Texto complementar Uma leitura geográfica dos reflexos da violência no espaço urbano Ariovaldo Umbelino de Oliveira GEOGRAFIA 1 Geografia Assunto: Violência nas cidades Uma leitura geográfica dos reflexos da violência no espaço urbano Refletir sobre a violência e suas nuances geográficas impõe-se como exercício obrigatório para quem pretende compreender a dinâmica atual da urbanização. A violência que atinge cidades brasileiras deixou de ser um fenômeno localizado e ganhou status de problema nacional. Essa situação tem desencadeado na sociedade urbana um sentimento desmesurado de medo, colocando-a em permanente estado de alerta. Em resposta, ocorrem mudanças significativas no cotidiano das cidades, pela redefinição de atividades, fluxos e comportamentos, portanto, no modo de vida urbano. A percepção dessas mudanças remete à compreensão de que a violência urbana tornou-se uma questão essencialmente geográfica. Isso significa considerar não apenas os aspectos de localização e extensão do problema, mas os seus reflexos nos modos de produzir e consumir (n)a cidade [...]. Portanto, o entendimento da dinâmica atual das cidades brasileiras demanda discussão e análise dos significados do componente medo, deflagrado pela violência urbana, para a organização das atividades citadinas [...]. Nesse quadro complexo e emblemático, percebe-se a exacerbação de três tendências marcantes no processo de produção espacial. O primeiro diz respeito ao processo de segregação urbana, em parte motivado pelo acirramento das desigualdades sociais, fruto do modelo de desenvolvimento econômico do país [...]. Em razão disso, decorre a segunda tendência que é a autossegregação. Para a população de maior renda, a cidade acena para o usufruto do conforto e segurança em espaços exclusivos. Essa tem sido a opção preferencial da população economicamente mais bem situada, seja pela moradia em condomínios fechados, no consumo em shoppings, cada vez mais vigiados, na circulação a bordo de veículos blindados e no lazer em resorts. A demanda por equipamentos e serviços que garantam maior segurança tem impulsionado um novo e dinâmico mercado, a saber, o negócio do medo. A terceira tendência refere-se à emergência de um novo urbanismo, materializado no que Daves chamou de arquitetura do medo. É inegável que, cada vez mais, as cidades assumam feições ditadas pelo medo: muros altos, cercas eletrificadas ao redor das casas, guaritas de vigilância etc. QUEIROZ, Ivan da Silva. A cidade sitiada: da violência consentida ao medo com sentido. In: PONTUSCHKA, Nídia Nacib; OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de (Org.). Geografia em perspectiva. São Paulo: Contexto, 2002. p. 98-100. 1