6º Domingo do tempo Comum -Ano B
“A lepra desapareceu
e o homem ficou curado”
Ir. Florinda Dias Nunes - sjbp
Continuamos acompanhando o evangelista Marcos como a liturgia nos
apresenta neste Ano B. O texto, portanto, é Mc 1,40-45. Estamos no final do
primeiro capítulo das narrativas de Marcos que nos apresenta o caminho
para a descoberta de quem é Jesus.
Conteúdo e contexto
Jesus encontra-se na região da Galiléia. O texto, porém, não deixa claro o
lugar do encontro. O leproso curado é chamado ao silêncio, a voltar para os
seus e apresentar-se aos sacerdotes. Trata-se de uma única perícope
concluindo esta série de curas realizadas por Jesus no início de sua missão e
diz que ele “ficava fora, em lugares desertos” (v. 45 b).
É possível perceber 03 momentos nesta perícope:
vv. 40-41 – o encontro com o marginalizado
vv. 42-44 – o testemunho do marginalizado
v. 45 – Jesus se torna um marginalizado
vv. 40-41 – o encontro com o marginalizado
O leproso chega sem avisar e pede de joelhos: 'Se queres tens o poder de
curar-me' (v. 40). A pessoa com lepra na época, era considerada impura e
Jesus ao curar um leproso é considerado impuro e não pode mais entrar
livremente nas cidades, pois a lei judaica mantida pelos sacerdotes do
Templo decretava impura toda e qualquer doença, de modo especial as
doenças de pele e se acreditava também que a lepra fosse contagiosa. Quem
tocasse numa pessoa com doença de pele ficaria contaminado e impuro.
O leproso sabia disto e sabia também que o Templo e os sacerdotes não
tinham poder para curar ninguém. Eles só constavam se a pessoa estava
mesmo curada ou não. O leproso diante disso toma uma decisão radical:
não vai ao sacerdote, mas a Jesus. Ajoelha-se diante dele e pede a cura (v.
40). Ele reconhece que o poder de cura não vem da religião dos sacerdotes,
e sim de Jesus. Notemos também que o leproso não faz como os outros que
ficam à distância e gritam, ele se aproxima e manifesta sua adesão a Jesus,
enquanto fonte de libertação e vida. Para ser curado viola a lei.
Segundo algumas traduções bíblicas, Jesus teria ficado irado, mas a sua
reação se traduz em compaixão (v. 41a). A ira de Jesus certamente não é
contra o leproso, mas contra o código de pureza que, em nome de Deus,
marginaliza as pessoas, considerando-as como mortas. É contra esse
sistema religioso que Jesus se revolta e o transgride assim como fizera o
leproso. Jesus não só se posiciona contra esse código como também o
quebra, tocando o leproso (v. 41b; cf. Lv 5,3) e torna-se também ele impuro.
Já não pode mais entrar nas cidades e vai morar com os marginalizados. É
este Jesus que Marcos quer mostrar, ou seja, uma pessoa que é capaz de
romper com os esquemas fechados de uma religião elitista e segregadora.
vv. 42-44 – o testemunho do marginalizado
Após a cura Jesus manda o leproso ir embora e em silêncio (cf. v. 43), e que
vá realizar os rituais prescritos pela Lei, ou seja, se mostre ao sacerdote e
ofereça o sacrifício que Moisés mandou, como prova para eles (cf. v. 44).
Jesus mostra assim que não quer propaganda, mas libertação plena da
pessoa. O leproso, porém, percebendo que este sistema não traz vida sai de
perto de Jesus e começa a espalhar a notícia aos outros.
v. 45 – Jesus se torna um marginalizado
Diante de tal testemunho, a notícia espalhou-se e Jesus já não pode mais
entrar nos povoados, pois também ele tornou-se impuro por causa do
código do puro/impuro. Mas o povo não está preocupado com tais leis e
saindo dos povoados ia à busca de Jesus. Isto mostra que o povo estava
aberto a um novo acesso a Deus. O Deus que Jesus traz é aquele que liberta
de todas as amarras e pode ser encontrado fora, na clandestinidade, entre
os que o sistema religioso e social discriminou.
Concluindo
A comunidade de Marcos, portanto, conhece um Jesus que vai ao encontro
da realidade do povo. O milagre da cura do leproso indica o tipo de Jesus
que devemos seguir. Diante de Jesus que rompe com os esquemas de
marginalização e apresenta novas formas de vida perguntemo-nos: Qual
Jesus queremos seguir? Somos capazes de perceber sinais de vida e ajudar
na proposta de libertação das pessoas? Ou preferimos nos acomodar em
nossas idéias pré-moldadas? Ou concordamos em deixar a vida passar sem
contribuirmos para uma mudança nas estruturas, tanto religiosas como
sociais que continuam massacrando e discriminando, gerando sempre mais
situações de exclusão e de não vida?
Deixemos que a Palavra de Deus nos oriente e nos ajude a tomarmos
decisões a favor da vida.
(cf. Euclides Martins Balancin, Como ler o Evangelho de Marcos. Quem é
Jesus? Paulus 1991, 36-39; Juan Mateos e Fernando Camacho. Marcos. Texto
e comentário. Paulus 1998, 91-94 e Frei Gilberto Gorgulho e Ana Flora
Anderson. O Evangelho e a vida. Marcos. Ed. Paulinas 1975, 27-29 e Juan
Mateos, Fernando Camacho. Marcos. Texto e comentário. Paulus 1998, 98101)
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