“ Eu sei que eu não consigo... “
Como construir a autoconfiança na criança
Porque é que há crianças que acreditam que podem conquistar o mundo, enquanto
outras duvidam das suas capacidades para encontrar a loja da esquina?
Pomos nós muita tensão na competição e no sucesso?
Como podemos ajudar a criança a construir a autoconfiança?
Nos primeiros anos de vida a criança está muito ocupada a aprender coisas
novas. E faz com que as outras pessoas reparem nela: “Olha para mim, olha para o
que eu sou capaz de fazer.” As suas pequenas realizações precisam de atenção e
elogios.
Quando a criança vai para a escola, a competição está de repente à sua volta.
Ela vê como nós idolatramos “vencer” no nosso trabalho, no desporto, nas nossas
vidas. Não espanta que ela tenha essa preocupação.
“ O meu pai é melhor que o teu porque ganha mais dinheiro.”
“ A minha equipa é melhor do que a tua porque nós fomos a equipa vencedora.”
“ Eu sou melhor do que tu porque eu tive 84% no teste.”
Nós esquecemo-nos de que para alguém ganhar, alguém tem que perder – por
vezes muitas pessoas têm que perder. E muito frequentemente nós pensamos que
todas as pessoas que perdem são falhadas e frustradas.
O sucesso pode ser desencorajador
Frequentemente a criança trabalha muito para ser bem sucedida porque recebe
elogios, mas ela pode perder totalmente a alegria e a satisfação que vem
simplesmente do facto de participar.
Se ela não alcança o seu objectivo – ou o objectivo que os seus pais lhe
determinaram – pode perder a confiança em si própria. Pode ficar com medo de
falhar. O amor e os valores da família podem ajudar muito a reduzir este medo.
Quando a competição está à nossa volta, a autoconfiança prepara a criança para
lidar com o mundo real.
Aqui estão algumas sugestões para ajudar a criança a ter estima por si própria e
confiança nas suas capacidades:
1. O sucesso não é tão importante como estar envolvido e divertir-se.
Tanto as crianças como os adultos têm dificuldade em assimilar esta ideia. Uma
criança de oito anos, por exemplo, pode jogar futebol por diversão, e não para
competir. As recompensas podem ser: aprender a trabalhar em equipa e em
cooperação, desenvolver competências, testar limites.
Muito frequentemente, nós aplaudimos o vencedor e ignoramos quem perde. Mais
cooperação entre os pais, os treinadores, os professores e os jovens lideres pode
ajudar a reduzir a importância de ganhar e ajudar a construir a autoconfiança.
A questão chave depois do jogo não é “Ganhaste?”, mas “Divertiste-te?”
2. A criança precisa de objectivos que combinem os seus desejos com as
suas competências.
Pedir a um estudante médio para ficar satisfeito com uma nota que não seja abaixo
dos 80% em todas as matérias é colocar muito stress no sucesso.
Esperar que uma rapariga que não é grande nadadora “venha para casa com uma
medalha” é também injusto. Deixem-na nadar por diversão...
3. Evite comentários desencorajadores.
Se a criança tem um fraco desempenho numa actividade, não se dirija a ela com:
“Bem, tu hoje mais valia não teres saído de casa”. Procure antes encorajar. Todas as
crianças têm uma ou duas áreas em que são melhores do que no resto. Elogie esses
aspectos e encoraje os outros. Sublinhe que tudo o que ela tem que fazer é dar o
seu melhor. Ensine-lhe estratégias para melhorar os seus hábitos de estudo,
proporcione-lhe ajuda extra tanto em casa como na escola.
4. Nem por um minuto sugira que o seu amor está ligado ao desempenho
da criança.
Encoraje-a a desempenhar-se bem em todas as actividades. A confiança cresce num
ambiente cheio de amor e afecto. Amor, segurança e aceitação são o coração da
vida de família. Triunfos e derrotas devem ser esperados e aceites.
5. Quando a criança estiver desencorajada – “Eu sou mesmo um fracasso”
– deixe-a expressar os seus sentimentos mas ajude-a a ver-se a si própria
numa perspectiva mais positiva.
Sublinhe as suas realizações no passado. Relembre-a das suas competências
especiais. Encoraje-a a divertir-se, a fazer aquilo que ela gosta, mesmo que ela não
seja muito boa nisso. O objectivo não é ganhar a todo o momento.
6. A autoconfiança vem com encontros desafiantes.
Há muitas maneiras de ajudar a sua criança a desenvolver o sentido de realização:
jogos de família, desportos na vizinhança, tarefas domésticas como arrumar a sala
ou lavar o carro, fazer alguma coisa fácil. Isso ajuda-a a ver que ela pode
desempenhar-se bem e ser reconhecida. Toda a família deve tentar participar. Mas
não “deixar” a criança ganhar. A sua pequena decepção pode apenas aumentar o
seu sentimento de falha (“Eu sou tão desajeitada que o pai pensa que tem que me
deixar ganhar”).
7. Não esconda as suas falhas.
Teve dificuldades na matemática? Já alguma vez teve uma falha crucial contra a sua
própria equipa desportiva? Isso ajuda a criança a perceber que a mãe e o pai
também não são perfeitos, e que depois ficam bem.
8. Seja um exemplo.
As suas atitudes competitivas são transmitidas para o seu filho? Se tem uma
concepção saudável sobre o ganhar e o perder, a sua criança provavelmente seguirá
o seu exemplo.
Encoraje menos o alcançar dos resultados e mais alegria da satisfação. Nós não
temos que ser bons a fazer alguma coisa que nos dá satisfação.
Lembre-se que a autoconfiança da criança não vem do facto de ela ter sucesso. Vem
de uma sólida fundação no amor da família. Vem de saber resolver e ultrapassar os
problemas.
A família pode ser uma grande ajuda!
Texto adaptado por Isabel Duarte de:
FEELINGS AND YOUR CHILD
Canadian Mental Health Association.
Ilustração: Kathy Silva
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“ Eu sei que eu não consigo... “