1 Santa Rita de Cassia TATUQUARA 05.07.2014. Mt 8,1-4: Narração da purificação de um homem leproso por Jesus Interpretação do nosso texto v.1: “Ele desce a montanha. Seguem-no grandes multidões”; A primeira seção da segunda parte do evangelho (Jesus, aquele que ensina) começa com Jesus vendo as multidões e subindo na montanha para “abrir a sua boca” e ensina-las junto com os discípulos; (cf. 5,12). Essa segunda seção (Jesus aquele que cura) inicia com Jesus descendo a montanha e as multidões o acompanham. Isso mostra uma ligação entre o ensinamento e as curas que Jesus vai realizar, ou seja, ele não somente ensina a Palavra de Deus, mas ele A realiza em gestos concretos. Jesus cumpre o que ele proclama. A autoridade da palavra de Jesus faz com que grandes multidões seguem-no. De fato, pouco antes do nosso texto, o evangelista Mateus testemunha que “as multidões estavam tocadas pelo seu ensinamento, pois ele ensina com autoridade e não como os escribas”; (cf. 7,28-29). Nós vimos no estudo anterior do capítulo 5, que a autoridade de Jesus se apóia no fato que ele não retoma comentários de rabinos (mestres judeus) que vieram antes dele, mas que ele dá a sua própria interpretação à Palavra de Deus do Antigo Testamento. Isso revela que Jesus é o Mestre por excelência que não só explica a Palavra, mas que também vai cumpri-la, através da sua própria vida. v.2: “Eis, um leproso se aproxima...”; A primeira pessoa a ser curada por Jesus é um homem que sofre do mal da lepra. Na cultura religiosa judaica, uma pessoa que sofria do mal da lepra é considerada impura, conforme designado na Lei de Moisés no livro de levítico; (cf. Lv 13,1-3). No contexto judaíco existiam quatro grandes formas de impureza que separavam as pessoas impuras do meio social e religioso: - As doenças da pele (incluso a lepra); 2 - Os fluídos do corpo (em particular as mulheres no período de menstruação); - O contato com os cadáveres; - O cantato com os animais peçonhentos (sapo, morcego, por exemplo); Para uma pessoa impura de doença de pele, além da exclusão social e religiosa, ela sofria também de uma concepção de punição divina por não escutar a voz do Senhor e não colocar os seus mandamentos em prática, conforme explicado na Lei de Moisés, no livro do Deuteronômeo; (cf. Dt 28,15.27.35). Por isso esse homem leproso, além de ser considerado como impuro, também era visto como sendo um amaldiçoado por Deus. Apesar da situação de exclusão e de maldição desse homem leproso, ele se aproxima de Jesus. Ele ultrapassa essa condição de “inapto” socialmente e vai ao encontro do Mestre. Esse homem leproso é movido por uma profunda confiança na pessoa de Jesus que faz com que ele se aproxime dele. O Leproso não somente se aproxima, mas ele também se prostra diante de Jesus. A atitude de confiança é acompanhada de um profundo gesto de humildade e adoração. “Senhor, se tu queres, tu podes me purificar.”; O leproso não chama Jesus de mestre, mas de “senhor”. Essa apelação “Kyrios” indica o profundo reconhecimento por Jesus que tem poder para purificar esse homem da sua lepra. Resumindo, a atitude do leproso reuni a confiança, a humildade e o reconhecimento por Jesus. É como se fosse uma atitude litúrgica de adoração na presença do próprio Deus. É como se esse homem ferido na sua dignidade social e religiosa, reconhecesse em Jesus, que desce da montanha, o próprio Deus de Moisés que vem ao seu encontro retirar dos seus ombros a sua maldição. De fato, é como se esse homem ouvisse a voz do Mestre e estivesse disposto a colocar os seus ensinamentos em prática; como foi pedido no livro do Deuteronômeo: “...se não escutas a voz do Senhor, teu Deus, cuidando de pôr em prática todos os seus mandamentos...”; (cf. Dt 28,15). Além disso, o centro dos capítulos 8 e 9 dessa segunda seção da segunda parte do evangelho de Mateus, mostra bem que Jesus cumpre o que ele ensina, tomando sobre sí, as enfermidade e doenças do povo; (cf. 8,16-17), conforme a profecia de Isaias. E a principal enfermidade que Jesus assume sobre a sua própria vida é o pecado que separou os homens do amor de Deus. Isso, Jesus cumprirá plenamente na sua morte e Ressurreição. 3 v.3: “Ele estende a mão, tocando-o, dizendo: „Eu quero, seja purificado !‟”; Em resposta à aproximação e o pedido do homem leproso, Jesus realiza duas atitudes conjuntas: um gesto e uma palavra. O gesto: Jesus estende a mão, tocando-o. O Mestre está rodeado pela multidão e pelos discípulos e no entanto, ele não tem vergonha, nem pudor, nem escrúpulo religioso de tocar no impuro diante de todo mundo. Normalmente, tocando no homem impuro, Jesus ficaria impuro, mas o que acontece é o inverso: a Autoridade e a Senhoria de Jesus é que purificam o leproso. A palavra: Jesus não se obriga de curar esse homem. Ele não desceu a montanha para fazer gestos extraordinários, mas diante da atitude de confiança desse homem, Jesus deseja profundamente restituir a sua dignidade religiosa e social. A sua palavra é uma ordem para doença da lepra: “seja purificado !”, uma palavra repleta de autoridade. Dessa forma, a palavra e o gesto de Jesus são uma só realidade que manifesta que ele cumpre o que diz. “Imediatamente é purificada a sua lepra”; O efeito do gesto e da palavra de Jesus é imediato; a lepra é purificada instantâneamente do homem. v.4: “Não diga a ninguém, mas vai, mostra-te ao sacerdote...”; Jesus pede ao homem purificado de não espalhar o ocorrido. Jesus veio assumir as enfermidades, mas isso deve ser cumprimento plenamente no tempo certo; ou seja na sua morte e Ressurreição. Mesmo que os seus gestos expressam o que a sua palavra proclama, Jesus não veio para se destacar e ser aclamado pelos homens como sendo um curador extraordinário. Pelo contrário, ele ordena ao homeme purificado de se apresentar ao sacerdote e realizar a sua oferenda como testemunho da sua purificação. Jesus convida o homem à respeitar e realizar a Lei de Moisés; (cf. Lv 14,1-8). De fato, Jesus não veio destruir a Lei e os Profetas, mas conduzi-los ao seu cumprimento; (cf.5,17).