energia Capa Menos é mais Reduzir a conta de energia em até 50% é possível, desejável e mais fácil — e barato — do que parece [ Por Natalie Catuogno [email protected] A ] conta de energia elétrica é considerada o segundo ou terceiro principal custo operacional em um supermercado. Pesa bastante, portanto, considerando-se que o lucro do segmento, depois de deduzidos todos os gastos, chega a 3% no caso de uma operação muito eficiente. Embora o segmento não esteja liderando as inovações e os investimentos em eficiência energética (que nada mais é do que obter o mesmo resultado gastando menos energia), essa redução interessa a muitos varejistas e, aos poucos, tem se tornado uma preocupação cada vez mais comum no setor, assim como os relatos de medidas que visam economizar energia. “Mesmo medidas pontuais podem levar a consideráveis níveis de economia na conta de energia elétrica. E, ao mesmo tempo, ao investir em ações e reformas para economizar uma commoditie como essa, o supermercadista pode capitalizar em imagem de loja ‘verde’, o que tem importância crescente também no Brasil”, analisa o professor do Provar — Programa de Varejo da FIA (Fundação Instituto de Administração) —, Nuno Fouto. 32 SuperVarejo março 2013 Não à toa, há hoje 600 prédios na fila para o recebimento de uma certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design — Liderança em Design Energético e Ambiental, em tradução livre), concedida pelo Green Building Council (GBC), instituição que fomenta as construções sustentáveis. Grupo Pão de Açúcar e Walmart estão entre eles. O LEED é um entre vários selos ou certificações que definem protocolos de economia de recursos, entre eles a energia elétrica, e está em franco crescimento no Brasil e no mundo. Mas não é o único. Em 2011, a ISO (International Organization for Standardization) criou o protocolo 50.001, definindo padronizações de gestão da energia para as empresas alcançarem níveis de eficiência energética. thinkstock março 2013 SuperVarejo 33 Capa energia Divulgação Relativamente recente, a ISO 50.001 já tem certificadores no Brasil (como a Fundação Vanzolini) e é mais uma demonstração de como a questão do uso racional dos recursos naturais vem encorajando debates e algumas medidas mundo afora. “A gestão de energia para eficiência energética proposta pela ISO nada mais é do que procurar gastar menos sem colocar em risco a segurança alimentar, o conforto térmico e a iluminação. A pergunta é: o que eu faço para ter um nível adequado de iluminação na loja e, ainda assim, gastar menos energia?”, explica o diretor de desenvolvimento da Otec, empresa especializada em assessoria para construção civil, David Douek. Segundo avaliação de especialistas, o supermercadista tem basicamente dois caminhos distintos, mas complementares, para melhorar a eficiência energética de sua loja: criar um sistema próprio de gestão de energia (SGE), conforme os protocolos internacionais citados, ou investir em ações pontuais de redução de gastos, como troca de lâmpadas e de equipamentos por similares que consumam menos. A recomendação praticamente unânime foi favorável a que o empresário invista no primeiro caso. “Toda ação voltada à INFANGER: loja planejada para garantir o máximo de iluminação natural 34 SuperVarejo março 2013 eficiência energética deveria passar por um estudo de engenharia antes de gerar uma substituição de equipamentos. Isso porque existem muitas — mas muitas mesmo — oportunidades de tornar mais eficientes os processos dos mais variados tipos por meio de uma reengenharia propriamente dita tanto da parte estrutural quanto da processual”, defende o sócio da Gestal, empresa especializada em gerenciamento de energia elétrica, Maurício Suppa. Foi exatamente o que fez a rede São Vicente, com 18 lojas no interior de São Paulo. Uma empresa de assessoria ambiental já prestava serviço para a varejista e, desde 2012, a companhia ficou também responsável por fazer levantamentos minuciosos sobre a situação energética da rede. “Queríamos uma radiografia para poder agir preventivamente e evitar gastos desnecessários”, conta o diretor do São Vicente, Maurício Cavicchiolli. Fase de análise Um bom programa de SGE compreende desde a avaliação da demanda de energia e do tipo de fornecedor (concessionárias Divulgação no chamado “mercado cativo” ou geradores e comercializadores independentes via “mercado livre”) até mudanças de processos e substituição de equipamentos, passando por reparos e adequações na infraestrutura operacional energética da loja quando necessário. Avaliar quanto pode investir e em quanto tempo esse investimento se paga é o ponto crucial, dizem analistas ouvidos pela reportagem. Em geral, a conta acaba sendo favorável a medidas de gestão, porque a fatura da energia elétrica chega a baixar pela metade com a implantação de um sistema articulado de eficiência energética. E mesmo os pequenos conseguem implementar essas medidas, pois o investimento é proporcional ao porte do negócio. “Uma empresa menor pode não ter como investir em um software de controle de consumo energético muito sofisticado, mas com certeza pode comprar equipamentos elétricos com medidores instalados ou solicitar um medidor em tempo real na própria concessionária de energia, por exemplo”, avalia o associado da consultoria IBM Brasil para o mercado de energia, Marcos Martim. Ele se refere a duas tecnologias que estão à disposição no mercado, sendo a primeira delas relativa a alguns equipamentos (como ar condicionado, por exemplo) que já vêm de fábrica equipados com sensores que registram em tempo real o consumo energético. “Em alguns anos, poderemos oferecer no Brasil um tipo de garantia vitalícia que está crescendo lá fora. Com as informações coletadas por esses medidores, que incluem o consumo, mas não se limitam a ele, a fabricante poderá avisar o cliente quando tiver de fazer manutenções preventivas, garantindo eficiência e funcionamento por toda a vida útil do aparelho”, explica o vice-presidente de eficiência energética da Ligado nos termos Eficiência energética: manter os mesmos níveis de segurança alimentar, conforto térmico e iluminação consumindo menos energia. Mercado livre de energia: companhias com demanda prevista acima de 500 kWatts por mês podem comprar energia diretamente de comercializadores, sem precisar se ater à concessionária de energia local. Mercado cativo de energia: mercado restrito às concessionárias apenas. Demanda contratada: previsão de demanda máxima de energia a ser consumida durante determinado período. Chega-se a ela avaliando-se quanto cada aparelho consumiria se todos fossem ligados simultaneamente. Consumo: o que foi efetivamente consumido em determinado período. Baixa tensão (classe convencional): consumidores residenciais e empresas de pequeno porte (em geral, pelo porte, essa classe exclui supermercados e mesmo muitas lojas de varejo alimentar). Média tensão: consumidores com gasto médio mensal de energia; em geral, empresas de médio porte. Alta tensão: grandes consumidores de energia. Período de ponta: para consumidores a partir da média tensão, o valor da tarifa varia de acordo com o período do dia, chegando a custar, nos períodos em que é mais caro (ponta), até cinco vezes mais do que nos demais períodos. FOUTO, DO PROVAR/FIA: supermercado pode capitalizar investimentos na economia em imagem de loja verde, o que tem grande importância no Brasil Bitola: calibre do fio utilizado para distribuir a energia dentro das lojas, casas, empresas, prédios etc. Fontes: especialistas ouvidos pela reportagem março 2013 SuperVarejo 35 Capa energia Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava), Manoel Gameiro, especialista em condicionadores de ar. A segunda tecnologia é mais simples e acessível ainda: trata-se do medidor que as concessionárias instalam na empresa do cliente. Há modelos atualmente capazes de medir o consumo praticamente em tempo real, de cinco em cinco minutos, explica Martim, da IBM. As concessionárias costumam instalar esse medidor, conhecido como “inteligente”, em clientes de média tensão sem custo adicional. A CPFL, que opera no interior de São Paulo, por exemplo, explica que os clientes comerciais têm medidores eletrônicos que serão paulatinamente substituídos pelos do tipo “smart”. Até março, a companhia tinha trocado mil medidores e projetava substituir 27 mil. Para quem decidir pela gestão de energia, a análise — que deve ser ampla, regular e periódica — pode começar pela própria conta de energia elétrica, sugere a responsável pela área de novos negócios da Daimon, Cristiane Mancini. Conhecer e controlar a fatura serve, basicamente, para: 1) estabelecer parâmetros de quanto se gasta. O ideal — e isso vale para empresas de qualquer porte — é que esses dados sejam armazenados em softwares de controle; 2) comparar gastos mensais, anuais, por períodos e, dessa forma, efetivamente compreender e controlar o consumo de energia; 3) verificar, a partir disso, oscilações na fatura, pois “um Água também é ponto crítico Divulgação Eficiência na operação também inclui gestão de outros recursos, não apenas da energia. É o caso, por exemplo, da água, recurso que, a exemplo da energia, é bastante utilizado e, em geral, desperdiçado. Especialistas ouvidos pela SuperVarejo dão dicas para o supermercadista que deseja utilizar com mais eficiência esse insumo também: 1) Manter canos e sistemas hídricos em ordem para evitar vazamentos 2) Substituir torneiras gotejantes 3) Substituir torneiras tradicionais por aquelas com acionamento automático e limite de fluxo 4) Substituir os chuveiros tradicionais pelos de menor vazão de água 5) Substituir vasos sanitários pelos modelos à vácuo (similares aos de avião). “Enquanto uma bacia tradicional gasta 6 litros de água por descarga, essas variam de 0,8 a 2,4 litros. São mais caras, mas a economia compensa”, avalia o diretor técnico e educacional do Green Building Council Brasil, Marcos Casado 6) Implantar sistemas de captação e difusão de água da chuva para fins não potáveis CASADO, DO GREEN BUILDING COUNCIL BRASIL: parâmetro de perda de energia tem que ser bem rígido; teto aceitável deve ficar entre 2 e 4% 36 SuperVarejo março 2013 “Algumas varejistas de fora do Brasil começam a fazer tratamento para reutilização não potável da água ‘cinza’ [dos lavatórios] e ‘negra’ [dos vasos sanitários]. Com o tratamento correto, também é um investimento interessante”, diz Casado Fontes: especialistas ouvidos pela reportagem aumento repentino pode indicar que está havendo fuga de energia, que um aparelho pode estar consumindo mais do que o necessário, por exemplo”, lembra Mancini; 4) avaliar se a demanda contratada e o tipo de compra de energia estão de acordo com as necessidades da companhia e são, portanto, as opções mais eficientes: “Muitos empresários pagam multas sistemáticas por consumirem mais do que a demanda contratada, mas não reavaliam nunca essa demanda junto à concessionária”, explica o gerente de Autoprodução da CPFL Serviços, Geraldo Vajda. O empresário que contrata, com a concessionária de energia elétrica, no mínimo o regime de média tensão precisa informar a demanda projetada, ou seja, o máximo que ele acha que vai consumir. Essa demanda definirá, por exemplo, até o calibre dos fios com os quais a concessionária fará a ligação de energia no imóvel. Quando o cliente consome mais do que avaliou que consumiria, leva uma multa. O ideal seria avaliar a demanda periodicamente e informar mudanças significativas para a concessionária. E o que pode fazer o serviço contratado aumentar? A introdução de novos equipamentos, por exemplo, uma vez que a demanda é dimensionada somando-se todo o potencial consumo de todos os aparelhos e equipamentos elétricos de uma loja ou rede. “Esse acompanhamento, por si só, pode garantir economias, já que minimiza as chances de multas”, recomenda Vajda. Demanda projetada e consumo de fato são informações essenciais também para o empresário avaliar se sua opção de compra de energia é a mais economicamente interessante para sua realidade. Consumidores empresariais cujo consumo chegue a (ou passe de) 500 kWatts por mês podem começar a operar — com algumas limitações — no chamado “mercado livre de energia”. Isso significa que uma empresa com esse perfil mínimo de consumo (somadas todas as lojas, não necessariamente por unidade) não é mais obrigada a comprar energia da concessionária da sua região e pode, portanto, escolher outro fornecedor, seja ele um gerador de energia ou apenas um comercializador. Qual a vantagem disso? “O empresário pode negociar tarifa e preço da energia, condições de pagamento, prazos, indexadores. Assim como em qualquer compra, vai valer mais a pena março 2013 SuperVarejo 37 conforme o supermercadista comprar em maior quantidade”, explica Mancini, da Daimon. No entanto, alertam os especialistas, não é uma boa saída para qualquer negócio. Primeiro porque o preço fica interessante mesmo para as empresas com consumo acima de 3 megaWatts por mês, e segundo porque é só quem tem um consumo dessa monta que tem condições de escala para comprar energia proporcionalmente mais barata no mercado livre. “Em valores, para se ter uma ideia mais exata, esses parâmetros mínimos para atuar no mercado livre significam contas de R$ 90 a R$ 100 mil mensais. Mas empresas como a rede Comper, por exemplo, que é nossa cliente, conseguem economizar de 20 a 25% no mercado livre em comparação com o que gastariam no ‘mercado cativo’”, explica o diretor da Trade Energy, uma comercializadora de energia, Luis Gameiro. Uma vez superada a etapa da revisão do modelo de compra de energia e feitos os ajustes de projeção de demanda (seja com concessionária no modelo cativo ou com empresas do mercado livre), especialistas explicam que o próximo passo é avaliar a infraestrutura de distribuição de energia dentro das lojas, especialmente em prédios mais antigos. Nos novos, é importante erguer com estrutura já adequada. Especialistas contratados para essa finalidade costumam avaliar, principalmente, o estado de conservação e a qualidade dos fios e se eles têm bitola adequada à quantidade de energia exigida. Um fio desencapado, por exemplo, perde energia. O mesmo acontece quando o calibre é menor do que a carga elétrica transportada: há aquecimento do fio e isso, na prática, também é fuga de energia (além de ser muito arriscado). “Nesses casos, os parâmetros de perda de energia precisam ser bem rígidos. Aceita-se normalmente uma perda entre 4 e 7%, mas, para o GBC, por exemplo, o teto aceitável deve ficar entre 2 e 4%”, pontua Casado, do GBC Brasil. Para manter a perda de energia na distribuição nesses patamares mais enxutos, é preciso, portanto, investir um pouco mais na bitola adequada da fiação e em sua manutenção. A boa notícia é que a fiação tem uma vida útil superior a 10 ou 15 anos, dependendo da qualidade e da relação bitola x circulação de tensão. Não é preciso, portanto, revisar esse tipo de instalação com tanta frequência. Outro ponto importante a se verificar e melhorar na infraestrutura, avaliam os especialistas, são os circuitos de distribuição. Em linguagem de leigo, a quantidade e os tipos de aparelhos ligados a um circuito elétrico. O ideal é que departamentos diferentes tenham circuitos diferentes, com disjuntores e medidores de gasto energético diferentes. E mesmo em alguns desses departamentos (como 38 SuperVarejo março 2013 Divulgação Capa energia GAMEIRO, DA TRADE ENERGY: empresas chegam a economizar 25% no mercado livre em comparação com o que gastariam no mercado cativo a loja, por exemplo), o ideal é ter um circuito para iluminação, outro para refrigeradores, outro para fornos e similares, e ainda um quarto para ar condicionado. “Quanto mais detalhada e individualizada a medição, melhor. Só se gerencia aquilo que se conhece. Não é preciso ter um medidor por geladeira, por exemplo, mas um por grupo de geladeiras é interessante e possível”, avalia Douek, da Otec. Há softwares que ajudam nessa medição, compilam os dados e os lançam nos sistemas de retaguarda da empresa, conta Suppa, da Gestal. Mas implantar uma solução dessas depende, entre outras coisas, do faturamento da empresa, do volume de itens e circuitos a serem medidos, se vale a pena o investimento, pois a medição em si pode ser feita sem o programa e, posteriormente, os dados podem ser lançados num software de retaguarda ou de business analitics que o varejista já tenha, lembra Martim, da IBM. Uma medição bem feita e realizada em tempo real ajuda também a identificar equipamentos gastando mais do que O que fazer para ser mais eficiente? Supermercado pequeno Supermercado Médio Supermercado Grande 1. Acompanhar com atenção a fatura de energia elétrica e pesquisar a origem de possíveis oscilações no valor cobrado de um mês para outro ou de um período para outro 1. Todos os itens indicados para os iniciantes 1. Todos os itens dos grupos anteriores 2. Revisar frequentemente a demanda contratada com a concessionária, especialmente se estiver pagando multas por excedê-la ou se houver comprado equipamentos elétricos desde a última análise 2. Avaliar se vale a pena operar pelo mercado livre de energia 2. Comprar energia diretamente do mercado livre 3. Manter fios e instalações em bom estado de conservação e garantir que a fiação tenha bitola compatível com a tensão transportada 3. Analisar a pertinência e a necessidade de um gerador para atender a demanda nos horários de ponta 3. Implantar um sistema mais sofisticado de gestão de energia, contando com assessorias em diversas áreas (como iluminação, arquitetura “verde”, frio alimentar e ar condicionado) 4. Trocar as lâmpadas convencionais pelas fluorescentes ou pelas de LED (que são mais caras, mas consomem apenas 9 watts contra 28 da fluorescente TL5, o modelo mais eficiente) 4. Contratar a assessoria de empresas especializadas para um diagnóstico da situação energética na companhia 4. Investir em softwares de controle de consumo 5. Não exceder a capacidade de armazenamento dos refrigeradores e balcões refrigerados 5. Se for o caso, investir em reformas e adequações da infraestrutura de distribuição de energia (como divisão do sistema de fiação em vários circuitos separados) e na própria loja (abertura de claraboias para iluminação natural, troca de equipamentos, análise arquitetônica para facilitar ventilação natural, pinturas térmicas etc.) 5. Buscar certificações internacionais de construção “verde” 6. Procurar expor e estocar produtos com temperaturas de resfriamento similares em um mesmo refrigerador 6. Investir em controles melhores e mais sofisticados — máquinas mais “inteligentes”, por exemplo, ou medidores próprios de consumo de energia 6. Investir na construção de lojas novas “verdes” 7. Cobrir com lona, plástico ou acrílico os expositores refrigerados sem porta durante a noite. Isso evita perda de frio e, portanto, economiza energia 8. Manter equipamentos com a manutenção em dia e treinar funcionários para ações simples, como apagar as luzes de ambientes vazios Fontes: especialistas ouvidos pela reportagem deveriam ou precisam em manutenção. Em geral, máquinas sem manutenção adequada gastam mais energia e, por isso, os sistemas de gestão de energia criam protocolos de manutenção para os equipamentos elétricos, outra boa medida em eficiência energética. Fase de ação Os especialistas ouvidos pela SuperVarejo sustentam que é somente depois de fazer esses levantamentos e instaurar uma rotina de acompanhamento de consumo e manutenção de equipamentos que o supermercadista deve avaliar a necessidade de março 2013 SuperVarejo 39 Capa energia Fotos: Thiago Pietrobon intervenções físicas — como reformas, adaptações e trocas de equipamentos — que de fato venham a garantir a diminuição do consumo. “Retrofit para ampliar a iluminação natural pode valer a pena, desde que o supermercadista saiba o impacto que a conta de energia elétrica em iluminação artificial está gerando. E, para isso, são importantes todos esses controles e medidas”, garante Douek, da Otec. Segundo Casado, do GBC Brasil, por exemplo, cerca de 3% de abertura no teto de uma loja já é suficiente para garantir níveis adequados de iluminação natural e uma economia suficiente para pagar o investimento em apenas um ano. A segunda loja do supermercado Infanger foi planejada para garantir o máximo de iluminação natural. O diretor administrativo da rede, Geraldo Francisco Hümmel, conta que foram instalados 38 claraboias na área de vendas, que tem pouco mais de 1.600 metros quadrados. Dotadas de lentes duplas prismáticas, as aberturas filtram o calor e os raios UV, deixando passar apenas a claridade, o que contribui também para manter o conforto térmico e não exigir esforços extras no resfriamento do ambiente. Para amplificar ainda mais a iluminação e usar o mínimo possível as lâmpadas artificiais, a empresa contratada para o projeto fez um estudo minucioso nas luminárias: revestimento interno altamente reflexivo (mais de 95%) e com curvatura ajustável de acordo com o pé-direito do ambiente. “Usamos lâmpadas fluorescentes TL5, versão eco. Só acionamos a iluminação artificial depois das 17h. Com todos esses esforços, a economia em energia pagou o investimento todo em apenas 18 meses”, comemora Hümmel. De acordo com Casado, do GBC Brasil, esse tipo de lâmpada consome apenas 28 watts (contra 40 das fluorescentes tipo TL10). E a iluminação de uma loja chega a representar até 15% dos gastos totais com energia elétrica. No caso do ar condicionado, cujo consumo de energia chega a 30% do total, são muitas as alternativas para economizar e ter uma relação mais eficiente. A manutenção é a palavra-chave nesse caso. Os especialistas que falaram à SuperVarejo reforçam que deixar de fazer a manutenção adequada é um dos principais erros que o varejista comete em relação à eficiência energética nesses casos. “Se os dutos de resfriamento estiverem sujos, o aparelho esquentará. Tudo o que libera calor está, na verdade, usando energia, nesse caso desnecessária”, alerta Gameiro, da Abrava. Estima-se que aparelhos de ar sem manutenção adequada consumam até 30% mais que o ideal. NO SÃO VICENTE, iluminação natural, manta térmica abaixo do forro para absorver o calor e sistema de escape de ar quente 40 SuperVarejo março 2013 CAVICCHIOLLI, DO SÃO VICENTE: “radiografia” serviu para prevenir e evitar gastos desnecessários Há, no entanto, quem opte por abolir totalmente o ar condicionado e promover o conforto ambiental com ventilação natural. Caso do Supermercado São Vicente, por exemplo. Conforme conta Cavicchiolli, entre outras medidas, a rede instalou uma manta térmica que absorve o calor abaixo do forro. Também implementou um sistema de escape de ar quente e tem paredes alveolares, que promovem bom isolamento térmico. “O pé-direito alto das lojas também ajuda a ventilar”, diz ele. No Infanger, também não há condicionamento artificial de ar. A temperatura ideal é conquistada por um sistema de ventilação natural e pelo uso dos balcões refrigerados, que, posicionados de forma estratégica em pontos menos ventilados, garantem o frescor ideal naquele corredor. Respondendo por 35% do consumo energético, os refrigeradores são outro grupo de equipamentos em que a manutenção faz toda a diferença, além, claro, do acompanhamento minucioso do gasto que dão. Cavicchiolli monitora bem de perto esses equipamentos, por exemplo, e conta que muitos deles saem atualmente de fábrica dotados de modernos sistemas de acompanhamento do uso energético. São um pouco mais caros, é fato, mas, por outro lado, permitem acompanhamento em tempo real das oscilações de consumo. E mais: os softwares instalados também permitem um controle preventivo, ou seja, impedem consumo excessivo em horários de ponta, em que o custo da energia fica cerca de cinco vezes mais caro. Atentar para o uso correto desses equipamentos é outra dica que advém de uma boa política de gestão energética. Por exem- plo: se as pessoas sentem muito frio nos corredores refrigerados é porque claramente as geladeiras estão supergeladas, não seria necessário baixar tanto a temperatura. Outra? Produtos com temperaturas de resfriamento diferentes devem ficar em refrigeradores diferentes, para evitar que um refrigerador, por causa de alguns produtos apenas, opere mais frio do que poderia. Não exceder a capacidade máxima de produtos por aparelho e separar as zonas mais e menos frias do depósito refrigerado com portas sanfonadas também otimiza o trabalho dos refrigeradores, diminuindo consumo. Manter um gerador em horários de ponta ainda é recomendado pelos especialistas. Mas só nos casos em que, fazendo as contas, arcar com os custos do gerador e do combustível for mais barato do que pagar a tarifa nos horários mais caros. Hümmel, do Infanger, opta por essa solução, pois, com seu gerador ligado, o custo do kilowatt produzido é metade da tarifa que ele pagaria para a concessionária. FONTES DESTA MATÉRIA Abrava: (11) 3221-5366 AES Eletropaulo: www.aeseletropaulo.com.br CPFL: www.cpfl.com.br Daimon: (11) 3266-2929 FIA: (11) 3732-3500 GBC Brasil: (11) 4191-7805 Gestal: (11) 5084-8200 IBM Brasil: (11) 2132-3122 Infanger Supermercados: (19) 3826-7940 Otec: (11) 3846-0160 São Vicente Supermercados: (19) 3469-9350 Trade Energy: (41) 3091-8800 março 2013 SuperVarejo 41