contornos da mudança institucional. As instituições, ao lado das restrições estabelecidas pela teoria econômica, determinam as oportunidades na sociedade. As organizações, por sua vez, são criadas para desfrutarem das oportunidades presentes na sociedade e pelo modo como atuam promovem mudanças nas instituições. Peng (2002) realiza uma análise que parte da indagação acerca das diferenças das estratégias de diferentes países, pois uma vez que a diversidade das estratégias das empresas no mundo resulta de um conjunto de forças possíveis internas e externas à organização. Neste contexto, defende-se uma nova visão institucional norteada pelas diferenças nas estratégias de negócios. Peng (2002) retoma inicialmente a definição de North (1990, p. 3) de que as instituições pressupõem regras na sociedade, ou melhor, restrições que modulam as interações humanas. Compara tais observações com a proposta de Scott (1995, p. 33) que define as instituições como estruturas cognitivas, normativas e regulatórias, além das atividades que proporcionam estabilidade e significado para o comportamento social. As estruturas institucionais interagem com as organizações ao sinalizar as escolhas aceitáveis e suportáveis. Nesse sentido, as instituições auxiliam a reduzir o grau de incerteza para as organizações. As restrições institucionais incluem normas políticas, decisões judiciais e contratos econômicos. Já as restrições informais, por outro lado, incluem normas de comportamento socialmente aceitas, as quais estão atreladas à cultura e ideologia. Peng (2002) afirma que North (1990) sugere que em situações em que as restrições formais falham, as restrições informais auxiliam a reduzir o grau de incerteza e proporcionam constância para as organizações. Estes insights têm implicações importantes para o desenvolvimento de uma visão institucional da estratégia de negócios. Peng (2002) destaca que as estratégias envolvem escolhas e que ao se analisar a estratégias de negócios é preciso reconhecer os esforços de escolha presentes na tomada de decisão nas organizações. Dada a influência das estruturas institucionais no comportamento 32 da firma, qualquer escolha estratégica da organização acaba sendo afetada por limitações formais e informais de determinada estrutura organizacional. A figura 1 apresenta a representação da interação entre instituições, organizações e a realização de escolhas estratégicas. Figura 1 - Instituições, organizações e escolhas estratégicas. Instituições Organizações Interação Dinâmica Limitações Formais Condições da Indústria e e Informais Recursos específicos da firma Escolhas Estratégicas Fonte: Adaptado de Peng (2000, p. 45). Peng (2002) afirma que grande parte da pesquisa na área de estratégia traz abordagens referentes a empresas ocidentais, mas reforça uma posição de Williamson (1991) em que “não há como discutir estratégia de negócios sem levar em conta aspectos da organização econômica de empresas japonesas” (WILLIAMSON, 1991, p. 87). Particularmente, Peng (2002) salienta as redes de keiretsu, relações entre firmas que englobam muitas organizações japonesas e que têm envolvido outras empresas asiáticas. Especificamente, no contexto de tal rede, fornecedores independentes parecem colocar suas unidades de produção próximas a grandes empresas como Toyota e Honda, na ausência de um contrato de longo prazo. Diante de um grau elevado de especificidade de ativos, cria-se um valor econômico pela redução do tempo de entrega e dos custos, ao mesmo tempo em que se aumenta a eficiência de entregas em tempo real (just-in-time). Entretanto, tal grau de especificidade de ativos gera prováveis altos custos de transação (WILLIAMSON, 1985) porque o valor dos ativos específicos de localização dos fornecedores irão se depreciar consideravelmente quando não tiverem mais 33 um contrato com as indústrias ou quando os fornecedores quiserem realizar entregas para fabricantes localizados em outro lugar. Desta forma, os fornecedores provavelmente não irão desejar ter suas unidades de fabricação em locais vulneráveis. Contrariamente a esse pensamento, algumas empresas japonesas parecem ter uma combinação singular, com alta especificidade de ativos e baixos custos de transação, o que intriga muitos pesquisadores, segundo Peng (2002). Além disso, Peng (2002) indica as diferenças entre as culturas nacionais do Japão e de países ocidentais como EUA. A cultura japonesa se mostra com alta inclinação em cooperar, assim como estabelecer a cooperação entre empresas. Especificamente, enquanto o Japão conseguiu desenvolver um conjunto de estruturas legais baseadas no modelo americano no período pós-guerra, firmas japonesas tendem a enfatizar limitações informais, como na forma de estabelecimento da confiança, em vez de contratos formais. Na parte final de sua análise, Peng (2002) afirma que o crescimento nas pesquisas sobre influências institucionais tem sido provavelmente uma reação à posição ocupada pelas decisões estratégicas das firmas no decorrer dos tempos. A própria alteração, reformulação das estratégias de acordo com aspectos institucionais demonstra que não há como ignorar a especificidade dos fatores institucionais neste processo. Além disso, incluindo-se a análise do que é específico no contexto das economias asiáticas, constata-se a contribuição da teoria institucional em demonstrar os benefícios da integração em pesquisas orientadas para a eficiência. Em suma, a ênfase que Peng (2002) atribui às mudanças nas estruturas institucionais é o fato de que elas conduzem a determinadas escolhas estratégicas, conferindo novos contornos na maneira como as firmas realizam negócios entre diferentes países e culturas. 2.3. Diversidade cultural na visão de Hofstede et al. (2010) Hofstede et al. (2010) atualizam a obra originalmente escrita por Hofstede e Hofstede (1991). Optou-se aqui por analisar a versão mais atual deste estudo. A questão central proposta por Hofstede et al. (2010) é o fato de que no mundo há o confronto entre pessoas, grupos e nações que pensam e agem de maneira distinta. Cada pessoa carrega consigo 34 padrões diferenciados do modo de pensar, sentir e de agir no decorrer da existência. Muito do que as pessoas adquirem provém da infância, fase em que se está mais suscetível ao aprendizado e à assimilação. Tão logo se estabeleçam padrões no modo de pensar, de se sentir e de agir no interior da mente do indivíduo, eles precisam muitas vezes “desaprender” para aprenderem algo novo. Hofstede et al. (2010) comentam que é mais difícil desaprender do que aprender pela primeira vez. Parte-se do princípio do que ocorre com programação dos computadores para se pensar em “programação mental” de pensamentos, sentimentos e ações dos indivíduos. As fontes de programação mental de cada um estão nos contextos sociais a que pertence o indivíduo e com os quais interage no decorrer de sua existência. As programações mentais variam conforme os contextos em que são adquiridas e estão relacionadas à cultura. Trata-se de um termo que recebe definições específicas conforme a área, mas, para Hofstede et al. (2010), cultura como programação mental tem sentido mais amplo do que aquele presente em estudos de sociologia. Cultura é considerada como um fenômeno coletivo, porque ela é compartilhada por pessoas que vivem no mesmo ambiente social; consiste de regras não escritas do jogo social. A figura 2 apresenta os níveis singulares de programação mental: Figura 2 - Níveis singulares de programação mental Herdado e aprendido Específico para o indivíduo PERSONALIDADE Específico para o grupo ou categoria CULTURA Aprendido Herdado Universal NATUREZA HUMANA Fonte: Adaptado de Hofstede et al. (2010, p. 6). 35 A cultura é algo que se aprende, não é inata; surge mais do ambiente social em que se vive do que propriamente dos genes. Dever-se-ia estabelecer a distinção de um lado entre cultura e natureza humana e de outro da personalidade do indivíduo, embora seja complexo estabelecer as fronteiras entre cultura e natureza, cultura e personalidade. Natureza humana refere-se a tudo que é relativo aos seres humanos: representa o nível universal na programação mental de alguém. É algo que se recebe de herança pelos genes, ou seja, determina o funcionamento básico dos aspectos físicos e psicológicos. Personalidade, para Hofstede et al. (2010), é a habilidade dos programas mentais únicos do indivíduo que não precisam ser compartilhados com ninguém. Baseia-se nos traços que são parcialmente herdados geneticamente pelos indivíduos e parcialmente aprendidos. Entenda-se aprendidos no que tange a modificações oriundas de programação coletiva (cultura), assim como experiências pessoais. Conforme Hofstede et al. (2010), frequentemente tem-se atribuído os traços culturais à hereditariedade pelo fato de no passado não haver meios para se explicar a estabilidade de diferenças entre padrões de cultura entre grupos humanos. Havia a tendência a subestimar o impacto do que se aprendera com gerações anteriores e ensinar a gerações posteriores. Não se escapa à cultura. Ao se criarem normas a serem compartilhadas já se estabelecem as bases para sobrevivência do grupo. As particularidades da cultura dependem da oportunidade, dos valores herdados, especialmente de membros que se destacam no grupo. Uma vez que se instaura a cultura, ela passa a se reproduzir. No que concerne, especificamente, a culturas nacionais, Hofstede et al. (2010) afirmam que a invenção das nações, unidades políticas em que se divide todo o mundo, às quais os seres humanos pertencem, é algo historicamente recente. O sistema de nações foi introduzido mundialmente somente na metade do século XX. Entretanto, Hofstede et al. (2010) alertam para o cuidado em não equiparar nações com sociedades. Sociedades se desenvolvem organicamente como formas de organizações sociais. Especificamente, cultura comum se aplica às sociedades, não às nações. Internamente, nas nações há forças para promover a integração: em geral um idioma predominante, meios de comunicação, sistema de educação nacional, forças armadas, sistema político nacional, representação em eventos esportivos com fortes apelos emocionais e simbólicos, mercado nacional para determinadas habilidades, produtos e serviços. Países e regiões diferem mais do que propriamente suas 36 culturas. A figura 3 estabelece as distinções entre três tipos de diferenças entre países: identidade, valores e instituições: Figura 3 - Fontes de diferenças entre países e grupos HISTÓRIA Identidade Linguagem Religião Visível Valores Programação das mentes Invisível Instituições normas, leis, organizações Visível Fonte: Adaptado de Hofstede et al. (2010, p. 22). Os países se diferem de suas instituições históricas que compreendem as regulamentações, leis e organizações que lidam com a vida familiar, escolas, cuidados com a saúde, negócios, governo, esportes, mídia, artes e ciências. Na década de 70, Hofstede teve acesso a uma grande base de dados de uma pesquisa sobre valores e sentimentos de pessoas em mais de 50 países (HOFSTEDE, 1980). Estas pessoas trabalhavam em subsidiárias da IBM. Grande parte da organização foi pesquisada duas vezes a cada quatro anos, o que resultou em uma base de dados com mais de 100.000 questionários. A análise estatística das médias de respostas aos questionários por país sobre valores revelavam que funcionários da IBM em diferentes países revelavam problemas comuns, mas com soluções que se diferiam de acordo com país nas seguintes áreas: - desigualdade social e o relacionamento com a autoridade; - relação entre indivíduo e grupo - conceitos de masculinidade e feminilidade: aspectos sociais e emocionais - maneiras de lidar com a incerteza e ambiguidade, relativos à capacidade de controlar sentimentos agressivos e de expressar emoções. 37 A partir dessas constatações, estabelecem-se as dimensões nacionais de cultura. Nos anos 2000, Minkov utiliza dados da pesquisa mundial de valores – World Values Survey (WVS) – (MINKOV, 2007), o que permitiu calcular a quinta e sexta dimensões (HOFSTEDE et al., 2010). Então as seis dimensões foram assim denominadas: 1. Distância do poder: relacionada às diferentes soluções para o problema básico da desigualdade humana; 2. Individualismo versus coletivismo: relacionada à integração de indivíduos em grupos primários; 3. Masculinidade versus feminilidade: relacionada à divisão de papéis emocionais entre homens e mulheres; 4. Prevenção de incerteza: relacionada ao nível de estresse em uma sociedade diante do futuro incerto; 5. Longo prazo versus curto prazo: relacionada ao foco dos esforços pessoais: o futuro ou o presente e passado; 6. Indulgência versus restrição: relacionada à gratificação versus controle de desejos humanos básicos referentes ao aproveitar a vida. Na descrição sobre distância do poder, no capítulo dedicado à análise das dimensões de cultura nacional, Hofstede et al. (2010) relatam que a pesquisa realizada com funcionários com ocupações similares na IBM em diferentes países fornece indicadores sobre os níveis de distância do poder. Os três itens utilizados na pesquisa para compor o índice de distância de poder (PDI) foram os seguintes: 1. Com que frequência, de acordo com a sua experiência, ocorre o seguinte problema? Funcionários receosos de expressarem não estarem de acordo com seus superiores. (escolher na escala de 1-5, desde “muito frequentemente” até muito raramente” 2. Percepção dos subordinados sobre o estilo de tomada de decisão do chefe (porcentagem obtida pela escolha desde um estilo autocrático até o paternalista, a partir de quatro estilos possíveis e da alternativa “nenhuma das opções”); 3. Preferência dos subordinados pelo estilo de tomada de decisão de seus chefes (porcentagem que indica preferência por estilo autocrático ou paternalista ou, ao 38 contrário, estilo baseado na decisão por votos da maioria, mas não um estilo com base em consultas). Com base nos resultados obtidos das respostas às três perguntas utilizadas para compor o PDI, Hofstede et al. (2010) apresentam as seguintes considerações: as questões 1 (funcionários receosos) e 2 (chefe autocrático ou paternalista) indicam a percepção dos respondentes sobre o ambiente diário de trabalho. A questão 3, entretanto, indica o que os respondentes expressão como preferência: como eles gostariam que fosse o seu ambiente de trabalho. O fato é que as três questões fazem parte do mesmo agrupamento, revelando que de um país para outro há relacionamentos próximos entre a realidade que se percebe e a realidade que se deseja. Em países em que os funcionários não estão muito receosos e que seus chefes não são frequentemente autocráticos ou paternalistas, os funcionários expressam a preferência por um estilo com base em consultas na tomada de decisão. Por outro lado, em países que estão na escala oposta da distância de poder, ou seja, em que os funcionários têm receio de discordarem de seus chefes e os chefes são vistos como autocráticos e paternalistas, os funcionários estão menos propensos a preferir um estilo baseado em consultas na tomada de decisão. Os dados obtidos para PDI informam sobre a dependência de relacionamentos em um país. Em países com pouca distância de poder, há uma dependência limitada dos subordinados em relação a seus chefes, e há preferência por estilo baseado em consultas, algo que estabelece uma interdependência entre chefe e subordinado. A distância emocional entre eles é relativamente pequena: subordinados facilmente irão expressar suas opiniões e contradizer seus chefes. Em países com grande distância de poder, há uma considerável dependência dos subordinados aos chefes. Hofstede et al. (2010), afirmam que subordinados respondem que preferem esta dependência (na forma de chefe autocrático ou paternalista) ou a rejeita por completo (o que em psicologia é denominado de contradependência – uma dependência com sinal negativo). Países com grande distância de poder mostram um padrão de polarização entre dependência e contradependência. Nestes casos, a distância emocional entre os subordinados e seus chefes é grande: subordinados não estão inclinados a expressarem suas opiniões e a contradizerem seus chefes diretamente. Hofstede et al. (2010) afirmam que: a distância de poder pode, portanto, ser definida como uma extensão para a qual os membros com menos poder de instituições e organizações dentro de um país esperam e aceitam que o poder seja distribuído de forma desigual.” Também 39 afirmam que a maneira como o poder é distribuído se explica pelo comportamento dos membros com mais poder, ou seja, o comportamento dos líderes e não dos liderados. (HOFSTEDE et al., 2010, p. 61) Ao apresentarem a dimensão individualismo versus coletivismo, Hofstede et al. (2010) citam o fato de suecos e sauditas terem diferentes tipos de conceitos sobre o papel das relações sociais nos negócios. Para os suecos, os negócios são feitos na empresa; para os sauditas, os negócios são feitos com aqueles que conhecemos e aprendemos a confiar. Quando não se conhece bem alguém, é melhor que os contatos ocorram na presença de um intermediário comum a ambas as partes. Esta é a base da diferença entre estas culturas e uma questão fundamental referente às sociedades: o papel do indivíduo em contraposição ao papel do grupo. A grande maioria das pessoas vive em sociedades em que o interesse do grupo prevalece sobre os interesses individuais. É o que Hofstede et al. (2010) denominam de sociedades coletivistas, indicando o poder do grupo. A minoria das pessoas vive em sociedades em que os interesses individuais prevalecem em relação aos interesses do grupo. É o que se denomina de sociedades individualistas. Entretanto, o extremo coletivismo e o extremo individualismo podem ser considerados polos opostos na dimensão de culturas nacionais. Segundo Hofstede et al. (2010) todos os países em que se realizou a pesquisa da IBM receberam muitas pontuações como e sociedades individualistas e poucas pontuações como sociedades coletivistas. Na explicação de Hofstede et al. (2010), individualismo pertence a sociedades nas quais os elos entre indivíduos estão frouxos: espera-se que todo mundo se espelhe “nele”, “nela” ou na própria família. O coletivismo diz respeito a sociedades em que desde o nascimento estão integradas em grupos coesos, nos quais continua ao longo da vida sem questionar troca ou lealdade. (HOFSTEDE et al. , 2010, p. 92) A terceira dimensão masculinidade versus feminilidade está diretamente ligada à noção de gêneros e de seus respectivos papéis. Hofstede et al. (2010) afirmam que todas as sociedades humanas consistem de homens e mulheres em proporção relativamente iguais. São biologicamente distintos e seus papéis na reprodução da espécie são absolutos. Entretanto, outras diferenças entre homens e mulheres não estão diretamente relacionadas ao gerar ou não filhos em seus corpos. As diferenças estatísticas e absolutas entre homens e mulheres são iguais em todo o mundo, mas as diferenças de papéis sociais entre homens e mulheres são parcialmente determinadas pelas restrições biológicas. Toda sociedade reconhece muitos comportamentos, não imediatamente associados com a procriação, mas como sendo mais ou 40 menos adequados para homens e mulheres, mas a definição de quais destes comportamentos são mais adequados para homens e mulheres altera de uma sociedade para outra. Comportamentos considerados femininos ou masculinos diferem não apenas em sociedades tradicionais, mas também entre sociedades modernas. Isto se revela principalmente como homens e mulheres exercem determinadas profissões. Em relação a comportamentos, esperase que homens sejam mais assertivos, competitivos e rígidos; mulheres, por sua vez, estariam mais preocupadas em cuidar do lar, dos filhos e das pessoas em geral. Projetando esses comportamentos para o ambiente de trabalho, equivaleriam a entender os esforços masculinos em manter a assertividade e competição e do lado feminino, a busca por cuidados e preocupações com os relacionamentos duradouros. A visão sobre padrões de gênero reflete-se diariamente pela mídia, inclusive sobre programas de televisão, filmes, livros infantis, jornais e publicações femininas. Dependendo da sociedade, a determinação do papel de cada gênero pode ser mais ou menos acentuada. Na dimensão referente à prevenção de incerteza, Hofstede et al. (2010) retomam inicialmente a questão da ansiedade, que expressa um estado de intranquilidade em relação ao que pode acontecer. De acordo com os dados da pesquisa realizada com funcionários da IBM, Hofstede et al. (2010) afirmam que o grau de ansiedade varia de acordo com o país, ou seja, algumas culturas são mais ansiosas do que outras. Culturas ansiosas tendem a ser culturas expressivas; ocorrem em lugares em que as pessoas gesticulam muito e tendem a elevar o tom de voz para mostrar as próprias emoções e bater o punho na mesa para enfatizar algo. A prevenção de incerteza relaciona-se com ansiedade da sociedade em relação a diversas questões: saúde, família, educação, empregabilidade, o que também varia conforme a cultura. Longo prazo versus curto prazo é a dimensão resultante do estudo realizado por Minkov (2007) com dados da pesquisa mundial sobre valores (WVS), a qual foi incorporada por Hofstede et al. (2010) na revisão da obra originalmente publicada em 1991 (HOFSTEDE; HOFSTEDE, 1991). Os dados obtidos pela WVS indicam que a relação entre orgulho e religiosidade se correlacionam em nível nacional. Nações com elevados percentuais de pessoas que se afirmam orgulhosas de seus países, ou que mantêm seus objetivos pessoais tendem a ser muito religiosas. Orgulho e religiosidade constituem uma forte dimensão cultural. Indulgência versus restrição estabelece a relação entre universalismo e exclusivismo, como variante do individualismo versus coletivismo, conforme Hofstede et al. (2010). 41 Estabelece-se a correlação em níveis nacionais de indicadores de felicidade, daqueles que podem ter a liberdade de conduzir as próprias vidas, sem restrições sociais que ameacem a liberdade de escolha. O lazer entra como perspectiva de valor pessoal. Assim, a correlação ocorre nas associações entre felicidade, controle sobre a própria vida, importância de lazer. Hofstede et al. (2010) concluem seu estudo estabelecendo uma reflexão acerca do processo de evolução cultural, que não se restringe apenas à evolução material, há, na verdade, transformações nas sociedades no que diz respeito à própria cultura. A cultura se adapta às circunstâncias ecológicas e estas têm mudado bastante também, segundo Hofstede et al. (2010), fazendo com que a evolução cultural seja inevitável e dependa da relação com outras variáveis para se constituir e se transformar. Além da proposta de Hofstede et al. (2010), há o projeto sobre liderança global e eficácia de comportamento organizacional, tradução correspondente de Global Leadership and Organization Behavior Effectiveness (GLOBE), resultante de uma pesquisa envolvendo mais de 17.370 gerentes médios de 951 organizações de três indústrias (finanças, processamento de alimentos e telecomunicações) em 62 sociedades do mundo. Mais de 160 cientistas sociais, além de acadêmicos da área de gestão eram provenientes de diferentes partes do planeta e estiveram envolvidos na realização de estudos sobre liderança cultural internacional. Os objetivos do projeto GLOBE consistiam em desenvolver empiricamente, com base em teorias, para escrever, compreender e prever o impacto de variáveis culturais específicas da eficácia da liderança e das culturas das organizações nas sociedades. GLOBE define cultura como motivos compartilhados, valores, crenças, identidades e interpretações de eventos significativos, que resultam de experiências comuns dos membros de uma sociedade e são transmitidos no decorrer das gerações. (JAVIDAM et al., 2005) A pesquisa resultante do projeto GLOBE apresenta dados de nove dimensões culturais (orientação de desempenho, orientação futura, igualdade entre gêneros, assertividade, individualismo e coletivismo, distância de poder, orientação humana, prevenção de incerteza) em 62 sociedades analisadas. Cada dimensão foi medida a partir de duas perspectivas e dois níveis. Primeiramente, os entrevistados respondiam sobre como eles avaliavam cada uma das nove dimensões culturais. Também descreviam até que ponto colocavam em prática cada uma das nove dimensões culturais. Além disso, foram orientados a responder em dois níveis: em relação à sua sociedade e às suas organizações (JAVIDAM et al., 2005). 42 Ghemawat (2001) elabora uma estrutura conhecida pela denominação CAGE, para analisar todos os aspectos envolvidos na distância cultural. CAGE é o acrônimo em inglês composto das expressões Cultural distance (distância cultural), Administrative distance (distância administrativa), Geographic distance (distância geográfica), Economic distance (distância econômica). O quadro 3 refere-se à estrutura CAGE, na qual na parte superior constam os atributos-chave subjacentes às quatro dimensões de distância; a parte inferior do quadro refere-se à maneira como as dimensões de distância afetam diferentes produtos e indústrias. Quadro 3 - Estrutura CAGE Cultural Administrativa Diferentes idiomas Ausência de laços Diferentes etnias coloniais Diferentes religiões Ausência de associação Diferentes normas política ou monetária sociais Hostilidade política Políticas governamentais Fragilidades institucionais Produtos têm alto conteúdo linguístico (televisão) Produtos afetam a identidade cultural ou nacional dos consumidores (alimentos) Características do produto variam quanto a: Tamanho (carros) Eletroeletrônicos Embalagem Produtos contêm associações específicas de qualidade relacionadas ao país (vinhos) O envolvimento do governo é alto nas indústrias que: Produzem materiais elétricos Produtos com outras nomenclaturas (medicamento) Fornecedores para o governo de transportes coletivos Telecomunicações é vital para o governo Exploração dos recursos naturais Geográfica Distância física Falta de fronteiras comuns Falta de acesso fluvial ou marítimo Tamanho do país Precariedade no transporte ou na comunicação Diferenças climáticas Produtos são frágeis ou perecíveis Comunicações e conectividade são importantes (serviços financeiros) Exigências de supervisão local ou operacionais são elevadas (muitos serviços) Econômica Diferenças nas rendas dos consumidores Diferenças nos custos e na qualidade de: Recursos naturais Recursos financeiros Recursos humanos Infraestrutura Investimentos intermediários Conhecimento ou informação Natureza da demanda varia conforme o nível de renda (carros) Economias de padronização em escala são importantes (telefones celulares) Destacam-se diferenças com custo de mão de obra Distribuição ou sistemas de negócios são diferenciados (seguros) Empresas precisam ser ágeis (eletrodomésticos) Fonte: Adaptado de Ghemawatt (2001, p. 140) Ghemawatt (2001) defende que a distância entre dois países pode se manifestar em quatro dimensões básicas: cultural, administrativa, geográfica e econômica. Os tipos de 43 influência diferenciam os negócios de diversas maneiras. A estrutura CAGE, com cada uma das suas dimensões os problemas envolvidos em cada um dos tipos de distância. 3. PANORAMA DOS ARTIGOS SELECIONADOS Neste capítulo, estabelecem-se, em um primeiro momento, considerações sobre três estudos estruturados na metodologia de meta-análise: teoria de custos de transação, aspectos institucionais, influências culturais, tendo cada um deles a abordagem centrada nos seguintes eixos: teoria de custos de transação e modo de entrada; teoria de custos de transação, aspectos institucionais e sua influência na decisão do modo de entrada; distância cultural e modo de entrada. O intuito é situar os contextos de pesquisa presentes em cada um desses artigos, bem como observar como a análise sistemática é conduzida em cada um deles. Em seguida, passa-se a analisar a proposta do modelo expandido sugerida por Brouthers (2002), tomando-se por referência também outros artigos deste mesmo autor (BROUTHERS et al., 2003; BROUTHERS; HENNART, 2007; BROUTHERS, 2013), a fim de observar como se mantém a proposta de defender a ideia de escolha do modo de entrada a partir de outros fatores paralelos à tradicional abordagem de teoria de custos de transação. Além dos artigos estruturados em meta-análise, descrevem-se outros, em ordem cronológica de publicação, que constam da amostra de 86 artigos selecionados para a presente dissertação, para se prover uma visão panorâmica acerca da diversidade de foco e procedimentos para tratar de assuntos relacionados direta ou indiretamente aos três tipos de influência apontados nesta pesquisa na escolha e definição de modo de entrada, isto é, teoria de custos de transação, aspectos institucionais e distância cultural. 3.1. Meta-análise em artigos sobre custos de transação e modo de entrada Conforme sinalizado anteriormente, discute-se a seguir os aspectos inerentes às abordagens de três estudos meta-analíticos, cada qual priorizando os fatores relativos à teoria de custos de transação, aspectos institucionais e distância cultural no modo de entrada. 44 Especificamente, trata-se dos artigos de Zhao et al. (2004), Geyskens et al. (2006) e Tihanyi et al. (2005). 3.1.1. Determinantes de custo de transação e modo de entrada com base em recursos próprios na visão de Zhao et al. (2004) Zhao et al. (2004) realizam uma meta-análise dos determinantes de custos de transação e decisão de propriedade no modo de entrada. Com base em 106 tamanhos de efeito em 38 estudos, a meta-análise indica que os achados dos estudos consultados são moderados em graus variados, na combinação de determinantes de custos de transação. Os autores discutem as implicações dos resultados em especial efeitos moderadores de localização, país de origem, tipo de indústria, dados estatísticos, adequação de medidas, equivalência, multidimensionalidade de determinantes de custos de transação, além de sugerirem pesquisas para verificações na decisão do modo de entrada. A meta-análise de Zhao et al. (2004) tem como cerne determinantes relativos a custos de transação delimitados pela decisão de modo de entrada por meios próprios (cujo termo em inglês é ownership-based entry mode – OBE), uma vez que este tipo de entrada, a qual também será referida aqui pelo acrônimo em inglês OBE, representa formas de investimento mais complexas do que modos de entrada por contratos (exportação, licenças, franchising). Zhao et al. (2004) obtiveram a amostra dos artigos para realizar a meta-análise na busca na base de dados ABI/Inform com palavras-chave diversas na literatura publicada no período de 1986 a 2002. A justificativa de escolha para este período se deve ao fato de não ter havido antes de 1986 pesquisas sobre a relação entre fatores da teoria econômica de custos de transação (em inglês, transaction cost economics - TCE). Isto ocorre a partir da publicação do artigo seminal de Anderson e Gatignon (1986). Além disso, Zhao et al. (2004) realizaram buscas nos periódicos Journal of International Business Studies, Management International Review, Academy of Management Journal e Strategic Management Journal. Os critérios adotados para a meta-análise dos estudos selecionados foram: 45 1. A variável dependente deve conter modo de entrada por meios próprios (OBE) no contexto internacional; 2. O estudo identificado deve ser conduzido em uma firma subsidiária não industrial; 3. As variáveis de previsão devem incluir determinantes da teoria econômica de custos de transação (TCE). Zhao et al. (2004) adotaram como referência o estudo de Anderson e Gatignon (1986) como marco teórico para classificação das variáveis dos estudos em constructos de TCE. As variáveis que explicam a TCE que representam a especificidade dos ativos e incertezas também foram incluídas. O processo englobou 38 estudos no total de 106 coeficientes incluídos para a metaanálise. No que se refere aos resultados estatísticos da amostra, a tabela 1 (ZHAO et al., 2004) apresenta informações de cada estudo sobre o tamanho da amostra, tipo de indústria, mensurações de OBE, país de origem das amostras dos estudos, localização, métodos de coleta de dados. O tamanho da amostra varia de maneira significativa, abrangendo de 25 a 2827 subsidiárias, mas os estudos descrevem uma amostra maior de 150. Em 51% dos estudos as firmas são de produção e somente 24% são de serviços. 41% das firmas são dos EUA, mas na época já havia uma tendência crescente de empresas de origem japonesa e europeia. A Tabela 1 (ZHAO et al., 2004) apresenta variações consideráveis e inconsistências na relação entre fatores TCE e OBE nos diferentes estudos. Entre os vários efeitos de TCE não tiveram efeitos significativos ou efeitos diversificados. Muitos estudos estabelecem a conjectura de que alta incerteza desestimula as empresas na escolha de formas reduzidas de propriedade, uma vez que a experiência internacional é determinante-chave para a escolha do modo de entrada. 46 Tabela 1 - Estatística Descritiva de Amostras de Meta-Análise Fonte: ZHAO et al. (2004, p. 529). 47 Na tabela 2 constam os tamanhos de efeito combinados de cada variável da TCE fixada para o tamanho da amostra. Nos resultados agregados, não há influência significativa de modo de escolha por meios próprios nos seis determinantes estabelecidos pelos P-valores. Os valores para risco-país (country risk - CR) e experiência internacional (international experience - IE) foram respectivamente de –0,109 e 0,101. De um modo geral, o risco país parece ser o determinante que mais influencia a decisão por entrada por meios próprios (OBE) e o a distância cultural (cultural distance - CD) é o fator de menor importância (tamanho de efeito = -0,029) entre os seis determinantes. Tabela 2 - Tamanhos de efeito combinados e teste zero Fonte: Zhao et al. (2004, p. 530) De maneira geral, os efeitos moderadores de localização, país de origem e tipo de indústria sugerem preocupações sobre a generalização de determinantes da TCE. Os efeitos da TCE e distância cultural, experiência internacional variam significativamente dependendo do país de origem da matriz. Grandes tamanhos de efeito são consistentes quando associados com a amostra do país de origem da firma. Empresas localizadas nos EUA ou que são originárias dos EUA apresentam uma forte associação entre variáveis TCE e OBE do que outras empresas. Isto sugere que há variáveis de TCE e OBE que interferem consideravelmente em firmas originárias dos EUA. Na sequência do artigo, Zhao et al. (2004) analisam os efeitos moderadores de país de origem, localização, tipo de indústria e dos dados estatísticos. Em seguida, refletem sobre os determinantes da TCE e as mensurações obtidas. No que tange às mensurações, Zhao et al. (2004) as reportam quanto à adequação, equivalência, além de situarem a multidimensionalidade dos constructos de teoria de custos de transação e realizarem ao final a 48 integração das perspectivas teóricas. Na conclusão do artigo Zhao et al.(2004) destacam que desde o primeiro estudo empírico feito por Williamson (1975), a TCE rapidamente se tornou um paradigma de pesquisa que norteou estudos em diversos campos, mais de 600 artigos conforme Boerner e Macher (2001). Com o uso de uma abordagem meta-analítica, Zhao et al. (2004) fizeram a revisão quantitativa de fatores relacionados à TCE na literatura de negócios internacionais que refletiam especificidade de ativos (intensidade em pesquisa e desenvolvimento), incerteza externa (risco-país), incerteza interna (distância cultural e experiência internacional) afetando a decisão do OBE. De um modo geral, a meta-análise valida esses determinantes conforme estabelecidos pela TCE e demonstram que os seis determinantes da TCE têm influência no nível agregado de escolha por OBE de acordo com as hipóteses de muitos estudos publicados. Com base em críticas à TCE e nas descobertas de Zhao et al. (2004) denota-se que embora a TCE forneça contribuições para o entendimento da decisão do modo de entrada, apresenta limitações. Nas sugestões para estudos futuros, Zhao et al. (2004) ressaltam a importância de se associar a lógica da TCE com expansão internacional no sentido de se buscar a especificidade, a réplica e expansão de negócios. Em geral os estudos referentes a modos de entrada são fragmentados e dispersos ao especificar os constructos de TCE; muitos desses estudos definiram em mensuraram esses constructos de maneiras bem diferentes, sendo difícil realizar uma conclusão generalizada. Zhao et al. (2004) propõem uma unificação e uniformização de um conjunto de constructos da teoria de custos de transação para outras populações, períodos de tempo, áreas geográficas e contextos que não só melhoram a generalização mas também garantem um poder de previsão da teoria de custos de transação. Paralelamente a isso, Zhao et al. (2004) sugerem que a TCE não é apenas uma das perspectivas válidas para explicar as decisões de modo de entrada. Ampliando-se as investigações empíricas e teóricas em torno do paradigma da TCE e integrando-o a outras teorias relacionadas como a teoria baseada em recursos, em conhecimento e em propriedadelocalização-internalização (ownership – location – internalization – OLI) isto geraria uma expansão significativa das pesquisas em âmbito internacional. Zhao et al. (2004) também salientam que a TCE tem sido tratada como lógica dominante para explicar o tempo de entrada, assim como a especificidade de ativos, incerteza externa e outros fatores na decisão em processo. Entretanto, estes fatores associados à TCE podem ser insuficientes para explicar na totalidade o comportamento ao longo do processo 49 porque eles não revelam os insights do retorno do mercado e oportunidades em vista. Em casos como este, é importante atrelar a teoria de custos de transação com a de OLI, ou com as teorias sobre diversificação e vantagem competitiva. De maneira semelhante, a TCE tem sido rigorosamente utilizada para explicar o processo evolutivo da internacionalização, inclusive os efeitos da experiência e da distância cultural na expansão internacional. A meta-análise de Zhao et al. (2004) confirmou a adequação e confiabilidade da experiência internacional e a distância cultural como construtos para mensurar a incerteza interna. Isto pressupõe que a experiência internacional e a distância cultural não são apenas aspectos principais que oferecem riscos no âmbito externo, conforme defendido na visão evolucionista, mas também capta a incerteza do ponto de vista interno da firma. Estas observações junto a aspectos importantes como risco-país e especificidade de ativos, além do efeito moderador do país de origem confirmam uma visão robusta dos meios para expansão internacional. Acrescentando-se a isso, os resultados da meta-análise de Zhao et al. (2004) sugerem que a alocação de recursos para a expansão internacional deveria levar em consideração não apenas a minimização de custos de transação (conforme referido pela importância da especificidade de ativos e incerteza externa) mas também pela exploração de recursos em uma localização promissora (a partir do que se denota pelo efeito moderador da localização e da indústria). Zhao et al. (2004) apresentam como proposta para investigações futuras a questão da alocação de recursos, articulada com um estudo integralizando a visão baseada em recursos, teoria institucional e TCE. Diferentes naturezas e tipos de conhecimento associados com a escolha de OBE pode tanto aumentar quanto diminuir o grau de incerteza interna e variações nas distâncias institucionais podem alterar a preferência das firmas na opção por OBE. Também se destaca na parte final do artigo de Zhao et al. (2004) que, metodologicamente, as pesquisas futuras deveriam melhorar a seleção de amostra, a coleta de dados e a solução de questões suscitadas pela pesquisa de Zhao et al. (2004). A seleção de amostras em estudos subsequentes deveria envolver empresas de tamanhos variados em localizações múltiplas tanto dentro de um determinado mercado quanto em mercados múltiplos. Isto pode auxiliar na redução da discrepância entre firmas grandes e equilibrar os efeitos moderadores de especificidade de localização e país de origem conforme revelado pelo estudo de Zhao et al. (2004). Os dados coletados foram praticamente exclusivos no nível da firma. Estudos futuros deveriam envolver dados de ordem contratual, uma vez que as premissas-chave de TCE estão centradas 50 nos contratos de transação. Confiança nos dados das firmas pode obscurecer detalhamentos nas informações sobre propriedades de transação ancoradas no modelo de TCE. No que se refere ao desenho da pesquisa, estudos futuros podem ser feitos no cruzamento longitudinal de investigações sobre amostras selecionadas. Zhao et al. (2004) defendem a importância de estudos longitudinais para discernir dois fenômenos comumente negligenciados para OBE: sequência da entrada e alternância de modo. É compreensível que a sequência de entrada em um mercado externo possa ser regulamentada pela alteração no grau de importância das propriedades de TCE no decorrer do tempo (por exemplo, o valor de um ativo de propriedade específico por um entrante externo pode diminuir com o passar do tempo). Também as empresas estão propensas a alternar de um modo de entrada para outro conforme alterações de natureza de pareceria ou ambiente institucional (por exemplo, governos em alguns países liberalizam ou estreitam o controle de propriedade de firmas investidoras externas). No conjunto com o desenho longitudinal, tanto teorias de perspectiva evolutiva quanto de opção estratégica podem oferecer contribuições valiosas em complementação ao paradigma da TCE. Na parte final do artigo, Zhao et al. (2004) afirmam que o método adotado em sua pesquisa contém limitações. A meta-análise é informativa e as estimativas sem discrepâncias de relacionamentos entre populações de amostras dos estudos empíricos coletados, mesmo após correção de artifícios estatísticos variados, têm limites, tal como a incapacidade de se capturar todos os fatores heterogêneos associados com diferentes populações, características de pesquisa contidas em amostras para meta-análise. 3.1.2. Meta-análise de decisões organizacionais e teoria de custos de transação na perspectiva de Geyskens et al. (2006) Geyskens et al. (2006) realizam uma extensa revisão bibliográfica sobre a literatura existente sobre teoria de custos de transação destacando hipóteses nos seguintes contextos: teoria de custos de transação e governança hierárquica; teoria de custos de transação e governança relacional; teoria de custos de transação e desempenho. Além disso, Geyskens et al.(2006) conduziram duas análises de moderadores exploratórios. Primeiramente, avaliaram- 51 se diferenças na operacionalização de variáveis em estudos individuais como contribuição para a meta-análise. Essencialmente, testaram-se diferenças em relacionamentos em focos específicos em relação a quatro dos seguintes constructos de teoria de custos: especificidade de ativos, governança hierárquica, governança relacional e desempenho. A meta-análise elaborada por Geyskens et al. (2006) se constrói e amplia o estudo de David e Han (2004) de diversas formas. Como um dos primeiros procedimentos, há a sumarização quantitativa de duzentos artigos sobre diversas disciplinas, um número comparado favoravelmente com os 63 artigos analisados por David e Han (2004). A abordagem proposta por Geyskens et al. (2006) refina o estudo de David e Han (2004) ao incorporar o grau de sustentação (por exemplo, coletivamente cinco valores-p de 0,06 constituem uma evidência mais forte de relacionamento do que os valores-p de 0,45); desta forma, Geyskens et al. (2006) conseguem fornecer informações quanto à magnitude desses efeitos. Geyskens et al. (2006) estruturaram em quatro fases a coleta de dados para identificação dos estudos (artigos, capítulos de livros e relatórios não publicados) como fontes para meta-análise. Recorreram, inicialmente, às bases de dados ABI/INFORM Global e EconLit, inserindo como palavras-chave, “transaction cost”, “organization”, “governance”, “opportunism”, “rationality”, “integration”, “uncertainty”, “asset specificity” entre outras (GEYSKENS et al., 2006). A elaboração da meta-análise envolveu diferentes decisões em relação à forma de tratamento dos estudos. Geyskens et al. (2006) restringiram a abordagem de teoria de custos de transação a decisões de elaboração, compra ou de aliança (make, buy or ally decisions). A investigação de Geyskens et al. (2006) estabelece-se também no relato de relacionamentos entre os seguintes constructos: especificidade de ativos, graus de incerteza tecnológica, comportamental, hierárquica, governança, governança relacional e desempenho. Somando-se a isto, relatam-se também as relações entre os constructos a partir de uma ou mais variáveis de controle: intensidade da concorrência, munificência ambiental e tamanho da firma. Os cálculos da meta-análise de Geyskens et al. (2006) foram conduzidos com base na abordagem de Hunter e Schmidt (1990) que permite a correção de dados estatísticos e fornece uma estimativa precisa da média e variância de relações na população em análise. A correção foi obtida em: erros de amostra, mensuração de erro na variável dependente, dicotomia de 52 variável dependente contínua, dicotomia de variável independente contínua, restrições na escala de variável dicotômica dependente e correções nos desvios de coeficientes de correlação na mensuração da correlação de populações. A tabela 3 contém os resultados da meta-análise para relacionamentos focais com as seguintes variáveis dependentes: governança hierárquica versus governança de mercado, governança relacional versus governança de mercado e desempenho. Tabela 3 – Resultados meta-analíticos para relacionamentos focais Fonte: GEYSKENS et al. (2006, p. 528). Na tabela 4 (GEYSKENS et al., 2006) há uma matriz de correlação meta-analítica. Cada célula da matriz representa uma meta-análise individual. Assim, a tabela 4 é o resultado de 44 meta-análises individuais. Cada entrada na matriz contém uma amostra de determinado tamanho, coeficiente de correlação médio para os dados, desvio-padrão, tamanho total da amostra para cada correlação (N) e número de amostras incluídas na proporção média (k). 53 Tabela 4 - Matriz de Correlação Meta-Analítica Fonte: GEYSKENS et al., 2006, p. 529. Uma das contribuições do estudo de Geyskens et al. (2006) é a realização de uma meta-análise envolvendo 200 artigos sobre teoria de custos de transação, representados por 209 amostras independentes e 557 correlações. Acrescente-se a este processo a demonstração de que a abordagem de teoria de custos pode ser utilizada para explicar modos de governança relacional, resultado que difere do estudo de David e Han (2004), no qual se conclui que a teoria de custos é menos eficiente em prever a escolha entre governança relacional e governança de mercado do que prever a escolha da hierarquia sobre os mercados. 3.1.3. Meta-análise de efeitos da distância cultural na escolha do modo de entrada, diversificação internacional e desempenho de multinacionais na visão de Tihanyi et al. (2005) Tihanyi et al. (2005) elaboram uma meta-análise do efeito da distância cultural na decisão do modo de entrada, diversificação internacional e desempenho de empresas multinacionais. Destacam, logo no início, que há uma vasta literatura demonstrando que a distância cultural seja determinante nas ações organizacionais e exerça impacto no desempenho das firmas. Neste estudo, as relações entre distância cultural, escolha de modo de entrada, diversificação internacional, desempenho das multinacionais são examinadas pela meta-análise de dados de 66 amostras independentes, com tamanhos de amostra cumulativos que variam de 2.255 a 24.152. Resultados da regressão falharam na evidência estatística significativa de relacionamentos significativos entre distância cultural e escolha de modo de entrada, diversificação internacional e desempenho das multinacionais. O exame dos efeitos moderadores, contudo, revelaram resultados importantes. Houve uma forte associação negativa entre distância cultural e decisão de modo de entrada em multinacionais dos EUA. A 54 relação entre distância cultural e diversificação internacional foi negativa em indústrias de alta tecnologia, porém foi positiva em outros tipos de indústria. Distância cultural também teve efeito muito positivo no desempenho de multinacionais para investimentos em países desenvolvidos. De maneira semelhante, houve uma relação fortemente positiva entre distância cultural e diversificação internacional em estudos com amostras mais recentes. Os resultados do estudo, todavia, apontam a necessidade de realização de mais pesquisas para melhor compreensão do papel da distância cultural. Em relação à escolha do modo de entrada, Tihanyi et al. (2005) afirmam que há a tendência em estudos acadêmicos de atribuírem a decisão do modo pela quantidade de investimento envolvida. Joint ventures e subsidiárias com controle próprio (WOS) tendem a representar entradas de mercado pelo tipo de investimento. Um ponto de partida teórico é que quanto maior a distância cultural entre o país de origem e o mercado externo, maior o nível de investimento na decisão de modo de entrada. Em função dos elevados percentuais em propriedade dos investimentos, as MNEs são capazes de estabelecer maior controle de suas operações internacionais, diminuindo as diferenças nos valores culturais e nos aspectos institucionais. O aumento do controle pode promover melhorias sociais nas transações entre os marcados. Níveis mais elevados de controle também levam a aumentos na eficácia da operação de uma MNE. Neste contexto, Tihanyi et al. (2005) apresentam sua primeira hipótese de pesquisa: H1a: Distância cultural está relacionada de maneira positiva com níveis mais elevados de investimento na escolha do modo de entrada. Entretanto, Tihanyi et al. (2005) também salientam que embora o controle seja algo importante a ser levado em consideração, a escolha do modo de entrada em relação à distância cultural também pode servir de explicação para redução de riscos para as MNEs. Ao tomarem como base o estudo de Brouthers e Brouthers (2003), Tihanyi et al.(2005) afirmam que as MNEs preferiam joint ventures a subsidiárias com controle próprio (WOS) quando realizavam entrada em mercados com níveis elevados de incerteza (Europa Central e Europa Oriental). Ao adotarem joint venture como modo de entrada, as MNEs conseguem reduzir seus recursos e também o risco de exposição em mercados muito distantes no aspecto cultural. Conforme Tihanyi et al. (2005), estudos de Barkema et al. (1997) e Barkema e Vermeulen 55 (1998) afirmam que uma grande distância cultural está associada a modos de entrada com base em baixos percentuais de propriedade de investimentos. A partir dessas observações, Tihanyi et al. (2005) apresentam mais uma hipótese: H1b: Distância cultural está relacionada de maneira negativa com níveis mais elevados de investimento na escolha do modo de entrada. Paralelamente à análise da distância cultural, o estudo de Tihanyi et al. (2005) contém observações acerca da diversificação internacional, que abrange um conjunto de operações no mercado externo como vendas, ativos, subsidiárias no contexto da MNE. Afirma-se que pela diversificação internacional, as MNEs podem obter novos recursos e transferir parte de suas competências para novos mercados. A fim de evitar complexidades potenciais associadas a diferenças nos valores e instituições entre o país de origem e o país-anfitrião, as MNEs inicialmente selecionam localidades com semelhanças culturais para seus investimentos diretos. Nesse sentido, Tihanyi et al. (2005) formulam três outras hipóteses relativas à distância cultural: H2: Distância cultural se relaciona de maneira positiva com a diversificação internacional das MNEs; H3a: Distância cultural se relaciona de maneira negativa com o desempenho das MNEs; H3b: Distância cultural se relaciona de maneira positiva com o desempenho das MNEs. Conforme Tihanyi et al. (2005), nos 67 artigos referentes à distância cultural 55 estabeleciam correlação entre distância cultural e escolha de modo de entrada, diversificação internacional e desempenho. Uma dificuldade encontrada com os dados secundários foi o uso de diferentes mensurações para o mesmo constructo. Segundo Tihanyi et al. (2005), grande parte dos estudos utilizam a mesma medida de distância cultural, o que favorece oportunidade para realização de meta-análises mais robustas. A distância cultural foi medida com uso da medida de distância euclidiana (KOGUT; SINGH, 1988) nas 55 amostras independentes. A escolha do modo de entrada foi medida pela quantidade de capital investido, posição dos investimentos e nível de controle em joint ventures, aquisições, investimentos greenfield. A diversificação internacional foi medida pelos estudos como vendas para o exterior divididas pelo total de vendas, ativos estrangeiros pelo total de ativos e número de subsidiárias no exterior como porcentagem do número total de subsidiárias. As medidas de desempenho 56 incluíam retorno dos investimentos, retorno dos ativos e medidas baseadas em resultados de entrevistas para medir desempenho. Os resultados do estudo realizado por Tihanyi et al. (2005) indicam que as MNEs com base nos EUA tendem a dedicar quantidades menores de capital e a manter posições mais baixas nos investimentos em países que apresentam distâncias culturais mais elevadas. Os autores argumentam que isto seja possível devido ao sistema de governança dos EUA em que as empresas estejam avessas a riscos na decisão do modo de entrada. Em relação a associação entre distância cultural e diversificação internacional, Tihanyi et al. (2005) afirmam que há uma relação positiva , porque as MNES colocam sua produção e ganham participação de mercado em economias emergentes e em transição. Isto mostra oportunidades para as MNEs com culturas nacionais frequentemente diferentes de outras, mas devido ao aumento de conhecimento proporcionado pela tecnologia da comunicação, há uma possibilidade de diversificação em países com culturas diferentes. Na conclusão do artigo, Tihanyi et al. (2005) afirmam que os resultados da metaanálise forneceram evidências de efeitos diretos sistematizados da distância cultural. Entretanto, pelos moderadores da meta-análise, como os instrumentos de mensuração utilizados, a origem da MNE, o tipo de indústria, país de investimento, e amostra pelo tempo forneceram insights para pesquisas mais rigorosas, inclusive sobre os efeitos de distância cultural nas estratégias internacionais e desempenho das MNEs. 3.2. Modelo expandido de Brouthers (2002) O artigo de Brouthers (2002) analisa a decisão do modo de entrada e o desempenho em uma amostra de empresas da união europeia; ao examinar tanto os indicadores financeiros e não financeiros de desempenho, investiga se as firmas selecionadas têm sua decisão de modo de entrada baseada em custos de transação, em contextos institucionais e variáveis de contexto cultural, bem como seu desempenho em relação a outros modos de entrada. Logo na abertura do texto, há a afirmação de que as empresas que optaram pelo modo de entrada com base no modelo de custo de transação tiveram uma atuação significativamente melhor tanto 57 nos indicadores financeiros e não financeiros em relação a outras, em cujos modos de entrada não puderam ser previstos por outros contextos além do modelo de custos de transação. Em um primeiro momento, Brouthers (2002) delineia um panorama da literatura sobre seleção de modo de entrada internacional em que a maioria dos artigos pesquisados se concentra em fatores ligados aos custos de transação. Destacam-se nesta análise os pesquisadores que resolveram incluir outras variáveis de contexto cultural e institucional às teorias de custos de transação para compreender a decisão do modo de entrada. Brouthers (2002) retoma um de seus trabalhos publicados anteriormente para defender que as variáveis de contextos culturais devem ser adicionadas aos modelos baseados em custos de transação, uma vez que tais variáveis influenciam custos gerenciais e avaliações de graus de incerteza em mercados em que se pretende atuar. Todavia, a discussão é gradual; avaliam-se os estudos fortemente centrados no uso da teoria de custos de transação como forma de descobrir, negociar e monitorar ações de parceiros potenciais na decisão de modo de entrada. Além disso, defende-se que a teoria de custos de transação leva em conta o fato de a firma se beneficiar de economias de escala de um determinado mercado. Paralelamente a essas questões, Brouthers (2002) salienta que uma empresa pode se deparar com aumento nos custos de busca e de negociação em um mercado em que os acordos apresentam dificuldades de estimativa em prever as contingências e também em ter um preço justo devido a problemas de desencontros de informação. O objetivo do artigo de Brouthers (2002) é proporcionar o entendimento do impacto dos custos de transação, das variáveis de contexto institucional e cultural na decisão do modo de entrada e de desempenho. Fornece, primeiramente, uma avaliação teórica e empírica em um trabalho de coautoria (BROUTHERS; BROUTHERS, 2000) e também o de Delios e Beamish (1999), ao determinar que a escolha do modo de entrada se baseia em contextos institucionais, culturais assim como as variáveis de custos de transação. Posteriormente, analisa o valor normativo do modelo expandido de custos de transação ao comparar o desempenho financeiro e não financeiro das escolhas de modo previstas pelo modelo de custos de transação expandido com o desempenho de outros modos. Ao realizar a revisão da literatura sobre escolha do modo de entrada, Brouthers (2002) afirma que pesquisas anteriores tendiam a se concentrar apenas na teoria de custos de transação nas decisões de modo de entrada e como exemplo, cita os trabalhos de Makino e 58 Neupert (2000), Taylor et al. (1998), Cleeve (1997), Erramilli e Rao (1993); Hennart (1991); Gatignon e Anderson (1988); Anderson e Gatignon (1986). As variáveis de custos de transação referiam-se aos custos de integração de uma operação da empresa na comparação com os custos do uso de uma participação externa para atuar pela firma em um mercado externo, retomando o estudo de Williamson (1985). Conforme a discussão proposta por Brouthers (2002), custos de transação abrangem os cursos de procura e negociação com um parceiro adequado, além dos custos com monitoramento e performance da firma parceira. Adota como referência para esta definição os trabalhos de Makino e Neupert (2000); Aggarwal e Ramaswami (1992); Erramili e Rao (1993), Hennart (1991); Hill (1990); Gatignon e Anderson (1988) e Williamson (1985). Destaca, entretanto, que uma empresa pode ter aumento dos custos na busca e negociação em um mercado com base em acordos devido a dificuldades em prever as contingências de tais acordos ou pela falta de habilidade em obter um preço justo devido a problemas na obtenção de informações, em função de distância, falhas de comunicação entre outros (HILL, 1990; WILLIAMSON, 1985). Tendo em vista os problemas possíveis no modo de entrada internacional, Brouthers (2002) apresenta um conjunto de hipóteses que incluem outras variáveis paralelas às de custos de transação. Constituem hipóteses de sua pesquisa, as quais recebem denominação de H1 a H6: H1: firmas percebem custos elevados de transação (na busca, negociação e monitoramento dos custos) em um mercado que tende a usar modos próprios, enquanto empresas que percebem custos baixos de transação tendem a usar joint ventures; H2: empresas que realizam investimentos elevados determinados tendem a usar modos próprios de entrada enquanto outras com baixos investimentos determinados tendem a adotar joint ventures; H3: organizações que entram em países com poucas restrições legais no modo de entrada tendem a usar modos próprios ao passo que outras que entram em países com muitas restrições legais no modo de entrada tendem a usar joint ventures; H4: companhias que entram em mercados com baixos riscos de investimentos tendem a adotar modos próprios enquanto as demais que entram em mercados com alto risco de investimento recorrem a joint ventures; 59 H5: firmas que entram em mercados em crescimento tendem a usar modos próprios de entrada, ao passo que outras que entram em mercados com crescimento de menor intensidade tendem a usar joint ventures. H6: Modos de entrada que podem ser previstos por contextos institucionais culturais e de custos de transação tendem a ter um desempenho melhor nos modos de entrada do que em modos de entrada em que não se preveem tais variáveis. Em relação à sexta hipótese, Brouthers (2002) trata da questão do modo de entrada aliada ao desempenho ressaltando que decisões predominantemente baseadas em custos de transação não fornecem a melhor decisão para desempenho, uma vez que se ignora valor agregado. Em seu detalhamento afirma que teoria de custos de transação ignora custos específicos de localização e também o retorno potencial de certas alternativas de decisão. Eis então por que o autor propõe um modelo de transação de custo expandido, ou seja, aquele que leva em conta as variáveis que influenciam o potencial de valor agregado em uma entrada internacional, como custos específicos de localização (risco de investimento e contexto institucional), e contextos culturais (perspectiva do potencial de mercado). Vale destacar que variáveis de contexto institucional examinam a habilidade de a empresa expandir ou de aumentar sua vantagem competitiva em mercados específicos. Em sua pesquisa, o autor descreve a metodologia e afirma que as hipóteses foram testadas em uma amostra de empresas selecionadas da comunidade europeia. Com o auxílio da base de dados AMADEUS buscou a seleção das 1000 maiores empresas da comunidade europeia. A base de dados AMADEUS contém informações financeiras e sobre firmas de mais de cem mil empresas da comunidade europeia, privadas, públicas, de setores de indústria e serviços. A coleta de dados iniciou-se em 1995. As maiores empresas da comunidade europeia foram determinadas pelos 12 países membros ao se diagnosticar as vendas anuais em 1993 e dos relatórios financeiros anuais mais recentes. Brouthers (2002) obteve um total de 213 questionários (21%) em um total de 178 em mercados estrangeiros (35 empresas não participaram do estudo). 121 questionários foram de empresas do setor da indústria e 57 eram de empresas de serviços. 109 (61%) eram de entradas por meios próprios, 47 (26%), realizaram entrada por joint venture, dez (6%) foram por acordos licenciados e 12 (7%) realizaram modos de exportação. Os respondentes fizeram investimentos em 27 países (em sua maioria países em desenvolvimento ou com economias em transição) e apenas dois países recebiam mais de 10% do investimento. Brouthers (2002) afirma que uma vez que a sua 60 proposta de teoria contém diversas mensurações de características de país-anfitrião (variáveis de contexto cultural e institucional), decidiu não incluir controles separados para cada paísanfitrião. Os dados coletados foram verificados pelos desvios em ausências de respostas e métodos comuns de variância. Primeiramente, utilizaram-se testes-t para estabelecer a média total na comparação de vendas mundiais e a de empregos mundiais com os dados da amostra dos respondentes. Os testes revelaram que não houve desvios significativos de não respostas. Brouthers (2002) afirma que duas variáveis dependentes foram incluídas em seu estudo. Primeiro, ao testar o modelo expandido de custos de transação, a variável dependente, modo de entrada, consistia de dois tipos de modo (subsidiárias próprias e joint ventures). Entradas por licença e exportação foram descartadas da análise porque era um número pequeno de respondentes em cada grupo. Ao se examinar as subsidiárias e as joint ventures, observou-se que eles eram consistentes com os estudos anteriores de custos de transação, assim como pesquisas no passado sobre desempenho no modo de entrada. O tipo de modo de entrada era determinado ao se perguntar para os entrevistados qual era o modo utilizado mais recentemente na entrada internacional. Eles tinham que escolher entre quatro tipos de modo: subsidiárias próprias (95% ou mais de propriedade), joint ventures (5% a 94% de propriedade), modos independentes (tal como acordos de licenciamento) ou exportação. Para obter mensurações subjetivas de desempenho do modo, os respondentes tiveram de avaliar três medidas de desempenho do modo: nível de vendas, lucratividade e crescimento das vendas. Também tiveram de avaliar quatro medidas não-financeiras: participação de mercado, marketing, reputação e acesso ao mercado. Brouthers (2002) declara que a análise fatorial confirmou que duas dimensões de desempenho do modo estiveram presentes: financeira (alfa = 0,82) e não financeira (alfa = 0,87). Custos de transação foram medidos por duas variáveis diferentes. Primeiramente, os custos de transação gerais incluíram um conjunto de duas questões do tipo Likert que examinavam os custos na procura e negociação com um parceiro potencial e os custos em fazer e garantir contratos no país-anfitrião, comparando-se com o mercado doméstico (alfa de Cronbach = 0,73). Depois a especificidade de ativos foi medida pela porcentagem de vendas gastas com pesquisa e desenvolvimento. 61 Incluíram-se duas variáveis de contexto cultural: potencial de mercado e risco de investimento. O potencial de mercado foi medido usando-se uma questão tipo Likert sobre o potencial do país-anfitrião. O risco de investimento foi medido por um conjunto de quatro questões do tipo Likert que avaliavam tanto a necessidade quanto o conhecimento específico da localização e a necessidade de diminuir comprometimento de recursos. Estas questões examinaram também o risco de converter e de repatriar lucros, riscos de nacionalização, similaridades culturais, estabilidade política, social e condições econômicas do país-anfitrião (alfa = 0,72). Nos achados da pesquisa, Brouthers (2002) afirma que realizou análise de regressão logística para determinar a validade da primeira à quinta hipótese (H1-H5) referentes ao modelo expandido de custos de transação. A regressão logística é utilizada, neste caso, porque a variável dependente (modo de entrada) é dicotômica. Antes de fazer a análise de regressão logística, Brouthers preparou o teste de correlação para verificar possíveis sinais de multicolinearidade (tabela 5). Conforme se observa na tabela 5, há vários relacionamentos estatísticos significativos. Entretanto, nenhum dos relacionamentos foi grande o suficiente para garantir preocupação com a multicolinearidade (BROUTHERS, 2002). Tabela 5 - Matriz de Corrrelação para Escolha do Modo de Entrada Fonte: Brouthers (2002, p. 212) 62 Os resultados da análise de regressão logística ao examinarem a escolha do modo estão presentes na tabela 6. A regressão logística foi significativa (p<0,01) e explicada pelos 76,19% dos modos de entrada selecionados, substancialmente maior que a taxa de escolha de 57%, comparando-se com os resultados apresentados por Hennart (1997). A regressão logística proporcionou suporte para um conjunto de hipóteses formuladas por Brouthers (2002). A primeira hipótese (H1) sobre custo de transação foi confirmada, pois as firmas perceberam que níveis mais elevados de custos de transação tendiam a usar modos próprios de entrada. Em relação ao contexto institucional, a hipótese 3 (H3) também foi confirmada, pois as firmas que entram em mercados caracterizados por restrições legais mais elevadas tendem a usar modos de joint venture. Finalmente uma das hipóteses de contexto cultural foi confirmada (H4), isto é firmas que percebiam níveis elevados de risco de investimento tendiam a usar modos de entrada por joint venture. Tabela 6 - Regressão Logística: escolha do modo de entrada Fonte: Brouthers (2002, p. 213) 63 Na tabela 7 o desempenho do modo financeiro aparece como significativo (p<0,0291, 2 r = 0,16) relacionado ao ajuste de modo de entrada (p<0,01), potencial de mercado (p<0,10) e tipo de modo (p<0,10). Especialmente, o autor destaca que as firmas relataram desempenho de modo mais elevada quando utilizaram o modo de entrada previsto pelo modelo expandido de custo de transação, quando entraram em mercados com maior potencial de mercado e quando utilizaram modos próprios. Tabela 7 - Análise de Regressão Fonte: Brouthers (2002, p. 214) Nas conclusões e avaliações das limitações do estudo, Brouthers (2002) sustenta que a pergunta se o modo de entrada utilizado pela firma afeta seu desempenho permanece sem resposta, pois apesar de um grande volume de estudos de modo de entrada, a maioria investiga somente os custos de transação relativos às variáveis. Além disso, os estudos tendem a examinar os critérios usados para selecionar o modo de entrada, mas ignoram suas implicações no desempenho da firma. Em relação às contribuições deste estudo de Brouthers (2002), estas se referem à prática de gestão. A primeira é a sinalização de um modelo que amplia o escopo da teoria de 64 custos de transação na seleção do modo de entrada, levando em conta variáveis de contexto institucional e cultural, buscando-se equilibrar a eficiência em custos de transação com critérios de valor agregado, principalmente de contextos culturais. Brouthers et al. (2003) publicam um artigo destacando vantagens da adoção de um modelo expandido de custos de transação na decisão do modo de entrada. Reforçam as implicações para o desempenho e salientam que empresas que adotam este modelo proposto têm desempenho melhor do que outras que usam outros modos de entrada. Na descrição da metodologia adotada, Brouthers et al. (2003) afirmam que a amostra consiste de empresas de diferentes bases de dados que realizam negócios com a comunidade européia. Duas variáveis dependentes foram utilizadas no estudo. A primeira variável dependente é a relação entre teoria de custos de transação e modos de entrada por joint venture ou subsidiárias próprias, inspirado em estudos anteriores de Hennart e Larimo (1998), Padmanabhan e Cho (1996) e Hennart (1991). A segunda variável dependente refere-se a desempenho, tratada na perspectiva de medidas de percepção do desempenho da firma. Brouthers et al. (2003) reforçam que uma das questões centrais da teoria de custos de transação é a especificidade de ativos têm impacto na eficiência nos custos de transação em estruturas alternativas de governança (WILLIAMSON, 1991). Na sequência, Brouthers et al. (2003) apresentam os resultados de decisão de modo de entrada, com uso de variáveis e nãovariáveis de custos de transação. As variáveis de custos de transação foram significativas em termos de especificidade de ativos e incerteza econômica (p< 0,05) como previsores de modo de entrada. Variáveis não relacionadas a custos de transação como tamanho da firma, experiência e restrições legais foram significativas (p< 0,05) no modo de escolha previsto. Na discussão sobre os resultados obtidos consta que as firmas que realizaram decisão do modo de entrada por um modelo expandido de custos de transação ficaram muito mais satisfeitas com o desempenho. Trata-se, então, de um modelo normativo, em que a seleção dos modos de entrada gera impactos na satisfação da firma. Entretanto, Brouthers et al. (2003) constatam que o estudo tem algumas limitações. Uma delas é o fato de a coleta de dados sobre modo de entrada ter sido realizada após a decisão pelo modo, o que pode gerar suspeita quanto à precisão das respostas e às ações gerenciais que modularam tais decisões, refletindose numa percepção ajustada. Além disso, as variáveis contêm erros na mensuração como, por 65 exemplo, em valores dos coeficientes alfa de variáveis abrangendo diversos itens para cada firma. Apesar de tais limitações, o estudo fornece contribuições tanto para literaturas de modo de entrada quanto de teoria de custos de transação, pois amplia o que tradicionalmente se conhece por modelos baseados em teoria de custos de transação no modo de entrada, saindo de uma condição meramente descritiva para uma base mais normativa. Certamente, a incorporação de variáveis de custos de transação em decisões de modo de entrada pode auxiliar a gestão na seleção de modos de entrada com melhor desempenho no mercado internacional. Brouthers e Hennart (2007) realizam um artigo sobre observações na pesquisa sobre modo de entrada internacional, especialmente em relação à maneira como ocorre a expansão das firmas pode se tornar uma decisão crítica em termos gerenciais. Trata-se de uma ampla revisão da literatura, que serve de base para artigos que Brouthers e Hennart (2007) escreveram posteriormente. Logo no início, afirmam que à medida em que as forças da globalização impulsionam as empresas para expandirem internacionalmente surge a preocupação em se estabelecer as fronteiras da firma. A pesquisa sobre modo de entrada lida com esta questão ao explorar a forma de operação que as firmas utilizam para entrar em mercados estrangeiros. Especificamente Brouthers e Hennart (2007) analisam se as firmas entram em mercados estrangeiros por meio de contratos (com distribuidores, fornecedores de recursos, licenciados e franqueados) ou pela extensão da firma no exterior, estabelecendo subsidiárias para vendas ou fabricação de mercadorias e se estas empresas deveriam compartilhar a propriedade dessas subsidiárias como, por exemplo, joint venture (JV), ou decidem preservar a propriedade total de suas subsidiárias (WOS). Na sequência do artigo, Brouthers e Hennart (2007) declaram que em um primeiro momento pretendem fazer uma apresentação geral do estado da pesquisa. Em seguida, recomendam maneiras para identificar oportunidades, as quais são importantes na decisão estratégica. Por fim, situam os resultados de uma investigação em artigos publicados em periódicos acadêmicos que lidam com a escolha entre contratos e decisão por controle total ou controle compartilhado na decisão de modo de entrada. Na apresentação geral do estado da pesquisa sobre decisão de modo de entrada na internacionalização, Brouthers e Hennart (2007) afirmam que a discussão se norteia pela decisão entre WOS e JVs. Alguns artigos investigaram a escolha entre contratos de 66 distribuição em detrimento a subsidiárias para vendas, contratos de licenciamento em contraposição a subsidiárias para produção, contratos de franquia em oposição a controle total das subsidiárias. No total, identificaram-se 16 tipos de modos de entrada que haviam sido mencionados em estudos anteriores. Brouthers e Hennart (2007) fazem a distinção entre nível de propriedade (JV versus WOS) e o modo de estabelecimento das atividades (investimentos greenfield - investimentos em recursos para a construção da estrutura necessária para a operação – em contraposição a aquisições). Na descrição da literatura sobre visão baseada em recursos (RBV), que inclui as teorias com base em conhecimento e capacidade organizacional, discute-se que as firmas desenvolvem recursos únicos possíveis de serem explorados em mercados internacionais ou que utilizam mercados internacionais como fonte para adquirir ou desenvolver novas vantagens baseadas em recursos. Além disso, Brouthers e Hennart (2007) comentam que as firmas desenvolvem vantagens baseadas em recursos ao desenvolverem ou adquirirem um conjunto de recursos específicos para firma e capacidades o que é algo valioso, raro e difícil de ser copiado, pois não há substitutos disponíveis. Brouthers e Hennart (2007) retomam também a questão do paradigma eclético desenvolvida por Dunning (1993) que consiste da combinação dos aspectos relativos à propriedade, localização e internacionalização (OLI), o qual é muito referido em estudos de decisão de modo de entrada. Não se trata propriamente de uma teoria, mas a proposta de Dunning (1993) aproxima conceitos de pesquisas anteriores que indicaram a influência da decisão do modo de entrada. Os três componentes da formulação de Dunning (1993) são as vantagens decorrentes de propriedade ou especificidade da firma, localização e também aquelas decorrentes do processo de internacionalização. Originalmente desenvolvida antes de muitas teorias populares, a proposta de Dunning (1993) pode ser interpretada como uma ferramenta que combina insights de teorias baseadas em recursos (especificidade da firma), aspectos institucionais (localização) e os custos de transação (internacionalização). Na sequência do artigo, Brouthers e Hennart (2007) ressaltam que uma questão pouco abordada por estudos sobre modo de entrada é o motivo que leva à decisão de entrar em mercados internacionais. Teoricamente, teorias estritamente concentradas em recursos (RBV) e institucionais tendem a avaliar como diferentes motivos para a entrada afetam as decisões. Por exemplo, firmas podem fazer muitas decisões diferentes se eles estão entrando em um 67 mercado a fim de explorar os recursos existentes em contraposição a entradas utilizadas para adquirir novos conhecimentos ou recursos. De maneira semelhante, ambientes institucionais podem ter impactos diferenciados nas firmas que pretendem seguir uma estratégia global, o que se distingue daquelas que dão encaminhamento às próprias estratégias internas. Grande parte dos estudos não especifica se a entrada é realizada com vistas à ampliação de mercados, busca de recursos, globalização ou finalidades próprias, e a falta de atenção a estas questões relativas a estratégias pode auxiliar a explicar os resultados discrepantes de estudos sobre modos de entrada, particularmente as diferenças significativas, além da sinalização de variáveis-chave, tais como, especificidades de ativos e reconhecimento do grau de incerteza. Brouthers e Hennart (2007) comentam também estudos voltados a investigar o impacto de estratégias de negócios no modo de entrada. Em termos de negócios, as firmas escolhem em quais mercados querem entrar para atrair novos consumidores e em quais mercados buscam recursos. Esclarecem também que as pesquisas dedicadas ao estudo de motivos estratégicos para entrada no mercado internacional sugerem que além de influências racionais em teoria de custos de transação, aspectos baseados em recursos e/ou institucionais influenciam de modo significativo o modo de entrada. O motivo para a entrada pode influenciar também as estruturas organizacionais que as firmas adotam em mercados internacionais. Brouthers (2013) realiza a retrospectiva de seu artigo original (BROUTHERS, 2002) retomando os fundamentos que nortearam seu estudo. Inicia destacando sua preocupação na época da elaboração do estudo com a expansão do conhecimento em duas áreas específicas: a ligação entre escolha de modo de entrada e desempenho, além de destacar a influência de outros fatores, em especial as diferenças entre países na adoção da decisão do modo de entrada no modelo tradicional de teoria de custos de transação. Ressalta que poucos estudos estabeleceram a relação entre teoria de modo de entrada e desempenho da subsidiária (BROUTHERS, 2013). Brouthers (2013) salienta que fazer a ligação entre modelos de decisão gerencial para mensurar resultados de desempenho é algo muito importante porque auxilia a determinar quais modelos direcionam para os resultados desejados. Em relação a aspectos culturais, faz-se menção às observações de Shenkar (2012) sobre distância cultural, quanto às dificuldades que a firma enfrenta ao fazer suas operações em mercados internacionais quando se depara com nuances de diferenças entre os países. Ainda sobre as diferenças entre os países, Brouthers (2013) retoma aspectos da teoria do neoinstitucionalismo, na visão de North (1990) e de Scott (1995) e a partir desta teoria observa como os países diferem e como o aspecto institucional influencia a decisão do modo de 68 entrada. Na sequência do artigo, Brouthers (2013) descreve as contribuições que fizera pelo fato de apontar para as consequências no desempenho das empresas pela decisão de modo de entrada, sendo que estudos anteriores a 2002 priorizavam os antecedentes da escolha do modo. Também salienta suas contribuições em alinhar a análise da teoria de custos de transação com a teoria institucional e o contexto cultural. Ainda sobre a questão da escolha do modo de entrada e a teoria institucional, Brouthers (2013) comenta que estudos realizados em 2010 ampliaram a definição de distância institucional e sugeriram novos meios para mensurar tais dimensões. Berry et al. (2010) desenvolveram diversas mensurações de distância institucional, assim como recomendaram novos métodos para calcular essa distância. Ao incluírem tais itens ao modelo de custos de transação no modo de entrada observaram que as medidas de distância e o método estavam diretamente ligados ao tipo de escolha do modo de entrada. Dow e Ferencikova (2010) adotaram o critério de mensuração em cinco itens para distância institucional e o adicionaram ao modelo de custos de transação. Houve estudos que se dedicaram a ampliar o conhecimento com base na teoria econômica de custos de transação sem levar em consideração a teoria institucional. De acordo com Brouthers (2013), Hennart (2009) sugere no estudo com base na teoria econômica de custos de transação que os ativos locais e os ativos específicos da firma sejam considerados; defende-se que os estudos sobre decisão de modo de entrada precisam levar em conta o a firma do mercado em que se pretende atuar, uma vez que esta firma exerce o controle dos ativos locais e, neste contexto, tem impacto nos custos de transação. Meyer et al. (2009) investigam a decisão do modo de entrada associada à visão baseada em recursos (RBV), porém falham em integrar a RBV com os conceitos da teoria de custos de transação. Como sugestão de pesquisas futuras, Brouthers (2013) sugere como pesquisas futuras a adoção dessas teorias de forma a explicar como as firmas resolvem os conflitos ao fazerem escolha do modo de entrada, pois muitos estudos são necessários ainda para analisar como outros fatores auxiliam a melhorar os modelos de teoria econômica de custos de transação para explicar e prever modos de entrada com alto desempenho. 69 3.2.1. Modo de entrada internacional: as vantagens dos métodos multiníveis segundo Arregle et al. (2006) Arregle et al. (2006) defendem que a seleção adequada do modo de entrada em mercados internacionais é uma questão crítica na pesquisa em negócios internacionais; especialmente porque o investimento estrangeiro direto (FDI) parece ser um fenômeno multinível: explicações para isso provêm das variáveis no nível de FDI, variáveis do nível da matriz e da interação entre ambas. Entretanto, Arregle et al. (2006) atentam para o fato de muitos estudos mesclarem ou tornarem imprecisos os níveis de análise. Em geral as descobertas de tais estudos resultam de regressões logísticas; implicitamente apresentam os modelos conceptuais multiníveis com variáveis mensuradas em níveis muito distintos (matriz e FDI) e ignoram a dimensão multinível dos métodos de análise de dados. Tal omissão têm consequências na compreensão dos determinantes na decisão de modo de entrada assim como a validade de evidências empíricas apresentadas na literatura sobre modo de entrada. O objetivo da pesquisa de Arregle et al. (2006) está em explicar e mensurar dimensões da questão de pesquisa, explicando e ilustrando como uma análise multinível pode tratar deste problema e comparar este procedimento com um método estatístico não-linear (regressão logística) para explicar a joint venture internacional (IJV) versus modo de entrada por subsidiárias próprias (WOS). Desta forma, é possível ilustrar a relevância e poder de métodos multiníveis para pesquisas futuras em decisão de modo de entrada. Como metodologia, Arregle et al. (2006) testaram um modelo integrando custos de transação, teoria institucional, organização em variáveis de para explicar a escolha IJV em contraposição a WOS na decisão de entrada em um mercado estrangeiro. O modelo inclui variáveis de nível da matriz, ou variáveis nível-2, mensurando o tamanho da matriz e suas vendas, capacidade em Pesquisa e Desenvolvimento e Marketing. Conta-se para a lógica dominante da matriz, definindo-se o uso de WOS sobre IJV como decisão prioritária e queda de WOS anterior ou IJV, como proporção de WOS ou IJV anterior que havia sido finalizado. Entre as variáveis nível-1, de FDI, incluíram-se variáveis de condição do país anfitrião e experiência anterior com WOS e IJV na ocasião da entrada. A variável “experiência de outras firmas” com o uso de WOS no país-anfitrião e indústria foi adicionada para acessar os efeitos miméticos. As variáveis nível-1 foram mensuradas na época da criação de FDI. 70 3.2.2. Estratégias de escolha de modo de entrada e decisões na expansão em mercados internacionais na visão de Chen e Mujtaba (2007) Pesquisas anteriores sobre estratégias de modo de entrada identificaram diversos fatores que influenciam as decisões estratégicas da empresa para seleção de entrada em mercados internacionais. As decisões envolvidas na expansão externa são complexas, sendo necessária a observação de diversos fatores. O estudo proposto por Chen e Mujtaba (2007) investigam os fatores que compreendem as decisões de multinacionais e sintetizam abordagens relacionadas ou não com a teoria econômica de custos de transação (TCE) como base conceitual para desenvolver um arcabouço teórico capaz de analisar as descobertas de estudos anteriores sobre o efeito de estruturas de governança na escolha de modos de entrada em mercados externos e pela exploração de fatores-chave que venham a influenciar a escolha dos modos de entrada internacionais. Chen e Mujtaba (2007) determinam três grupos de fatores baseados em perspectivas relacionadas e não-relacionadas com a teoria econômica de custos de transação (TCE), identificadas como: fatores específicos da firma, fatores específicos do país e fatores específicos de mercado. Fatores específicos da firma referem-se ao conceito de custos de transação, nos quais a transferência de ativos especializados entre as firmas é impossibilitada pelas quedas de mercado. Ativos específicos da firma e competências constituem vantagens de propriedade. Os ativos se refletem no tamanho da empresa e da experiência como multinacional e as competências são mensuradas pela habilidade de a empresa desenvolver produtos diferenciados (DUNNING, 1988). Chen e Mujtaba (2007) afirmam que com base nos achados da literatura, o estudo tem por foco os três elementos primários dos fatores específicos da firma, a saber: especificidade de ativos, experiência internacional e tamanho da firma. Fatores específicos do país abrangem considerações quanto a aspectos econômicos específicos do país, assim como outros de natureza legal, política, institucional e cultural, o que leva grande parte dos estudos em levá-los em conta no estudo empírico da decisão de modo de entrada (DELIOS; BEAMISH, 1999). De acordo com as observações de Chen e Mujtaba (2007), estudos anteriores apontaram fatores específicos do país como sendo influências significativas na decisão de investimentos externos por parte da firma. Embora os aspectos que constituem fatores específicos de país tenham sido interpretados de diversas formas, aceitam-se amplamente as preocupações com a habilidade de uma firma estrangeira em gerenciar as operações locais de sua subsidiária (KOGUT; SINGH, 1988). As variáveis 71 proxy de fatores específicos de país a serem utilizadas por Chen e Mujtaba (2007) são riscopaís, restrições governamentais e distância cultural. Fatores específicos de mercado têm sido observados quanto à influência no investimento e decisões gerenciais das empresas como determinantes dos modos de entrada no exterior (BLUMENTRITT; NIGH, 2002). Pesquisas anteriores sugerem que em mercados com crescimento elevado, as empresas tendem a preferir modos de entrada totalmente próprios de forma a obter economias de escala, o que as leva a reduzir custo por unidades e estabelecer sua atuação de longo prazo no mercado (AGGARWAL; RAMASWAMI, 1992). Em mercados com baixo crescimento, as firmas podem achar que modos menos integrados proporcionam melhores oportunidades pelo fato de não aumentarem a capacidade no mercado e, dessa forma, não exercerem impacto nas estratégias de preços competitivos. Tais modos podem providenciar melhores retornos de investimento pela minimização do comprometimento de recursos, com base em menores expectativas de retorno, ou pela redução da troca de custos com a saída do mercado se as vendas do produto ou os serviços estiverem baixos (BROUTHERS, 2002). Chen e Mujtaba (2007) estabelecem as seguintes hipóteses de pesquisa, nomeadas de H1 a H9: H1: Há uma relação positiva entre a especificidade do ativo e a preferência por uma multinacional para modos de entrada com controle elevado de formas de governança em mercados externos; H2: Há uma relação positiva entre a experiência internacional e a preferência por uma multinacional para modo de entrada com controle elevado de formas de governança em mercados externos; H3: Há uma relação positiva entre o tamanho da firma e a preferência por uma multinacional para modo de entrada com controle elevado de formas de governança em mercados externos; H4: Há uma relação negativa entre o risco-país e a preferência de uma multinacional para modo de entrada com controle elevado de formas de governança em mercados externos. H5: Há uma relação negativa entre restrições governamentais e a preferência por uma multinacional para modo de entrada com controle elevado de formas de governança em mercados externos; H6: Há uma relação positiva entre a distância cultural e a preferência por uma multinacional para modo de entrada com controle elevado de formas de governança em mercados externos; 72 H7: Há uma relação positiva entre o potencial de mercado e a preferência por uma multinacional para modo de entrada com controle elevado de formas de governança em mercados externos; H8: Há uma relação positiva entre a incerteza de demanda e a preferência por uma multinacional para modo de entrada com controle elevado de formas de governança em mercados externos; H9: Há uma relação negativa entre a intensidade da concorrência e a preferência por uma multinacional para modo de entrada com controle elevado de formas de governança em mercados externos. Na descrição dos procedimentos metodológicos, Chen e Mujtaba (2007) utilizaram um questionário estruturado desenvolvido pelos pesquisadores para a coleta de dados da amostra. A população do estudo consiste de um grande número de empresas dos EUA com operações em outros países. A coleta de dados foi obtida por questionários enviados por e-mail em três fases. Em linhas gerais, 229 questionários representam 33,83%, uma cifra considerável envolvendo entrevistas com CEOs ou presidentes de empresas de pequeno, médio e grande porte dos EUA. Chen e Mujtaba (2007) afirmam que adotaram análise de correlação entre os itens para os testes de confiabilidade de alfa de Cronbach, a fim de averiguar o grau de consistência entre as várias medidas de cada constructo. Os resultados dos testes das hipóteses na correlação dos nove constructos revelam que há correlações fortes entre as variáveis independentes. Entretanto métodos estatísticos de estudos anteriores sobre estratégias de modo de entrada suportam a escolha dos procedimentos de análise desses dados. Em especial, grande parte dos estudos anteriores sobre estratégias de modo de entrada em mercados externos favorecem técnicas de regressão logística binomial e multinomial como ferramentas de análise de dados para acessar a influência das variáveis independentes na probabilidade de escolha entre modos de entrada distintos. No estudo de Chen e Mujtaba (2007), o modelo de correlação de Pearson indica que todas as variáveis estão relacionadas umas com as outaras com relativa força nas correlações. Como resultado, o modelo de regressão ordinal não fornece informações por causa das fortes relações entre as variáveis independentes. O teste das hipóteses de H1 a H9 foi realizado pela correlação não-paramétrica de Spearman e a ANOVA foi utilizada para comparar os resultados significativos de variáveis 73 independentes entre os graus de controle de grupos de modo de entrada. Por fim, uma análise discriminante foi capaz de estabelecer as diferenças entre baixo, médio e alto grau de controle no modo de entrada. Na conclusão do artigo, Chen e Mujtaba (2007) afirmam que conforme previsto pelos estudos teóricos, a presença de fatores era significativa no que está relacionado à decisão de escolha do modo de entrada em operações internacionais. Com base em entrevistas com empresas dos EUA, CEO’s e presidentes, o estudo fornece apoio para as relações estabelecidas nas hipóteses sugerindo que fatores relacionados com TCE e com o modelo expandido de TCE exerceram um papel importante na decisão de modo de entrada das empresas. Muitos estudos adotaram a expansão do modelo de TCE para avaliar o impacto dos determinantes na escolha do modo de entrada. Como consequência, a extensão do modelo de TCE pareceu ser o modelo determinante na decisão de escolha do modo de entrada. Em relação aos fatores relacionados a TCE na determinação da decisão do modo de entrada, o principal objetivo do estudo de Chen e Mujtaba (2007) era investigar os fatores utilizados para desenvolver o modelo conceitual para teste das hipóteses com o intuito de explicar como as empresas de origem dos EUA entram e operam em mercados estrangeiros, bem como fornecem orientações para a tomada de decisão. 3.2.3. Escolha de modo por investimento direto estrangeiro (FDI): modos de entrada em economias de transição, segundo Dikova e Witteloostuijn (2007) Neste estudo de Dikova e Witteloostuijn (2007) estabelecem-se as relações entre literatura sobre investimento estrangeiro direto (FDI), especificamente pesquisas sobre escolha por modo de como efetivamente realizar a entrada (escolha entre aquisição ou investimento direto) e estudos sobre decisão de modo de entrada (por subsidiárias próprias ou por modo compartilhado de propriedade). Dikova e Witteloostuijn (2007) demonstram em sua pesquisa que a intensidade tecnológica da matriz, assim como suas estratégias internacionais e experiência determinam a escolha do modo de entrada e a forma de investimento a ser adotada. Dikova e Witteloostuijn (2007) se apoiam na teoria de Williamson (2000) sobre a nova economia institucional para investigar a influência do aspecto institucional na escolha de investimento das empresas multinacionais. Uma das conclusões já sinalizadas na parte introdutória do artigo é que o grau de adiantamento da postura 74 institucional do país anfitrião é moderador no efeito tanto da intensidade tecnológica quanto na estratégia internacional e decisão de investimento no modo de entrada. A pesquisa de Dikova e Witteloostuijn (2007) no que diz respeito ao grau de avanço institucional se estrutura no fato de o estudo se concentrar exclusivamente no efeito de aspectos formais e regulatórios na forma de investimento das empresas multinacionais (MNE) e na decisão do modo de entrada, uma vez que tais forças regulatórias têm frequentemente como alvo o comportamento econômico e presente em muitos estudos da literatura de negócios internacionais (BROUTHERS, 2002). Além disso, os processos regulatórios em economias de transição são decididos em grande parte pela força de influência na tomada de decisão de uma MNE como modo de entrada e forma de investimento. Estas forças regulatórias incluem leis e regulamentações em geral, assim como configurações de ordem política e social. Neste sentido, as instituições regulatórias fornecem as “regras do jogo” no país anfitrião e a estruturas que as firmas devem ter para atuarem. Conforme elucidado por Dikova e Witteloostuijn (2007), a teoria econômica de custos de transação (TCE) fornece explicações de como o ambiente institucional pode exercer impacto no investimento direto estrangeiro (FDI). Estudos com base na TCE consideram mais arriscadas as entradas de investimento direto do que entradas por meio de aquisições. Isto se deve ao fato de o lançamento de uma aquisição significar a compra de uma empresa existente com um time de gestores familiarizados com a indústria e com as condições do mercado local, o que reduz a incerteza sobre o futuro da subsidiária. Assim, uma aquisição em geral pressupõe uma taxa de retorno mais segura embora mais baixa. Por outro lado, investimentos diretos surgem de brechas; uma vez que representam uma combinação de ativos que não foram ainda provados como de sucesso em um determinado mercado no exterior. Tendo em vista as observações acerca da diminuição de risco com a opção de aquisições, Dikova e Witteloostuijn (2007) estabelecem as primeiras hipóteses de pesquisa (H1 e H2), a saber: H1: Maior avanço institucional está associado positivamente com a possibilidade de se realizarem aquisições. H2: Maior avanço institucional está associado positivamente com a possibilidade de subsidiárias com propriedade compartilhada. 75 O segundo constructo da pesquisa de Dikova e Witteloostuijn (2007) é a intensidade tecnológica e o avanço institucional e para tanto determina, a seguinte hipótese (H3): H3: Maior avanço institucional tem efeito positivo moderador na tendência de MNEs com intensa tecnologia a investirem em subsidiárias. Outra questão abordada por Dikova e Witteloostuijn (2007) refere-se a pesquisas sobre modo de FDI é a escolha de um modo de entrada no exterior com subsidiárias próprias ou com propriedade compartilhada. Segundo estes autores, muitos estudos chegaram à conclusão sobre a opção por subsidiárias próprias ou pelo compartilhamento na propriedade em função de como as matrizes estavam em termos de avanço tecnológico, sendo aquelas com algo grau de propriedade de tecnologia avançada tendendo a transferir tecnologia na entrada no mercado internacional para ganhar vantagem competitiva do que firmas que preferiam optar por subsidiárias totalmente próprias. Relacionada a este tópico, apresenta-se a quarta hipótese (H4): H4: Maior avanço institucional tem um efeito moderador positivo na tendência de MNEs com intensa tecnologia a estabelecerem subsidiárias com propriedade compartilhada. O terceiro e último constructo da pesquisa de Dikova e Witteloostuijn (2007) diz respeito à estratégia internacional e avanço institucional. De acordo com os autores, as MNEs seguem estratégicas multidomésticas para terem sua presença sustentável em um mercado local. A primeira preocupação é a responsabilidade adequada em relação às preferências do consumidor. Em geral, as aquisições tornam-se um investimento atraente quando se fornecem marcas locais, conhecimento do mercado, canais de distribuição e relacionamentos em rede tanto com o negócio do país anfitrião quanto com as autoridades governamentais. A escolha do modo de investimento implica custos e tempo gasto na integração e adaptação. Em aquisições, tipicamente preferidas por MNEs multidomésticas, trazem ativos previamente decorrentes de negócios com custos de transação no mercado de controle corporativo. Custos de transação de aquisições estrangeiras em economias de transição podem ser significativos como mercados para controle corporativo, porém muito imperfeitos, uma vez que necessitam da busca de alvos adequados, análise da viabilidade econômica, além de precisarem negociar com gestores, proprietários e autoridades governamentais (MEYER; ESTRIN, 2001). Neste 76 contexto, Dikova e Witteloostuijn (2007) formulam a quinta e sexta hipóteses de pesquisa (H5 e H6): H5: Maior avanço institucional tem efeito moderador positivo na tendência de MNEs multidomésticas a formalizarem aquisições. H6: Maior avanço institucional tem efeito moderador positivo na tendência de MNEs multidomésticas a formalizarem subsidiárias com propriedade compartilhada. 3.2.4. O impacto do risco-país e a distância cultural na decisão de modo de entrada, na discussão de Quer et al. (2007) Quer et al. (2007) partem da constatação de que diferentes abordagens podem ser adotadas como justificativa de uma influência positiva ou negativa do risco-país e da distância cultural no nível de comprometimento dos recursos assumidos em cada decisão de entrada em um novo país. Pretende-se, no estudo em questão, provar como a influência destas duas dimensões associadas podem efetivamente influenciar a escolha do modo de entrada. Com base em uma abordagem de contingência, da teoria econômica de custos de transação (TCE), perspectivas de dependência de recursos, teoria de poder de barganha e perspectivas de capacidades organizacionais, estabeleceram-se um conjunto de hipóteses testadas em uma amostra de 471 entradas de empresas espanholas no período de 1999 a 2004. As descobertas indicam que tanto a dimensão risco-país quanto a de distância cultural vão na mesma direção, à medida em que quanto maior for o risco do país-anfitrião e maior a distância cultural há uma redução significativa nas estratégias de entrada com níveis elevados de comprometimento. As hipóteses formuladas por Quer et al. (2007) relativas ao risco do país-anfitrião são foram denominadas de H1a e H1b, a saber: H1a: Se o risco do país-anfitrião for maior, isso irá reduzir a possibilidade de se utilizar estratégias de entrada que impliquem níveis elevados de comprometimento dos recursos; H1b: Se o risco do país-anfitrião for maior, isso aumentará o uso de estratégias de entrada que impliquem níveis elevados de comprometimento de recursos. Já as hipóteses referentes à distância cultural (H2a e H2b) são: 77 H2a: Se a distância cultural entre o país de origem e os países-anfitriões forem maiores, isso reduzirá a possibilidade de se utilizar estratégias de entrada que impliquem níveis elevados de comprometimento de recursos; H2b: Se a distância cultural entre o país de origem e os países-anfitriões forem maiores, isso aumentará a possibilidade de se utilizar estratégias de entrada que impliquem níveis elevados de comprometimento de recursos. Quanto à metodologia, Quer et al. (2007) obtiveram os dados para a pesquisa empírica na revisão de notícias publicadas no El Exportador, uma revista mensal, editada pelo Instituto Español de Comercio Exterior (ICEX) , no período de janeiro de 1999 a dezembro de 2004. 471 estratégias de entrada foram implantadas por 263 empresas durante os seis anos do período analisado. A variável dependente é o grau de comprometimento contendo as categorias de contratos, modo de entrada compartilhado com investimento estrangeiro direto (FDI) e modo de entrada próprio com FDI, as variáveis independentes são risco-país e distância cultural e as variáveis de controle são o tamanho da firma e as características da indústria. Os resultados da pesquisa indicam que tanto o risco do país-anfitrião quanto a distância cultural vão na mesma direção, isto é, quanto maior forem o risco do país-anfitrião e a distância cultural, menor a possibilidade de se utilizarem estratégias de entrada com alto nível de comprometimento dos recursos. Entretanto, o estudo de Quer et al. (2007) apresenta algumas limitações o fato de a pesquisa estar baseada em dados secundários, o que certamente influencia a mensuração das diferentes variáveis. Portanto, seria necessária a coleta de dados primários tanto de países das matrizes como os das subsidiárias para ter acesso à percepção de incerteza dos gestores quando enfrentam mudanças no ambiente de negócios. Porém, o estudo oferece contribuições tanto para o meio acadêmico quanto para o empresarial no sentido de evidenciar que risco-país e distância cultural estão interligados e afetam as decisões de estratégias de entrada. 78 3.2.5. Modo de governança por cooperação: uma abordagem ampliada dos custos de transação, segundo Kuittinen et al. (2009) Kuittinen et al. (2009) propõem-se a analisar o modo de governança por cooperação e os fatores possíveis que afetam a escolha entre joint venture e acordos contratuais. Embora a teoria econômica de custos de transação (TCE) forneça respaldos substanciais para investigar os motivos de tal decisão, esta teoria apenas se concentra nos custos de transação estáticos relacionados aos dois modos. Isto levou à discussão sobre custos dinâmicos de governança e possíveis benefícios relacionados ao modo de governança. O objetivo do estudo de Kuittinen et al. (2009) é mostrar como um modelo expandido se difere da TCE ao determinar o modo de governança adequado. Kuittinen et al. (2009) estabelecem quatro fatores relacionados à natureza da cooperação ao constrastar as duas abordagens. Seu estudo compreende a coleta de dados empíricos sobre cooperação nas informações e comunicações tecnológicas a fim de dar suporte a tais argumentos. Os dados obtidos por análise de regressão logística sugerem que a governança dinâmica e a perspectiva por benefícios se constituem em insights valiosos a serem incorporados na abordagem estática tradicional de custos de transação quando ocorre o momento da decisão do tipo de aliança a ser adotada. Na revisão teórica de Kuittinen et al. (2009), logo no início, destacam que as últimas décadas presenciaram um crescimento significativo de cooperação entre firmas. As empresas simplesmente não conseguem sozinhas reunir todo o conhecimento necessário para pesquisa e desenvolvimento; buscam parceiros para complementar este conhecimento a fim de usufruir rapidamente das tecnologias disponíveis. O modo de governança das alianças estratégicas pode ser dividido em duas categorias básicas diferenciadas pela presença ou não de capital próprio (BROUTHERS; HENNART, 2007). Uma aliança de capital diz respeito a todo acordo na transação em que os parceiros compartilham ou realizam troca de capital, incluindo acordos nos quais os parceiros criam um novo patrimônio, assim como um parceiro recebe juros de capital em relação ao outro. A segunda categoria envolve alianças de contrato que abrangem um grupo relativamente grande de parceiros que não compartilham o capital, como ocorre em contratos conjugados de desenvolvimento ou licenciamento. Trata-se da categoria de alianças não-patrimoniais. 79 A teoria econômica de custos de transação (TCE) tradicionalmente dominou a discussão sobre estruturas de aliança de governos. De acordo com o pressuposto de que atores econômicos são amplamente racionais e potencialmente oportunistas, a teoria de custos de transação explica como algumas condições desfavoráveis à transação podem elevar os custos na negociação e levar a um contrato incompleto, o que certamente gera problemas. Kuittinen et al. (2009) retomam os argumentos do artigo de Teece et al. (1997) que propõem uma interpretação mais dinâmica para as escolhas da firma ao focalizar nos fatores cruciais para o desenvolvimento da empresa a longo prazo. Trata-se de um estudo que introduz o conceito de capacidades dinâmicas, que consiste na habilidade da firma em integrar, construir e reconfigurar competências internas e externas em contextos de ajustes rápidos a mudanças. A ideia básica é a utilização de uma base de conhecimento interna da firma, recursos, rotinas e habilidade para alcançar congruência com as rápidas mudanças externas no ambiente de negócios. A finalidade do estudo de Kuittinen et al. (2009) é analisar o modo de governança por cooperação a partir de duas perspectivas: teoria econômica dos custos de transação e governança dinâmica expandida pela relação custo/benefício. Em relação às hipóteses de pesquisa foram testadas em dados empíricos de 1918 alianças formadas por 12 das maiores empresas de tecnologia da comunicação e informação no período de 1999-2002. As hipóteses de Kuittinen et al. (2009) estabelecem-se a paritr da decisão entre aliança de capital e aliança sem capital em termos dos problemas criados pelos custos estáticos de transação por um lado e custos dinâmicos de transação de outro, assim como oportunidades geradas pelos benefícios de governança. Constituem hipóteses de Kuittinen et al. (2009), a saber: H1: Cooperação em pesquisa e desenvolvimento é governada pelas alianças de capital do que por formas sem capital. H2a: Quando os parceiros têm ativos simétricos é menos provável que um modo de capital seja escolhido para governar a aliança. H2b: Quando os parceiros têm ativos simétricos, é mais provável que um modo de capital seja escolhido para governar a aliança. H3a: Quando os parceiros da aliança têm maior confiança entre si, estão mais propensos a escolher um modo de governança sem capital. 80 H3b: Quando os parceiros da aliança têm mais confiança entre si, estão mais propensos a escolher um modo de governança por capital. H4: Quanto maior o nível de independência antecipada dentro de uma aliança, é mais provável que se escolha um modo de governança baseado em capital. Os dados foram extraídos das alianças anunciadas por doze das maiores empresas globais de tecnologia da comunicação e informação publicadas em suas páginas de internet no período de 1999 a 2002. A amostra consiste de empresas europeias e norte-americanas. A amostra final inclui Alcatel, Cisco Systems, Ericsson, IBM, Intel, Lucent Technologies, Microsoft, Motorola, Nokia, Nortel Networks, Sun Microsystems e Texas Instruments. Kuittinen et al. (2009) analisaram 1918 divulgações de imprensa a fim de testar as hipóteses referentes a escolha por acordos de capital e sem capital . Destes anúncios apenas 10% (185) foram alianças de capital e os 90% remanescentes (1733) não incluíram transferências de capital. Cerca de 92% (1765) referiam-se a cooperação bilateral, isto é, envolvendo apenas uma empresa parceira. Os 8% restantes (153) incluiam alianças entre dois a cinco parceiros. A tabela 8 apresenta as variáveis independentes do artigo de Kuittinen et al. (2009) e a tabela 9 contém a matriz de correlação de todas as variáveis. Tabela 8 - Variáveis independentes Fonte: Kuittinen et al. (2009, p. 315) 81 Tabela 9 - Estatística descritiva e correlações Fonte: Kuittinen et al. (2009, p. 316) A tabela 10 fornece os resultados da regressão logística. Kuittinen et al. (2009) reforçam o interesse em investigar se há ou não aliança de capital no modo preferido de governança. Portanto, a variável dependente, capital, foi codificada se era uma joint venture ou investimento minoritário se a forma de governança só se baseava no contrato. Os coeficientes positivos indicam uma grande probabilidade de aliança de capital e os coeficientes negativos referem-se à preferência por cooperação contratual (aliança sem capital). Tabela 10 - Resultados de regressão logística Fonte: Kuittinen et al. (2009, p. 317) 82 Nos testes das hipóteses Kuittinen et al. (2009) chegaram aos seguintes resultados: na hipótese 1, relativa à finalidade de pesquisa e desenvolvimento da aliança, de acordo com a teoria de custos de transação e a perspectiva baseada em capacidades, quando a aliança é orientada por pesquisa e desenvolvimento é mais provável haver a aliança de capital. Isto é o que consta dos dados da regressão logística, a variável independente finalidade em pesquisa em desenvolvimento é estatísticamente significativa. Por outro lado, as hipóteses 2a e 2b, sobre similaridade de ativos, a hipótese 2b com base em preocupações com apropriação foi rejeitada, ao passo que a hipótese 2 a refletiu tanto perspectivas estáticas quanto dinâmicas e revelou que a similaridade de ativos iria diminuir a probabilidade de uma aliança de capital, a qual fora parcialmente confirmada pelo mesmo setor primário, que teve uma relação negativa com a aliança de capital. As hipóteses 3a e 3b dizem respeito ao grau de confiança entre as empresas parceiras. As variáveis testadas para o efeito de alianças prévias, alianças bilaterais e alianças dométicas foram incluídas ao modelo a fim de se observar o impacto da confiança no modo de governança. Isto se aplica apenas em alianças prévias. Não fazia diferença no caso de aliança bilateral ou multilateral, nem se fosse doméstica ou internacional, segundo Kuittinen et al. (2009). Portanto, a cooperação prévia teve efeito positivo nas alianças de capital, com base nas perspectivas dinâmicas da hipótese 3b, a qual foi confirmada no modelo de regressão logística. Na discussão dos resultados da pesquisa, Kuittinen et al. (2009) apresentam as limitações de seu estudo. Em linhas gerais, o tamanho da amostra foi considerado relativamente pequeno e concentrado apenas em um tipo de indústria. Além disso, o fato de se focalizar apenas grandes empresas industriais. Acrescente-se a isto o fato de o estudo ter tomado como base fontes secundárias de informação, o que pode deixar sem explicação as razões para se estabelecer os tipos de aliança. Levando-se em conta os resultados analisados, Kuittinen et al. (2009) apresentam as conclusões do estudo. Primeiramente destacam que o objetivo principal da pesquisa era investigar a estrutura de governança por cooperação pelas perspectivas da teoria econômica de custos de transação e abordagem expandida baseada em capacidades. Tendo em vista os resultados da pesquisa, Kuittinen et al. (2009) destacam que, de acordo com a teoria econômica de custos de transação, quando os parceiros em cooperação são similares, há diminuição nos riscos de contrato e se exige governança hierárquica. Já pela abordagem baseada em capacidades, o aprendizado é mais fácil quando há semelhança na capacidade das empresas parceiras. Entretanto, se os parceiros da aliança já tiveram 83 cooperação anteriormente, é provável que escolham uma aliança de capital para governar esta nova cooperação. O mesmo se aplica quando os parceiros da aliança dependam um do outro. As descobertas do estudo sugerem que um modelo estruturado na relação custo/benefício de uma governança expandida pode complementar a explicação básica da teoria econômica de custos de transação nas decisões internacionais de escolha de modo de entrada das empresas. Embora Kuittinen et al. (2009) reconheçam que os dados obtidos não deram conta de explicar a complexidade da escolha de governança, o estudo fornece contribuições para o entendimento das decisões organizacionais. Em estudos futuros, Kuittinen et al. (2009) acreditam que mensurações mais elaboradas do modelo proposto possam incluir custos dinâmicos de governança e benefícios complementares da perspectiva estática de custos de transação quando a estrutura de aliança de governança é avaliada com escrutínio. 3.2.6. Orientação estratégica e escolha do modo de entrada no mercado internacional, segundo Liang et al. (2009) Liang et al. (2009) avaliam as perspectivas estratégicas e custos de transação na maneira como as empresas estabelecem suas decisões de modo de entrada em negócios internacionais. Em um estudo com uma amostra de 332 entradas de mercado realizadas por 62 empresas de origem dos EUA durante um período de seis anos, Liang et al. (2009) formulam suas hipóteses articulando níveis estratégicos das empresas com a escolha do modo de entrada. As descobertas indicam que as empresas analisadas formulam situações específicas para optarem por modos de entrada próprios (OBE) ou por joint venture. Em termos de metodologia, Liang et al. (2009) apresentam os coeficientes significativos, coeficientes de correlação e desvios-padrão associados às variáveis do estudo. Fez-se uso de regressão logística para analisar como ocorrem as relações entre orientação estratégica e escolha de modo de entrada. Na proposta de Liang et al. (2009), três perspectivas teóricas são adotadas, ou seja, custos de transação, capacidade estratégica e percepção estratégica, com o objetivo de se defender que as orientações estratégicas das empresas influenciam a decisão do modo de entrada em negócios internacionais. De uma maneira geral os resultados fornecidos 84 confirmam tais perspectivas. Duas realidades de atuação são propostas por Liang et al. (2009): empresas que atuam como “prospectoras” (prospectors) e outras que atuam como “defensoras” (defensors). As prospectoras tendem a optar por decisão de entrada por meios próprios (ownership-based entry mode – OBE). As defensoras, por outro lado, optam por joint venture. 3.2.7. Um modelo geral de TCE de instituições de negócios internacionais: falha do mercado e reciprocidade na visão de Chen. et al. (2010) Neste estudo, Chen et al. (2010) propõem um modelo geral baseado na teoria econômica de custos de transação (TCE) em instituições de negócios internacionais, no qual as transações internacionais podem ser conduzidas em níveis múltiplos de mercado (por exemplo, por resultado, por ativos, e a relação entre comprador e vendedor se dá de ambas as formas (A vende para B e B vende para A). A literatura revela problemas ao lidar com este assunto. Embora a falha do mercado é a força-motriz subjacente ao aumento das empresas multinacionais (MNEs), a maioria dos pesquisadores tem se concentrado na discussão da falha de um único mercado sem investigar a presença de mercados substitutos para transações entre fronteiras. Como contribuição, Chen et al. (2010) sugerem um modelo geral de TCE para integrar todos os modelos institucionais existentes como licenciamento, outsourcing, aquisições, e joint ventures. O estudo proposto por Chen et al. (2010) indica que a escolha de uma instituição ideal para negócios internacionais é o que predomina na seleção dos mercados mais eficientes para conduzir as transações entre fronteiras. Observa-se que em acordos bilaterais, a força da reciprocidade resolve o problema de quedas no mercado. Trata-se de uma abordagem que promete direções futuras de pesquisa especialmente em considerar contextos institucionais e capacitações da firma. O eixo da discussão proposta por Chen et al. (2010) está na ideia de cooperação entre indústria e desenvolvedor, o que é amplamente detectado na indústria de semicondutores, na qual os circuitos integrados desenvolvidos por uma firma são em geral fabricados por outra. 85 3.2.8. Motivos que levam firmas fornecem mercadorias para o mercado externo usando combinação de meios de entrada, na visão de Pyo (2010) Pyo (2010) propõe-se a explicar por que as empresas fornecem mercadorias para mercados estrangeiros utilizando uma combinação de dois modos de entrada, o investimento estrangeiro direto (FDI) e exportação. Essencialmente, a análise envolve dois fatores, custos de transação e economias de escala, cujos impactos são diferentes no modo de entrada internacional. Os resultados empíricos da pesquisa demonstram que uma firma pode escolher a exportação como modo de entrada, a fim de satisfazer o aumento de demanda a curto prazo. Entretanto, a longo prazo, a empresa pode expandir sua capacidade de produção local por meio de FDI. Do momento em que as empresas conseguem atingir economias de escala minimamente satisfatórias é mais provável alcançar meios para aumentar a capacidade para atender aumento de demanda local. Com base em estudos anteriores de modos de entrada em mercados internacionais, Pyo (2010) observa que os custos de transação esperados têm uma relação positiva com FDI e uma relação negativa com exportação. Se custos de transação e economias de escala são razões importantes pelas quais a empresa escolhe se implantar em determinado país, espera-se que tais custos de transação e economias de escala continuem a serem fatores importantes para atender a produção e a exportação de produtos. Como metodologia, Pyo (2010) analisa a produção de automóveis de passeio no período de 1995 a 2004, para avaliar a relação entre custos de transação e economias de escala na produção externa. Constituem variáveis dependentes do estudo a alocação entre FDI e exportação e variáveis independentes os custos de transação e economias de escala. As variáveis de controle são o tamanho do mercado do país-anfitrião (host country) e a diferença de custo de produção entre os países. Na análise dos resultados, Pyo (2010) afirma que os custos de transação e as economias de escala apresentam influência estatística significativa na produção estrangeira para exportação. Entretanto, os resultados revelaram que os custos de transação têm impacto negativo nas proporções de produção estrangeiras, contrariando uma das hipóteses formuladas para o estudo. Isto se revela no coeficiente de efeitos fixos em situações em que as empresas alteram os modos de entrada de exportação para FDI. As empresas não conseguem expandir a sua capacidade de produção para o exterior em um curto período de tempo, especialmente 86 quando precisam ampliar significativamente os investimentos a fim de aumentar tal capacidade. Neste caso, a empresa pode escolher a exportação como modo de entrada a fim de satisfazer interesses locais a curto prazo, mesmo com diminuição da produção com fins a exportação. A longo prazo, a empresa amplia a capacidade de produção, resultando em um aumento de produção no exterior. 3.2.9. O impacto da distância agregada e diversidade cultural existente nos padrões de expansão internacional na visão de Hutzschenreuter et al. (2011) Segundo Hutzschenreuter et al. (2011), pesquisas sobre estratégias internacionais identificaram uma variedade de padrões de expansão de empresas multinacionais (multinational enterprises – MNE). Algumas MNEs parecem expandir internacionalmente na mesma proporção, ao passo que outras têm expansão rápida em um determinado período e tendem a apresentar um crescimento mais lento, sendo este caso um padrão nos moldes da teoria de Penrose (1959). Hutzschenreuter et al. (2011) observaram dois determinantes para esses padrões divergentes. Em um primeiro momento, alegam que os níveis elevados de distância cultural durante um período podem afetar negativamente a expansão internacional em função de custos com ajustes dinâmicos. Depois, sugerem que o gerenciamento de uma rede de subsidiárias operantes em contextos locais, com alta diversidade, aumenta a complexidade da governança interna e em relação ao ambiente. Em relação ao significado da perspectiva de abordagem de Penrose para analisar a expansão internacional, Hutzchenreuter et al. (2011) defendem que Penrose (1959) propõe que a experiência de gerenciamento de uma firma determina em grande parte os serviços que possam derivar dos recursos da firma. No contexto de uma entrada no exterior, os gestores devem fornecer serviços de empreendimento que permitam combinar a base de recursos da MNE com recursos do ambiente-anfitrião. Além disso, as MNEs com contextos locais diversificados devem ter serviços disponíveis para lidar com complexidades de diferentes tipos. O desafio reside em construir expertise gerencial de modo a sustentar arranjos e rearranjos de coordenação em contextos múltiplos. O ponto crítico está no uso de serviços empreendedores dos gestores existentes para sustentar o processo de expansão internacional 87 ao mesmo tempo em que se reduzem os serviços para outros propósitos, inclusive a absorção de talento gerencial da firma para prover crescimento doméstico. Penrose (1959) afirma que é possível obter diversificação diretamente relacionada a áreas existentes de operação de maneira rápida pela simples réplica da base atual de conhecimento da firma. Em outras palavras, um fornecimento eficaz dos recursos gerenciais e serviços atrelados podem dar suporte a situações de diversificação. Por outro lado, tanto a diversificação de produtos não relacionados quanto diversificação geográfica aumentam a necessidade de recursos gerenciais e também limita os serviços essenciais que possam derivar de tais recursos, em virtude do fato de a alocação lucrativa depender de arranjos prévios com complementação de recursos locais. Fornecer serviços em uma variedade de contextos locais é semelhante a oferecer serviços em muitos segmentos da indústria no contexto de diversificação de produtos, no sentido de que a base de conhecimento em que a firma estabelece a combinação de recursos pode se exaurir rapidamente. Dispor de operações em mercados com alta variedade de distância pode implicar maior complexidade organizacional interna. Isto quer dizer que não há apenas a exigência de alterações no padrão das práticas, mas também recorrer a custos com ajustes dinâmicos nos vários contextos locais, pois a necessidade se torna algo interno. Assim, na esfera de expansão internacional, questões relativas ao tempo e escopo ficam fortemente interligadas; na medida em que as MNEs se engajam e conseguem promover rápida diversificação geográfica em contextos com alto nível de distância durante um período, o chamado “efeito Penrose” parece ser maior no período seguinte. O efeito Penrose não deveria ser interpretado como algo relacionado à ineficácia ou insuficiência de um programa de expansão internacional e, sim, como um resultado previsível das distâncias elevadas, uma vez que os recursos gerenciais tornam-se críticos para arranjos no exterior e esgotam-se em pouco tempo também. Após a exposição dos argumentos que levam Hutzchenreuter et al. (2011) a se inspirarem no modelo proposto por Penrose (1959), expõem-se as seguintes hipóteses de pesquisa: H1: Quanto mais elevada for a distância cultural associada à expansão internacional de uma MNE, em um primeiro momento, haverá redução da taxa de expansão internacional no período subsequente; 88 H2: Quanto mais elevada for a rede de diversidade cultural existente de empresas subsidiárias multinacionais, haverá, na sequência, redução da taxa de expansão internacional. Em termos de metodologia, as hipóteses formuladas por Hutzchenreuter et al. (2011) foram testadas na base longitudinal de dados do percurso de expansão de MNEs de origem alemã. A atividade de expansão internacional de MNEs alemãs é considerável. Analisaram-se dados de 91 empresas alemãs no período de 1985 a 2004. Entretanto, os períodos de tempo variam entre as firmas (mínimo de cinco anos e máximo de 25 anos), o que caracteriza uma amostra com irregularidades na proporção. Para as 91 empresas constantes, os dados apresentam informações completas de cada MNE, tais como, portfolio anual de subsidiárias e alterações no portfolio dentro de um mesmo período de tempo. Quanto à determinação de variáveis dependentes e independentes de pesquisa, as hipóteses referem-se ao impacto das características da expansão internacional de uma MNE (distância cultural agregada) assim como características da rede interna (diversidade cultural existente) em um primeiro momento, havendo proporcionalmente uma movimentação discreta de investimentos no período subsequente. Hutzchenreuter et al. (2011) estabelecem como variável dependente a proporção da expansão internacional no segundo período. Já as variáveis independentes são a distância cultural agregada e a diversidade cultural existente. Para medir essas variáveis, Hutzchenreuter et al. (2011) basearam-se na fórmula proposta por Kogut e Singh (1988). De acordo com esta fórmula, a distância entre dois países pode ser computada como a média das distâncias entre os países para cada dimensão cultural relevante enquanto se controla a variância em cada dimensão. Este procedimento pressupõe uma quantificação de dimensões culturais. Na análise dos resultados, Hutzchenreuter et al. (2011) afirmam que a expansão internacional é um processo intenso no uso de recursos e tempo. Os resultados da pesquisa sugerem que as MNEs sofreram mais com distância cultural agregada em um período e uma redução na expansão internacional no período seguinte. Tais resultados se equiparam aos de pesquisas anteriores como os de Orser et al. (2000). Também a diversidade cultural caracteriza que o portfolio de contextos locais em que uma MNE opera tem efeito negativo na sua expansão subsequente. 89 4. ANÁLISE Conforme descrito anteriormente, na consulta às bases de dados ISI Web of Science e UMI-ProQuest obteve-se o acesso aos artigos selecionados para esta dissertação. Uma vez que esta pesquisa toma como referência o artigo de Brouthers (2002, optou-se pela escolha de artigos relacionados a custos de transação e a influência de aspectos institucionais e culturais no modo de entrada em negócios internacionais no período de 2002 a 2012, a fim de investigar a intensidade da pesquisa referente a esses assuntos e se diferentes autores apresentaram estudos semelhantes ao de Brouthers (2002). Inicialmente, 86 artigos foram selecionados; destes, 30 foram considerados válidos para a realização de uma análise de conteúdo com vistas futuras à elaboração de meta-análise. Os demais artigos foram desprezados por não estarem estruturados em abordagens quantitativas. Após a leitura de todos os artigos, observa-se um dilema para a realização da metaanálise. O primeiro problema observado é a diversificação dos estudos realizados, isto é, não apenas na escolha dos métodos estatísticos, mas também na definição das variáveis. De acordo com Borenstein et al. (2009), o objetivo da meta-análise é ampliar a base de estudos de algum modo, expandindo a questão, analisando-se o padrão das respostas. A habilidade de combinar dados de diferentes estudos para estabelecer o efeito comum é uma função importante da meta-análise. Também a especificidade das hipóteses dos estudos dificulta a realização de uma análise comparativa. Todo este processo torna mais complexa avaliar os procedimentos para codificação dos estudos e organizar os dados de modo que se adequem à meta-análise. Conforme Wilson (COOPER et al., 2009, p. 159-176), ao apresentar a codificação sistemática, afirma que um protocolo bem desenhado descreve as características dos estudos e será capaz de captar as descobertas pertinentes para a comparação na metaanálise. A codificação desses estudos é um desafio para o pesquisador e requer a adoção de critérios apropriados. Na definição dos critérios é importante destacar que as perguntas de pesquisa devem apontar para uma relação empírica específica com as descobertas. Isto quer dizer que há uma relação entre as descobertas dos estudos incluídos na meta-análise. Além disso, especificar as características definidoras dos estudos escolhidos pressupõe especificar tanto a natureza de uma variável independente quanto de uma ou mais variáveis. O nível de detalhamento necessário varia conforme a meta-análise. 90 O quadro 4 apresenta, em ordem alfabética por autor, a síntese dos 30 artigos selecionados quanto a tamanho da amostra, modelos estatísticos utilizados, variáveis escolhidas e resultados da pesquisa. A disposição das informações dos artigos nesse formato possibilita a visualização no conjunto dos modelos estatísticos e das variáveis presentes, para encontrar dados comuns ou próximos que venham a ser retomados com vistas futuras a trabalhos de análise sistemática. AMOSTRA 149 exportadores da Turquia 1164 corporações 1804 FDIs (nível 1) de 271 firmas (nível 2) com 1252 FDI em IJV e 552 WOS. 940 subsidiárias japonesas de indústria de eletrônicos AUTOR ALTINTAS et al. (2010) ANDERSEN (2011) ARREGLE et al. (2006) BELDERBOS (2006) Estatística descritiva e variáveis dependentes Matriz de correlação Método multinível não-linear de Bernoulli Estatística Descritiva Regressão Logística Matriz de Correlação Regressão em dois estágios de mínimos quadrados Estatística descritiva e análise de correlação Modelos Estatísticos Intercorrelação de constructos Quadro 4 - Síntese da amostra, metodologia e resultados dos artigos selecionados Características da matriz Características da subsidiária Características do país Custos de transação, teoria institucional e aprendizado das organizações. Estudo estruturado em variáveis de Nível 1 e de Nível 2 Variáveis Confiança Organização Grau de Internacionalização Institucionalização Risco de performance Risco de diminuição Potencial de elevação Tamanho organizacional Reservas de capital Multinacionalidade Inovação Principais Achados Internacionalização pode contribuir para institucionalização do setor industrial doméstico. A rede de corporações multinacionais que operam em diferentes ambientes nacionais pode proporcionar às corporações flexibilidades no rearranjo de atividades e utilização de conhecimento diverso no desenvolvimento de oportunidades globais. Resultados têm muitas implicações para pesquisa em negócios internacionais e o método de Bernoulli e os dados de FDI revelam as vantagens do método. Os resultados demonstram que há evidências de que o modo de entrada afeta a capacidade das subsidiárias em se ajustar a mudanças ambientais no país. Joint ventures se caracterizam pelo nível mais reduzido de flexibilidade operacional e se ajustar a novas oportunidades do mercado. 91 109 questionários 871 indústrias dos EUA 135 multinacionais de médio e grande porte Cont. Quadro 4 BENER e GLAISTER (2010) BERRY et al. (2010) BOUQUET et al. (2009) Análise Fatorial Estatística Descritiva Regressão OLS Método Euclidiano Método Mahanobilis Matriz de correlação Estatística descritiva Regressão Logística Análise fatorial Correlação de Spearman entre determinantes de expectativas de desempenho e mensuração de desempenho ANOVA entre os determinantes de desempenho de JV e fatores de desempenho Performance de joint venture internacional (IJV) Controle de IJV pelas matrizes Autonomia para gestão de IJV Confiança entre as empresas de IJV Cultura Nacional e diferenças de empresas de IJV Cultura corporativa Distância cultural Distância política Distância geográfica Distância financeira Distância administrativa Distância de conhecimento Verificação Global (Global scanning) Comunicação internacional Discussões de Globalização Atenção Internacional Desempenho da MNE Tamanho da MNE Postura Estratégica Global Diversificação Atenção internacional tem três componentes: verificação (scanning), elemento de comunicação e elemento de discussão. Atenção internacional tem impacto no desempenho. Ganhos de desempenho pela atenção internacional resultam das práticas dos executivos que interagem com influências cognitivas. Resultados demonstram que a distância pode afetar de maneira diferenciada as decisões de FDI da firma. Resultados previsíveis positivos na relação entre expectativas de desempenho e controle dominante IJV, autonomia garantida para gestão de IJV e confiança entre as firmas. 92 237 questionários Questionários aplicados em 450 empresas gregas e 419 empresas holandesas. BROUTHERS e NAKOS (2004) 213 questionários BROUTHERS et al. (2003) Cont. Quadro 4 BROUTHERS (2002) Matriz de correlação Regressão Logística Regressão OLS Matriz de correlação Regressão OLS Teste-T Matriz de Correlação Regressão Logística Análise de Regressão Desempenho Modo de entrada Especificidade de ativos Incerteza econômica Incerteza comportamental Restrições Legais Tipo de Indústria Experiência Tamanho da firma TCT Modo de entrada Tamanho da firma Controle interno Especificidade de ativos Incerteza ambiental Nacionalidade Percepção do ambiente legal Tipo de indústria Controle interno Tamanho da Firma Modo de entrada Experiência internacional Custos de Transação Potencial do Mercado Especificidade de ativos Risco de investimento Restrições Legais Setor da Indústria Resultados indicam a adoção de TCT na decisão de modo de entrada em SME internacionais. SMEs que entram em mercados com incerteza ambiental tendem a preferir modos de entrada sem investimentos diretos, a fim de reduzir riscos. Empresas holandesas preferem modos sem investimento em comparação a empresas gregas. Resultados demonstram que firmas que percebem custos elevados de transação tendem a optar por modo de escolha próprio. Firmas que entram em mercados com elevadas restrições legais tendem a optar por JV. Firmas que percebem níveis elevados de risco de investimento optam por JV. Os resultados revelam que empresas que optaram por um modelo expandido de custos de transação ficaram mais satisfeitas com o desempenho do que outras que não fizeram esta opção. 93 25 empresas industriais 2451 entradas de 646 firmas 730 aquisições internacionais (CBA) Cont. Quadro 4 BUVIK e ANDERSEN(2002) CHANG et al.(2012) CHARI e CHANG (2009) Análise de regressão Estatística descritiva e correlações Análise de regressão de Tobit Análise de regressão logística Estatística descritiva e matriz de correlação Coeficiente de interação Escala Likert de 1-7 Matriz de correlação Análise de regressão Análise discriminante Modo de entrada Distância cultural Qualidade de governança Intensidade da propaganda Intensidade de P&D Experiência Número de funcionários Intensidade de exportação Indústria Restrições legais Firma local diferente da indústria Intensidade em pesquisa e desenvolvimento da indústria local Distância cultural Tamanho da firma local Rigidez nos contratos empregatícios Risco-país Nível de atividade de CBA no país-anfitrião Custos de transação Especificidade de ativos Coordenação vertical Os resultados indicam que o compartilhamento de capital nas aquisições internacionais é uma decisão complexa influenciada por muitos fatores incluindo custos de valoração devido a assimetria de informações entre firmas locais e estrangeiras, problemas na integração de gerentes locais em países com distância cultural, custo de separação de ativos desejados e não desejados, custo de comprometimento de recursos em situações de incerteza. Os achados indicam que o padrão de desempenho de governança varia de acordo com os relacionamentos entre firmas domésticas e internacionais. Os resultados do estudo apontam para a dúvida se níveis elevados de distância cultural estão associados pela escolha por JV ou WOS. Também apresenta a perspectiva da TCE com a visão institucional. 94 101 Joint Ventures e 168 subsidiárias próprias 526 firmas 819 firmas CHENG (2008) CHIAO et al. (2010) 229 questionários CHEN (2008) Cont. Quadro 4 CHEN e MUJTABA (2007) Análise de correlação Regressão logística Matriz de correlação Regressão logística Análise discriminante e ANOVA Estatística descritiva e matriz de correlação Testes de Robustez Matriz de correlação Coeficientes de correlação e ANOVA teste-F Correlações com funções discriminantes Ativos específicos da firma Ativos complementares Experiência internacional Capacidade da firma em P&D Especificidade de ativos Experiência no exterior Intervenção do governo Capacidade de flexibilidade Intensidade em P&D da matriz Intensidade da indústria Intensidade de propaganda da Matriz Conhecimento da indústria Concentração da indústria Especificidade de ativos Tamanho da firma Experiência internacional Risco-país Distância cultural Potencial de mercado Incerteza de demanda Resultados demonstram que há fortes evidências indicando que matrizes japonesas selecionam sistema de propriedade total para evitar fazer aquisições nos EUA, mas não usam propriedade parcial para influenciar na estratégia de entrada. Os resultados do estudo indicam que a intervenção dos governos e as barreiras entre os mercados do país de origem e do país de entrada podem ser a chave para a escolha de um modo de entrada baseado em propriedade, uma vez que as empresas ficam sensíveis à intervenção de governos. Resultados indicam que as firmas com ativos específicos da firma tendem a entrar em mercados estrangeiros com subsidiárias próprias. Firmas com alta capacidade de P&D com controle de propriedade protegem melhor a propriedade de tecnologia de competidores locais. Resultados demonstram que fatores relacionados a um modelo expandido de custos de transação têm um papel significativo na decisão do modo de entrada. 95 DIKOVA e WITTELOOSTUIJN (2007) Cont. Quadro 4 DEMIRBAG (2010) 208 questionários aplicados com gerentes de quatro empresas holandesas 522 firmas turcas de FDI Análise de Cluster Matriz de correlação Regressão Logística Regressão logística binária Matriz de correlação Modo de entrada Experiência em aquisição Experiência em investimentos Greenfield Experiência internacional Experiência regional Concentração do mercado anfitrião Crescimento do mercado anfitrião Investimento Subsidiária de produção Incentivos de investimento Intensidade da propaganda Indústria de alta tecnologia Indústria de baixa tecnologia Intensidade tecnológica Estratégia internacional Avanço institucional Restrições políticas Conhecimento Competitividade global Densidade da subsidiária Intensidade de P&D Tamanho da subsidiária Grupo de subsidiárias Os resultados mostram que determinantes específicos de custos de transação e aspectos institucionais influenciam a dispersão geográfica das subsidiárias estrangeiras multinacionais turcas. O nível de restrições políticas, o nível de infraestrutura de conhecimento, densidade da subsidiária, intensidade da indústria de P&D e tamanhão da subsidiária tiveram impacto na escolha de localização das multinacionais turcas. Os resultados da pesquisa mostram que a experiência em aquisição ou experiência em investimentos greenfield tem relacionamento positivo com a tendência a realizar aquisição e investimentos greenfield. Os resultados para subsidiárias de produção revelam relacionamento positivo com a tendência a realizar investimentos greenfield. Experiência regional tem influência positiva na tendência a entrada por modo compartilhado, ao passo que experiência internacional tende a indicar opção por subsidiárias próprias. 96 Análise dos dados de 91 MNEs com atividade na Alemanha Dados de doze das maiores empresas de tecnologia em comunicação, especificamente 1918 boletins de imprensa publicados no período de 19992002 KUITTINEN et al. (2009) 287 respondentes de subsidiárias HUTZCHENREUTHER et al. (2011) Cont. Quadro 4 HARZING (2002) Matriz de correlação Regressão logística Matriz de correlação Regressão de Tobit Análise de cluster Matriz de correlação Regressão logística Aquisição versus Greenfield Intensidade de P&D Diversificação Experiência internacional Distância cultural Estratégia Controle Presença de expatriados Responsabilidade local Expansão internacional Distância cultural agregada (Hofstede) Distância cultural agregada (GLOBE) Diversidade de produto Aquisições Propriedade total Lucratividade Tamanho Estrutura de capital Finalidade em P&D Indústria primária Setor primário Diferença de tamanho Aliança prévia Aliança bilateral Aliança doméstica Interdependência recíproca Interdependência sequencial Na análise dos resultados, Hutzchenreuter et al. (2011) afirmam que a expansão internacional é um processo que consome tempo e recursos. As MNEs tiveram de enfrentar a distância cultural agregada em um determinado período e reduziram a expansão internacional no período seguinte. Resultados mostram que as alianças formadas por finalidade de P&D constituem relativamente alianças de investimento. Os ativos dos parceiros na aliança são semelhantes. De acordo com a TCE quando a cooperação dos parceiros é semelhantes, os problemas de risco em contratos diminuem e aí a governança hierárquica não é necessária Os resultados indicam que a variável estratégia da MNC tem influência na decisão de modo de entrada. Aquisições são mais realizadas por multidomésticas e investimentos greenfield mais realizados por empresas globais. 97 4803 CBAs de 18 países no período de 1990-2006. 130 observações sobre automóveis de passageiros de unidades internacionais do setor automobilístico no período de dez anos (1995-2004) PYO (2010) 332 entradas em mercados internacionais feitas por 62 firmas com base de atuação nos EUA MALHORTA et al. (2009) Cont. Quadro 4 LIANG et al. (2009) Análise de regressão Regressão OLS Matriz de correlação Análise de Regressão Matriz de correlação Regressão Logística Análise combinatória não linear Alocação entre FDI e Exportação Custos de Transação Economias de escala Tamanho do mercado e país anfitrião Competição doméstica nos investimentos Diferença de custos de produção entre os países Modo de investimento Modo de controle total de propriedade Tamanho da firma Desempenho da firma Distância cultural PIB do país anfitrião Crescimento do país anfitrião Experiência internacional Crescimento em vendas Estratégia de negócios Número de CBAs Distância cultural Distância administrativa Distância geográfica Distância econômica Potencial de Mercado Resultados demonstram que distância cultural ou geográfica não são suficientes para explicar o modo de entrada; é preciso levar em consideração as distâncias econômicas e administrativas. A distância entre as influências do país de origem e do país-alvo interfere no comportamento de aquisição de firmas em países com economias emergentes. De acordo com os resultados empíricos, os custos de transação e economias de escala têm influência estatística significativa nos dados de produção estrangeira para exportação. Os resultados também revelam, por outro lado, que os custos de transação têm impacto negativo nos dados de produção estrangeira. O estudo adota como base três perspectivas (custos de transação, capacidade estratégica, cognição estratégica) para defender que as orientações de estratégias de negócios influenciam as escolhas no modo de entrada. Os resultados confirmam estas perspectivas. 98 RHEE (2008) Cont. Quadro 4 QUER et al. (2007) 200 questionários enviados para firmas coreanas com operações de FDI no exterior 471 entradas de empresas espanholas no período de 1999 a 2004 Matriz de correlação Análise binomial Regressão OLS Matriz de correlação Teste de multicolinearidade Regressão logística Modo de entrada Desempenho financeiro Desempenho não financeiro Vantagens competitivas em tecnologia Redes sociais Capacidade de absorção indústria Tamanho da firma Idade da firma Similaridade psíquica Risco-país Distância cultural Nível de comprometimento Tamanho da firma Indústria Os resultados mostram que a variável relacionada ao risco do país-alvo se torna estatisticamente significativo e apresenta um sinal negativo. Os altos valores desta variável indicam a existência de restrições crescentes em que os países envolvidos apresentam níveis elevados de risco. No que se refere à distância cultural, também há estatística significativa, com sinal positivo. A distância cultural aumenta para empresas espanholas em países-alvo não situados na Europa ou na América Latina. Os resultados empíricos do estudo revelam que a escolha do modo de entrada pode ser previsto pelas tradicionais abordagens de teoria de custos de transação. Entretanto, os resultados também indicam que há perspectivas adicionais que auxiliam a prever novas decisões do modo de entrada. Rhee (2011) afirma que o estudo contém limitações, um avez que a amostra se restringe a apenas entradas de empresas coreanas. Para replicar o estudo seria preciso adotar um contexto diferente. 99 Amostra de 167 empresas com diferentes tipos de modos de entrada ou não XU et al. (2011) Fonte: Elaboração própria (2013) 4229 empresas alemãs com atividade internacional Dados de pesquisas sobre 133 aquisições realizadas por empresas finlandesas, as quais foram enviadas por e-mail nos períodos 1993-1996, 19972000, 2001-2004 SCHWENS e KABST (2009) Cont. Quadro 4 SARALA e VAARA (2010) Regressão logística Estatística descritiva Matriz de correlação Regressão logística Regressão linear Análise fatorial Matriz de correlação Análise de regressão Especificidade de ativos Experiência internacional prévia Redes de contatos internacionais Tamanho da firma Empresas familiares Motivo de acesso ao mercado internacional Motivo de acesso ao know-how Vendas Indústria Risco-país Distância cultural Transferência de conhecimento Tamanho Indústria Lapso de tempo Esforço de integração operacional Autonomia Diferenças culturais nacionais Diferenças culturais organizacionais Convergência cultural organizacional SARALA e VAARA (2010) afirmam que há ainda dificuldade em se compreender o papel das diferenças culturais e das variáveis de integração cultural na transferência de conhecimento nas aquisições internacionais. Nos achados da pesquisa as aquisições internacionais de empresas de países culturalmente distantes não necessariamente tiveram implicações negativas, mas houve resultados positivos em termos de aumento na transferência de conhecimento. Resultados indicam uma associação negativa entre especificidade de ativos e internacionalização recente, porque a entrada recente em mercados internacionais pode expor a firma a certos desafios devido aos seus recursos limitados. Resultados revelam que riscopaís e distância cultural têm impacto na decisão de modo de entrada. Com aumento do riscopaís, as empresas preferem modos de entrada não baseados em propriedade. 100 101 A nuvem de palavras, apresentada na figura 4 com os dados da coluna “modelos estatísticos” do Quadro 4, apresenta integralmente a frequência com a qual esses modelos são descritos, sendo as expressões com maior destaque, aquelas com maior incidência de uso nos artigos selecionados. Figura 4 - Nuvem de palavras com frequência dos modelos estatísticos Fonte: Elaboração Própria (2013) Em relação à incidência dos modelos estatísticos, a tabela 11 contém a frequência dos modelos estatísticos, apresentada em ordem decrescente de número de ocorrências nos artigos, o que na nuvem de palavras da figura 4 corresponde às palavras expostas com maior tamanho e destaque: Tabela 11 - Modelos Estatísticos e número de ocorrências nos artigos Modelos Estatísticos Número de ocorrências nos artigos Matriz de Correlação 20 Regressão Logística 13 Estatística Descritiva 9 Análise de Regressão 5 Regressão OLS 5 Análise Fatorial 3 ANOVA 3 Fonte: Elaboração própria (2013) 102 A figura 5 refere-se à nuvem de palavras resultante da coluna “Variáveis” do quadro 4 e contém a frequência com a qual essas variáveis são descritas. Figura 5 - Nuvem de palavras das variáveis dos artigos selecionados Fonte: Elaboração Própria (2013) A partir da disposição das palavras da figura 5, com expressões com maior visibilidade e realce, observa-se na tabela 12 a visualização da frequência das variáveis predominantes na seleção de artigos para esta dissertação, com suas ocorrências apresentadas em ordem decrescente. Tabela 12 - Variáveis e número de ocorrências nos artigos Variáveis Número de ocorrências nos artigos Distância Cultural 10 Especificidade de Ativos 7 Tamanho da Firma 7 Modo de Entrada 6 Experiência internacional 6 Experiência 4 Risco-País 4 Fonte: Elaboração própria (2013) 103 A fim de viabilizar a comparação dos estudos, é preciso agrupar variáveis e modelos comuns presentes nos artigos para se estabelecer parâmetros para a realização de meta-análise. No caso dos artigos selecionados para esta dissertação, nota-se que há o uso frequente de matriz de correlação. Entretanto, conforme já mencionado anteriormente, os estudos se diferem no tamanho da amostra e nos procedimentos para sua realização. Nesse sentido, uma nova seleção se faz necessária, dada a diversidade de modelos estatísticos utilizados e maior quantidade de variáveis em muitos dos artigos. Dos 30 artigos, 21 deles foram escolhidos por terem, como modelo estatístico predominante, a matriz de correlação e variáveis comuns. Em geral, as matrizes de correlação dos artigos selecionados apresentam ora a correlação de Pearson, Kendall e Spearman (CHOK, 2008). Correlação é uma análise bivariada que mede a força de associação entre duas variáveis. Em estatística, o valor do coeficiente de correlação varia entre +1 e -1. Quando o valor do coeficiente de correlação chega em torno de 0, a relação entre as duas variáveis será mais fraca. A correlação de Pearson é usada em estatística para mostrar a relação linear entre variáveis. A correlação de Kendall é um teste não paramétrico em que não ocorrem os pressupostos das distribuições como ocorre na correlação de Pearson. A correlação de Spearman, por sua vez, é um teste não paramétrico utilizado para medir o grau de associação entre duas variáveis. O rank de Spearman não assume quaisquer dos pressupostos de distribuição. O quadro 5 contém a seleção dos 21 artigos apresentando as variáveis “candidatas” para estudos futuros, isto é, escolheram-se variáveis comuns a todos eles e descartaram-se aquelas que eram restritas a alguns dos textos apenas. Em todos esses artigos há matriz de correlação como modelo estatístico. Para fins de meta-análise, pensa-se em se concentrar nos dados das matrizes de correlação e respectivas variáveis comuns para se estabelecer a comparação dos resultados das pesquisas dos estudos. Quadro 5 - Seleção de artigos a partir das variáveis e modelos estatísticos para estudos futuros AUTOR(ES) VARIÁVEIS “CANDIDATAS” PARA ESTUDOS FUTUROS ALTINTAS et al. (2010) Institucionalização Grau de internacionalização Confiança ANDERSEN (2011) Risco de desempenho Multinacionalidade Tamanho da organização BERRY et al. (2010) Modo de entrada Distância cultural Distância econômica Distância financeira Distância política Distância administrativa Distância demográfica Distância de conhecimento Experiência internacional Distância Política BROUTHERS (2002) Tamanho da firma Experiência internacional Teoria de Custos de Transação Especificidade de ativos Risco de investimentos Restrições Legais BROUTHERS et al. (2003) Modo de entrada Desempenho Incerteza econômica Tamanho da firma Restrições legais Incerteza comportamental Incerteza ambiental Experiência internacional BROUTHERS e NAKOS (2004) Modo de entrada Especificidade de ativos Tamanho da firma Incerteza em relação ao ambiente Matriz de correlação Matriz de correlação Matriz de correlação Matriz de correlação Matriz de correlação Matriz de correlação MODELO ESTATÍSTICO 104 KUITTINEN et al. (2009) HUTZCHENREUTER et al. (2011) HARZING (2002) DIKOVA e WITTELOOSTUIJN (2007) CHIAO et al. (2008) CHENG (2008) CHEN e MUJTABA (2007) CHARI e CHANG (2009) CHANG et al. (2012) Cont. Quadro 5 BUVIK e ANDERSEN (2002) Custos de Transação Especificidade de ativos Internacionalização Modo de entrada Distância Cultural Alta Qualidade de Governança Baixa qualidade de governança Experiência internacional Experiência Local Experiência internacional Distância Cultural Risco-país Especificidade de ativos Experiência internacional Restrições Governamentais Risco-país Distância Cultural Modo de entrada Alta intervenção do governo Modo de entrada Especificidade de ativos Ativos complementares Experiência internacional Modo de entrada Experiência na aquisição Experiência em Greenfield Experiência internacional Relação entre investimentos Avanço Institucional Experiência internacional Distância Cultural Distância Cultural agregada Diversidade Cultural Expandida Aliança de investimentos Aliança prévia Aliança doméstica Aliança bilateral Matriz de Correlação Matriz de correlação Matriz de correlação Matriz de correlação Matriz de correlação Matriz de correlação Matriz de correlação Matriz de correlação Matriz de correlação Matriz de correlação 105 Fonte: Elaboração própria (2013) SCHWENS e KABST (2009) SARALA e VAARA (2010) RHEE (2008) MALHORTA et al. (2009) Cont. Quadro 5 LIANG et al. (2009) Modo de Investimento Modo de Propriedade Total Distância Cultural Desempenho Experiência internacional Distância cultural Distância administrativa Distância geográfica Distância Econômica Modo de entrada Performance financeira Performance não-financeira Tamanho da firma Diferenças culturais nacionais Diferenças culturais organizacionais Transferência de conhecimento Especificidade de ativos Experiência internacional anterior Tamanho da firma Matriz de Correlação Matriz de Correlação Matriz de Correlação Matriz de Correlação Matriz de Correlação 106 107 A nuvem de palavras, apresentada na figura 6, contendo os dados da coluna “variáveis ‘candidatas’ para estudos futuros ” do Quadro 5, apresenta a frequência com a qual esses modelos são descritos, sendo as expressões com maior destaque, aquelas com maior incidência de uso nos estudos analisados para esta dissertação. Figura 6 - Nuvem de palavras das Variáveis “candidatas” para estudos futuros Fonte: Elaboração Própria (2013) O destaque das palavras da figura 6 corresponde à maior incidência das variáveis “candidatas” para estudos futuros, dispostas em ordem decrescente, conforme se observa na tabela 13: Tabela 13 - Variáveis “candidatas” para estudos futuros e número de ocorrências nos artigos Variáveis “candidatas” para estudos futuros Experiência Internacional Modo de Entrada Distância Cultural Especificidade de Ativos Tamanho da Firma Número de Ocorrências 8 8 7 5 4 Fonte: Elaboração própria (2013) A partir dos dados desta proposta de arranjo para a elaboração de um estudo metaanalítico, é necessário eliminar variáveis que não sejam comuns e se concentrar naquelas relacionadas à proposta da pesquisa, no caso, dados que efetivamente contribuam para averiguar aspectos institucionais, culturais ou de custos de transação na decisão de modo de entrada. Além disso, procedimentos complementares se fazem necessários para a preparação deste processo; resgatar nos artigos selecionados os resultados gerados e como estes se 108 articulam com a pesquisa que se pretende conduzir. Com esse intuito, tomam-se por referência eixos temáticos em que se podem incluir grupos de artigos e estabelecer caminhos complementares para a pesquisa. Neste sentido, apresenta-se a seguir alguns desses caminhos complementares, discutindo-se inicialmente a teoria de custos de transação associada a outros fatores, a institucionalização associada à confiança e a relação entre distância cultural e modos de entrada por subsidiárias de propriedade total (WOS) ou por joint venture (JV). 4.1. Teoria de custos de transação associada a outros fatores O estudo de Chen e Mujtava (2007) toma como ponto de partida a TCT para investigar a decisão de modo de entrada a partir de um conjunto de fatores, como: fatores específicos da firma, fatores específicos do país, fatores específicos de mercado e variáveis relacionadas como: especificidade de ativos, experiência internacional, risco-país, restrições governamentais, distância cultural, potencial de mercado e incerteza de demanda. O resultado do teste das hipóteses mostra forte correlação entre as variáveis independentes. No uso de correlação não paramétrica de Spearman e ANOVA buscou-se comparar os resultados significativos de variáveis independentes entre os graus de controle de agrupamento no modo de entrada. Depois, análise discriminante múltipla foi utilizada para determinar como as variáveis independentes podiam discriminar entre baixo, médio e alto grau de controle no modo de entrada. Os coeficientes de correlação e os resultados de função da ANOVA foram significativos (p<0,001). Observa-se aqui a adoção da TCT já na perspectiva de uma proposta ampliada, associada a outros fatores como especificidade de ativos, distância cultural, restrições governamentais, o que corresponde à perspectiva de Brouthers (2002) discutida no capítulo 4 desta dissertação. 4.2. Institucionalização associada à confiança e decisão de modo de entrada por subsidiárias próprias (WOS) ou joint venture (JV) Altintas et al. (2009) investigaram o efeito moderador da internacionalização no relacionamento entre forças do mercado e institucionalização. O estudo foi conduzido com 149 exportadores turcos. Duas hipóteses foram formuladas e confirmadas: conforme previsto, as forças do mercado (confiança e organização) tiveram efeito estatístico significativo na 109 institucionalização. A internacionalização somente afeta a institucionalização quando efeitos de interação são levados em conta. O estudo reforça a relação entre confiança na perspectiva interna do setor doméstico industrial, por um lado, e de outro a organização de um setor industrial doméstico e de outro a institucionalização do mercado. Isto significa que havendo a confiança entre as firmas, a institucionalização de um setor doméstico é mais eficaz. Berry et al. (2010) propuseram-se a realizar uma abordagem envolvendo a conceitualização e análise da influência da distância transnacional. Com base em teorias institucionais de autores como Jackson e Degg (2008) e Pajunen (2008), Berry et al. (2010) identificaram nove dimensões de distância: econômica, financeira, política, administrativa, cultural, demográfica, de conhecimento, de conectividade e geográfica. Além disso, Berry et al. (2010) desenvolveram indicadores empíricos para cada dimensão de distância. A diferença entre as dimensões de distância, entre elas a cultural, política, administrativa e geográfica indica como a distância pode afetar diretamente a decisão de investimentos da firma no exterior. Berry et al. (2010) afirmam que a distância transnacional afeta decisões pelos governos ao estabelecer tipos diferentes de relacionamentos econômicos, financeiros ou políticos nos países. Também pode acarretar conflitos potenciais em termos de distância transnacional no decorrer do tempo. Na comparação da proposta de Berry et al. (2010) com o estudo de Altintas et al. (2009), já se constata uma ampliação da ideia de institucionalização: no primeiro caso, a institucionalização na relação com dimensões diversificadas de distância; no segundo caso, o impacto da confiança entre as firmas. Brouthers (2002), no que tange à institucionalização, afirma com base nos resultados obtidos no uso de regressão logística, que firmas que entram em mercados com muita restrição legal, tendem a adotar modos de entrada por joint venture. Especificamente, em relação a joint ventures, cabe resgatar os resultados obtidos nos estudos de Bener e Glaister (2010) que também chegam a confirmar o papel da confiança entre firmas para atender suas expectativas de desempenho. Pela utilização análise de correlação de Spearman entre determinantes de desempenho associado a joint ventures e medidas de desempenho, há correlações positivas do controle de JV da matriz e o atendimento às suas expectativas de desempenho. Este controle dominante da matriz é correlacionado de maneira significativa com fatores de lucratividade e eficiência (p<0,01). Também há um efeito significativo do nível de confiança (p<0,01) entre firmas parceiras com vistas à lucratividade e eficiência no 110 desempenho. Quanto maior o nível de confiança entre as firmas parceiras, maior a expectativa quanto aos fatores associados à lucratividade e eficiência no desempenho. 4.3. Distância cultural e modos de entrada por subsidiárias próprias (WOS) ou por Joint Venture (JV) Chang et al. (2012) sustentam que diferenças fundamentais nas normas e valores entre país de origem da multinacional e país anfitrião frequentemente geral dificuldades operacionais e aumento dos esforços necessários para a entrada em um país estrangeiro. Neste estudo há a proposta de se explicar o paradoxo no efeito da qualidade de governança do país anfitrião, isto é, quais instituições públicas e políticas são criadas pelos governos como base estrutural para relações econômicas, legais e sociais. Para chegar ao resultado das influências de diferentes fatores na decisão de modo de entrada, Chang et al. (2012) mostram pelo resultado que o coeficiente da variável de distância cultural é de 0,45 (p<0,001), indicando a influência positiva no modo de entrada (preferência por WOS). Em relação à qualidade de governança, o estudo indica o efeito contingencial de qualidade de confiança e o coeficiente da interação entre qualidade de governança elevada e distância cultural é de 0,76 (levando à preferência por JV). Isto mostra o efeito de qualidade de governança elevada na distância cultural, isto é, ao entrar em países culturalmente distantes em que a qualidade de governança é boa, as MNEs tendem a optar por JVs como modo de entrada. De maneira equivalente, quando há a interação entre baixa qualidade de governança e distância cultural (0,79), há a propensão em escolher WOSs como decisão de modo de entrada. 111 5. CONCLUSÃO Shaver (2013) proporciona uma discussão acerca da necessidade ou não de se realizarem mais estudos sobre modo de entrada. Em função das características específicas de seus argumentos sobre a avaliação geral da intensificação de produção científica sobre modos de entrada, opta-se aqui por retomar parte do debate proposto por Shaver (2013), para então se estabelecer a relação com as observações inerentes a esta dissertação de mestrado. Shaver (2013) inicia o artigo afirmando que questões de modo de entrada são consideradas centrais para estudiosos da área de negócios internacionais; tal interesse tem fundamento, uma vez que o foco da área de negócios internacionais tem sido o estudo de empresas que realizam operações em mais de um país. Além da importância de se compreender o modo de entrada, investigar as diferenças entre os modos de entrada também se faz pertinente conforme já sinalizado por Anderson e Gatignon (1986); Hennart (2009); Martin e Salomon (2003), além do próprio artigo de Brouthers (2002). Entretanto, a produção geral de pesquisa neste campo, ao mesmo tempo em que houve progressos, tem avançado poucos passos em termos de transformações, em vez de oferecer contribuições efetivamente substanciais para a área. Em virtude de tais problemas, Shaver (2013) oferece um conjunto de recomendações para que os estudos sobre modo de entrada sejam estruturados de uma melhor maneira. Uma das críticas de Shaver (2013) refere-se à tendência de pesquisas que maximizem de forma desproporcional explicações para a decisão de modo de entrada, ao que ele ironicamente denomina de “entrar no jogo do R2” (SHAVER, 2013, p. 24). Embora Shaver (2013) reconheça a importância em se tentar aumentar o poder das explicações, há riscos envolvidos; o primeiro é o fato de se tratar de fenômenos complexos em que há centenas de fatores que afetam os resultados. Nesse sentido insistir no R2 torna-se uma tarefa infindável, porque sempre haverá algo faltando nas explicações. Além disso, na busca por fatores adicionais, deixa-se de questionar aquilo que verdadeiramente se sabe, a partir da escolha de novos relacionamentos em que se passa a acreditar. 112 Outro problema levantado por Shaver (2013) diz respeito à precisão conceitual em assuntos como decisão de modo de entrada: tenta-se descrever o que efetivamente as empresas fazem, ou tenta-se descrever o que as empresas deveriam fazer para ter sucesso? No que concerne à habilidade em se fazer previsões, Shaver (2013) cita Masten (1993), o qual afirma que uma teoria faz um bom trabalho em prever um comportamento, como, por exemplo, a escolha específica de um modo de entrada, mas “revela pouco do custo em falhar na escolha do correto arranjo organizacional e pode se constituir em um guia fraco se uma teoria em particular parece oferecer “receitas” para as decisões de negócios.” (MASTEN, 1993, p. 119). Neste ponto, Shaver (2013) destaca que um dos grandes problemas é deixar-se levar por interpretações mal conduzidas ou por acreditar que as ferramentas estatísticas, mais do que o entendimento conceitual, sejam as soluções para tudo. Shaver (2013) ressalta que muitas das decisões de modo de entrada são interdependentes. Os fatores que afetam tais decisões são manifestações de capacidades internas e externas do ambiente. A interdependência do modo de entrada pode fornecer uma explicação por que determinadas teorias atuais têm limites em seu poder de explanação, especialmente porque grande parte dos artigos apoia-se em efeitos estatísticos significativos. Uma vez que os modos de entrada são interdependentes, de acordo com Shaver (2013) seria recomendável esperar achados de pesquisa significativos não necessariamente estatísticos e com tamanhos de efeito menores. Estabelecendo-se comparação das inquietações de Shaver (2013) referentes à intensa produção acadêmica voltada às escolhas do modo de entrada e os problemas de interpretação ou de análise envolvidos com a visão apresentada dos artigos nesta dissertação, chega-se às seguintes sinalizações: 1. Os artigos estruturados em meta-análise referentes à área de negócios internacionais não apresentam uma posição efetivamente conclusiva sobre qual fator efetivamente predomina na decisão de modo de entrada; 2. Artigos como o de Rhee (2008), embora constatem a decisão de modo de entrada por teoria de custos de transação, declaram que permanece uma dúvida, uma vez que a amostra é pequena e se restringe a um pequeno número de empresas; 3. Artigos resultantes de amostra expressiva e sofisticação nos modelos estatísticos, embora consigam provar as hipóteses do estudo de maneira adequada, também não 113 conseguem definir e estabelecer modelos generalizantes de padrões de escolha do modo de entrada, o que indica que se trata de um processo complexo, com incertezas quanto aos riscos envolvidos, grau de confiança entre as partes, conhecimento compartilhado, distância cultural entre país de origem e país anfitrião. Daí talvez o surgimento de uma dúvida quanto à dificuldade em se determinar se a escolha do modo de entrada se faz pelo predomínio de fatores relativos à teoria de custos de transação, aspectos institucionais ou referentes à cultura. Pode ser um arranjo entre esses fatores, como na visão de Brouthers (2002), do predomínio de uma dessas tendências em outros tipos de combinações, ou ainda uma relação entre nível de confiança e escolha do modo de entrada e aí, no cerne da confiança, variabilidade na crença em relação aos riscos de investimento, articulações de modo de propriedade compartilhado, falta de sintonia em virtude de padrões culturais, instabilidade em relação à postura dos governos. Pelo desenvolvimento desta análise de conteúdo com vistas à elaboração futura de revisão sistemática, vislumbra-se um conjunto de opções de frentes de pesquisa, a partir do binômio confiança e escolha do modo de entrada. 5.1. Limitações da pesquisa Uma das limitações da pesquisa é a vasta diversificação dos artigos quanto à escolha de variáveis dependentes, discrepâncias no tamanho da amostra – há estudos com amostra reduzida, outros com amostra muito grande – e adoção de grande diversificação nos modelos estatísticos adotados para comprovação das hipóteses dos estudos. Conforme mencionado anteriormente, 86 artigos foram escolhidos referentes a assuntos relacionados a aspectos institucionais ou culturais ou relativos à teoria de custos de transação na decisão de modo de entrada. Destes, 30 foram selecionados por apresentarem abordagem quantitativa. Dentre estes, 21 contêm matrizes de correlação como modelo estatístico adotado. Havendo esta redução significativa no número de artigos selecionados com vistas à preparação da base para um estudo futuro de meta-análise, os resultados comparados podem indicar o que há de comum em uma amostra reduzida, sendo difícil transpor para modelos teóricos mais amplos e de maior abrangência. 114 Acrescente-se também o fato de que há poucos estudos meta-analíticos na área de negócios internacionais, principalmente relacionados ao escopo do estudo desta dissertação. Ainda assim, os artigos meta-analíticos sobre teoria de custos de transação, decisão de modo de entrada, influências culturais, embora tenham contribuído significativamente para a exemplificação da metodologia de meta-análise para a discussão de tais assuntos, também apresentam as limitações deste tipo de estudo. Além disso, observa-se que a realização de meta-análise não conta apenas com o levantamento das informações e dos dados presentes nos artigos; é necessário ter acesso a tabelas-fonte dos autores dos artigos, para se resgatar o percurso da análise e gerar dados no âmbito da meta-análise. Isto dificulta a realização efetiva de uma meta-análise em uma dissertação de mestrado, visto que envolve todo um trabalho de contato com os autores desses artigos, divulgar a proposta de meta-análise a ser desenvolvida e justificar a necessidade de dados armazenados que serviram de referência para seus estudos, para agrupá-los, compará-los de maneira a identificar os tamanhos de efeito. 5.2. Trabalhos Futuros A partir do que se pode observar no conjunto dos 86 artigos selecionados para esta dissertação de mestrado, 21 apresentam variáveis “candidatas” à comparação e matrizes de correlação, podendo se estabelecer o ponto de partida para a realização de um estudo metaanalítico. Resta saber se nos resultados gerados nesta proposta efetivamente irão demonstrar o que predomina na decisão do modo de entrada: aspectos institucionais, culturais ou de custos de transação. Ainda na metodologia de meta-análise, como alternativa, pode-se retomar os estudos de Zhao et al. (2004), Geyskens et al. (2006) ou Tihanyi et al. (2005) no intuito de replicar a análise proposta por estes autores atualizando-as com publicações posteriores a 2004. Seria uma alternativa para reconstituir cada passo de uma dessas análises para entender por que foram adotados certos arranjos meta-analíticos. Ainda na proposta do uso de metodologia de meta-análise, sinaliza-se como possibilidade para a sequência deste estudo a análise de situações em que, no processo de 115 internacionalização, se valoriza mais a confiança estabelecida entre as partes, deixando em segundo plano os custos de transação. Apesar de os estudos de Yiu e Makino (2002) e de Verbeke e Greidanus (2009), em contextos específicos, destacarem a questão da confiança, há ainda pouca produção acadêmica a respeito. Também é possível propor um estudo voltado à influência de aspectos institucionais na decisão de modo de entrada em países como o Brasil, cujos governos estabelecem regulamentações específicas para a operação de empresas estrangeiras no país. No caso de questões referentes à distância cultural, em que a China surge como exemplo desta situação (XU et al., 2011; CHANG et al., 2012), vislumbra-se a opção de desenvolver estudos incluindo aspectos institucionais além daqueles relativos à cultura. Independentemente da adoção de metodologia de meta-análise para desenvolvimento de pesquisas em negócios internacionais, conforme se pôde observar no conjunto dos artigos selecionados para esta dissertação, os estudos sinalizam frentes para investigações futuras, a partir de opções diversificadas de associações de fatores envolvidos na decisão de modo de entrada em negócios internacionais. 116 REFERÊNCIAS AGGARWAL, R. BERRILL, J.; HUTSON, E.; KEARNEY, C. What is a multinational corporation? Classifying the degree of firm-level multinationality. International Business Review, v. 20, 2011, p. 557-577. AGGARWAL, R.; RAMASWAMI, S. N. Choice of foreign market entry mode: impact of ownership, location and internalization factors. Journal of International Business Studies, v. 23, n. 1, 1992, p. 1-28. AHARONI, Y.; BROCK, D. M. International business research: looking back and looking forward. Journal of International Management, v. 16, 2010, p. 5-15 ALGINA, J.; KESELMAN, H. J. 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