Plano Territorial de Cadeia de Produção Cooperativa: Mandioca Território Médio Jequitinhonha CEADES Centro de Estudos e Assessoria ao Desenvolvimento Territorial Emanuel Maia Márcio Gomes da Silva Junho de 2008 “Se farinha fosse americana Mandioca importada Banquete de bacana Era farinhada” (Juraildes da Luz) Sumário Apresentação .................................................................................................................. iv Glossário............................................................................................................................v Resumo executivo ............................................................................................................1 Procedimentos Metodológicos ..........................................................................................3 Definição da cadeia prioritária e dos municípios envolvidos........................................3 Delimitação da Área de Abrangência do Estudo...........................................................4 Levantamento de Dados Secundários............................................................................4 Levantamento de Dados Primários................................................................................4 Metodologia para definição das metas ..........................................................................7 Breve caracterização do território......................................................................................8 Caracterização da cadeia produtiva da mandioca............................................................12 Usos e produtos da mandioqueira................................................................................12 Histórico da cadeia na região.......................................................................................13 Aspectos gerais da cadeia no território........................................................................15 Análise dos Subsistemas..................................................................................................18 Subsistema: Unidades Familiares de Produção ...........................................................18 A propriedade ..........................................................................................................18 A área de plantio......................................................................................................21 Mão de obra .............................................................................................................21 Variedades ...............................................................................................................22 Preparo do Solo .......................................................................................................23 Plantio .....................................................................................................................24 Tratos culturais ........................................................................................................25 Colheita e pós-colheita ............................................................................................25 Assistência técnica e crédito....................................................................................26 Custo de Produção ...................................................................................................28 Subsistema: Beneficiamento da mandioca ..................................................................32 Organização das fábricas .........................................................................................32 Produtos derivados do processamento.....................................................................33 Infra-estrutura ..........................................................................................................34 Insumos ...................................................................................................................36 Água ........................................................................................................................37 Mão de obra utilizada no processamento ................................................................38 Resíduos ..................................................................................................................39 Associativismo e Cooperativismo ...........................................................................39 Subsistema: Comercialização ......................................................................................40 Canais de comercialização.......................................................................................40 Venda direta ao consumidor: Feiras e comunidades rurais .....................................41 Venda para intermediários.......................................................................................42 Transporte para a comercialização .........................................................................44 Mercados alternativos - PAA ..................................................................................45 Análise do Ambiente Institucional da Cadeia Produtiva ................................................47 O desenvolvimento do Diagrama de Venn – o “jogo das bolas” e as relações institucionais................................................................................................................47 i i Metas definidas para a cadeia produtiva da mandioca ....................................................55 Subsistema Produção...................................................................................................55 Subsistema beneficiamento ........................................................................................59 Subsistema de comercialização ...................................................................................63 Metas físicas e financeiras...........................................................................................67 A cadeia Produtiva da Mandioca no Desenvolvimento do Médio Jequitinhonha...........76 3 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Apresentação Os Planos Territoriais de Cadeias de Produção Cooperativa (PTCPCs), a serem realizados de forma participativa, com a integração entre equipe técnica, articulador territorial, agricultores familiares e demais atores envolvidos no processo de dinamização econômica do território, tem como principal objetivo traçar um desenho de um plano de negócio para o desenvolvimento de cadeias produtivas prioritárias e sua organização nos territórios. O ponto de partida são os eixos propostos nos PTDRS, no sentido de aprofundá-los, e do planejamento de crédito e ATER no Plano Safra Territorial. Assim, espera-se que os agricultores familiares possam ampliar seu grau de governança sob tais cadeias através da formação de arranjos institucionais adequados para a gestão social e a dinamização econômica das cadeias priorizadas. Entende-se que o fortalecimento de certas cadeias produtivas nos territórios rurais possa, além de qualificar novos investimentos e proporcionar novas oportunidades para o uso do crédito, também possa gerar uma demanda derivada para o fortalecimento e surgimento de outras cadeias produtivas nos territórios, principalmente a partir das melhorias das infra-estruturas físicas, canais de comercialização e formação de redes de ATER. i v Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Glossário AMEFA – Associação Mineira de Escolas Famílias Agrícola AMEJE – Associação dos municípios do Médio Jequitinhonha ATER – Assistência Técnica e Extensão Rural ATES – Assistência Técnica, Social e Ambiental BNB – Banco do Nordeste do Brasil CMDRS – Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável CODETER – Colegiado de Desenvolvimento Territorial CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento CPT – Comissão Pastoral da Terra CUT – Central Única dos Trabalhadores DRP – Diagnóstico Rápido Participativo EFA – Escola Família Agrícola EMATER – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EPAMIG – Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado de Minas Gerais FETAEMG – Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais FETRAF – Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar FOFA – Fortalezas, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDENE – Instituto de Desenvolvimento do Nordeste IDH – Índice de Desenvolvimento Humano INCRA – Instituto de Colonização e Reforma Agrária ITAVALE – Instituto dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Vale do Jequitinhonha ITER-MG – Instituto de Terras do Estado de Minas Gerais MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário MDS – Ministério do Desenvolvimento Social MESOVALES – Agência de Desenvolvimento Integrado e Sustentável dos Vales do Jequitinhonha e do Mucuri PAA – Programa de Aquisição de Alimentos PCPCR – Programa de Combate a Pobreza Rural PDA – Plano de Desenvolvimento de Assentamentos PDHC – Projeto Dom Helder Camâra PJR – Pastoral da Juventude Rural PNCF – Programa Nacional de Crédito Fundiário PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar PRONAT – Programa Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Territórios Rurais PTCPC – Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa PTDRS – Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável SDT – Secretaria de Desenvolvimento Territorial SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas STR – Sindicato dos Trabalhadores Rurais TMJ – Território do Médio Jequitinhonha UFP – Unidade Familiar de Produção v Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Resumo executivo O Território do Médio Jequitinhonha é composto pelos municípios de Águas Vermelhas, Angelândia, Araçuaí, Berilo, Cachoeira de Pajeú, Chapada do Norte, Comercinho, Coronel Murta, Francisco Badaró, Itaobim, Itinga, Jenipapo de Minas, José Gonçalves de Minas, Medina, Novo Cruzeiro, Padre Paraíso, Pedra Azul, Ponto dos Volante e Virgem da Lapa, num total de 19 municípios. Todavia internamente o território opera sem o município de Águas Vermelhas, que está participando das reuniões no Território Alto Rio Pardo. O território apresenta condições climáticas adversas, tendendo para a semiaridez, com precipitações anuais abaixo de 1.000 mm, atingindo em alguns municípios 700 mm. Os solos apresentam fertilidade relativamente baixa para as principais culturas agrícolas. A temperatura média anual situa-se na faixa de 21 a 24ºC. O rio Jequitinhonha é o principal recurso hídrico da região, seguido pelo seu afluente o rio Araçuaí. O relevo é formado, principalmente, por grandes chapadas planas recortadas por grotas profundas, onde se encontram os recursos hídricos. Segundo o Censo de 2000, a população do território Médio Jequitinhonha é de 277.694 habitantes e esta população está dividida entre o urbano e o rural, com 50,10% vivendo em área urbana e 49,89% vivendo em área rural. O território do Médio Jequitinhonha ocupa 3,05% da área total do estado e possui uma população de 1,55% à população do estado. Deve-se salientar que, o número de pessoas pobres ultrapassa 60% da população, e que em apenas 30% dos domicílios possuem uma média de anos de estudo superior a quatro anos. Economicamente o território é muito fragilizado, pois o território responde por menos de 1% da renda total gerada no estado de Minas Gerais. A renda per capita média do território é R$ 80,24/mês e o PIB per capita do Território equivale a pouco mais de 25% do PIB per capita estadual. A principal atividade econômica no território é a agropecuária e aproximadamente 40% da população são trabalhadores rurais. Calculase que 52,2% do Valor da Produção no território provêm da produção animal, outros 40,4% decorrem dos cultivos vegetais, enquanto a extração vegetal e a silvicultura correspondem a somente 7,24%. A agricultura familiar participa com 64,7% do VAP, apesar de ocupar aproximadamente 45% da área e ocupar 86% dos trabalhadores rurais. Analisando aspectos do Valor da Produção (VAP), dentre os produtos cultivados, a 1 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. mandioca é preponderante na determinação do valor da produção arrecadando 39,2% do VAP, seguido pelo milho com 20,5% e a cana-de-açúcar com 10,9%. Pela sua importância cultural e econômica a cadeia produtiva da mandioca foi escolhida para a elaboração do Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa (PTCPC). Este plano tem como objetivo traçar um plano de desenvolvimento, a partir dos entraves e propostas definidos de forma participativa entre os agricultores familiares. Assim o PTCPC vem aprofundar um dos eixos propostos pelo Plano Territorial de Desenvolvimento Territorial Sustentável e auxiliar no planejamento do crédito e da assistência técnica indicados pelo Plano Safra Territorial. As principais dificuldades encontradas no elo da produção passam pelos temas de acesso a terra, assistência técnica e o crédito. As metas propostas para o elo baseiamse na construção de uma rede de ATER que utilize os alunos das escolas famílias agrícolas, com o objetivo de facilitar e melhorar o desempenho das atividades agrícolas e da circulação de informações. No elo do beneficiamento os entraves principais estão associados à falta de condições adequadas para o processamento da raiz da mandioca utilizando eficientemente a mão de obra disponível, assim como explorando outros produtos além da farinha e da fécula (polvilho ou goma). O elo da comercialização foi o mais discutido, visto que nele se materializam as expectativas dos agricultores. A desorganização na comercialização foi colocada como o principal fator a depreciar os rendimentos da atividade. O desejo de mudança pelos agricultores é claro, porém eles consideram que é necessária a atuação de mediadores para consolidar os canais de comercialização que sejam adequados à realidade de cada grupo de agricultores. 2 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Procedimentos Metodológicos Definição da cadeia prioritária e dos municípios envolvidos O início dos trabalhos se deu com a definição das prioridades para o programa. Como ele almejou ser um programa a ser construído coletivamente no âmbito do território, ocorreu um processo de sensibilização e mobilização dos atores sociais através do próprio CODETER. Para tanto ocorreu uma reunião inicial de trabalho, com duração de um dia, com a presença do Consultor responsável e a equipe técnica e os membros do Colegiado, mais alguns convidados com o objetivo de: • Apresentar os objetivos do Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa – PTCPC para o processo de dinamização econômica do território; • Apresentar informações sobre as principais cadeias de produção desenvolvidas no território e definir qual cadeia seria objeto do plano. • Definir quais os municípios do território estariam incluídos no programa. Nessa reunião foi definida a cadeia produtiva da mandioca a ser estudada e os municípios incluídos no plano foram Araçuaí, Cachoeira do Pajeú, Comercinho, Itaobim, Itinga, Medina, Padre Paraíso, Pedra Azul, Ponto dos Volantes e Virgem da Lapa. Os municípios foram escolhidos levando em consideração os seguintes critérios: a) Com maior número de produtores familiares que se dedicam à atividade selecionada e/ou com maior dimensão da mesma (área plantada, rebanho, produção física, valor da produção, etc); b) Com efetivo potencial para o crescimento da atividade, medido tanto em termos das características do meio físico (solo, clima, recursos hídricos, etc), quanto de fatores econômicos (especialmente aqueles ligados ao mercado). Deve-se destacar que algumas dificuldades foram encontradas para realizar esta reunião, entre elas: o período estipulado para realizar o plano foi muito curto, a época de contratação ocorreu no final do ano e assim as festividades, recessos e o compromisso dos agricultores com suas lavouras impediam o estabelecimento de uma data para a reunião. Outra questão é que as atividades ocorreram entre o fim de um contrato do articulador territorial e a nova contratação o que dificultava o contato com os atores sociais do território. 3 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Delimitação da Área de Abrangência do Estudo Para definição da área de abrangência do estudo foram amostrados seis municípios dentro do território que enquadravam as diferenças existentes no território. Assim os municípios onde houve investigação de campo pela equipe técnica foram Araçuaí, Virgem da Lapa, Itaobim, Comercinho, Medina, Ponto dos Volantes. Em cada município ficou definido que seriam pesquisados pelo menos três comunidades rurais, ou assentamentos, que desenvolvessem atividades referentes à cadeia de produção da mandioca. Levantamento de Dados Secundários Os dados secundários foram obtidos através de estudos já realizados sobre a produção, processamento e comercialização da mandioca publicada por universidades, IBGE, EMATER, e os estudos realizados pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, especificamente os documentos elaborados via Secretaria de Desenvolvimento Territorial/SDT, tais como Plano Safra Territorial e Estudos Propositivos para a Dinamização Econômica do Território Médio Jequitinhonha. Também foram consultados dados de secretarias de cada município visitado. Levantamento de Dados Primários A coleta de dados primários ocorreu em duas fases, a saber, a aplicação de duas técnicas do Diagnóstico Rápido Participativo – DRP (trata-se do FOFA e do Diagrama de Venn), e a coleta de dados acerca da cadeia através da aplicação de entrevistas semiestruturadas nos municípios amostrados. No que concerne à primeira fase, esta se deu na Escola Família Agrícola (EFA) de Itaobim. Em um primeiro momento foi feita uma reunião com os estudantes na qual foram realizadas questões geradoras acerca da produção, procurando identificar os problemas nesse elo da cadeia produtiva. Os estudantes da EFA também tiveram participação na elaboração da metodologia da oficina. Essa estratégia foi utilizada como forma de gerar uma apropriação do Plano pelos estudantes provocando um efeito multiplicador da importância da atividade produtiva da mandioca para a dinamização econômica no Território Médio Jequitinhonha. Outra contribuição dos alunos da EFA Bontempo foi o fornecimento de dados dos planos de estudo realizados sobre a cultura da mandioca. 4 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. As técnicas de DRP foram desenvolvidas em uma oficina, da qual participaram oito estudantes da EFA (municípios de Medina, Virgem da Lapa, Ponto dos Volantes, Cachoeira do Pajeú, Itaobim e Coronel Murta) e quatro produtores de mandioca, sendo dois do município de Medina e dois do município de Virgem da Lapa. A oficina foi mediada por dois técnicos e realizou-se com o apoio da SDT/MDA e das prefeituras de Medina e Virgem da Lapa, que proporcionaram o transporte dos agricultores até a EFA. O diagnóstico é uma metodologia e um método para obtenção e construção coletiva de informações sobre uma determinada realidade. Ele é chamado de participativo porque o processo de obtenção destas informações é feito de modo a envolver as pessoas que vivem a situação diagnosticada, a elas a possibilidade de construção, juntamente com os mediadores que coordenam a aplicação do DRP, o conjunto de dados e informações que comporão o diagnóstico. Como argumenta Trusen (2004), o DRP é uma metodologia que possibilita tanto o diagnóstico quanto a construção coletiva de caminhos para estimular e apoiar a participação e o desenvolvimento de grupos sociais. Este estímulo e o apoio se fundamentam na delegação ao próprio grupo da capacidade de tomar decisões e fazer escolhas entre alternativas possíveis ao seu futuro. É uma metodologia também bastante apropriada à construção de relações horizontais entre os grupos e os profissionais que os assessoram (Gomes et al., 2001). O DRP, assim como os outros métodos utilizados nas metodologias participativas, procura problematizar a realidade local, remetendo os problemas identificados a realidades causais mais amplas, respeitando, no entanto, os valores da cultura local (Verdejo, 2006). Através do DRP tenta-se avaliar os problemas e as oportunidades de solução, identificando os possíveis projetos de melhoria dos problemas mais destacados. Permite também colher dados de maneira ágil e oportuna, permite que as pessoas da comunidade e/ou os grupos pensem sistematicamente em seus problemas, nas possíveis soluções e em estratégias de ações futuras. Esta metodologia põe em contato direto todos os envolvidos no processo, facilitando o diálogo e promovendo a interação, facilitando assim a participação tanto de homens como de mulheres e dos diferentes grupos. O Diagrama de Venn consiste na apresentação gráfica, em forma de círculos ou “bolas”, por parte dos agentes, com objetivo de avaliar as entidades ou organizações que têm significado para eles em relação à cadeia produtiva no território. Pretendeu-se estimular uma discussão sobre a percepção dos agentes em relação a cada organização 5 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. citada com respeito à sua importância para o desenvolvimento da cadeia produtiva e sua relação de proximidade aos próprios agricultores. Através dessa técnica foi possível coletar elementos de caráter qualitativo acerca do arranjo institucional e organizacional do território relacionados à atividade produtiva da mandioca. A técnica conhecida como FOFA (Fortalezas, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças) consiste em uma matriz que analisa a organização geral da cadeia produtiva no território. Através do desenvolvimento dessa técnica buscou-se identificar, analisar e visualizar a situação atual dos grupos para conseguir um fortalecimento organizativo, começando por discutir as fortalezas, debilidades, oportunidades e ameaças que devem ser levadas em conta para o planejamento do desenvolvimento da cadeia produtiva no território. Através do desenvolvimento do FOFA foi possível obter elementos que indicam as potencialidades e debilidades da cadeia produtiva da mandioca. Na segunda fase, os questionários foram estruturados levando em consideração os elos da cadeia, qual seja: produção, processamento e comercialização. Dessa forma foram elaborados três questionários específicos, sendo um orientado ao agricultor familiar que cultiva a mandioca, outro direcionado ao agricultor familiar que possui fábrica individual ou processa a mandioca em fábricas comunitária, e um último questionário orientado para o comércio, seja feirantes ou mercearias e supermercados. Além do apoio da SDT/MDA, o desenvolvimento do trabalho também contou com o apoio das prefeituras, por meio das secretarias de agricultura, que colaboram dando apoio no transporte até as comunidades rurais; da EMATER, que contribui fornecendo dados secundários sobre a cadeia produtiva da mandioca e no transporte, a EFA Bontempo que forneceu a estrutura física para a realização da oficina e aos estudantes que contribuíram na construção metodológica e participação nas oficinas. Os Sindicatos dos Trabalhadores Rurais e ao ITAVALE, que mediaram à relação entre os técnicos responsáveis em desenvolver o plano e os agricultores e instituições envolvidos na coleta de dados. Em todos os municípios foram realizadas visitas as comunidades rurais que possuíam fábricas de farinha e produtores de mandioca. Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas posteriormente. Dessa forma, informações pertinentes à cadeia produtiva que não estavam no roteiro, mas que eram levantados pelos agricultores foi foco de investigação e se encontram descritas nas análises desse documento. Entre as principais dificuldades de levantamento de dados primários encontradas foram devido ao curto período para a sua execução e o deslocamento dentro do território. Outro fator não esperado foi o lançamento do território da cidadania, que fez 6 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. com que a equipe técnica cancelasse reuniões previamente marcadas além de encerrar qualquer possibilidade de atividade dentro do território. Durante uma das avaliações do plano as duas principais questões que podem comprometer o sucesso na elaboração do documento foram a época e o prazo para a sua elaboração, visto que as duas dificultam o estabelecimento de um grupo de interesse e uma rede de serviços que garantam sua execução. Metodologia para definição das metas Para a definição das metas foi realizada uma reunião no território com duração de dois dias. Inicialmente fez-se uma breve apresentação do trabalho até então realizado. Em seguida houve divisão em grupos para o aprofundamento das discussões em relação aos problemas diagnosticados para cada elo da cadeia. Neste momento, houve inclusão e exclusão de itens. Após a discussão nos grupos, foi realizada a apresentação dos problemas, e das principais discussões realizadas em grupo. Antes da definição das metas, foi realizada uma simulação de geração de meta, junto à plenária, para capacitar todos os presentes a estabelecê-las conforme as exigências definidas no documento de elaboração dos PTCPCs. Assim, para a definição propriamente dita das metas foi realizado a divisão em grupos, com os presentes, e a proposição de ações direcionadas a soluções dos problemas concernentes a cada elo da cadeia produtiva da mandioca. Como método foi utilizado uma adaptação da técnica de planejamento participativo (Coelho, 2005). Após a elaboração da metas e da definição dos atores institucionais envolvidos, os grupos voltaram à plenária e apresentaram as proposições. Na plenária houve a inclusão, retificação e retirada de propostas de ações. 7 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Breve caracterização do território O Território do Médio Jequitinhonha é oficialmente composto pelos municípios de Águas Vermelhas, Angelândia, Araçuaí, Berilo, Cachoeira de Pajeú, Chapada do Norte, Comercinho, Coronel Murta, Francisco Badaró, Itaobim, Itinga, Jenipapo de Minas, José Gonçalves de Minas, Medina, Novo Cruzeiro, Padre Paraíso, Pedra Azul, Ponto dos Volante e Virgem da Lapa, num total de 19 municípios. Todavia internamente o território opera sem o município de Águas Vermelhas, que está participando das reuniões no território Alto Rio Pardo. O território é fortemente marcado por condições climáticas adversas, tendendo para a semi-aridez, com precipitações anuais abaixo de 1.000 mm, atingindo 700 mm nos municípios de Itinga e Itaobim, que aliado às condições de fertilidade dos solos, relativamente baixas para as principais culturas agrícolas, tornam a sobrevivência difícil, especialmente no meio rural. A temperatura média anual acusa pouca variação, situando-se na faixa de 21 a 24ºC. O rio Jequitinhonha é o recurso natural mais importante da região. Outro importante recurso hídrico é o rio Araçuaí, principal afluente do rio Jequitinhonha. O relevo é formado, principalmente, por grandes chapadas planas com grotas profundas, onde nascem e correm as águas. Segundo o Censo de 2000, a população do território Médio Jequitinhonha é de 277.694 habitantes e esta população está bem dividida entre o urbano e o rural, com 50,10% vivendo em área urbana e 49,89% vivendo em área rural. O território do Médio Jequitinhonha ocupa 3,05% da área total do estado e possui uma população de 1,55% à população do estado. O IDH-M do território é de 0,651 e está abaixo do estadual que é de 0,773. Dos três indicadores utilizados para compor o IDH-M, a renda é o indicador que apresenta os valores mais baixos em todos os municípios. Os índices que indicam os domicílios em situação de pobreza1 no território têm uma media de 46,7%, valor que está bem acima do estadual, que é de 14,10%. Nove dos dezoito municípios que compõem o território apresentam índices de pobreza acima de 50%. O número de pessoas pobres2 no território é de 66,68%, enquanto no estado esse número é de 29,8%. Outro ponto 1 Os domicílios em situação de pobreza são aqueles com saneamento inadequado e cujos responsáveis têm renda de até um salário Mínimo por mês e freqüentaram escola por menos de quatro anos. 2 Percentual de pessoas com renda domiciliar per capita inferior a R$ 75,50, equivalentes a 1/2 do salário mínimo vigente em agosto de 2000. O universo de indivíduos é limitado àqueles que vivem em domicílios particulares permanentes (IPEA, 2000). 8 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. negativo é o fato de a taxa de analfabetismo do território ainda ser alta. Um indicador das péssimas condições educacionais do território é a média de responsáveis por domicílios com menos de 4 anos de estudo (69,15%), enquanto no estado à média é de 34,8%. Os dados de saúde indicam altas taxas de mortalidade infantil, além de baixa assistência médica e leitos hospitalares no território. As condições de saneamento no território são precárias. Somente 59,77% dos domicílios do território possuem rede geral, contra uma média estadual de 83%. Com relação à economia do território, a primeira informação que chama a atenção é a pequena renda gerada pelos municípios. O território responde por menos de 1% da renda total gerada em Minas Gerais. A renda per capita média do território é de somente R$ 80,24/mês. O PIB per capita do Território equivale a pouco mais de 25% do PIB per capita no estado, ou seja, é um valor muito baixo de produção em termos econômicos. Cerca de 40% dos habitantes do território do Médio Jequitinhonha são trabalhadores rurais. Esta informação mostra a importância do trabalho rural para os moradores do território, assim como a falta de oportunidades em outros setores da economia. Segundo dados do censo agropecuário do IBGE em 1995/1996, a maior parte da área dos municípios do território refere-se a pastagens (62,9%), seguido de matas e florestas (20,9%). Por outro lado, a utilização da terra para culturas em lavouras congrega apenas 5,9% do total, contudo apresenta grande importância ao desenvolvimento do território, como será apresentado abaixo. Calcula-se que 52,2% do Valor da Produção no território provêm da produção animal, outros 40,4% decorrem dos cultivos vegetais, enquanto a extração vegetal e a silvicultura correspondem a somente 7,24%. Dos valores de produção animal há maior ênfase para a produção de animais de grande porte e em relação aos cultivos, as atividades em lavouras temporárias (22,68%) e permanentes (16,51%). Analisando aspectos do Valor da Produção, dentre os produtos cultivados, a mandioca é preponderante na determinação do valor da produção arrecadando 39,2% do VAP. Segundo produto é o milho, com 20,5% do total, seguido da cana-de-açúcar é com 10,9%. Em torno de 40% dos estabelecimentos rurais têm menos de 10 hectares, enquanto apenas 0,7% possuem mais de 1.000 hectares. Em estudo recente, Alcantara Filho (2007) analisou a concentração de terras no Brasil, bem como nos seus estados nos anos de 1992, 1998 e 2003 e concluiu que os níveis de concentração fundiária 9 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. permanecem quase que inalterados no Brasil, exceto na região Norte que obteve algumas pequenas mudanças. No território há uma ampla predominância de pequenas propriedades e de acordo com o censo de 1995, dos 18.081 estabelecimentos rurais, somente 127 são ditos grandes. Embora o número de grandes propriedades seja muito baixo (0,7%) estes estabelecimentos agregam 20,1% da área total ocupada, enquanto que o total de estabelecimentos com menos de 10 hectares (40% do total) agrupam somente apenas 2,8% da área. Considerando-se ainda o critério de pequenos estabelecimentos (menores que 100 há), os 86,6% de estabelecimentos com menos de 100ha, possuem somente 26,9% da área total, logo, esta relação evidencia a situação de concentração fundiária no território. Outro aspecto é que o Território Médio Jequitinhonha têm uma característica de agricultura familiar forte. Exemplo disso é a porcentagem de estabelecimentos familiares no Território, 91,1%, proporção bem superior que a média estadual com 77,3%. Contudo, a parte da área que cabe a estes 91,1% de estabelecimentos familiares é muito pequena, contendo menos 44% da área ocupada. Todavia com esta pequena parcela da área total do território a agricultura familiar participa com 67,4% do Valor da Produção e 86% de ocupação de trabalhadores. Alguns programas e ações dos governos estadual e federal visando o desenvolvimento sócio-econômico do Vale do Jequitinhonha foram citados, tais como: os comitês de bacia hidrográfica e os programas sociais e com fins produtivos coordenados pelo IDENE e EMATER-MG (inclusive programas com recursos federais, cuja gestão é de responsabilidade do governo estadual); a Agenda 21 Local, ligada às ações do Ministério do Meio Ambiente; o Plano de Desenvolvimento Integrado e Sustentável da Mesorregião do Vales do Jequitinhonha e Mucuri (MESOVALES, 2005), implementado pela Secretaria de Programas Regionais do Ministério da Integração Nacional, as ações do Ministério do Desenvolvimento Social e do Ministério do Desenvolvimento Agrário, por meio das Secretarias de Desenvolvimento Territorial e da Agricultura Familiar e do INCRA. Em relação ao Programa Nacional de Fortalecimento da agricultura Familiar – PRONAF, houve um significativo aumento do número de contratos e valores negociados durante esse período, embora tenha havido uma forte queda na passagem de 2001/2002 para 2002/2003. Porém, a importância relativa do território em relação às operações do PRONAF em todo estado de MG diminuiu durante esses anos. Na safra 2001/2002, o montante negociado no território que correspondia a 1,6% do valor estadual, e reduziu-se para apenas 0,8% em 2004/2005. 1 0 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. No Território Médio Jequitinhonha não houve contratos do PRONAF InfraEstrutura nos anos 2003 e 2004. Em 2005 ocorreram 3 projetos, nos municípios de Comercinho, Itinga e Ponto dos Volantes, totalizando 14 metas. Os 3 projetos foram para estruturar Escolas Família Agrícola (EFA) no território, e o valor total dos contratos foi de R$763.678,00. Entretanto, segundo informações do monitoramento dos projetos do MDA, apenas o projeto contratado com a Prefeitura Municipal de Comercinho foi dado como satisfatório até o momento, os outros, de acordo com o CODETER, estão em fase de implementação. 1 1 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Caracterização da cadeia produtiva da mandioca A origem provável da mandioca (Manihot esculenta Crantz) está na região de fronteira entre o Brasil e o Paraguai. Atualmente a mandioca é cultivada em mais de 80 paises das Américas, África e Ásia, nas zonas tropicais e subtropicais. Do total da produção mundial o Brasil representa mais de 15% da produção mundial (Alves & Silva, 2003). A produção brasileira nos últimos anos vem apresentando crescimento constante, totalizando no ano de 2006 mais de 27 milhões de toneladas (). No ano de 2005, os estados do Pará, Bahia, Paraná, Maranhão, Rio Grande do Sul e São Paulo, destacaram-se, com uma produção representando mais de 50% da produção nacional. Atualmente, a indústria dos derivados da mandioca exporta mais de 4 bilhões de dólares, onde a fécula representa mais de 80% deste valor. Por ser um produto rico em carboidratos, a mandioca constitui um dos principais alimentos energéticos para cerca de 500 milhões de pessoas, sobretudo nos países em desenvolvimento, onde é cultivada em pequenas áreas com baixo uso de insumos e baixo nível tecnológico. As raízes de mandioca possuem valor energético semelhante ao milho e a parte aérea tem valor protéico semelhante aos das melhores forrageiras (Cavalcante, 2002). O baixo valor protéico das raízes pode ser corrigido com a adição de 2% de uréia quando as raspas são destinadas aos ruminantes Além disso, a mandioca apresenta inúmeras características favoráveis ao cultivo pela agricultura familiar, como por exemplo, alimentação humana direta e indireta, alimentação animal, pode ser colhida em praticamente todos os meses do ano e apresenta grande rusticidade, ou seja, pode ser cultivada com o uso de poucos insumos externos. Usos e produtos da mandioqueira A mandioca tem inúmeras possibilidades de uso que são pouco difundidas e utilizadas no Brasil, uma vez que a produção reduz-se basicamente a fécula e farinha. Alguns dos produtos que poderiam ser explorados são apresentados abaixo (Simão, 2003): A parte aérea da planta – as folhas, talos, etc. - são componentes para: a) alimentação humana – adição de proteínas, enriquecendo farinha de mesa; 1 2 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. b) alimentação animal – com adição de raízes, com cascas, entrecascas e fibras, (importante ração animal, tradicionalmente comercializada no mercado internacional, notadamente Europa, USA e Ásia). As raízes da planta são insumos para a produção de: a) farinha de raspas secas – farinha de mesa; b) fécula – polvilho doce e azedo, polvilho modificado; c) raspas – insumo industrial para a fabricação de ração animal; d) resíduos sólidos (cascas, entrecascas) – farelo para ração animal; e) resíduos líquidos (manipueira) – fertirrigação e aproveitamento químico subsidiário (biocidas), para controle biológico. A fécula é considerada a substância nobre da raiz da mandioca. É obtida através de processo de extração mecânica, concentração, drenagem em centrífugas e filtro a vácuo. A fécula de mandioca pode ser usada em diversos processos industriais como (Simão, 2003): a) na forma de polvilho doce – é matéria-prima para produção de álcool fino, utilizado em farmácias, bebidas, perfumes e cosméticos. Pode ser usado também pela indústria de massas alimentícias, têxtil, papel e papelão e moveleira; b) como polvilho azedo – é o insumo básico para a produção de pão de queijo, biscoitos, produtos de confeitaria, sorvetes e chocolates; c) na forma de fécula modificada, pode ser utilizado como catiônico para papel, malto-dextrose, lucoze e xaropes, termoplástico (plástico biodegradável), sorbitol e vitamina C, açúcares dietéticos, gelatinas e iogurtes. Por outro lado, a farinha de mandioca pode ser utilizada diretamente no consumo alimentar, prato tipo e tradicional no Brasil, geralmente associado a outros pratos como a feijoada. É mais consumida pela população de menor poder aquisitivo, assim como nas regiões Norte e Nordeste. Pode ser usado, também, como insumo nas indústrias de cervejeira e mineração; ou na forma refinada, como componente da indústria de panificação e de colas. A ração animal é produzida com os resíduos do processamento industrial da raiz da mandioca – cascas, entrecascas, fiapos e fibras – adicionados das partes aéreas da planta e que são transformados em pellets, um dos mais importantes derivados de mandioca de larga aceitação no mercado internacional. 1 3 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Histórico da cadeia na região Muitos agricultores consultados cultivam a mandioca por mais de 40 anos, utilizando as mesmas variedades e seguindo os mesmos costumes ensinados pelos pais, quando estes eram mais jovens. Assim como o cultivo, o beneficiamento e os destinos dos subprodutos são os mesmo desde o “tempo dos antigos”. Os agricultores relataram que as principais vantagens em se plantar a manaiva ou maniva3 (cultivar a mandioca) são aspectos ligados à resistência da planta à seca, a pragas e doenças, a alta produtividade e os diversos usos que a planta pode ter, seja na alimentação humana ou animal. Alguns utilizam as folhas da mandioca como complemento nutricional. A Escola Família Agrícola (EFA), nos últimos anos, tem uma contribuição importante na difusão de informações sobre o aproveitamento da mandioca, tendo em vista que para os agricultores que cultivam mandioca e possuem filhos estudando nas EFA’s o aproveitamento da planta é maior do que aqueles que não possuem. Outro ponto relevante relatado é a facilidade do cultivo, pois apresenta baixa demanda insumos e pode ser cultivado junto com outras plantas (feijão, milho, café etc). No território o processamento da mandioca é realizado em unidades de beneficiamento chamadas de tendas ou farinheiras4. O principal produto é a farinha, que pode apresentar diferentes padrões de cor, granulometria e porcentagem de goma (fécula, ou polvilho). Os derivados da mandioca (farinha, goma, beiju, biscoitos de goma) estão presentes no cotidiano das famílias, sejam as das comunidades rurais ou do meio urbano (Figura 1). Dessa forma, antes de ser uma fonte de renda e garantia de reprodução social das famílias, o cultivo da mandioca é uma atividade que envolve um aspecto cultural muito valorizado pelos agricultores do território Médio Jequitinhonha. 3 Nomes destinados ao seguimento de ramo da planta da mandioca utilizado como estrutura de propagação (muda). 4 Neste documento o termo ‘farinheira’ será designado às unidades de beneficiamento de mandioca do território, por melhor descrever a situação encontrada. 1 4 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Figura 1. Beiju produzido no território, feito a partir da farinha da mandioca. Aspectos gerais da cadeia no território A cultura da mandioca no território tem sofrido pouca alteração em termos de produção, alcançando em 2006 um total superior a 34 toneladas. No mesmo período, entre os anos de 2002 a 2006; a produtividade, a área plantada e o número de agricultores apresentaram a mesma tendência (Figura 2). Segundo os agricultores, os principais aspectos que determinam à área de plantio são: o preço da farinha e a quantidade de mão de obra disponível. Em relação à produtividade o principal fator é a quantidade de chuvas ocorrentes no período de plantio e desenvolvimento inicial das plantas. Todavia, observa-se que estes fatores estão relacionados, em certo grau, com o nível tecnológico adotado para o cultivo que é dependente do número de técnicos de ATER/ATES. 200,00 175,00 150,00 125,00 100,00 75,00 50,00 25,00 2006 2005 2004 Produtividade (t/ha) 2003 Área (ha) 2002 UFP Figura 2. Produtividade, área plantada e unidades familiares de produção (UFP) que cultivam a mandioca no território Médio Jequitinhonha no período de 2002 a 2006. Fonte Emater – Relatório Sintético para Culturas Perene (2008). 1 5 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Existem diferenças da importância do cultivo da mandioca entre os municípios que compõe o território, entretanto o que mais chama a atenção é que foram encontradas poucas comunidades com farinheiras comunitárias (Tabela 1), o principal meio de se processar mandioca no território. Tabela 1. Distribuição dos estabelecimentos rurais, associações e farinheiras comunitárias entre os municípios priorizados. Município Araçuaí Cachoeira do Pajeú Comercinho Itaobim Itinga Número de estabelecimentos com área de lavoura(1) UFP(2) 2558 770 355 1477 1288 773 1206 309 236 800 Número de comunidades rurais(3) Número de associações rurais(3) Número de Farinheiras comunitárias( 67 25 54 17 6 20 (27) 40 28 35 12 48 18 11 2 (1 em andamento) 2 (1 em andamento) (15) 1 9 (2 reforma) - (11) 5 3,4) Medina 824 393 40 21 Padre Paraíso 984 285 43 – 6 15 Pedra Azul 739 360 18 8 Ponto dos 1209 32 10 498 Volantes Virgem da 1654 52 7 3 (5) 620 Lapa Total (1) IBGE, Censo agropecuário 2006, resultados preliminares. (2) Estimativa calculada considerando-se a área média cultivada de mandioca por unidade familiar de 0,5 ha (3) Estimativas consensuais realizadas durante a oficina de definição de metas ou por consulta aos municípios. (4) O número entre parênteses representa uma aproximação do número de farinheiras individuais em alguns municípios. Historicamente no território, constatou-se que o número de técnicos de ATER/ATES é baixo, observa-se os reflexos na redução de competitividade do setor produtivo e nos acesso as políticas públicas de fomento a agricultura familiar. Esta indicação é mais clara, quando se observa que entre os bens e equipamentos financiados com recursos do PRONAT diretamente associados à cadeia produtiva da mandioca foi somente uma casa de beneficiamento de mandioca em Comercinho que não estava em funcionamento (Ruas, 2007 – comunicação pessoal). Por outro lado, segundo informações dos técnicos da Emater, os contratos realizados na linha B do PRONAF 1 6 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. são destinados basicamente à cultura da mandioca. Atualmente tem se empregado recursos do Programa de Combate a Pobreza Rural para a construção ou reforma das farinheiras comunitárias. Observou-se que não houve acesso das linhas de crédito disponível para a agroindustrialização ao nível da agricultura familiar. A investigação realizada acerca da cadeia produtiva da mandioca evidenciou elementos que podem ser caracterizados como entraves na cadeia produtiva da mandioca, tais como o acesso a terra, falta de padronização na fabricação dos derivados (farinha e goma), falta de profissionais suficientes para garantir uma assistência técnica e capacitação aos agricultores que permita a criação de subprodutos provenientes da mandioca entre outros. 1 7 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Análise dos Subsistemas Subsistema: Unidades Familiares de Produção “Quem vive da roça, tem que viver do que faz” (Agricultor Familiar) A propriedade A maioria dos agricultores entrevistados se considera proprietários da terra em que cultivam a mandioca, entretanto é comum o caso onde os agricultores utilizam terras de familiares, como dos pais, as quais não precisam dividir a produção. Por outro lado, com menor freqüência, encontram-se os agricultores que são parceiros ou meeiros que dividem a produção com proprietário Dentro da amostra de agricultores desse trabalho, essa relação é de: 60% consideram proprietários e 40% trabalha em regime de arrendamento. Entretanto, para os membros do CODETER, essa relação é bem diferente, sendo a relação entre o número de proprietários menor do que o identificado na amostra do estudo. No levantamento de dados foi constatado que o acesso a terra, mesmo para aqueles que são proprietários, é uma preocupação constante. Esta preocupação com a questão fundiária dentro do território é o resultado de um processo histórico de luta pela terra, no qual os sindicatos e movimentos sociais presentes no território tem plena participação. Quando se observa os dados censitários a respeito da condição do produtor observa-se que este número é menor, em torno de 7% dos estabelecimentos o produtor não seria o proprietário (Tabela 2). Contudo, observa-se que estes dados são relativamente antigos e que o grupo produtivo da mandioca pode ter um grande número de agricultores que estão dentro deste percentual de produtores que não possuem o título de posse ou propriedade da terra cultivada. Uma outra hipótese levantada é que a área disponível para as atividades agropecuárias na qual o agricultor é proprietário não é suficiente para a manutenção da família, visto que cerca de 40% das propriedades possuem menos de 10 ha. Nestas duas hipóteses verifica-se a necessidade da implantação de ações de regularização e reestruturação fundiária. Outra preocupação é o caso de terras que estão sendo utilizadas por grandes empresas (plantio de eucalipto) ou para a pecuária, as chapadas, que anteriormente eram 1 8 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. cultivadas com a mandioca e outras lavouras de subsistência, áreas coletivas de plantio5 (Ribeiro et al., 2005). 5 As áreas de cultivo são coletivas, entretanto os cultivos são individuais. Nestas áreas há manifestações de formas coletivas de trabalho, como os mutirões e troca de dias, contudo predomina o uso do trabalho familiar. 1 9 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Tabela 2. Estabelecimentos rurais conforme a condição do produtor Condição do Produtor Total dos Estabelec. Rurais Arrendatário Parceiro Proprietário Nº Área Estabel. Área Estabel. Área Estabel. Área Araçuaí 2.157 156.394 1.964 153.829 5 382 5 522 Berilo 1.708 32.998 1.660 32.231 10 52 9 98 Cachoeira de Pajeú Comercinho 904 50.973 899 50.922 4 49 0 0 Coronel Murta 628 66.904 579 66.402 1 32 1 3 Francisco Badaró 2.415 43.292 2.315 42.220 5 11 24 48 Itaobim 648 39.439 514 38.336 3 27 18 65 Itinga 1.510 161.255 1.487 156.986 8 863 3 1.698 Jenipapo de Minas José Gonçalves de Minas Medina 678 95.319 631 93.285 7 94 10 646 Padre Paraíso 775 35.579 741 34.405 6 17 16 893 Pedra Azul 382 163.617 349 159.504 5 1.499 0 0 Ponto dos Volantes Virgem da Lapa 1.329 51.456 1.120 47.584 2 850 46 1.665 Total do Território 13.134 897.226 12.259 875.704 56 3.876 132 5.638 Fonte: IBGE, 1995/1996, adaptado do Estudo Propositivo para a Dinamização Econômica do Território do Médio Jequitinhonha Municípios Ocupante Estabel. Área 183 1.661 29 617 1 2 47 467 71 1.013 113 1.011 12 1.708 30 1.294 12 264 28 2.614 161 1.357 687 12.008 2 0 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. A área de plantio Predomina-se o cultivo em áreas pequenas, dificilmente ultrapassando um hectare, com média em torno de 0,5 ha (Figura 3). Os agricultores que cultivam áreas superiores fazem seus plantios em módulos, de forma que a área continua cultivada com a mandioca seja de maneira geral inferior a um hectare. Quando possível, os agricultores traçam estratégias para a escolha da área de plantio como forma de obter maior beneficio para a família. Um caso interessante de ser relatado é de uma família que possui duas áreas de cultivo, uma próxima a uma barragem, que fica alagada durante a estação chuvosa (outubro a março). Esta é cultivada na estação seca com variedades mansas, que possuem o ciclo mais curto e são colhidas com seis meses. A outra área, nas terras altas, chamadas comumente de chapadas, a família cultiva as variedades bravas, que possuem um ciclo mais longo e são mais resistentes à seca. Figura 3. Cultivo no médio Jequitinhonha. A linha delimita a área do cultivo. Mão de obra A mão de obra empregada é basicamente a familiar (a esposa, o marido e os filhos mais novos). Nos casos em que os filhos não moram mais juntos com os pais, seja por migração ou por constituição de uma nova família, são utilizadas outras formas como a troca de dias ou os mutirões. A migração, principalmente para o corte de cana em outros estados, é relatada como o principal responsável pelo aumento dos custos de produção, seja da mandioca in natura ou beneficiada. Apesar de na maioria dos casos toda a família ajudar no cultivo, em alguns momentos de manejo, como a colheita e o transporte da mandioca até as fábricas pode ser necessário o pagamento de dia de serviço para terceiros. Poucos são os agricultores que contratam mão de obra para auxiliar no manejo do cultivo da 2 1 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. mandioca, e quando o fazem é por períodos curtos e específicos como a destoca – preparo da terra para o plantio, a “limpa” ou capina e a colheita. Outra questão importante a ser observada é a idade dos agricultores que estão envolvidos na atividade de cultivo da mandioca que é superior a 30 anos. Isso nos remete a refletir sobre a sucessão rural e sobre a continuidade dessa atividade para a geração de renda e reprodução social da agricultura familiar. Logo quando se associa o problema de acesso a terra e as relações de geração, tem-se um quadro que indica que a continuidade da atividade está fortemente ligada à possibilidade de acesso a terra pelas novas famílias, visto que a área média das propriedades não suporta economicamente a divisão em glebas menores. Existem inúmeros estudos sobre o fenômeno da migração no Vale do Jequitinhonha (Ribeiro & Galizoni, 1998; Galizoni, 2000; Maia, 2004 entre outros) e entre os principais fatores identificados que influenciaram a migração estão os fatores históricos de desagregação da sua cultura e de suas relações com a terra, dado a exploração das áreas coletivas de cultivo por empreendimentos patrocinados pelo poder público e num segundo momento, devido à escassez de recursos (entenda-se principalmente pelo acesso a terra) a falta de oportunidades para conseguirem viverem com dignidade nesta nova condição. Variedades Assim como as operações de cultivo, as variedades cultivadas é parte da tradição do cultivo da mandioca. Diferentes variedades são cultivadas de acordo com o município. Os agricultores as classificam em dois grupos: bravas e mansas. As bravas são utilizadas para o beneficiamento (fabricação de farinha e goma) ou para a alimentação animal indireta6, enquanto as mansas são utilizadas para o beneficiamento e alimentação direta - humana e animal. Ambas são cultivadas na mesma área, cabendo a diferenciação das variedades ao conhecimento dos agricultores no momento da colheita. Os grupos e as principais variedades cultivadas são: Mansas: Abóbora, Cacau, Camboquinha, Castela, Castelinha, Cramuquem, Manteiga, Porto Seguro, Sabará. Bravas: Lagoinha, Landim (João Correia), Mal, Mole, Pau Brasil, Piriquita, Piriquitinha, Rei do Sonho. 6 O termo indireto refere-se o fato de que é necessário realizar procedimentos para eliminar compostos que possam causar algum dano aos animais. 2 2 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Existem inúmeros nomes destinados às variedades existentes no território, estes foram alguns dos exemplos mencionados durantes as entrevistas realizadas com os agricultores. Todavia, são necessários estudos específicos para determinar a real diversidade de variedades, assim como elencar as suas características agronômicas (produção, resistência a pragas e doenças etc). A escolha das variedades segue critérios baseados na experiência de cultivo de cada família. Quando há troca de variedades entre diferentes municípios/comunidades os agricultores observam características de crescimento, rendimento de raízes e de produtos no beneficiamento. Preparo do Solo O preparo do solo para o plantio geralmente segue a seguinte ordem: limpa do terreno (destoca), capina, juntada de cisco, aceiro, queima de mato, coveamento e plantio. Nas áreas que foram cultivadas onde as práticas realizadas concentram-se na “limpa” da área, no enleiramento dos restos culturais sem realizar a queimada. Na maior parte dos casos essas atividades de preparo são feitas manualmente demandando grande quantidade de mão de obra, a chamada roça de toco. Contudo, em algumas comunidades há a utilização de maquinas agrícolas para o preparo do solo. Não são realizadas operações de correção ou reposição de nutrientes. Observou-se que houve a aquisição de tratores e implementos agrícolas para o preparo das áreas de cultivos e transporte de produtos em vários municípios com recursos do PCPR (Figura 4). Contudo, vale salientar que quando se compara às áreas contínuas plantadas e a capacidade de trabalho do conjunto trator/implementos verificase um super-dimensionamento destes, o que poderá onerar os custos de operação e de manutenção destes equipamentos. 2 3 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Figura 4. Trator agrícola com carreta de transporte de produtos adquiridos com recursos do Programa de Combate a Pobreza Rural (PCPR). Plantio A época principal de plantio concentra-se nos meses de outubro e novembro. Contudo a definição da data de plantio é função das chuvas que ocorrem a partir do mês de setembro e da disponibilidade de mão de obra. Como existe um descompasso entre a colheita e o plantio, por isso os agricultores traçam diferentes estratégias para ter disponíveis as manivas necessárias ao cultivo de novas áreas. A estratégia mais utilizada é a estocagem da rama inteira em um local com sombra até o momento do plantio. Em casos extremos eles fazem à retirada das manivas dos mandiocais que estão em fase de formação. O cultivo da mandioca é predominantemente feito em consórcio com outras culturas, como o feijão de corda, milho, abóbora etc (Figura 5). Nas terras onde há a cafezais a mandioca é cultivada nas entrelinhas (Figura 6), e neste caso há preferências por cultivares de menor porte, como a “Piriquitinha”. Dentro da lavoura, não se emprega um critério técnico para definir o espaçamento entre as plantas, proporcionando um baixo número de plantas por unidade de área, menor aproveitamento dos recursos existentes e repercutindo em menor produtividade. Todavia, este maior espaçamento entre as plantas de mandioca viabiliza o consórcio com as demais espécies de plantas, por permitir um compartilhamento dos recursos primários, como a luz, água e nutrientes. São vários os pontos favoráveis ao plantio da mandioca consorciada com outras lavouras, principalmente as anuais. Entre os benefícios deste tipo de consórcio pode-se destacar: a melhor cobertura do solo durante o primeiro ano, comparar figuras 5 e 6, uma maior eficiência na exploração dos recursos primários (água, luz, nutrientes) e a redução na probabilidade do ataque de pragas (Gliesman, 2000). 2 4 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Figura 5. Cultivo de mandioca consorciada com hortaliças como abóbora e quiabo. Ao fundo observa-se a farinheira da comunidade. Figura 6. Cultivo de café consorciado com mandioca. Observa-se a superfície do solo exposto, a capina havia sido realizada recentemente. Tratos culturais Nas áreas tradicionais de cultivo da mandioca, não são empregados corretivos ou fertilizantes no plantio e/ou cobertura. Em poucas comunidades estudadas era realizada a prática da adubação para a cultura consorciada. Quando realizada a adubação não eram empregados os critérios técnicos. Muitos agricultores relataram que não utilizam fertilizantes por dois motivos. O primeiro é o custo da operação (compra do adubo e da aplicação) em relação ao preço final obtido pela farinha (principal produto comercializado), o segundo é o risco em se perder a lavoura por causa da estiagem. O fato dos agricultores não utilizarem insumos químicos não está relacionado com a preocupação com o meio ambiente, mas por questões culturais e econômicas do cultivo da mandioca. Entretanto no município de Medina o ITAVALE realizou alguns trabalhos de conservação de nascentes e discussões sobre agroecologia. O manejo do mato no mandiocal é realizado manualmente, demandando mão de obra em grande quantidade, e por fluxos. Segundo o relato dos agricultores a “limpeza” ou capina é realizada três vezes durante o primeiro ano da lavoura (período onde a concorrência por recursos é maior, visto que a mandioqueira não cobriu o solo). 2 5 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Pragas e doenças são incomuns nos cultivos de mandioca, visto que as condições de plantio (consorciamento, baixa densidade de plantas, alto número de variedades por área) reduzem a chance destas quando ocorrerem causarem dano significativo. Colheita e pós-colheita A colheita da mandioca mansa é realizada preferencialmente a partir dos seis meses após o plantio, para evitar a formação do pavio, quando é destinada a comercialização ou consumo in natura. Quando o plantio se destina à fabricação de farinha a colheita é realizada num período que varia de 18 a 24 meses (ano e meio ou dois anos). O período de colheita se dá preferencialmente nos meses entre abril e agosto, onde há menor umidade no solo e nas raízes, refletindo assim, por exemplo, em maior rendimento no beneficiamento. Regionalmente, quando a raiz encontra-se mais hidratada, diz-se que ela está “ensoada”, e não está adequada para o beneficiamento. Os agricultores não sabem precisar o rendimento do mandiocal em termos de quantidade de raiz produzida. Alguns têm a estimativa em termos de quantidade de farinha produzida, que pode variar entre 3 e 15 alqueires de farinha por hectare (180 a 900 kg de farinha por hectare). Segundo as informações da Emater (Relatório Sintético para Lavouras Permanentes/Semi-permanentes) a produtividade de raiz varia entre 6 e 12 ton/ha nos municípios do território, com uma média histórica de 9 ton/ha (Figura 2). O principal fator responsável por essa variação é a disponibilidade hídrica. Em períodos longos de estiagem a produtividade diminui consideravelmente. Os danos podem ser mais graves quando a estiagem ocorre no período de formação da lavoura (logo após o plantio). O transporte das raízes após a colheita é normalmente realizado com o auxílio de animais de carga (como o burro e a mula, por exemplo). Segundo os agricultores há uma preocupação na rápida utilização das raízes após a colheita, pois estas são muito perecíveis (se perdem com facilidade). Por isso, não foram encontrados nenhum agricultor que realizasse a estocagem das raízes. Assistência técnica e crédito A maior parte dos agricultores consultados recebeu algum tipo de assistência técnica, seja via Emater (principal entidade de ATER no território) ou por organizações não-governamentais, porém estas são restritas a poucos municípios e não realizam trabalhos fora de seu município sede. Segundo os agricultores a principal atividade de 2 6 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. ATER está relacionada à elaboração de projetos, principalmente os relacionados ao PRONAF. Segundo os técnicos da Emater consultados, cerca de 90% dos contratos do PRONAF B são destinados a atividade da mandioca e a compra novilhas. Apesar do número expressivo de agricultores que acessaram o PRONAF, a orientação sobre a utilização do dinheiro não ocorreu. As reais condições da oferta de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), no território, estão bem aquém do que se poderia classificar como recomendável. O número de técnicos é pequeno e a estrutura para trabalho (veículo, computador, material de escritório, etc) é quase sempre precário, além do valor destinado ao custeio ser insuficiente para o desenvolvimento das atividades. Dessa forma, os poucos técnicos se sobrecarregam, no atendimento de várias comunidades e muitas vezes defrontam com situações que fogem de sua formação profissional. No Plano Safra Territorial (Schroeder, 2006), relatou-se que o “mais comum é os técnicos visitarem uma comunidade e retornarem a ela somente em um período de três ou quatro meses”, obrigando os agricultores a buscarem alternativas como “a assistência técnica grupal, organização de grupos de produção, dias de campo e lavouras experimentais”. Essa dificuldade impede também a disseminação de novas tecnologias em meio aos agricultores, como a agroecologia, devido à falta de um acompanhamento adequado. Segundo recomendações da Secretaria de Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário, o número máximo de famílias a ser atendidas por técnico deve ser, em média, 100 famílias. Porém, nenhum município chega sequer próximo a essa média (Tabela 3). Os municípios de Berilo e Francisco Badaró encontram-se em situação complicada, pois ambos possuem apenas um técnico disponível para mais de 1.000 estabelecimentos rurais. Em pior situação estavam dos agricultores de Padre Paraíso, que até a realização do Plano Safra Territorial no segundo semestre de 2005, não tinham a sua disposição nenhum técnico rural. Atualmente o município de Padre Paraíso conta com um técnico, e no município de Virgem da Lapa há apenas um técnico, ou seja, o quadro atual não difere do encontrado há três anos. Já no município de Pedra Azul, que em 2005 apresentava dois técnicos (tabela 3), atualmente conta com apenas um técnico. De maneira geral, os agricultores relataram que além da falta de assistência técnica, falta também tecnologia apropriada às condições edafoclimáticas do território. As atividades de extensão ligadas ao convívio com o semi-árido se restringem à construção de caixas de captação da água das chuvas e “barraginhas” (aumentar a 2 7 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. infiltração da água da chuva). Tecnologias de convívio ligadas propriamente ao setor produtivo são praticamente inexistentes. Uma possibilidade de assistência técnica que tem surgido com forte potencial no território são os estudantes das Escolas Família Agrícola (EFA’s). A orientação dos planos de estudos dos estudantes para o cultivo de mandioca (e de outros setores produtivos) ou na orientação sobre a utilização do crédito pode ocupar a lacuna existente no território no que se refere à assistência técnica. Essa medida não substitui a contratação de mais técnicos para o território, mas ajuda a orientar as políticas que já existem no território para ações conjuntas que podem ajudar a minimizar as fragilidades encontradas na cadeia produtiva da mandioca e em outras atividades agropecuárias. Tabela 3. Relação do quantitativo de técnicos de ATER nos municípios do Território Médio Jequitinhonha – agosto de 2005. Razão Técnico Nº de Estabelec. N. Técnicos Municípios por Estabec. rurais EMATER rural 02 engenheiro Agrônomo (EA) Araçuaí 2.157 431,4 01 Bem-estar social 02 Técnicos de nível médio Berilo 1.327 01 Técnico 1.327 Cachoeira de Pajeú 552 02 Técnicos 276 Comercinho 904 01 EA 904 Coronel Murta 628 01 Técnico 628 Francisco Badaró 1.572 01 Técnico 1572 01 Técnico Itaobim 648 01 Bem-estar social 324 Itinga 831 01 Técnico 831 Jenipapo de Minas 843 01 Técnico 843 José Gonçalves de 381 01 Técnico 381 Minas Medina 678 01 Técnico 678 Padre Paraíso 775 775 Pedra Azul 382 02 Técnicos 191 Ponto dos Volantes 679 02 Técnicos 339,5 01 EA Virgem da Lapa 1.329 664,5 01Técnico Total Território 13.666 23 técnicos 594,2 Adaptado de Schroeder (2006). Custo de Produção Os custos enquanto ferramenta da micro-economia constitui informação essencial para o agricultor familiar melhor compreender seu processo produtivo e 2 8 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. aumentar a governabilidade na atividade produtiva. Assim, a apuração de custos tornase um elemento chave da definição da viabilidade e competitividade da produção, quando se avalia processos de dinamização econômica. Como também em importante informação para o agricultor decidir se economicamente é valido continuar produzindo. A produção, adaptação da atividade produtiva da mandioca na região do semiárido, o papel da renda gerada aos agricultores, a intensidade da mão de obra, processo de beneficiamento, o uso interno dos produtos e subprodutos e o valor obtido pela produção mercados possíveis de comercialização definem a viabilidade de um determinado cultivo. Os custos podem ser classificados em: custos de produção, comercialização, administração e tributários. Os custos aqui referidos serão sempre aos custos de produção. Como atividade produtiva da mandioca enfrenta problemas estruturais e institucionais que dificulta a definição de um custo de produção padrão. Entre outras dificuldades em determinar custos, está na diversidade das formas de cultivo, desde espaçamento e forma de coveamento até nas diferentes formas de comercialização e escoamento da produção. A variação do ciclo de produção é de 1,5 até 2,5 ano de acordo com a intensidade das chuvas e do objetivo do cultivo (consumo in natura ou beneficiamento). No território existem pelo menos três níveis tecnológicos adotados. O primeiro onde não se utiliza máquinas agrícolas, conhecido como “roça de toco”. O segundo que utiliza máquinas agrícolas para o preparo do solo e transporte; e um intermediário que utiliza máquinas quando existe a para algumas etapas da produção. Para este estudo foi realizado o levantamento do custo de produção de apenas da “roça de toco”, por ser o mais comum, artesanal e característico da região. O fluxograma apresentado abaixo apresenta as etapas empregadas na roça de toco e os custos para cada etapa são apresentados na tabela 4. 1) Limpa do terreno (destoca) ou roçado; 2) Capina; 3) Juntada de cisco; 4) Aceiro; 5) Queima de mato; 6) Coveamento (preparo da covas); 7) Preparação de mudas; 8) Plantio; 2 9 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. 9) Capinas, de uma a três vezes; 10) Colheita; e 11) Transporte da mandioca até a farinheira. Tabela 4: Custo para Roça de Toco(1) por hectare. Quantidade Etapa Unidade Local 1 Local 2 Roçada d/h 10 12 Aceiro(2) d/h 2 2 (3) Coveamento d/h 2 3 Preparo de d/h 3 3 Muda (4) m³ 3 3 Mudas Plantio d/h 4 5 Capinas/ Reforço de terra 1° d/h 15 15 2° d/h 15 15 3° d/h 15 15 Colheita d/h 5 7 Transporte d/a 24 24 Valor unitário 20 20 20 Custo Local 1 Local 2 200 240 40 40 40 60 20 60 60 0 20 0 80 0 100 20 300 300 20 300 300 20 300 300 20 100 140 20 480 480 Sub-Total 1.900 2.020 (1) Há três tipos de roça. De Toco, Semi Mecanizada e Mecanizada. A roça de Toco é a mais comumente utilizada. (2) O uso do aceiro é em razão da pratica da queimada. (3) O coveamento é no modo compasso (4) O transporte é feito em jacá-balaios. Duas cargas equivalem a mais ou menos 03 metros cúbicos. É suficiente para o plantio de 01 ha. (5) Os locais 1 e 2 foram utilizados para retratar as diferenças de uso da mão de obra no território de acordo com a região. A decisão de que tipo de ação será feita no terreno, depende do tipo de vegetação da área. Normalmente o cultivo utiliza área com vegetação com espessura menor que o círculo inferior ao fundo de copo “americano”. Nas demais situações (quando espessura é maior) há necessidade de autorização do Ibama para fazer a roça. O aceiro é feito para evitar que o fogo utilizado para queimar as “coivaras” (feitas com o mato cortado e seco) ultrapasse a área de cultivo. Esta prática além de ser considerada como parte da limpeza do terreno é comum nos cultivos do Médio Jequitinhonha. A influência nos custos é indireta, pois a queimada provoca a redução da matéria orgânica disponível causando conseqüentemente um maior “desgaste do solo”. O coveamento (ou preparo das cova) é no ‘modo compasso’, o que significa que não é utilizado um espaçamento padrão, além de indicar que a mandioca é a primeira cultura a ser plantada. A limpa do terreno (capina) pode ser necessária em até três vezes, oportunidade em que os agricultores aproveitam para chegar mais terra junto aos “pés 3 0 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. de mandioca” (amontoa). Esta etapa pode chegar a 47% dos custos total, se de fato ocorrer a três capinas. Como o mais normal são duas capinas estes custos é de no mínimo 31%. O transporte da roça até a casa de farinha é um custo determinante para o custo de produção da mandioca. Na verdade, o que está calculado como custo é o dia de trabalho, mais o animal próprio para transporte que tem seu valor agregado ao dia de trabalho humano. O que é contratado na verdade é o dia de serviço do animal. Este custo corresponde a no mínimo 30% do custo de produção. O valor do custo de produção calculado para o território é em torno de 50% menor do que aos custos de regiões tipicamente produtoras de mandioca do sul (Santa Catarina, R$ 3.798,00, 30 t/ha) e sudeste (Assis-SP, R$ 3.616,00, 33 t/ha), onde há o emprego de insumos industrializados e alta demanda de máquinas agrícolas (IFNP Agrianual, 2007). Essas diferenças no custo de produção se devem basicamente a inserção nos custos de produção das despesas administrativas e utilização de insumos para essas outras regiões. O território produz menos de um terço do produzido nas regiões citadas anteriormente. Essas diferenças representam uma elevação custo marginal7 (R$/t) e uma menor competitividade em relação às demais regiões. Para ilustração, o custo marginal do território considerando a produtividade média histórica de 9 t/ha e o valor médio do custo de produção é 217,78. Este valor é praticamente o dobro do valor encontrado para Assis, SP. Logo para que a atividade apresente competitividade, do ponto de vista econômico, é recomendável que se criem estratégias para reduzir o custo marginal, que podem se dar pela redução do custo de produção ou elevação da produtividade. Enquanto atividade isolada a cultura da mandioca pode apresentar-se como não competitiva. Contudo deve-se considerar que a atividade, sob os custos aqui levantados, apresenta uma taxa de retorno do capital de quase 100% quando se considera a venda para o compra direta, PAA (Tabela 5). Outras questões como o beneficiamento e outras formas de agregação de valor podem representar em maiores retornos aos agricultores. 7 Custo marginal refere-se uma quantia monetária gasta para se produzir uma determinada quantidade de produto (no caso a quantidade gasta em Reais para se produzir uma tonelada de raízes, entregue na farinheira). 3 1 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Tabela 5. Balanço do cultivo da mandioca para o território do Médio Jequitinhonha considerando a venda para o Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA – compra direta). Valor Receita Custo Médio Receita líquida Produtividade Comprador Bruta de Produção unitário kg/ha (R$) (R$/kg) (R$) (R$) CONAB (in 0,41 9.000 3.690,00 1.960,00 1.730,00 Natura) As estimativas do custo de produção levantadas são frágeis, dada às limitações encontradas no presente estudo, todavia podem ser como ponto de partida para avaliações mais rigorosas. Finalmente as análises devem incluir os aspectos peculiares do cultivo da mandioca no território do médio Jequitinhonha. A inclusão de outras espécies cultivadas em consórcio com a mandioca (reduz o custo por produto), a integração com outros sistemas produtivos, principalmente da criação de animais (aumenta o aproveitamento da produção), por exemplo. Considerando outras dimensões além da econômica, tem-se o retorno do ponto de vista da segurança alimentar, valorização da cultura local, entre outros, demonstram que numa abordagem mais sistêmica, a cultura da mandioca apresenta-se muito favorável ao desenvolvimento sustentável. Entretanto são necessária ações para superar os gargalos anteriormente citados. Subsistema: Beneficiamento da mandioca “Se cabar as farinhas, o povo morre de fome.” (Agricultor Familiar) Organização das fábricas Grande parte das fábricas existentes no território é comunitária (cerca de 60 unidades de beneficiamento), e existem muitas farinheiras individuais, que em determinadas situações operam em coletivo. O terreno no qual funcionam as fábricas comunitárias, em sua maioria, foi doado por algum morador da comunidade para a construção do prédio. A média de famílias que utilizam as fábricas comunitárias é de aproximadamente 20, com extremos como no município de Comercinho, em que esse número atinge 80 famílias. As comunidades estão organizadas em Associações Comunitárias. Na maior parte dos casos, a existência dessas associações foi de fundamental importância para a constituição de fábricas comunitárias. Os recursos do Programa de Combate a Pobreza Rural estão sendo acessados por algumas associações comunitárias e sendo investidos nas fábricas. Para acessar estes 3 2 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. recursos, as associações comunitárias contam principalmente com o auxilio da Emater na elaboração dos projetos. Em alguns municípios as organizações não-governamentais existentes auxiliam na elaboração de projetos e na captação de recursos (geralmente do Fundo Cristão para Crianças). O registro das associações é uma forma de descentralização das políticas públicas bem como um importante mediador entre o poder público e os agricultores. O estreitamento das relações entre associações e poder público pode potencializar as ações existentes no território relacionadas à questão produtiva, bem como possibilitar o acesso às políticas que ainda não são acessadas. A organização das fábricas funciona da seguinte maneira: cada família que processa a mandioca, seja para fazer goma8 ou farinha, em sua maioria, deixa um valor entre 4% a 15% da produção para a manutenção da fábrica. As famílias não-sócias geralmente contribuem com valores superiores aos das famílias sócias. A gestão é feita pelos próprios agricultores que utilizam das fábricas. Entretanto, a gestão está voltada apenas para a manutenção da fábrica, ou seja, a gestão da propriedade, como os custos gerados pela produção não são realizados pelos agricultores. Em relação ao custo da produção, de todas as fábricas investigadas, nenhuma possuía o controle dos custos do processamento da mandioca. Dado as limitações técnicas para a realização do plano não foi possível realizar uma reunião com os agricultores para avaliar estes custos associados ao processamento. Dessa forma, tornase difícil entender qual o fluxo financeiro das fábricas em questão. Produtos derivados do processamento Os derivados da mandioca encontrados no território, que apresentaram algum tipo de comercialização são a farinha, polvilho, beiju, grolão, raspa da mandioca, manipueira e biscoitos. A maior parte dos agricultores entrevistados produz farinha e goma, sendo produzidos aproximadamente 10% de goma em relação do total de farinha produzido. Muitos fazem à farinha e a goma apenas para o consumo da família, outra parcela tem nesses produtos a principal fonte de renda. Contudo este é um percentual difícil de ser estimado, porque nem os agricultores de uma comunidade sabem ao certo quantas famílias cultivam a mandioca, ou utilizam à farinheira. A utilização de produtos provenientes do processamento da mandioca pode ser um importante fator de geração de renda para as famílias. De acordo com o plano de estudos realizado pelos estudantes da EFA Bontempo (municípios de Medina, Coronel Murta; Itinga; Almenara; Comercinho; Itaobim; Jequitinhonha Ponto dos Volantes; 8 Ou polvilho, tecnicamente é chamado de fécula. 3 3 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Felizburgo; Cachoeira do Pajeú, Virgem da Lapa e Berilo), os principais produtos provenientes da mandioca nesses municípios são a farinha e a goma, correspondendo ao observado na pesquisa de campo executada pela equipe técnica. Em alguns casos, subprodutos, como a manipueira, são utilizados como inseticida; assim como os resíduos da raspagem da mandioca utilizados como adubo ou como ração para os animais. A produção de um produto de qualidade pode aumentar o número de consumidores, uma vez que existe um mercado consumidor expressivo dos derivados da mandioca no Território do Médio Jequitinhonha. Os estudos da EFA Bontempo também apontaram que a mandioca traz um retorno financeiro para o agricultor e que seus derivados são bem aceitos no mercado. Entretanto, grande parte das fábricas encontra-se em condições que não permitem o desenvolvimento de subprodutos da mandioca, além da farinha e do polvilho. Nos municípios analisados não se observa um padrão de qualidade dos produtos processados nas fábricas e nem um aproveitamento do processamento na elaboração de subprodutos provenientes da mandioca. As variações durante o processamento dependem das encomendas dos clientes existentes (como a granulometria, ou a porcentagem de goma na farinha) ou da facilidade de venda em alguns municípios. Batalha et al (2005), em estudo realizado sobre a gestão integrada da agricultura familiar afirma que grande parte dos estudos e pesquisas realizadas sobre novas tecnologias para a agropecuária e agricultura familiar referem-se a processos de produção e em segundo plano a geração de novos produtos, sendo negligenciada a importância que esse fator tem na integração da agricultura familiar a mercados mais dinâmicos. Infra-estrutura As condições das fábricas de processamento são diversas. No que se refere ao prédio, grande parte encontra-se em condições regulares (Figura 7). No entanto, existem fábricas em condições precárias, o que prejudica a qualidade dos produtos e o rendimento da produção, uma vez que alguns produtos não podem ser processados na fábrica. Esse cenário foi encontrado em todos os municípios que fizeram parte da amostra desse estudo e segundo informações de técnicos e agricultores representam a realidade dos demais municípios. Dessa forma, a mandioca não gera a quantidade de produto e nem a quantidade que poderia por falta de equipamentos adequados. 3 4 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. b a c d e f Figura 7. Fachada (a, b, c) e vista interna (c, d, e) de farinheiras típicas do território do Médio Jequitinhonha. Grande parte das farinheiras possui energia elétrica, mas na maioria das vezes não é suficiente para atender a demanda dos equipamentos, isso porque a energia existente é dividida com as casas próximas, de forma que quando a mandioca está sendo beneficiada ocorrem quedas no fornecimento de energia. Essa questão é importante, pois existem fábricas com equipamentos novos e parados por falta de energia suficiente para o seu funcionamento (Figura 8). Deve-se lembrar que as ligações realizadas pelo “Programa Luz para Todos” não atende as necessidades da maior parte das máquinas de uma farinheira, havendo a necessidade de ampliação da carga, o que pode acarretar em necessidade de participação financeira por parte dos interessados. 3 5 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Figura 8. Transformador de 5 kva utilizado no fornecimento de energia de uma farinheira e das casas ao entorno. Também existem fábricas com equipamentos subutilizados pelo fato das famílias não produzirem o suficiente que o equipamento demanda no processamento. Um exemplo comum esta na aquisição das torradeiras, Figura 9, por demandar uma elevada quantidade de matéria para o funcionamento, os agricultores optam por utilizar a tradicional taxa manual (Figura 10). Uma ação relacionada a esse problema não está ligada diretamente ao aumento da produção, mas ao acompanhamento técnico mais próximo no momento de aquisição dos equipamentos, para que a aquisição seja feita levando em consideração a realidade produtiva dos agricultores. Sendo assim, mantendo a produtividade e otimizando o processamento pode aumentar a qualidade e a quantidade dos produtos e, conseqüentemente potencializar economicamente a cadeia produtiva da mandioca. No território existe município, como o de Virgem da Lapa, que já chegou a ter 45 fábricas constituídas e atualmente possuem três fábricas, segundo informações do técnico da EMATER do município. Figura 9. Torradeira elétrica subutilizada, por ter sido super-dimensionada na aquisição. 3 6 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Figura 10. Taxa manual de torração. Insumos Os insumos para o processamento da mandioca são basicamente a água, a lenha e uma fonte de energia para os motores (que pode ser a energia elétrica ou o óleo Diesel). A lenha utilizada para torrar a farinha é cortada nas proximidades das fábricas (Figura 11) ou nas margens das estradas. Não existe o replantio de árvores no território pelos produtores de farinha, sendo assim, com o incremento da atividade voltada à produção comercial a extração de lenha nativa a um longo prazo pode vir a tornar-se um problema para o exercício dessa atividade produtiva. Figura 11. Ao fundo, área de extração de lenha para o processamento de mandioca. Água Na maioria dos casos analisados a água utilizada no beneficiamento é proveniente de poços e nascentes e armazenada em caixas (Figura 12). Em alguns casos a água é coletada diretamente dos rios. Algumas fábricas estão tendo dificuldade de acesso á água e os agricultores afirmam que a água não vai existir por muito tempo. Existem algumas medidas no território que minimizam os problemas causados pela seca prolongada, tais como a construção de barraginhas que buscam alimentar os lençóis freáticos e a construção de caixas de captação de água da chuva (Figura 13). Entretanto, essas medidas são paliativas. Medidas como preservação de nascentes, plantio de árvores e medidas de convivência com o semi-árido não foram identificados durante a 3 7 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. investigação. Essas medidas tornam-se essenciais para a dinamização econômica da atividade produtiva, tendo em vista que o aumento da produção está diretamente relacionado com o aumento no uso recursos naturais. Cabe ressaltar que, no que se refere à ampliação das farinheiras ou na sua reestruturação é necessário que aconteçam medidas conjuntas de preservação do meio ambiente, e as ações referentes à preservação de nascentes deve ser uma delas. Não se pode pensar o sistema de processamento sem levar em consideração os impactos ambientais causados por este. Caso contrário, as medidas voltadas para o aumento da produtividade podem ter resultados negativos sobre a sustentabilidade da atividade no longo prazo. Figura 12. Caixa para o armazenamento de água para o fornecimento da farinheira localizada ao fundo. Figura 13. Barragem construída para aumentar a infiltração da água da chuva e fornecer água para os animais. Mão de obra utilizada no processamento A mão de obra utilizada no processamento é de base familiar. Muitas fábricas utilizam troca de dias de serviço ou sistema de mutirão no processamento. Mas também existem fábricas em que são contratados pessoas para ajudarem a arrancar, descascar, ralar e torrar a farinha. Segundo os agricultores entrevistados, nessa fase é que está concentrada a maior parte dos custos da produção, apesar de não existir um controle de quanto é gasto. A presença de ralador e torradeira elétrico reduzem os custos com contratação temporária. O preço pago às pessoas que ajudam no processamento é de 3 8 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. aproximadamente R$ 20,00 a R$ 25,00. Muitas vezes o preço pago pelo saco de farinha não cobre os custos da mão de obra empregada somente no seu beneficiamento. Segundo os entrevistados, o que sobra é o suficiente para garantir a alimentação da família. Alguns afirmam que com um melhoramento nos equipamentos e a inserção de máquinas elétricas o custo de produção diminuirá, embora não tenha uma estratégia de qualidade que agregue valor aos produtos e subprodutos derivados da mandioca, assim como não há mecanismos de comercialização em conjunto. Um problema levantado por grande parte dos agricultores foi o custo da mão de obra. Parte desse custo pode ser explicada pelo fenômeno da migração de jovens filhos de agricultores para o corte de cana nos estado de São Paulo, para a colheita de café no Espírito Santo, e para o trabalho de vendedor ambulante no litoral da Bahia. Dessa forma, além de cara, a mão de obra para algumas atividades, como para torrar a farinha, por exemplo, é difícil de ser encontrada. Alguns agricultores afirmam não encontrar mão de obra para o trabalho nas fábricas de farinha. Resíduos A maioria dos agricultores utiliza as cascas da mandioca (raspa da mandioca) para a alimentação de animais. Em épocas de secas mais prolongadas, alguns chegam a vender as cascas da mandioca para alimentação do gado. O grolão, parte da farinha que não é vendida, também é utilizado com ração para animais. A manipueira, resíduo proveniente da lavagem da mandioca, é jogada em fossas ou é jogada diretamente no solo, em alguns casos, parte da manipueira é utilizada para combater pragas. Associativismo e Cooperativismo Nos municípios onde foram realizadas as investigações não foram identificadas nenhuma cooperativa de produção. Apesar de existirem relações cooperativas, como foi relatado nesse documento sobre a gestão das farinheiras, não existe uma organização formal cooperativa que oriente as ações produtivas e normatize a atividade econômica da cadeia produtiva da mandioca. Em relação às associações, elas estão presentes em grande parte das comunidades rurais. No município de Comercinho, por exemplo, existem 35 associações comunitárias, segundo informações da Emater. As associações são de caráter comunitário, ou seja, não são organizações constituídas com vistas a orientar uma atividade econômica. Em Virgem da Lapa, por exemplo, a EMATER está fazendo 3 9 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. um trabalho de reestruturação das associações como forma de promover o acesso às políticas públicas aos agricultores, como é o caso da compra direta local, do Ministério do Desenvolvimento Social. Nesse mesmo município, uma associação conseguiu um trator por meio do Programa de Combate à Pobreza Rural. Entretanto, as associações não desenvolvem trabalhos referentes à produção e a comercialização. A organização e a cooperação se desenvolvem no sentido de acesso as políticas públicas. Essa orientação é importante, na medida em que potencializa a atividade produtiva da mandioca no que diz respeito ao acesso a equipamentos, mas deixam fora do escopo às questões específicas como custos da produção, canais de comercialização, entre outros problemas encontrados nos elos da cadeia. Dessa forma, a abrangência da associação fica restrita a estrutura física da fabrica, deixando carentes os aspectos referentes à organização da produção. Subsistema: Comercialização “Para comprar assim, eu compro é na vistunta lá no mandiocal. O Cabra fala: eu quero tanto. Eu dou uma olhada assim, tanto eu não dou não, eu dou tanto senão eu não ganho nada aqui. A gente tem uma experiência própria né, chega lá e dá uma olhada, pelos pé da mandioca a gente sabe se tem mandioca ou não tem.” (Agricultor Familiar) Apesar do trabalho nas farinheiras ser comunitário e baseado na confiança e na solidariedade, não existe uma estratégia de venda conjunta pelos seus membros. Cada qual vende sua produção separadamente. Dessa forma, a rede de solidariedade criada para o processamento não tem continuidade no elo da comercialização. Sendo assim, essa rede solidária de processamento constitui uma estratégia de garantia da reprodução social das famílias, tendo em vista que os problemas emergentes devido à falta de mão de obra ou falta de equipamentos é suprida pela troca de dias de serviço e acesso a alguns recursos via associações. No entanto, em relação aos problemas de comercialização, a venda individual muitas vezes apresenta-se como uma única saída à venda dos produtos, e muitas vezes por um preço mais baixo do que o pago pelo mercado, caso contrário o agricultor volta com os produtos para a casa. Como foi relatado por um agricultor, apesar de não dar lucro, “mais vale lamber do que cuspir”, ou seja, a venda, mesmo que por um preço baixo garante a reprodução social das famílias. 4 0 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Canais de comercialização Foi verificado neste estudo que existem dois canais de comercialização dos produtos da mandioca. O primeiro canal é o canal curto, qual seja à venda direta dos produtos ao consumidor. O segundo canal é o longo, ou seja, a venda é feita a intermediários, e destes aos consumidores. Em relação ao primeiro canal, existem dificuldades no que se refere à infraestrutura de distribuição, mas especificamente, ao transporte do produto até o ponto de comercialização. A condição das estradas em alguns casos se torna um entrave para o escoamento da produção. Além dessas condições que podem ser resolvidas por intervenção direta das instituições competentes que compõem o território, os agricultores não possuem veículos para esse transporte. Foi identificada em alguns municípios a disponibilidade do caminhão do PRONAT, entretanto, faz-se necessária uma articulação entre os agricultores para que esse tipo de estrutura seja utilizado por eles e, no entanto, seria insuficiente para atender a todos os agricultores em um município. Nesse canal curto a venda é feita em sua grande maioria nas feiras livres. Praticamente em todos os municípios os principais canais de comercialização são as feiras livres (canal curto) e os mercados municipais (canal longo). Em alguns municípios como Araçuaí, a feira movimenta um fluxo grande de consumidores. Em outros, como é o caso de Comercinho e Medina, as feiras estão em fase de reestruturação ou não estão sendo feitos investimentos. Existem iniciativas de melhorar as condições de infra-estrutura, higiene e conforto nas feiras, como por exemplo, a aquisição de barraquinhas cobertas. No que se refere ao canal longo, existem dois tipos de intermediários: os mercados municipais e os supermercados e as mercearias. Os supermercados compram uma maior quantidade dos produtos, no entanto, o preço pago por atacado gera um montante menor de renda aos agricultores do que a venda a varejo na feira ou no mercado. Entretanto, para alguns agricultores, a venda em quantidade maior é mais vantajosa do que a venda na feira, pois não são despendidos custos para o transporte. O outro intermediário existente no território é o mercadante9, que compra a farinha, goma ou mandioca direto do produtor e vende a varejo. O agricultor, no entanto, fica responsável pelo transporte da mercadoria do produto até o mercado municipal. 9 São pessoas que tem como atividade o comércio nos mercados municipais. 4 1 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Venda direta ao consumidor: Feiras e comunidades rurais A venda direta ao consumidor ocorre geralmente em feiras ou nas próprias comunidades rurais, onde existem alguns moradores que não produzem a farinha e a goma. Na comercialização pela feira é encontrada a venda da mandioca in natura e da goma, ambas em menor escala em relação à farinha. Os agricultores chamam este tipo de comercialização como à venda “prateada”. Segundo os agricultores, esse canal de comercialização (direto ao consumidor) apresenta algumas características peculiares. Nele o agricultor necessita dispensar um dia de serviço à comercialização, o que para muitos agricultores consultados é um dos principais problemas para sua utilização. Contudo, muitos agricultores conseguem obter melhores resultados financeiros, pois passam a ter “fregueses” garantidos e o preço mais elevado pelo “prato10” de farinha, como conseqüência das relações de confiança firmadas pela freqüência de contatos e pela qualidade11 dos produtos. O preço obtido normalmente pelo prato de farinha está em torno de R$ 2,00, e o da goma a R$ 4,00. Porém, esse preço varia de acordo com a oferta da farinha em determinadas épocas do ano. Em períodos em que a oferta é baixa, seja por falta de chuva ou por alguma doença nas manivas, o preço é mais alto, em situações inversas pode se menor. Para alguns agricultores a venda da mandioca in natura é mais vantajosa, pois conseguem vender o quilo12 a R$ 2,00 (Figura 14). Todavia, neste tipo de comercialização o agricultor deve priorizar o plantio de variedades mansas e de bom cozimento, as quais geralmente apresentam menor produtividade. A feira de Araçuaí é relatada como o melhor espaço para comercialização dos produtos no território, por receber o maior número de visitante (cerca de 4 mil por dia13), também é onde os produtores alcançam os melhores preços em todo território. Alguns agricultores relataram que já participaram de feiras em outros municípios fora do território, e que a aceitação dos produtos foi grande. Outros produtos como biscoitos e beiju são encontrados nas feiras, não são produtos diretos da agricultura familiar. Geralmente esses feirantes compram a goma ou a farinha e os processam (Figura 15). 10 A quantidade de produto contida em um prato é variável com o município, estando entre 2 a 3 litros, o que representa em média 1,3kg. 11 O termo qualidade aqui se refere aos padrões de cor, tamanho dos grãos e quantidade de goma presente na farinha, pois os aspectos de legalização sanitária são desconsiderados. 12 O quilo aqui não se refere a uma quantidade definida de produto, mas a uma porção de mandioca com cinco ou seis raízes. 13 Segundo informações da Secretaria de Desenvolvimento Econômico Sustentável de Araçuaí. 4 2 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Figura 14. Comercialização de mandioca in natura na feira livre de Araçuaí. A seta aponta o “quilo”. Figura 15. Comercialização do biscoito de goma na feira livre de Araçuaí. Venda para intermediários Mercadantes A venda para os mercadantes é realizada de duas formas. A primeira é quando os agricultores vão “exclusivamente” para vender a farinha para esse intermediário. A segunda é quando os agricultores vão vender diretamente aos consumidores (nas feiras livres), e ao final do período vendem ao atacado os produtos restantes. Estas formas de comercialização são praticadas por agricultores que produzem menor quantidade de goma e de farinha, geralmente quantidades menores que 20 alqueires (1.200 kg). Esses comerciantes vendem a farinha e a goma na forma prateada (Figura 16), geralmente pelo mesmo preço praticado na feira livre (R$2,00 para farinha e R$4,00 para a goma). Todavia foram encontrados mercadantes que estão embalando os produtos para melhorar a apresentação destes, visto que na maior parte dos municípios as condições estruturais são precárias. 4 3 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. a Figura 16. Exposição típica dos derivados da mandioca nos mercados municipais. a) comercialização exclusivamente a granel; b b) comercialização com produtos embalados e a granel. Mercearias e supermercados Os agricultores que produzem maior quantidade de farinha em relação ao grupo anteriormente citado têm como principal canal de comercialização a venda no atacado, mercearias e supermercados. É comum observar que nesses comércios há o fracionamento do produto e o empacotamento em unidades de um quilograma ou de um prato. Neste caso o agricultor vende seu produto numa faixa de preço que varia entre R$ 0,75 a R$ 1,60 o quilo da farinha. Enquanto nesses espaços o preço praticado varia entre R$ 1,90 a R$ 3,00 o quilo da farinha. Quando se avalia a comercialização da goma observa-se o mesmo quadro. Numa avaliação do significado destes valores, verifica-se 40 – 50 % do valor da produção retorna aos agricultores, que são responsáveis pela produção e pelos maiores riscos (os devidos às intempéries climáticos). Essa expropriação do capital gerado pela agricultura familiar favorece a manutenção deste sistema que beneficia somente uma parte dos integrantes da cadeia. Contudo, deve-se lembrar que a falta de organização dos agricultores para comercialização propicia este tipo de relação comercial. Por falta de recursos para cobrir os custos de produção (capital de giro) estes agricultores necessitam vender seus produtos logo após o beneficiamento, acarretando em uma oferta maior que a demanda e a queda dos preços. Aliado a este fato, por não existir uma estratégia de comercialização em conjunto, os agricultores perdem o poder 4 4 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. de negociação junto aos intermediários14 no momento da transação, além de fortalecerem sistemas de comercialização desfavoráveis às características da agricultura familiar. Entre os fatores que poderiam auxiliar os agricultores a melhorar o poder de negociação junto aos intermediários encontra-se o planejamento da comercialização. Fatores como o financiamento da produção, a sazonalidade de preços e de produção, a coordenação da cadeia (as relações entre as quantidades demandadas e ofertadas), a freqüência de operações de venda e a disponibilidade de informações sobre o produto; devem ser estudadas caso a caso para definir a melhor estratégia de comercialização para cada agricultor familiar ou para grupos de agricultores organizados (Azevedo & Faulin, 2005). Transporte para a comercialização Em todas as situações, o transporte dos produtos até o local de comercialização é responsabilidade do agricultor. Os meios de transporte são os mais diversos possíveis. Os mais observados são o tradicional transporte realizado através de animais de carga como o burro (Figura 17), e o transporte pelos ônibus que fazem as “linhas” nas comunidades rurais. Nesse último caso, além do preço da tarifa do passageiro é cobrada uma taxa adicional por saca de produto correspondente a metade do valor da tarifa do passageiro. Outra forma de transporte observada em Virgem da Lapa é uma parceria entre os donos de supermercados/mercearias com os agricultores. Nessa parceria os agricultores efetuam as suas compras no supermercado que ofereceu o transporte, numa relação de confiança. Figura 17. Transporte realizado por carroças com o auxílio de animais de carga. 14 Neste documento o termo intermediário refere-se a quaisquer entidades ou pessoas que no processo de comercialização situam-se entre o consumidor e o agricultor familiar. 4 5 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Mercados alternativos - PAA Em alguns municípios atualmente existe a possibilidade da venda dos produtos da mandioca ao Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar – PAA. Segundo os técnicos da Emater, que realizam os projetos, eles preferem acessar as linhas com recursos do Ministério do Desenvolvimento Social – MDS, porque os formulários são mais fáceis de serem preenchidos e a compra é mais flexível do que a operada os recursos do Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA. Os agricultores que realizaram a venda ao PAA estão satisfeitos, pois tiveram garantia de preço e gastaram menos mão de obra para a comercialização. Uma outra vantagem segundo os agricultores é que na venda para o PAA eles não precisam se preocupar com o transporte, pois as prefeituras recolheram os produtos nas comunidades. Essa política, no entanto, apresenta algumas dificuldades de acesso devido à burocracia exigida aos agricultores, a formalização em associações e cooperativas, por exemplo, o que dificulta em alguns casos o seu acesso. Contudo, a maioria dos agricultores do território não teve acesso ao PAA, seja por desconhecimento, por descaso das entidades dos municípios responsáveis em realizar os contratos, ou por insuficiência de técnicos para realizar os contratos. Outra questão importante é a dificuldade das informações chegarem aos agricultores, mesmo nas comunidades onde existem associações estruturadas e em funcionamento. Entre os fatores que influenciaram, pode-se destacar como principais aqueles associados ao transporte e de comunicação. Quando se refere ao transporte, distingue-se os meios de transporte, que são insuficientes, e as vias de acesso que são precárias, na maior parte dos casos. No item comunicação, o principal meio observado é rádio, que tem um importante papel de difusor de informações no Vale do Jequitinhonha, principalmente nas comunidades onde ainda não há o acesso a energia elétrica. Todavia, observa-se que não existem rádios comunitárias que poderiam facilitar a difusão de informações de interesse dos agricultores em relação às rádios particulares existentes. 4 6 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Análise do Ambiente Institucional da Cadeia Produtiva Como forma de coleta de dados acerca do ambiente institucional no território foi desenvolvida uma técnica do Diagnóstico Rápido Participativo (DRP) denominada Diagrama de Venn. Essa técnica procura absorver as seguintes informações: • Quais as organizações e as instituições envolvidas na cadeia produtiva da mandioca; • Qual o papel e a importância de cada uma nesse processo; • Qual a relação dessas instituições nas atividades da cadeia produtiva; • Quais instituições que também poderiam estar envolvidas. O desenvolvimento do Diagrama de Venn – o “jogo das bolas” e as relações institucionais. A dinâmica do jogo inicia com uma listagem de todas as instituições que estão envolvidas direta ou indiretamente com a atividade produtiva da mandioca. Essa listagem foi feita pelos agricultores e estudantes da Escola Família Agrícola (EFA Bontempo). Como o número de pessoas que participaram da oficina foi pequeno, algumas informações contidas nas análises a seguir são da oficina de validação do estudo junto ao CODETER. Instituições Listadas: Consumidores Emater Sindicatos Prefeitura Associações Itavale Conab Comunidades Agricultores e agricultoras familiares EFA Governo Estadual Governo Federal/PRONAF Feira Livre Igreja Aprisco Atravessador CUT 4 7 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. CONSAD CÁRITAS FETAEMG FETRAF Consumidores: O mercado consumidor dos produtos derivados da mandioca no território tem um enorme potencial. No entanto, os agricultores não estão conseguindo se organizar de forma a atender esse mercado consumidor. Uma estratégia utilizada que poderia mudar esse cenário seria a produção de um produto com um padrão de qualidade mais apurado. Esse fato pode ser constatado nos mercados, na medida em que existem muitos produtos derivados da mandioca vendidos no território que são provenientes de outras regiões, em alguns casos até do sul do Brasil. A constituição de novas estratégias de mercado exige a organização dos agricultores para atender a demanda pelo produto. Dessa forma, ao se pensar em inserção de novos produtos no mercado deve-se pensar na forma que será organizado o cultivo e o processamento da mandioca, para que o elo da cadeia produtiva “comercialização” não seja comprometido. Atravessador/intermediário: O atravessador compra a farinha do produtor por um preço mais barato e vende ao consumidor por um preço mais caro. Sem o atravessador o produtor pode vender o seu produto direto ao consumidor. Entretanto, mesmo vendendo o produto para o atravessador, o agricultor vende toda a produção. Dessa forma, o risco de voltar com produto da feira de volta para a propriedade não existe. . Sem o atravessador, o agricultor demora mais a vender a farinha, e muitas vezes nem consegue vender. Se o agricultor conseguisse se organizar para fazer a venda conjunta, não precisaria do atravessador, pois este só existe para comprar o produto de quem não consegue vender direto ao consumidor. Existem municípios em que a farinha vendida vem da Bahia, e não se encontra farinha da região. Tem agricultores que conseguem armazenar a farinha até o mês de junho, em que a oferta do produto é baixa. Dessa forma, eles conseguem um bom preço pela farinha, variando entre R$ 1,90 e R$ 3,00 o prato (aproximadamente 1,3 kg), enquanto o preço vendido para o atravessador em alguns municípios está em torno de R$ 0,75. 4 8 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Antes de se pensar no atravessador como algo ruim para a comercialização, deve-se pensar que muitas vezes a farinha só é vendida através dele. Cabe ressaltar que outros problemas como de transporte, volume produzido, venda coletiva e armazenamento têm que ser resolvidos antes para que os produtos sejam vendidos diretos aos consumidores. A venda individual dificulta o armazenamento e a distribuição dos produtos, uma vez que esses critérios implicam em aumento dos custos. Emater: A Emater possui uma relação direta com a atividade produtiva da mandioca, uma vez que é uma das entidades responsáveis por elaborar os projetos técnicos do PRONAF para os agricultores. Entretanto, a Emater não consegue disponibilizar os serviços de assistência técnica aos agricultores familiares de todos os municípios. Segundo os agricultores, os técnicos possuem muita qualidade, mas não conseguem fazer um acompanhamento mais próximo das atividades. Todos os municípios do Território possuem escritório da Emater, no entanto, os técnicos estão sobregarregados de trabalho além de possuírem uma estrutura precária de trabalho. Essa falta de assistência técnica pode estar relacionada com a baixa produtividade dos agricultores, tanto no que se refere às técnicas de manejo da lavoura quanto a um acompanhamento na fase de processamento da produção. Existe também uma certa resistência dos agricultores para que a assistência técnica chegue em suas propriedades. Falta participação mais efetiva da comunidade na construção dos seus projetos e também uma descrença no poder público. A aquisição de equipamentos adequados à quantidade produzida é um exemplo disso. Em algumas fábricas foram adquiridos equipamentos que necessitam de uma maior quantidade de produção para ser processada. Como a quantidade produzida não é suficiente, o equipamento fica subutilizado refletindo em maiores custos de produção. Se o equipamento fosse adquirido com um acompanhamento técnico que levasse em consideração essas questões, alguns custos poderiam ser minimizados e o processamento otimizado. Sindicato: O sindicato dos trabalhadores rurais (STR) é importante na medida em que está próximo dos agricultores, seja em relações previdenciárias, seja discutindo políticas que estão sendo elaboradas no território. Em alguns municípios do território, o STR tem 4 9 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. uma proximidade com a Emater e desenvolve atividades conjuntas. Entretanto, a Emater se afasta em alguns projetos. O STR cumpre um papel importante para a atividade produtiva da mandioca. A proximidade com os agricultores e com outras instituições pode contribuir para a elaboração de projetos e execução de programas mais próximos da realidade da agricultura familiar na região. O trabalho conjunto com a Emater pode ser importante principalmente no que se refere aos contratos do PRONAF, uma vez que o número de técnicos não é suficiente para atender as demandas dos agricultores. Os sindicatos precisam avaliar a sua forma de atuação, principalmente no que se refere a formação de novas lideranças, alguns limitam-se aos trabalhos de previdência. PRONAF/ Governo Federal Existem atualmente várias políticas sendo implementadas para o agricultor familiar, a de crédito, por exemplo, e a política de território que pode ser uma forma de aproximar mais os programas dos agricultores. Apesar de existir um grande número de contratos, algumas linhas do PRONAF são mais difíceis de acessar, um dos fatores que pode explicar essa situação é a deficiência na regulamentação fundiária. Além dessas questões, existe um acompanhamento deficiente e falta fiscalização por parte dos agentes financiadores para comprovar a aplicação do crédito. Muitos estão endividados e outros não aplicaram o dinheiro na produção. Para que os empréstimos do PRONAF sejam investidos na produção e o retorno dessa aplicação se reflita no desenvolvimento de todo o território é necessário que haja um acompanhamento mais próximo e sistemático dos investimentos. FETAEMG, FETRAF E CUT: Segundo os presentes, as federações exercem um papel importante na articulação com o governo. Essa articulação com o macroorganismo social se torna importante na medida em que questões conjunturais que afetam as ações desenvolvidas no território podem ser identificadas a tempo de se elaborar estratégias que possam minimizar os impactos negativos no território. Também foi comentado que as atuações destas entidades se dão no território através dos sindicatos, porém, sem uma interação das mesmas. Prefeitura: 5 0 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Em alguns municípios a prefeitura desenvolve ações diretamente relacionadas com a atividade produtiva da mandioca, seja no fornecimento de transportes, na arrumação das estradas, na elaboração de programas e projetos junto a outras entidades. Entretanto, em outros a prefeitura está mais distante. A prefeitura é uma instituição de muita importância para a atividade econômica, mas para que essa importância se concretize em ações vai depender do comprometimento de quem está na administração. Segundo as informações coletadas, para que uma política territorial seja implementada é necessária uma relação entre os diversos setores, ou atores sociais, que compõem o território. Quando essas ações convergem para um objetivo comum, o resultado é a melhoria das condições de vida da população, ou o desenvolvimento territorial. No entanto, onde não ocorre uma boa articulação entre as ações das prefeituras com as outras instituições que compõem o território, existe uma lacuna na cadeia produtiva que dificulta o alcance de resultados positivos para os agricultores, e, consequentemente, compromete a estratégia de desenvolvimento territorial. Os recursos dos territórios poderiam ser aplicados via organização da sociedade civil ou via assembléia territorial. De acordo com os agricultores, a obrigatoriedade de alguns recursos serem acessados somente por prefeituras dificulta a operacionalização dos repasses ao PRONAT. Associações: As associações exercem um papel importante no território na medida em que fazem uma articulação a nível comunitário. Através dessa articulação muitas associações conseguiram captar recursos que melhoraram a infra-estrutura da comunidade e das fábricas. A execução de outros programas que são desenvolvidos no território também pode ser realizada através das associações, tais como (PAA, PCPR etc). Dessa forma, o sucesso dos programas pode ser garantido por envolver toda a comunidade atingida por ela. Em alguns municípios, a existência de associações comunitárias foi de fundamental importância para a constituição das fábricas de farinha. CONAB/MDA – Compra Direta Local/MDS: A compra direta (Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar, operado pela CONAB) é uma política importante, mas em alguns municípios ela não foi acessada, ou quando foi não teve continuidade. Os agricultores não sabiam explicar os motivos da interrupção do programa. Nos municípios que acessaram a compra direta, a avaliação foi positiva, pelo fato de minimizar os problemas enfrentados com a 5 1 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. comercialização. No entanto, ainda é pequeno o número de agricultores atendidos por essa política no território. O processo de contratação da CONAB é lento e o pagamento aos agricultores é muito moroso (até 90 dias). Escola Família Agrícola - EFA: A EFA está bem próxima dos agricultores e dos sindicatos, mas precisam se estruturarem melhor, tanto no que se refere a capital humano quanto a infra-estrutura, tendo em vista que o conhecimento técnico apreendido pelos alunos é de grande importância para os agricultores familiares. Como comentado anteriormente, a assistência técnica é muito frágil no território. As Escolas Família Agrícola poderiam ser mais bem aproveitadas, ou seja, os grupos produtivos poderiam receber algum tipo de apoio em algum elo da cadeia produtiva da mandioca através dos alunos da EFA. Essa medida poderia minimizar alguns pontos fracos encontrados ao longo da cadeia. Governo Estadual: Segundo os agricultores, as políticas estaduais estão bem próximas das prefeituras. O Programa de Combate a Pobreza Rural – PCPR é um exemplo, muitos projetos já foram implantados nas comunidades. Entretanto, os programas não estão sendo executados de forma conjunta, ou seja, não estão sendo feitos projetos comuns para mais de uma comunidade. Os projetos são isolados, por comunidades. Isso pode comprometer o desenvolvimento dos programas a nível territorial, mas é uma importante medida, principalmente no que se refere à infra-estrutura das fábricas. Feira: A feira é o local no qual grande parte dos agricultores vende a farinha, entretanto existe uma dificuldade de deslocamento da roça até a feira. Em alguns municípios esse problema é minimizado com o apoio da prefeitura. A venda individual dificulta o transporte. Mesmo em fábricas onde o processamento é coletivo, a venda é feita individualmente. Em alguns municípios, a venda coletiva, ou a organização para o transporte de produtos de vários produtores até a feira pode minimizar esse problemas. Algumas políticas como a aquisição de caminhões via PRONAT podem ser utilizadas no transporte desses produtos. Contudo, foi relatado que necessário realizar uma organização dos agricultores para que o transporte possa ocorrer em conjunto, da mesma forma que a gestão do caminhão necessita uma organização prévia para que solucione o problema. 5 2 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Igreja: Em alguns municípios a Igreja católica e evangélica desenvolvem trabalhos através da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Pastoral da Juventude Rural (PJR) e associações. A igreja tem um papel histórico de apoio à constituição de muitos sindicatos. Essa relação pode se melhor aproveitada pelo grupo produtivo de mandioca. Todas as comunidades possuem uma igreja que podem ser utilizadas como agente mobilizador na comunidade, podendo ser utilizadas inclusive como espaço para reuniões. CMDRS: O Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável - CMDRS possui vínculos com as prefeituras e através deles muitos recursos podem ser voltados para o interesse dos agricultores. Em outros municípios existe uma dificuldade de diálogo entre entidades que compõem o Conselho e o poder público. A participação no conselho também é baixa em alguns municípios do território. Existem conselhos manipulados pelo gestor municipal, mas a maioria tem uma independência nas decisões. A apresentação das relações institucionais do território referente a cadeia produtiva da mandioca pode ser observada na figura 19. 5 3 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Figura 19. Visualização das Relações Institucionais ao término da execução do Diagrama de Venn. 5 4 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Metas definidas para a cadeia produtiva da mandioca Para facilitar a elaboração das metas, estas foram separadas por subsistemas, ou elos, a saber: Produção, Beneficiamento e Comercialização. A seguir serão apresentados os grupos de ações para os problemas específicos de cada subsistema da cadeia. Preferiu-se nesta primeira apresentar junto às metas, seus problemas geradores, para facilitar a compreensão do processo aos leitores. Posteriormente serão apresentados os resumos das metas com as respectivas demandas financeiras. Subsistema Produção Como verificado nas ações propostas para o subsistema da produção, as principais questões são o acesso a terra, falta de assistência técnica e dificuldade de acesso ao crédito, tabela 6. Na elaboração das ações ao item “Acesso a terra”, foi discutido necessidade da implementação de um sistema de vistoria de terras em todos os municípios do território. Por que, considerando a opinião dos presentes, há existência de terras que tradicionalmente eram utilizadas pelos agricultores familiares e que atualmente estão cedidas a grupos empresariais que tem colaborado com a destruição do ecossistema local, perda das formas tradicionais de produção além de sua subutilização. Considerando as questões associadas à assistência técnica tem-se que a relação entre o número de agricultores e o número de técnicos presentes nas instituições de ATER/ATES é elevado, em média o valor é superior a 500:1. Portanto, seria desejado que a primeira ação para solucionar este problema fosse aumentar o número de técnicos de ATER/ATES. Foi abordado também que não somente é necessário ampliar o número de técnicos, assim como aumentar os recursos de custeio as suas operações, visto que o valor atual não é compatível com a demanda. Foi relatado também, que é necessário criar uma rede de ATER na qual a inclusão das EFAs é de sumária importância, visto que seus alunos são um importante agente difusor de informações e tecnologias no território. Outro aspecto que esta rede poderia suprir com maior facilidade as lacunas de apoio à organização da comercialização. Considerando, as questões de assistência técnica, formas tradicionais de cultivo e de convívio com o semi-árido, no item “Falta de acesso às variedades de mandioca”, foram levantadas duas ações importantes, a primeira seria realizar eventos que promovessem a troca de experiências bem sucedidas já existentes no território, através 5 5 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. de intercâmbios ou dias de campo; a segunda seria realizar parcerias com instituições de pesquisa a fim de se implementar pesquisas direcionadas as necessidades locais. Por fim, para atender as demandas de crédito, foi avaliado antes de qualquer ação de incentivo de acesso ao crédito é necessário um acompanhamento mais próximo dos agricultores que receberam crédito, a fim de evitar que os recursos não sejam aplicados nos setores produtivos, assim como reduzir o percentual de inadimplência. Por outro lado, vê-se que é necessária também uma maior sensibilização das gerências bancárias para uma facilitação interna dos processos de contratação dos créditos do PRONAF. Foi levantada também a necessidade da instalação de uma agência do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), visto que não há nenhuma no território. Quanto ao número de produtores a serem atendidos anualmente, o consenso é que todas as famílias envolvidas com a cadeia fossem beneficiadas no presente ano, porém têm-se o conhecimento que não é possível realizar esta meta dada as condições atuais. Assim uma indicativa levantada é que os agricultores sejam atendidos de acordo com as iniciativas de fortalecimento e formação das associações em cada município, tabela 7 (beneficiamento). 5 6 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Tabela 6. Principais problemas identificados, grupos de ações a serem realizadas, subespaços do território, período de execução e atores institucionais envolvidos para o elo da produção. Problemas identificados Grupos de Ações Subespaços Período Atores envolvidos STR, ITAVALE, INCRA, (1) Vistoriar e desapropriar terras Falta de acesso a terra FETRAF, FETAEMG, e/ou concentração de Municípios 2008-2011 EMATER, EFA’s, terras Associações, Agricultores, (2) Legalizar terras CUT, AMEJE, ITER-MG (1) Aumentar o quadro de técnicos por Emater, AMEFA, Itavale, meio de convênios com empresas e MDA Falta de assistência entidades de ATER; Municípios 2008 – 2009/2010 técnica e tecnologia (2) Ampliar o quadro de funcionários da Emater EMATER Plantio irregular de mandioca Realizar acompanhamento técnico Comunidades 2008-2011 Entidades de ATER Desvio de recursos pelos agricultores (1) Orientar e fiscalizar por meio de acompanhamento técnico Comunidades 2008-2011 Entidades de ATER Falta de acesso às variedades de mandioca (1) Realizar Intercâmbio/trocas de experiências (2) Parcerias com instituições como EMBRAPA – EPAMIG - Municípios 2008-2009 Agricultores, EFA, CMDRS, STR 2008/02-2009 Embrapa, EPAMIG Transporte da produção (deslocamento) Fortalecer o transporte público nos municípios Municípios 2009 Prefeituras, Associações, STR, CMDRS Municípios 2008 - 2009 Associações, STR, CMDRS Poder público municipal e estadual Infra-estrutura Estadual e Municipal (Recuperação de estradas) (1) Reivindicar e cobrar a recuperação de estradas (2) Mobilizar os moradores e agricultores 5 7 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Falta de associativismo e cooperativismo dos agricultores Burocracia no acesso ao crédito junto às agencias bancarias (1) Fortalecer e divulgar a BIOCOOPVALE (cooperativa que está sendo criada pelo MSTR) (2) Capacitar os cooperados (assistência técnica) (1) Envolver as agências na produção através de reuniões e planejamentos para acessar o PRONAF Municípios 2008 2008/02 - 2009 Território do Médio Jequitinhonha 2008 Gerencia e Superintendência dos Agentes Financeiros, Assembléia Territorial, Comissão Gestora do Território Junho 2008 a Junho 2009 Gerência e Superintendência dos Agentes Financeiros, Assembléia Territorial, Comissão Gestora do Território (1) Reunir MDA e Agentes Financeiros, bem como a Superintendência dos Bancos Falta de agencia Bancaria (1) Instalação de uma agencia do BNB do BNB no Território MJ dentro do Território Médio Jequitinhonha Território Médio Jequitinhonha STR, ITAVALE, INCRA, FETRAF, FETAEMG, Emater, EFA, Associações, Agricultores, CUT,AMEJE 5 8 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Subsistema beneficiamento Entre os principais grupos de ações definidos para este subsistema, verifica-se que ações ligadas à infra-estrutura, como a aquisição de máquinas e a disponibilidade de energia elétrica foram os mais discutidos e requisitados (tabela 7). Quando se pensa sobre a aquisição de máquinas, deve-se lembrar que esta relacionada com o aumento da eficiência da mão de obra disponível, visto que a migração reduziu o número de pessoas disponíveis a trabalhar. Outra questão é que a migração ocorre entre os adultos mais jovens, e assim reduz, também, a força disponível para executar as atividades mais pesadas. Com a clara compreensão que para acessar as políticas publicas de fortalecimento da agricultura familiar é necessário que os agricultores estejam formalmente organizados, a prioridade inicial é fomentar e auxiliar os processos de organização nas comunidades rurais. Visto que praticamente não há comercialização de raízes entre os agricultores em relação ao total produzido, e que praticamente toda a produção é destinada ao processamento, o transporte da produção das áreas de cultivo até a unidade de beneficiamento (tenda ou farinheira) é considerado um entrave, pois este é geralmente realizado com o auxílio de animais de carga. Durante a discussão de definição das metas, surgiu a possibilidade de que se criasse um mecanismo de favorecimento do transporte animal, por exemplo, com a aquisição de carroças. Contudo, ao final das discussões, foi definido que a aquisição de pelo menos um caminhão por município seria mais adequada, pois este poderia favorecer mais comunidades, pois atuaria também em outras atividades produtivas. A questão do acesso à água é muito clara na região, e as opções discutidas a respeito deste tópico estão entre as mais polêmicas. Foi ressaltado que para cada unidade de beneficiamento que for criada ou reformada é necessário fazer uma avaliação das condições locais para determinar a melhor forma de abastecimento. A opção de furar poços artesianos é uma opção de execução mais simplificada, contudo a sustentabilidade ambiental poderia não ser garantida. Foi comentado que são necessárias ações para a conservação das nascentes, assim como da implementação de outras áreas de preservação ambiental, como as que aconteceram com o apoio do ITAVALE. Uma opção de financiamento para as ações de preservação e educação 5 9 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. ambiental seria com a utilização de recursos do Fundo Nacional do Meio Ambiente (Ministério do Meio Ambiente). Quanto à reforma e ampliação das farinheiras existentes e a construção de novas farinheiras pode-se afirmar que estas ações necessitarão de um orçamento similar, pois as condições da maior parte das farinheiras existentes não comportam o beneficiamento em maior escala, pois estas foram criadas em meados da década de 1990 com o objetivo de garantir a segurança alimentar das famílias. Contudo, o aspecto que levou a separação em dois grupos foi à necessidade de ações de fortalecimento da organização nas comunidades onde não existe a farinheira comunitária. Nas farinheiras reformadas ou criadas recentemente observa-se que não existe a oferta de energia elétrica, ou quando existe geralmente é insuficiente. O Programa Luz para Todos não garante o fornecimento de energia para a operação das máquinas utilizadas no beneficiamento automatizado (como a torradeira elétrica, por exemplo). Por isso, foi relatada a necessidade de se regularizar esta situação. Há também a necessidade de se garantir que nestas unidades de beneficiamento exista um motor a diesel e uma taxa manual, porque se ocorrerem falhas no fornecimento de energia elétrica durante o processamento a qualidade dos produtos não pode ser comprometida. Deve-se estar bem definido nas ações de planejamento para cada comunidade que, após a inauguração das novas unidades de beneficiamento de farinha é necessário que sejam realizados cursos de capacitação na operação e manutenção dos equipamentos, assim como para a produção de novos produtos derivados da mandioca. A produção de resíduos durante o processo de beneficiamento, é dependente do produto a ser elaborado. Verifica-se que o principal resíduo é a água de mandioca (manipueira), que é altamente tóxica. Com as devidas orientações técnicas pode-se aproveitá-la, deste inseticida natural a fertilizante. Outro produto que vem sendo perdido são as cinzas, que poderiam ser utilizadas como fertilizantes. Em praticamente todos os problemas relatados foi relatada a necessidade de um acompanhamento técnico, seja no sentido de se propor inovações tecnológicas ou de auxiliar no processo de organização, isto se deve novamente a “ausência” de ATER/ATES no território. 6 0 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Tabela 7. Principais problemas identificados, grupos de ações a serem realizadas, subespaços do território, período de execução e atores institucionais envolvidos para o elo do beneficiamento. Problemas Grupos de Ações Período Atores envolvidos Subespaços identificados (1) Organizar os grupos nas comunidades 2008-2011 Agricultores, STR, Emater, 20% do número de CMDRS Comunidade Transporte de mandioca comunidades por Municípios para a tenda ano e município (1) Aquisição de caminhão Falta de água para beneficiamento e higiene adequada Municípios (1) Realizar tratamento de água onde for necessário (2) Perfurar poços artesianos (completos) nas comunidades Comunidade (1) Realizar a ligação elétrica onde não existe Falta de energia elétrica, (2) Adequar o fornecimento de energia 2008-2011 20% do número de comunidades por ano e município Agricultores/as, STR, CMDRS Associação, STR 2008-2011 20% do número de comunidades por ano e município Associações, STR, CMDRS Comunidades 2008-2011 20% do número de comunidades por ano e município Associações, Prefeitura, CMDRS Comunidades 2008-2011 15% do número de comunidades por ano e município Associações, Prefeituras, CMDRS Comunidades (3) Garantir a existência de motor a óleo e da taxa manual (1) Reformar os galpões/tendas existentes Farinheiras necessitando (2) Construir novos galpões ou salas de reforma e/ou apropriadas para armazenamento dos ampliação produtos (1) Construção de farinheiras devidamente Locais onde não equipadas (completas) existem as farinheiras (falta de local de beneficiamento) A partir de 2008 6 1 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. (1) Orientar as famílias de agricultores – capacitação na produção de demais derivados Aproveitamento de subprodutos e derivados da mandioca (1) Construir e adquirir estrutura adequada para a produção de goma (polvilho) (1) Construção de agroindústrias para a produção de biscoitos e outros derivados da mandioca (1) Construir conjunto de reservatórios para a água da mandioca Destino da água da mandioca e outros resíduos (2) Orientações para outros usos dos resíduos do processamento (de acordo com a necessidade da comunidade) Municípios Comunidades Município Comunidades Comunidades 2008-2011 20% do número de comunidades por ano e município 2008-2011 20% do número de comunidades por ano e município 2008/2009 - 2011 2 por ano / por município 2008-2011 20% do número de comunidades por ano e município 2008-2011 20% do número de comunidades por ano e município Emater, ITAVALE, Secretaria de Agricultura Associações, STR, CMDRS Associação, STR, CMDRS, Comunidades Emater, ITAVALE, Secretarias Municipais de Agricultura Emater, ITAVALE, Secretaria de Agricultura 6 2 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Subsistema de comercialização Observa-se que há preocupação com a execução de atividades de apoio a organização, visto que os agricultores compreendem que é necessário criar estratégias coletivas para a comercialização (Tabela 8). Nos problemas referentes à comercialização a nível municipal, ou seja, na feira livre e nos mercados municipais, os problemas retomam as condições regulares de beneficiamento, e principalmente as condições precárias de transporte. Ambas as situações foram relatadas como as principais questões que favorecem a perda de qualidade dos produtos. Em relação ao transporte deve-se pensar que existe a necessidade de um transporte adequado para os agricultores e outro, para as mercadorias. Pois atualmente as pessoas são transportadas junto com as mercadorias, que podem ser os derivados da mandioca, outros produtos de origem vegetal e animais destinados à comercialização, e em muitos casos estes estão expostos às condições climáticas, como chuvas e sol. Nas feiras livre e nos mercados, por exemplo, a farinha é vendida a granel, ou seja, o fracionamento é realizado no ato da compra, expondo o produto as condições ambientais. No momento de definição das ações o grupo não conseguiu chegar a um consenso sobre o que realizar para minimizar este problema. Para ilustrar as possibilidades, a seguir são relatadas algumas iniciativas criadas no território que estão obtendo sucesso. No município de Itaobim uma comunidade optou por realizar a venda dos produtos embalados, em unidades de um quilograma e com um selo de identificação, o que resultou em pouco tempo na formação de uma marca, que apresenta demanda crescente e que paga um sobre preço pelos produtos. Esta opção é a mesma realizada pelos supermercados do território que atuam como intermediários. Outras iniciativas que vem sendo tomadas são as reformas dos mercados municipais e da realização de projetos para compra de kits para os feirantes (como nos municípios de Virgem da Lapa e Araçuaí). Segundo técnicos e agricultores estas ações, juntamente com as ações de fomento a organização poderiam ser tomadas para auxiliar na melhoria das condições de venda dos produtos nas feiras livres. A comercialização de outros derivados da mandioca (como por exemplo, biscoitos de polvilho e beiju) foi relatada como uma opção que poderia ser tomada para garantir maior renda para as famílias. No município de Padre Paraíso existe uma unidade de produção de biscoitos de polvilho, que fornece seus produtos a praticamente todas as cidades do território. Além desta 6 3 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. unidade, existem muitas famílias envolvidas no processo artesanal de produção de biscoitos e beiju, que podem ser facilmente encontrados nas feiras municipais. Foi levantada a necessidade de estudar a criação de uma central de comercialização no território, pois esta poderia atuar como mais um canal de comercialização. Contudo é necessário que para a criação desta central os agricultores estejam organizados para a venda de seus produtos, para assegurar que estes possuam maior governabilidade sobre este processo. Ao contrario do que se verifica para o processo produtivo/beneficiamento onde os agricultores estão organizados e realizam operações em conjunto o processo de comercialização é realizado individualmente. Esta desorganização favorece a perda do poder de negociação dos agricultores resultando em menores rendimentos financeiros. Por isso, foi verificada que é necessário que sejam implantadas ações de fomento a organização com o objetivo de comercialização nas comunidades, iniciando por aquelas em que já existe um processo de produção organizado. Entre as alternativas pensadas para fortalecer os produtos da região está na criação de uma identidade regional para a farinha. Para auxiliar neste processo seria realizado um evento temático a nível territorial para a divulgação dos produtos e intercâmbio de experiências. A criação de uma fecularia a nível territorial foi levantada como um possível mecanismo de regulação de preços, pois reduziria a oferta de farinha no período da safra. Uma outra vantagem levantada é que de maneira geral a fécula (ou polvilho) obtém melhores preços no mercado em relação à farinha. Contudo, foi abordado que para a construção desta fecularia é necessário que os agricultores estejam realmente envolvidos neste processo. Outra questão que pode ser considerada é que se as fábricas construídas nas comunidades apresentassem um sistema de produção de goma (polvilho ou fécula) adequado e eficiente, não seria necessária a construção desta fecularia, e sim de um entreposto, que poderia receber também outros produtos. O Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (compra direta), que conta com recursos dos Ministérios do Desenvolvimento Social e do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDS e MDA), é relatado como um importante canal de comercialização que necessita ser consolidado. Contudo no último ano muitos contratos não foram aprovados, e muitos técnicos da Emater (que realizaram estes projetos) não sabiam precisar os reais motivos, mesmo tendo entrado em contato com os responsáveis nos respectivos ministérios. 6 4 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Tabela 8. Principais problemas identificados, grupos de ações a serem realizadas, subespaços do território, período de execução e atores institucionais envolvidos para o elo da comercialização. Problemas Grupos de Ações Atores envolvidos Subespaços Período identificados (1) Capacitar os produtores STR, FETAEMG Território Médio 2009 Falta de padrão de Jequitinhonha qualidade o que (2) Definir um padrão de higiene Farinheira/Mercado 2009 aumenta a concorrência com produtos de outras (3) Definir tipo de produto derivado da Feiras dos 2008 mandioca mais aceitável no mercado regiões municípios Deslocamento de (1) Acionar os municípios para que Prefeituras e STR agricultores e transporte possam providenciar transporte de Municípios 2008 de farinha qualidade Infra-estrutura precária, Não houve consenso e uma indicativa de quais ações deveriam ser tomadas feiras com produtos expostos no chão e (1) Estudar a viabilidade de instalar uma Associações, Cooperativa manipulação com as central de comercialização 2008-2009 (BIOCOOPVALE) mãos. Falta de organização (1) Fomentar e auxiliar o processo de Associações, Cooperativa entre os agricultores organização dos agricultores para a (BIOCOOPVALE) Comunidades 2008 para a venda dos comercialização produtos (1) Definição de marca para os produtos Prefeituras, ITAVALE, derivados da mandioca STR, Associações, Falta de divulgação dos Território Médio 2009 FETAEMG produtos Jequitinhonha (2) Realizar evento regional que promova Diversificar a produção dos derivados da mandioca Impostos pagos pelos produtos e sub-produtos o elo da cadeia produtiva da mandioca. (1) Estudar a viabilidade de instalar uma fecularia no Território Território Médio Jequitinhonha 2008-2009 (1) Solicitar as autoridades competentes para que a Agricultura Familiar tenha isenção na Venda dos produtos Território e Assembléia Legislativa 2008 Através da cooperativa que está sendo implantada (BIOCOOPVALE) CMDRS, Prefeituras, Território MJ, Assembléia Legislativa 6 5 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Entraves na venda direta (1) Identificar os principais entraves de produtos CONAB – (2) Melhorar e ampliar o programa PAA Território Médio Jequitinhonha 2008 CONAB, MDS, Prefeitura, CIAT 6 6 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Metas físicas e financeiras Antes de se definirem as metas físicas, as ações foram organizadas pelo subespaço dentro do território, e então apresentadas algumas políticas públicas de custeio e investimento que podem ser acessadas para a efetivação das atividades previstas para a dinamização econômica da cadeia produtiva da mandioca (Tabela 9). Devido a descompassos entre as previsões para início das atividades do planto e a execução do cronograma elaborado pelo grupo de interesse, as estimativas dos investimentos requeridos considerarão o ano de 2009 como ano inicial. Assim para determinar as metas físicas, as propostas de ações definidas pelos agricultores do grupo produtivo da mandioca foram agrupadas em nove categorias (Tabela 10) e estimadas a demanda de atividades num intervalo de quatro anos conforme o número de ações previstas no subsistema de beneficiamento (Tabela 7). As nove categorias são: Atividades Agrícolas, Demanda de ATER, Capacitações, Intercâmbios, Organização, Unidades de Beneficiamento, Transporte de produtos, Estudos e Apoio a atividades de Economia Solidária. Baseando-se nas metas físicas, foram estimados os investimentos necessários para executar as metas previstas para a dinamização econômica da cadeia produtiva da mandioca (Tabela 11). Os custos de implantação das unidades de beneficiamento levaram em consideração as estimativas previstas nos perfis agroindustriais disponibilizados pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário. Estas unidades têm capacidade de beneficiamento de 3000 kg de raízes por dia, entretanto, deve-se salientar que este valor deve ser ajustado conforme as características de cada comunidade, para que não se observem erros de dimensionamento. A demanda por ATER/ATES foi calculada a partir da média histórica de área cultivada com mandioca, levando-se em consideração que cada unidade familiar de produção cultiva uma área média de 0,5 ha. A necessidade de contratação anual equivale a um quarto da necessidade total da demanda por técnicos, para as condições acima relatadas. Entretanto, se houver acréscimo no número de unidades familiares na atividade haverá a necessidade de ampliar o número de técnicos contratados. 6 7 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Tabela 9. Recorte Territorial, atividades previstas, políticas públicas de investimento e custeio e entidades envolvidas no planejamento e execução das ações de dinamização econômica do território. Políticas Públicas de Subespaços Atividades ATER/ATES Entidades envolvidas custeio e investimento Cultivo de mandioca (ha) PRONAF Emater/ EFA Reforma agrária (INCRA); PNCF (SRA/MDA e Parceiros Estaduais); Regularização Fundiária (SRA) INCRA, ITER SRT, ITAVALE, FETRAF, FETAEMG, EFA, Associações (agricultores), CUT, AMEJE INCRA, ITER SRT, ITAVALE, FETRAF, FETAEMG, EFA, Associações, CUT, AMEJE Sementes (Governo Estadual); PRONAF; Intercâmbios / trocas de experiências Apoio a Preparo de Solos; Garantia-Safra; PROAGRO-Mais Acompanhamento e orientação (vinculado aos Créditos de técnica dos recursos do PRONAF Custeio). Emater / EFA Associações, SRT EFA Associações, STR, CMDRS, EFA Emater / EFA Associações, STR, CMDRS PCPR, PDAs e Similares; PRONAF / Agroindústria; PNCF Emater, STR e consultores Associações, STR, Emater, CMDRS PCPR / DS, PNCF, PRONAF / INFRA, Governos Municipal/Estadual Emater, consultores Associações, Emater, STR, CMDRS, Prefeituras Vistoriar, desapropriar propriedades e assentar famílias UFPs – Unidades Familiares de Produção Legalizar a situação dos posseiros Inovação tecnológica na produção Comunidades rurais e Auxiliar e fomentar a organização áreas coletivas dos dos grupos produtivos assentamentos Construir novas unidades de beneficiamento de mandioca 6 8 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Subespaços Políticas Públicas de custeio e investimento ATER/ATES Entidades envolvidas Reformar unidades de beneficiamento de mandioca PCPR / DS, PNCF, PRONAF / INFRA, Governos Municipal/Estadual Emater, consultores Associações, Emater, STR, CMDRS, Prefeituras Disponibilizar água para o beneficiamento da mandioca PCPR, PDAs e Similares; PRONAF / Agroindústria; PNCF Emater, Associações, Emater, STR, CMDRS, Prefeituras Atividades Capacitar grupos na operação das novas unidades produtivas Capacitar grupos na fabricação de novos produtos Capacitar grupos na utilização ou destino correto para os resíduos Ajustar a demanda por energia ou realizar ligações elétricas Municípios Consultores, Emater INCRA / SEBRAE ATER; PRONAF / Capacitação; PDHC (Dom Helder); SENAR; Taxas Consultores, Emater de Créditos de Financiamentos Consultores, Emater Luz para Todos, Governos Municipal/Estadual Transporte (pessoas e produtos) nos diferentes subsistemas da cadeia PCPR / DS, PNCF, PRONAF / INFRA, Governos Municipal/Estadual Melhorar a infra-estrutura das feiras PRONAF / INFRA; PCPR, PRONAF / Agroindústria. Consultores, CEMIG Associações, Emater, STR, CMDRS, Prefeituras Associações, Emater, STR, CMDRS, Prefeituras Associações, Emater, STR, CMDRS, Prefeituras Associações, Emater, STR, CMDRS, Prefeituras Prefeituras, CMDRS, Associações, Emater, SEBRAE Prefeituras, CMDRS, Associações, STR 6 9 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Subespaços Atividades Fomentar e auxiliar a organização dos agricultores para comercialização Políticas Públicas de custeio e investimento ATER/ATES Entidades envolvidas INCRA / SEBRAE ATER; PRONAF / Capacitação; PDHC (Dom Helder);SENAR; Taxas de Créditos de Financiamentos Emater, STR, consultores, BIOCOOPVALE Associações, STR, Emater Recuperação das estradas (mobilização e reivindicação) PCPR / DS, PNCF, PRONAF / INFRA, Governos Municipal/Estadual, outros. Construir unidade de produção de biscoitos e outros derivados PCPR / DS, PNCF, PRONAF / INFRA, Governos Municipal/Estadual Consultores, Emater, SEBRAE Associações, STR, CMDRS, Prefeituras CONAB: MDS e MDA Emater, CONAB, MDS, CIAT, Prefeituras Associações, STR, Comissão Gestora Ampliar e consolidar o PAA Aumentar o número de técnicos de ATER/ATES INCRA /PRONAF / Capacitação; PDHC (Dom Helder); Taxas de Créditos de Financiamentos. Associações, STR, CMDRS, Poderes públicos SRT, ITAVALE, EFA, Emater, MDA 7 0 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Subespaços Atividades Políticas Públicas de custeio e investimento ATER/ATES Fortalecer e divulgar a BIOCOOPVALE PCPR, PDAs e Similares; PRONAF / Agroindústria; PNCF; SRT, ITAVALE, FETRAF, FETAEMG, EFA, Associações, Emater, CUT, AMEJE Capacitar os cooperados da BIOCOOPVALE INCRA / SEBRAE ATER; PRONAF / Capacitação; PDHC (Dom Helder);SENAR; Taxas de Créditos de Financiamentos SRT, ITAVALE, FETRAF, FETAEMG, EFA, Associações, Emater, CUT, AMEJE PRONAF / INFRA; Governos Municipal/Estadual Associações, CMRDS, STR Aquisição de um caminhão por município Sensibilizar e reunir as gerências bancárias a facilitar o acesso ao PRONAF Território Entidades envolvidas Assembléia territorial, Comissão Gestora, Instalação de uma agência do BNB BNB, Governo Federal/Estadual Assembléia territorial, Comissão Gestora, Parcerias com entidades de pesquisa (Embrapa e EPAMIG) CNPq, CAPES, FAPEMIG Emater Entidades conveniadas e entidades locais: Emater, STR, Associações Estudar a viabilidade da construção de uma fecularia no território PRONAF / INFRA; PRONAF / Agroindústria, Governos Municipal/Estadual Emater, BIOCOOPVALE Associações, CMRDS, STR, Assembléia territorial, Comissão Gestora, 7 1 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Subespaços Atividades Estudar a viabilidade da construção de uma central de comercialização Evento de promoção dos produtos da mandioca Políticas Públicas de custeio e investimento ATER/ATES PRONAF / INFRA; Emater, SEBRAE, PRONAF / Agroindústria. consultores Entidades envolvidas Prefeituras, CMDRS, Associações, STR SRT, ITAVALE, FETRAF, FETAEMG, EFA, Associações, CUT, AMEJE Governos Municipal/Estadual Tabela 10. Metas físicas estimadas para atender as atividades de dinamização econômica da cadeia produtiva da mandioca num horizonte de investimento de quatro anos Período Grupo de ações Atividades Subespaços Total 2008 2009 2010 2011 Atividades agrícolas Cultivo de mandioca (ha) UFPs 4.200 4.200 4.200 4.200 16.800 Demanda ATER Técnicos disponíveis Municípios 9 10 9 10 38 Operação das novas unidades de Comunidades 20 20 20 20 80 beneficiamento de mandioca Capacitações Intercâmbios Organização Fabricação de novos produtos (derivados) Utilização ou destino correto para os resíduos Gestão das unidades de beneficiamento Intercâmbios / trocas de experiências Auxiliar e fomentar a organização dos grupos produtivos Fomentar e auxiliar a organização dos agricultores para comercialização Fortalecimento de atividades cooperativistas Gestão de associações e cooperativas Comunidades Comunidades Comunidades Municípios 20 20 20 1 20 20 20 1 20 20 20 1 20 20 20 1 80 80 80 4 Comunidades 30 30 30 30 120 Comunidades 30 30 30 30 120 Municípios Municípios 30 30 30 30 30 30 30 30 120 120 7 2 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Unidades de beneficiamento Transporte de produtos Estudos Apoio a atividades de economia solidária Construir ou reforma das unidades de beneficiamento de mandioca Comunidades 20 20 20 20 80 Disponibilizar água para o beneficiamento da mandioca Comunidades 20 20 20 20 80 Ajustar a demanda por energia ou realizar ligações elétricas Comunidades 20 20 20 20 80 Municípios 2 2 2 2 8 Municípios 3 3 2 2 10 Construir unidade de produção de biscoitos e outros derivados Aquisição de um caminhão por município Estudar a viabilidade da construção de uma fecularia no território Estudar a viabilidade da construção de uma central de comercialização Fomento a atividades de base solidária Melhorias da infra-estrutura das feiras Território 1 1 Território 1 1 Municípios 2 2 3 3 10 Municípios 2 2 3 3 10 7 3 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Tabela 11. Metas financeiras estimadas para atender as atividades de dinamização econômica da cadeia produtiva da mandioca num horizonte de investimento de quatro anos Período (valores x 1000) Grupo de Atividades Subespaços Total ações 2008 2009 2010 2011 Atividades Cultivo de mandioca (ha) UFPs 8.232,00 8.232,00 8.232,00 8.232,00 32.928,00 agrícolas Demanda Técnicos disponíveis Municípios 648,00 963,00 1.161,00 1.476,00 4.248,00 ATER Operação das novas unidades de Comunidades 140,00 140,00 140,00 140,00 560,00 beneficiamento de mandioca Comunidades 140,00 140,00 140,00 140,00 560,00 Capacitações Fabricação de novos produtos (derivados) Utilização ou destino correto para os Comunidades 140,00 140,00 140,00 140,00 560,00 resíduos Gestão das unidades de beneficiamento Comunidades 140,00 140,00 140,00 140,00 560,00 Intercâmbios Intercâmbios / trocas de experiências Municípios 10,00 10,00 10,00 10,00 40,00 Auxiliar e fomentar a organização dos Comunidades 120,00 120,00 120,00 120,00 480,00 grupos produtivos Fomentar e auxiliar a organização dos agricultores para comercialização Fortalecimento de atividades cooperativistas Gestão de associações e cooperativas Unidades de Construir ou reforma das unidades de beneficiament beneficiamento de mandioca o Disponibilizar água para o beneficiamento da mandioca Organização Ajustar a demanda por energia ou realizar ligações elétricas Comunidades 120,00 120,00 120,00 120,00 480,00 Municípios Municípios 120,00 120,00 120,00 120,00 120,00 120,00 120,00 120,00 480,00 480,00 Comunidades 2.800,00 2.800,00 2.800,00 2.800,00 11.200,00 Comunidades 400,00 400,00 400,00 400,00 1.600,00 Comunidades 200,00 200,00 200,00 200,00 800,00 7 4 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. Transporte de produtos Estudos Apoio a atividades de economia solidária Construir unidade de produção de biscoitos e outros derivados Municípios 100,00 100,00 100,00 100,00 400,00 Aquisição de um caminhão por município Municípios 360,00 360,00 240,00 240,00 1.200,00 Território 0 25,00 0 0 25,00 Estudar a viabilidade da construção de uma fecularia no território Estudar a viabilidade da construção de uma central de comercialização Fomento a atividades de base solidária Território 0 25,00 0 0 25,00 Municípios 10,00 10,00 15,00 15,00 50,00 Melhorias da infra-estrutura das feiras Municípios 20,00 20,00 30,00 30,00 100,00 13.820,00 14.185,00 14.228,00 14.543,00 56.776,00 Total 7 5 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. A cadeia Produtiva da Mandioca no Desenvolvimento do Médio Jequitinhonha Pensar o desenvolvimento em uma escala territorial significa utilizar a escala local como uma estratégia de atingir todo o território. Necessita-se de uma combinação de políticas governamentais (Federal, Estadual e Municipal) com iniciativas de desenvolvimento que valorizem as potencialidades dos arranjos produtivos locais. Sendo assim, pensar na cadeia produtiva como eixo estratégico do desenvolvimento territorial é dar ênfase no fortalecimento das bases produtivas locais. No caso específico do estudo em questão, a valorização da cadeia produtiva da mandioca perpassa por algumas medidas que podem ser implantadas para minimizar a fragilidade da cadeia, buscando uma maior dinamização econômica no território do Médio Jequitinhonha. Ao definir um eixo estratégico, pressupõe a melhoria das condições de infra-estrutura, a integração entre os arranjos produtivos locais, e a integração entre os diversos atores sociais que compõem o território. Entretanto, através das análises dos dados, percebe-se que é necessária uma articulação dos diversos atores e uma inter-relação entre os diferentes agentes que se relacionam na cadeia produtiva para que essa possa se desenvolver (aumentando a produção, distribuindo renda, preservando o meio ambiente e valorizando a cultura local). Alguns estudos, como os de Batalha et al. (2005), apresentam como mecanismos de fortalecimento da agricultura familiar a agregação de valor aos seus produtos. Para tanto, as principais formas de agregação estão no desenvolvimento e comercialização de produtos que destaquem características peculiares da agricultura familiar, desde a forma de produção e todas as pessoas envolvidas no processamento até chegar ao consumidor. Dessa forma, essas medidas passam pela articulação e coordenação dos agricultores para superarem a escala local e a formação de redes de cooperação para que não aconteçam falhas em nenhum elo da cadeia. Ao se comparar o estudo apresentado por Batalha et al. (2005) e o presente estudo, percebe-se que os desafios apresentados pela agricultura familiar no território Médio Jequitinhonha são muitos, porém grande parte destes desafios pode ser solucionada a curto e médio prazos. Antes de se pensar em formação de redes e articulação entre os atores e agentes envolvidos na cadeia, existem dificuldades apresentadas pelos agricultores como o acesso a terra para o desenvolvimento da produção, ou seja, existem elementos levantados durante a coleta que antecedem a questão produtiva em si, como a questão fundiária. 7 6 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. No território do Médio Jequitinhonha a discussão sobre as questões produtivas é recente, visto que este território está fortemente envolvido em questões educacionais. Deve-se entender que, por exemplo, as iniciativas em educação até o momento realizadas no território poderão dar suporte para a dinamização econômica do território, pois parte dos planos de estudo dos alunos consiste na observação e na proposição de ações para o desenvolvimento das atividades produtivas locais. Assim, as escolas de ensino profissionalizantes poderão contribuir na formação de redes de ATER, desde que sejam criados mecanismos adequados. Outro aspecto é que a produção de tecnologias voltadas para o desenvolvimento e comercialização de novos produtos torna-se um desafio na medida em que o número de técnicos existentes atualmente no território não é suficiente para atender a demanda dos agricultores. Somado a essa demanda, sabe-se que são necessárias continuas intervenções de inovação tecnológica para a manutenção dos mercados, mesmo que seja a nível local. A orientação das políticas públicas existentes no território para a atividade produtiva da mandioca somada às medidas coordenadas para os aspectos gerenciais, produtivos e ambientais pode trazer benefícios para os agricultores. Resultados econômicos que ultrapassem a escala local, configurando uma base social sob a qual pode vir a emergir um processo e desenvolvimento sustentável em todo o território do Médio Jequitinhonha. Todavia observar e procurar solucionar os problemas estruturais é de suma importância para este processo. Como exemplo tem-se que a articulação entre os agricultores de forma a monitorarem os elos da cadeia torna-se um desafio, visto que no território o transporte e a comunicação são deficitários. Ao nível comunitário observam-se relações muito interessantes e de sucesso. Por exemplo, na gestão das fábricas de farinha, observa-se que esta se dá na organização dos agricultores para utilização dos equipamentos e para o pagamento dos custos de operação. A organização social das fábricas é riquíssima no que se refere ao capital social, ou seja, “a capacidade em estabelecer laços de confiança interpessoal e redes de cooperação com vista à produção de bens coletivos” (D’Araújo, 2003), tendo em vista que nas fábricas comunitárias várias famílias desenvolvem o processamento realizando mutirão e trocando dias de serviço. Aliado a essas questões organizacionais que permeiam a agregação de valor aos produtos, o território apresenta muitas fábricas em condições de infra-estrutura para garantir o sustento da família, mas que não suportam uma produtividade padronizada e em escala maiores que possibilite uma integração com o mercado para além da esfera das localidades predominantemente rurais. Através das análises institucionais, pode-se inferir que a aquisição de equipamentos desvinculada de 7 7 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. uma orientação técnica sobre a adequação dos equipamentos a quantidade produtiva de cada comunidade dificulta ainda mais uma sinergia entre os elos da cadeia. Em todos os subsistemas pôde ser observado que são necessários investimentos para ampliar as organizações de “base” no território (como associações e cooperativas). Até o presente momento foi observado que a formação de associações ou cooperativas que envolvessem o tema produtivo é mínima. Logo, quando iniciar os processos de organização destas entidades, o território e as comunidades envolvidas deverão aprofundar as discussões a respeito das questões produtivas. O subsistema de comercialização deve ser o que necessitará de maior número de atividades, visto que nos outros subsistemas foram observadas ações coletivas de produção e de beneficiamento. Para facilitar essas ações de organização social e de desenvolvimento tecnológico é necessário que o quadro de técnicos de ATER/ATES no território sejam revistos, pois a razão entre técnicos e agricultores atualmente é maior que 600:1. As questões climáticas superam todas as questões anteriores. Aumentar a produtividade, padronizar os produtos e desenvolver novos produtos provenientes da mandioca não pode ser feito sem se pensar em um problema que é colocado pelos agricultores como o principal: a falta de chuva no território. Apesar do cultivo da mandioca apresentar certa resistência à seca e uma entrada baixa de insumos para ser produzida seu processamento exige utilização de energia como lenha, e, principalmente, água. Sendo assim, para que a cadeia produtiva seja potencializada e organizada é necessário uma política bem definida de convívio com o semi-árido. A produção da mandioca no Território Médio Jequitinhonha insere-se em questões de segurança alimentar, pois por ser um alimento rico nutricionalmente pode contribuir para a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente de alimento de qualidade. O desenvolvimento dessa cadeia produtiva pode garantir que esse acesso seja em quantidade suficiente. As ações de convívio com o semi-árido podem proporcionar práticas promotoras da saúde, que respeitem a diversidade cultural e que seja ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentável. Através deste estudo realizado junto à cadeia produtiva da mandioca, pode-se inferir que em municípios onde existe uma articulação maior na execução de programas e projetos elaborados por diferentes atores sociais os resultados são mais dinâmicos, ocorre um maior envolvimento e uma maior apropriação da proposta de desenvolvimento territorial pelos atores locais. Dessa forma, mesmo existindo conflitos entre organizações diversas e em realidades distintas dentro do mesmo território, o estabelecimento de um eixo estratégico de ações voltadas para a atividade econômica da 7 8 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. mandioca pode fomentar as mudanças necessárias para se alcançar o processo de dinamização econômica incitado por este instrumento planejado pela Secretaria de Desenvolvimento Territorial – MDA. 7 9 Plano Territorial de Cadeias de Produção Cooperativa: Mandioca – Território Médio Jequitinhonha. 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