Entrevista Chan Wook Min Reflexões sobre o tempo POR DENISE TURCO O comportamento do consumidor muda muito rápido. Se até bem pouco tempo o problema era a renda escassa, agora ele se depara com outra questão: a falta de tempo para fazer suas compras. Se o supermercadista se preocupava com a maneira correta de expor os produtos, agora é necessário observar e acompanhar o ritmo veloz do consumidor para planejar uma loja eficiente. É hora de elaborar um conjunto de ações para tornar o ponto-de-venda mais atrativo, estabelecer alianças com fornecedores e, principalmente, sair da discussão e partir para a ação. É o que propõe o presidente do Popai Brasil, Chan Wook Min. Com as mudanças ocorridas na economia e no comportamento das pessoas, elas não têm mais tempo para fazer compras? O tempo do consumidor está cada vez mais escasso e a tolerância à espera diminuiu. Hoje a pessoa já sai de casa com o cronômetro ligado. Observe, quando a pessoa sai, provavelmente já pensa que precisa voltar até determinado horário. Então a compra está muito mais objetiva e o consumidor compra somente o que precisa. Antes nós falávamos do valor disponível que as pessoas tinham para fazer as compras. Hoje elas têm necessidade de comprar, têm dinheiro, mas não têm tempo. E como está o tempo da mulher, responsável pela maioria das compras do lar? 18 SuperVarejo | outubro 2008 A mudança do papel da mulher também ilustra bem essa questão do tempo. Nos anos 1960, a mulher era mãe e esposa. Em 2008, ela é mãe, esposa, tem que cuidar da família, da carreira profissional e ainda fazer cursos. Tem de estar sempre com aparência bonita, cabelo arrumado e unhas feitas. Então, sobra pouco tempo para as tarefas domésticas. Esses fatores geram compras mais objetivas. Qual é o tempo de permanência do consumidor no ponto-de-venda? Pesquisa realizada pelo POPAI Brasil mostra que o tempo médio de compra dentro de um supermercado diminuiu de 1h09 para 42 minutos, entre 1998 e 2004, uma queda de 40%. No hipermercado a redução foi de 1h30 para 1h04, meia hora de queda. Além disso, o porcentual de consumidores que passam somente nas seções planejadas subiu de 25% para 44% neste período, um aumento de mais de 70%. Ao observarmos a evolução do hipermercado, vemos que hoje este canal oferece muito mais produtos do que há dez anos. Então, como o consumidor consegue ver mais coisas em menos tempo? Este é o grande desafio do varejo. Não acredito que o tempo de permanência dentro do hiper e supermercado vá mudar. Pelo contrário, ele tende a diminuir. Como o varejo pode lidar com essa nova situação? Varejo e indústria precisam dar mais atenção a essa nova realidade, ou melhor, a essa nova necessidade. É preciso facilitar a compra do consumidor, tornar o ambiente mais atraente, propiciar mais Dedicação ao merchandising Chan Wook Min é presidente do POPAI Brasil, entidade sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento do merchandising no pontode-venda. Formado em Publicidade pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) e com especialização em Marketing, Chan atua há 16 anos no setor. É diretor Executivo da Tantum Brand In-Store Marketing & Design. Paulo pepe/nau experiências para sair da mesmice. Se o varejo se preocupar somente com a questão do abastecimento, perderá grandes oportunidades de vendas. É preciso atrair e seduzir o consumidor, mas ao mesmo tempo auxiliá-lo. Em vez de pensar somente na gestão de categorias, o varejo precisa entender qual é o raciocínio do consumidor. É por isso que se destacam as lojas que oferecem vários serviços, como drogarias, revelação de fotos e posto de combustível no mesmo local, porque o cliente faz várias atividades em apenas um lugar. Ele chega na loja e já abastece o carro; deixa as fotos para revelar enquanto está no supermercado; ao sair, aproveita para comprar os medicamentos de que necessita. O que pode ser feito na prática? Tudo vai depender do que o ponto-devenda busca, qual é o momento e o perfil da loja. Eu acredito que o supermercado tem que se preocupar mais com a localização dos produtos. Mas o supermercado não pode se esquecer que o consumidor está indo ao ponto-de-venda com muito mais freqüência. Então ele vai mais vezes com menos tempo. Para atender o cliente de maneira confortável, é muito importante ganhar eficiência na localização e exposição do produto. O supermercadista deve avaliar: será que o cliente está encontrando os produtos na loja? O mais importante é o foco do trabalho. Se antes pensávamos em expor corretamente e de Outubro 2008 | SuperVarejo 19 Entrevista Chan Wook Min maneira atraente, agora nós temos uma nova necessidade que merece atenção, que é o tempo do consumidor. estão somente em discussão. Essas reflexões precisam se transformar rapidamente em atitude. Precisamos reunir o pessoal da indústria e do varejo para encontrar soluções e minimizar perdas. A sinalização digital é uma ferramenta para auxiliar o cliente nessa corrida contra o tempo? Sim. Toda mensagem que envolve som e imagem ao mesmo tempo é mais atraente do que algo estático. As agências estão produzindo mensagens objetivas e subjetivas sobre os produtos com duração de poucos segundos. Se as telas são instaladas próximas aos produtos, e não como TV interna, o sistema funciona como se fosse um material de ponto-de-venda, um cartaz, um wobbler. Então a sinalização digital gera venda e ajuda o consumidor a decidir melhor a sua compra. É uma tecnologia acessível que em breve estará em um grande número de pontos-de-venda. A implantação do conceito de loja dentro da loja também é eficiente nesse contexto? Criar microambientes privilegiando os setores de vinhos, por exemplo, e fazer uma decoração especial para que o consumidor sinta que está fazendo uma compra mais sofisticada é uma alternativa que vai trazer benefícios para o ponto-devenda, com certeza. É interessante aliar ambientação, digital signage e aplicação de aromas. Tecnologia, design e sustentabilidade são tendências mundiais, no que diz respeito ao merchandising no ponto20 SuperVarejo | outubro 2008 Paulo pepe/nau Planejar uma exposição diferenciada é fundamental, então? Recentemente estive em uma feira do setor de cosméticos, e um varejista dizia que precisava de mais investimento em promotores. Perguntaram a ele: “Francamente, a sua exposição está nota 10?”. Ele respondeu: “Não”. Então é preciso se mexer porque hoje o mercado não tem mais espaço para varejistas acomodados. Além disso, o consumidor está mudando rápido e está muito mais exigente. O varejo precisa criar sempre novas decorações na loja para gerar mais experiências agradáveis de compra. “ Se antes pensávamos em expor corretamente e de maneira atraente, agora nós temos uma nova necessidade que merece atenção, que é o tempo do consumidor de-venda. Como esses fatores podem ser utilizados para manter o cliente por mais tempo na loja? No Brasil, estamos muito atrasados e pouco preparados em relação ao uso da iluminação. É claro que existe a necessidade de economizar, mas hoje temos soluções de iluminação que unem economia e eficiência, como o uso de leds, por exemplo. Outras questões, como uma atenção maior ao design e à sustentabilidade, Como devem ser elaboradas as mensagens para o consumidor apressado? As indústrias estão preparando expositores com mensagens concisas, objetivas, sem excesso de informação. É preciso adotar uma diretriz única e clara em termos de mensagem, ou seja, a empresa precisa comunicar o que ela entrega de melhor ao consumidor – ou o melhor serviço ou a melhor exposição ou os produtos mais frescos. O próprio supermercadista pode instruir a indústria para que ela possa desenvolver materiais para uma exposição mais adequada no ponto-de-venda. Existe uma resistência do varejo a investir em materiais de promoção e merchandising? É claro que existe. Tem muita gente empenhada em reduzir custos. Mas é preciso ter uma visão de futuro e não pensar somente no retorno imediato. Conheço mais pessoas que ficaram ricas porque investiram certo do que pessoas que ficaram ricas porque apenas cortaram custos. Se o empresário economiza, mas não investe certo, não adianta nada. Eu não tenho dúvidas que qualquer investimento que for feito para agradar o consumidor será um bom investimento. A questão do tempo começa então no momento em que o consumidor entra na loja? Não. Quando ele se aproxima do estabelecimento, já está lidando com essa questão e entende a loja como uma facilidade. Não adianta ter eficiência em termos da localização de produtos se a pessoa demora muito para estacionar o carro. O consumidor deve se sentir atraído para ir à loja por saber que lá as coisas funcionam. Mesmo que o consumidor não tenha isso racionalizado, ele sente que aquele local é mais eficiente. [email protected]