REPRESENTAÇÃO DOS USUÁRIOS SOBRE A MUDANÇA DO
TERMO LEPRA PARA HANSENÍASE
Letícia Valadares Lima1
Manuelle Carvalho Cardozo2
Vilara Mesquita Mendes Pires3
Ninalva de Andrade Santos4
Dentre as doenças infectantes que datam os tempos passados, a Hanseníase,
conhecida muito tempo como Lepra, trouxe consigo o significado de enfermidade
geradora de incapacidades capazes de comprometer as atividades cotidianas do
seu portador. Apesar dos avanços científicos ainda carrega consigo o histórico de
preconceitos e estigmas que, infelizmente, ainda persistem. Durante a década de
60, o Brasil foi o único país que iniciou o movimento no intuito de substituir o
termo lepra - considerado repulsivo, repleto de preconceitos e que dificultava a
educação em Saúde - pelo termo hanseníase, iniciativa esclarecida por Ornellas
(1997, p. 84) como "tentativa de neutralizar o impacto estigmatizante do nome
lepra”. Ainda que sejamos o único país a adotar a estratégia, ocupamos o
segundo lugar em incidência de casos notificados, fato que leva a questionar se
houve realmente benefícios oriundos desta mudança. O estudo surgiu a partir da
percepção das informações disponibilizadas atualmente a população que
deturpam a real magnitude do agravo. Este estudo teve como objetivo geral
analisar as contribuições da mudança do termo Lepra para Hanseníase, e como
objetivos específicos verificar se os informantes do estudo associam o nome
Hanseníase a Lepra, e identificar se esses informantes consideram benéfica essa
mudança. Trata-se de uma pesquisa qualitativa fundamentada na Teoria das
Representações Sociais, realizada na cidade de Jequié/Bahia/Brasil a partir de
uma Unidade Básica de Saúde com 25 usuários cadastrados na unidade, não
portadores do agravo, escolhidos aleatoriamente. Como técnica de coleta e
análise dos dados foram utilizados a entrevista semiestruturada e a proposta de
análise de Bardin (2009). A pesquisa foi submetida à apreciação do Comitê de
Ética e Pesquisa da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e aprovada
segundo protocolo de número 172/2009. O questionamento da representação da
doença compreendeu que a não associação da Hanseníase a Lepra pelos
componentes da amostra está associada ao fato da mídia televisiva e as
campanhas adotadas pelo Ministério da Saúde, no intuito de eliminar o
preconceito, focar a cura como característica principal desta doença, deixando de
lado os agravos que esta enfermidade pode gerar. Dissociando a Hanseníase da
antes chamada lepra talvez não estejamos valorizando os sinais de alerta já que
na mídia a doença é apresentada como curável em curto espaço de tempo, com
mínimas possibilidades de seqüelas (MENDES, 2007). Diversas são as
manifestações que exprimem dúvidas e incertezas acerca do significado da
Hanseníase.
Pôde-se
notar
que
a
doença
ainda
carrega
consigo
o
desconhecimento para a maioria das pessoas, o que reflete na falta de medo e
negligência frente às medidas que devem ser adotadas para que haja a
prevenção e a detecção precoce dos casos. O conhecimento aqui adquirido foi de
grande importância na medida em que se pôde apreender as representações
sociais dos usuários acerca da mudança terminológica e verificar os benefícios e
malefícios advindos desta estratégia. O estudo permitiu a reflexão de ações que
contribuam para o esclarecimento da população sobre o verdadeiro significado da
Hanseníase, resgatando os seus aspectos degradantes enquanto moléstia
milenar.
1-2
3
Enfermeira. Graduada pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.
Enfermeira. Mestrado em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS.
Professora Adjunta da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB.
4
Enfermeira. Doutoranda pela Universidade Federal da Bahia. Professora assistente da Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB.
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