Anais da 3ª Jornada Científica da UEMS/Naviraí 22 a 26 de Outubro de 2013 Naviraí/MS - Brasil www.uems.br/navirai Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - Unidade de Naviraí 33 Estudo da Interação Entre Íons La(III) e Ligante Natural Bioativo Alice Gonçalves1, Débora F. Brotto, Noeli A. Cruz, Tamires D. Oliveira, Natalia A. Cabeza, Ademir dos Anjos2 Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – Unidade de Naviraí Rua Emílio Mascoli, 275 – Naviraí/MS. CEP 79.950-000. Fone: (67) 3924-4300. 1 [email protected], [email protected] Palavras-chave: Espectroscopia, Lantânio, Lapachol. INTRODUÇÃO O interesse em complexos metálicos está aumentando devido aos seus possíveis usos médicos, principalmente como agentes antitumorais. Adicionalmente, novos ligantes bioativos (alguns dos quais já utilizados em aplicações biomédicas) provenientes de produtos naturais, têm sido usados para a coordenação de íons metálicos, principalmente visando futuras funções como medicamentos [TOSHIMA, 1997; ANDERSON, 2006]. Elementos lantanóides são amplamente utilizados na indústria e medicina, por exemplo, elementos radioativos dessa classe podem ser usados no diagnóstico e tratamento do câncer [SU, 2009]. O lantânio é um representante dos lantanóides que é de considerável interesse nessa linha de pesquisa, principalmente por causa de seu forte efeito sobre o crescimento e morte celular [WANG, 2008; SU, 2009; KAPOOR, 2009]. A coordenação direta de ligantes orgânicos com os íons lantanóides pode sensibilizar eficazmente a energia dos centros metálicos pela transferência eletrônica do tipo ligantemetal. Tanto ligantes aniônicos como ligantes neutros têm sido utilizados com este propósito. Os ligantes aniônicos, tais como dicetonas e ácidos carboxílicos aromáticos, não só podem formar complexos estáveis com os íons de terras raras, mas também são capazes de receber e transferir energia de forma eficiente para esses íons [LIS, 2002]. O lapachol (2-hidroxi-3(3-metil-2-butenil)-1,4-naftoquinona) é um substância natural extraída do ipê (Tecoma heptaphylla (VeII) Mart) e de outras plantas tropicais, que apresenta interessantes propriedades antibióticas e antitumorais [MOLINA, 2007], mas estudos também têm demonstrado que o produto pode apresentar efeitos deletérios [SALUSTIANO, 2010]. Anais da 3ª Jornada Científica da UEMS/Naviraí - Naviraí/MS-Brasil, 22 a 26 de Outubro de 2013 Alice Gonçalves, Débora F. Brotto, Noeli A. Cruz, Tamires D. Oliveira, Natalia A. Cabeza, Ademir dos Anjos. Anais 3JCN (2013) pp 33-36. 34 O processo de complexação pode servir como estratégia para eliminar seus efeitos negativos, além de proporcionar uma melhora em atividades biológicas como a antioxidante. Dessa forma, este realizou o isolamento do lapachol do ipê roxo, e, a partir do mesmo a síntese de um novo complexo metálico com íons lantânio(III), sendo caracterizado por espectroscopia eletrônica UV-Vis. MATERIAIS E MÉTODOS O lapachol foi extraído do ipê roxo conforme procedimentos desenvolvidos em nosso grupo de pesquisa [CRUZ, 2011]. Os espectros eletrônicos nas regiões do ultravioleta visível (UV-Vis) foram obtidos em um espectrofotômetro Varian modelo Cary 50, no Laboratório de Pesquisa da Unidade de Naviraí/UEMS. Uma solução do cloreto de lantânio(III) (1,0 x 10-3 mol L-1) foi obtida pela dissolução da quantidade apropriada de La2O3 em ácido clorídrico concentrado. O excesso do ácido foi evaporado e o resíduo correspondente dissolvido em água destilada. Uma solução estoque (50 mL) do íon lantanídico foi adicionada em 100 mL de uma solução saturada quente do lapachol (1,0 x 10-3 mol L-1), e posteriormente diluída com água em uma razão 1:1 de CH3OH/H2O. A mistura reacional foi agitada e o pH ajustado entre 4-5 enquanto era aquecida até 60 C por 1 h, sendo resfriada a temperatura ambiente e deixada por 24 horas para a precipitação do complexo. Após filtração e várias lavagens do precipitado com uma solução gelada CH3OH/H2O (1:1), este foi armazenado em frasco âmbar e caracterizado. RESULTADOS E DISCUSSÃO O espectro eletrônico do lapachol (Figura 1) apresenta bandas em 204, 250, 275 e 333 nm, além de um ombro em 377 nm. Dados da literatura [MOLINA, 2007; FARFÁN, 2012] mostram que as bandas em 250 e 333 nm correspondem às transições eletrônicas no anel aromático tipo π→π*. A banda em 275 nm refere-se às transições no anel do sistema quinonoídico e a banda em 377 nm é atribuída às transições n→π* das carbonilas da quinona. As bandas em 333 e 337 nm também podem ser relativas ao sistema de ressonância do composto quando passa de p-quinona para o-quinona, devido a tautomerização ceto-enólica. Para o complexo (Figura 1) o principal indicativo da complexação é verificado através dos ligeiros deslocamentos das bandas do ligante (204, 275 e 333 nm) para maior comprimento de onda no complexo (210, 278 e 335 nm), denominado deslocamento batocrômico. Anais da 3ª Jornada Científica da UEMS/Naviraí - Naviraí/MS-Brasil, 22 a 26 de Outubro de 2013 Alice Gonçalves, Débora F. Brotto, Noeli A. Cruz, Tamires D. Oliveira, Natalia A. Cabeza, Ademir dos Anjos. Anais 3JCN (2013) pp 33-36. 35 Essas alterações podem ser atribuídas às transições π→π* dos anéis aromáticos ou também a formação, após a coordenação, de um novo sistema ligantes π estendido. Posteriormente, é possível observar uma banda em 590 nm que pode ser atribuída a processos de transição π→π* ou a um processo de transferência de carga ligante-metal (LMCT) [MOLINA. 2007; FARFÁN, 2012]. Figura 1. Espectro eletrônico comparativo do lapachol versus complexo. CONCLUSÕES Os resultados obtidos neste trabalho indicaram através da técnica de UV-Vis que ocorreu a coordenação do lapachol ao íon metálico La(III), pois observou-se deslocamentos nas bandas do ligante após a complexação. Outras caracterizações estão em andamento, bem como investigação de suas atividades biológicas, partindo da importância que ambos, ligante e metal, desempenham em sistemas biológicos. Anais da 3ª Jornada Científica da UEMS/Naviraí - Naviraí/MS-Brasil, 22 a 26 de Outubro de 2013 Alice Gonçalves, Débora F. Brotto, Noeli A. Cruz, Tamires D. Oliveira, Natalia A. Cabeza, Ademir dos Anjos. Anais 3JCN (2013) pp 33-36. 36 AGRADECIMENTOS Ao PIBIC/UEMS pela bolsa concedida e a FUNDECT pelos recursos financeiros para realização da pesquisa, a UEMS, unidade de Naviraí pelo curso. REFERÊNCIAS ANDERSON, R. F.; SHINDE, S. S.; HAY, M. P. & DENNY, W. A. Potentiation of the cytotoxicity of the anticancer agent tirapazamine by benzotriazine N-oxides: the role of redox equilibria. Journal of the American Chemical Society, v. 128, n. 1, p. 245–249, 2006. CRUZ, N. A.; DOS ANJOS, A.; MINGUZZI, S. et al. Complexo Metálico Como Estratégia Para Potencializar Atividades Biológicas. Anais do 9o ENIC, v. 1, 2011. FARFÁN, R. A.; ESPÍNDOLA, J. A.; GOMEZ. M.I.; DE JIMÉNEZ, M. C. L.; MARTÍNEZ, M. A.; PIRO, O. E.; CASTELLANO, E. E. 2012. Structural and Spectroscopic Properties of Two New Isostructural Complexes of Lapacholate with Cobalt and Copper. International Journal of Inorganic Chemistry, v. 2012, p. 1-6. KAPOOR, S. Lanthanum and Its Rapidly Emerging Role as an Anti-Carcinogenic Agent. J. 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